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ORIENTAÇÕES PARA CLUBES, ESCOLAS E ATLETAS DE FUTEBOL DO DISTRITO FEDERAL DURANTE O PERÍODO DE DISTANCIAMENTO SOCIAL NO ENFRENTAMENTO À PANDEMIA SARS-COV-2. BRASÍLIA, 04 DE MAIO DE 2020.

ORIENTAÇÕES PARA CLUBES, ESCOLAS E ATLETAS DE FUTEBOL …€¦ · A FIFA desenvolveu em 2006, por meio do seu Centro de Pesquisa e Avaliação Médica (F-MARC), atualmente conhecido

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ORIENTAÇÕES PARA CLUBES, ESCOLAS E ATLETAS DE FUTEBOL DO DISTRITO FEDERAL DURANTE O PERÍODO DE

DISTANCIAMENTO SOCIAL NO

ENFRENTAMENTO À PANDEMIA

SARS-COV-2.

BRASÍLIA, 04 DE MAIO DE 2020.

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Diogo Cristiano Netto, Profissional de Educação Física, PhD

José Humberto de Souza Borges, Médico Ortopedista, Mestre

Marcio Oliveira, Fisioterapeuta, PhD

Michele Ferro de Amorim Cruz, Nutricionista, Mestre

Paulo Lobo Júnior, Médico Ortopedista, Especialista

Pedro Nunes, Fisioterapeuta

Renata Vale Vilhena, Psicóloga, Mestre

Tácio Rodrigues da Silva Santos, Profissional de Educação Física, PhD

Vinícius Zacarias Maldaner da Silva, Fisioterapeuta, PhD

Aline Lamounier Gonçalves, Graduanda em Medicina

Gabriel Xavier Ramalho, Graduando em Medicina

Mariana Carolino e Oliveira, Graduanda em Nutrição

Camila Silva Brito, Graduanda em Nutrição

O presente documento foi elaborado pelos autores abaixo, que representam o Instituto de Pesquisa e Ensino do Hospital HOME / Centro Médico de Excelência da FIFA, a Comissão de Saúde da Federação de Futebol do Distrito Federal e o Centro Universitário de Brasília - UniCEUB, por meio do Projeto de Assistência Educacional e à Saúde do Atleta, da Pós-Graduação em Fisioterapia Traumato-Ortopédica e Funcional e da Faculdade de Ciências da Educação e Saúde:

Estudantes de graduação que colaboraram para a produção do documento:

INTRODUÇÃO Destreinamento em jogadores de

futebol profissional

Curto prazo

Longo prazo

O Distrito Federal (DF) e as cidades do entorno estão sob o efeito de medidas de distanciamento social que inviabilizam a prática do futebol desde março de 2020(1,2). As atividades presenciais representam maior risco de infecção, que deve ser equilibrado com os danos à performance do atleta. Decisões nesse momento devem ter como objetivo minimizar a exposição - especialmente àqueles que se encontram em grupos risco, como os que apresentam maior idade e ou comorbidades clínicas, a citar diabete mellitus, hipertensão arterial sistêmica, obesidade e pneumopatias crônicas(3).

O risco de contaminação é, também, proporcional a disponibilidade de equipamentos de proteção individual e outras medidas de controle de infecção, que podem variar na prestação de serviços. Se decidida a manutenção das atividades, essas serão norteadas pelas orientações da Organização Mundial da Saúde e Organização Pan Americana da Saúde(4). Existindo a viabilidade de modos alternativos de assistência, como a telesaúde, baseada em educação e orientações qualificadas, numa atuação profissional remota(5).

Para os atletas da modalidade que habitam na região, a situação implica em um contexto de destreinamento - período em que o treinamento é suspenso, ou realizado com intensidade, duração ou frequência insuficiente para manter o nível de desempenho(6). O destreinamento se dá tanto a curto prazo (menos de quatro semanas), como a longo prazo (mais de quatro semanas)(6,7), sendo no futebol analisado separadamente entre profissionais e categorias de base.

Em duas semanas de destreinamento, ocorre a redução do desempenho nos sprints (tiros), principalmente nos atletas mais rápidos. A capacidade cardiorrespiratória, por sua vez, ainda não é afetada negativamente(8).

A partir da quinta semana de destreinamento, é possível observar o aumento da massa gorda e a redução da massa magra. Na sexta semana, a capacidade cardiorrespiratória e a força muscular apresentam valores reduzidos. Estes efeitos ocorrem mesmo com a adição de rotinas parciais de treino com exercícios aeróbios e de fortalecimento após duas semanas de inatividade completa(9–11).

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Destreinamento em jogadores

de futebol das categorias de base

Destreinamento e a saúde física e mental

Curto prazo

Longo prazo

Em duas semanas de destreinamento, jogadores de futebol das categorias de base também sofrem redução do desempenho nos sprints, com pior efeito sobre aqueles que são mais rápidos. Contudo, a redução entre eles é menor que entre os adultos, e a capacidade cardiorrespiratória segue preservada(8).

Outras respostas ao destreinamento de curto e de longo prazo são observadas em atletas de diversas modalidades e também devem ser consideradas em jogadores de futebol, pois se relacionam com a saúde vascular, cardiometabólica e metabólica. O aumento da pressão arterial média, do LDL, e a redução do HDL e da sensibilidade à insulina podem se manifestar antes mesmo da quarta semana, e seguir após este marco temporal(15,16).

Mesmo diante inequívocos benefícios à saúde pública, o distanciamento social, por outro lado pode acarretar consequências psicológicas, emocionais e até financeiras para algumas pessoas. Ter a liberdade restringida, conhecimento de alguém que foi contaminado ou ter tido contato com alguém doente, lidar com o medo de ser contaminado ou contaminar um familiar, ter os planos interrompidos bruscamente podem levar ao aumento de sintomas relacionados à depressão, ansiedade, medo generalizado e desesperança(17).

Por último, manter uma alimentação saudável e adequada nesse contexto tem se tornado um desafio para muitos jogadores de futebol, mas é importante reconhecer que a alimentação saudável auxilia na melhora do desempenho esportivo, na manutenção da massa muscular, evita o aumento de gordura corporal e proporciona o fortalecimento do sistema imunológico(18).

Tendo em vista o contexto relatado, apresentamos, com base nas evidências científicas disponíveis e na análise reflexiva do cenário por parte deste grupo de especialistas, orientações que podem ser adotadas sistematicamente por clubes, escolas e atletas do DF com o objetivo de minimizar os impactos da pandemia sobre a performance esportiva e tornar o retorno, assim que possível, menos impactante do ponto de vista físico e mental.

Depois de quatro semanas, a massa corporal e a força muscular permanecem inalteradas nos jogadores de futebol das categorias de base(12). Com seis semanas, a capacidade cardiorrespiratória, a velocidade de corrida aeróbia e a velocidade de corrida anaeróbia estão diminuídas. Ao que parece, é uma consequência da menor ventilação pulmonar tanto no exercício de baixa intensidade, como no de alta intensidade. Por outro lado, a massa corporal permanece inalterada(13,14).

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ORIENTAÇÕES PARA O TREINAMENTO FÍSICO

Exercício cardiorrespiratório

A conduta recomendada para atenuar os efeitos do destreinamento é adotar rotinas parciais de treino com a redução necessária ou desejada do volume e da frequência, mas manter a intensidade o mais próximo possível daquela alcançada nos treinos regulares(7). Entretanto, a situação atual é distinta e exige uma abordagem diferente. Treinos excessivamente intensos podem deprimir o sistema imunológico, que é uma consequência indesejada em tempos de pandemia. Deste modo, a intensidade também deve ser intencionalmente reduzida(19, 20).

Ademais, como gotículas com o novo coronavírus se deslocam por quase dois metros no ar, e a sobrevida viral pode chegar a 72 horas em algumas superfícies(21), é altamente recomendado que os treinos sejam realizados em ambiente doméstico e com alguns cuidados(20).

- Recomendamos até 60 minutos ininterruptos ou duas sessões de 30 minutos no mesmo dia separadas por um intervalo de ao menos três horas. Intensidade de até 80% da frequência cardíaca máxima, três a quatro dias por semana. Algumas atividades possíveis no ambiente doméstico são a corrida estacionária, polichinelos, pular corda, ou quando possível, subir escadas(20).

- O exercício realizado até 75% da frequência cardíaca máxima se encaixa nesta recomendação e é classificado como moderado. Assim, a intensidade pode ser controlada por outros meios ainda mais acessíveis que também denotam uma intensidade moderada. A percepção subjetiva de esforço é uma destas alternativas: 3 ou 4 na escala onde 0 equivale ao repouso e 10 equivale ao esforço máximo. Outra possibilidade é utilizar o teste de conversa: ser capaz de conversar durante o exercício. Por fim, cabe ainda o uso da taxa de passos: 100 passos por minuto ou 1.000 passos em 10 minutos(22, 23).

Exercício de fortalecimento (resistidos)

- Recomendamos até 60 minutos por dia. Não utilizar cargas máximas, nem atingir a capacidade máxima através de cargas leves. É adequado que a última repetição seja feita com alguma dificuldade. Dois dias por semana é suficiente. Na ausência de materiais específicos, é possível realizar exercícios com o próprio peso corporal, como em barra fixa e barras paralelas, flexão de braços, abdominais, agachamentos e flexão nórdica(20).

O quadro a seguir compara alguns materiais utilizados no exercício de fortalecimento(24):

Necessidade de técnica

prévia

Portátil

Espaço ocupado

Custo de aquisição

Ganho de massa magra

esperado

Bandas elásticas

Sim

Sim

Pequeno

Baixo

Pequeno

Fitas de suspensão

Sim

Sim

Pequeno

Baixo

Pequeno a moderado

Conjunto de halteres

Sim

Não

Pequeno a moderado

Baixo a alto

Pequeno a alto

Máquinas

Não

Não

Grande

Muito alto

Pequeno a moderado

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Exercícios de Flexibilidade

Contraindicações

- Alongamentos suficientes para manter ou desenvolver a amplitude de movimento dos grupos musculares maiores. De dois a três dias por semana (20). Para que ocorra melhora da amplitude de movimento, é adequado mover os segmentos corporais até causar um pequeno desconforto e manter por 60 segundos, continuamente, ou em duas a três séries (22).

- Não treinar em caso de febre e/ou suspeita de COVID-19(20).

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ORIENTAÇÕES PARA PREVENÇÃO DE LESÕES

FORTALECIMENTO DO TRONCO

O futebol é uma modalidade caracterizada por elevado número de lesões, que geram enorme impacto físico, mental e socioeconômico(25). Estas acometem atletas nos diferentes níveis e sexos, predominando nos membros inferiores e tendo caráter especialmente muscular e articular, destacando-se as lesões dos músculos posteriores de coxa e estruturas ligamentares do joelho e tornozelo(26).

Diversos estudos indicam estratégias eficientes para prevenção de lesões no futebol. A FIFA desenvolveu em 2006, por meio do seu Centro de Pesquisa e Avaliação Médica (F-MARC), atualmente conhecido como Comitê Médico da FIFA, o programa de prevenção de lesões 11+, que serviu de base para a criação e (ou) aperfeiçoamento de metodologias utilizadas em todo o mundo(27).

Apesar de as lesões esportivas terem etiologia multifatorial, é consenso de que o programa preventivo de exercícios é a maneira mais efetiva e segura de intervir, proporcionando a redução do número e gravidade das lesões(28).

Nesse sentido e considerando a relevância em manter os estímulos necessários para preservar as principais valências relacionadas à qualidade do movimento e proteção do aparelho locomotor, com base na epidemiologia das lesões no futebol, sugerimos a realização dos exercícios abaixo duas vezes por semana, seguindo as orientações iniciais de prescrição, que podem ser adaptadas aos diferentes níveis de prática e serem realizadas em casa ou em áreas públicas, preservado o distanciamento social. Ressaltamos que podem fazer parte do aquecimento para os exercícios cardiorrespiratórios ou resistidos indicados previamente(29).

1. Ponte e ponte com apoio unipodal

2. Prancha e prancha com extensão do quadril

Realizar 3 séries de 30-60s de acordo com a tolerância

Realizar 3 séries de 30-60s de acordo com a tolerância

3. Prancha lateralRealizar 3 séries de 30-60s de acordo com a tolerância.

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Exercício nórdico e “avião”Realizar 10-15 repetições.

FORTALECIMENTO EXCÊNTRICO DA MUSCULATURA POSTERIOR DA COXAFORTALECIMENTO EXCÊNTRICO DA MUSCULATURA POSTERIOR DA COXA

Equilíbrio unipodal com a bola e saltos unipodais laterais

Realizar 3 séries de 30-60s de acordo com a tolerância

EXERCÍCIOS SENSÓRIO-MOTORES ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS

Os princípios e recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira são norteadores para a obtenção de uma alimentação adequada e saudável. O documento oficial sugere algumas práticas que orientam a escolha de alimentos para compor uma alimentação nutricionalmente balanceada, tais como: fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação, limitar o consumo de alimentos processados, utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades, fazer refeições em horários semelhantes todos os dias evitando “beliscar” nos intervalos entre as refeições, bem como planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece(30).

O guia também destaca a importância da comensalidade, ou seja, o ato de comer junto, o que se torna propício nesse momento devido à suspensão das atividades nos centros de treinamentos, levando os atletas a terem a oportunidade de vivenciar mais momentos ao lado de seus familiares e das pessoas que dividem a casa, por isso, é importante aproveitar a ocasião para desfrutar da alimentação(30).

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A importância do consumo adequado dos macronutrientes

Consumo alimentar e o fortalecimento do sistema imunológico

O consumo de nutrientes em quantidades adequadas é fundamental para manter a composição corporal, o rendimento esportivo e gerar benefício à saúde de todos os jogadores. A recomendação de consumo dos macronutrientes (carboidratos proteínas e lipídios) são maiores que o das vitaminas e dos minerais e variam de acordo com o peso corporal do atleta, a duração e a intensidade do treinamento que o jogador está vivenciando no momento, ou seja, treinamentos de alta intensidade exigem uma maior oferta de nutrientes e os de baixa a moderada intensidade uma menor oferta(31). Além disso, devem ser levadas em consideração as condições de saúde dos jogadores, se apresentam ausência ou presença de sintomas relacionados à COVID-19 e se estão aptos a treinar respeitando as recomendações propostas(20).

As proteínas são nutrientes que desempenham diversas funções no organismo e o consumo diário adequado permite a reconstrução e reparação do tecido muscular. As proteínas são encontradas em alimentos como, por exemplo: carnes, peixes, frangos, leites e derivados, ovos, feijão, soja, lentilha e grão de bico(18).

Em se tratando de carboidratos e lipídeos, além de uma variedade de funções, esses nutrientes atuam como excelentes fornecedores de energia para os atletas. Boas fontes de carboidratos são encontradas em alimentos como: frutas, batata, mandioca inhame, arroz, legumes, massas, pães e aveia. Enquanto os lipídios são encontrados em alimentos como: óleos vegetais, castanhas, amêndoas, amendoim, manteiga, carnes e leites integrais(18).

O estresse emocional aliado à prática de exercícios físicos são alguns dos fatores que podem contribuir para aumento de radicais livres no organismo de atletas. Os radicais livres são moléculas muito reativas que quando em excesso no corpo humano podem ocasionar problemas fisiológicos, incluindo redução da eficiência do sistema imunológico,

tornando o atleta mais suscetível a adquirir infecções(18,32).

O organismo naturalmente desenvolve defesas no combate ao estresse oxidativo provocado pelos radicais livres, no entanto, para evitar o desbalanço na produção e o consequente excesso dessas espécies reativas, a alimentação adequada atua como um dos principais mecanismos de defesa. Existem nutrientes, conhecidos como antioxidantes, presentes nos alimentos e que são capazes de reduzir os danos causados pelos radicais livres(31).

Vitaminas e minerais em geral atuam melhorando o sistema imunológico. Vitaminas A, E, C, complexo B, zinco e selênio, são exemplos de potentes antioxidantes que podem ser adquiridos por meio da alimentação desde que o atleta possua uma dieta saudável e variada, sendo necessária a suplementação somente em casos de deficiências nutricionais, uma vez que excessos desses nutrientes geram prejuízos à saúde(31).

No quadro abaixo encontram-se algumas fontes alimentares dos nutrientes mencionados:

Nutrientes antioxidantes Exemplos de fontes alimentares

Vitamina A

Vitamina E

Vitamina C

Complexo B

Selênio

Zinco

Mamão, manga, cenoura, gema do ovo,

queijos, manteiga e fígado.

Óleos vegetais, amêndoas, nozes,

castanhas e gema do ovo.

Laranja, limão, mexerica, abacaxi, acerola

e maracujá.

Carnes, leites, ovos, brócolis, cereais

integrais, ervilha, amendoim e castanhas.

Castanhas, peixes, carnes, frango, queijos,

ovos e leite.

Carnes, frutos do mar, castanhas,

amêndoas, feijão, ervilha e grão-de-bico.

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Além dos nutrientes citados, a microbiota intestinal dos atletas, conjunto de bactérias que habitam o intestino, dentre elas benéficas, também auxiliam na imunidade atuando na defesa contra organismos patogênicos, tais como os vírus. Os prebióticos servem de alimentos para as bactérias presentes no intestino e são encontrados em frutas, legumes, verduras, aveia e outros cereais integrais ricos em fibras. Já os probióticos são as próprias bactérias vivas que residem no intestino e podem ser encontrados também em leites fermentados, iogurtes, kefir, kombucha e se necessária a sua suplementação pode ser recomendada por nutricionistas ou outros profissionais da saúde(33).

A alimentação adequada atua na prevenção, manutenção e promoção da saúde do atleta, porém cabe ressaltar aqui a importância de evitar cobranças excessivas, visto que o estresse emocional já está presente na vida de muitos atletas.

SAÚDE MENTAL DOS ATLETAS

Atletas do mundo inteiro, das categorias de base à profissional, tiveram suas carreiras bruscamente interrompidas, além de terem sido retirados de seus ambientes estruturados de treinamento nos quais eram acompanhados por suas comissões técnicas. Desde então, passaram a lidar com incertezas tais como: a) quando retornarei aos treinos? b) quando voltarmos às competições, meu time precisará se classificar novamente? c) como continuarei o meu processo de recuperação de lesão sem contato com meu fisioterapeuta? d) como ocupar meus dias que eram tipicamente preenchidos com treinos em função de jogos e competições se estes agora estão suspensos e sem previsão? e) quando poderei reencontrar meus colegas de equipe e comissão técnica?(34,35)

Diante disso, muitos atletas passaram a relatar sintomas típicos vivenciados em situações de estresse, como por exemplo, alterações no sono e apetite, aumento de pensamentos ruminantes (manter-se pensando no que irá acontecer, como será o futuro), solidão (muitos perderam contato com as famílias também em função de não poderem sair das cidades e (ou) os países onde estavam) e medo do futuro (incertezas com relação à contratos, perdas de bolsas). Outros relataram vivenciar respostas semelhantes de um processo típico de perdas (neste caso, a perda da carreira, da rotina como atleta) e experimentaram sentimentos como raiva, culpa (especialmente aqueles que ajudavam no sustento da família ou aqueles que recebem altos salários e se viram impossibilitados de controlar tantas mortes). Sentiram também aquilo que se chama de despersonalização, ou seja, de não saberem quem são fora do ambiente esportivo(34–36). Percebe-se então que a saúde mental dos atletas também requer atenção.

As estratégias a seguir são baseadas nas sugestões da Sociedade

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Internacional de Psicologia do Esporte (ISSP)(34,35), bem como em princípios da psicologia de um modo geral e da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)(37,38), podendo ser utilizadas não só neste momento, mas no dia a dia do trabalho realizado junto aos atletas. É preciso adaptá-las, no entanto, sempre considerando diferenças culturais, entre as modalidades esportivas e faixas etárias.

Comissões técnicas - como ajudar os atletas?

- Ajude os atletas a identificar e expressar suas emoções:

- Valide o atleta ao invés de julgá-lo:

- Ajude o atleta a ter contato com o momento presente:

Ensine valores e ações comprometidas:- Trabalhe aceitação:

atletas de um modo geral são ensinados a não demonstrar emoções e até mesmo a fugirem delas como se fosse algo errado. Contudo, tal estratégia não os ajuda a identificar o que sentem, tampouco a lidar com o que sentem, o que muitas vezes acaba acarretando naquilo que vemos em competições quando os atletas ‘’paralisam’’. Assim, esta é uma oportunidade de ensinar os atletas a desenvolver esta habilidade, criando situações nas quais seja permitido que eles expressem o que pensam e sentem. Ajudando-os a nomear aquilo que sentem, ampliando desta forma seu autoconhecimento e melhorando a sua tomada de decisão;

muito se fala em aceitação, porém pouco se compreende o que significa. Aceitação refere-se a como lidamos com os eventos que acontecem conosco e que não podemos controlar ou mudar. Relaciona-se também à nossa disposição em deixar que uma emoção ou pensamento se manifeste ao invés de evitá-la. Portanto, aceitação nada tem a ver com subserviência ou resignação, mas sim em abandonar estratégias que não serão úteis em nos ensinar a lidar com as situações. Ao abandonar estratégias de controle, ampliamos nossa percepção de como lidamos com os eventos.

estar no momento presente não significa ensinar ao atleta necessariamente técnicas de meditação e sim torná-lo mais sensível para o fato de que estar atento ao que acontece o ajudará a se comportar de maneira mais eficiente. Remoer o passado ou preocupar-se com o futuro não são estratégias que o tornam mais habilidoso para lidar com o que acontece agora.

muitos atletas relatam desmotivação por estarem fora de seus ambientes estruturados de treino e sem metas, uma vez que os campeonatos estão suspensos. Metas e objetivos são ações e estão ligadas a resultados. Já os valores referem-se às qualidades de nossas ações. Os valores tem a ver com os processos, ao como fazer para se alcançar um objetivo. Funcionam como uma bússola, nos dando um norte, ainda que as condições mudem. Valores nos motivam porque não são escolhidos por pressão social, são escolhas genuinamente nossas e nos guiarão independente do que aconteça.

Ajude os atletas a pensar em valores. Um exemplo de objetivo seria ser um atleta de alto rendimento, a questão é como? O ‘’como’’ relaciona-se aos valores. Qual o processo está envolvido em tornar-se um jogador profissional mesmo em tempos de quarentena? Quais áreas da vida do atleta precisam ser valorizadas?

Tendo clareza dos valores, entram as ações com compromisso. Estas têm a ver com o que o atleta deve fazer e como precisará enfrentar as barreiras que podem aparecer (e pedir ajuda, se necessário). Por exemplo, ser um jogador profissional é um objetivo que pode estar relacionado a valores como saúde, relacionamentos pessoais, relacionamentos familiares, estudos, etc. Neste sentido, que ações devem ser mantidas mesmo em distanciamento e afastado do ambiente de treino? Participar das reuniões com a comissão técnica; estar atento à alimentação e sono, pedindo ajuda à comissão, se necessário; manter contato com a família, etc.

ao criar espaço para expressão de emoções e pensamentos, cria-se também espaço para fortalecer o vínculo entre o atleta e a comissão. Validar consiste em reconhecer as expressões cognitivas, emocionais e comportamentais do atleta. Validar não significa que sempre devemos concordar, mas sim ampliar a perspectiva com relação à situação, descrevendo-a e verificando os fatos, sem julgá-los;

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Muito material tem sido produzido neste período e sabe-se que a intenção é ajudar as pessoas a passar por este momento. Entretanto, fique atento ao seu atleta e às sugestões, dicas que pretende dar ele. Cuidado ao propor técnicas clássicas como relaxamento, meditação, autofala, estabelecimento de metas, dentre outras. Perceba se ele está aberto a isso. É importante também que ao propor intervenções, a comissão técnica avalie se há condições de dar suporte aos conteúdos que poderão vir à tona.

No momento de retorno aos treinos presenciais, será necessário também que a comissão técnica se atente à sintomas relacionados ao transtorno de estresse pós-traumático.

- Uma última palavra: Cuidado!

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