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Organização do Poder Judiciário Brasileiro GILMAR MENDES1. Introdução. 2. O Poder Judiciário Brasileiro 3. Gestão do Poder Judiciário. 3.1. Planejamento Estratégico. 3.2. Modernização do “processo produtivo” do Poder Judiciário. 5. Conclusão. 1. Introdução O Poder Judiciário, diferentemente do Legislativo e do Executivo, que se encontram em relação de certo entrelaçamento, é aquele que de forma mais inequívoca se singulariza com referência aos demais Poderes. Nesse sentido, Konrad Hesse observa que não é o fato de o Judiciário aplicar o Direito que o distingue, uma vez que se cuida de afazer que, de forma mais ou menos intensa, é levado a efeito pelos demais órgãos estatais, especialmente pelos da Administração. Todavia, o que caracterizaria a atividade jurisdicional é a Presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil; Presidente do Conselho Nacional de Justiça do Brasil; Professor de Direito Constitucional nos cursos de graduação e pós- graduação da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília-UnB; Mestre em Direito pela Universidade de Brasília - UnB (1988), com a dissertação Controle de Constitucionalidade: Aspectos Políticos e Jurídicos; Mestre em Direito pela Universidade de Münster, República Federal da Alemanha - RFA (1989), com a dissertação Die Zulässigkeitsvoraussetzungen der abstrakten Normenkontrolle vor dem Bundesverfassungsgericht (Pressupostos de admissibilidade do Controle Abstrato de Normas perante a Corte Constitucional Alemã); Doutor em Direito pela Universidade de Münster, República Federal da Alemanha - RFA (1990), com a tese Die abstrakte Normenkontrolle vor dem Bundesverfassungsgericht und vor dem brasilianischen Supremo Tribunal Federal, publicada na série Schriften zum Öffentlichen Recht, da Editora Duncker & Humblot, Berlim, 1991 (a tradução para o português foi publicada sob o título Jurisdição Constitucional: o controle abstrato de normas no Brasil e na Alemanha. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, 395 p.). Membro Fundador do Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP. Membro do Conselho Assessor do “Anuario Iberoamericano de Justicia Constitucional” – Centro de Estudios Políticos y Constitucionales - Madri, Espanha. Membro da Academia Brasileira de Letras Jurídicas. Membro da Academia Internacional de Direito e Economia – AIDE.

Organização do Poder Judiciário Brasileiro rev...organização do Poder Judiciário brasileiro. De tal forma, os indicadores de litigiosidade analisados no relatório “Justiça

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Organização do Poder Judiciário Brasileiro

GGIILLMMAARR MMEENNDDEESS••••••••

1. Introdução. 2. O Poder Judiciário Brasileiro

3. Gestão do Poder Judiciário. 3.1.

Planejamento Estratégico. 3.2. Modernização

do “processo produtivo” do Poder Judiciário.

5. Conclusão.

1. Introdução

O Poder Judiciário, diferentemente do Legislativo e do Executivo,

que se encontram em relação de certo entrelaçamento, é aquele que de forma

mais inequívoca se singulariza com referência aos demais Poderes. Nesse

sentido, Konrad Hesse observa que não é o fato de o Judiciário aplicar o Direito

que o distingue, uma vez que se cuida de afazer que, de forma mais ou menos

intensa, é levado a efeito pelos demais órgãos estatais, especialmente pelos da

Administração. Todavia, o que caracterizaria a atividade jurisdicional é a

• Presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil; Presidente do Conselho Nacional de Justiça do Brasil; Professor de Direito Constitucional nos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília-UnB; Mestre em Direito pela Universidade de Brasília - UnB (1988), com a dissertação Controle de Constitucionalidade: Aspectos Políticos e Jurídicos; Mestre em Direito pela Universidade de Münster, República Federal da Alemanha - RFA (1989), com a dissertação Die Zulässigkeitsvoraussetzungen der abstrakten Normenkontrolle vor dem Bundesverfassungsgericht (Pressupostos de admissibilidade do Controle Abstrato de Normas perante a Corte Constitucional Alemã); Doutor em Direito pela Universidade de Münster, República Federal da Alemanha - RFA (1990), com a tese Die abstrakte Normenkontrolle vor dem Bundesverfassungsgericht und vor dem brasilianischen Supremo Tribunal Federal, publicada na série Schriften zum Öffentlichen Recht, da Editora Duncker & Humblot, Berlim, 1991 (a tradução para o português foi publicada sob o título Jurisdição Constitucional: o controle abstrato de normas no Brasil e na Alemanha. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, 395 p.). Membro Fundador do Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP. Membro do Conselho Assessor do “Anuario Iberoamericano de Justicia Constitucional” – Centro de Estudios Políticos y Constitucionales - Madri, Espanha. Membro da Academia Brasileira de Letras Jurídicas. Membro da Academia Internacional de Direito e Economia – AIDE.

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prolação de decisão autônoma, de forma autorizada e, por isso, vinculante, em

casos de direitos contestados ou lesados1.

A Constituição de 1988 confiou ao Judiciário papel até então não

outorgado por nenhuma outra Constituição. Conferiu-se autonomia

institucional, desconhecida na história de nosso modelo constitucional e que se

revela, igualmente, singular e digna de destaque também no plano do direito

comparado. Buscou-se, assim, garantir a autonomia administrativa e financeira

do Poder Judiciário e assegurou-se a independência funcional dos

magistrados.

O modelo constitucional presente consagra o livre acesso ao

Judiciário. Os princípios da proteção judicial efetiva (art. 5º, XXXV), do juiz

natural (art. 5º, XXXVII e LIII) e do devido processo legal (art. 5º, LV) têm

influência decisiva no processo organizatório da Justiça, especialmente no que

concerne às garantias da magistratura e à estruturação independente dos

órgãos.

Quanto a isso, ressalte-se que a independência judicial é mais

importante para a eficácia dos direitos fundamentais do que qualquer catálogo

contido no texto constitucional2, uma vez que, direitos humanos somente

podem ser realizados quando limitam o poder do Estado. Assim, é a boa

aplicação dos direitos fundamentais de caráter judicial – destacando-se a

proteção judicial efetiva – que permite distinguir o Estado de Direito do Estado

Policial.

Nesse sentido, o princípio da proteção judicial efetiva configura

pedra angular do sistema de proteção de direitos, motivando a concepção de

novas garantias judiciais de proteção da ordem constitucional objetiva e do

sistema de direitos subjetivos. Tal ampliação dos mecanismos de proteção

merece destaque, uma vez que tem influenciado o próprio modelo de

organização do Judiciário.

1 Konrad Hesse, Elementos de direito constitucional da República Federal da Alemanha, 20. ed., trad. Luís Afonso Heck, Porto Alegre: Sérgio A. Fabris, Editor, 1998, p. 411 e s. 2 Martin Kriele, Introducción a la teoría del Estado, trad. Eugenio Bulygin, Buenos Aires: Depalma, 1980, p. 150; 159-160.

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2. O Poder Judiciário brasileiro

A organização do Judiciário deve ser disciplinada de forma a

observar os princípios previstos na Constituição.

A Constituição de 1988 dotou os tribunais brasileiros de um poder

de autogoverno consistente na eleição de seus órgãos diretivos, elaboração de

seus regimentos internos, organização de suas secretarias e serviços auxiliares

e os dos juízos que lhes forem vinculados, no provimento dos cargos de

magistrados de carreira da respectiva jurisdição, bem como no provimento dos

cargos necessários à administração da Justiça (CF, art. 96, I).

A autonomia administrativa e financeira materializa-se também na

outorga aos tribunais do poder de elaborar suas propostas orçamentárias

dentro dos limites estabelecidos com os demais Poderes na lei de diretrizes

orçamentárias.

Além disso, a Constituição contempla algumas diretrizes básicas

para a organização do Poder Judiciário como um todo, tais como: i. ingresso na

carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público

de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em

todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito no mínimo três anos de

atividade jurídica; ii. promoção de entrância para entrância, alternadamente,

por antigüidade e merecimento; iii. aferição do merecimento conforme o

desempenho pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício

da jurisdição e pela freqüência e aproveitamento em cursos oficiais ou

reconhecidos de aperfeiçoamento; iv. a recusa do juiz mais antigo pelo voto

fundamentado de 2/3 dos membros do Tribunal.

No entanto, a despeito dos avanços expressivos no tocante à

racionalização de procedimentos realizada a partir da promulgação da

Constituição de 1988, não se há de descuidar do contínuo esforço em vencer,

vez por todas, a morosidade atribuída à Justiça, sem que, para isso, seja

gerado qualquer prejuízo às garantias constitucionais dos cidadãos.

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A esse respeito, a Reforma do Judiciário, implementada pela

Emenda Constitucional n° 45, de dezembro de 2004, t rouxe importantes

inovações no âmbito do sistema judiciário brasileiro, voltadas aos objetivos do

aumento da transparência e eficiência do Judiciário e capazes de fomentar a

realização do princípio da segurança jurídica em um maior grau.

Nesse sentido, destaca-se, entre as inovações trazidas pela

Emenda Constitucional nº 45, de 2004, a criação do Conselho Nacional de

Justiça (CNJ), órgão de controle do Poder Judiciário, composto por

representantes da magistratura, do ministério público, da advocacia e da

sociedade civil, e encarregado de realizar a supervisão da atuação

administrativa e financeira do Judiciário.

A concretização do princípio da proteção judicial efetiva

pressupõe uma justiça célere e eficiente, tal concepção, implícita na própria

idéia de acesso à justiça, foi explicitada pela inclusão do inciso LXXVII, do

artigo 5º, da Constituição de 1988, realizada pela já referida Emenda

Constitucional nº 45, no âmbito da Reforma do Judiciário, segundo o qual: “a

todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração

do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

Para realizar esse objetivo, o aperfeiçoamento do serviço público

de prestação da justiça passa pela busca incessante da melhoria da gestão

administrativa, com a diminuição de custos e a maximização da eficácia dos

recursos.

Por essa razão, uma das inovações mais importantes realizada

pela Emenda Constitucional nº 45 foi a criação do Conselho Nacional de

Justiça. Ao contrário da experiência de outros países, no Brasil, a instituição do

Conselho Nacional de Justiça não ocorreu para responder a anseios da

magistratura por maior autonomia e independência, nem para impedir a

ingerência de outros Poderes no Poder Judiciário, mas sim como forma de

integração e coordenação dos diversos órgãos jurisdicionais do país, por meio

de um organismo central com atribuições de controle e fiscalização de caráter

administrativo, financeiro e correicional.

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No Brasil, como a autonomia e a independência do Poder

Judiciário já são amplamente asseguradas desde a Constituição de 1988, a

instituição do Conselho Nacional de Justiça visou, sobretudo, à adoção de

mecanismos de controle eficaz da atividade administrativa dos vários órgãos

jurisdicionais.

Constitui-se, pois, o Conselho Nacional de Justiça, mais como

órgão de coordenação e planejamento das atividades administrativas do Poder

Judiciário, do que propriamente como órgão disciplinador.

A autoridade exercida pelo Conselho Nacional de Justiça deve ter

em vista suprir as necessidades dos diversos órgãos que compõem o Poder

Judiciário brasileiro, considerando, como premissa inafastável, que tais órgãos

são os primeiros responsáveis por seus próprios destinos. Assim, somente

diante de sua inegável insuficiência ou deficiência, é que deverá o órgão

central atuar.

Incumbe, assim, ao Conselho Nacional de Justiça responder aos

desafios da modernização e às deficiências oriundas de visões e práticas

fragmentárias da administração do Poder Judiciário

A atividade desenvolvida pelo Conselho Nacional de Justiça,

como órgão de coordenação e planejamento administrativo do Poder Judiciário,

é fundamental para o aperfeiçoamento do sistema judiciário brasileiro e a

concretização do ideal de uma justiça célere e eficiente, pressuposto

necessário à realização do princípio da segurança jurídica.

O Conselho Nacional de Justiça tem, assim, a missão de formular

a política e estratégia do Poder Judiciário, como um instrumento essencial para

aumentar o grau de correção e eficiência da justiça brasileira.

3. Gestão do Poder Judiciário

A atuação do Conselho Nacional de Justiça enquanto órgão de

controle encarregado de realizar supervisão da atuação administrativa e

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financeira do Poder Judiciário está subdividida em cinco diretrizes: i.

planejamento estratégico e coordenação da política judiciária; ii. modernização

operacional e tecnológica; iii. ampliação do acesso à justiça, pacificação e

responsabilidade social; iv. garantia de respeito às liberdades públicas e

execuções penais; v. fiscalização e controle do funcionamento das serventias

judiciais e extrajudiciais.

Como pressuposto dessa atuação institucional, está o

desenvolvimento de pesquisas que permitam o conhecimento da realidade da

justiça brasileira. Somente com o diagnóstico preciso dessa realidade é

possível buscar soluções para os problemas estruturais e conjunturais do

Poder Judiciário, bem como fomentar mudanças substanciais no sistema

brasileiro de prestação de justiça.

Nesse sentido, destaca-se a importância do Departamento de

Pesquisas Judiciárias do Conselho Nacional de Justiça e do relatório “Justiça

em Números”, organizado por este órgão, capaz de fornecer e sistematizar

dados que permitem o melhor conhecimento do funcionamento da Justiça

pelos próprios órgãos do Poder Judiciário, pelas instituições do Estado e pela

sociedade civil.

Ressalte-se que, segundo os dados desse relatório, durante o

ano de 2008 tramitaram na justiça brasileira 70 milhões de processos, sendo

57 milhões (81%) na Justiça Estadual, 6,9 milhões (9%) na Justiça do Trabalho

e 6 milhões (8%) na Justiça Federal, evidenciando o alto grau de litigiosidade

da sociedade brasileira.

Pesquisas desse tipo são essenciais para guiar a atuação do

Conselho Nacional de Justiça e de todos os outros órgãos responsáveis pela

organização do Poder Judiciário brasileiro. De tal forma, os indicadores de

litigiosidade analisados no relatório “Justiça em Números” de 2008

demonstraram que, na Justiça Federal e dos Estados, o foco de morosidade

está concentrado no primeiro grau e nos juizados especiais, detentores das

maiores cargas de trabalho e das mais altas taxas de congestionamento, a

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revelar a necessidade de uma atenção especial dos tribunais a estes

segmentos.

Quanto a isso, medidas simples como a aplicação proporcional

dos recursos orçamentários, a realocação de servidores, o investimento em

infra-estrutura e tecnologia são desejáveis e podem, a curto ou médio prazo,

alterar significativamente essa realidade.

Nesse sentido, merece destaque o fato de que, de maneira geral,

os dados relativos ao judiciário brasileiro revelam que, para além dos

investimentos de que a justiça brasileira carece, é preciso que se atue na

reestruturação da própria gestão do judiciário brasileiro.

O modelo "mais do mesmo" – que repete ano após ano a rotina

de mais orçamento, mais magistrados, mais varas, mais servidores etc – está

falido, o que é evidenciado pelo fato de que, apesar do aumento contínuo

desses fatores, o número de processos pendentes de julgamento continua

crescente.

Evidencia-se, assim, que o Judiciário precisa buscar outras

formas de atuação, novos rumos, o que passa por soluções preconizadas pelo

Conselho Nacional de Justiça como o planejamento estratégico e a

modernização do “processo produtivo” do Poder Judiciário.

3.1. Planejamento Estratégico

No tocante à melhoria da gestão dos tribunais, o Conselho

Nacional de Justiça coordenou o trabalho de construção do “Planejamento

Estratégico do Poder Judiciário”, aprovado pelos Presidentes dos 91 tribunais

brasileiros no 2º Encontro Nacional do Judiciário, realizado em fevereiro de

2009, e institucionalizado pela Resolução nº 70, do Conselho Nacional de

Justiça.

Tal iniciativa significa que, pela primeira vez na história no Brasil,

todos os órgãos do Poder Judiciário passarão a atuar com propósitos comuns,

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traduzidos em objetivos estratégicos, norteados por atributos de valor como:

credibilidade, acessibilidade, celeridade, ética, imparcialidade, modernidade,

probidade, responsabilidade social e ambiental e transparência.

Alinhados a temas estratégicos consensualmente estabelecidos e

com o compromisso de planejar as suas ações para os próximos cinco anos -

evitando-se assim a deletéria descontinuidade administrativa -, os órgãos do

Poder Judiciário, já no ano de 2009, terão a seu dispor instrumento capaz de

produzir um verdadeiro “choque de gestão”.

Assim, a partir de objetivos estratégicos comuns a todo o Poder

Judiciário, eleitos de forma consensual, programas são desenvolvidos, com

espectro nacional e local, na busca de um serviço público padrão, em que o

compartilhamento de conhecimentos, boas práticas, sistemas e estruturas

contribui para o aprimoramento dos serviços e para a eliminação gradativa da

desigualdade entre os diversos segmentos da Justiça Brasileira.

Com este objetivo, diante dos diferentes estágios de

desenvolvimento dos tribunais brasileiros, a revelar a necessidade de um

nivelamento mínimo dos serviços judiciais postos à disposição da sociedade,

os presidentes dos tribunais brasileiros também se comprometeram com o

cumprimento, ainda no ano de 2009, de 10 Metas Nacionais, quais sejam: i.

desenvolver e alinhar o planejamento estratégico plurianual (mínimo de cinco

anos) aos objetivos estratégicos do Poder Judiciário; ii. identificar os processos

judiciais mais antigos e adotar medidas concretas para o julgamento de todos

aqueles distribuídos até 31 de dezembro 2005 (em 1º, 2º grau ou tribunais

superiores); iii. informatizar todas as unidades judiciárias e interligá-las ao

respectivo tribunal e à internet; iv. informatizar e automatizar a distribuição de

todos os processos e recursos; v. implantar sistema de gestão eletrônica da

execução penal e mecanismo de acompanhamento eletrônico das prisões

provisórias, vi. capacitar o administrador de cada unidade judiciária em gestão

de pessoas e de processos de trabalho, para imediata implantação de métodos

de gerenciamento de rotinas, vii. tornar acessíveis na internet as informações

processuais, com andamento atualizado e conteúdo das decisões de todos os

processos, respeitado o segredo de justiça; viii. cadastrar todos os

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magistrados como usuários dos sistemas eletrônicos de acesso a informações

sobre pessoas e bens e de comunicação de ordens judiciais; ix. implantar

núcleo de controle interno; x. implantar o processo eletrônico em parcela de

suas unidades judiciárias.

Dentre estes objetivos que devem ser realizados até o dia 31 de

dezembro de 2009, destaco a chamada “Meta 2”: identificar os processos

judiciais mais antigos e adotar medidas concretas para o julgamento de todos

aqueles distribuídos até 31 de dezembro 2005 (em 1º, 2º grau ou tribunais

superiores). Desafio que exige um redobrado esforço de cada um dos

magistrados brasileiros e de cada um dos servidores do Poder Judiciário, uma

vez que, somente com o engajamento efetivo de todos será possível mostrar à

sociedade que o Judiciário, unido, é capaz de entregar serviços judiciais em

prazo razoável.

Quanto a isso, os dados colhidos até o momento tem sido

animadores. Assim, até julho de 2009, segundo as informações prestadas

pelos 86 tribunais que já identificaram todos os processos distribuídos até

2005, dentre os 91 tribunais que compõem o sistema judiciário brasileiro, já

foram julgados 496.246 processos relativos à “Meta 2”, sendo que, em janeiro

de 2009, 47 tribunais informaram ter menos de 1000 processos relativos à

“Meta 2”, enquanto 26 tribunais informaram possuir entre 1000 e 100.000

processos à julgar até o final do ano.

Merece ainda destaque o fato de que quatro dentre esses

tribunais já atingiram a meta e outros dois tribunais aproximam-se da

conclusão, já tendo completaram 90% do objetivo, de forma que, a eles, está

sendo proposta uma nova meta, qual seja: que tentem julgar, até o final de

2009 todos os processos distribuídos até 31 de dezembro de 2006.

3.2. Modernização do “processo produtivo” do Poder Judiciário

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Importante ainda destacar, quanto ao tema da gestão e

planejamento estratégico do Poder Judiciário, os esforços que têm sido

realizados para a modernização do “processo produtivo” do Poder Judiciário.

Assim, o Conselho Nacional de Justiça tem fomentado a

utilização de instrumentos capazes de aumentar a eficiência operacional e, em

última análise, modernizar a forma tradicional de solucionar as demandas,

mormente com uso da tecnologia, a saber:

a) Sistema CNJ de Processo Eletrônico (Projudi) – sistema de

tramitação totalmente eletrônica de processos judiciais desenvolvido pelo

Conselho Nacional de Justiça, em software livre. O sistema proporciona mais

agilidade, transparência e rapidez no trâmite judicial. O Projudi permite aos

usuários utilizar o meio virtual em todos os procedimentos, da proposição de

ações até o julgamento.

b) BACEN JUD – sistema informatizado que permite aos juízes

cadastrados no Banco Central reter judicialmente valores disponíveis em

qualquer instituição bancária por meio eletrônico, para execução de ordens de

penhora ou indisponibilidade;

c) CCS – O Banco Central e o Conselho Nacional de Justiça

assinaram termos de cooperação técnica que substituem atos processuais

realizados em papel pela consulta eletrônica ao Cadastro de Clientes do

Sistema Financeiro Nacional (CCS). Por meio do CCS é possível identificar

possíveis fraudes como a utilização de “laranjas” em crimes de “lavagem” de

dinheiro;

d) RENAJUD – interliga o Judiciário e o Departamento Nacional

de Trânsito – DENATRAN, possibilitando a efetivação de ordens judiciais de

restrição de veículos cadastrados no Registro Nacional de Veículos

Automotores – RENAVAM;

e) INFOJUD – permite ao Poder Judiciário o envio à Secretaria da

Receita Federal de requisições judiciais de informações protegidas pelo sigilo

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fiscal, bem como o acesso às respostas, por meio de ferramenta eletrônica

segura e gratuita;

f) Cadastro Nacional de Improbidade Administrativa – reúne os

dados de pessoas ou empresas que tenham sido condenadas, na esfera cível,

pela má administração de recursos públicos;

g) Sistema Nacional de Bens Apreendidos (SNBA) – permite o

cadastro e o controle de todos os bens apreendidos em procedimentos

criminais, tornando possível uma melhor gestão desses bens pelos tribunais e,

em breve, a alienação eletrônica desses bens;

h) Sistema Hermes – Novo sistema de malote eletrônico para o

envio de correspondências oficiais internas e externas que permite que cartas

precatórias, cartas de ordem, requerimentos e informações em habeas corpus

e em agravo de instrumento, ofícios, circulares, requerimentos administrativos,

mandados de prisão, alvarás de soltura ou qualquer outro documento de

interesse do Judiciário passem a ser enviados eletronicamente.

Nesse contexto, merece ainda destaque o projeto “Justiça

Integrada”, que incentiva o compartilhamento recíproco da estrutura física e

administrativa de foros pelos diversos segmentos da Justiça. Assim, mediante

acordo de parceria, a utilização de unidades judiciárias por outros segmentos

do judiciário de menor capilaridade no território nacional, além de reduzir

custos, amplia a acessibilidade à prestação jurisdicional.

Vale ainda destacar o projeto “INTEGRAR”, que inaugurou uma

nova forma de atuação do Conselho Nacional de Justiça: o trabalho em

parceria com os tribunais para a otimização das rotinas cartorárias e a

introdução de boas práticas em busca da melhoria dos serviços judiciários.

Além disso, acreditando ser dever do Poder Judiciário, em todos

os seus níveis, prestar contas à sociedade do serviço que lhe é atribuído e dos

recursos que executa, o Conselho Nacional de Justiça já deu significativos

passos no sentido de determinar transparência na divulgação das atividades

dos órgãos do Poder Judiciário, como, por exemplo, o desenvolvimento de um

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sistema que confira total publicidade à execução orçamentária de todos os

tribunais. É preciso avançar para além do modelo tradicional de buscar a

correção, muitas vezes tardia, de fatos consumados e o simples dever de

transparência, por si só, representa um eficiente instrumento de prevenção.

4. Conclusão

As recentes inovações trazidas para o sistema judiciário brasileiro

pela da atuação do Conselho Nacional de Justiça pretendem possibilitar a

concretização da promessa constitucional de um judiciário célere e efetivo.

Cabe ainda mencionar os contínuos esforços realizados no

sentido de se estimular a resolução extrajudicial de conflitos, acreditando-se

ser necessário debelar a cultura “judicialista” que se estabeleceu fortemente no

país – evidenciado pelo imenso número, de 70 milhões de processos em

andamento no ano de 2008 –, segundo a qual todas as questões precisam

passar pelo crivo judicial para serem resolvidas, o que faz o Judiciário ser

chamado a atuar na solução de questões sobre as quais seu pronunciamento

poderia se dispensado.

Somente dessa maneira o Judiciário deixará de ser o único

escoadouro dos reclamos mais iminentes da cidadania, garantindo-se, assim, o

objetivo da maior proteção jurídica, com a menor intervenção possível do

Judiciário.

Ressalte-se que a modernização da administração do poder

judiciário é uma necessidade diante da garantia constitucional de efetividade da

justiça, mas, além disso, é um pressuposto para o desenvolvimento do país,

uma vez que, a segurança da resolução célere de conflitos é requisito

necessário para o desenvolvimento econômico e incentivo para a atração de

investimentos.

Assim, espera-se que os contínuos esforços realizados, no

sentido de se modernizar o sistema de justiça brasileiro, sirvam, não só para

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garantir a concretização do direito constitucional de acesso à justiça, mas,

também, de estímulo para o desenvolvimento nacional.

Quando o Judiciário opera com eficiência, as garantias

constitucionais são preservadas, a desigualdade se reduz, a sociedade se

fortalece e, com ela, o Estado de Direito.

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1

Organization of the Brazilian Judicial Power

1. Introduction. 2. The Brazilian Judicial

Power. 3. Management of the Judicial Power.

3.1. Estrategic Planning. 3.2. Modernization

of the productive process in the Judicial

Power. 5. Conclusion.

1. Introduction

The Judicial Power, differently from the Legislative and the

Executive, which are entwined to a certain degree, it is unequivocally the most

singular Power in comparison to the others. In this sense, Konrad Hesse

observes that it is not the fact that the Judiciary applies the Law which

distinguishes it, being that it is a function that is also performed by other state

organs in a more or less intensive way, particularly by the Public Administration.

However, what most characterizes the judicial activity is rendering autonomous

decisions in an authorized form, which makes them binding in case of

contestation or violation of rights.

The Constitution of 1988 trusted the Judiciary with a role until then

not yet granted by any other Brazilian Constitution. It was given institutional

autonomy, unknown in the history of our constitutional model and which also

reveals itself be singular and worthy of distinction also at the comparative law

level. It was sought, thus, to guarantee the administrative and financial

autonomy of the Judicial Power and to ensure the functional independence of

judges.

The current constitutional model grants free access to the

Judiciary. The principles of effective judicial protection (article 5, XXXV), of the

natural judge (article 5, XXXVII and LIII) and of the due process of Law (article

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5, LV) have decisive influence in the organizational process of the Judiciary,

especially in what concerns the guarantees of the magistrature and the

independent structuring of the organs.

For that matter, it should be underlined that judicial independence

is more important for the effectiveness of fundamental rights than any catalog in

the constitutional text because human rights can only be achieved by limiting

the Power of the State. Thus, it is the good application of fundamental rights of

judicial character – with preeminence of the effective judicial protection – which

differentiates the rule of Law.

In this sense, the principle of effective judicial protection

configures the cornerstone of the rights protection system, motivating the

conception of new judicial guarantees of the objective constitutional order and

of the subjective rights system.

2. The Brazilian Judicial Power

The organization of the Brazilian Judiciary is widely disciplined in

the Constitution. The Constitution of 1988 granted Brazilian courts with the

power of self-government, consisting in the election of its directive organs,

elaboration of its internal rules, organization of its secretariats and auxiliary

services, as well as filling positions necessary to the administration of Justice.

The judiciary also has the power to elaborate its own budget proposals within

the limitations established with the other Branches in the law of budgetary

directives.

Moreover the Constitution contemplates a few basic guidelines for

the organization of the Judicial Power as a whole, such as: i. admission to the

career through public contest of exams and titles, with the participation of the

Brazilian Bar Association in all its phases, requiring of the law graduate a

minimum of three years of legal profession; ii. promotion from level to level,

alternately based on seniority and merit; iii. evaluation of merit according to

performance by objective criteria of productivity and efficiency; iv refusal to

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3

promote the most senior judge only by a substantiated vote of two-thirds of the

court.

In addition, the Constitution of 1988 created five divisions of

competence for the Brazilian Judicial Power: i. Federal Justice (CF art. 109)

competent to adjudicate, generally, civil and criminal causes directly or indirectly

related to the Federal Union; ii. Labor Justice (CF, art. 114) competent to

adjudicate labor relations; iii Electoral Justice competent to adjudicate electoral

litigations; iv. Military Justice of the Union (CF, art. 124) competent to adjudicate

military crimes; and v. State Justice, competent to adjudicate all other civil and

criminal disputes.

Generally, each case is decided by a single judge. There is a jury

only in cases concerning crimes against the human life. As a rule, it is possible

to appeal to a regional court against the single judge’s decision. Additionally,

every branch of competence (labor, electoral, military and ordinary branches)

has a superior Court responsible for the integrity and harmonization of the law

interpretation.

The Supremo Tribunal Federal, Brazil’s Supreme Court, is the top

organ of the Brazilian judicial system and is responsible for the guarding of the

Constitution. Therefore, it has the final word in all matters regarding

constitutional interpretation in concrete as well as in abstract cases.

The Reform of the Judiciary, implemented by Constitutional

Amendment 45, of December 2004, brought important innovations to the realm

of the Brazilian judicial system. Among these innovations, the creation of the

National Judicial Council (CNJ) should be distinguished. It is the controlling

organ of the Judicial Power, composed of representatives of the magistrature,

of the Public Prosecutor’s Office, of the Bar Association and of the civil society.

It is in charge of supervising the administrative and financial activities of the

Judiciary.

The creation of the National Judicial Council did occur as a way to

integrate and coordinate several jurisdictional organs in the country, through a

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central organism with attributions of administrative, financial and correctional

control and inspection.

It is therefore incumbent to the National Judicial Council to answer

to the challenges of modernization and to the deficiencies of fragmented visions

and practices of the administration of the Judiciary. The activity developed by

the National Judicial Council, as an organ for administrative coordination and

planning of the Judiciary, is fundamental for the improvement of the Brazilian

legal system and the concretization of the ideal of a fast and efficient justice,

which is a necessary premise for the effectiveness of the principle of legal

certainty.

The National Judicial Council is responsible for collecting and

analyzing the data and information about the Judiciary, in order to identify its

challenges and propose solutions. For example, the 2008 statistics made by the

National Judicial Council pointed out that last year near 70 million cases were

pending for a population of less than 200 million people. This fact alone shows

that there is an excessive use of the Judiciary in Brazil and that adequate

policies and strategies as well as other forms of conflict resolution must be

considered and employed.

Therefore, the National Judicial Council has the mission to

formulate the policies and strategies of the Judiciary, as an essential instrument

to raise the level of correction and efficiency of the Brazilian justice.

3. Management of the Judicial Power

The mission of the National Judicial Council, as an organ in

charge of supervising administrative and financial activities of the Judiciary, is

subdivided into five guidelines: i. strategic planning and coordination of judiciary

policy; ii. Operational and technological modernization; iii. Broadening access to

justice, pacification and social responsibility; iv. Guaranteeing respect to public

liberties and enforcement of criminal sentences; v. inspection and control of the

functioning of judicial and extrajudicial secretariats.

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A premise of such institutional mission is to promote researches

that allow identifying the reality of the Brazilian judiciary. In this sense, it should

be noticed the importance of the Department of Judicial Research at the

National Judicial Council and the report “Justice in numbers”, organized by this

organ, capable of providing and systemizing data and indicators that allow for

the better knowledge of the functioning of Justice by the organs of the Judiciary

themselves, by state institutions and by the civil society.

According to this report, during the year 2008, 70 million cases

were in pending before the Brazilian judiciary, being 57 millions (81%) before

the state courts, 6.9 millions (9%) before labor courts and 6 millions (8%) before

federal courts, showing the high level of litigation within Brazilian society.

The indicators of litigation in the report “Justice in numbers” of the

year 2008 also demonstrate that, in federal and state courts, backlogged cases

are concentrated in the first instance and in small claims courts, both with the

heaviest workloads and the highest rates of backlog, revealing a necessity of a

special attention from the higher courts to these segments.

Facing this diagnose, measures such as proportional application

of the budgetary resources, reallocation of civil servants, higher investments in

infra-structure and technology are now discussed and encouraged, as desirable

actions that might, in a short or long term, change the present reality.

Generally, the statistic reports reveal that, beyond the investments

that the Brazilian Judiciary needs, it is necessary to restructure the very

management of the Judiciary.

It is consolidated the understanding that the effectiveness of the

Brazilian Judiciary goes beyond mere expansionism, repeatedly translated as

increasing the physical structure and staff. It is necessary to improve efficiency

in the administrative and judiciary fields to face the culture of excessive

judicialization, in which the Judiciary is seen as an ultimate answer to the

expectations of a third of the population, approximately.

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Alternatives to the traditional expansionist model have been

developed, in which, the higher the number of processes, the higher the number

of judges, civil servants, courts and posts at the appellate level. Improving the

management, searching and sharing creative solutions and investing in

technology can lead to increasing expressive results, without enlarging the

structure.

In this context, two solutions prescribed by the National Judicial

Council are noteworthy: the national strategic planning; and the modernization

of the “productive process” of the Judiciary.

3.1. Strategic Planning

In the matter of improving the management of courts, the National

Judicial Council coordinated the work of building the “Strategic Planning in the

Judicial Power” approved by the Presidents of 91 Brazilian courts in the 2nd

National Judiciary Meeting, that took place in February 2009, and

institutionalized by the Resolution 70, of the National Judicial Council.

Such initiative means that all the organs of the Judiciary will act

with common goals, translated into strategic objectives, guided by attributes of

worth such as credibility, accessibility, ethics, impartiality, modernity, honesty,

environmental and social responsibility and transparency.

In line with strategic themes consensually established and with the

commitment to plan their actions for the next five years – avoiding, thus, harmful

administrative discontinuity -, the organs of the Judiciary, still in the year 2009,

will have an instrument capable of producing a true “management shock”.

From strategic objectives common to all the Judiciary, elected

consensually, programs are developed, nationally and locally, in search of a

standard public service in which the sharing of knowledge, good practices,

systems and structures contribute to the improvement of services and to the

gradual elimination of the inequality among the several segments of Brazilian

Judiciary. Today the Judicial Power defines itself as a National Power, in which

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each one of the organs, independently from its competence, is part of a large

mechanism.

In face of the different levels of development of Brazilian courts,

which reveals the need for establishing a minimum common level of legal

services available for society, the presidents of the Brazilian courts made a

commitment to achieve, still in the year of 2009, the 10 National Targets.

I highlight the so called “Target 2”: to identify the oldest judicial

proceedings still pending and adopt concrete measures for the judgment of all

the cases distributed before December 31st of 2005 (at 1st and 2nd instances

as well as superior courts). Other than the presented challenge and need of

double efforts of each judge and civil servant of the Judiciary, “Target 10”

demonstrates the institutional commitment before the Brazilian society to deliver

legal services in a reasonable period of time.

For that matter, the data collected until the moment have been

positive. Until July 2009, according to the information given by 86 out of the 91

courts that compose the Brazilian judicial system, 496.246 cases filed prior to

December 2005 were adjudicated. Moreover, 47 courts informed having in their

backlog less than 1,000 cases regarding “Target 2”, while other 26 courts

informed having between 1,000 and 100,000 cases to be adjudicated until the

end of the year.

It is essential to highlight that, from a National Management Plan,

the Brazilian Judiciary is from now on adopting a culture of results, in which

each strategic objective is connected to indicators and short, medium and long

term targets, permanently monitored in search of better results.

3.2. Modernization of the productive process in the Judiciary Power

The policy for modernizing judicial activities is also in the center of

this great effort. A big part of the leveling targets of 2009 are related to

technology of information: automation of the cases’ distribution, interconnection

of districts and courts, implementation of the electronic proceedings, including in

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the enforcement of criminal sentences; incentives to the use of electronic tools

for identifying people and assets; and the use of portals for displaying the

stages of proceedings with transparency.

The investments in this area, however, need to be planned. Many

resources were invested by the courts in the past years and, in spite of good

examples of technological systems, we still have not achieved the desired

interoperation nor have we developed a system capable of attaining the

common functionalities of all the divisions of the Judiciary.

Having in mind that informatization is a great ally in the process of

modernization, the National Judicial Council has fostered the use of instruments

capable of raising the operational efficiency and, in last analysis, modernize the

traditional way of solving demands, especially with the use of technology.

Transparency and publicity also have been constant concerns,

because of the Judiciary’s duty, in all its levels, to account for judicial services

and resources before resources. It is necessary to advance beyond the

traditional model of seeking correction, many times late, of accomplished facts.

The duty of transparency, in itself, represents an efficient instrument of

prevention.

With this view, the Brazilian Judiciary has already given

meaningful steps. All Brazilian courts have the obligation of transparency in

divulging their activities (Resolution 79 of CNJ) and the National Judicial

Council already displays its expenses in its internet Portal. The next step will be

the development of a system that grants total publicity to the courts’ budget

execution.

4. Conclusion

Recent innovations brought to the Brazilian judicial system by the

National Judicial Council intend to make possible the constitutional promise of a

fast and effective judiciary.

It should be also mentioned the ongoing efforts to stimulate the

extrajudicial resolution of conflicts and to terminate the litigation culture that was

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strongly established in the country – shown by the 70 millions of lawsuits in a

population of little less than 200 million people that were handled in the year of

2008 -, according to which practically all matters must go to courts.

The judiciary needs to stop being the only answer for the most

imminent demands of citizenship, ensuring, thus, the objective of better legal

protection and the least possible judicial intervention.

Administrative modernization of the Judiciary is a necessity before

the constitutional guarantee of effectiveness of justice, but, beyond that, it is a

premise for the development of the country, having in mind that the certainty of

fast resolution of conflicts is a necessary requisite for economic development

and an incentive for attracting foreign investments.

Thus, one hopes that the ongoing efforts to upgrade the Brazilian

judicial system are useful not only to ensure the concretization of the

constitutional right of access to justice, but also as stimulation for national

development.

When the Judiciary operates efficiently, constitutional guarantees

are preserved, inequality is reduced, society is stronger and, with it, the Rule of

Law.