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Organizando o cuidado em redes de atenção à saúde
Eugênio Vilaça Mendes
Seminário de Regulação Assistencial – ANSRio de Janeiro, 10 de novembro de 2015
A transição da saúde
• A transição das condições de saúde: Determinada por fatores contextuais dos sistemas de atenção à saúde
• A transição dos sistemas de atenção à saúde: Determinadas por fatores internos dos sistemas de atenção à saúde
Fontes:Frenk J. et al. - La transición epidemiologica en America Latina. Boletín de la Oficina Sanitaria Panamericana, 111: 458-496, 1991. Schramm JMA et al. - Transição epidemiológica e o estudo de carga de doença no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 9: 897-908, 2004.
A transição demográfica no Brasil
Fontes: IBGE. Projeção da população do Brasil por sexo e idade para o período 1980-2050. Revisão 2004. Rio de Janeiro, IBGE, 2004 Malta DC. Panorama atual das doenças crônicas no Brasil. Brasília, SVS/Ministério da Saúde, 2011
BRASIL: Distribuição da população por grupos etários (%), 1950-2050
41.6 40.3
29.6
20.114.7
55.5 55.8
64.9
70.4
62.8
3 3.9 5.59.6
22.5
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1950 1975 2000 2020 2050
0-14 15-64 65+
A transição tecnológica: o paradoxo da tecnologia médica
Os avanços na ciência e tecnologia têm melhorado a habilidade dos sistemas de atenção à saúde em diagnosticar e tratar as condições de saúde, mas o alto volume das tecnologias desenvolvidas supera a capacidade dos sistemas em aplicá-las de forma racional
Fontes: Nabel EG, Braunwald E. A tale of coronary artery disease and myocardial infarction. New England Journal of Medicine. 366: 54-63, 2012 DeVita Jr VT, Rosenberg AS. Two hundred years of cancer research. New England Journal of Medicine, 366:2207-2214, 2012 Smith M et al. Best care at lower cost: the path to continuously learning health care in America. Washington, Institute of Medicine, The National Academies Press, 2013
As dificuldades dos sistemas de atenção à saúde em aplicarem as tecnologias de
forma racional
Fontes: Brownlee S. Overtreated: why too much medicine is making us sicker and poorer. New York, Bloomsbury USA, 2007 Welch HG, Schwartz LM, Woloshin S. Overdiagnosed: making people sick in the pursuit of health. Boston, Beacon Press, 2011 Welch HG. Less medicine, more health: 7 assumptions that drive too much medical care. Boston, Beacon Press, 2015 Gawande A. Mortais: nós, a medicina e o que realmente importa no final. Rio de Janeiro, Objetiva, 2015
“Os Estados Unidos gastam com intervenções médicas desnecessárias 30% a 50% do gasto total em saúde e esses procedimentos injustificados são responsáveis por 30 mil mortes a cada ano”
“A visão simples é de que a medicina existe para lutar contra a morte e a doença, e essa é, sem dúvida, sua tarefa mais básica. A morte é o inimigo. No entanto, o inimigo é mais forte. Cedo ou tarde acaba vencendo”
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
1930 1935 1940 1945 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2009Infecciosas e parasitárias Neoplasias Causas externasAparelho circulatório Outras doenças
A transição epidemiológica
Fontes: Malta DC. Panorama atual das doenças crônicas no Brasil. Brasília, SVS/Ministério da Saúde, 2011 Schramm M et al. Transição epidemiológica e o estudo de carga de doença no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. 9: 897-908, 2004
GRUPO IGRUPO II
GRUPO III
Mortalidade proporcional por grupos de causas no Brasil
A tripla carga de doenças: Carga de doenças em anos de vida perdidos
ajustados por incapacidade
66%
24%10%
A transição dos sistemas de atenção à saúde
• Os sistemas fragmentados de atenção à saúde• Os sistemas integrados de atenção à saúde:
as redes de atenção à saúde
Fonte: Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde, 2011.
As características dos sistemas fragmentados de atenção à saúde
• Organizado por componentes isolados• Organizado por níveis hierárquicos• Orientado para a atenção às condições agudas e aos
eventos agudos decorrentes de agudizações de condições crônicas
• Voltado para indivíduos• O sujeito é paciente• O sistema é reativo• Ênfase em ações curativas e reabilitadoras• Ênfase no cuidado profissional do médico• Gestão da oferta• Pagamento por procedimentos
Fonte: Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde, 2011.
A explicação da crise contemporânea dos sistemas de atenção à saúde
Uma situação de saúde do século XXI, com predominância relativa de condições crônicas, sendo respondida socialmente por um modelo de atenção à saúde desenvolvido na primeira metade do século xx quando predominavam as condições agudasPor quê?O descompasso entre os fatores contingenciais que evoluem rapidamente (transições demográfica, nutricional, tecnológica e epidemiológica ) e os fatores internos (cultura organizacional, recursos, sistemas de incentivos, estilos de liderança, modelos de atenção e arranjos organizativos)
Fonte: Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde, 2011.
Brecha
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100%
1930 1935 1940 1945 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2009Infecciosas e parasitárias Neoplasias Causas externasAparelho circulatório Outras doenças
O controle do diabetes Brasil• Apenas 10% dos portadores de
diabetes tipo 1 apresentaram níveis glicêmicos controlados
• Apenas 27% dos portadores de diabetes tipo 2 apresentaram níveis glicêmicos controlados
• 45% dos portadores de diabetes apresentaram sinais de retinopatias
• 44% dos portadores de diabetes apresentaram neuropatias
• 16% dos portadores de diabetes apresentaram alterações renais
• Gasto per capita/ano em saúde: US 721,00
Estados Unidos• 17,9 milhões de portadores de
diabetes, 5,7% milhões sem diagnóstico (32%)
• Apenas 37% dos portadores de diabetes apresentaram níveis glicêmicos controlados
• 35% dos portadores de diabetes apresentaram sinais de retinopatias
• 58% dos portadores de diabetes apresentaram doenças cardiovasculares
• 30% a 70% dos portadores de diabetes apresentaram neuropatias
• 15% dos portadores de diabetes submeteram-se a amputações
• Gasto per capita/ano em saúde: us 7.164,00
Fontes: Dominguez BC. Controle ainda é baixo no Brasil. RADIS, 59: 11, 2007.National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Disease. National Diabetes Statistics 2007. Disponível em: www.diabetes.niddk.gov World Health Organization. World Health Statistics 2011. Geneva, WHO, 2011
O problema dos sistema de atenção à saúde e como solucioná-lo
• O problema A
incoerência entre uma situação de saúde que combina transições demográfica e nutricional aceleradas e tripla carga de doença, com forte predomínio relativo de condições crônicas, e um sistema fragmentado de saúde que opera de forma episódica e reativa e que é voltado principalmente para a atenção aos eventos agudos e às agudizações das condições crônicas
• A solução Estabelecer a
coerência entre a situação de saúde que combina transição demográfica e nutricional aceleradas e tripla carga de doença, com forte predomínio relativo de condições crônicas por meio da implantação de um sistema integrado que opera de forma contínua e proativa e que é voltado equilibradamente para a atenção aos eventos agudos e às condições crônicas: as redes de atenção à saúde
Fonte: Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde, 2011.
As características das redes de atenção à saúde
• Organizado por um contínuo de atenção• Organizado por uma rede poliárquica• Orientado para a atenção a condições crônicas e agudas• Voltado para uma população• O sujeito é agente de saúde• Proativo• Atenção integral• Cuidado interdisciplinar• Alinhamento do modelo de gestão: a gestão de base populacional• Alinhamento do modelo econômico: o financiamento por
capitação ou por um ciclo completo de atendimento a uma condição de saúde
Fonte: Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde, 2011.
Os elementos de uma rede de atenção à saúde
• A população• A estrutura operacional• Os modelos de atenção às condições crônicas
Fonte: Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde, 2011
A estrutura operacional das redes de atenção à saúde
Fonte: Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde, 2011
Os modelos de atenção à saúde
• O modelo de atenção aos eventos agudos• Os modelos de atenção às condições crônicas
Fonte: Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde, 2011
Eventos agudos Condições crônicas não agudizadas
Episódicas Contínuas
Reativas Proativas
Integrada Integradas
A organização das respostas sociais aos eventos agudos e às condições crônicas
pelos sistemas de atenção à saúde
Fontes: Organização Mundial da Saúde. Cuidados inovadores para condições crônicas: componentes estruturais de ação. Brasília, OMS, 2003
Os modelos de atenção às condições crônicas
• O modelo de atenção crônica (chronic care model) • O modelo da pirâmide de risco• O modelo de atenção às condições crônicas
Fonte: Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde, 2011
O modelo de atenção crônica (chronic care model)
Fonte: Wagner EH. Chronic disease management: what will take to improve care for chronic illness? Effective Clinical Practice, 1: 2-4, 1998 (Direito de uso de imagem concedido pelo American College of Physicians/Tradução de responsabilidade do apresentador)
O modelo da pirâmide de risco
Fontes: Department of Health. Supporting people with long-term conditions: a NHS and social care model to support local innovation and integration. Leeds, Long Term Conditions Team Primary Care/Department of Health, 2005 Porter M. Population care and chronic conditions: management at Kaiser Permanente. Oakland, Kaiser Permanente, 2007
Um modelo de atenção às condições crônicas para o SUS
Fonte: Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde, 2011
Gestão de Caso
Gestão da Condição de Saúde
Autocuidado Apoiado Nível 1 70-80% de pessoas com condições simples
Nível 2 20-30% de pessoas com condições complexas
Nível 3 1- 5% de pessoas com condições altamente complexas
Conclusões
• Há uma crise profunda na organização microeconômica dos sistemas de saúde brasileiros, publico e privados, determinada pela incoerência entre a situação de saúde e a resposta social a ela dirigida.
• A superação dessa crise exigirá integrar os sistemas de saúde brasileiros - tanto o SUS quanto o sistema de saúde suplementar -, por meio da implantação das redes de atenção à saúde
• Isso implicará, para o SUS e para o sistema de saúde suplementar, utilizar modelos de atenção às condições crônicas baseados em evidência
• Há que se obedecer na implantação dos modelos de atenção à saúde ao princípio da coerência, o que significa que esta mudança deve estar alinhada com mudanças concomitantes nos modelos de gestão e de financiamento
Disponível para download gratuito em: www.conass.org.br