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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ORGANIZAÇÃO E TOMADA DE DECISÃO NOS PROCESSOS COMPETITIVOS Por: SANDRA REGINA SÁ DE ALMEIDA Orientador Prof. Aleksandra Sliwowska Rio de Janeiro 01/2011.

ORGANIZAÇÃO E TOMADA DE DECISÃO NOS PROCESSOS … · mundo. Esses recintos se transformaram em verdadeiros centros de Inteligências. Um dos locais mais importantes à época foi

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ORGANIZAÇÃO E TOMADA DE DECISÃO NOS PROCESSOS COMPETITIVOS

Por: SANDRA REGINA SÁ DE ALMEIDA

Orientador

Prof. Aleksandra Sliwowska

Rio de Janeiro 01/2011.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATUS SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ORGANIZAÇÃO E TOMADA DE DECISÃO NOS PROCESSOS COMPETITIVOS

Orientadora: Aleksandra Sliwowska

Rio de Janeiro 01/2011.

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do

Mestre - Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para a obtenção do grau de

Especialista em Gestão Empresarial.

Por: Sandra Regina Sá de Almeida

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço profundamente a todas as pessoas que entraram na minha

vida e me inspiraram, comoveram e iluminaram com sua presença.

Expresso minha gratidão a todos pelo enorme apoio e contribuição a

minha jornada, por partilhar com generosidade sua sabedoria, amor e virtude

suprema.

Presto homenagem a todos os mestres cujo carinho e apoio por suas

inestimáveis ajuda na elaboração dessa pesquisa monográfica.

E por fim, por todos os meus amigos que seguiram meus passos no

desenvolver dessa jornada, com a vitória de mais um desafio conquistado.

4

Dedico esta monografia a Mário e

Georgete que nunca mediram esforços para

realização dos meus sonhos, que me guiaram

pelos caminhos corretos da vida, me ensinaram

a fazer as melhores escolhas, me mostraram

que a honestidade e o respeito são essenciais à

vida, e que devemos sempre lutar por nossos

sonhos.

A eles devo a pessoa que me tornei, sou

extremamente grata e feliz e tenho muito

orgulho por chamá-los de Pai e Mãe.

AMO VOCÊS!

5

RESUMO

Esse trabalho monográfico procede a uma revisão bibliográfica sobre os

conceitos e a relevância da Inteligência Competitiva (IC) como ferramenta

gerencial para as organizações. Através do estudo de caso “Carrefour, uma

trajetória de sucesso calcada na IC”, mostrar-se-á, através dos resultados

alcançados pelo grupo a importância da atividade no universo dos negócios. O

objetivo do trabalho é ajudar a mensurar e compreender o panorama brasileiro

no que se refere ao uso da IC, partindo–se da premissa de que esta ferramenta

ainda é um embrião em fase de eclosão, ela não está plenamente difundida

nas operações e formulação de estratégias empresariais brasileiras. O

resultado da pesquisa revela que, a despeito da alegada hipercompetição, há

uma grande distância entre a teoria e a prática empresarial retratada na

pesquisa em questão e indica que as empresas brasileiras ainda têm um

caminho longo a percorrer, no sentido de beneficiarem–se plenamente das

vantagens oferecidas pela Inteligência Competitiva. A mensagem central deste

estudo é que a única vantagem competitiva e sustentável que uma organização

tem é aquilo que coletivamente sabe, a eficiência que ela usa e dissemina seu

conhecimento, e principalmente, a rapidez que ela adquire novos

conhecimentos e informações.

PALAVRAS–CHAVE

Inteligência Competitiva, conhecimento e informação.

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METODOLOGIA

Este estudo monográfico se fará através de pesquisas bibliográficas e

entrevista calcadas nos conceitos e nas teorias de Adréa Mendes, Alex

Cabral de Oliveira, Armando Almeida, Carlos Domingos, Enio

Resende,Gomes de Carvalho, James Clavel, Michael Poter, Philip Kotler,

entre outros. Também navegará nos paradígmas dos sites da Associação

Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva – ABRAIC, Instituto

Brasileiro de Inteligência de Mercado – IBRAMERC e Society of Competitive

Intelligence Professionals – SCIP

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................. 08

CAPÍTULO I

Histórico da Inteligência Competitiva............................................................... 11

CAPÍTULO II

Conceituação................................................................................................... 18

CAPÍTULO III

Carrefour, uma trajetória de sucesso calcada na IC.......................................

34

CONCLUSÃO.................................................................................................. 39

BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................... 42

ÍNDICE............................................................................................................. 45

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÃO............................................................................... 46

ANEXOS.......................................................................................................... 44

FOLHA DE AVALIAÇÃO................................................................................. 51

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INTRODUÇÃO

Vivemos em um mundo em constante evolução onde tudo muda o tempo

todo e com grande rapidez. O mundo dos negócios contemporâneo vive uma

nova era chamada “a era da informação”. Essa é uma nova sociedade onde os

produtos e serviços deixaram de ser o bem de maior valor e o capital das

organizações passou a ser mensurado pela sua capacidade de transformar

informação em conhecimento e conhecimento em capital. O conhecimento

repercute em sabedoria que significa insights, idéias, experiências pessoais e

profissionais e toda habilidade de interpretação que possuímos para conviver

em um mundo cada vez mais dinâmico, onde a comunicação dever ser

instantânea, precisa e com margens de erros mínimas.

A informação se tornou ferramenta primordial no dia a dia das

organizações, pois é ela quem vai proporcionar o acompanhamento da rapidez

dos mercados, da evolução dos produtos/serviços, da concorrência acirrada,

das mudanças abruptas das tecnologias, das gestões e principalmente as

exigências do novo consumidor.

A necessidade de identificar oportunidades e antecipar ameaças

imputou à informação o conceito de bem e recurso econômico estratégico. A

tecnologia da informação/comunicação vem ditando novos padrões

comportamentais causando grandes transformações na economia mundial, nas

empresas e pessoas.

Os novos paradigmas exigem que o tomador de decisão adquira cada

vez mais informações certas, no menor espaço de tempo, com o mínimo de

incertezas e erros possíveis. Esse é um processo que pode se tornar caro e

insustentável financeiramente se não for bem conduzido. Mas como analisar e

identificar quais fatores devem ser tratados como relevantes?

Frente há tantas mudanças, transformações e questionamentos, surge a

Inteligência Competitiva (IC), um programa sistêmico capaz de reunir, analisar

e administrar informações, apto a sintetizar dados e competências relevantes,

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transformando-os em recursos informacionais na busca incessante de

estratégias competitivas.

Apesar de sua relevância e crescente implementação, ainda é módico e

insipiente a sua utilização e a dimensão não corresponde ao seu grau de

relevância.

O objetivo deste trabalho monográfico é acenar para importância dessa

ferramenta estratégica que alicerça as tomadas de decisões corporativas que

incidirão no planejamento e na sobrevivência das organizações..

Outro fator relevante é mostrar que a IC, através dessa estrutura viva e

dinâmica, desse espaço de compartilhamento, leva a organização a gerar

idéias, oportunidades e ações que se traduzem em resultados concretos,

impulsionando, assim, à novos horizontes ao mesmo tempo em se coloca a

frente da concorrência.

Mas para tal é preciso compreender que a IC não é apenas uma função

isolada na empresa e sim uma forma de se fazer negócio, todos dentro da

organização devem estar na mesma sinergia, pois é ela que vai abastecê-lo de

conhecimento e prática.

O presente trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro capítulo,

Histórico da Inteligência Competitiva, é um estudo da evolução da importância

da IC ao longo dos anos, mostrando que esse processo está intimamente

ligado a história da humanidade e que não se trata de uma estratégia de

modismo e infundada, mas sim, de uma atividade que gera inovação e

resultados sólidos para as empresas que o compreenderem.

O segundo capítulo estuda o novo conceito da inteligência competitiva,

bem como sua aplicabilidade. Acentua a necessidade de um estudo profundo

sobre as técnicas apresentadas, bem como mostra-ser-á o limiar entre o bem e

o mal que essa estratégia pode causar a uma organização.

O terceiro capítulo finaliza com o estudo de caso, onde será analisado a

experiência da IC no Grupo Carrefour, apresentando seus resultados,

10

configuração organizacional, ferramentas, fazendo-se uma avaliação dos seus

efeitos nos resultados da corporação.

A mensagem central deste estudo é que a única vantagem competitiva e

sustentável que uma organização tem é aquilo que coletivamente sabe, a

eficiência que ela usa e dissemina seu conhecimento, e principalmente, a

rapidez que ela adquire novos conhecimentos e informações.

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1- PANORAMA HISTÓRICO DA IINTELIGÊNCIA

COMPETITIVA

Esse primeiro capítulo estudará o panorama histórico da IC, sua

ascensão de atividade de espionagem para estratégia gerencial, seu resumo

histórico desde a idade antiga até a contemporaneidade. Ao seu final mostrar-

se-á a Inteligência competitiva no Brasil e a era da informação.

1.1. Idade Média

A Inteligência Competitiva está intrinsicamente ligada à trajetória

histórica da atividade de inteligência Militar e de Estado. Assim, algumas vezes

e até hoje, é confundida com espionagem (MARCIAL, 2007). Segundo a

autora, o homem é um insatisfeito nato, o que o levou a buscar conhecimentos

diferenciados que lhe trouxessem alguma vantagem no que tange suas

escolhas e decisões. A competividade é a mola mestre da evolução e só se faz

por meio do desenvolvimento, segundo o pensamento de Ford (apud

RESENDE, 2004, p.27), “Tudo pode ser feito melhor do que está sendo feito”.

Carr (1999, apud FERNANDES, 2004), evidencia a existência da IC a

partir do século XV e XVI quando o House of Fugger Bank, abastecia os

executivos das suas representações espalhadas no mundo, com informações

privilegiadas e estratégicas. Os Fuggers, família poderosa de comerciante e

banqueiros dominaram os negócios na Europa. Suas correspondências traziam

informações sobre a concorrência, inclusive, seus resultados econômicos,

tendência econômica e políticas locais.

Para o autor, a família Fuggers foi o marco da Inteligência Competitiva

no mercado empresarial.

12

Essa retrospectiva nos remete a teoria de Sun-Tzu1, 500 anos A.C.:

(...) Se conheceres seu inimigo e a nós mesmos, não precisamos temer o resultado de uma centena de combates. Se nos conhecermos, mas não o inimigo, para cada vitória sofreremos uma derrota. Se não nos conhecermos nem ao inimigo, sucumbiremos em todas as batalhas(...).

O autor, já naquela época, acenava para importância de se buscar

conhecimentos sobre o inimigo e o terreno para nos colocarmos em posição

privilegiada.

1.2. Idade Moderna

O século XVII foi conhecido como era do comercio marítimo. Holanda e

Inglaterra eram as grandes potências comerciais. Com a grande expansão do

transporte de mercadorias se tornou imprescindível se obter informações que

pudessem abastecer toda essa logística, assim havia uma demanda frenética

por informações que minimizassem os risco das viagens, como por exemplo as

condições meteorológica.

Mendes (2004) elucida que alguns locais como a casa de café Coffee

Houses, se tornaram ponto de referência para assuntos especializados, local

este, que se podiam ler jornais e cartas de outros portos, bem como ouvir as

fofocas políticas, econômicas, comerciais e culturais, vindas do outro lado do

mundo. Esses recintos se transformaram em verdadeiros centros de

Inteligências.

Um dos locais mais importantes à época foi aberto por Edward Lloyd,

em 1687, embora um simples café, se tornou popular entre os frequentadores

do porto de Londres. Bernstein (1997) enfatiza a relevância que Edward dava

as conversas dos clientes, pois logo após, transformava-as em Inteligência

difundindo-as de forma sistematizada. A percepção de Lloyd quanto a

1 TZU, Sun. A arte da guerra. 39ª ed. São Paulo: Record, 2010, p. 28.

13

demanda de notícias sobre navios, levou-o a lançar um boletim chamado de

Lloyd ‘s List. Nele continha informações sobre as partidas/chegadas, condições

de portos estrangeiros, entre outros. As informações eram colhidas através de

uma rede de correspondentes distribuídos em todos os grandes portos

europeus.

Toda essa dinâmica de troca de informações, segundo Mendes (2004),

tornou o Coffee Houses um dos maiores centros de informação comercial

marítima da época e consequentemente a sua própria importância e do

negócio em si.

1.3. Idade Contemporânea

Carr (1999, apud FERNANDES, 2004) refere à família Rothschilds,

também, como usuária da ferramenta de IC no suporte ao seu império bancário

na primeira metade do século XIX. O patriarca, Mayer Amschel Rothschilds, e

seus cincos filhos infiltraram agentes para instalar e financiar agências do

primeiro banco multinacional, em Londres, Paris, Frankfurt e Nápoles,

instituindo uma verdadeira rede de Inteligência.

Para Marcial (2007) a atividade da IC, como é conhecida hoje, data do

período da II Guerra Mundial. Verifica-se em Platt (1974) que a estratégia da

informação em combate se faz desde o início da luta humana organizada,

todavia, a produção de inteligência em uma base sistémica, seja na paz ou na

guerra, não é mais antiga que a segunda guerra: “Não houve tempo para a

criação de uma doutrina comum, nem para a montagem de uma sólida

organização de Inteligência, e nem para a instrução e o aperfeiçoamento dos

métodos (PLATT, 1974, p.20).”

Segundo afirma Kminski (apud MARCIAL 2010, p.25) “a atividade de IC

é fruto de uma adaptação de técnicas utilizadas pelas agências de Inteligência

14

política e militar durante a Guerra Fria.” Ainda segundo o autor ela surgiu na

Europa e no Japão após a II Guerra Mundial.

Com a Globalização, abertura de mercados, encurtamento do ciclo de

vida dos produtos a obsolescência dos produtos e serviços cada vez mais

rápida evidenciou-se a luta das empresas por sua sobrevivência. Foram

necessários novos paradigmas, inovações e soluções estratégicas. Toda essa

dinâmica impingiu as organizações mudanças e adaptações profundas,

impactando a gestão de negócios, ampliando o raio de atuação da

administração para fora dos limites das empresas. Foi preciso olhar para fora.

(...) Na paz, prepara-se para guerra: na guerra prepara-se pra a paz. A arte da guerra é de importância vital para o Estado. É uma questão de vida ou morte, um caminho tanto para a segurança como para ruina. Assim, em nenhuma circunstância deve ser descuidada (...) (SUN-TZU, 2010, p.112)

1.4. A IC no Brasil

Diferentemente dos outros países, aqui no Brasil, segundo Marcial

(2007), a IC teve seu início na década de 90 através do curso de

Especialização e Inteligência Competitiva – CEIC (em 1997, no Rio de Janeiro).

A fundação da ABRAIC- Associação Brasileira dos Analistas de

Inteligência Competitiva, em 2000, impulsionou a IC e com isso a atividade vem

se desenvolvendo no país. Mas ainda são parcas as ferramentas tecnológicas

que dão suporte a atividade, tanto no Brasil quanto no mundo.

(...) Os investimentos em Inteligência Competitiva, por parte das organizações no Brasil, crescem a cada ano. Entretanto, sua base conceitual ainda está em formação. Muitos conceitos ainda estão vagos e há muita confusão no mercado. Esses problemas acabam impactando o retorno que essa nova área poderia fornecer às organizações (...) (MARCIAL, 2007, p.5).

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Para Resende (2004), as empresas nacionais precisam, primeiramente,

se conscientizar que as ameaças não vem só da concorrência externa, mas

também da política local e muitas vezes das negligências internas.

Sobre o foco de Prescott (2002), a implantação da IC nas organizações

é um processo social construído passo a passo por meio do aperfeiçoamento

das qualificações referentes ao trato das informações, depois com a formação

de redes de contatos pessoais e finalmente com a formalização dos

mecanismos que permitem o fluxo adequado de informações. Ainda pela ótica

do autor “o uso da IC como modelador de negócio, fundamenta-se na

integração das atividades de inteligência às tarefas diárias da empresa.”

As atividades e os processos da IC variam de acordo com a cultura de

cada país em função das diferentes realidades econômicas, idiossincrasias,

posicionamento da indústria no cenário internacional e particularidades

culturais, esse, fator preponderante nessa atividade.

A Inteligência Competitiva, no Brasil, vêm se desenvolvendo através dos

profissionais, professores, associações, empresas, universidades, enfim um

grupo multidisciplinar com experiências em TI (Tecnologia da Informação) e na

concorrência.

Para Resende (2004), uma das possibilidades de referenciar a atividade,

pode ser contada a partir das conferências realizadas pelo IBC – International

Business Communications. Mas outros movimentos foram observados

anteriormente e em outras direções, segundo o autor, todavia no seguimento

empresarial, estas conferências foram relevantes e decisivas.

Segundo ABRAIC – Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência

Competitiva, dentre essas ações pode-se citar o Seminário Internacional

promovido pela Revista HSM em São Paulo no mês de 1991, onde tinha entre

os conferencistas Leonard Fuld, conferencista conceituado especialista em

“Competitor Intelligence” até os dias atuais. Autor de “Competitor Intelligence”

(1985) e “Monítoring the Competetion” (1988), Fuld vem apresentando métodos

16

de estruturação de um programa de informações altamente funcional e

competitivo.

A partir de 1997 a atividade de Inteligência Competitiva passou a contar

com vários seminários, congressos, workshops e treinamentos.

No Rio de Janeiro, o Centro de Referência em Inteligência Empresarial

da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, promoveu o MBI2 –

Mestrado Executivo em Inovação e Inteligência Empresarial.

Na ótica de Resende (2004), a criação da Associação Brasileira dos

Analistas de Inteligência Competitiva – ABRAIC foi um divisor de águas,

tamanha a sua importância e influência para essa atividade.

Não diferente, o mercado editorial que em 1999 não havia nenhuma

obra publicada na língua portuguesa, vem evoluindo e já conta com uma

dezena de títulos. O autor ainda destaca o crescimento das associações,

grupos, dissertações, teses de doutorado, artigos, entrevistas, boletins. E

nesse turbilhão de inovações vai se construindo um mundo em torno do tema

“Inteligência Competitiva”.

O seu desenvolvimento vem despertando o interesse de outros países

na prática brasileira. A Revista PUZZLE (Revista Hispânica) na edição de

Agosto-Outubro, Vol. 6, No. 23, elaborou uma edição especial sobre

“Inteligência Competitiva” no Brasil. Esta foi a primeira publicação dedicada

exclusivamente a um país na sua língua original e com a contribuição única de

autores locais.

(...) Para superar a falta de conhecimento, as barreiras culturais e as ideias equivocadas sobre o assunto, só o estudo e aprendizagem constante modificarão a percepção dos gestores sobre esta nova disciplina. Ainda é muito recente a inclusão desta matéria nos cursos de graduação das mais renomadas universidades, faculdades e centros universitários, mas, o caminho para superação é a constante educação sobre os princípios, metodologias, os resultados alcançados (...) (ABRAIC, 2010)2

2 ABRAIC. Disponível em: http://www.abraic.org.br Acesso em:03 de jan de 2011

17

1.5. A Era da Informação

Para se entender a IC é preciso ter uma visão holística e perceber todas

as conjunturas que estão se delineando na nova era, segundo Castells (1999).

O autor enfatiza que trata-se de três processos distintos, porém intrínseco: a

revolução tecnológica; a crise econômica do capitalismo e sua reestruturação;

e o apogeu dos movimentos sociais e culturais, tais como libertarismo, direitos

humanos, feminismo e ambientalismo. A influência mútua entre esses

processos e as suas consequências fez surgir uma nova estrutura social

dominante, a sociedade em rede; uma nova economia informacional e global;

bem como uma nova cultura, a virtualidade real.

(...) A tecnologia da informação tornou-se ferramenta indispensável para a implantação efetiva dos processos de reestruturação socioeconômica. De especial importância, foi seu papel ao possibilitar a formação de redes como modo dinâmico e auto expansível de organização da atividade humana. Essa lógica preponderante de redes transforma todos os domínios da vida social e econômica (...) (CASTELLS,1999, p. 411)

A era da informação transformou a comunicação, descentralizou os

processos decisórios, ampliou a economia global através de uma base

multicultural e interdependente economicamente. Foram criadas redes de

capital, de trabalho, de informação e de mercados, interligando atividades,

funções, pessoas e alocando-as em locais potenciais ao redor do mundo.

“A revolução da tecnologia, a reestruturação da economia e a crítica da

cultura convergiram para uma redefinição histórica das relações de produção,

poder e experiência em que se baseia a sociedade”. (CASTELLS,1999, p. 423)

Ainda pela ótica de Castells (op. cit), os fatores chaves dessa nova

sociedade são: a produtividade, competitividade e a economia

informacional/global. A produtividade está calcada na inovação enquanto que a

competitividade na flexibilidade. “Portanto, empresas, regiões, países, unidades

18

econômicas de todas as espécies preparam suas relações de produção para

maximizar a inovação e a flexibilidade”. (op.cit)

A tecnologia da informação e a capacidade cultural de utilizá-la são

fundamentais no desempenho da nova função da produção, além disso, um

novo tipo de organização e administração, com vistas à adaptabilidade e

coordenação simultâneas, torna-se a base do sistema operacional mais efetivo,

exemplificando a empresa em rede.

Castells (1999) evidencia que para compreender os seguimentos e os

mercados é preciso, primeiramente entender o nosso mundo e para tal é

preciso analisar a sociedade em rede paralelamente com os seus desafios e

conflitos. “A regra histórica, a saber, onde há dominação, há resistência

contínua válida.” (MARCIAL, 2010, p.39).

O universo está segmentado em espaços visivelmente distintos,

definidos por diferentes sistemas em uma infovia de informações. (CASTELLS,

1999).

2. CONCEITUAÇÃO

Esse capítulo estudará os fundamentos da Inteligência Competitiva,

seus mitos e verdades, os ciclos de sua produção, a contra-inteligência, e

principalmente a relevância das redes sociais na construção dos processos da

Inteligência Competitiva. Ao seu final mostrar-se-á a importância da ética, as

leis que regem esse universo e sua aplicabilidade.

2.1. O que é Inteligência Competitiva

“A Inteligência Competitiva é, em sua essência, uma atividade analítica.”

(MARCIAL, 2010)

19

Segundo a autora a Inteligência Competitiva é entendida como

proposições que permitem as organizações tomarem decisões. Essa

conceituação baseia-se na visão de que a inteligência, e não a informação

respalda o gestor na escolha das estratégias e na tomada de decisão,

garantindo uma melhor sobrevida às corporações. Para Fuld (1994),

considerando a elucidação de Marcial (op.cit.), as empresas que conseguem

converter informações em inteligência são as que ganham da concorrência.

A ABRAIC3 -- Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência

Competitiva – defende a teses de que a IC é um processo informacional

proativo que conduz à melhor tomada de decisão, seja ela estratégica ou

operacional e que visa desvendar as forças que regem os negócios,

minimizando os riscos e impulsionando o administrador a agir

antecipadamente. Ainda sob a égide da ABRAIC as etapas da IC se dividem

em: coleta e busca ética de dados, informes e informações formais e informais

(tanto do macroambiente como do ambiente competitivo e interno da empresa),

análise de forma filtrada e integrada e respectiva disseminação.

Não distante da definição da ABRAIC a SCIP -- Society of Competitive

Intelligence Professionals 4, explana que trata- se de um processo sistemático e

ético para coleta, análise e gerenciamento de informação externa que possam

interferir diretamente nos planos, decisões e operações de uma organização.

Visto por outro ângulo, IC é o processo que evidencia a concorrência do

mercado por meio de um maior entendimento dos concorrentes e do ambiente

competitivo por meio de uma indiscutível ética. Ainda sob o conceito da SCIP,

“trata-se da coleta e análise de informações quanto às capacidades,

vulnerabilidades e intenções dos concorrentes, conduzida pelo uso de banco

de dados e outras fontes abertas e por meio de investigações éticas”. (SCIP)5

Prescott (2002) sintetiza a IC como um processo que objetiva

3 ABRAIC. Disponível em: http://www.abraic.org.br Acesso em:03 de jan de 2011 4 SCIP -- Society of Competitive Intelligence Professionals. Disponível em: http://www.scIp.org

Acesso em: 03 de Jan de 2011. 5 Idem.

20

transformar dados e independentemente do nível de sofisticação desse

processo deve estar intrínseca as necessidades dessas informações.

Enquanto que para Potter a Inteligência Competitiva “é um instrumento

utilizado por empresas, para eticamente, identificar, coletar, sistematizar e

interpretar informações relevantes sobre seu ambiente concorrencial.” (Porter

et al., 2002 apud ).

Embora a essência das definições recaia no mesmo foco, Prescott

(op.cit.) acrescenta que a IC não só apoia as decisões estratégicas e táticas

como também pode diagnosticar uma situação.

Oliveira (2006, p. 2) conclui que “o segredo do sucesso da Inteligência

Competitiva é a capacidade de coletar, reunir e analisar dados obtidos

legalmente e transformá-los em informações, estratégica, evitando o fator

surpresa nos negócios.”

Outro fator a ser ponderado segundo Marcial e Ornelas (2007) “é o seu

caráter interdisciplinar. São diversas as áreas do conhecimento que colaboram

com a formação dos fundamentos da IC.” No Pentágono da Inteligência

Competitiva (vide fig. 1, em anexos), destacam-se as áreas que mais

colaboram com a atividade de IC nas corporações. Na base da atividade da IC

tem-se a produção da Inteligência e a Contra-inteligência Competitiva. Dando

suporte à produção destaca-se, nos vértices superiores, os métodos e as

ferramentas da administração, da ciência da informação e da tecnologia da

informação. (ABRAIC, 2008)

A SCIP (op.cit.) acrescenta que a IC tem seis objetivos distintos, são

eles:

§ Evitar surpresas;

§ Reduzir as incertezas na tomada de decisão;

§ Prever mudanças e prevenir surpresas tecnológicas;

§ Melhorar a capacidade atual e futura perante a concorrência,

clientes, entidades governamentais, fornecedores, entre outros;

§ Avaliar objetivamente e de forma contínua, a posição competitiva

21

atual e futura da empresa;

§ Identificar ameaças e as oportunidades antes da concorrência.

Prescott (2002) enfatiza que os profissionais da área devem se

preocupar em entender quais são as necessidades das informações e em que

contextos elas necessitam ser aplicadas. Mesmo, na maioria das empresas,

tendo uma área específica para processar a Inteligência Competitiva é preciso

compreender que toda a organização (todas as áreas e pessoas) é

potencialmente um ponto de captação de informações do ambiente. Ainda na

ótica do autor se faz necessário que se tenha uma conduta ética, bem como

um programa continuo mostrando como a IC se encaixa na missão da

empresa.

Para Souza (2006), ainda são muitos os equívocos entre IC, Gestão do

Conhecimento e Business Intelligent (BI), porém a Inteligência Competitiva não

é nenhum dos dois. A gestão do conhecimento foca o capital intelectual da

organização propondo administrar os conhecimentos explícitos e tácitos, bem

como aumentar o conhecimento e a eficiência geral da empresa, enquanto que

a IC visa dar suporte às decisões (táticas e estratégicas). Já BI são

ferramentas aplicadas aos sistemas operacionais e negociais, estruturada no

equipamento tecnológico.

Marcial (2010) expõe alguns mitos sobre a IC que não correspondem a

realidade, são eles:

§ IC é espionagem;

§ IC é o mesmo que pesquisa de mercado, então não se faz

necessária;

§ BI fornece inteligência Competitiva;

§ Navegar, regularmente na Internet, adquirindo informações sobre

seus concorrentes fornece IC;

§ Pesquisa em banco de dados é IC;

22

§ IC é dispendioso, requer volume de dados, é somente para

negócios e está reservado apenas para momentos de crises.

2.2. Processo produtivo da IC

A inteligência Competitiva, segundo ABRAIC (op. cit) evidencia, que

trata-se de um macroprocesso formado por diversos processos, são eles:

§ Mapeamento das necessidades informacionais;

§ Monitoramento ambiental;

§ Produção de Inteligência Competitiva;

§ Contra-inteligência Competitiva;

§ Avaliação e mensuração dos resultados da atividade em si;

§ Mapeamento e gestão de redes sociais.

O mapeamento das necessidades informacionais deve ser realizado

permanentemente, com o objetivo de direcionar o monitoramento, bem como

preparar os processos para a produção. Também auxilia no mapeamento e

gestão de redes sociais fornecendo contexto para o processo de produção de

inteligência. O principal método utilizado para esse processo é o Key

Intelligence Topics (KIT), segundo as observações de Herring (1999) apud

Marcial (2010, p. 36).

O KIT, criado por Jan Herring, é o método identificatório e atributivo das

prioridades às necessidades de Inteligência da cúpula da gerência de uma

corporação. (PRESCOTT, 2002)

Já o monitoramento ambiental, na ótica de Marcial (2010), é o processo

de acompanhamento constante e sistêmico dos pontos estratégicas priorizados

pelo decisor. Esse monitoramento acena para qualquer alteração no universo

da organização, inclusive, detectando os sinais mais fracos de mudanças. (op.

cit.)

23

A Inteligência e Contra-inteligência competitiva é a base da IC, o que

veremos mais a frente.

Avaliação e mensuração dos resultados da IC é regida pelo mecanismo

de feedback e sugestões de ações com foco na melhoria do processo de IC,

mostrando o desempenho e a contribuição da atividade no escopo da

corporação. Para tal, são usados métodos qualitativos e quantitativos que

dependerá unicamente do budget estipulado pela empresa para essa

operação. O seu valor será dimensionado de acordo com o seu resultado

(POTER, 1998).

O mapeamento e gestão de redes sociais é um processo relevante na

manutenção da IC e é caracterizado como sistema de atividade humana,

segundo Poter (1998), o autor atribui à elas um dos fatores principais de

obtenção de informações. Seu gerenciamento é primordial para que os agentes

de IC possam se posicionar por meio do fluxo de informações.

2.3. Ciclo da produção da Inteligência Competitiva

Poter (1986), em seu livro “Estratégia Competitiva” elucida que o Ciclo

de Inteligência é um processo contínuo, porém ordenados, para aquisição de

informação das atividades da concorrência e principalmente das tendências

macro ambientais, com o proposito primeiro de proporcionar vantagens

competitivas à empresa. O ciclo de produção da inteligência e composto por

quatro fases: planejamento, coleta, análise e difusão (vide fig. 2, em anexos).

Na primeira fase – Planejamento, o analista de informação relaciona os

conhecimentos sobre assuntos relevantes ao assunto em pauta, com o objetivo

de perceber e certificar-se das ameaças de qualquer natureza que possam vir

por parte da concorrência. Durante essa fase, pode-se também, recorrer ao

ambiente interno como fonte de informação com o objetivo de obter dados

técnicos para melhor visualização de um fato ou situação.

24

A coleta é a segunda fase do ciclo, ela reúne os dados pertinentes que

venham complementar os aspectos essenciais quanto à necessidades de

inteligência. A coleta, segundo o autor, pode ser sistemática (fluxo constante de

informação) ou exploratória (com o objetivo de atender as necessidades

imediatas de dados para um assunto específico). Todas as decisões

empresariais são fundamentadas em dados e informações, que por sua vez,

influenciam diretamente na tomada de decisão. Dependendo do grau da sua

credibilidade se transformarão em informação estratégica.

Na análise, considerada por Poter (1989) a terceira fase, os dados são

decompostos para uma melhor avaliação da credibilidade da fonte. “A

avaliação traduz a idoneidade da fonte e o grau de veracidade do dado.”

(MARCIAL, 2010, p.4)

Nesta fase se estabelece a verdadeira realidade dos fatos, seu resultado

final responderá o que está, de fato e de direito, acontecendo externamente e o

quanto esses dados significam para empresa. A análise deve ser dirigida para

o futuro. Os métodos de análise mais utilizados são: (1) análise da indústria e

da concorrência, fundamentadas pelos conceitos de Michel Poter; (2) análise

SWOT; (3) análise de cenários e tendências; (4) técnicas de War Games, Early

Warning e Blind Spot (pontos cegos); (5) análise de patentes e (6) análise

financeira.

A quarta e última fase, difusão, é a disseminação da inteligência para

quem lhe é de direito, bem como a sua formalização em documentos

padronizados de acordo com as metodologias aplicadas no sistema de

inteligência.

O produto da Inteligência objetiva o suporte à tomada de decisão, como

visto anteriormente. Dugal (1998) apud Marcial (2010, p. 5) identifica dez tipos

diferentes de produto de inteligência competitiva: Inteligência corrente –

quando a informação é coletada de fontes disponíveis e disseminada

diretamente ao usuário.

25

Inteligência para negócios é a resultante de uma pesquisa constante

onde é analisado e documentado. É o monitoramento da concorrência

regularmente e seus estudos incluem o perfil do concorrente.

Inteligência Técnica está voltada para a identificação, inovações

científicas, tecnológicas e tendências dos concorrentes. Normalmente estão

intrínsecos no monitoramento de patentes dos concorrentes, localizando novos

produtos e tecnologias. Seus consumidores internos são os engenheiros e

cientistas e não os gerentes.

Inteligência Estimativa é projetada para vislumbrar cenários prováveis

para os clientes internos. Reflete o conhecimento adquirido e processado ao

longo de vários anos. Através da ferramenta técnica Delphi analisa a cadeia de

valores, como também podem ser utilizadas para conjecturar cenários da

inteligência estimativa, baseada em análise quantitativa, transformada sob uma

visão qualitativa dos analistas. Ao final é produzido um documento utilizado nas

tomadas de decisões.

Inteligência de Trabalho em grupo é apresentada por analistas do

ambiente interno para um determinado grupo de trabalho. As organizações têm

projetos distintos que necessitam da expertise de especialista da inteligência

competitiva e esse profissional detém o conhecimento de informações

adequadas, ele é a ligação entre o grupo de trabalho e o funcionamento da

atividade de inteligência contribuindo com avaliações eficientes e eficazes.

Inteligência direcionada normalmente é requisitada para uma

investigação de seguimento. Ela é sempre exigida por clientes internos e é

esporádica.

Inteligência de crise é toda atividade que propões aliviar ou resolver

qualquer efeito de crise na organização. Durante esses períodos de caos os

processos tradicionais de inteligência não são suficientes para a resolução dos

problemas geraram a crise, assim, é gerada a inteligência com apoio de grupos

específicos, treinados e capazes para essa situação. O processo, nesses

casos, é constante durante esse período de crise interna. Cabe aos gerentes

26

de inteligência interligar os líderes com o motivo da crise, bem como fazê-los

entender as exigências necessárias.

Inteligência Internacional é focada em três pontos: governos

estrangeiros, indústrias estrangeiras (ou mercados) e concorrência estrangeira.

Nesses casos são utilizadas algumas ferramentas como análise de risco

político, avaliação de atratividade da indústria, entre outras. Esse tipo de

inteligência se diferencia por várias razões, mas podemos citar, segundo o

autor, as fontes de dados por países estrangeiros são muito diferentes em

termos de oportunidades e confiança; os padrões éticos são distintos afetando

os dados de coleta, análise e disseminação e por último a questão cultural, pois

tudo deve ser analisado nos padrões de cada país, caso contrário pode ser mal

interpretadas.

2.4. Contra-inteligência Competitiva (CIC)

“Quanto mais se reúne e analisa informações competitivas, mais se

percebe que os outros estão fazendo o mesmo em relação à organização para

a qual você trabalha.” (FULD, 1994)

A contra-inteligência, segundo Poter (1998) é a segurança que as

empresas devem ter contra a inteligência dos concorrentes. Seu foco é não

deixar que informações confidenciais não sejam fornecidas para os

concorrentes.

O autor sustenta que a contra-inteligência é uma dicotomia, pois ao as

organizações sabem que não podem deixar as informações obtidas em sigilo

absoluto simplesmente pelo fato de que precisam delas para realizar seus

negócios e sim o que era sigilo se torna público. Esse limiar entre a contra-

inteligência e a inteligência propriamente dita é que vai colocar a empresa à

frente da concorrência.

Miller (2000) sustenta que “o subprocesso de produção de Inteligência

Competitiva deve ser protegido pelo subprocesso da Contra-Inteligência

27

competitiva”. Nesse processo o objetivo é garantir as ações de IC ou de

monitoramento da concorrência neutralizando as ações da concorrência.

O autor ainda enfatiza que além de neutralizar o inimigo seu objetivo

principal é antecipar-se as ameaças através de uma cultura preventiva e

proativa, detectando o invasor, paralisando sua atuação, recuperar as

informações e principalmente desviar a atenção da estratégia definida pela

corporação, bem como proteger as informações sensíveis6. A contra-

inteligência ainda proporciona a segurança tanto física quanto virtual da

empresa como de seus colaboradores.

Muller (op. cit.) criou um modelo de proteção da inteligência de negócios

(vide fig. 3 anexo), esse modelo trabalha no sentindo anti-horário em relação

ao ciclo de produção de inteligência (vide fig.3), mas eles compartilham o

mesmo ponto de partida que é a atribuição de tarefa pelo executivo. Ele é

composto pelas seguintes etapas:

a) Listando os ativos sensíveis – primeiramente cria-se a lista de

ativos sensíveis (todos os ativos da empresa como: pessoas,

equipamentos, instalações, informações, imagens e recursos) que

necessitem de medidas exclusivas de segurança que se

comprometidas causariam sérios danos à estratégia da empresa.

Os ativos são capazes de revelar a estratégia de atuação ou

tecnologias (patentes, fórmulas, métodos, processos, entre

outros) de propriedade da corporação.

b) Avaliando a capacidade e as habilidades dos atores hostis – na

sequencia, identifica-se e afere-se a competência e a agilidade

desses agentes hostis, colhendo assim, informações valiosas e

relevantes.

c) Identificando as vulnerabilidades da organização – Ciente do

objeto a serem protegido, conhecendo as suas peculiaridades, a

empresa estará apta a descobrir sua vulnerabilidade. 6 Informações sensíveis – é a informação que de posse de um inimigo/concorrente poderá

causar sérios prejuízos à estratégia da organização.

28

d) O desenvolvimento de Contramedidas – uma vez diagnosticada

as vulnerabilidades a organização estará apta a desenvolver

medidas para bloqueá-las ou no mínimo minimizá-las.

e) Aplicando as contramedidas – além coloca-las de aplica-las é

fundamental assegurar a sua eficácia. Para tal se faz necessário

um monitoramento dos movimentos dos atores hostis,

averiguando a fonte e a natureza de suas atividades, só assim se

poderá avaliar, na íntegra, a eficiência e a eficácia da

contramedida. Caso se observe que o ator hostil alcançou algum

tipo de sucesso na coleta de informação sobre a empresa se faz

necessário, implantar uma reação que repare esse problema.

f) Análise – a partir do momento que se pode explicar o método

analítico da contra-inteligência se terá condições de garantir o

resultado positivo das contramedidas, como também aperfeiçoá-

los. A partir desse feedback pode-se conseguir insights adicionais

que vão contribuir com determinadas revisões sobre os atores

hostis. Nesse momento, segundo Miller (2000), surge uma área

de interseção com a área de IC que possibilitará novas coletas e

análises. (vide fig. 4 em anexo)

g) Difusão – tanto quanto a produção de IC as descobertas da

contra-inteligência devem ser disseminadas para os seus

dirigentes. O autor ressalta que:

§ O ponto crucial de garantia e eficiência de qualquer e todo

programa de proteção está focado nas pessoas.

§ Um adequado SIC deve conter um subprocesso de produção

de inteligência que respalde a antevisão de oportunidades e

as barreiras às investidas dos atores hostis garantindo a

vantagem competitiva.

29

2.5. O Sistema de Inteligência Competitiva (SIC)

“O SIC (Sistema de Inteligência Competitiva) é um sistema de atividades

humana.” (POTER, 1998)

É a SIC que dá suporte e base para a atividade de inteligência. Suas

principais funções, segundo o autor, são:

§ Apoiar o monitoramento do ambiente;

§ Facilitar o processo de produção de inteligência, focando

principalmente a coleta de dados e a informação;

§ Promover e facilitar o fluxo informacional para a produção de

inteligência tempestiva.

Segundo Cardoso Júnior (2007, p. 45) “os sistemas de IC devem apoiar

a toda e qualquer atividade de inteligência, incluindo o seu gerenciamento e

controle.”

Os autores são unanimes ao afirmarem que não existe um modelo único

de SIC, pois eles variam de acordo com as peculiaridades de cada organização

(tipo de seguimento, região que atua, entre outros).

Wilson apud Marcial (2007) aborda que as características dos sistemas

SIC são de atividades humanas e é composto por dois sistemas distintos:

§ O sistema de atividades - ele apresenta as atividades realizadas no

sistema e são interdependentes;

§ O sistema Social – apresenta os relacionamentos interpessoais

entre os autores dos sistemas e que possuem um objetivo comum.

Fuld (1995, p.424) adiciona a esse fundamento que a base de todo SIC

é a força de trabalho humana compreendida dentro da empresa, e que está

deve se manter sempre motivada para somar e ajudar no desenvolvimento da

inteligência. O autor enfatiza que para tal é preciso promover a sensibilidade

dos funcionários perante os fatos fundamentais que afetam a organização e

30

precisam ser monitorados; e promover incentivos para a continuidade dessas

ajudas para o SIC.

Marcial (2010) completa esse raciocínio elucidando que no caso em

questão são necessárias duas entradas iniciais; a primeira são as

necessidades informacionais do tomador de decisão e em segundo os dados e

informações que a posteriori serão processadas e transformadas em

inteligência. (vide fig. em anexos)

(...) SIC é um sistema de atividade humanas, cujos elementos-chaves se relacionam entre si com a finalidade de integrar as ações de planejamento e execução das atividades de Inteligência Competitiva, bem como a difusão dos resultados da produção de Inteligência, de forma a fornecer subsídios à tomada de decisão na organização (...) (MARCIAL, 2010, p. 62)

O sic é formado pela integração e interseção entre os profissionais que

ocupam funções específicas no sistema, são eles: analista de IC, coletores de

IC, correspondentes7, especialistas e colaboradores. Seu funcionamento é

calcado nos procedimentos definidos pela TIC (tecnologia da informação e

comunicação).

O autor enfatiza que as fontes humanas são as mais relevantes na

construção e manutenção das redes de informação. Os principio da SIC e:

§ Dar suporte às atividades de IC;

§ Monitorar o ambiente através do acompanhamento dos fatos do dia-

a-dia acompanhando as tendências e identificando qualquer

mudança de mercado;

§ Colaborar e promover o fluxo informacional;

§ Proporcionar o inter-relacionamento entre os autores do sistema.

(...) Muitas pessoas passam a vida toda num setor de atividades, sem tentar compreender a filosofia básica dessa atividade, ou explorar suas possibilidades máximas, ou nem, sequer pensar na solução dos problemas que lhes permitisse tornar os próprios pontos de vista mais

7 Formada por representantes de todas as áreas da organização. É o elo entre área de IC e as

demais áreas da empresa.

31

claro. Quem deixa de pensar sobre o próprio setor de responsabilidade, e de pensar sobre o que o cerca, desperdiça, com certeza, o prazer de satisfações profundas e, provavelmente, realiza menos do que poderia realizar de outra forma(...) (PLATT,1974, p.78)

Poter (1998) complementa esse pensamento com os benefícios que

SIC trás para a organização e destaca: a maior qualidade e tempestividade na

produção de inteligência; o aumento do absorção informacional através do

inter-relacionamento entre as partes pertinentes ao processo e a

disponibilização da informação na tomada de decisão e principalmente para

inovação. Faz-se necessário assinalar “a importância da agilidade dos

processos, pois e ele quem vai proporcionar e possibilitar a antecipação da

empresa, frente às oportunidades e ameaças identificadas no ambiente”.

2.6. Redes Sociais

Autores como Choo e Auster (1994), Barbosa (2002), Mendes (2006) e

como não podia faltar Poter (1991), todos são unanimes em comprovar que as

fontes humanas são as mais valiosas e as mais utilizadas nas organizações,

eles acredita que ela disponibiliza informações filtradas, contextualizadas e

tratadas e de forma intempestivas.

Os autores traçam um paralelo entre o homem e máquina e concluem

que embora a máquina consiga processar grandes volumes de dados e

informações é o homem que tem o maior poder de filtrar e selecionar as

informações dispersas no ambiente interno e externo.

“Somente o ser humano é capaz de associar um evento externo aos

interesses da organização” (MARCIAL, 2010, p. 65)

O fluxo de informação tem se tornado verdadeiras redes de

comunicação onde a informação é o conector e as pessoas o veículo que

dissemina a informação. A participação de colaboradores na coleta e análise

de dados revela a maturidade e a pro-atividade das organizações.

32

Para esses cátedras é “imprescindível que os analistas construam e

mantenham relacionamentos interpessoais dentro e fora da sua organização

formando redes formais, para que se possa acessar informações não

dispensadas pelas mídias e fontes públicas.

2.7. Ética e Legislação

Não podemos estudar a IC sem passar, mesmo que superficialmente,

sobre a conduta ética e a legislação que a rege. A corrida frenética pela

competitividade tem levado muitas organizações ao esquecimento de

elementos primordiais à convivência humana. Uma vez negligenciada ela se

transforma em um mostro que pode trazer prejuízos incalculáveis e

irremediáveis tanto para as organizações quanto para às pessoas.

“Se a convivência é inerente ao homem social, é bom lembrar que

ninguém nasce ético, mas aprende ao longo da vida.” (VARELLA, 2002)

Ainda não está clara para os colaboradores e para a própria empresa a

diferença entre ética e lei. Para elucidar essa questão transcrevemos abaixo

citação da ABRAIC sobre o tema.

(...) Ilegal – á conduta que configura violação da lei. Esta violação pode desencadear consequências civis ou criminais para um indivíduo ou seu empregador. Conduta legal é aquela que obedece aos parâmetros legais estabelecidos.(...) (...) Antiética – é a conduta que não se enquadra nos padrões da própria profissão, dos colegas, do empregador ou de outro grupo regulamentador, que no caso do profissional de IC brasileiro, este pode se pautar pelos códigos de ética e de conduta da ABRAIC 8(...)

Segundo Miller (200) o código de ética respalda o comportamento

adequado, mas elucida como fato relevante que nem tudo que é lícito não

8 ABRAIC. Disponível em: http://www.abraic.org.br Acesso em:03 de jan de 2011

33

necessariamente é ético. A ABRAIC para auxiliar aos profissionais de IC no

Brasil criou um código de ética em 2002 composto pelos seguinte valores:

(...) 1- Exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade; 2- preservar sua dignidade, prerrogativas e independência profissional; 3- esforçar-se continuamente para aumentar o reconhecimento e o respeito à profissão; 4- cumprir as leis aplicáveis, tanto no País quanto no exterior; 5- manter sigilo sobre o que souber, em função de sua atividade profissional; 6- evitar envolver-se em conflitos de interesse no cumprimento de seus deveres; 7- assegurar as condições mínimas para o desempenho ético-profissional; 8- emitir opinião, dar parecer e sugerir medidas somente depois de estar seguro das informações produzidas e da confiabilidade dos dados (...)

O código de ética defendido pela ABRAIC não garante que ele seja

cumprido e seguidos unanimemente. Ele necessita do código de conduta como

complemento, sendo assim a ABRAIC, elaborou um para os seus associados

com base nos seguintes parâmetros relevantes: atualização tecnológica,

condição de trabalho e conduta no exercício da atividade. (vide ABRAIC)9,

Para Marcial (2010) a questão legal está vinculada ao segredo de

negócio (trade secrets). Trata-se de qualquer informação que venha a ser

aplicada na realização de um negócio ou empreendimento ao mesmo tempo

em que seja valiosa e sigilosa, conferindo assim vantagens comerciais

relevantes ao concorrente. (GICO JR, 2004)

Nos Estados Unidos da América do Norte existe a lei da espionagem

econômica (The Economic Espionage Act of 1996). “O departamento de justiça

americana tem ampla autoridade para levar aos tribunais casos de roubo de

segredos comerciais, sejam nos Estados Unidos, na Internet ou fora do

território americano.”

Diferentemente, no Brasil não existe lei parecida. O roubo de segredos

comerciais é enquadrado como crime comum e em função disso, suas sanções

são mais leves que as leis norte-americanas. É importante os profissionais de

IC terem conhecimento da legislação brasileira para evitar riscos legal e de

imagem. Devem-se respaldar nas leis Ordinária Federal nº 9.279/96 de 14 de

9 ABRAIC. Disponível em: http://www.abraic.org.br Acesso em:03 de jan de 2011

34

maio de 1996, em seu Art. 195, específica de quem comete concorrência

desleal. Já a Lei Ordinária Federal nº 8.884/94, de 11 de junho de 1994 define

a constituição de infração de ordem econômica, independente da culpa, os

atos, sob qualquer forma, manifestados, que tenham por objeto ou possam

produzir os seguintes efeitos: “ limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a

livre concorrência ou a livre iniciativa.”

Segundo o autor, as condutas que formalizam espionagem se

enquadram em condutas criminais descritas no próprio Código Penal Brasileiro.

Fraudes em geral (Art. 171 do Código Penal); furto (Art. 155 do Código Penal);

crime de interceptação telefônica (Art. 10 da Lei Ordinária nº 9296/96,de 24 de

julho de1996); entre outras

Para Marcial (2010) a legislação brasileira precisa atualiza-se e avançar

nas penalidades para crimes que ameaçam os segredos de negócios, como:

roubo, perda ou vazamento de informações.

3. Grupo Carrefour, uma trajetória de sucesso.

O terceiro capítulo estudará aplicação efetiva da IC em um dos maiores

Grupo de varejo no mundo, fundamentando os conceitos dos autores

estudados no segundo capítulo. Ao seu final mostrar-se-á a importância e

principalmente a relevância da IC na construção dos processos da Inteligência

Competitiva no universo dos negócios.

3.1. Grupo Carrefour: uma das maiores empresa do mundo no

seguimento supermercadista

O grupo Carrefour está presente em 31 países e encerrou suas

atividades de 2008 na primeira posição do varejo europeu e segundo lugar

35

como rede varejista no mundo, atingindo o resultado de 108.629 bilhões de

euros em vendas líquidas, um crescimento que representa de 6,4% em relação

ao ano anterior. Índices evolutivos que certificam a expansão e o

fortalecimento da empresa em nível global. (Fonte: Relatório de

desenvolvimento sustentável, 2008)

Sétimo maior empregador do mundo, com mais de 495.000

colaboradores de 100 diferentes nacionalidades. Suas 15.430 lojas (na época)

ocupam 17,9 milhões de m2, área que segmenta os diferentes formatos de

negócios, estes orientados por amplo mix de produtos e serviços para atender

os diversos perfis de consumidores onde atua. (Fonte: Relatório de

desenvolvimento sustentável, 2008)

No Brasil há 34 anos, o grupo é reconhecido como empresa pioneira no

mercado varejista do país. A rede conta com 539 unidades em 17 estados,

atuando com diversos formatos de lojas e uma oferta de serviço que inclui

postos de combustíveis, drogarias, serviços financeiros, turismo, entre outros.

O grupo é líder de mercado no setor supermercadista, 70 mil colaboradores,

sendo um dos maiores empregadores do mercado nacional. (Fonte: Relatório

de desenvolvimento sustentável, 2008)

Com faturamento bruto de R$ 22,47 bilhões, consolidou sua posição

com crescimento de 16,7% em relação ao ano anterior (dados 2008). Os

resultados obtidos corroboraram a estratégia acertada do grupo, de uma

operação sólida de multiformatos (vários modelos de lojas para atender as

mais diferentes necessidades de compra e serviços). Os investimentos

superaram a casa de R$ 1 bilhão, direcionados para abertura de lojas e

unidades de serviços, compra de terrenos e modernização da rede. (Fonte:

Relatório de desenvolvimento sustentável, 2008)

O Brasil permanece como prioridade dos investimentos do grupo

Carrefour com o foco no fortalecimento da operação.

36

3.2. Carrefour e a IC

A conduta aplicada pelo Carrefour Brasil é uma das principais razões

para a continua escala de ascensão da marca no país. Seus fortes valores de

empreendedorismo, inovação e responsabilidade social refletem nos seus

números a trajetória de sucesso e explicam porque se tornou uma das maiores

empresas no mundo.

Com forte investimento em gestão de pessoas e estímulo à promoção

interna, a empresa dissemina por meio de treinamento específicos e

ferramentas da comunicação interna, a visão a curto e longo prazo.

Toda a filosofia do grupo se fundamenta no código de ética, principal

instrumento de governança corporativa do Carrefour Brasil. Pautados na

transparência e profissionalismo com que conduzem os negócios, consideram

o código de ética um saudável guia de inter-relacionamento com todos os

colaboradores, fornecedores, prestadores de serviços, acionistas e

comunidade, criando uma infovia de informações através da rede social.

As metas do negócio são orientadas pelo Modelo de Liderança

Carrefour, que visa à projeção e desenvolvimento dos colaboradores. Um ciclo

virtuoso que alimenta o crescimento, a competitividade empresarial e os níveis

de relacionamento com os stakeholders da marca, e em especial o

atendimento ao consumidor. (Fonte: Relatório de desenvolvimento sustentável,

2008)

Desde a inauguração do primeiro hipermercado no Brasil em 1975 (1ª

loja Carrefour Brasil – São Paulo), a marca Carrefour leva pioneirismo para as

diferentes regiões do país onde atua. Entre os parâmetros de gestão adotados

pelo grupo, a empresa vem ampliando significativamente sua política de

negócios compartilhados com a sua rede de fornecedores (24.151

fornecedores) no que tange investimento, qualidade e pesquisa. (Fonte:

Relatório de desenvolvimento sustentável, 2008)

37

Para fortalecer cada vez mais a sua cadeia informacional, o grupo sedia

o encontro de parceiros chamado “ Líderes para Líderes”, encontro de diretores

do grupo Carrefour com representantes de empresas do PGC (Produtos de

Grande Consumo), principais fornecedores do mercado alimentar. Realizado a

cada seis meses, o evento é uma estratégia de IC para estreitar o

relacionamento com importantes players do país a partir da construção de um

plano de negócios transparente. Participaram do último encontro

representantes das marcas Unilever, Coca-cola, Nestlé, Kraft e Colgate, entre

outros. (Fonte: Relatório de desenvolvimento sustentável, 2008)

Nas lojas Carrefour, o consumidor encontra um universo de mais de

quatro mil marcas, Elas representam as principais empresas em atividade no

país e, também, marcas em crescimento exponencial, representadas por

fornecedores de médio e pequeno porte. Para atingir a melhor oferta para o

consumidor o grupo se antecipa, investe em pesquisas e lança projetos em

parecerias com fornecedores locais, tanto na cadeia alimentar como na não

alimentar.

O relacionamento com o cliente e visto, pelo grupo, como relevante,

assim criou-se o “SAC: Entender para Atender”. O serviço amigo Carrefour

(SAC) é o canal de relacionamento com a empresa no Brasil. Por meio dele,

indentifica-se oportunidades de melhorias internas para garantir a satisfação e

a fidelização do consumidor. Em 2008 foram recebidos 715.764 contatos. A

marca própria disponibiliza uma equipe técnica para suporte ao SAC. Todas as

manifestações dos clientes são analisadas e são elaborados planos de ação

junto aos fornecedores para tratamento das não conformidades evidenciadas

ou inovações sugeridas. A partir daí foi criado, também o SAC-PROCON, é a

célula responsável pela resolução das reclamações de clientes junto aos

órgãos de Defesa do Consumidor. Todos esses departamentos estão

interligados com a área de IC do grupo.

O Carrefour ainda promove vários outros eventos com por exemplo:

encontro-cliente amigo (reunião de 15 clientes formadores de opinião com

38

diretores de lojas); Carrefour Music Fest (reúne um público de 30 mil pessoas);

Corridas Viver; Semana da nutrição e ainda promove palestras sobre

alimentação saudável, dia do cliente e Coffee com cliente marca própria.

Para o grupo, entender o colaborador como parte integrante do negócio,

como um cliente da empresa e membro da comunidade é primordial. Com essa

premissa, orienta as políticas de desenvolvimento profissional, de benefícios e

de gestão de colaboradores, proporcionando mais conhecimento, por meio de

uma visão ampla de um mundo em transformação.

A comunicação é uma ferramenta fundamental, pois segundo a filosofia

do grupo, alinha a cultura da organizacional do Carrefour entre todos os

colaboradores, por meio de veículos de comunicação e ações que visam

disseminar e reter informações, motivar colaboradores, valorizar talentos,

compartilhar processos de mudanças, de inovação e de expansão.

O Carrefour Brasil instituiu o programa Pró-ética que assegura que todas

as decisões tomadas pelo grupo observem as leis vigentes e respeitem o

Código de Ética. A principal ferramenta do programa é o Disk Ética, criado

2004, é um canal no qual os colaboradores podem denunciar, de forma

anônima, situações e desvios que gerem perdas e que vão contra o código de

ética da empresa. O atendimento é pessoal e é realizado por um especialista

terceirizado. Essa ferramenta foi aberta aos fornecedores logo após sua

criação.

A área de IC do grupo também é responsável pela pesquisa de preço,

sortimento, gama (quantidade de fornecedores e quantidade de itens por

fornecedor), gerenciamento de categoria (dimensionamento do espaço sobre a

lucratividade GMROI)10. O monitoramento da concorrência é realizado 24h/dia

ininterruptas

O grupo acredita que uma empresa de sucesso é aquela capaz de ver,

ouvir, compreender, disseminar as informações e satisfazer as expectativas

10 GMROI - Gross Margin Return on Investiment (retorno da margem bruta (líquida) sobre

investimento em estoque)

39

dos diferentes públicos com os quais trabalha. É com esse olhar que o Grupo

Carrefour vem fazendo a diferença nos lugares em que atua.

CONCLUSÃO

Conforme estudado anteriormente a atividade de IC pode ser tornar o

diferencial de uma organização tanto no que diz respeito ao planejamento

estratégico quanto no alcance de seus objetivos, e principalmente como apoio

nos processos decisórios e na inovação da organização.

Por ser ainda um embrião em fase de eclosão, a IC deve ser

disseminada dentro da organização, deixando-a bem clara e tirando qualquer

sombra de dúvida quanto aos seus objetivos e benefícios.

Ao longo desse estudo, os autores, elucidaram que se faz necessário a

criação de uma cultura de IC, mas de forma que todos atuem dentro da lei e da

ética, para que essas ações possam aumentar a capacidade de obtenção de

dados e informações sem gerar risco à imagem da organização.

A interligação entre a cúpula decisória, o planejamento organizacional, a

criação de um canal de comunicação direto com alta administração e a área de

inteligência são de suma importância para o sucesso e a eficácia das

atividades de IC, pois cria um facilitador entre o entendimento e o atendimento

das demandas de inteligência. Faz-se necessário que as áreas obtenham

credibilidade junto ao seu público-alvo, o que se fará por meio da excelência

técnica e a experiência da equipe no processo produtivo da IC.

A implantação da Inteligência competitiva deve ser construída em

pequenas etapas para se conseguir resultados sólidos e rápidos. A

organização como um todo tem o direito de participar dos resultados, para que

possam valorizar a área como uma unidade de resultados e de apoio e não

40

como um departamento de custos. Outro fator relevante é que a atividade de

produção de IC engloba a contra inteligência competitiva.

É de extrema importância a utilização do conhecimento técnico e

relacional já existente na empresa, pois auxiliam as outras áreas na elaboração

de uma visão holística e sistemica.

Esse estudo monográfico mostrou a importância da convergência

setorial, áreas que lidam com clientes, fornecedores e parceiros são primordiais

nas redes sociais internas e externas.

A mensagem desse trabalho é que a implantação de um sistema de

inteligência competitiva é primordial para as empresas que vislumbram o

sucesso e sua sobrevivência. É importante ter em mente que a informação é o

que fará a diferença e é nesse contexto que o mapeamento e gerenciamento

das redes sociais ganham status, relevância e cada vez mais força. Mas para

tal se faz necessário o reconhecimento do trabalho dos evolvidos no processo

para que se obtenha uma rede eficiente. Algumas empresas, cientes da

importância das redes sociais, recompensam seus funcionários mais

destacados no abastecimento de informações para a área de IC, com

recompensa que podem ser financeiras ou não.

O foco central desse trabalho é mostrar que só o homem tem a

capacidade de pensar e vislumbrar o futuro, de desenvolver novos

conhecimentos partindo de insigths, bem como agir, taticamente, em sintonia

com as diretrizes e as estratégias estabelecidas por sua organização. Assim a

IC tem sucesso calcado no elemento humano. É preciso investir em sua

capacitação para obter excelência da área.

Não podemos deixar assinalar para a necessidade de se assegurar o

budget da área de IC, é prioritário garantir um orçamento mínimo que respalde

o funcionamento adequado da área. É preciso obter um processo de avaliação

constante dos serviços prestados.

Para assegurar o bom andamento do setor de IC, assegurando o bom

funcionamento nas realizações dos objetivos é preciso: ter foco; capacitar seus

41

colaboradores; deixar bem claro a necessidade da informação; investir na

melhora de análise; desenvolver redes sociais; disseminar a cultura de IC por

toda a organização; proteger as informações sensíveis e o principal, agir com

ética e nos conforme das leis que regem o mundo dos negócios.

42

BIBLIOGRAFIA

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45

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO......................................................................................... 02

AGRADECIMENTO........................................................................................ 03

DEDICATÓRIA................................................................................................ 04

RESUMO......................................................................................................... 05

SUMÁRIO........................................................................................................ 06

INTRODUÇÃO................................................................................................. 08

CAPÍTULO I .................................................................................................... 11

1. Histórico da Inteligência Competitiva.................................................. 11

1.1. Idade Média............................................................................... 11

1.2. Idade Moderna........................................................................... 12

1.3. Idade Contemporânea................................................................. 13

1.4. A IC no Brasil.............................................................................. 14

1.5. A Era da Informação................................................................... 17

CAPÍTULO II 18

2. Conceituação........................................................................................ 18

2.1. O que é Inteligência Competitiva?............................................. 18

2.2. Processo produtivo da IC........................................................... 22

2.3. Ciclo da produção da Inteligência Competitiva.......................... 23

2.4. Contra-inteligência Competitiva (CIC)........................................ 26

2.5. O Sistema de Inteligência Competitiva (SIC)............................. 29

46

2.6. Redes Sociais............................................................................. 31

2.7. Ética e Legislação....................................................................... 32

CAPÍTULO III................................................................................................... 34

3. Carrefour, uma trajetória de sucesso.....................................................

34

3.1. Grupo Carrefour: uma das maiores empresas do mundo no seguimento supermercadista....................................................

34

3.2. Carrefour e a IC.......................................................................... 36

CONCLUSÃO.................................................................................................. 39

BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................... 42

ÍNDICE............................................................................................................. 45

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÃO.............................................................................. 47

ANEXOS.......................................................................................................... 48

FOLHA DE AVALIAÇÃO.................................................................................. 51

47

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 01 Pentágono de IC............................................................... 20

Figura 02 Ciclo da Produção de IC adaptado de Kahaner (1996).... 23

Figura 03 Modelo de proteção da Inteligência de negócios adaptado de Miller (2000).................................................

27

Figura 04 Interdependência da produção de Inteligência e da Contra-inteligência............................................................

29

Figura 05 Entrada e Saída do SIC.................................................... 30

48

ANEXOS

Figura 1 – Pentágono de IC Figura 2 – Ciclo da Produção de IC adaptado de Kahaner (1996)

ANEXOS

Fonte: Marcial (2010, p 48)

Fonte: Marcial (2010, p. 36)

49

ANEXOS

Figura 3 – Modelo de proteção da Inteligência de negócios adaptado de Miller (2000)

Figura 4 – Interdependência da produção de Inteligência e da Contra-

inteligência.

ANEXOS

Fonte: Miller (2000)

Fonte: Miller (2000)

50

Figura 5 – Entrada e Saída do SIC .

Fonte: Miller (2000)

51

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Fundação A Vez do Mestre

Título da Monografia:

Autor: Sandra Regina de Sá Almeida

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: