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Eugênia Maria Dantas Ione Rodrigues Diniz Morais Organização do Espaço DISCIPLINA A Organização do Espaço: um desafio inter-trans-disciplinar? Autoras aula 03 Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:_______________________________________ VERSÃO DO PROFESSOR VERSÃO DO PROFESSOR

Organização do Espaço - UEPB · Aula 03 Organização do Espaço Aula 03 Organização do Espaço Agora, leia o que dizem alguns intérpretes do tempo. Santo Agostinho – teólogo

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Eugênia Maria Dantas

Ione Rodrigues Diniz Morais

Organização do EspaçoD I S C I P L I N A

A Organização do Espaço:um desafi o inter-trans-disciplinar?

Autoras

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03Material APROVADO (conteúdo e imagens)(conteúdo e imagens) Data: ___/___/___

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VERSÃO DO PROFESSORVERSÃO DO PROFESSOR

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Aula 03  Organização do EspaçoCopyright © 2008 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba

ReitoraMarlene Alves Sousa Luna

Vice-ReitorAldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPEEliane de Moura Silva

Coordenadora da Produção dos MateriaisMarta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky

Projeto GráficoIvana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares Borges (UFRN)Janio Gustavo Barbosa (UFRN)Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN)

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva (UFRN)

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz Capistrano (UFRN)Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico

Leonardo Chagas da Silva (UFRN)

Revisora TipográficaNouraide Queiroz (UFRN)

IlustradoraCarolina Costa (UFRN)

Editoração de ImagensAdauto Harley (UFRN)Carolina Costa (UFRN)

Diagramadores

Bruno de Souza Melo (UFRN)Mariana Araújo (UFRN)

Ivana Lima (UFRN)Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

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Copyright © 2008 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.

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Revisoras de Língua Portuguesa

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Revisor Técnico

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Revisora TipográficaNouraide Queiroz (UFRN)

IlustradoraCarolina Costa (UFRN)

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Diagramadores

Bruno de Souza Melo (UFRN)Mariana Araújo (UFRN)

Ivana Lima (UFRN)Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

Apresentação

Esta aula é uma ampliação/aprofundamento das aulas anteriores. Trazemos para você uma abordagem da organização espacial à luz dos desafios inter-trans-disciplinares. Assim, trataremos do modo como se dá a relação entre objeto/problema/método

no seio da Geografia e as interfaces que se estabelecem com outras ciências e saberes, de maneira a definir o caráter disciplinar e transdisciplinar que movimenta a produção geográfica. Pretende-se destacar como os problemas espaciais podem ser compreendidos, explicados e analisados no âmbito dessa ciência e quais as relações que estabelecem com outros campos, demonstrando a complexidade que rege o conhecimento.

Bons estudos!

ObjetivosCompreender a relação objeto/problema/método na Geografia e as interfaces com outras ciências.

Saber definir inter-trans-disciplinaridade.

Compreender os significados da inter-trans-disciplinaridade para Edgar Morin e Milton Santos.

Elaborar síntese a respeito da relação entre objeto/problema/método no âmbito da ciência geográfica, articulando a uma visão inter-trans-disciplinar.

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Há uma pedra no meio do caminho: a Geografia precisa do Tempo

Concluímos a aula anterior mostrando como o tempo passou a reger a vida das pessoas enquanto células individuais, mas também como isso é importante para mover uma determinada sociedade com características capitalistas. Você pôde ver como o

espaço geográfico participa desse enredo, sendo em alguns momentos o ator principal e, em outros, coadjuvante.

Agora, você vai adentrar mais um pouco nesse enredo e perceberá que, a cada página virada dessa história, há mais conexões a serem feitas. Não é só com o tempo histórico que a Geografia dialoga, comunica-se também com um conjunto de disciplinas e/ou áreas do conhecimento para compreender os problemas espaciais.

Antes, porém, vamos voltar um pouco à aula passada, retomando a interferência do tempo, metrificando as ações humanas e como isso atravessa o dia-a-dia da sociedade.

Da aula passada para esta, muita coisa pode ter acontecido. Diariamente, quando você se olha no espelho, pela manhã para fazer a barba, pentear o cabelo, fazer a maquiagem, percebe que o tempo está passando, seja lá o que isso signifique. É uma pequena ruga que não existia que agora insiste em aparecer, é um fio de cabelo branco que se apresenta em meio a tantos louros, negros, ruivos. É uma foto amarelada que mostra, sem subterfúgios, você e o movimento dos acontecimentos naquilo que chamamos de tempo.

Já havia elaborado a aula anterior quando me deparei com mais um conjunto de reflexões a respeito do tempo, o qual achei importante trazer para você, visando ampliarmos a discussão sobre o espaço geográfico. Você perceberá por que o homem, ao querer compreender o seu deslocamento, os eventos ou acontecimentos que ocorrem, sente necessidade de colocá-los em uma escala temporal. E mais, terá contato com alguns pensadores do tempo, o que lhe permitirá verificar que este assume definições distintas, a partir da área de atuação de cada um desses estudiosos.

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Pois bem, tanta informação desperta mais curiosidade, na mesma medida em que mantém alerta a questão: por que o homem tem necessidade de se guiar pelo tempo?

Essa necessidade, talvez, resulte da falta de informação que o homem teve quando emergiu na Terra. No entanto, a escassez de informações prévias foi compensada pelo dispositivo da linguagem, indispensável para a comunicação, adaptação, reflexão, vivências e sentidos. Assim, compreender a si mesmo passou a ser um exercício que supunha conhecer o nascer e por do sol, os pontos que iluminam o céu, o desencontro do dia e da noite na esfera terrestre, a diversidade de espécies e sua localização em áreas distintas, o aparecimento e a extinção dos seres, a água, o ar, o frio, o calor, o mar, a floresta, a terra, os minerais, os ventos, entre tantos outros. Esse cenário submeteu o homem a uma busca incessante pelo conhecimento do seu habitat, impulsionando-o a uma reflexão que coloca os elementos percebidos em um movimento de anterioridade, atualidade e posterioridade.

Dito de outra forma, o homem, observando o seu entorno, elabora uma interpretação que diz sobre o que ver, mas não é só; quer saber de onde veio e procura registros anteriores. Não contente ainda com o que sabe, quer saber como será e faz projeções. O mundo conhecido deixa de ser uma experiência localizada ou enraizada em um ponto específico da Terra, para navegar em ritmos e velocidades distintos. Tal condição requer desse próprio homem saber encontrar as explicações que o satisfaçam, submetendo-as a escalas distintas. As alterações encontradas no entorno, como, por exemplo, em uma planta que nasce, cresce e morre, são vistas como uma distensão de algo que não é visto, mas que precisa ser compreendido para se saber por que ocorre; é uma das suposições para se entender a existência do tempo. A partir daí, criamos e alimentamos a tese de que o tempo passa, que as coisas se modificam com o tempo.... O tempo passa a enredar as nossas ações cotidianas.

No texto a seguir, você vai ver situações que estão ancoradas nessa visão de tempo em movimento.

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Atividade 1

O tempo perpassa a existência de tudo, dos seres vivos à matéria inorgânica. Os dinossauros dominaram a Terra por mias de 150 milhões de anos. Deixaram como marcas de passagem suas carcaças mineralizadas, para encanto das crianças e dos paleontólogos. Os tubarões vivem há 400 milhões de anos, mas, como aconteceu com seus parentes lagartos, um dia também serão extintos. As estrelas, que parecem eternas, nascem, vivem e morrem, ainda que isso possa significar bilhões de anos. As azuis e brancas são jovens e quentes. As amarelas são bem velhas e algumas já podem estar mortas. Apenas nas suas imagens viajam pelo espaço tempo, à velocidade da luz, como fantasmas cósmicos. Habituamo-nos a identificar o fluxo do mundo com a passagem do tempo, mas curiosamente não sabemos [ao certo] o que o tempo é. Sua natureza controvertida tem preenchido páginas e páginas de escritos da Filosofia, caso de Henri Bérgson, à Cosmologia, com Albert Einstein, que fundiu espaço e tempo num contínuo, o espaço-tempo. Sem falar da literatura, na qual autores como Proust escavam fundo em busca de um tempo perdido.

(PARADOXOS..., [2007?], p. 3).

Mas, será que é o tempo que se movimenta? Ou são as coisas em seu movimento que criam a sensação de que o tempo existe e perpassam todas as coisas? O que você acha disso?

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Agora, leia o que dizem alguns intérpretes do tempo.

Santo Agostinho – teólogo que viveu no século V d.C

Grande conhecedor dessa matéria, ficou surpreso quando lhe perguntaram o que era o tempo. Faltaram-lhe as palavras para definir com precisão esse ente que atravessa a todos, mas que se torna silencioso quando exige uma definição.

Benjamin Franklin – Presidente dos Estados Unidos da América, século XVIII.

Tempo é dinheiro!

Albert Einstein – Físico que viveu no século XX.

Em carta a um amigo, esse físico demonstrou que o passado, o presente e o futuro são apenas ilusões, ainda que tenazes. A teoria da relatividade, criada por ele, nega qualquer significado absoluto e universal ao momento presente. Dois eventos que ocorrem no mesmo momento, quando observados a partir de um determinado quadro de referência, podem ocorrer em momentos diferentes.

Interpretando em parte as idéias de Einstein, o físico Paul Davies afirma que:

Esse tipo de desencontro torna cômica qualquer tentativa de conferir um status especial ao momento presente. Se você e eu estivéssemos em movimento relativo, um evento que eu poderia considerar como parte do futuro ainda não decidido poderia já existir para você no passado fixo. Conclusão mais imediata disso é que tanto o passado quanto o futuro são fixos. Por essa razão, os físicos preferem pensar o tempo como inteiramente mapeado - uma paisagem temporal (timesacape), em analogia a uma paisagem espacial (landscape) – contendo todos os eventos passados e futuros (DAVIES, 2007?, p. 11-12).

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Machado de Assis – Escritor que viveu no século XIX

O tempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima do invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro.

Franklin Leopoldo e Silva – Professor de história da filosofia que vive no século XXI

E o que o real tem de mais íntimo e de mais essencial é aquilo que para nós é mais fugidio, evanescente e imperceptível: o tempo. A realidade de direito percebida está na dimensão da invisibilidade.

A essência da realidade é imperceptível não porque a transcende, mas porque está profundamente arraigada no seu interior. [...]. A luta pela expressão é o esforço de fixar esse movimento absoluto do tempo; e é um esforço da imaginação, que, portanto, é órgão do conhecimento, de acesso mais profundo e mais direto à realidade. (SILVA, 1992, p.147)

Adauto Novaes – Jornalista e professor que vive no século XXI

O que é a experiência com o tempo? [...] Por que memória e futuro? Nossa história foi construída no esquecimento daquilo que Paul Valéry chamou de as duas maiores invenções da humanidade, o passado e o futuro.

Sem passado e sem futuro, essa história oficial esvazia não apenas nossos pensamentos, mas, principalmente, a própria idéia de História. Narrar a história de um povo a partir apenas do tempo presente, tempo fragmentário, direcionado, “instante fugidio tido como único tempo real” é negar a articulação de épocas e situações diferentes, o simultâneo, o tempo da

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história e o pensamento do tempo. Ora, é essa articulação que permite diferenciar condutas múltiplas no tempo e reconhecer que práticas políticas e culturais, consideradas estranhas e indesejáveis em determinado momento, sejam vistas de maneira diferente em outro. Esquecer o passado é negar toda efetiva experiência de vida; negar o futuro é abolir a possibilidade do novo a cada instante. Mais ainda, as idéias de justiça, liberdade, alteridade, pensamento tornam-se abstrações, vazias no espaço e no tempo, a partir do momento em que qualquer ação já se sabe “eternamente feita e absolutamente irreparável”. (NOVAES, 1992, p. 9).

Será que o que você descreveu na atividade 1 tem alguma relação com o que dizem esses pensadores do tempo? Mostre as semelhanças e diferenças existentes.

Teste a importância do tempo na sua vida:

a) conte quantas vezes você se refere a ele no seu dia;

b) identifique em quais situações você se refere a ele;

c) cite as referências que você usa para medir o tempo.

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Muito bem. Agora, é possível que com as atividades você tenha sentido a força do tempo a ritmar a sua vida. E mais ainda: deve ter constatado que ele se tornou mais concreto, na medida em que exigiu de você colocar o seu fazer em horas, minutos, segundos. Essa condição é a expressão máxima da sociedade moderna, que foi capaz de inventar um instrumento que marca com precisão as horas gastas em cada ação. Esse instrumento poderoso é o relógio.

Figura � - E o tempo não pára...

A necessidade de marcar as divisões do dia e da noite fez antigos egípcios, gregos e romanos criarem relógios de sol, de água e outros instrumentos cronométricos. Mas, é o relógio mecânico, criado por volta do século XIII, que foi capaz de impulsionar reviravoltas, sempre crescentes, em termos de aperfeiçoamento da medição precisa do tempo. Essa condição permitiu fracionar todas as atividades desenvolvidas e determinar equivalentes de valor, capazes de direcionar, no dia-a-dia, a otimização dos lucros, do trabalho e da produção. O relógio é máquina perfeita da modernidade. Ele é capaz de tornar independentes e articuladas as ações dos homens sobre o espaço em escalas distintas, suprimindo os limites da localização geográfica, da rotação da Terra, das variações climáticas. Sabe-se, a partir do relógio, precisar as ações no tempo, em espaços distintos. Assim, veja que ocorre uma alteração significativa em termos de organização espacial. Os elementos da natureza, como o Sol e a água deixam de ser referentes para guiar as atividades humanas. O homem não acorda mais com os primeiros raios solares, mas com ruídos do despertador do relógio programado para despertar na hora certa. Isso, que é programado na esfera da casa, é apenas um sinal daquilo que ocorre em todos os lugares. Os espaços funcionam obedecendo à sincronicidade imposta pelo tempo do relógio. Nessa condição, o tempo é sincopado, metrificado para permitir o controle, o êxito e a eficiência dos mecanismos necessários à reprodução e recriação de uma dada sociedade.

Após as leituras e a realização das atividades, você deve estar se perguntando “por quê?”; “por que será que o ser humano tem a necessidade de ritmar a vida no tempo?”. E mais: “e o espaço geográfico, onde entra nisso tudo?”.

Vamos lá! O percurso que envolve o conhecimento é longo, pode ser cheio de atalhos, mas na essência é um encontro. Assim, o espaço geográfico vai se cristalizando e se transformando nas distintas formas do homem pensar e agir sobre a natureza, mediado pelo ritmo do trabalho, da técnica e do conhecimento. Tudo isso torna a leitura do espaço geográfico uma tarefa complexa, pois nele vamos encontrar camadas de fixos interligados por fluxos, revelando as condições de espacialização da sociedade.

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Figura 2 - Espaços e fluxos

A interpretação do espaço geográfico supõe saber relacionar os fenômenos às múltiplas escalas, local, regional, global. E mais, saber lidar com as interfaces entre os distintos saberes construídos em períodos e áreas distintas da Geografia. Essas interfaces constituem-se de linhas, pontos e nós que cingem a trajetória do conhecimento e as práticas utilizadas, tendo como bússola a interdisciplinaridade.

Para problematizar essa questão, observe a imagem a seguir.

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Figura 3 - Sertão

Será possível fazer uma leitura geográfica dessas imagens? A resposta é sim. Mas, como proceder? É necessário, inicialmente, identificar um tema, que pode ser degradação ambiental. Após a identificação do tema, é necessário perguntar: “por que isso acontece?”. Ao fazer essa pergunta, você está procurando encontrar as causas que são responsáveis pela ocorrência do fenômeno. A partir daí, você irá sentir-se estimulado a querer compreender, explicar, analisar tais causas. Nesse item, começam a aparecer as dificuldades. É que não há uma só explicação, um único caminho, uma única teoria... Na diversidade encontrada, o leitor precisa tomar um caminho. Essa decisão só pertence a ele. Assim, ele tem diante de si diversas opções, cujos resultados possibilitarão dar respostas próximas ao que foi visto.

A questão fundamental é: qual o caminho que permite uma maior aproximação com a realidade?

Essas escolhas são sempre marcadas por tensões e debates que se estabelecem no seio da ciência e do próprio indivíduo produtor de ciência. Estamos falando de método, que,

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de forma sintética, pode ser definido como caminho. E como tal, parafraseando o poeta Antônio Machado, o caminho se faz ao caminhar. É nele que você irá encontrar as pedras e os espinhos, as veredas e as estradas largas, as bifurcações e as continuidades. Limpar o caminho, antecipadamente, como meio de proteção para evitar se perder, pode ser a sua própria perdição, na medida em que o afastamento do problema do local no qual ele está inserido reduz o seu dinamismo e a sua capacidade de revelar-se, levando à interpretação e formulação de sentenças em sínteses precárias e distantes do dinamismo fenomenológico.

Na Geografia, esse caminho está marcado por abordagens positivistas, neo-positivistas, dialéticas, fenomenológicas, hermenêuticas, que você estudou bastante quando aprendeu a respeito das correntes de pensamento geográfico. Em cada uma, havia um caminho de interpretação que interferia diretamente na definição do que é Geografia, qual o seu objeto de estudo e os conceitos/noções pertencentes a essa área de conhecimento. Aqui, nós vamos tomar o método em seu sentido etimológico de caminho, pois este é transversal a todas as classificações anteriores e nos permite adentrar na natureza do problema, antes de submetê-lo a classificações.

A leitura geográfica das imagens anteriores supõe um problema a ser compreendido e, portanto, requer de você saber guiar o seu olhar para encontrar os caminhos da revelação fenomenológica. Portanto, não há a priori uma interpretação pré-estabelecida, mas indícios que sugerem possibilidades de leituras, cuja efetivação se constitui um exercício de juntar pedaços, fragmentos dispersos em campos e registros distintos. Assim, a interpretação dos fenômenos ocorre pelo entorno, pelas franjas, já o núcleo tem uma temperatura efervescente que queima, ofusca e inibe o olhar do leitor. Com isso, queremos dizer que todo conhecimento das coisas se dá por aproximação, cuja síntese será sempre parcial, pois sujeita a reorganizações.

Observe mais atentamente as imagens e crie duas hipóteses capazes de explicar “o que se apresenta na imagem”.

Observação – Estamos considerando aqui hipótese como uma suposição provisória, que serve de guia para uma investigação que permita dar ordenamento lógico àquilo que se apresenta à realidade e sugere uma explicação.

a) Descrição da hipótese 1 b) Descrição da hipótese 2

Agora, tente comparar as suas hipóteses e procure identificar quantos elementos aparecem e que estabelecem relações entre si.

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Então, para esses elementos que apareceram e que parecem terem relações entre si, precisam ser compreendidos e explicados, exigindo de você mais um procedimento: selecionar de um extenso panorama de informações aquelas que são fundamentais, os conceitos que são pertinentes, as teorias que auxiliam na condução da reflexão. Desse modo, você também irá perceber que a explicação dos fenômenos se espraia por diversos ramos do saber que são simultaneamente geográficos, históricos, sociológicos, biológicos...

Parece que, quando se elege o problema e não a área de conhecimento, o que se revela é sempre uma explicação de fronteira, ou seja, de transição entre uma coisa e outra. Ocorrem mais simbioses do que cisões.

Essa condição é bastante exigente. Pense: você é um sujeito que está sendo formado em Geografia e, por isso, há todo um caminho a ser seguido na direção do reconhecimento do que é específico ou particular dessa área. Se for assim, o que fazer para encontrar a natureza do espaço geográfico? Saber dialogar com as distintas áreas do saber, levando para o seio do debate “as metamorfoses do espaço habitado” como sendo produto das diversificadas formas do homem se relacionar com a natureza, criando formas espaciais singulares. É do jogo das singularidades que emergem as sínteses esclarecedoras a respeito dos fenômenos. O singular não é o que é próprio de um fenômeno, mas as distintas faces que um mesmo fenômeno apresenta.

No espaço, os problemas se apresentam como um todo. Conforme você pôde ver na imagem, não é possível separar o homem do solo, da erosão, da queimada, da degradação. A inseparabilidade dos elementos coloca para o homem dificuldades de interpretação, o que ele procura resolver submetendo o problema a parcelamentos, cisões, fragmentações. Esse procedimento, que pode ser considerado um esquartejamento, resulta em um afastamento da compreensão do fenômeno em sua totalidade.

Na disciplina Metodologia Científica, você aprende como o conhecimento se torna ciência, bem como discute a respeito da especialização deste em áreas como Geografia, História, Física, Biologia e assim por diante. Compreende que a partir de um dado momento da nossa história ocorreu um processo de fragmentação do saber, o qual resultou na compreensão fragmentada dos problemas, visando, cada vez mais, a se aproximar dos fenômenos em busca de sua verdadeira face. O caminho para isso encontra-se na precisão, na objetividade, na cisão entre o que é real e o que não é real, o que se pode medir e o que é incomensurável. Dessa forma, nem todos os problemas podem ter uma abordagem científica, na medida em que há fatos, acontecimentos, que fogem à precisão e à quantificação exigidas pela ciência. Tal abordagem ancora-se em procedimentos e técnicas, cujo centro estratégico está no controle que o sujeito conhecedor tem do objeto conhecido. Nesse sentido, o objeto é submetido à lógica interna das regras que geram e criam um conhecimento que se qualifica de científico.

Esse tipo de abordagem foi e é experimentado amplamente em áreas que se denominam físicas, exatas e biológicas, mas também por aquelas que se denominam de humanas, como Geografia, Ciências Sociais, Antropologia.

Você já deve ter percebido aonde estamos querendo chegar: à premissa de que é no interior da própria ciência que são geradas as divisões e cisões para a compreensão dos problemas.

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Açãohumana

Meio

Transformado

1ª Natureza 2ª Natureza

Dito de outra forma, é no seio da ciência que ocorre a especialização dos problemas em físicos, geográficos, biológicos, antropológicos etc. Os problemas em si não têm uma natureza específica, sendo, portanto, simultaneamente, físicos e humanos. A realidade dos fenômenos obedece a uma lógica sistêmica complexa em que ocorrem movimentos de autonomia e dependência, entre as partes e o todo. O relevo dado às partes pela ciência, a partir do século XIX, resultou em uma hierarquização e seleção da realidade pelos diversos ramos do saber. Por isso, cada ciência tem um objeto de estudo que representa o seu cartão de acesso e reconhecimento no panteão da Ciência.

Figura 4 - Espaço da Geografia

A Geografia tem como objeto o espaço ou a morfologia que emerge a partir da ação humana. No espaço, estão tatuadas as diversas formas de interação, interesses e procedimentos que se apresentam entre o homem e a natureza. No espaço, realiza-se a teia complexa da vida que mistura formas criadas e recriadas pelo homem.

Agora, volte à Figura 3 (Sertão) e procure encontrar uma explicação geográfica para ela, tomando como parâmetro o que foi dito a respeito da ciência e da Geografia.

Você achou difícil responder à questão anterior? Por quê?

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Se a sua resposta foi sim e a justificativa foi a dificuldade de encontrar um conceito geográfico que pudesse dar suporte a sua explicação, já que, para responder sobre o que a imagem sugere, é necessário ativar conhecimentos que provêm de áreas como ecologia, edafologia ou pedologia, climatologia, sociologia, entre outras, você considerou as imagens como um problema que ultrapassa a fronteira geográfica, sendo necessário estabelecer com outras ciências uma aliança dialógica para poder discorrer sobre elas.

Se sua resposta foi não, o esforço reflexivo fixou-se na fronteira geográfica, levando você a querer interpretar o problema à luz dessa ciência especificamente.

Se você ficou entre o sim e o não e procurou encontrar o talvez, demonstra a abertura para o diálogo com os demais ramos do conhecimento, sendo a Geografia, simultaneamente, protagonista e coadjuvante nesse processo, que envolve faces e interfaces diversas.

Assim, você deve ter compreendido que há o envolvimento de áreas distintas da Geografia, as quais também estão preocupadas com a compreensão de fenômenos que são estudados no âmbito dessa ciência. Pois bem, agora vamos avançar e refletir sobre o porquê disso e se há zonas de intersecção entre elas.

Conforme foi dito anteriormente, os problemas apresentam-se enquanto totalidade. A sua fragmentação é resultado da especialização do conhecimento científico. Agora, é preciso fazer o caminho inverso e procurar discutir como as especializações podem dialogar para construir explicações mais abrangentes dos problemas.

Você está cada vez mais se enredando pelos meandros dos discursos e práticas inter-trans-disciplinares.

Leia algumas afirmações a esse respeito.

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Edgar Morin

Para esse pensador, a inter-trans-disciplinaridade pode ser vista como um desafi o complexo. Isso porque exige conceber o entendimento dos problemas a partir do que está ligado, do que é tecido em conjunto. Nas palavras de Morin (2002, p. 566):

se quisermos um conhecimento segmentário, encerrado e a um único objeto, com a fi nalidade única de manipulá-lo, podemos então eliminar a preocupação de reunir, contextualizar, globalizar. Mas se quisermos um conhecimento pertinente, precisamos reunir, contextualizar, globalizar nossas informações e nossos saberes, buscar, portanto, um conhecimento complexo.

Para ele, a complexidade é um exercício de fronteira, de ultrapassagem de fronteiras, de “contrabando de saberes”. É um problema para a própria ciência clássica que se tornou matricial ao orquestrar a explicação dos fenômenos pela especialização. Em Morin, a complexidade é um problema, é um desafi o e não uma resposta. Nesse desafi o, está o saber reunir o que está disperso. A inter-trans-disciplinaridade é, portanto, uma atividade que religa e reorganiza os saberes, assumindo a priori os problemas como multidimensionais.

Milton Santos

Em sua abordagem sobre o espaço geográfi co, Milton Santos chama a atenção para a necessidade da interdiscipinaridade, na medida em que há uma relação entre desenvolvimento técnico e a constituição de uma confi guração espacial particular, ou seja, a cada mudança de padrão tecnológico, ocorre uma nova forma de organizar o espaço. O geógrafo não pode prescindir da compreensão dessa inter-relação, sob pena de perder de vista a signifi cação do espaço e dos instrumentos de trabalho, produzindo casas, estradas, fábricas, barragens, entre outros. Em realidade, para Santos (1978, p. 108/109),

a lista de ciências chamadas afi ns da geografi a se escrevia acompanhada de nomes como história, sociologia, economia (se nos limitarmos a geografi a humana) tornou-se muito mais longa porque devemos acrescentar-lhes outros domínios do saber como a tecnologia (ciência das forças produtivas) e ciência política, o urbanismo, a técnica gerencial, a semiologia, a epistemologia, os negócios internacionais, a história das ciências, a ciência das ciências, chamada cienciologia, e mesmo a lógica e a dialética.

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Esses dois fragmentos anteriores informaram que, associado a um processo de especialização do saber, ocorre, paralelamente um movimento de integração entre as distintas áreas do conhecimento. Essa integração não se realiza automaticamente, mas requer do sujeito saber, a partir do seu ponto de vista, articular outros pontos de vista.

Em Edgar Morin, essa proposição é radical. O avanço das especializações na direção das hiper-especializações tem necrosado a capacidade de reflexão articulada da ciência em torno de uma compreensão abrangente dos problemas. Saber exaustivamente como funciona uma parte de um problema não garante a compreensão deste. Da mesma forma, procurar a explicação do todo, esquecendo as partes, pode criar uma abordagem generalizante, que pouco revela da dinâmica interna e externa dos fenômenos. Assim, o desafio é saber compreender os problemas à luz da dinâmica de autonomia e dependência que regem os movimentos do todo nas partes e das partes no todo.

Para esse pensador sem fronteiras, o conhecimento é adquirido por meio de um caminho complexo, ou seja, é no encontro das variáveis que são tecidas em conjunto que se tem a perspectiva de se aproximar da realidade fenomênica. A estratégia básica nessa empreitada é a dialogia. Mas, o que isso significa? Significa que para conhecer é necessário submeter o que já foi dito e sistematizado a zonas de conflito em que se pode colocar idéias contrárias àquelas estabelecidas, sendo estas também verdadeiras. Nesse patamar, têm-se verdades, mesmo que contraditórias, a respeito de um mesmo fenômeno. Assim, a dialogia possibilita o contato entre idéias antagônicas, mas que podem se tornar complementares na identificação e compreensão de um problema. Nesta, não há a necessidade de se confundir ou construir sínteses totalizantes, mas sim permitir a pluralidade e diversidade de pontos de vista. Em Morin, as ciências não são auxiliares entre si, mas são auxiliares à revelação dos problemas. Por isso, a base teórica, metodológica e conceitual se organizam em função de uma reorganização no interior da própria ciência. Compreender os problemas é reorganizar as estratégias para conhecer.

Dessa perspectiva, uma Geografia inter-trans-disciplinar supõe trabalhar a organização espacial, interligando ou interconectando o tempo ao espaço, o físico ao humano, o natural ao artificial, o singular ao universal, o regional ao global. Uma Geografia inter-trans-disciplinar supõe, antes de tudo, geograficizar, ou seja, encontrar no espaço a intrínseca relação que se estabelece entre o movimento e o repouso tramado a partir das condições bio-sócio-geográficas da natureza no homem, do homem na natureza.

Em Milton Santos, a proposição é menos radical. Pretende o autor manter a autonomia da Geografia frente às demais ciências. Para ele, é necessária uma abordagem conceitual geográfica para que esta possa dialogar com os demais campos, sem perder as fronteiras disciplinares que lhes dá identidade. Em Santos, o problema deve ser entendido em sua natureza geográfica, que requer uma abordagem conceitual precisa, sendo os demais campos do conhecimento considerados auxiliares ou afins à compreensão geográfica. Conceitos como região, paisagem, lugar e território devem ser precisamente teorizados pelos geógrafos para alimentarem o estudo do espaço como objeto da Geografia. A organização do espaço será uma interpretação guiada por esses conceitos, auxiliado por outros, como globalização, técnica, informação, conhecimento. O espaço, como uma instância da sociedade, deve ser

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Resumo

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entendido na articulação entre os objetos distribuídos sobre o território ou sua configuração geográfica e a maneira como esses objetos aparecem aos nossos olhos em sua continuidade, que é a paisagem. Nesta, há a necessidade de se compreender o que dá vida a esses objetos, ou seja, os processos que os instituíram alimentados por funções que se realizam através de formas. Bem, mas isso já são elementos para as nossas próximas aulas.

Na aula seguinte, você verá como essas noções auxiliares participam da produção do conhecimento geográfico. Até lá!

Nesta aula, foi discutida a relação entre objeto/problema/método/ciência em uma perspectiva inter-trans-disciplinar, problematizando a necessidade de trabalhar nessa direção, apontando, ao mesmo tempo, o desafio que se apresenta na construção do conhecimento geográfico. Você estudou conceitos/noções do que é o método, do papel do sujeito, das interfaces que se estabelecem na produção do saber. De forma resumida, viu como a inter-trans-disciplinaridade é concebida por Edgar Morin e Milton Santos, quando foi ressaltado o desejo de ambos em produzir o conhecimento nessa perspectiva, como também as diferenças entre os dois para se chegar a esse objetivo. Por fim, em toda a aula, você foi chamado à reflexão e à sistematização do que foi aprendido, colocando em prática a idéia de que é fazendo e refletindo sobre o que foi feito que se realiza uma aprendizagem significativa.

Auto-avaliaçãoA partir da leitura e das atividades realizadas, no decorrer desta aula, como você define inter-trans-disciplinaridade?

O que significa inter-trans-disciplinaridade para Edgar Morin e para Milton Santos?

Você acha que a inter-trans-disciplinaridade é importante para a compreensão do objeto de estudo da Geografia? Justifique sua resposta.

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Anotações

ReferênciasDAVIES, Paul. Esse fluxo misterioso. In: PARADOXOS do tempo. Revista Scientific American Brasil, São Paulo: Ediouro, n. 21, [2007?]. Edição especial. p. 10-15.

MORIN, Edgar. O método IV: as idéias: a sua natureza, vida, habitat e organização. Portugal: Publicações Europa América, 1991.

______. O desafio da complexidade. In: Edgar Morin. A religação dos saberes: um desafio do século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. p. 559-567.

NOVAES, Adauto (Org.). Tempo e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

PARADOXOS do tempo. Revista Scientific American Brasil, São Paulo: Ediouro, n. 21, [2007?]. Edição especial

SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. São Paulo: HUCITEC, 1978.

______. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985.

SILVA, Franklin Leopoldo;. Bérgson, Proust. tensões do tempo. In: NOVAES, Adauto (Org.). Tempo e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 141-153.

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Anotações

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Anotações

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