Orientações Técnicas PAIF-Vol 1

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MINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE FOME SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL SISTEMA NICO DE ASSISTNCIA SOCIAL

ORIENTAES TCNICAS SOBRE O PAIF

Vol. 1 O Servio de Proteo e Atendimento Integral Famlia PAIF, segundo a Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais

Verso Preliminar Braslia 2012

EXPEDIENTE PRESIDENTA DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DILMA ROUSSEFF VICE-PRESIDENTE DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL MICHEL TEMER MINISTRA DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE FOME TEREZA CAMPELLO SECRETRIO EXECUTIVO RMULO PAES DE SOUSA SECRETRIO EXECUTIVO ADJUNTO MARCELO CARDONA SECRETRIA NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL DENISE COLIN SECRETRIA NACIONAL DE SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL MAYA TAKAGI SECRETRIO NACIONAL DE RENDA DE CIDADANIA LUS HENRIQUE DA SILVA DE PAIVA SECRETRIO DE AVALIAO E GESTO DA INFORMAO PAULO JANNUZZI SECRETRIO EXTRAORDINRIO DE SUPERAO DA EXTREMA POBREZA TIAGO FALCO

SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL SECRETRIA ADJUNTA VALRIA GONELLI DIRETORA DE GESTO DO SISTEMA NICO DE ASSISTNCIA SOCIAL SIMONE ALBUQUERQUE DIRETORA DE PROTEO SOCIAL BSICA AID CANADO ALMEIDA DIRETORA DE PROTEO SOCIAL ESPECIAL TELMA MARANHO GOMES DIRETORA DE BENEFCIOS ASSISTENCIAIS MARIA JOS DE FREITAS DIRETORA DA REDE SOCIOASSISTENCIAL PRIVADA DO SUAS CAROLINA GABAS STUCHI DIRETOR EXECUTIVO DO FUNDO NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL ANTONIO JOSE GONALVES HENRIQUES

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CRDITOSCOORDENAO DEPARTAMENTO DE PROTEO SOCIAL BSICA ELABORAO REDAO PRISCILLA MAIA DE ANDRADE SUPERVISO AID CANADO ALMEIDA REVISO PAULA OLIVEIRA LIMA COLABORAO TCNICA BRUNA DAVILA DE ARAUJO ANDRADE EDGAR PONTES JULIANA GARCIA PERES MURAD MARIA DE FTIMA PEREIRA MARIA DO SOCORRO FERNANDES TABOSA MILENE PEIXOTO VILA APOIO CARLA CRISTINA ULHOA LUCENA CRISTIANA GONALVES DE OLIVEIRAJOSIBEL ROCHA SOARES

MRCIA PADUA VIANASGISMAR DE ANDRADE PEREIRA

SELAIDE ROWE CAMARGO SOLANGE DO NASCIMENTO LISBOA CONTRIBUIES Cadernos de Orientaes Tcnicas do PAIF GABINETE DA SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL DEPARTAMENTO DE PROTEO SOCIAL ESPECIAL DEPARTAMENTO DE GESTO DO SISTEMA NICO DE ASSISTNCIA SOCIAL DEPARTAMENTO DA REDE SOCIOASSISTENCIAL PRIVADA DO SUAS DEPARTAMENTO DE BENEFCIOS ASSISTENCIAIS

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SUMRIOApresentao Introduo Captulo 1. Nome do Servio Captulo 2. Descrio do Servio Captulo 3. Usurios do Servio Captulo 4. Objetivos do Servio Captulo 5. Provises do Servio Captulo 6. Aquisies dos Usurios Captulo 7. Condies e Formas de Acesso Captulo 8. Unidade, Perodo de Funcionamento e Abrangncia do Servio Captulo 9. Articulao em Rede Captulo 10. Impacto Social Esperado Referncias Bibliogrficas 5 7 8 10 27 43 53 57 60 63 65 73 77

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APRESENTAO com grande satisfao que disponibilizamos o primeiro volume da Srie denominada Orientaes Tcnicas sobre o PAIF. Fruto do processo de amadurecimento e consolidao do Sistema nico de Assistncia Social - SUAS, j contemplando as ltimas normatizaes da Poltica Nacional de Assistncia Social - com destaque para a Lei n 12.435, que altera a Lei n 8.742, de 7 de dezembro de 1993 e dispe sobre a organizao da Assistncia Social; a Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais; o Protocolo de Gesto Integrada de Servios, Benefcios e Transferncias de Renda no mbito do Sistema nico de Assistncia Social; bem como os resultados de pesquisas avaliativas e do Censo SUAS, o presente volume 1, O Servio de Proteo e Atendimento Integral Famlia PAIF, segundo a Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, pretende contribuir para a qualificao do principal servio de Proteo Bsica do SUAS. Objetiva-se aprofundar o conhecimento sobre o contedo da Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, no que tange ao referido servio, e esclarecer alguns conceitos. Iniciamos, portanto, esta Srie de orientaes por um mergulho no texto da Tipificao. O PAIF pedra fundamental, basilar da nova poltica de assistncia social, que vem sendo construda no Brasil desde a publicao da Poltica Nacional de Assistncia Social - PNAS, em 2004: poltica pblica, dever do Estado e direito de cidadania que, alm de enfrentar riscos sociais, atua na sua preveno. Inova ao materializar a centralidade e responsabilidade do Estado no atendimento e acompanhamento das famlias, de modo proativo, protetivo, preventivo e territorializado, assegurando o acesso a direitos e a melhoria da qualidade de vida. A capilaridade da proteo social bsica, sua capacidade de referenciamento e o fato de o Centro de Referncia de Assistncia Social CRAS - localizar-se em reas de vulnerabilidade social, ou muito prximo delas, deram legitimidade e tornaram este equipamento pblico uma referncia para a populao que vive no seu territrio de abrangncia. Como decorrncia do Plano Brasil sem Misria, em 2012, os servios de proteo social bsica em territrios de CRAS com espalhamento populacional, com presena de comunidades isoladas e com concentrao de populao extremamente pobre na rea rural devero ser ofertados a essas famlias, por equipes volantes, conforme pactuao na Comisso Intergestores Tripartite e deliberao do Conselho Nacional de Assistncia Social, por meio de Resoluo n 26, de 16 de setembro de 2011. O PAIF essencial para a proteo de assistncia social, vez que assegura espaos de convvio, informa e garante acesso aos direitos socioassistenciais, contribui para a gesto intersetorial local, para o desenvolvimento da autonomia, o empoderamento das famlias e a ampliao de sua capacidade protetiva. Fortalece, ainda, vnculos familiares e comunitrios, favorecendo a ampliao de perspectivas de vida das famlias mais vulnerveis e o acesso a oportunidades.

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No entanto, para que os profissionais possam desenvolver e aprimorar metodologias adequadas cultura e s singularidades dos modos de vida em cada territrio - amparadas em um conceito contemporneo de famlia - faz-se necessrio o compromisso dos gestores municipais, estaduais e do DF com a qualidade da oferta, garantindo os espaos adequados e condies de trabalho; a organizao da gesto; a elaborao de diagnstico do territrio; a formao continuada e o estmulo troca de conhecimentos e s boas experincias entre equipes; e a promoo de dilogo com as demais polticas pblicas, de forma a dar respostas integradas, que alterem qualitativamente a vida das famlias vulnerveis. Em sentido similar, os conselhos de assistncia social devem conduzir suas decises considerando que o PAIF constitui-se no alicerce da Proteo Bsica do SUAS. Esta publicao dirige-se a tcnicos, gestores, conselheiros e a todos os trabalhadores do SUAS que queiram aprofundar sua compreenso sobre os principais elementos da Tipificao, e refletir sobre sua prtica, com a finalidade de garantir o acesso das famlias proteo social e aos direitos socioassistenciais. Consiste, tambm, em uma primeira verso, preliminar, que dever ser aprimorada, ao longo dos prximos dois anos. Espera-se que estas orientaes estimulem a reflexo, aprimorem a atuao profissional, qualifiquem o PAIF, fortaleam a rede de proteo social nos territrios, colaborem para o acesso das famlias a direitos e contribuam para a consolidao de um projeto societrio mais igualitrio e justo. Boa leitura!

Denise Colin Secretria Nacional de Assistncia Social

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INTRODUO

A presente publicao tem por finalidade conceituar o Servio de Proteo e Atendimento Integral Famlia PAIF, de acordo com a principal normatizao dos servios socioassistenciais, no mbito do SUAS: a Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais1. A Tipificao Nacional normatiza todos os servios que compem o SUAS, a partir de uma matriz padronizada, estabelecendo nomenclaturas e regulamentando os contedos das provises de cada servio ofertado no mbito da poltica de assistncia social. Os elementos que compem a Matriz Padronizada da Tipificao - nome do servio; descrio; usurios; objetivos; provises; aquisies dos usurios; condies e formas de acesso; unidade; perodo de funcionamento; abrangncia; articulao em rede, e impacto social esperado sero apresentados detalhadamente, organizados em captulos, de modo a facilitar a compreenso da natureza do PAIF, servio essencial Proteo Social Bsica do SUAS. A deciso de iniciar a srie de publicaes sobre o PAIF utilizando a Tipificao como eixo de estruturao deve-se ao fato de que esta traz os principais elementos do Servio, a serem incorporados ao trabalho social com famlias que cabe Proteo Bsica, independentemente das abordagens e procedimentos metodolgicos adotados. Ao detalhar e comentar as informaes constantes da Tipificao, objetiva-se auxiliar os profissionais e gestores do SUAS, principais destinatrios deste documento, na implementao do principal servio da Proteo Social Bsica. Destaca-se, ainda, a importncia da apropriao da publicao por parte dos conselheiros municipais e estaduais de assistncia social atores fundamentais para a qualificao do PAIF. Dessa forma, o PAIF ser definido por meio da apresentao dos elementos da Matriz Padronizada da Tipificao, onde as caixas sombreadas trazem o texto literal da tipificao, seguidas de informaes mais detalhadas, anlises e reflexes, frutos dos resultados da Pesquisa PAIF2, consultorias, reunies com especialistas, experincias municipais e discusses ocorridas nas reunies e cmaras tcnicas da CIT, que identificaram os avanos e os principais desafios a serem enfrentados. Busca-se, assim, aprofundar a compreenso sobre a Matriz da Tipificao, trazendo esclarecimentos que dialogam com os principais aspectos da prtica e desafios para seu aprimoramento.

BRASIL. Conselho Nacional de Assistncia Social. Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais (Resoluo n 109, de 11 de novembro de 2009). Braslia, MDS: 2009.1

Consrcio Gesaworld S.A. e Instituto Via Pblica. Estudos Quali-Quantitativos sobre o PAIF. Servios de Consultoria no mbito do Programa PNUD BRA/04/046, 2008/2009.2

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CAPTULO 1

Nome do Servio

O Servio de Proteo e Atendimento Integral Famlia (PAIF) no novo, no foi inaugurado com a Tipificao. Ao contrrio, esse servio tem suas razes no incio dos anos 2000, passando por modificaes e aprimoramentos, inclusive de nomenclatura, retratando sua ressignificao no mbito do SUAS. A experincia de trabalho com famlias iniciou-se em 2001, com um projeto piloto, o Programa Ncleo de Apoio Famlia - NAF. Como forma de expandir e qualificar essa experincia, em 2003, foi lanado o Plano Nacional de Atendimento Integral Famlia PAIF. Em 2004, o Plano foi aprimorado e adequado s diretrizes da Poltica Nacional de Assistncia Social - PNAS, instituindo-se o Programa de Ateno Integral Famlia (Portaria n 78 de 08/04/2004), que se tornou a principal referncia para o usurio do Sistema nico de Assistncia Social - SUAS. Por meio do Decreto n 5.085, de 19/05/2004, o PAIF tornou-se ao continuada da assistncia social, sendo sua oferta obrigatria e exclusiva nos Centros de Referncia de Assistncia Social - CRAS. Com a instituio da PNAS, em 2004, que prev dois eixos estruturantes do SUAS - a matricialidade sociofamiliar e a territorializao, o PAIF passou a ser organizado de forma a responder garantia de fortalecimento da convivncia familiar e comunitria, na proteo bsica do SUAS. Ao abordar a famlia como um todo em suas necessidades, disponibilizar sua oferta em locais prximos da moradia dos usurios e prever a busca ativa, pelos profissionais, das famlias que vivenciam situaes de maior vulnerabilidade social, tem o desafio de romper com a lgica da fragmentao. Em 2009, com a aprovao da Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, passou a ser denominado Servio de Proteo e Atendimento Integral Famlia PAIF. Essa mudana da nomenclatura corrobora o conceito de ao continuada, estabelecida pela Lei Orgnica de Assistncia Social LOAS. Tal denominao foi reafirmada no Artigo 24 A, da Lei n 12.435, que altera a LOAS. A presente Lei tambm institui a obrigatoriedade da oferta desse servio no CRAS, unidade pblica de base territorial, localizada em reas de maiores ndices de vulnerabilidade e risco social, destinada articulao dos servios socioassistenciais no seu territrio de abrangncia e prestao de servios, programas e projetos socioassistenciais de proteo social bsica s famlias (art. 6 - C, 1). Assim, o PAIF foi concebido a partir do reconhecimento que as vulnerabilidades e riscos sociais, que atingem as famlias, extrapolam a dimenso econmica, exigindo intervenes que trabalhem aspectos objetivos e subjetivos relacionados funo protetiva da famlia e ao direito convivncia familiar. A nomenclatura ateno tambm foi substituda, para sermos capazes de expressar de forma mais fidedigna os objetivos do Servio: no se pretende ofertar ateno s famlias,

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mas sim proteo e atendimento. O servio foi, desse modo, definido de maneira menos genrica, aproximando a denominao de sua finalidade. Ressalta-se, tambm, que a deciso por preservar a sigla PAIF foi motivada pela necessidade em se resguardar a historicidade das aes desse Servio, j conhecidas e legitimadas por gestores, tcnicos e usurios da poltica de assistncia social dos municpios, DF e estados de todo o pas. Nessa direo, o PAIF concretiza a presena e responsabilidade do poder pblico e reafirma a perspectiva dos direitos sociais, constituindo-se em um dos principais servios que compem a rede de proteo social de assistncia social, que vem se consolidando no pas de modo descentralizado e universalizado, permitindo o enfrentamento da pobreza, da fome e da desigualdade, assim como, a reduo da incidncia de riscos e vulnerabilidades sociais que afetam famlias e seus membros.

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CAPTULO 2

Descrio do Servio

Para descrever o PAIF preciso, primeiramente, contextualiz-lo no mbito do SUAS. Esse servio integra o nvel de proteo social bsica do SUAS, que tem por objetivo: prevenir situaes de risco social, por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisies e do fortalecimento de vnculos familiares e comunitrios3. Ou seja, atua de forma preventiva, protetiva e proativa, reconhecendo a importncia de responder s necessidades humanas de forma integral, para alm da ateno a situaes emergenciais, centradas exclusivamente nas situaes de risco social.A ao preventiva tem por escopo prevenir ocorrncias que interfiram no exerccio dos direitos de cidadania. O termo 'prevenir' tem o significado de "preparar; chegar antes de; dispor de maneira que se evite algo (dano, mal); impedir que se realize". Assim, a preveno no mbito da Proteo Social Bsica PSB - denota a exigncia de uma ao antecipada, baseada no conhecimento do territrio, dos fenmenos e suas caractersticas especficas (culturais, sociais e econmicas) e das famlias e suas histrias. O carter preventivo requer, dessa forma, intervenes orientadas a evitar a ocorrncia ou o agravamento de situaes de vulnerabilidade e risco social, que impedem o acesso da populao aos seus direitos. A atuao protetiva significa centrar esforos em intervenes que visam amparar, apoiar, auxiliar, resguardar, defender o acesso das famlias e seus membros aos seus direitos. Assim, a PSB deve incorporar em todas as intervenes o carter protetivo, envidando esforos para a defesa, garantia e promoo dos direitos das famlias. J a atuao proativa est ligada ao reconhecimento, tomada de responsabilidade e interveno frente a situaesproblema que obstaculizam o acesso da populao aos seus direitos, mas que ainda no foram apresentadas como tal. A proatividade o contrrio de reatividade, que a propriedade de reagir aos estmulos externos. Assim, ser proativo no mbito da PSB tomar iniciativa, promover aes antecipadas ou imediatas frente a situaes de vulnerabilidade ou risco social, vivenciadas pelas famlias ou territrios, no esperando que a demanda bata sua porta. A ao proativa tem por foco intervir nas circunstncias que originaram as situaes de vulnerabilidade e risco social, possibilitando a criao de instrumentos que permitem prever ocorrncias futuras, bem como o contnuo aperfeioamento da ao, de modo a efetivar, o mais rpido possvel, o acesso das famlias aos seus direitos. Atuar proativamente imprescindvel para materializar a atuao intencional preventiva e protetiva do PAIF.

Por essa razo, afirma-se que a proteo social bsica possui uma dimenso inovadora, pois supera a histrica ateno voltada a situaes crticas, que exigiam aes indenizatrias de perdas j instaladas, mais do que asseguradoras de patamares de dignidade e de desenvolvimento integral. O PAIF, consequentemente, deve refletir essas caractersticas, conforme aponta a Tipificao:

BRASIL. Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome. Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS). Norma Operacional Bsica (NOB/Suas). Braslia: MDS, 2005. p. 33.3

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O Servio de Proteo e Atendimento Integral Famlia PAIF consiste no trabalho social com famlias, de carter continuado, com a finalidade de fortalecer a funo protetiva das famlias, prevenir a ruptura de seus vnculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida. Prev o desenvolvimento de potencialidades e aquisies das famlias e o fortalecimento de vnculos familiares e comunitrios, por meio de aes de carter preventivo, protetivo e proativo.Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, 2009.

Os termos fortalecer, prevenir, promover e contribuir na melhoria, presentes na descrio do Servio apontam para seu carter antecipador ocorrncia de situaes de vulnerabilidade e risco social, de modo a ofertar s famlias uma forma de atendimento que, como a prpria denominao do Servio traz, proteja as famlias. Proteo que alm do enfrentamento das vulnerabilidades e riscos sociais, atua tambm no desenvolvimento de potencialidades, a partir do reconhecimento de que ningum est desprovido de tudo: uma famlia que est sobrevivendo na vulnerabilidade detm ativos importantes. Nessa direo preciso identificar e fortalecer os recursos disponveis das famlias, suas formas de organizao, participao social, sociabilidade e redes sociais de apoio, entre outros, bem como dos territrios onde vivem.

Sobre o conceito de vulnerabilidade social... No h um significado nico para o termo vulnerabilidade. um conceito complexo e todos os autores, que se dedicam ao tema, o reconhecem como multifacetado. Por esse motivo, diversas teorias, amparadas em diferentes percepes do mundo social e, portanto, com objetivos analticos diferentes, foram desenvolvidas. Assim, torna-se indispensvel elucidar com qual concepo se dialoga. A PNAS/2004 no traz explicitamente o conceito de vulnerabilidade social, mas aponta que as situaes de vulnerabilidade podem decorrer: da pobreza, privao, ausncia de renda, precrio ou nulo acesso aos servios pblicos, intemprie ou calamidade, fragilizao de vnculos afetivos e de pertencimento social decorrentes de discriminaes etrias, tnicas, de gnero, relacionadas sexualidade, deficincia, entre outros, a que esto expostas famlias e indivduos, e que dificultam seu acesso aos direitos e exigem proteo social do Estado. Com intuito de subsidiar a reflexo sobre o conceito de vulnerabilidade adotado pela PNAS/2004, seguem algumas consideraes de diferentes autorias: KAZTMAN4 O autor elabora a concepo ativos-vulnerabilidades a qual utilizada pela Comisso Econmica para Amrica Latina e Caribe - CEPAL. Segundo essa compreenso, as vulnerabilidades resultam da relao entre duas variveis: estrutura de oportunidades e capacidades dos lugares (territrios) 5.

KAZTMAN, R. Activos y estructuras de oportunidades: estudios sobre las races de la vulnerabilidad social en Uruguay. Disponvel em: http://biblioteca.cepal.org/search~S0*spi?/akaztman/akaztman/1%2C2%2C60%2CZ/l856&FF=akaztman+ ruben&1%2C%2 C59%2C1%2C0. Acesso em: 29 set. 2010. 5 Traduo da autora.4

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Compreende-se por estrutura de oportunidades a composio entre: a) mercado (empregos, estrutura ocupacional); b) sociedade (em especial, capital social relaes interpessoais de apoio mtuo, geradas com base em princpios de reciprocidade como ocorre, por exemplo, na organizao familiar, na comunidade, nos grupos tnicos ou na religio); e c) Estado (polticas de bem-estar e estruturas de representao de demandas e interesses, por exemplo: conselhos de direitos). J o conceito de capacidades dos lugares (territrios) diz respeito s possibilidades de acesso a condies habitacionais, sanitrias, de transporte, servios pblicos, entre outros - fatores que incidem diretamente no acesso diferencial informao e s oportunidades e, consequentemente, no acesso a direitos. Nessa perspectiva, so as diferentes combinaes entre ambas variveis que originam tipos e graus de vulnerabilidade diferenciados. Os atores sociais, portanto, no dependem somente de sua capacidade de gerenciamento de ativos, mas de um contexto histrico, econmico e social formado de oportunidades e precariedades, bem como da intermediao/proteo da estrutura estatal para que consigam usufruir dos diferentes tipos de ativo necessrios para responder s situaes de vulnerabilidade. DIEESE6 Unicamp7 Segundo o DIEESE, o termo vulnerabilidade define a zona intermediria instvel que conjuga a precariedade do trabalho, a fragilidade dos suportes de proximidade e a falta de proteo social. Assim, se ocorrer algo como uma crise econmica, o aumento do desemprego e a generalizao do subemprego, a zona de vulnerabilidade dilata-se, avana sobre a zona de integrao e gera a desfiliao. As situaes de vulnerabilidade social devem ser analisadas a partir da existncia ou no, por parte dos indivduos ou das famlias, de ativos disponveis e capazes de enfrentar determinadas situaes de risco8. Logo, a vulnerabilidade de um indivduo, famlia ou grupos sociais refere-se maior ou menor capacidade de controlar as foras que afetam seu bem-estar, ou seja, a posse ou controle de ativos que constituem os recursos requeridos para o aproveitamento das oportunidades propiciadas pelo Estado, mercado ou sociedade: a) fsicos meios para o bem-estar moradia, bens durveis, poupana, crdito; b) humanos: trabalho, sade, educao (capacidade fsica e qualificao para o trabalho); e c) sociais redes de reciprocidade, confiana, contatos e acessos informao. Assim, a condio de vulnerabilidade deve considerar a situao das pessoas e famlias a partir dos seguintes elementos: a insero e estabilidade no mercado de trabalho, a debilidade de suas relaes sociais e, por fim, o grau de regularidade e de qualidade de acesso aos servios pblicos ou outras formas de proteo social. MARANDOLA JR; HOGAN9 Para MARANDOLA JR. e HOGAN, o termo vulnerabilidade chamado para compor estudos sobre a pobreza enquanto um novo conceito forte, na esteira dos utilizados no passado, tais como: excluso/incluso, marginalidade, apartheid, periferizao, segregao, dependncia, entre outros. Enfatiza-se tambm que o termo vulnerabilidade tem sido empregado para tratar do cerceamento dos bens de cidadania seja em funo de uma diminuio de renda ou de perda de capital social 10.67

Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos. Aspectos Conceituais da Vulnerabilidade Social. Convnio MTE-Dieese/Unicamp, 2007. Disponvel em: http://www.mte.gov.br/observatorio/sumario_2009_TEXTOV1.pdf. Acesso em: 10 ago. 2010. 8 Os autores basearam-se na concepo de Kaztman. 9 MARANDOLA JR; HOGAN, D. J. As Dimenses da Vulnerabilidade. So Paulo em Perspectiva, So Paulo, Fundao Seade, v. 20, n. 1, p. 33-43, jan/mar 2006. 10 HOPENHAYN apud HOGAN; MARANDOLA JR.

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Pode-se concluir... A partir desse breve percurso sobre a concepo de vulnerabilidade, pode-se afirmar que a abordagem adotada pela PNAS, ao dialogar com as anlises mencionadas, possibilita assistncia social uma viso menos determinista e mais complexa das situaes de pobreza, pois d um sentido dinmico para o estudo das desigualdades, a partir da identificao de zonas de vulnerabilidades, possibilitando um maior poder explicativo de uma realidade social, composta por uma heterogeneidade de situaes de desproteo social. Nessa direo, pode-se afirmar: a) A vulnerabilidade no sinnimo de pobreza. A pobreza uma condio que agrava a vulnerabilidade vivenciada pelas famlias; b) A vulnerabilidade no um estado, uma condio dada, mas uma zona instvel que as famlias podem atravessar, nela recair ou nela permanecer ao longo de sua histria; c) A vulnerabilidade um fenmeno complexo e multifacetado, no se manifestando da mesma forma, o que exige uma anlise especializada para sua apreenso e respostas intersetoriais para seu enfrentamento;

d) A vulnerabilidade, se no compreendida e enfrentada, tende a gerar ciclos intergeracionais de reproduo das situaes de vulnerabilidade vivenciadas; e) As situaes de vulnerabilidade social no prevenidas ou enfrentadas tendem a tornar-se uma situao de risco.

Destaca-se que o PAIF tem por funo apoiar a famlia no desempenho de sua funo protetiva, num dado territrio, caso as famlias tenham o desejo de fortalecer sua capacidade protetiva. Logo, o trabalho social com famlias do PAIF no tem como objetivo obrig-las a cumprir tal papel protetivo.

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Outra questo fundamental na compreenso do PAIF a sua conceituao como trabalho social com famlias. Abordaremos o tema, no entanto, de modo rpido, pois este ser tratado de forma aprofundada nas Orientaes Tcnicas sobre o PAIF - Trabalho Social com Famlias do Servio de Proteo e Atendimento Integral Famlia, vol. 2. O trabalho social com famlias no mbito do PAIF consiste em um conjunto de procedimentos implementados por profissionais, a partir de pressupostos ticos, conhecimento tericometodolgico e tcnico-operativo. Ele tem por objetivo contribuir na e para a convivncia de um conjunto de pessoas unidas por laos consanguneos, afetivos e/ou de solidariedade, a fim de proteger seus direitos, apoi-las no desempenho da sua funo de proteo e socializao de seus membros, bem como assegurar o convvio familiar e comunitrio de maneira preventiva, protetiva e proativa. por meio do trabalho social que o PAIF, no mbito da Proteo Social Bsica do SUAS, contribui para a materializao da responsabilidade constitucional do Estado de proteger as famlias.

Destaca-se, ainda, o carter continuado do servio como termo descritor do PAIF. Tal termo reafirma o PAIF como servio socioassistencial, conforme previsto no art. 23 da LOAS:Entende-se por servios socioassistenciais as atividades continuadas que visem melhoria de vida da populao e cujas aes, voltadas para as necessidades bsicas, observem os objetivos, princpios e diretrizes estabelecidas nesta lei.

Assim, o termo carter continuado expressa que o PAIF deve estar disponvel para a populao de forma permanente sem descontinuidades ou interrupes, contribuindo para consolidar o direito da famlia proteo estatal, bem como concretizando, no territrio, a matricialidade sociofamiliar da poltica de assistncia social, no mbito da proteo social bsica. Enfatiza-se tambm que o PAIF tem papel fundamental na compreenso das especificidades dos territrios suas vulnerabilidades e potencialidades, a partir do diagnstico territorial, da leitura crtica da situao vivenciada e escuta qualificada no atendimento s famlias e grupos sociais ali residentes, possibilitando, assim, a implementao de aes de carter preventivo, protetivo e proativo. Logo, a partir do olhar tcnico sobre o territrio que se d o desenho do trabalho social a ser desenvolvido com famlias do PAIF. A tipificao enfatiza a necessidade de o PAIF utilizar-se de aes culturais para o cumprimento de seus objetivos: O trabalho social do PAIF deve utilizar-se tambm de aes nas reas culturais para o cumprimento de seus objetivos, de modo a ampliar o universo informacional e proporcionar novas vivncias s famlias usurias do Servio.Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, 2009.

Assim, por meio da cultura que os seres humanos vivenciam o processo de socializao, uma vez que as identidades sociais so construdas por meio de representaes culturais. A partir desse pressuposto, reconhece-se que toda prtica social tem uma dimenso cultural e que a cultura condio constitutiva da vida social contempornea12.

GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2005. HALL. S. A centralidade da cultura: notas sobre as revolues culturais do nosso tempo. Disponvel em: http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?option=com_content&view=article&id=117:a-centralidade-da-cultu ra-notassobre-as-revolucoes-culturais-do-nosso-tem po&catid=8:multiculturalismo&Itemid=19. Acesso em: 03 ago. 2010.11 12

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A cultura, em termos amplos, refere-se aos modos de vida dos membros de uma sociedade, ou de grupos dentro da mesma. Inclui a arte, a literatura, a pintura, a dana, as crenas, os rituais religiosos, as formas de organizao da vida comunitria, entre outros elementos identitrios de um conjunto de pessoas11. a identidade, o patrimnio simblico de um grupo humano em um territrio e num determinado perodo.

Trazer tona elementos culturais tambm significa trabalhar as dimenses da tolerncia, da conscincia e do respeito s diferentes culturas, essenciais na construo de identidades positivas e para o fortalecimento do sentimento de pertencimento ao territrio, s comunidades, entre outros. As aes culturais, nesse sentido, tm uma grande importncia para reafirmar e valorizar identidades das famlias e seus territrios, propiciando o acesso a experincias culturais que vivem e revivem o mundo real, capazes de gerar novas vivncias e conhecimentos, de ressignificar a realidade e estimular novos conceitos. O PAIF, portanto, deve se valer de aes culturais, tais como: apresentaes musicais, teatrais, dana, exposies de artes plsticas, fotografia, artesanato e salas de memria comunitria a fim de estabelecer uma forma diferenciada e criativa de desenvolver o trabalho social com famlias, pois a cultura capaz de propiciar impresses e sentimentos que favorecem a reflexo e a assimilao de mensagens necessrias para o resgate de tradies, da histria do territrio, das trajetrias familiares e da identidade da populao, constituindo-se como uma poderosa ferramenta apta a estreitar e empoderar as relaes familiares e comunitrias. Imprimir carter cultural s aes do PAIF significa explorar a identidade cultural do territrio, a fim de fortalecer o sentimento de pertencimento da comunidade ali residente, estreitando seus laos sociais. O resgate da histria sociocultural, a partir das biografias das famlias e dos grupos do territrio bem como de personalidades oriundas destas localidades, contribui para o reconhecimento dos valores e da cultura popular, trazendo tona potencialidades muitas vezes esquecidas ou subvalorizadas, proporcionando o aumento da autocompreenso e da autoestima social positiva das famlias residentes nos territrios. Assim, as aes do PAIF, quando aplicadas de forma integrada cultura, devem consolidar prticas que no se prendem apenas conquista de um desenvolvimento individual, preocupando-se com o desenvolvimento coletivo de um grupo ou comunidade e valorizando sua produo simblica, com vistas ao reconhecimento e acesso aos direitos e ao alcance do desenvolvimento social. Destaca-se que o trabalho social com famlias deve incorporar, no mbito das aes culturais, diferentes prticas e linguagens culturais, valorizando a produo comunitria e a participao popular. No caso das prticas culturais vinculadas a etnias especficas, o PAIF deve ser um vetor de concretizao dos direitos sociais e superao da invisibilidade, por meio da proteo dos direitos e memrias culturais, prticas comunitrias e identidade racial e tnica dos povos e comunidades atendidas. Todavia, importante destacar que as aes do PAIF no devem se resumir a atraes culturais. A ideia incorporar procedimentos metodolgicos que favoream o desenvolvimento e o resgate de aes culturais para potencializar o alcance dos objetivos do PAIF. As aes com carter cultural do PAIF no competem com as aes culturais desenvolvidas pelos rgos que fazem a gesto da poltica de cultura no municpio ou DF. Cadernos de Orientaes Tcnicas do PAIF

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Nessa direo, o PAIF tambm pode utilizar-se, por meio de parcerias intersetoriais estabelecidas pelo CRAS, de projetos de incentivo a aes culturais no territrio, para potencializar o alcance de seus objetivos. Buscando delimitar o escopo de ao do PAIF, a Tipificao enfatiza que um cuidado particular deve ser tomado na operacionalizao do Servio no que diz respeito a seu carter NO teraputico: As aes do PAIF no devem possuir carter teraputico.Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, 2009.

A concepo e o desenho da poltica de assistncia social esto baseados em seguranas afianadas pelo SUAS. As seguranas, apreendidas como as garantias sociais que devem nortear todas as aes da rea da poltica de assistncia social, delimitam o papel e a rea de atuao dos servios, programas, projetos e benefcios do SUAS. Constituem seguranas afianadas pela assistncia social: a acolhida, o convvio familiar e comunitrio, a renda, o desenvolvimento da autonomia e a sobrevivncia a riscos circunstanciais. As aes do PAIF devem, ento, expressar a garantia dessas seguranas sociais. De tal modo, no compete o desenvolvimento de aes de carter teraputico, compreendidas aqui como as prticas psicoteraputicas, psicodiagnsticas e psicopedaggicas, ou seja, PRTICAS CLNICAS no mbito do PAIF, pois no correspondem s seguranas afianadas pela poltica de assistncia social. Tambm so consideradas equivocadas quaisquer outras modalidades com fins teraputicos, tais como terapias alternativas, terapias holsticas ou a implementao de aes que no estejam vinculadas s atribuies do PAIF, bem como aos projetos tico-poltico profissionais dos tcnicos, quando inseridos no SUAS. Ou seja, as prticas psicoteraputicas, psicodiagnsticas e psicopedaggicas s devem ser ofertadas em servios que tenham essa atribuio, o que no o caso do PAIF ou outros servios ofertados nos CRAS. Ao avaliarem a existncia de uma demanda para atendimento psicoteraputico, psicodiagnstico e/ou psicopedaggico no territrio, os profissionais do CRAS devem mobilizar a rede intersetorial, o rgo gestor da poltica de assistncia social (para o encaminhamento ao rgo gestor competente, na ausncia dos servios demandados no territrio) e os rgos de controle social, a fim de promover o acesso das famlias aos servios cabveis, que atendam esse tipo de demanda. De forma alguma, o profissional do CRAS deve justificar a prtica clnica nessa Unidade pela ausncia de servios que ofeream essas aes no seu territrio ou pela necessidade da populao no contemplada pelas polticas sociais responsveis pela oferta de atendimento clnico. No caso dos CRAS que, equivocadamente, incluram em suas atividades a prtica psicoterpica, psicodiagnstica ou psicopedaggica, preciso estabelecer um perodo de transio at que os profissionais realizem os encaminhamentos aos servios apropriados

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capazes de atender essa demanda, de modo a no expor as famlias atendidas a situaes de desproteo que intensifiquem o processo de vulnerabilidade j vivenciado. No entanto, afirmar que as aes do PAIF no devem possuir carter teraputico no significa negar a importncia do trabalho com a subjetividade nesse servio, compreendida como o espao ntimo constitudo pelas marcas singulares adquiridas no processo de formao individual, bem como pelas crenas e valores compartilhados na dimenso cultural, que acabam por constituir a experincia histrica e coletiva dos grupos e populaes em um dado territrio. O entendimento de que as prticas clnicas no compem o rol de aes do PAIF tambm no nega que os profissionais dos CRAS com formao em psicologia utilizem seus conhecimentos para atender e acompanhar as famlias, possibilitando, por meio desta ao, uma escuta dos aspectos subjetivos envolvidos nas situaes de vulnerabilidades vivenciadas pelas famlias, possibilitando, quando for o caso, o encaminhamento aos servios adequados na rede. A subjetividade o mundo interno de qualquer ser humano. Este mundo interno composto por emoes, sentimentos e pensamentos. por meio da subjetividade que se constri um espao relacional, ou seja, por meio da subjetividade que possvel relacionarse com o "outro". Tal fato justifica o trabalho com as famlias e seus membros no mbito da assistncia social, respeitando o espao individual, relacional e de desenvolvimento, mas no de cunho psicoteraputico. Nesse sentido, o fortalecimento dos vnculos familiares e comunitrios, objetivo central do PAIF, supe o trabalho no campo das subjetividades. Destaca-se, entretanto, que assumir a subjetividade como um dos elementos do trabalho social com famlias no negar ou diminuir a importncia das situaes objetivas de vulnerabilidade que atingem as famlias, tais como a desigualdade social e o no acesso a direitos. Ao contrrio, reconhecer que os serem humanos so historicamente constitudos pelo entrelaamento das dimenses subjetivas e objetivas, sendo, portanto, plenos de capacidade de mudana. Da a importncia de se garantir o acesso aos espaos de participao social e a direitos para o processo de transformao individual e coletiva. Por fim, ainda delimitando o escopo de ao do PAIF, destaca-se que o trabalho social com famlias no engloba atendimentos jurdicos, compreendidos como disponibilizao de advogados ou outros profissionais para aconselhamentos jurdicos ou representao de causas. Alm disso, no cabe equipe tcnica do CRAS responder diretamente demandas das instncias do Poder Judicirio. As solicitaes devem ser encaminhadas ao rgo gestor da assistncia social, que designar o(s) profissional(ais) habilitado(s) a elaborar relatrio informativo/avaliativo contendo as informaes necessrias e de competncia da poltica de assistncia social13.

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Conforme Nota Tcnica CGAIS/DGSUAS/SNAS/MDS n. 7 de 2009.

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Para o cumprimento de seus objetivos, a Tipificao estabeleceu que o trabalho social com famlias do PAIF: baseado no respeito heterogeneidade dos arranjos familiares, aos valores, crenas e identidades das famlias. Fundamenta-se no fortalecimento da cultura do dilogo, no combate a todas as formas de violncia, preconceito, de discriminao e de estigmatizao nas relaes familiares.Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, 2009.

Desconstruir o conceito de um modelo ideal de famlia e de trabalho social como ao modeladora de comportamentos e de valores devem ser os paradigmas de implementao do PAIF. Para tal, necessrio romper com a imagem da famlia somente como espao de proteo e cuidado mtuos, contemplando-a tambm como lugar onde podem existir conflitos e violncias, que podem ser reflexo das desigualdades sociais vigentes na sociedade. preciso compreender as famlias como um conjunto de seres histricos, que tiveram experincias diferenciadas, em contextos diversos, e que respondem, por isso, de forma distinta s atuais vivncias, o que interfere e modifica as dinmicas e relaes familiares14. Assim, necessrio atentar-se para no desencadear ou naturalizar um processo de culpabilizao da famlia, pois a acentuada valorizao da famlia e a idealizao do ncleo familiar cooperaram para se pensar erroneamente que (...) se tudo se remete famlia, tudo culpa da famlia15. O trabalho social com famlias deve garantir apoio e proteo s famlias, promovendo maiores graus de autonomia e empoderamento, negando uma ao moralizadora ou modeladora dos modos de vida e das crenas dos grupos familiares. Nesse sentido, preciso desenvolver aes de carter protetivo e preventivo com as famlias, que no reforcem os papis tradicionais, que promovem desigualdades. Alm de desnaturalizar a violao de direitos no mbito domstico, contribuindo para a construo de relaes intrafamiliares mais equnimes, promovendo as famlias e, em consequncia, suas comunidades, a protagonistas de sua histria, sujeitos de direitos, e no somente meras receptoras de servios e benefcios socioassistenciais. O PAIF tambm deve dispensar ateno especial ao atender famlias que possuem especificidades tnicas diferenciadas: povos e comunidades tradicionais, com destaque para os povos indgenas e comunidades quilombolas. O atendimento a estes segmentos sociais deve ser prioritrio, pois materializa o pressuposto do SUAS descrito na PNAS: tornar

Para mais informaes sobre esse assunto, ver o vol. 3 das Orientaes Tcnicas sobre o PAIF Famlias e Proteo Social Bsica do SUAS, que far uma reflexo sobre os conceitos de famlia e suas implicaes no desenvolvimento do trabalho social com famlias. 15 Melman apud Centro de Referncia Tcnica em Psicologia e Polticas Pblicas (CREPOP). Referncia tcnica para atuao do(a) psiclogo(a) no CRAS/SUAS/Conselho Federal de Psicologia (CFP). Braslia, CFP, 2007. p. 19.14

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visveis aqueles setores da sociedade brasileira tradicionalmente tidos como invisveis ou excludos das estatsticas. Para o desenvolvimento de quaisquer aes com as famlias, preciso que os profissionais responsveis pela implementao do PAIF incentivem e promovam meios para que haja a participao das famlias no desenho das atividades, nos horrios de atendimento, na avaliao do Servio, entre outros. Enfim, que seja garantido que as famlias tenham possibilidades de contribuir em todo o processo de operacionalizao do PAIF. No que concerne s famlias com presena de membros que requerem cuidados, a tipificao preconiza que o PAIF: Realiza aes com famlias que possuem pessoas que precisam de cuidado, com foco na troca de informaes sobre questes relativas primeira infncia, adolescncia, juventude, ao envelhecimento e deficincias, a fim de promover espaos para a troca de experincias, expresso de dificuldades e reconhecimento de possibilidades.Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, 2009.

Tais aes tm como finalidade contribuir para cuidar de quem cuida. O objetivo oferecer s famlias, que possuem membros que necessitam de cuidados, espaos de socializao das experincias vividas, de elaborao de meios de enfrentamento de dificuldades e de reconhecimento de potencialidades, de modo a preservar e fortalecer o convvio familiar e social. Tais aes tambm devem ter por foco a troca de informaes sobre as formas de cuidar de pessoas dependentes, bem como a formao, identificao e potencializao de redes de apoio s famlias que vivenciam essa experincia. Assim, famlias com crianas pequenas, adolescentes, idosos, pessoas com deficincia possuem modos diferenciados de vivenciar o cuidado (alguns at bastante conflituosos) e de se adaptar aos processos de cuidar. Nesses contextos importante que o trabalho social com famlias do PAIF incentive a troca de experincias das famlias e desenvolva aes a partir das especificidades vivenciadas de apoio, em especial com vistas ao fortalecimento de vnculos familiares e comunitrios. As aes com este foco possibilitam a diminuio do estresse, inerente ao processo de cuidar, contribuindo para o reconhecimento de que o cuidador16 tambm precisa de cuidados. E que cuidar do cuidador contribui para a melhoria da ateno prestada aos membros dependentes, fortalece a proteo mtua entre os membros das famlias e contribui para o reconhecimento de direitos e o desenvolvimento integral do grupo familiar. O PAIF tem papel central na consolidao da rede de proteo social bsica nos territrios, pois todos os servios da proteo social bsica devem ser a ele articulados, o que garante,Entende-se por cuidador a pessoa adulta que realiza e proporciona as atividades de vida diria, buscando minorar ou at mesmo suprir o dficit de autocuidado da pessoa que cuidada. In: Cuidador Familiar: um personagem muitas vezes esquecido. Disponvel em: http://isabelperregil.blogspot.com/2007/10/cuidador-familiar-um-personagem-muitas.html16

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no territrio, a matricialidade sociofamiliar nesse nvel de proteo. O efetivo desempenho desse papel pelo PAIF requer o cumprimento de outra diretriz da poltica de assistncia social: a primazia da responsabilidade do Estado na sua conduo, isto , o PAIF deve ser ofertado pelo Estado. A Tipificao afirma que o PAIF: Tem por princpios norteadores a universalidade e gratuidade de atendimento, cabendo exclusivamente esfera estatal sua implementao.Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, 2009.

Entende-se assim que o Estado possui exclusividade na oferta do servio responsvel pelo acompanhamento das famlias. No entanto, a Proteo Bsica no se esgota na oferta do PAIF. O servio de convivncia e fortalecimento de vnculos essencial para a proteo das pessoas mais vulnerabilizadas. Esse servio poder ser ofertado no CRAS, em outras unidades pblicas ou em entidades de assistncia social. Essas ltimas, sempre que ofertem servios pblicos, devero integrar a rede local, cuja coordenao responsabilidade do coordenador do CRAS (sob orientao da Secretaria Municipal de Assistncia Social). Integrar esta rede significa participar de reunies sistemticas no CRAS para definir responsabilidades, discutir fluxos e padres de encaminhamento das entidades para o CRAS, do CRAS para as entidades, das entidades entre si e entre CRAS e Centro de Referncia Especializado de Assistncia Social - CREAS (ou proteo especial). A Tipificao ainda enfatiza como caractersticas determinantes do PAIF: a universalidade e a gratuidade de atendimento. Isso significa que o Servio deve ser organizado de forma a atender indiscriminadamente todas as famlias do territrio de abrangncia do CRAS, sem exigir nenhuma forma de pagamento ou contrapartida. A execuo e a gesto do PAIF so atribuies do Estado, cabendo, aos municpios e DF, esta responsabilidade17, que no pode ser terceirizada. Por se tratar de um Servio de responsabilidade estatal e compor o SUAS, deve possuir a mesma nomenclatura em todo o pas e significado semelhante para a populao em qualquer territrio da federao. O PAIF deve ser ofertado, obrigatria e exclusivamente, no Centro de Referncia de Assistncia Social CRAS, conforme orienta a Tipificao:

Servio ofertado necessariamente no Centro de Referncia de Assistncia Social CRAS.Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, 2009.

Em determinadas situaes, a Tipificao recomenda a adoo de CRAS itinerantes (embarcaes) ou equipes volantes para a oferta do PAIF:

O estado de Pernambuco constitui a nica exceo, visto ser responsvel pela oferta de proteo bsica no Distrito no emancipado de Fernando de Noronha.17

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O atendimento s famlias residentes em territrios de baixa densidade demogrfica, com espalhamento ou disperso populacional (reas rurais, comunidades indgenas, quilombolas, calhas de rios, assentamentos, dentre outros) pode ser realizado por meio do estabelecimento de equipes volantes ou mediante a implantao de unidades CRAS itinerantes.Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, 2009.

Conforme aponta o documento Orientaes Tcnicas: Centro de Referncia de Assistncia Social - CRAS18, as equipes volantes devem ser instaladas em regies onde h a presena de um CRAS que cobre uma grande rea ou h populaes dispersas, tais como Povos e Comunidades Tradicionais ou ainda em reas rurais. Os CRAS itinerantes, constitudos de embarcaes, podem ser instalados em casos especficos, nos quais impossvel a fixao territorial da unidade, devido s peculiaridades naturais do territrio, tais como calhas de rios e regies ribeirinhas. O documento intitulado Resumo da caracterizao da Equipe Volante define a equipe volante como responsvel pela oferta de servios de proteo social bsica e aes s famlias localizadas em reas com as seguintes caractersticas: disperso populacional, isolamento, difcil acesso, reas rurais ou quilombolas. Ela consiste em uma equipe adicional equipe tcnica de referncia do CRAS. Ou seja, a equipe volante se incorpora equipe de referncia do CRAS, resultando em uma ampliao desta equipe. Desta forma, ela dever integrar um CRAS em funcionamento. importante, entretanto, ressaltar que esta equipe no ir referenciar novas famlias ao mesmo CRAS, ou seja, seu territrio de abrangncia permanece o mesmo. Trata-se de uma estratgia para alcanar as famlias que estejam dispersas no territrio, isoladas ou que tenham dificuldades para acessar o CRAS em razo de sua distante localizao. A Equipe Volante possui atribuies similares quelas da equipe de referncia do CRAS: a) oferta do PAIF (acolhida, aes particularizadas); b) encaminhamentos e acompanhamento familiar particularizado ou em grupo; c) oferta de outros servios de Proteo Social Bsica, como o Servio de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos e, conforme especificidades do territrio, o Servio de PSB no domiclio para pessoas com deficincia e idosas; d) aes como apoiar a incluso das famlias no Cadastro nico; e e) busca ativa das famlias que se encontrem em situao de vulnerabilidade social. Observa-se que a Equipe Volante potencializa a oferta do PAIF, na medida em que leva este servio da PSB s famlias localizadas nos territrios com as caractersticas descritas. Desta forma, para a execuo adequada do servio, torna-se relevante o conhecimento das diretrizes contidas nos volumes Orientaes Tcnicas sobre o PAIF e no documento Resumo da caracterizao da Equipe Volante, quando o municpio identificar a necessidade de utilizao desta equipe.BRASIL. Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome. Orientaes Tcnicas: Centro de Referncia de Assistncia Social CRAS. Braslia: MDS, 2009.18

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As equipes volantes do CRAS devem ser vinculadas a um CRAS em funcionamento, ou seja, necessitam estar referenciadas a uma base fsica. Estas equipes devem ser empregadas para alcanar maior efetividade de cobertura de um CRAS j instalado, a fim de atender populaes dispersas do seu territrio de abrangncia. As equipes volantes podem utilizar-se de trailers e nibus a fim de melhor atender as famlias. No entanto, tais veculos no so considerados CRAS, mas somente equipamentos potencializadores da ao das equipes volantes. J os CRAS itinerantes so embarcaes empregadas para o atendimento de populaes residentes em locais nos quais a fixao de uma base fixa impossibilitada pelas caractersticas do territrio constituem, portanto, uma base fsica, uma unidade mvel do SUAS. A Tipificao tambm trata do PAIF na organizao/composio dos servios da proteo social bsica nos territrios: Todos os servios da proteo social bsica, desenvolvidos no territrio de abrangncia do CRAS, em especial os Servios de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos, bem como o Servio de Proteo Social Bsica no Domiclio para Pessoas com Deficincia e Idosas, devem ser a ele referenciados e manter articulao com o PAIF. a partir do trabalho com famlias do PAIF que se organizam os servios referenciados ao CRAS. O referenciamento dos servios socioassistenciais de proteo social bsica ao CRAS possibilita a organizao e hierarquizao da rede socioassistencial no territrio, cumprindo a diretriz de descentralizao da poltica de assistncia social. A articulao dos servios socioassistenciais do territrio com o PAIF garante o desenvolvimento do trabalho social com as famlias dos usurios desses servios, permitindo identificar suas necessidades e potencialidades dentro da perspectiva familiar, rompendo com o atendimento segmentado e descontextualizado das situaes de vulnerabilidade social vivenciadas. Cadernos de Orientaes Tcnicas do PAIFTipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, 2009.

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Para uma melhor compreenso dessa afirmao, seguem figuras que ilustram a referncia ao CRAS e a articulao com PAIF, dos servios da Proteo Social Bsica nos territrios:Estar referenciado ao CRAS significa receber orientaes emanadas do poder pblico, alinhadas s normativas do SUAS, estabelecer compromissos e relaes, participar da definio de fluxos e procedimentos que reconheam a centralidade do trabalho com famlias no territrio e contribuir para a alimentao dos sistemas da Rede Suas (e outros). Significa, portanto, integrar o Sistema (SUAS). Trata-se de gerenciar, a partir do CRAS e de maneira coordenada com a rede socioassistencial, o acolhimento, a insero, o atendimento, o encaminhamento e o acompanhamento dos usurios no SUAS. Os critrios de acesso dos usurios, seu desligamento do servio e os objetivos a serem cumpridos, entre outros, devem ser acordados entre as organizaes que compem a rede e a coordenao do CRAS. Ressalta-se a centralidade da ao pblica no acesso dos usurios ao Sistema, na disponibilizao de vagas pelos servios referenciados ao CRAS, de forma a criar as condies necessrias para o exerccio de referncia e contrarreferncia, tendo como eixo central o trabalho social com famlias. Orientaes Tcnicas para o CRAS

Referenciamento ao CRAS

Entidade de Assistncia Social

Centro de Convivncia

CRASCentro Pblico de Juventude

Centro de Convivncia de Idosos

Estar articulado ao PAIF significa organizar o trabalho social com famlias do PAIF. Isto possibilita a operacionalizao e organizao do atendimento e/ou acompanhamento das famlias dos usurios dos Servios de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos, Servio de PSB no Domiclio para Pessoas com Deficincia e Idosas e participantes de demais programas e projetos da PSB. Assim, preciso que as unidades que ofertem tais Servios estejam referenciadas ao CRAS (conforme figura acima) e que haja o estabelecimento de fluxos de encaminhamento e informao sobre as famlias entre o PAIF e o respectivo Servio. No processo de operacionalizao da articulao do PAIF, recomendado que se eleja tcnicos de referncia pela articulao do PAIF com todos os servios de PSB ofertados no territrio, de modo a organizar esse processo. Esses tcnicos so responsveis por promover a interao do PAIF com os servios, por meio de reunies, visitas s unidades, entre outros. Deste modo, colher elementos sobre os usurios que subsidiem o desenvolvimento do trabalho realizado com suas famlias, no mbito do PAIF, servir como insumo para o desenvolvimento das aes destes servios. A ideia central da articulao ao PAIF materializar a matricialidade sociofamiliar do SUAS, no mbito da PSB, de modo a integralizar o atendimento s famlias e seus membros, compreendendo de forma mais abrangente as situaes de vulnerabilidade vivenciadas e, portanto, respondendo de forma mais efetiva a tais situaes.

Articulao ao PAIF

Servio de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos

PAIF

Servio de PSB no Domiclio para Pessoas com Deficincia e Idosas

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ATENO: O CRAS est hierarquicamente vinculado Secretaria Municipal, ou do DF, de Assistncia Social (ou congnere), responsvel por emanar diretrizes, planejar e coordenar a gesto de todos os CRAS do municpio ou DF.

O PAIF estratgico para a poltica de assistncia social, pois consolida a matricialidade sociofamiliar do SUAS no territrio de abrangncia do CRAS, por meio da sua articulao com todos os servios de proteo social bsica desenvolvidos no CRAS ou no seu territrio de abrangncia. Alm do trabalho com famlias do PAIF, o conhecimento do territrio e dos dados e informaes provenientes da vigilncia social so imprescindveis para a adequao dos servios referenciados ao CRAS. A diretriz de articulao dos servios socioassistenciais do territrio com o PAIF visa garantir o desenvolvimento do trabalho social com as famlias dos usurios desses servios, possibilitando o conhecimento das vulnerabilidades e das capacidades do grupo familiar, rompendo com o atendimento fragmentado e obscuro da totalidade das situaes de vulnerabilidade social vivenciadas. O PAIF tambm estratgico para o SUAS por contribuir para a integrao dos servios socioassistenciais, programas de transferncia de renda e benefcios assistenciais, potencializando o impacto das aes e servios da assistncia social para as famlias, nos territrios dos CRAS. Nesta direo, destaca-se a instituio, por meio da Resoluo CIT n 07, de 10/09/2009, do Protocolo de Gesto Integrada de Servios, Benefcios e Transferncias de Renda no mbito do SUAS, com o objetivo de acordar procedimentos para a integrao da gesto dos servios, benefcios e transferncias de renda, de forma a dar consistncia e intencionalidade ao acompanhamento das famlias do PBF, PETI e BPC, no contexto do SUAS. Este documento traz uma orientao padronizada que norteia a estrutura e o funcionamento, de maneira combinada e completa, da oferta e implementao dos servios (com destaque para o PAIF, no mbito da PSB), benefcios e transferncias de renda no mbito do SUAS, por todos os entes federados, vinculando segurana de renda s seguranas de acolhida, convvio familiar e comunitrio, e de desenvolvimento da autonomia previstas na Poltica Nacional de Assistncia Social, de modo a consolidar a rede de proteo social de assistncia social nos territrios.

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Por fim, a Tipificao enfatiza o sentido e o objetivo do trabalho social com famlias no mbito do PAIF: O trabalho social com famlias, assim, apreende as origens, significados atribudos e as possibilidades de enfrentamento das situaes de vulnerabilidade vivenciadas por toda a famlia, contribuindo para sua proteo de forma integral, materializando a matricialidade sociofamiliar no mbito do SUAS.Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, 2009.

Para realizar o trabalho social com famlias, de forma a atender os pressupostos da PNAS, indispensvel que os tcnicos ultrapassem o conceito da famlia ideal, assumindo a famlia real: lugar de cuidados e afeto, mas tambm de conflitos, diferenas, dificuldades e, por vezes, de violao de direitos. Nessa direo, importante compreender que a famlia uma instituio social que no pode ser vista como algo esttico, definitivo e fechado. Ao contrrio, uma construo a partir de critrios e contextos histricos, sociais, econmicos e culturais especficos. Essa compreenso fundamental para se evitar a estigmatizao dos diversos arranjos familiares que constituem pblico do PAIF, que sero abordados nas Orientaes Tcnicas sobre o PAIF Famlias e Proteo Social Bsica do SUAS, vol. 3. Ainda necessrio conhecer no somente os fatores de vulnerabilidades sociais, mas tambm os esforos das famlias para a proteo dos seus membros e outras potencialidades do grupo familiar ou de membros da famlia. Do mesmo modo, preciso considerar, ao se trabalhar com as famlias, as desigualdades sociais vigentes na sociedade, de forma a no naturaliz-las, bem como no culpabilizar ou responsabilizar as famlias, individualizando as situaes de vulnerabilidade vivenciadas. Reconhecer isso superar a ideia de famlia falida ou desestruturada, eliminando a viso estigmatizante das famlias em situao de vulnerabilidade. Nessa direo, importante que tcnicos e gestores superem o discurso no qual as famlias em situao de vulnerabilidade, em especial em decorrncia do empobrecimento, apresentam passividade, baixa autoestima, resignao e dependncia, o que dificulta o enfrentamento da pobreza. Ao contrrio, tais aspectos so adquiridos e no inerentes, ou seja, so as estruturas vigentes. Dentre estas destacam-se as prticas assistencialistas e clientelistas, que reforam estigmas e moldam posturas, culpabilizando as famlias por sua situao. foroso compreender que para efetivar o acesso ao direito de um membro da famlia preciso considerar a famlia como um todo: suas dinmicas e relaes, buscando no segmentar e descontextualizar o atendimento o que se denomina de matricialidade sociofamiliar. Ressalta-se, todavia, que em determinadas situaes ser o afastamento do convvio familiar uma medida necessria para a garantia dos direitos e proteo daquele(s) membro(s) da famlia que se encontra(m) em situao de violao de direitos.

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A partir da perspectiva de proteo integral, o trabalho social com famlias deve ter por finalidade: a) apoiar e fortalecer as famlias como protagonistas, garantindo que estas tenham apoio para cumprir as responsabilidades legais de cuidado e proteo aos seus membros, caso seja do seu interesse o desempenho dessas responsabilidades; b) promover o acesso das famlias e seus integrantes a direitos; e c) estimular as famlias e seus membros a compor iniciativas de participao social.

Reafirma-se que o PAIF, ao ter por foco a ampliao de possibilidades de convvio e proteo social na prpria famlia, no tem a inteno de restringir as responsabilidades pblicas de proteo social para com as famlias. Ao contrrio, o PAIF deve materializar essa responsabilidade pblica de apoio aos grupos familiares.

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CAPTULO 3

Usurios do ServioO PAIF, como visto anteriormente, tem como princpio norteador a universalidade de atendimento a todos que dele necessitam, o que significa que o Servio deve planejar seu atendimento de modo a abarcar as famlias em situao de vulnerabilidade referenciadas ao CRAS. Para que a ao do PAIF seja preventiva, protetiva e proativa devem ser estabelecidas intencionalidades de atendimento a segmentos populacionais com vivncias de vulnerabilidades mais graves. O nmero de famlias que vivem no territrio constitui parmetro para a capacidade de atendimento do CRAS, estimando-se como capacidade de atendimento anual do CRAS vinte por cento (20%) das famlias, territorialmente, a ele referenciadas19. A apreenso das dinmicas do territrio vivido e ressignificado por quem nele vive fator determinante para a compreenso das potencialidades e das situaes de vulnerabilidade social das famlias, bem como para seu enfrentamento. Nessa direo, constituem usurios do PAIF as famlias territorialmente referenciadas ao CRAS, assim descritas na Tipificao: Famlias em situao de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, do precrio ou nulo acesso aos servios pblicos, da fragilizao de vnculos de pertencimento e sociabilidade e/ou qualquer outra situao de vulnerabilidade e risco social.Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais, 2009.

A partir dessa conceituao do pblico-alvo do PAIF, que reconhece a vulnerabilidade como fenmeno multifacetado, podem-se enumerar alguns dos perfis de famlias que o Servio possivelmente encontrar, a depender das caractersticas que o territrio apresente e que demandaro sua proteo proativa: Cadernos de Orientaes Tcnicas do PAIF Famlias vivendo em territrios com nulo ou frgil acesso sade, educao e aos demais direitos, em especial famlias monoparentais chefiadas por mulheres, com filhos ou dependentes; Famlias provenientes de outras regies, sem ncleo familiar e comunitrio local, com restrita rede social e sem acesso a servios e benefcios socioassistenciais; Famlias recm-retiradas de seu territrio de origem, em funo da implementao de empreendimentos com impactos ambientais e sociais; Famlias com moradia precria (sem instalaes eltricas ou rede de esgoto, com espao muito reduzido, em reas com risco de deslizamento, vivenciando situaes declaradas de calamidade pblica, dentre outras); Famlias vivendo em territrios com conflitos fundirios (indgenas, quilombolas, extrativistas, dentre outros);19

Para mais informaes, ver Orientaes Tcnicas para o Centro de Referncia de Assistncia Social CRAS, Captulo 4.

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Famlias pertencentes aos povos e comunidades tradicionais (indgenas, quilombolas, ciganos e outros); Famlias ou indivduos com vivncia de discriminao (tnico-raciais e culturais, etrias, de gnero, por orientao sexual, por deficincia e outras); Famlias vivendo em contextos de extrema violncia (reas com forte presena do crime organizado, trfico de drogas, dentre outros); Famlias que enfrentam o desemprego, sem renda ou renda precria com dificuldades para prover o sustento dos seus membros; Famlias com criana(s) e/ou adolescente(s) que fica(m) sozinho(s) em casa, ou sob o cuidado de outras crianas, ou passa(m) muito tempo na rua, na casa de vizinhos, devido ausncia de servios socioassistenciais, de educao, cultura, lazer e de apoio famlia; Famlia que entregou criana/adolescente em adoo; Famlia com integrante que apresenta problemas de sade que demandam do grupo familiar proteo e/ou apoios e/ou cuidados especiais (transtornos mentais, doenas crnicas etc). Vale ressaltar que isso no significa que todas as famlias residentes nos territrios de abrangncia dos CRAS e que vivenciam tais situaes precisam ser obrigatoriamente inseridas no PAIF. O atendimento pelo Servio deve ser de total interesse e concordncia das famlias, precedido da anlise da equipe tcnica. preciso atentar para no estigmatizar as famlias que vivenciam situaes de vulnerabilidades, que as caracterizam como pblico-alvo do PAIF. Elas no devem ser consideradas como famlias-problema, incapazes e/ou falidas. Conforme ser abordado nas Orientaes Tcnicas sobre o PAIF Famlias e Proteo Social Bsica do SUAS, vol. 3, todas as famlias: a) possuem recursos e potencialidades que devem ser identificados e fortalecidos; b) organizam-se conforme suas possibilidades e contextos que vivenciam (cultura e identidades coletivas); e c) necessitam de proteo estatal para que possam fornecer proteo aos seus membros. Cadernos de Orientaes Tcnicas do PAIF Segundo a Tipificao, o PAIF visa atender, em especial: Famlias beneficirias de programa de transferncia de renda e dos benefcios assistenciais; Famlias que atendem os critrios dos programas de transferncia de renda e benefcios assistenciais, mas que ainda no foram contempladas; Famlias em situao de vulnerabilidade em decorrncia de dificuldades vivenciadas por algum de seus membros; Famlias com pessoas com deficincia e/ou pessoas idosas que vivenciam situaes de vulnerabilidade e risco social.

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Especificando: Famlias beneficirias de programa de transferncia de renda e dos benefcios assistenciais20. O PAIF, ao dar precedncia de atendimento s famlias beneficirias do Programa Bolsa Famlia - PBF e s famlias dos beneficirios do Benefcio de Prestao Continuada BPC, objetiva ampliar as formas de proteo social do SUAS a estas famlias. Sendo assim, partese do pressuposto que o acesso renda contribui para a superao de situaes de vulnerabilidade, mas que a sua efetiva superao requer tambm a insero em servios socioassistenciais e setoriais, de maneira a proporcionar proteo social, fortalecimento dos laos familiares e comunitrios e acesso das famlias a outros direitos. Em um pas marcado por fortes desigualdades, a poltica de assistncia social pode assegurar, de forma integral, a promoo e proteo das seguranas que lhe cabe afianar, por meio da articulao entre transferncia de renda, benefcios e servios socioassistenciais. Nessa direo, ateno especial deve ser dada s famlias em situao de descumprimento de condicionalidades do Programa Bolsa Famlia, em especial quelas que esto na 2 repercusso, pois tem-se constatado que o descumprimento das condicionalidades denota situaes reveladoras do alto grau de vulnerabilidade das famlias. As condicionalidades21 visam o reforo do direito de acesso s polticas de sade, educao e assistncia social e possibilitam promover a melhoria das condies de vida da famlia beneficiria, bem como reforam a responsabilizao do poder pblico na garantia de oferta desses servios. O adequado monitoramento das condicionalidades torna-se fundamental para a localizao das famlias, bem como para identificao da necessidade da oferta de servios, e, tambm, de riscos e vulnerabilidades que dificultam o acesso das famlias beneficirias aos servios sociais a que tm direito. Assim, a finalidade das condicionalidades no castigar ou controlar as famlias, mas responsabilizar, de forma conjunta, os beneficirios e o poder pblico. Cabe a este ltimo identificar os motivos do no-cumprimento das condicionalidades, de modo a: a) Promover o acompanhamento dessas famlias, realizando uma reflexo sobre os direitos das crianas e adolescentes sade (vacinao, acompanhamento nutricional) e educao (frequncia escolar); as responsabilidades das famlias em

Conforme vimos, o Protocolo de Gesto Integrada de Servios, Benefcios e Transferncias de Renda no mbito do SUAS traz procedimentos para potencializar o atendimento pelos servios socioassistenciais das famlias beneficirias de transferncia de renda ou com membros que recebem benefcios assistenciais. 21 As condicionalidades do Programa Bolsa Famlia so os compromissos nas reas da Educao e da Sade, assumidos pelas famlias, e que precisam ser cumpridos para que continuem a receber o benefcio: Educao: frequncia escolar mnima de 85% para crianas e adolescentes entre 6 e 15 anos e mnima de 75% para adolescentes entre 16 e 17 anos. Sade: acompanhamento do calendrio vacinal e do crescimento e desenvolvimento para crianas menores de 7 anos; e pr-natal das gestantes e acompanhamento das nutrizes na faixa etria de 14 a 44 anos.20

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garantir tais direitos, identificando quais os obstculos para cumprimento de tais responsabilidades e traando estratgias para sua superao; e b) Implementar polticas pblicas garantidoras de direitos das crianas e adolescentes e, consequentemente, de suas famlias. No que concerne ao descumprimento de condicionalidades, o Protocolo de Gesto Integrada prev uma srie de procedimentos para o atendimento das famlias beneficirias do PBF e PETI com absoluta prioridade. Nesse sentido, destaca-se que: O MDS disponibiliza aos municpios e DF, por meio do SICON e outros sistemas da RedeSUAS, informaes sobre as famlias em descumprimento de condicionalidades (do Programa Bolsa Famlia e do Programa de Erradicao do Trabalho Infantil/PETI) (Art. 9, incisos II e III); Ao Estado cabe analisar e sistematizar informaes recebidas e outros dados disponveis, alm de apoiar os municpios no desenvolvimento de estratgias para preveno e enfrentamento de situaes de vulnerabilidade e risco social (Art. 10, incisos I a VIII); Os municpios e DF devem, por sua vez, garantir que as informaes territorializadas cheguem aos CRAS (ou CREAS), com a regularidade necessria, de forma a enriquecer o conhecimento do territrio de abrangncia do CRAS e possibilitar a localizao destas famlias - por busca ativa ou visita domiciliar. (Art. 11, incisos I a VII); As equipes do CRAS e CREAS (ou equipes tcnicas da PSB e PSE) devem verificar se o descumprimento de condicionalidades materializa a ocorrncia de situaes de vulnerabilidade e risco social, traando estratgias de atendimento ou encaminhamentos condizentes com as seguranas afianadas pela poltica de assistncia social (Art. 21, 1); Os artigos 21 e 22 do Protocolo estabelecem a competncia de atendimento das famlias pela Proteo Social Bsica e Proteo Social Especial. Constituem motivos que requerem atendimento pela PSB: a vulnerabilidade social relacionada gravidez na adolescncia ou negligncia dos pais ou responsveis em relao criana ou ao adolescente; e pela PSE: trabalho infantil, mendicncia, situao de rua e violncia (fsica, sexual ou psicolgica) ou demais violaes de direitos.

Sempre que se tratar de famlias em descumprimento de condicionalidades em suspenso do benefcio por dois meses, e cujos motivos ensejem acompanhamento pelo PAIF, as equipes devem registrar o processo de acompanhamento familiar no Pronturio da Famlia e os dados cabveis no Mdulo de Acompanhamento Familiar do SICON, indicando a interrupo temporria dos efeitos do descumprimento de condicionalidades do PBF, sempre que o tcnico de nvel superior do PAIF considerar pertinente. A insero da informao no sistema SICON pode ser realizada tanto pelo gestor do Programa Bolsa Famlia, garantido o sigilo das informaes prestadas pela famlia ao profissional do PAIF, ou diretamente pelo profissional que realiza o acompanhamento

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familiar, desde que este tenha acesso ao sistema para insero de dados22. Esta ferramenta permite que o municpio ou DF, no nvel central, visualize todas as famlias em descumprimento acompanhadas e promova aes intersetoriais que contribuam para a superao das vulnerabilidades identificadas. Permite, ainda, que a famlia tenha sua segurana de renda afianada, mesmo que esteja em descumprimento de condicionalidades, desde que atendida ou acompanhada pelo PAIF ou PAEFI. Garantir a renda da famlia poder auxiliar na superao das dificuldades que a impedem de cumprir as condicionalidades. Neste caso, o tcnico deve se posicionar favoravelmente, no SICON, interrupo temporria dos efeitos do descumprimento de condicionalidades. Explicando melhor, nos casos atinentes Proteo Bsica, a equipe de referncia do CRAS, aps receber as informaes territorializadas, deve fazer um diagnstico social e verificar se o descumprimento de condicionalidades materializa a ocorrncia de situaes de vulnerabilidade e risco social, traando estratgias de atendimento condizentes com as seguranas afianadas pela poltica de assistncia social23, bem como de encaminhamento para outros setores, ou para a Proteo Especial, sempre que necessrio. Devem ser atendidas ou acompanhadas pela Proteo Social Bsica, como visto anteriormente, as famlias cujo motivo de descumprimento de condicionalidades, de pelo menos um de seus membros, seja gravidez na adolescncia e, negligncia dos pais ou responsveis em relao criana ou ao adolescente. O Protocolo enfatiza que nos casos de descumprimento de condicionalidades sem motivo informado pela educao, to logo as causas do descumprimento sejam identificadas, a equipe do CRAS deve informar ao rgo gestor da Assistncia Social, para registro no SICON24, e para que tome as providncias cabveis, por nvel de proteo social adequado25. Se o motivo do descumprimento se referir a outras polticas setoriais, a equipe do CRAS, na pessoa do coordenador, dever comunicar o rgo gestor da rea especfica26. O(s) profissional(is) responsvel(is) pelo acompanhamento das famlias em descumprimento de condicionalidade dever(o) registrar no SICON (ou encaminhar informao para registro) todas as famlias para as quais se fez opo pela interrupo temporria dos efeitos do descumprimento de condicionalidades do benefcio27. A interrupo visa conceder o tempo necessrio para que as situaes de vulnerabilidade e risco sociais, que impedem ou dificultam o acesso das famlias aos direitos de educao, sade e assistncia social, previstos pela Constituio Federal, sejam superadas, num esforo conjunto entre poder pblico e famlia.

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A deciso sobre quem deve inserir informao no SICON dever ser tomada pelo gestor municipal, que dever garantir a estrutura necessria (equipamentos, RH) e a definio de fluxos e procedimentos. 23 Protocolo de Gesto Integrada art. 21, 1. 24 Na maior parte dos municpios, em que o Cadastro nico e a gesto do Bolsa Famlia esto sob responsabilidade da Secretaria de Assistncia Social (ou congnere), o Secretrio Municipal ou do DF (ou quem ele designar) definir o responsvel por fazer o registro no SICON, podendo ser o profissional responsvel pelo PBF no municpio ou os prprios tcnicos (ou outro profissional) do CRAS. 25 Protocolo de Gesto Integrada art. 21, 2. 26 Protocolo de Gesto Integrada art. 24, nico. 27 Protocolo de Gesto Integrada art. 11, IX.

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Este esforo, no campo da assistncia social, se traduz na insero da famlia em processo de acompanhamento e/ou atendimento e registro no SICON, caso o tcnico opte por fazer a imterrupo dos efeitos do descumprimento, com retorno ao menos a cada seis meses, at que a famlia volte a cumprir as condicionalidades, quando dever ser analisada a pertinncia do encerramento do seu acompanhamento pelo PAIF. Ressalta-se que o registro do acompanhamento familiar no SICON no substitui o registro do acompanhamento familiar, de forma detalhada, em pronturio, que deve ser mantido no CRAS, para todas as famlias acompanhadas; e to pouco substitui a construo do Plano de Acompanhamento Familiar.

Caso os tcnicos do CRAS no acessem o SICON, ser necessrio que encaminhem as informaes Secretaria Municipal, ou do DF, que definir a periodicidade do envio. As informaes devero ser registradas no SICON, por profissional designado para esta funo. Alerta-se para o cuidado com prazos importantes, cujo no cumprimento possa representar prejuzos para as famlias beneficirias de transferncia de renda do PBF. O acompanhamento prioritrio das famlias em descumprimento de condicionalidades do PBF somente compe o rol de atividades do PAIF se h uma intencionalidade por parte da equipe de referncia do CRAS em atender tal pblico com precedncia por meio de busca ativa e planejamento das aes a serem empregadas no acompanhamento, de acordo com a situao vivenciada pela famlia, bem como pelo tipo de efeito j aplicado, conforme previsto no Protocolo de Gesto Integrada. Para tanto, os CRAS (e CREAS) dependem da disponibilizao sistemtica de informaes territorializadas, por parte do municpio ou DF, sobre as famlias em descumprimento de condicionalidades, motivos, e se em advertncia, bloqueio, 1 suspenso ou 2 suspenso. A senha de acesso ao SICON deve ser fornecida pelo gestor municipal do PBF, tanto para os tcnicos da Secretaria de Assistncia Social (ou congnere), quanto para o coordenador e tcnicos do CRAS, se for o caso. A definio de quem deve ter acesso do Secretrio Municipal de Assistncia Social, ou quem ele designar.

As famlias dos beneficirios do BPC tambm devem ter acesso prioritrio ao PAIF, com vistas a ampliar as formas de proteo social do SUAS a estas famlias. Desta forma, parte-se do pressuposto que o acesso a benefcios contribui para a superao de situaes de vulnerabilidade, mas a sua efetiva superao requer tambm a insero dos beneficirios

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A disponibilizao de informaes aos CRAS (e CREAS), pela Secretaria, bem como a anlise do retorno de informaes das unidades de proteo bsica (e especial), coloca o desafio, para os gestores, de incrementar a vigilncia social do municpio ou DF, de forma a possibilitar: a identificao das famlias que devero ser acompanhadas (ou atendidas) pela proteo bsica; o conhecimento das necessidades de servios nos territrios dos CRAS e da ocorrncia de vulnerabilidades e riscos, em mbito municipal ou distrital. Faz-se, ainda, necessrio estabelecer diretrizes que fortaleam a articulao em rede nos territrios e garantam a capacitao das equipes para que incluam as famlias que necessitam nos servios do SUAS, contribuindo para a consolidao de uma rede de proteo social.

nos servios socioassistenciais e/ou em outras polticas setoriais, de modo a proporcionar o fortalecimento dos laos familiares e comunitrios, bem como o acesso das famlias a outros direitos.

As pessoas com deficincia e seus familiares devem receber a proteo e a assistncia necessrias para que as famlias possam contribuir para o pleno e igual desfrute dos direitos das pessoas com deficincia. Conveno sobre o Direito das Pessoas com Deficincia (2006)

O acompanhamento das famlias com beneficirios do BPC pressupe reconhecer os beneficirios como segmentos populacionais com graus de risco e vulnerabilidade social variados. Considera-se, para tanto, as caractersticas do ciclo de vida do idoso, da deficincia e do grau de impedimentos da pessoa com deficincia, bem como as caractersticas das famlias e da regio onde vivem. No caso das famlias com pessoas com deficincia beneficirias do BPC, o acompanhamento familiar do PAIF constitui, em muitos casos, a possibilidade de se definir estratgias para superar barreiras e preconceitos (com a famlia e comunidade) e de assegurar a incluso social, bem como a insero das pessoas em situao de isolamento nos servios do SUAS e de outras polticas pblicas. Nestes casos, a busca ativa e a visita domiciliar constituem o primeiro contato qualificado com essas famlias, o que, aps elaborao de um diagnstico social, junto com a famlia, pode gerar sua insero em acompanhamento (em grupo ou particularizado) ou nos atendimentos do PAIF. O PAIF se apresenta, inicialmente, como o principal servio a ser ofertado a essas famlias, em muitos casos por meio do acompanhamento familiar no mbito do SUAS. Particular ateno deve ser dada s famlias das crianas e adolescentes beneficirios do BPC que esto fora da escola. Dados sobre a escolarizao dos beneficirios do BPC com idade de zero a 18 anos mostraram uma baixa frequncia escolar deste pblico. Em 2007, somente cerca de 30% estavam matriculados em escolas do ensino regular28. Tal informao revela a existncia de dificuldades para o acesso e/ou permanncia desse segmento populacional nas unidades de ensino, podendo representar circunstncias de isolamento social e de negao de direitos de cidadania dessas pessoas e suas famlias. A fim de ampliar o acesso e a permanncia na escola, o convvio familiar e comunitrio e os demais direitos a esse segmento populacional, foi criado o Programa BPC na Escola29. Este programa tem o objetivo de promover a elevao da qualidade de vida e a dignidade de crianas e adolescentes com deficincia, beneficirios do BPC. O programa voltadoCruzamento de dados entre o cadastro administrativo do BPC e o cadastro do censo escolar realizado pelo MEC, ambos de 2007, mostraram que de cerca de 340 mil pessoas com deficincia beneficirios do BPC, com idade de zero a 18 anos, apenas 30% estavam matriculadas em escolas do ensino regular. 29 O programa uma ao interministerial que envolve os ministrios da Educao, da Sade, e do Desenvolvimento Social e Combate Fome, alm da Secretaria Especial de Direitos Humanos.28

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prioritariamente para os beneficirios de 0 a 18 anos, garantindo-lhes o acesso e a permanncia na escola, bem como acesso a outros direitos. Tal garantia, em muitos casos, depende do trabalho inicial do PAIF com as famlias, sempre que as barreiras so atitudinais, ou da ao do coordenador do CRAS, na integrao com servios de outros setores. Envolve as polticas de assistncia social, educao, sade e direitos humanos, criando condies para o desenvolvimento da autonomia e participao social da pessoa com deficincia. Uma das principais aes do Programa BPC na Escola30 a identificao de barreiras que impedem ou dificultam o acesso s classes comuns do ensino regular e que impactam no acesso a outros servios. O questionrio de identificao de barreiras para o acesso e permanncia na escola um instrumento de gesto importante, que deve ser disponibilizado s equipes dos CRAS (ou CREAS) dos municpios e DF que fizeram adeso ao Programa31. A leitura das situaes diagnosticadas e das barreiras identificadas, por meio da aplicao do Questionrio, poder subsidiar a proposta de acompanhamento dos beneficirios e suas famlias pelos CRAS (ou CREAS). Nem todas as famlias com crianas e adolescentes beneficirios do BPC sero acompanhadas pelo PAIF, visto que algumas podero ser apenas atendidas. Outras sero acompanhadas ou atendidas pelo PAEFI. A definio de quais sero encaminhadas em listagens para a proteo bsica ou especial se d com base na identificao das barreiras, que constam do Questionrio BPC na Escola, e depende da estruturao da Vigilncia Social nas Secretarias municipais, do DF e estaduais de Assistncia Social (ou congneres).

Alm do PBC na Escola, h o BPC Trabalho, projeto piloto com intuito de ampliar as condies para o desenvolvimento da autonomia, a promoo da participao social e a melhoria da qualidade de vida do beneficirio com deficincia, na faixa de 16 a 45 anos, visando promoo do acesso ao trabalho. Para sua implementao necessria a articulao entre o rgo gestor da assistncia social, rgos de outras polticas pblicas e entidades sociais. 31 a. Barreiras: obstculos. b. Barreiras atitudinais: obstculos para o acesso a aspectos da vida social proporcionados pela atitude de pessoas prximas. Exemplo: A famlia de uma pessoa com deficincia o desqualifica, dizendo que burro, que nunca vai aprender, e que no deve ir escola, o que se torna um obstculo ao acesso dessa pessoa escola e a outros ambientes sociais. c. Barreiras de acessibilidade: obstculos que impedem ou dificultam a livre circulao ou o livre acesso de pessoas com deficincia a ambientes e a meios de comunicao. d. Barreiras fsicas: obstculos construdos em meio urbano que impedem ou dificultam a livre circulao de pessoas com deficincia.30

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Dentre as barreiras identificadas, devem ser foco de ao de acompanhamento ou atendimento pelo PAIF: Ausncia de iniciativa da famlia para estimular o convvio sociofamiliar; Ausncia de iniciativa da famlia para estimular o acesso escola; Ausncia de iniciativa da famlia para estimular a permanncia na escola; Dificuldade dos beneficirios em acessar a rede de servios; Dificuldade da famlia em acessar a rede de servios; Ausncia de acompanhante para levar o beneficirio at a escola; Ausncia de cuidadores familiares.

O acompanhamento (ou atendimento)32 a essas famlias depende de uma acolhida adequada, do desenho de um Plano de Acompanhamento Familiar do PAIF, mas tambm de uma atitude determinada da Secretaria Municipal ou do DF. Esta afirmao considera que a acessibilidade garantida por meio de: capacitao dos tcnicos e coordenadores; adequao das estruturas fsicas; disponibilizao de materiais e equipamentos e da criao de condies objetivas para deslocamento dos beneficirios, bem como da acessibilidade aos servios dos demais setores. Tambm preciso adotar estratgias com vistas ao acompanhamento de famlias com idosos beneficirios do BPC, em especial, as que se encontram em situao de maior vulnerabilidade social, prevendo o apoio famlia no acesso aos direitos desses membros (servios socioassistenciais e de sade, cultura e lazer e educao), de forma a garantir seus direitos, promover o desenvolvimento de suas capacidades e contribuir para a preveno de violncias e outras formas de violao de direitos. Nos casos em que houver isolamento social do beneficirio, o CRAS deve encaminhar a famlia para o Servio de Proteo Bsica no Domiclio, previsto na Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais. Nos casos em que houver violao de direitos, as famlias devem ser referenciadas, pelo CRAS, ao CREAS, e serem acompanhadas pelo PAEFI.

A relao de beneficirios do BPC, disponibilizada pela Secretaria Nacional de Assistncia Social SNAS, no stio do MDS, constitui um instrumento de planejamento estratgico do Distrito Federal e dos municpios para a oferta de servios socioassistenciais, visando o acompanhamento dos beneficirios do BPC e de suas famlias. Para auxiliar nesse processo, o SUAS WEB disponibiliza o acesso, aos gestores, do cadastro dos beneficirios do BPC por municpio/DF de trs formas: por espcie (pessoa com deficincia ou idoso), por concesso e por faixa etria.(link: http://aplicacoes.mds.gov.br/suasnob/pesquisarBpcFaixa.action). A Secretaria de Assistncia Social (ou congnere), por meio de sua equipe de Vigilncia Social ou de gesto do SUAS, dever acessar e organizar essas informaes de forma territorializada e enviar para cada CRAS (ou CREAS) a listagem dos beneficirios do BPC, de sua rea de abrangncia (a partir do CEP dos bairros que compem os territrios), conforme artigo 26 do Protocolo de Gesto Integrada e, sempre que possvel, por barreira identificada. Com esses dados em mos, a equipe de referncia do CRAS deve organizar um processo de busca ativa desse pblico, de modo a conhecer suas vulnerabilidades e planejar aes para seu atendimento/acompanhamento. A busca ativa nem sempre se traduz em visita domiciliar. Diversas estratgias devem ser utilizadas para se atingir o objetivo de alcanar estas famlias, como por exemplo: divulgao dos servios ofertados nos CRAS em variadas32

Para compreender as definies e as diferenas entre atendimento e acompanhamento das famlias, ver Orientaes Tcnicas sobre o PAIF Trabalho Social com Famlias do Servio de Proteo e Atendimento Integral Famlia, vol. 2.

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mdias; envio de correspondncias s famlias, convidando-as para uma primeira acolhida no CRAS; divulgao de listas em locais estratgicos, ou ainda contando com apoio de outras unidades e polticas pblicas. Ressalta-se que, para muitos profissionais dos CRAS, o atendimento/acompanhamento dos beneficirios com deficincia do BPC novo e desafiador. Portanto, antes do incio da busca ativa, ser necessrio que a equipe seja organizada e preparada para desenvolver este trabalho, realizando estudos, leituras, discusses, oficinas sobre o tema da deficincia, considerando sua transversalidade em todas as aes e servios no mbito do CRAS. H a necessidade de se conhecer e avaliar a especificidade de questes que envolvem o atendimento diversidade de demandas das pessoas com deficincia. Neste sentido, destaca-se o trabalho em rede e articulao com as demais polticas setoriais para garantir a segurana de renda, o convvio familiar e comunitrio, e com vistas a agregar condies e valores necessrios autonomia desses indivduos, conforme preconiza a PNAS e a NOB/SUAS. O gestor municipal, e do DF, de Assistncia Social dever tambm envidar esforos para inserir todos os beneficirios do BPC e suas famlias no Cadastro nico (Cadnico), conforme previsto na Portaria MDS n 706, de 17 de setembro de 2010. Estratgias mais amplas, que garantam o cadastramento, podem ser organizadas pelas Secretarias Municipais, e do DF, de Assistncia Social (ou congneres), por meio do cruzamento de informaes (o que pode contar com apoio do Estado). Essas estratgias devem poss