Origem Das Penas

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O Papel das Penas Alternativas no Processo de Ressocializao do Apenado na Comarca de FortalezaSUMRIO: INTRODUO; 1 ORIGEM E EVOLUO DAS PENAS; 1.1 Origem das penas; 1.2 Evoluo das penas no mundo; 1.2.1 Perodo Primitivo; 1.2.2 Perodo Antigo; 1.2.3 Perodo Medieval; 1.2.4 Perodo Moderno; 1.2.5 Perodo Contemporneo; 1.3 Evoluo das penas no Brasil; 1.3.1 Perodo Colonial; 1.3.2 Perodo Imperial; 1.3.3 Perodo Republicano; 2 PENAS ALTERNATIVAS; 2.1 Conceito; 2.2 Aspectos histricos; 2.3 Legislao pertinente; 2.4 Regras de Tquio; 3 LEGISLAO BRASILEIRA DAS PENAS ALTERNATIVAS LEI N 9.714/98; 3.1 Cominao e aplicao das penas alternativas; 3.2 Pressupostos necessrios substituio; 3.2.1 Pressupostos objetivos; 3.2.2 Pressupostos subjetivos; 3.3 Espcies de penas alternativas; 3.3.1 Prestao pecuniria; 3.3.2 Perda de bens e valores; 3.3.3 Prestao de servios comunidade ou a entidades pblicas; 3.3.4 Interdio temporria de direitos; 3.3.4.1 Proibio do exerccio de cargo, funo, ou atividade pblica, bem como de mandado eletivo; 3.3.4.2 Proibio do exerccio de profisso, atividade ou ofcio que dependam de habilitao especial, de licena ou autorizao do poder pblico; 3.3.4.3 Suspenso de autorizao ou de habilitao para dirigir veculo; 3.3.4.4 Proibio de freqentar determinados lugares; 3.3.5 Limitao de fim de semana; 3.4 Converso das penas alternativas em privativas de liberdade; 3.5 Detrao penal; 3.6 Penas alternativas e crimes hediondos; 4 EXECUO DAS PENAS ALTERNATIVAS NA VARA ESPECIALIZADA DA COMARCA DE FORTALEZA; 4.1 Criao da vara e competncia; 4.2 Composio da Vara de Execuo de Penas Alternativas; 4.3 Do juiz; 4.4 Do Ministrio Pblico; 4.5 Do defensor pblico; 4.6 A equipe tcnica; 4.7 O procedimento nas penas restritivas de direitos; 4.8 Clculo da pena de prestao de servios comunidade; 4.9 Monitoramento do cumprimento das penas alternativas; 4.9.1 Relao entre a Vara de Execuo de Penas Alternativas e Instituies Conveniadas; 4.9.2 Controle de freqncia e contabilidade das horas de servios prestados; 4.9.3 Fiscalizao pelos integrantes da equipe tcnica; 4.10 Fim do cumprimento de pena alternativa; 5 PROCESSO DE RESSOCIALIZAO DOS APENADOS NA COMARCA DE FORTALEZA; 5.1 Ressocializao dos Apenados atravs da pena de Prestao de Servios Comunidade; 5.2 Ressocializao dos apenados pela pena de limitao de fim de semana; 5.3 Perfil scio-econmico dos apenados; CONCLUSO; REFERNCIAS INTRODUO O presente trabalho trata do estudo das penas alternativas, as quais, presentes os requisitos de sua aplicabilidade, substituem as penas privativas de liberdade nos crimes cujas penas sejam inferiores a 04 (quatro) anos. As penas alternativas so mecanismos que proporcionam aos apenados uma experincia socializadora positiva, bem como um envolvimento da sociedade no processo de recuperao de suas relaes interpessoais, familiares e sociais, de forma que os mesmos retornem regenerados sociedade, livres das mazelas que os infectaram. Este um tema de relevante importncia, visto que os doutrinadores e estudiosos do direito penal buscam uma forma de impor uma pena que ressocialize os infratores, pois est comprovado que o crcere degenera ainda mais o indivduo submetido a ele. Com a falncia do sistema carcerrio, no s o brasileiro como tambm o mundial, os representantes

estatais vm se preocupando, cada vez mais, com a reformulao do sistema de penas, em face do desvirtuamento dos objetivos das penas privativas de liberdade, qual seja, reeducar os presos, a fim de prepar-los para retornarem vida social. Urge ressaltar que as penas alternativas so vistas por muitos doutrinadores como um instrumento necessrio para reverter esse quadro catico do sistema penitencirio, contribuindo, assim, para a resoluo do problema da superlotao dos presdios e buscando a consecuo da finalidade do crcere. Com o advento da Lei n 9.714/98, a qual alterou alguns dispositivos previstos no art. 43 do Cdigo Penal Brasileiro, foi ampliado o rol das penas restritivas de direitos (penas alternativas), tornando-se oportuno alguns questionamentos: Quais os benefcios trazidos para o apenado, sociedade e Estado com a aplicao das penas alternativas? As penas alternativas recuperam o apenado? As penas alternativas, por serem medidas mais brandas do que as penas privativas de liberdade, estimulam a criminalidade e a reincidncia? Neste contexto, o objetivo geral deste trabalho consiste em mostrar a importncia das penas alternativas no processo de ressocializao dos apenados na Comarca de Fortaleza. J o objetivo especfico busca investigar o cumprimento das penas alternativas como forma de recuperao do condenado; identificar os principais benefcios trazidos com a aplicao das penas alternativas e examinar o funcionamento da Vara de Execues de Penas Alternativas da Comarca de Fortaleza VEPA e sua eficcia no processo de ressocializao do apenado. As hipteses do trabalho monogrfico sero investigadas atravs de pesquisas bibliogrficas, documentais e de campo, atravs visitas entidades conveniadas VEPA, que recebem os apenados para cumprimento de penas alternativas, vara especializada de penas alternativas. Quanto utilizao dos resultados, a pesquisa ser pura. Com relao abordagem, trata-se de uma pesquisa qualitativa, por ser usada em populao pequena. Quanto aos objetivos a pesquisa ser descritiva e exploratria. Dividimos o trabalho em cinco captulos. No primeiro faremos uma breve passagem pela origem e evoluo das penas no mundo e no Brasil, reforma penal de 1984 e advento da Lei 9.714/98. No segundo captulo trataremos do conceito, aspectos histricos, origem e princpios norteadores das penas alternativas. No terceiro abordaremos a legislao ptria pertinente s penas alternativas Lei n 9.714/98, destacando os pressupostos objetivos e subjetivos para a aplicao das alternativas penais, suas espcies e finalidade. No quarto captulo falaremos sobre a execuo das penas alternativas na vara especializada da Comarca de Fortaleza, enfatizando sua estrutura e funcionamento. J no quinto e ltimo captulo aduziremos acerca do papel das penas restritivas de direitos na ressocializao do apenado no mbito da Comarca de Fortaleza, apresentando alguns dados e grficos cedidos pela VEPA para comprovao dos benefcios alcanados com a aplicao das penas alternativas priso e resultados das pesquisas de campo. 1. ORIGEM E EVOLUO DAS PENAS

Com o estudo da evoluo histrica do direito penal, chegamos facilmente concluso de que o sistema repressivo sempre esteve (na Antigidade, Idade Mdia e na poca absolutista) a servio dos interesses da classe dominante, ocasionando uma opresso classe dominada. J no direito contemporneo, com a implementao do Estado Democrtico, esse privilgio de classes fora abolido, pois todos os que violassem bens jurdicos tutelados pelas leis penais sofreriam punies. Vale ressaltar, que o sistema punitivo que vigora atualmente deve ser visto com um carter

transitrio, pois como mostra a experincia histrica, o Direito est em constante transformao para acompanhar a evoluo social, no perdendo, deste modo, sua eficcia. Entretanto, para uma melhor compreenso dos princpios e idias que fundamentam o sistema punitivo contemporneo, torna-se necessria a anlise da evoluo histrica do Direito Penal e seu sistema de sanes, examinando-se seus perodos, os quais se dividem em: primitivo, antigo, medieval, moderno e contemporneo. 1.1 Origem das penas

As penas so mecanismos de que se valem as normas para que seja garantida a proteo dos bens jurdicos por elas tutelados. Elas existem desde os primrdios da humanidade, oriundas da necessidade de uma forma de punio aos indivduos que vivessem margem das normas de condutas. A partir do momento em que o homem passou a se organizar em grupos, surgiram os primeiros conflitos de interesses, frutos da competio e ambio inerentes ao instinto humano. Movido por seus desejos, o indivduo, muitas vezes, ultrapassava seus direitos, violando os direitos de terceiros, ou mesmo, utilizava-se de formas ilcitas e ilegais para concretizar seus anseios. As primeiras penas eram aplicadas de forma violenta e desumana, dotadas de cunho emocional e religioso, sendo as punies estabelecidas pelo prprio grupo aos infratores. As formas mais primitivas de penas foram o escrnio, a expulso da comunidade, a vingana de grupo contra grupo e a pena de morte, a qual consistia na destruio do homem, eliminando-o da comunidade e evitando que o mesmo viesse a cometer novos delitos, conturbando a paz social. 1.2 1.2.1 Evoluo das Perodo Penas no Mundo Primitivo

No perodo primitivo, as penas eram revestidas de um certo misticismo, decorrente da ligao dos grupos s divindades. Como conseqncia deste vnculo religioso, era atribuda s normas um carter divino. Quando um indivduo violava uma regra comportamental, o grupo rebelava-se contra ele aplicando-lhe uma sano, com o intuito de que fosse restabelecida a proteo dos deuses. Segundo Joo Jos Leal (1998, p. 58/59) ... a reao contra o infrator, envolta no manto da magia e do sobrenatural, baseava-se na idia de reconciliao do grupo com seu deus (ou deuses) protetor. Pode-se nitidamente perceber que a represso ao infrator era de natureza coletiva e no individual, posto que, era o grupo, como um todo homogneo, o interessado maior na punio do transgressor normativo, superando interesse do prprio ofendido. Nesse perodo, as punies apresentavam-se sob duas formas: a perda da paz, a qual ocasionava a expulso do indivduo do convvio social por ter infringido uma norma, que tenha provocado a ira dos deuses, buscando-se com essa expulso a manuteno da paz grupal; a vingana de sangue, que consistia na represso das condutas de outros indivduos estranhos ao grupo. Com o desdobramento da sociedade em cls unidos pelo vnculo da consanginidade, surgiram duas novas modalidades de punio, a vingana privada e a composio.

1.2.2

Perodo

Antigo

No perodo antigo, marcado pelo nascimento das primeiras civilizaes, surge a figura do soberano como representante do poder pblico, o qual passa a impor sanes equivalentes gravidade do delito. A partir da, surge uma nova forma de punio no Direito Penal baseada no talio, ou seja, ao infrator era aplicada uma sano de igual intensidade do crime por ele cometido, por exemplo: aquele que matasse o filho de outro, teria seu filho morto. Verifica-se, portanto, um progresso significativo do sistema punitivo, pois as represses no mais seriam aplicadas de forma ilimitada, como ocorria no perodo primitivo, no qual as penas no tinham nenhuma relao de proporcionalidade com a infrao cometida. O insigne jurista Anbal Bruno (1967, p. 47) no combate s arbitrariedades das penas impostas aos criminosos, proferiu o entendimento infracitado: Esses excessos e injustias na punio degradam os costumes, embrutecendo os indivduos e provocando sentimentos de revolta contra a lei e autoridade. [...] Assim se explica o fenmeno aparentemente paradoxal, que a histria tantas vezes registra, de que, enquanto cresce a crueldade da maneira de punir, aumenta no mesmo grau a abundncia dos crimes. Nesse contexto surge a pena de priso, tendo sua origem consubstanciada na Igreja, cujo costume era segregar em masmorras, pores e celas constitudas no interior dos mosteiros, aqueles indivduos que violassem as doutrinas e costumes religiosos, para que, atravs da orao e penitncia, se arrependessem do mal causado e obtivessem o perdo da Igreja. Essas prises eclesisticas influenciaram e serviram de modelo ao sistema penitencirio atual. As penas de priso no eram utilizadas como penas autnomas, mas como forma de evitar a fuga dos infratores, garantindo, assim, a presena deles perante os tribunais para que fossem julgados e cumprissem as penas que lhes fossem impostas, caracterizando-se como uma priso cautelar, muito semelhante nossa atual priso preventiva. 1.2.3 Perodo Medieval

No perodo medieval, a religiosidade exerceu grande influncia sobre o sistema punitivo, no qual o criminoso ao cometer um delito assumia uma obrigao perante os homens e os deuses. Foi um perodo caracterizado pela crueldade e animosidade das punies impostas aos criminosos das classes dominadas, diferentemente do que ocorria com os delinqentes que pertenciam s classes dominantes, estes protegidos pelas normas. Com isso, constata-se um privilgio de classes que acabou gerando nos dominados um sentimento de revolta diante das injustias oriundas das punies e impunidades dos crimes cujos autores pertenciam classe opressora. Houve uma evoluo do pensamento jurdico criminal, pois, embora as penas mantivessem sua funo essencialmente retributiva, servindo de exemplo para os demais indivduos do grupo, surgiu uma preocupao com a ressocializao dos infratores. 1.2.4 Perodo Moderno

No perodo moderno, o sistema repressivo sofreu enorme influncia das idias iluministas, as quais prezavam por uma maior liberdade dos indivduos, quebrando as amarras do absolutismo opressor das classes dominadas. Nessa poca, meados do sculo XVIII, ocorre uma revoluo no Direito Penal ocasionada pela formao de uma corrente doutrinria originria de um importante movimento que ficou conhecido como Movimento Humanitrio. Por ele era difundida a extino da utilizao das penas de castigos corporais, trabalhos forados e pena de morte, as quais no recuperavam os apenados, apenas os degradavam ainda mais. Pregava tambm que a pena de morte somente deveria ser utilizada como uma exceo e em casos de extrema necessidade, hoje prevista no art. 84, XIX da Constituio Federal de 1988, em caso de guerra declarada. Vale ressaltar que, Cesare Beccaria foi a figura de maior destaque no Movimento Humanitrio, publicando sua obra Dos Delitos e Das Penas em 1764, a qual protestava contra as aberraes e arbitrariedades cometidas pelo sistema punitivo da poca e defendia vrias idias revolucionrias, dentre elas, a aplicabilidade do princpio da legalidade, o banimento das penas cruis e da pena de morte. Cesare Beccaria (2002, p. 143), aduzindo sobre a proporcionalidade entre as penas e os crimes, condenando a utilizao das penas abusivas expressou o seguinte pensamento: Para que cada pena no seja uma violncia de um ou de muitos contra um cidado privado, deve ser essencialmente pblica, rpida, necessria, a mnima das possveis em dadas circunstncias, proporcionada nos crimes, ditadas pelas leis. Ainda no sculo XVIII surge um movimento cientfico encabeado pelo ilustre Csar Lombroso, com destaque para sua obra O homem delinqente publicada no ano de 1876. A partir dele o Direito Penal passa a demonstrar grande preocupao com o estudo do fenmeno da delinqncia, para, conseqentemente, detectar as causas dos delitos e a predisposio dos indivduos para tal prtica. A pena deixa de ter um carter eminentemente retributivo para assumir uma posio preventiva e ressocializadora, tornando-se um instrumento de defesa social e reeducao do infrator. Esse movimento deu origem a uma disciplina de salutar importncia no ramo do Direito Criminal: a Criminologia. 1.2.5 Perodo Contemporneo

Hodiernamente, o Direito Penal tem adotado uma posio mais liberal, as penas so aplicadas com um carter recuperador, fazendo com que o apenado retorne ao seio social reeducado. A priso, vista como o ncleo dos sistemas repressivos atuais, tem fracassado quanto consecuo de seu fim, isto , recuperar os condenados, de modo que os mesmos retornem sociedade libertados dos sentimentos que os levaram a delinqir. Diante dessa problemtica, defende-se que o crcere seja aplicado excepcionalmente aos casos de extrema necessidade. Para substitu-la surgem vrias alternativas penais como as penas restritivas de direitos, penas pecunirias, suspenso condicional da pena e do processo, dentre outras. Vislumbra-se uma tendncia despenalizadora do Direito Penal contemporneo, consoante o entendimento do preeminente Joo Jos Leal (1998, p. 71) abaixo transcrito: Diante desta nova realidade, vai-se consolidando na doutrina hodierna o movimento de idias em

favor do Direito Penal Mnimo, segundo o qual preciso enxugar consideravelmente o excessivo leque de tipologia penal, para que o Direito Penal retorne aos trilhos originais de tutela apenas dos valores fundamentais coexistncia humana: vida, integridade fsica, liberdade sexual, patrimnio, etc. A idia matriz a de que o Direito Penal deve passar por um processo de descriminalizao e/ou despenalizao das condutas hoje incriminadas, mas que no representam uma ofensa mais grave aos bens jurdicos considerados fundamentais. O excesso de tipologias penais no tem carter preventivo, posto que os delinqentes no se eximem de cometer delitos que tm penas severas. 1.3 1.3.1 Evoluo das Perodo Penas no Brasil Colonial

Os portugueses, descobridores do Brasil, trouxeram para o nosso pas o seu ordenamento jurdico, pouco importando para eles a existncia de um sistema de normas de conduta vigentes nas comunidades indgenas que aqui habitavam. Conforme salienta Luiz Rgis Prado (2004) antes da descoberta do Brasil pelos portugueses, no existia um cdigo de normas de condutas vigente, mas simples regras consuetudinrias, os chamados tabus, comuns ao mnimo convvio social, transmitidas verbalmente e dotadas de misticismo. Nessa poca primitiva da sociedade brasileira predominou a vingana privada, sem nenhuma unicidade nas formas de reao contra as condutas ofensivas, e as penas corporais destitudas de torturas. Primeiramente, foram aplicadas as Ordenaes Afonsinas e, emps, as Ordenaes Manuelinas, as quais tiveram pouca aplicabilidade em virtude da sociedade est em processo inicial de organizao no primeiro sculo de dominao. Posteriormente, sobrevieram as Ordenaes Filipinas que foram aplicadas intensamente no Brasil at 1830. Esse sistema normativo tinha um livro reservado ao Direito Penal, onde eram previstas as punies aos infratores das normas. As penas previstas tinham como objetivo castigar o criminoso e intimidar os demais indivduos, para que eles no voltassem a cometer tais atos delituosos. As penas eram cruis, predominando entre elas as penas de morte e castigos corporais. A partir do ano de 1830 foi editado o nosso primeiro Cdigo Criminal, passando a viger as normas insertas nesse Diploma Legal. 1.3.2 Perodo Imperial

Com o advento da independncia do Brasil, faz-se necessrio um novo ordenamento jurdico que viesse substituir o vigente. Em virtude desta substituio demandar longo processo de elaborao, o imperador D. Pedro I instituiu uma lei que determinava a manuteno da vigncia das normas estabelecidas nas Ordenaes Filipinas, com exceo das penas infamantes e castigos corporais, at a posterior criao e aprovao de um Cdigo Criminal Nacional. Finalmente, no ano de 1830 foi criado o primeiro Cdigo Criminal Brasileiro, influenciado pelas idias contidas nos cdigos italiano e francs e na Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado de 1789, que pregava a igualdade, fraternidade e liberdade entre os homens. Esse diploma legal previu as penas de morte na forca, priso com trabalho e priso simples,

banimento, multas, dentre outras. As penas mais cruis e degradantes seriam aplicadas em grande escala na classe dos escravos, diversamente do que ocorria com a aristocracia rural, havendo um Direito Penal distinto a ser aplicado a cada camada social. 1.3.3 Perodo Republicano

Com a proclamao da Repblica em 1889, sobreveio a necessidade de substituio do sistema de normas at ento vigente, por um que se adequasse nova realidade brasileira. No incio desse perodo, foi criado um Cdigo Penal, datado de 1890, que institui a priso como principal forma de punio, assim como ocorre atualmente. Alm da pena de priso, o cdigo supracitado previa tambm as penas de interdio, suspenso e perda da funo pblica e multa, demonstrando, assim, uma grande evoluo legislativa por ter banido as penas mais desumanas como a pena de morte e castigos corporais. Durante esse perodo, foi publicado o Cdigo Penal de 1940, que vigora at o presente momento, embora tenha sofrido alteraes por algumas leis penais posteriores. Dentre essas leis que alteraram a legislao penal brasileira, merece destaque a Lei n 7.209/84, de 11 de julho de 1984, a qual alterou toda a parte geral do cdigo supracitado, ou seja, dos arts. 1 ao 120. Tal lei desenvolveu sobremaneira o sistema penal, principalmente no tocante adoo das penas restritivas de direitos em substituio pena privativa de liberdade de curta durao. Constata-se, com isso, uma maior acuidade do legislador nacional para com a problemtica da ressocializao dos apenados, os quais submetidos segregao, retornavam ao convvio social ainda mais corrompidos, imbudos de um sentimento de revolta contra o Estado e sociedade, voltando a delinqir. 2. PENAS ALTERNATIVAS

Como as finalidades das penas so a defesa da sociedade e a ressocializao do infrator, fins cada vez menos alcanados pela pena privativa de liberdade, a priso passou a ser reservada aos casos de extrema necessidade, quando o condenado oferecer risco integridade social. Assim, as penas alternativas representam um significativo avano das formas de represso delitiva, atravs das quais o apenado cumpre sua pena em liberdade, sem que seja submetido promiscuidade da segregao, permanecendo inserido no meio social sem sofrer maiores preconceitos. 2.1 Conceito

No conceito de Damsio E. de Jesus (1999, p. 29), Alternativas penais, tambm chamadas substitutivos penais e medidas alternativas, so meios de que se vale o legislador visando a impedir que ao autor de uma infrao penal venha a ser aplicada medida ou pena privativa de liberdade. Portanto, penas alternativas so medidas penais substitutivas das penas privativas de liberdade, aplicadas aos fatos tpicos a que a lei denominou de infraes de menor potencial ofensivo. As penas alternativas, diferentemente do que muitos pensam, no estimulam a prtica do delito, mas sim a inibe, por ser uma medida eficaz de punio e recuperao do delinqente, onde h a participao do Estado e da sociedade nesse processo reintegratrio. As molstias do crcere so

permutadas

por

restries

a

certos

direitos

ou

por

trabalho

social

gratuito.

Este tipo de pena evita que infraes de menor gravidade fiquem impunes e, ainda, que o apenado seja encaminhado priso desnecessariamente. Ele continua integrado famlia e sociedade, exercendo uma atividade profissional e repensando sua conduta delituosa. As penas alternativas so um caminho aberto para o exerccio da cidadania. 2.2 Aspectos Histricos

O estudo do histrico das penas alternativas nos mostra que a prestao de servios comunidade foi a primeira pena alternativa, surgida na Rssia em 1926. No ano de 1960, o estatuto penal russo ampliou o rol das penas alternativas, instituindo a pena de trabalhos correicionais sem privao de liberdade do condenado. A Inglaterra tambm aderiu s penas alternativas, criando, em 1948, a priso de fim de semana exclusiva para os menores delinqentes. A Blgica, em meados da dcada de 60, adotou o arresto de fim de semana, para penas de deteno inferiores a um ms. Aderindo ao movimento despenalizador, o Principado do Mnaco originou uma forma de execuo fracionada da pena privativa de liberdade, que consistiam em detenes semanais. Essa anlise histrica revela que a Inglaterra, atravs do seu community service order , instituiu o mais bem-sucedido exemplo de trabalho comunitrio, que pode ser aplicado at mesmo aos infratores com idade igual ou superior a 16 anos. O xito obtido pelos ingleses s veio corroborar as vantagens da aplicabilidade das penas alternativas no processo de ressocializao do delinqente. Esse sucesso influenciou vrios pases, que passaram a aplicar as penas alternativas, embora com algumas peculiaridades prprias, como por exemplo Austrlia (1972), Luxemburgo (1976), Canad (1977), Portugal e Dinamarca (1982), Frana (1983) e Brasil (1984), atravs da reforma penal de ocasionada pela edio das leis n 7.209/84 e 7.210/84, de 11 de julho de 1984. 2.3 Legislao Pertinente

O Cdigo Penal Brasileiro de 1940 inseriu, de forma acanhada, as penas alternativas em nossa legislao, prevendo a multa como uma pena principal, e a interdio temporria de direitos juntamente com a pena de perda da funo pblica, eletiva ou nomeao, insertas na relao das penas acessrias. Posteriormente, com a entrada em vigor da Lei n 7.209/84, que reformulou a parte geral do Cdigo Penal, estabeleceu as espcies de penas previstas no art. 32, quais sejam: I privativa de liberdade; II restritivas de direitos; e III multa. A partir da, vrias leis se sucederam, porm as que trouxeram as principais alteraes foram as leis dos Juizados Especiais (Lei n 9.099/95, de 26 de setembro de 1995) e das penas alternativas (Lei n 9.714/98, de 25 de novembro de 1998). O legislador, visando dar cumprimento ao dispositivo contido no art. 98, I, da Constituio Federal de 1988, editou a Lei n 9.099/95 que dispe sobre os Juizados Especiais Cveis e Criminais, objetivando solucionar, de forma mais clere, as infraes de menor potencial ofensivo, ou seja, as infraes a que a lei comine pena mxima no superior a 01 (um) ano (art. 61, Lei n 9.099/95). Nessas infraes, o legislador previu a substituio da pena privativa de liberdade por uma pena restritiva de direitos ou multa, enaltecendo os princpios da economia e celeridade processual. Nesse mesmo prisma, o ento Ministro da Justia Nelson Jobim submete, em 18.12.1996, considerao do Presidente da Repblica Fernando Henrique Cardoso, o Projeto de Lei n 2.684/96.

Elaborado e aprovado aps ampla discusso pelo Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria CNPCP, em reunio plenria ocorrida na cidade de Curitiba. O Projeto de Lei supracitado visava alterar os artigos 43 a 45, 55 e 77 do Cdigo Penal Brasileiro. Aprovado pelo Congresso Nacional, o Projeto de Lei original, embora com alguns vetos, transformouse na Lei 9.714/98. Essa lei alterou alguns dispositivos, anteriormente mencionados, da parte geral do Cdigo Penal, ampliando o rol de penas alternativas pena de priso, com a incluso das penas de proibio de freqentar determinados lugares, perda de bens e valores e prestao pecuniria. Essa alterao introduzida pela lei das penas alternativas corroborou a tendncia despenalizadora do Direito Penal Moderno, anteriormente seguida pela reforma penal de 1984. O legislador ptrio deu a sua parcela de contribuio, cabendo agora ao Poder Judicirio utilizar os mecanismos necessrios implantao e efetivao dessas penas alternativas. Criou-se uma expectativa de que a Lei n 9.714/98 pudesse contribuir para a reduo dos altos ndices de reincidncia, promover a ressocializao dos apenados e, conseqentemente, amenizar o problema da superpopulao carcerria. A Lei n 10.259/2001, de 12 de julho de 2001, que instituiu os Juizados Especiais Cveis e Criminais no mbito da Justia Federal, definiu como infrao de menor potencial ofensivo, aquela cuja pena no seja superior a 02 (dois) anos ou multa (Pargrafo nico, art. 2). Percebe-se, que tal dispositivo ampliou a incidncia das penas e medidas alternativas, posto que aumentou para 02 (dois) anos a pena mxima da infrao de menor potencial ofensivo, cuja pena mxima, anteriormente prevista pela Lei n 9.099/95 era de apenas 01 (um) ano (art. 61, Lei n 9.099/95). Com essa majorao, as penas alternativas podem ser aplicadas a um nmero maior de crimes previstos na legislao penal ptria. 2.4 Regras de Tquio

Com a constatao de que a pena privativa de liberdade no atinge mais seu fim precpuo, ou seja, a ressocializao do apenado, o mundo passou a repensar os sistemas punitivos vigentes e, os estudiosos do Direito Penal reuniram-se para tentar criar novas formas de punio, diversas da pena de priso, que recuperem o delinqente. Inspirados nos ideais contidos na Declarao de Direitos do Homem e do Cidado (1789), Pacto Internacional dos Direitos Polticos e Civis e Declarao Universal dos Direitos do Homem (1948), organizaes internacionais comearam a se organizar para implementarem a aplicao efetiva das medidas no-privativas de liberdade. Esses documentos de defesa dos direitos humanos inerentes aos cidados vieram concretizar as experincias da Organizao das Naes Unidas (ONU) no campo da implantao, execuo e fiscalizao das medidas no-privativas de liberdade. A ONU foi a instituio de maior destaque nesse movimento despenalizador, a qual passou a realizar congressos, reunies para que houvesse um intercmbio de experincias mundiais entre os criminalistas e autoridades de diversos pases. As Regras Mnimas para o Tratamento de Presos foram adotadas pelo primeiro Congresso das Naes Unidas sobre Preveno do Delito e Tratamento do Delinqente, realizado em Genebra (Sua), entre os dias 22 de agosto e 03 de setembro de 1955, visando uma recuperao do delinqente submetido ao crcere. No 6 Congresso das Naes Unidas, a ONU, diante dos autos ndices de criminalidade e reincidncia, reconheceu a necessidade de implantao de alternativas para a pena privativa de

liberdade e editou a Resoluo n 08, e no 7 Congresso, a Resoluo n 16, salientando a urgncia de uma reforma das espcies de punies e recuperao dos delinqentes, posto que o nmero de reclusos aumentavam a cada dia. O Instituto da sia e do Extremo Oriente para a Preveno do Delito e Tratamento do Delinqente foi o rgo incumbido de estudar o assunto e formular um projeto com as solues viveis para tal desiderato. Concludos, os estudos foram apresentados no 8 Congresso das Naes Unidas para a Preveno do Delito e Tratamento do Delinqente, realizado em Havana (Cuba), no perodo de 27 de agosto a 07 de setembro de 1990. Tal projeto teve aprovao da Assemblia Geral, originando a Resoluo n 45/110, de 14 de dezembro de 1990, que estabeleceu as Regras Mnimas das Naes Unidas sobre as Medidas No-Privativas de Liberdade, conhecidas como Regras de Tquio. As Regras de Tquio consistem num manual de instrues completo sobre a operacionalizao de medidas no-privativas de liberdade em todas as fases processuais da Justia Penal, sendo normas norteadoras das polticas de aplicao de penas e medidas alternativas priso. As Regras de Tquio constituem um passo importante para aumentar a eficincia da resposta da sociedade ao delito, tendo como finalidades precpuas a aplicao de medidas no-privativas de liberdade e a garantia do respeito aos direitos e dignidade humana, independente de serem delinqentes. Outro fator primordial estabelecido pelas Regras de Tquio a participao intensa da comunidade na execuo das medidas no-privativas de liberdade. Com essa participao da sociedade, auxiliando o Estado na administrao da Justia Penal, melhora-se a compreenso e aceitao dessas medidas alternativas, posto que o pblico tem mais acesso aos resultados benficos do processo de recuperao do apenado, resultados esses, oriundos da aplicao eficaz dessas medidas despenalizadoras, as quais acabam ganhando mais credibilidade dentro do cenrio penal. Essa manuteno do delinqente no seio social, permanecendo-o integrado no trabalho e na famlia, permite que ele desenvolva um senso de responsabilidade e respeito para com a sociedade, que est determinada em ajud-lo a se recuperar das mazelas que o levaram ao mundo do crime. Conforme salienta Damsio E. de Jesus (1999, p. 215), As Regras de Tquio devem ser consideradas dentro do contexto dos instrumentos internacionalmente reconhecidos sobre direitos humanos, como a Declarao Universal dos Direitos do Homem e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Polticos. Oportuno ressaltar que as Regras de Tquio influenciaram a edio da Lei n 9.714/98, e estimularam a efetiva aplicao das penas alternativas no Brasil, bem como, estabeleceram diretrizes para a execuo de tais reprimendas. 3. LEGISLAO BRASILEIRA DAS PENAS ALTERNATIVAS LEI N 9.714/98

A Lei 9.714/98 surgiu em face da precariedade do sistema punitivo vigente, o qual tem como ncleo a pena privativa de liberdade, embora j tivesse anteriormente sido constatada a sua ineficcia quanto ressocializao do apenado. Diante deste quadro catico, o legislador, inspirado nos ideais humanitrios e na tendncia despenalizadora preconizada pela Organizao das Naes Unidas (ONU), editou a Lei das Penas Alternativas, buscando outras solues para os infratores que no ponham em risco a paz e a segurana da coletividade.

As penas alternativas j previstas na legislao brasileira antes do advento da lei em comento transformaram-se em letras mortas em face de sua pouca aplicabilidade prtica, j que s eram cabveis aos crimes cujas penas no fossem superiores a 01 (um) ano, bem como careciam de uma estrutura eficaz de monitoramento da execuo dessas sanes. A lei das penas alternativas veio ampliar significativamente o rol de penas restritivas de direitos e promover uma maior aplicabilidade e eficcia dessas alternativas penais. 3.1 Cominao e Aplicao das Penas Alternativas

As penas alternativas so sanes autnomas e substitutivas das penas privativas de liberdade, sendo necessrio que o juiz, aps a anlise das circunstncias elencadas no caput do art. 59 do Cdigo Penal Brasileiro, determine o valor de pena a ser imposta. Ao determinar a quantidade final da pena privativa de liberdade, caso esta no seja superior a 04 (quatro) anos ou se o delito for culposo, o juiz dever analisar, imediatamente, a possibilidade de substituio da pena de priso por penas restritivas de direitos. Urge ressaltar que esta substituio s ser possvel se forem atendidos todos os requisitos elencados no art. 44 do CPB. Presentes os requisitos necessrios, o juiz dever proceder substituio, por se tratar de um direito subjetivo do ru, no cabendo discricionariedade ao juiz para decidir sobre a substituio ou no, estando presente tal discricionariedade apenas quanto escolha da pena restritiva de direito mais adequada personalidade e habilidades do condenado. As penas alternativas so aplicadas independentemente de cominao na parte especial do Cdigo Penal, bastando, para tanto, o preenchimento dos requisitos essenciais para a substituio. Segundo Damsio E. de Jesus (1999) essas reprimendas so aplicadas na sentena condenatria do procedimento comum (CPP, art. 387), na transao penal dos Juizados Especiais Criminais (art. 76 da Lei 9.099/95) e na sentena condenatria do procedimento sumarssimo do Juizado Especial Criminal (art. 81 da Lei 9.099/95). A multa a exceo a esse carter substitutivo das penas alternativas que, algumas vezes, pode ser aplicada de forma direta quando abstratamente cominada na norma incriminadora. 3.2 Pressupostos Necessrios Substituio

Conforme anteriormente mencionado, para haver a substituio da pena privativa de liberdade por uma pena alternativa, faz-se necessrio o implemento de pressupostos, objetivos e subjetivos, previstos no art. 44 do CPB, os quais devem estar presentes simultaneamente, pois na falta de um deles, no ser admitida a substituio. 3.2.1 Pressupostos Objetivos

Os pressupostos objetivos previstos no inciso I do art. 44 do Cdigo Penal so os seguintes: quantidade da pena privativa de liberdade e natureza e forma de cometimento do crime. Quanto ao primeiro requisito, o legislador estabeleceu um limite temporal para a pena privativa de

liberdade fixada na sentena, limite este de 04 (quatro) anos para os crimes dolosos, independente do mximo da pena cominada abstratamente ser superior ao quatrinio. J para os crimes culposos no foi utilizado o mesmo critrio do crime doloso, ou seja, a aplicabilidade da substituio da pena privativa de liberdade por pena alternativa independe do quantum da pena fixada. O outro pressuposto refere-se natureza do crime e a sua forma de cometimento. Para que seja aplicada a pena alternativa, o crime no pode ter sido executado com o emprego de violncia ou grave ameaa pessoa. Caso seja verificada a presena de grave ameaa ou violncia, prejudicada estar referida substituio. Conforme ressalva Fernando Capez (2002, p. 347), o crime culposo, mesmo quando cometido com emprego de violncia, como o caso do homicdio culposo e das leses corporais culposas, admite a substituio por pena restritiva. A lei, portanto, se refere apenas violncia dolosa. 3.2.2 Pressupostos Subjetivos

O primeiro pressuposto subjetivo com relao ao fato da reincidncia, que o cometimento de um novo crime depois de transitar em julgado a sentena que, no pas ou no estrangeiro, tenha condenado o agente por crime anterior. Percebe-se que o art. 44, III do Cdigo Penal prev a reincidncia especfica, ou seja, aquela em que o agente comete dois delitos dolosos da mesma espcie. Para que se proceda substituio da pena privativa de liberdade por uma restritiva de direitos, o ru no poder ser reincidente em crime doloso. Caso o crime novo ou o anterior seja culposo, no se verificar tal bice, bem como, se os dois delitos forem da modalidade culposa. O segundo pressuposto diz respeito s circunstncias subjetivas que esto diretamente vinculadas ao condenado, isto , a culpabilidade, os antecedentes criminais, a conduta social e a sua personalidade, bem como se os motivos e as circunstncias indicarem que essa substituio ser suficiente (art. 44, III, CP). Esses pressupostos, por terem carter subjetivo, merecem especial ateno, devendo ser analisados de forma precisa, para que a pena alternativa s seja aplicada ao condenado que realmente fizer jus a ela. Portanto, o juiz s decidir pela substituio se estiverem presentes todas essas condies essenciais elencadas na legislao penal. 3.3 Espcies de Penas Alternativas

A Lei n 9.714/98 ampliou o rol das penas restritivas de direitos, acrescentando no art. 43 do Cdigo Penal a pena de perda de valores e a pena de prestao pecuniria. A lei supracitada criou tambm uma nova modalidade de pena de interdio temporria de direitos, qual seja, a pena de proibio de freqentar determinados lugares (art. 47, IV, CP), alm das anteriormente previstas no Cdigo Penal. 3.3.1 Prestao Pecuniria

A pena de prestao pecuniria, segundo a definio da primeira parte do 1 art. 45 do CPB,

consiste no pagamento em dinheiro vtima, a seus dependentes ou entidade pblica ou privada com destituio social, de importncia no inferior a 01 (um) salrio mnimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salrios mnimos [...]. Percebe-se que a finalidade dessa pena reparar o dano sofrido pela vtima em face da infrao penal, tendo a natureza de multa reparatria. Portanto, o valor fixado nesta sano ser destinado vtima ou a seus dependentes. Em no havendo vtima imediata ou seus dependentes, o montante da prestao pecuniria destinar-se- entidade pblica ou privada com destinao social. O valor da prestao pecuniria ser fixado pelo juiz na sentena condenatria, entre 01 (um) e 360 (trezentos e sessenta) salrios mnimos, levando-se em conta o valor do prejuzo da vtima. Poder, de acordo com as circunstncias do caso, determinar a forma de pagamento, vista ou parcelado. O art. 45, 1, em sua 2 parte, previu a deduo do valor pago a ttulo de prestao pecuniria do montante de eventual condenao do infrator em ao de reparao civil, caso coincida os beneficirios. O pargrafo segundo do art. retromencionado aduz sobre a possibilidade da converso da prestao pecuniria em prestao de outra natureza se houver aceitao do beneficirio. Essa prestao de outra natureza, consoante ensina Damsio E. de Jesus (1999) pode ter natureza pecuniria, restritiva de direitos ou liberdade, de obrigao de fazer ou no fazer, como por exemplo, reposio de rvores e doao de cestas bsicas. Oportuno ressaltar que a prestao pecuniria, embora parea ser semelhante, difere da pena de multa, pois aquela tem a natureza reparatria e essa tem carter retributivo, assim como, dentre outros critrios tais como o modo de fixao do quantum, a destinao do valor etc. 3.3.2 Perda de Bens e Valores

Essa espcie de pena alternativa, prevista no pargrafo 3 do art. 45 do CP, expressa que a perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-, ressalvada a legislao especial, em favor do Fundo Penitencirio Nacional, e seu valor ser fixado considerando-se como teto o prejuzo causado vtima pela infrao penal ou o proveito pelo agente ou por terceiro, prevalecendo o de valor mais elevado. Essa medida sancionatria est prevista na alnea b do inciso XLVI do art. 5 da Constituio Federal de 1988, mas trata s de perda de bens. J a perda de valores foi uma inovao da Lei 9.714/98. Os bens passveis de serem restringidos por tal sano so todos os bens corpreos, mveis ou imveis, e incorpreos que possuem contedo econmico, enquanto os valores so todos os papis e ttulos suscetveis de valor econmico, como por exemplo, um ttulo de crdito e aes. A legislao penal fixou como destinatrio dos bens ou valores arrecadados por essa pena o Fundo Penitencirio Brasileiro. Mas o dispositivo pertinente pena ora em comento, fez uma ressalva quanto legislao especial, de modo que o produto da perda de bens e valores, excepcionalmente, caso haja previso em lei especial, ser destinado a outras entidades e fins. 3.3.3 Prestao de Servios Comunidade ou a Entidades Pblicas

A prestao de servios comunidade consiste na atribuio ao condenado de tarefas gratuitas a serem executadas em escolas, orfanatos, hospitais e outros estabelecimentos congneres, em

programas estatais ou comunitrios. Essas tarefas so atribudas ao apenado conforme suas aptides, devendo ser cumpridas em dias e horrios em que no prejudique a sua jornada normal de trabalho. A prestao de servios comunidade tem se mostrado, com o passar do tempo, ser a alternativa penal de maior eficcia no processo de ressocializao do apenado, por ser uma sano educativa que possibilita ao apenado uma reflexo sobre a influncia de sua conduta na comunidade atravs da capacidade transformadora do trabalho prestado. Essa punio aplicada somente s condenaes superiores a 06 (seis) meses de privao de liberdade (art. 46, CP). Tal medida cumprida na proporo de 01 (uma) hora de servio por 01 (um) dia de condenao. Logo, as tarefas a serem realizadas tm uma durao de 07 (sete) horas semanais, devendo ser exercidas em horrio compatvel com outras obrigaes do apenado, conforme dito anteriormente. Caso seja imposta ao apenado uma pena superior a um ano, facultado a ele cumprir a pena substituda em menor tempo, mas nunca inferior metade da pena privativa de liberdade fixada (art. 46, 4, CP). Essa modalidade de pena alternativa permite que o apenado permanea integrado famlia, sociedade e, principalmente ao trabalho, exercendo uma atividade laboral que o faa sentir-se til, evitando-se, assim, o cio que perverte e corrompe o indivduo submetido ao confinamento carcerrio. O trabalho imposto ao apenado de grande importncia, at mesmo nos casos em que aplicada a pena privativa de liberdade, conforme salienta Michel Foucault (2000, p. 197): A ordem que deve reinar nas cadeias pode contribuir fortemente para regenerar os condenados; os vcios da educao, o contgio dos maus exemplos, a ociosidade ... originaram crimes. Pois bem, tentemos fechar todas essas fontes de corrupo; que sejam praticadas regras de s moral nas casas de deteno; que, obrigados a um trabalho de que terminaro gostando, quando dele recolherem o fruto, os condenados contraiam o hbito, o gosto e a necessidade de ocupao; que se dem respectivamente o exemplo de uma vida laboriosa; ela logo se tornar uma vida pura; logo comearo a lamentar o passado, primeiro sinal avanado de amor pelo dever. Alm das vantagens j expostas, a comunidade ou entidade social tambm esto sendo beneficiadas pela mo-de-obra gratuita e, muitas vezes, qualificada do apenado, economizando a verba que seria utilizada para custeio daquela atividade. Ademais, o Estado tambm aufere vantagens com tal medida, pois, ao economizar o elevado montante necessrio para manter um preso encarcerado, esta pecnia poder ser utilizada em outros setores, tais como sade, educao, etc. Os apenados so os maiores beneficiados com a prestao desses servios gratuitos comunidade, posto que atravs desse trabalho possibilita-se a eles o aprendizado de novas atividades laborativas que futuramente podero auxili-los. Alguns apenados que desenvolvem suas atividades eficazmente, acabam se tornando, aps o trmino da pena, empregados dos estabelecimentos em que cumpriram a pena. 3.3.4 Interdio Temporria de Direitos

A alternativa penal de interdio temporria de direitos procura inibir abusos e desrespeitos aos

deveres funcionais e profissionais inerentes a cada atividade, tendo pois grande reflexo econmico. A interdio temporria de direitos, tem por escopo impedir que o infrator continue a praticar a atividade ou os atos, atravs dos quais delinqiram, evitando deste modo que o condenado incorra em nova conduta delituosa, reduzindo, assim, a reincidncia. A sano ora em questo se divide em: proibio do exerccio de cargo, funo ou atividade pblica, bem como de mandado eletivo; proibio do exerccio de profisso, atividade ou ofcio que dependam de habilitao especial, licena ou autorizao do poder pblico; suspenso de autorizao ou de habilitao para dirigir veculo; e proibio de freqentar determinados lugares. 3.3.4.1 Proibio do exerccio de Cargo, Funo, ou Atividade Pblica, bem como de Mandado Eletivo. Com esta sano restritiva, o legislador procurou abranger toda e qualquer atividade desenvolvida por quem usufrui da condio de funcionrio pblico. A suspenso temporria perdurar o mesmo tempo da durao da pena privativa de liberdade substituda. Segundo leciona Cezar Roberto Bitencourt (1999, p. 144):

indispensvel que a infrao penal tenha sido praticada com violao dos direitos inerentes ao cargo, funo ou atividade. No necessrio, porm, que se trate de crime contra a Administrao Pblica; basta que o agente, de alguma forma, tenha violado os deveres que a qualidade de funcionrio pblico lhe impe. Aps o cumprimento da pena, o apenado, em no havendo impedimento de ordem administrativa, poder voltar a exercer sua atividade normalmente. Alguns doutrinadores, dentre eles, Celso Delmanto, Roberto Delmanto e Roberto Delmanto Jnior, entendem ser inconstitucional a parte do art. 47, I, CP que trata da proibio de exercer mandato eletivo, na forma que preceitua a Constituio Federal de 1988 em seus arts. 15, III e 55, VI e 2. 3.3.4.2 Proibio do exerccio de Profisso, Atividade ou Ofcio que dependam de Habilitao Especial, de Licena ou Autorizao do Poder Pblico. Trata-se aqui de uma pena restritiva especfica, pois s poder ser aplicada aos crimes cometidos no exerccio da atividade ou profisso e se houver violao dos deveres a estas inerentes (art. 56, CP). Algumas profisses exigem autorizao do poder pblico ou habilitao especial, ou seja, requerem inscries em Conselhos Regionais (advogados, mdicos, engenheiros), cursos superiores, registros especiais, as quais so controladas pelo poder pblico. Ressalte-se que a interdio abranger somente a atividade ou profisso da qual o apenado cometeu o abuso ou crime, no englobando, portanto, outras atividades que o mesmo possa vir a exercer. 3.3.4.3 Suspenso de Autorizao ou de Habilitao para dirigir veculo.

Essa pena alternativa consiste tambm em uma sano especfica por ter sido reservada exclusivamente aos delitos culposos de trnsito. Todavia isso no significa dizer que em todos os crimes culposos de trnsito o Juiz ir aplicar tal punio, podendo ser cominada outra pena restritiva de direitos dependendo das circunstncias do fato.

A suspenso de autorizao ou habilitao para dirigir veculo j era prevista no art. 47, III, CP antes da vigncia do novo Cdigo de Trnsito Nacional (Lei n 9.503 de 23 de setembro de 1997). Com esse novo diploma legal, a suspenso ou proibio de obter habilitao para dirigir veculo automotor pode ser imposta como pena principal, isolada ou cumulada com outras penas (art. 292 do Cdigo de Trnsito Brasileiro). A inteno do legislador foi afastar do trnsito os motoristas negligentes ou imprudentes, que cometem delitos culposos, em face do alarmante crescimento da criminalidade no trnsito, garantindo, com isso, a segurana tanto dos demais motoristas como dos transeuntes. A suspenso de autorizao ou habilitao para dirigir veculo automotor obviamente s aplicvel a quem j as possui. 3.3.4.4 Proibio de freqentar determinados lugares

Com a edio da Lei n 9.714/98, a proibio de freqentar determinados lugares foi inserida dentre as penas de interdio temporria de direitos, disposta no inciso IV do art. 47 do Cdigo Penal. Consiste na vedao do apenado em freqentar determinados lugares, porm urge ressaltar que o impedimento no pode englobar lugares indeterminados ou escolhidos aleatoriamente, devendo o lugar proibido ter relao direta com a conduta criminosa, conforme ressalva Cezar Roberto Bitencourt (1999, p.148): Precisa-se ter presente que, para se justificar a proibio de freqentar determinados lugares, indispensvel que exista, pelo menos em tese, uma relao de influncia crimingena com o lugar em que a infrao penal foi cometida e a personalidade e/ou conduta do apenado e que, por essa razo, pretende-se proibir a freqncia do infrator beneficirio da alternativa pena privativa de liberdade. (grifos originais) Portanto, o juiz dever consignar na sentena o lugar ou lugares os quais o apenado estar proibido de freqentar. 3.3.5 Limitao de Fim de Semana

A limitao de fim de semana uma pena restritiva de direitos que consiste na obrigao de permanecer o condenado, aos sbados e domingos, por cinco horas dirias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado para a efetiva execuo dessa sano (art. 48, CP). A referida pena alternativa objetiva fracionar as penas privativas de liberdade de curta durao, evitando que o apenado seja submetido ao crcere, mantendo-o em casas de albergado ou estabelecimento adequado, durante dez horas do final de semana, sem prejudicar as atividades laborais e o convvio familiar e social do apenado. Durante essa permanncia na casa de albergado, aos apenados podero ser ministrados cursos, palestras ou outras atividades, evidenciando-se, assim, seu carter educativo e ressocializador. Oportuno ressaltar que a limitao de fim de semana tem pouco, ou quase nenhuma, aplicabilidade, em face da inexistncia dos estabelecimentos adequados para sua execuo. Consciente da inexistncia de tais estabelecimentos, o legislador da reforma penal de 1984 concedeu um prazo de um ano para que a Unio, Estados, Distrito Federal e Territrios providenciassem a construo

desses

estabelecimentos,

essenciais

para

a

eficaz

execuo

dessa

pena

alternativa.

Diante da crise econmico-financeira dos Estados e do descaso da Administrao Pblica para com o sistema penitencirio brasileiro, a omisso mencionada nunca foi suprida, inviabilizando a aplicao dessa sano. 3.4 Converso das Penas Alternativas em Privativas de Liberdade

O legislador ptrio, visando garantir a efetiva execuo das penas alternativas, previu, sabiamente, a sua converso em pena privativa de liberdade. Duas so as hipteses que ensejam a converso, previstas nos 4 e 5 do art. 44, do Cdigo Penal. Damsio E. de Jesus (1999, p. 103) aduz que a converso ocorre em ralao a todas as penas alternativas previstas nos arts. 43 a 48 do CP, desde que admitem a transmutao, salvo a multa. Na primeira hiptese, a pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrio imposta (art. 44, 4, primeira parte, CP). Verificado o descumprimento, haver uma audincia para oitiva do apenado, devendo o mesmo apresentar as justificativas que o levaram a descumprir a alternativa penal. Aps a realizao da audincia, o juiz decidir sobre a converso, nos moldes do art. 118, 2 da Lei n 7.210/84 (Lei de Execuo Penal). Na segunda hiptese, sobrevindo condenao pena privativa de liberdade por outro crime, poder ocorrer a converso da pena alternativa em privativa de liberdade. Caso no haja incompatibilidade e for possvel ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior, o juiz poder deixar de aplicar a converso com esteio no art. 44, 5, CP. O art. 181 da Lei de Execuo Penal determina as causas especiais de converso da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade, segundo as hipteses e na forma do art. 45 do Cdigo Penal, ou seja, a pena de prestao de servios comunidade ser convertida quando o condenado: a) no for encontrado por estar em lugar incerto e no sabido, ou desatender intimao pessoal; b) no comparecer, injustificadamente, entidade ou programa em que deva prestar servio; c) d) recusar-se, injustificadamente, praticar a prestar falta servio que lhe foi imposto; e

grave;

e) sofrer condenao por outro crime pena privativa de liberdade, cuja execuo no tenha sido suspensa. A pena de limitao de fim de semana ser convertida quando o condenado no comparecer ao estabelecimento designado para o cumprimento de pena, recusar-se a exercer a atividade determinada pelo juiz ou se ocorrer as hipteses a), d) e e) anteriormente citadas. A pena de interdio temporria de direitos ser convertida quando exercer, injustificadamente, o direito interditado ou se ocorrer as hipteses a) e e) retromencionadas. Reconhecendo o juiz ter sido o descumprimento justificado, dever optar pela no converso, adequando a pena s condies do apenado, concedendo um prazo necessrio sua reabilitao

ou, se for o caso, substituindo a pena imposta por outra mais vivel ao condenado. Essa converso d mais segurana execuo das penas alternativas, evitando que os descumprimentos injustificados fiquem impunes e possibilitando uma defesa social mais efetiva. 3.5 Detrao Penal

Conceituando a detrao penal, Cezar Roberto Bitencourt (1999, p. 168) expressa que a detrao penal consiste no abatimento na pena a ser executada do perodo de tempo j cumprido pelo condenado. O art. 42 do Cdigo Penal fixou os casos em que a detrao penal era aplicvel, quais sejam, o tempo de priso provisria, no Brasil ou no estrangeiro, o tempo de priso administrativa e o de internao em qualquer dos estabelecimentos destinados a tratamento de doenas mentais. Percebese que o legislador no tratou da detrao penal aplicvel s penas alternativas, o que s foi sanado com o advento da Lei n 9.714/98, que a previu da seguinte forma: Art. 44. As penas restritivas de direitos so autnomas e substituem as privativas de liberdade, quando: [...] 4 A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrio imposta. No clculo da pena privativa de liberdade a executar ser deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mnimo de trinta dias de deteno ou recluso. Pretendendo desestimular o descumprimento injustificado da pena alternativa em seu perodo final, o legislador nacional estabeleceu o saldo mnimo de trinta dias de deteno ou recluso referente ao perodo de pena restante a ser cumprido, mesmo que o tempo que falta o condenado cumprir de pena alternativa seja inferior a trinta dias. 3.6 Penas Alternativas e os Crimes Hediondos

A aplicabilidade das penas alternativas aos crimes hediondos um tema muito polmico, que divide os doutrinadores em opinies diametralmente opostas. Uns defendem que as penas alternativas podem ser aplicadas aos delitos de trficos de entorpecentes j que sua pena mnima de 03 (trs) anos em se tratando de condenado primrio, sendo, portanto, inferior ao mnimo de 04 (quatro) anos exigido para que a pena privativa de liberdade possa ser substituda por uma pena alternativa. Alm disso, alegam que esse delito no cometido com violncia ou grave ameaa pessoa e que no justo o intrprete discriminar onde a lei no o fez. O crime de trfico ilcito de substncias entorpecentes foi assemelhado aos crimes hediondos. Com o advento da Lei n 8.072, de 25 de julho de 1990, a aplicao das penas alternativas a tais delitos no tem sido admitida pela repugnncia e os males causados coletividade. Fernando Capez, adepto da teoria da no-aplicabilidade das penas alternativas aos crimes hediondos, prolata o seguinte entendimento (2002, p. 349): Condenao por crime hediondo ou trfico ilcito de entorpecentes: mesmo que a pena privativa de liberdade aplicada seja igual ou inferior a 04 (quatro) anos, no ser possvel a sua substituio por

pena alternativa, uma vez que, de acordo com o art. 2, 1, da Lei n 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos), a pena nesses delitos dever ser cumprida integralmente em regime fechado, o qual , por bvio, incompatvel com a pena alternativa, sem contar que dificilmente os autores desses crimes preencheriam os requisitos do art. 44, III, do CPB, dado que a personalidade do agente, os motivos e circunstncias do crime no indicariam a substituio por pena alternativa como suficiente para uma adequada resposta penal. Os adeptos dessa corrente afirmam que a Lei 9.714/98 modificou apenas a parte geral do Cdigo Penal, arts. 43 e seguintes. Entretanto, a Lei n 8.072/90 estabeleceu regras contrrias s contidas no Cdigo Penal, uma vez que determina que a pena privativa de liberdade imposta ao crime hediondo deve ser cumprida em regime integralmente fechado ( 1 do art. 2). 4. A EXECUO DAS PENAS ALTERNATIVAS NA VARA ESPECIALIZADA DO ESTADO CEAR. 4.1 Criao da Vara e Competncia

Logo aps o advento da Reforma Penal de 1984 (Lei n 7.209/84) surgiram as primeiras iniciativas com o objetivo de incentivar a aplicao de penas e medidas alternativas e estabelecer as bases para a criao de mecanismos eficazes de monitoramento. Iniciadas no Estado do Rio Grande do Sul tais iniciativas propiciaram a gradual concepo de modelos e a adoo de procedimentos que, aperfeioados, serviram como semente germinativa para a disseminao de Varas especializadas na execuo de penas e medidas alternativas, prioritariamente nas capitais e cidades com maior densidade demogrfica. Em Porto Alegre, no ano de 1987, foi implantado o primeiro organismo com a funo especfica e atribuio prioritria de acompanhamento da Prestao de Servios Comunidade. Paralelamente, entre os anos de 1987 e 1991, algumas iniciativas isoladas, embora com feies de programas comunitrios ou estatais foram tomadas no Estado de So Paulo, tanto na capital como em comarcas do interior, de modo especial em So Miguel Paulista e Paraguau Paulista. Igualmente, mesmo antes da edio da Lei 9.099/95, a criao dos Juizados Especiais Criminais, em Mato Grosso do Sul, resultou em significativo aumento da aplicao de penas alternativas e conseqente otimizao dos seus mecanismos de acompanhamento. A criao da Central de Execuo de Penas Alternativas de Curitiba, atravs do Decreto Judicirio n 462, de 22 de setembro de 1997, produziu o modelo que mais influncia exerceu para o surgimento de estruturas congneres em outros Estados, entre as quais a Central de Execuo de Penas Alternativas do Par, criada atravs da Resoluo n 09/98, do Tribunal de Justia do Estado, bem como a Vara de Execuo de Penas Alternativas de Fortaleza. A Vara de Execuo de Penas Alternativas da Comarca de Fortaleza (VEPA-CE) surgiu inspirada nessa experincia bem sucedida da Central de Execuo de Penas Alternativas de Curitiba, sendo criada atravs da Lei Estadual n 12.862, de 25 de novembro de 1998 e dotada de uma infraestrutura apta a fiscalizar e controlar o cumprimento das penas restritivas de direitos. A Vara mantm convnio at o presente momento com 182 instituies recebedoras de prestadores de servios, tendo como objetivo primordial proporcionar a efetiva aplicao das penas alternativas, sobretudo a de prestao de servios comunidade ou a entidades pblicas, bem como a ressocializao dos apenados atravs de um tratamento individualizado.

A VEPA, possuindo como vertente de trabalho a valorizao do indivduo, executa atividades objetivando a reeducao e a reabilitao do apenado por meio de programas paralelos como o de Qualificao para o Trabalho, Tratamento da Sade Mental e Dependncia Qumica e o de Escolarizao. A Vara tem por competncia a execuo das penas restritivas de direitos na Comarca de Fortaleza, inclusive das impostas a rus, nela residentes, que foram processados e julgados em outras unidades judicirias, bem como o monitoramento das penas alternativas aplicadas pelos Juizados Especiais, essa ltima ampliada pelo Provimento n. 01/2004. 4.2 A Em 01 01 02 03 01 01 01 02 03 02 03 01 Oficialas Advogada Diretor Tcnico Auxiliares Atendentes de Assistentes (Defensora de se tratando Setor Secretaria de Juiz Promotora recursos humanos a de de Setor de Composio VEPA em seus da Vara aspectos de Execuo de de Penas Alternativas em:

principais Equipe

funcionamento

organiza-se

Tcnica: de Servio da Vara composta Psicologia Social Vara por: Direito; Justia; Psiclogos; Sociais; Pblica); Secretaria; Judicirio; Judicirios; Judicirios; Justia; Estagirios; Motorista.

Ressalta-se que a VEPA a nica vara que conta com o suporte de uma Equipe Tcnica, consistindo nisso a principal diferena entre a Vara de Execuo de Penas Alternativas e a Vara de Execues

Criminais, 4.3

sendo

tambm

distinta

a Do

forma

de

monitoramento

da

pena. Juiz

A Vara de Execuo de Penas Alternativas da Comarca de Fortaleza tem como seu implantador e juiz de direito titular o Dr. Haroldo Correia de Oliveira Mximo, o qual desempenha de forma brilhante o seu mister, sendo considerado por outras varas de Execues Criminais e de Execuo de Penas Alternativas do Brasil um referencial na aplicao das penas alternativas, auxiliando na implantao de outras varas especializadas no pas. A lei estadual n 12.862, de 25 de novembro de 1998 dispe sobre as atribuies do juiz da Vara de Execuo de Penas Alternativas em seu art. 121 infracitado: Art. 121 Ao juiz da Vara de Execuo de Penas Alternativas cabe:

I promover a execuo e fiscalizao das penas restritivas de direitos e decidir sobre os respectivos incidentes, inclusive das penas impostas a rus, residentes na Comarca de Fortaleza, que forem processados e julgados em outras unidades judicirias; II cadastrar e credenciar entidades pblicas ou com elas conveniar sobre programas comunitrios, com vista aplicao da pena restritiva de direitos e de prestao de servios comunidade; III instituir e supervisionar programas comunitrios para os fins previstos no inciso anterior; IV fiscalizar o cumprimento das penas de interdio temporria de direitos e de limitao de fim de semana. 4.4 O representante do Do Ministrio Pblico titular Ministrio da VEPA a Dra. Vanja Pblico Fontenele.

No processo de execuo penal o Ministrio Pblico responsvel pela fiscalizao da execuo da pena, atuando ainda nos incidentes que porventura surgirem, devendo, inclusive, requerer a converso das penas privativas de direitos em privativa de liberdade nos casos previstos em lei. O art. 147 da Lei de Execuo Penal prev a interveno do Ministrio Pblico na execuo das penas restritivas de direitos. Juntamente com o juiz titular, o membro do Ministrio Pblico atua em todos os programas desenvolvidos pela Vara de Execuo de Penas Alternativas, visando a atingir os fins almejados pela execuo penal moderna, ou seja, a ressocializao do apenado, de modo que estes, ao cumprirem suas penas, trilhem um caminho profissional e pessoal adequado socialmente. 4.5 Do Defensor Pblico

Um detalhe que diferencia o funcionamento da VEPA em relao a qualquer outra vara a presena diria e constante de uma advogada no papel de defensora pblica, atravs da qual o beneficirio pode fazer suas postulaes sem nenhuma demora, tais como, pedido de parcelamento de multa, pedido de substituio de uma pena restritiva de direitos por outra, pedido de mudana na forma de cumprimento da pena etc. Muitos apenados se apresentam na Vara de Execues de Penas Alternativas sem defensor constitudo, fato decorrente da falta de informao ou direcionamento, bem como da escassez de

recursos para o custeio dos nus processuais. Em face disso, faz-se indispensvel a atuao de profissional habilitado para realizar as postulaes que se fizerem necessrias durante a execuo da sentena penal condenatria. O acompanhamento pelo defensor inicia-se na apresentao do apenado secretaria da Vara, inclusive na audincia de encaminhamento, perdurando at o trmino do cumprimento da pena, com a conseqente extino da punibilidade pelo juiz. So possveis durante a fase de execuo da pena um nmero expressivo de postulaes, quais sejam, o pedido de parcelamento ou suspenso da pena de multa; a modificao de uma pena restritiva de direitos por outra restritiva; prorrogao ou suspenso do incio do cumprimento da pena restritiva de direitos; detrao do perodo de priso; pedidos para deprecar a competncia de outra comarca para o cumprimento da pena. Diante disso, desempenha o defensor pblico funo precpua para resguardar os direitos dos apenados, bem como para garantir os ditames do princpio da razoabilidade no exerccio do jus puniendi Estatal. 4.6 A Equipe Tcnica

A Equipe Tcnica composta por profissionais e estagirios de Psicologia e Servio Social, possui como atribuies encaminhar o apenado para o cumprimento da Prestao de Servio Comunidade PSC e Limitao de Fim de Semana; buscar instituies que se disponham a receber os beneficirios, viabilizando o estabelecimento de parcerias com a comunidade; esclarecer as instituies credenciadas em relao PSC e ao beneficirio; prestar apoio ao beneficirio em caso de problemas emocionais e sociais porventura surgidos no decorrer do cumprimento da PSC; visitar as instituies recebedoras, buscando identificar as dificuldades e os problemas relativos ao acompanhamento do cumprimento da PSC; monitorar os beneficirios visitando as instituies nos horrios da prestao do servio, colhendo informaes acerca da freqncia; informar os beneficirios acerca dos programas desenvolvidos pela VEPA (Tratamento de Sade Mental e Dependncia Qumica, Projeto de Escolarizao, Qualificao para o trabalho, outras aes, bem como encaminh-los quando necessrio. Os setores de Psicologia e de Servio Social da Equipe Tcnica, embora trabalhem em conjunto na importante tarefa de encaminhamento e acompanhamento dos beneficirios, possuem funes especficas, cabendo ao primeiro: a) realizar avaliao psicolgica do apenado, atravs de entrevistas e recursos psicomtricos, com a finalidade de subsidiar a sugesto de encaminhamento por parte do servio social; b) realizar atendimento psicolgico, face a demanda levantada por este, incluindo, eventualmente, atendimentos posteriores, face a situaes de crise pessoal que venha a surgir no decorrer do cumprimento da pena etc. J ao Setor de Servio Social cabe: a) realizar o primeiro contato com o beneficirio, atravs de entrevista, a fim de esclarecer as caractersticas e peculiaridades da pena que lhe foi imposta; b) elaborar um estudo social do beneficirio, sugerindo a melhor instituio para receb-lo, de acordo com sua situao pessoal e aptido; c) estabelecer contatos com as instituies adequadas para receb-los; d) acompanhar os beneficirios durante o cumprimento da pena, visitando as entidades conveniadas, detectando as dificuldades enfrentadas por estes e procurando dirimi-las; e) sugerir, quando necessrio, a mudana da instituio em que dever ser cumprida a PSC. Da porque chamamos a ateno para o crucial papel desempenhado pela Equipe Tcnica, qual seja, o de monitorar o cumprimento da PSC e Limitao de fim de semana, quer visitando as instituies

conveniadas,

quer

fiscalizando

as

atividades

desenvolvidas

pelos

beneficirios.

Alm desse monitoramento, a Equipe Tcnica da VEPA desenvolve alguns projetos que visam auxiliar o processo de ressocializao dos apenados, tais como: Qualificao para o Trabalho

Tem por objetivo proporcionar educao profissional atravs de cursos no Plano Estadual de Qualificao PEQ. realizado em duas etapas: a primeira composta por oficina de orientao profissional, desenvolvimento de competncias e empreendedorismo e orientao vocacional; a segunda a participao em cursos profissionalizantes especficos. Para esse programa a Vara possui convnio com as seguintes instituies: Secretaria da Ao Social, Instituto de Desenvolvimento do Trabalhador IDT, Secretaria do Trabalho e Empreendedorismo e Corpo de Bombeiros Militar do Cear. Tratamento de Sade Mental e Dependncia Qumica

Esse programa possibilita o cumprimento da pena imposta a beneficirios cujas condies pessoais exijam atendimento especializado (beneficirios com dificuldades emocionais, cognitivas ou limtrofes). Essas deficincias foram identificadas atravs do perfil psicossocial, no qual percebeu-se que 60% dos beneficirios apresentavam caractersticas de consumo abusivo de lcool, substncias ou drogas ilcitas. Existem parcerias com hospitais e entidades que recebem o beneficirio para o cumprimento da pena, aplicando, paralelamente, o tratamento especfico. Essas entidades so o Hospital de Sade Mental de Messejana (Projeto Elo de Vida), o Desafio Jovem do Cear, o Movimento de Sade Mental Comunitrio do Bom Jardim, os Centros de Ateno Psicossocial SER VI e SER IV e a Fazenda Esperana. H tambm uma portaria assinada pelo Dr. Haroldo Correia de Oliveira Mximo (juiz da VEPA), que dispe sobre a remio da pena de prestao de servios comunidade ou a entidades pblicas, para apenados includos no Programa de Recuperao do Alcoolista, institudo atravs de convnio entre a Irmandade dos Alcolicos Annimos e a Vara de Execuo de Penas Alternativas. De acordo com esta portaria, cada reunio efetivamente freqentada pelo apenado permite a remio de 01(uma) hora na pena a ele imposta, com limite mximo de 04 (quatro) horas remidas por semana. Escolarizao de Apenados

Esse programa busca sensibilizar os apenados para a importncia da escolarizao, aumentando a auto-estima e proporcionando uma capacitao pessoal. Alm disso, o programa procura incentivar a freqncia aos cursos para a remio da pena. H uma portaria, tambm assinada pelo juiz titular da Vara de Execuo de Penas Alternativas, Dr. Haroldo Correia de Oliveira Mximo, que dispe sobre a remio da PSC, para apenados includos no Projeto de Escolarizao, assegurando ao sentenciado includo no projeto, a remio de 01 (uma) hora para cada 03 (trs) horas freqentadas do curso, observando o tempo mnimo de cumprimento de pena (art.46, 4, do Cdigo Penal). Esse programa foi desenvolvido diante da percepo de que cerca de 65% dos beneficirios que cumprem pena alternativa no concluram o ensino fundamental e 13% so totalmente analfabetos. O convnio da Vara firmado com a Secretaria de Educao Bsica do Cear, tem como principal objetivo a efetividade da pena de Limitao de Final de Semana, uma vez que o Estado no possui

casa de albergado ou estabelecimento adequado onde os beneficirios teriam que cumprir cinco horas dirias, aos sbados e domingos. Assim, a permanncia dos beneficirios ocorre no Centro de Educao de Jovens e Adultos Paulo Freire, escola da rede pblica estadual. Os apenados so matriculados nos cursos e, conforme o nvel de escolaridade, so encaminhados para turmas de acelerao ou fundamental II. Outras Aes

Quando a equipe do Servio Social identifica e comprova a carncia de apenados (28% com renda mensal de at um salrio mnimo), h o fornecimento de vales-transporte, para o deslocamento destes at a instituio onde o mesmo cumpre a pena. Ainda h os casos particulares de beneficirios que chegam VEPA para audincias ou entrevistas e alegam no ter condies financeiras de retornar para casa, nesses casos tambm so concedidos vales-transporte. A VEPA possui convnio com o Sindicato das Empresas de nibus do Cear SINDONIBUS. Dados obtidos at maro/2004 j foram disponibilizados para o fornecimento 5.000 vales-transporte. 4.7 O Procedimento nas Penas Restritivas de Direito

Depois de condenado pelo juzo de conhecimento com o arbtrio de sentena pelo juiz da Vara Criminal, o processo segue para a fase de execuo, aps a substituio da pena privativa de liberdade por uma restritiva de direitos, remetido VEPA. Sero recebidos na VEPA, para instruo da execuo, a cpia do inqurito, da Carta de Guia de Execuo de Penas Alternativas e a cpia da sentena, estes documentos comporo novo processo, recebendo nova numerao e distinto nmero de tombo, sendo os autos do processo principal arquivados pela secretaria da sua respectiva Vara. Com a autuao da Guia de Execuo de Penas Restritivas de Direitos e o imediato fornecimento da certido de antecedentes do beneficirio, segue o processo com vistas ao Ministrio Pblico que, observando estar o mesmo em situao regular, requerer a intimao do sentenciado para iniciar o cumprimento da pena. Encerrada essa fase, o apenado encaminhado para a Equipe Tcnica para entrevista, por meio da qual ser sugerida, de acordo com suas aptides e de modo a no prejudicar sua jornada normal de trabalho, a instituio mais adequada para o cumprimento da Prestao de Servio Comunidade. Verifica-se aqui uma verdadeira operacionalizao do princpio constitucional da individualizao da pena. Aps as entrevistas (assistente social e psiclogo) segue o apenado para a defensora, que aps cientific-lo do cumprimento de sua pena, verificar a necessidade da propositura de petio de modo a tornar menos sacrificante o cumprimento da sentena condenatria. Neste momento so possveis inmeras postulaes que sero levadas a efeito no momento da audincia admonitria e de encaminhamento. A fase seguinte a prpria audincia que se procede com a presena do juiz da VEPA, a representante do Ministrio Pblico, a defensora da VEPA, e o prprio sentenciado. Neste momento lavrado um termo em que fica definido o encaminhamento a uma determinada instituio com dias e horrios previamente adequados de modo a no interferir na jornada de trabalho do sentenciado. Ao final da audincia, com a assinatura do termo, o apenado recebe um ofcio de apresentao para que comparea instituio e se apresente a um encarregado da mesma previamente contactado.

Quando acontece de o apenado cumprir a pena restritiva de direitos com irregularidades, faz-se necessria uma nova audincia na qual este explicar ao juzo a razo de no ter cumprido os termos acordados na audincia preliminar, resultando na lavratura de um novo termo denominado de Audincia de Advertncia. Quando se verifica que apesar da advertncia o beneficirio continua cometendo faltas ou qualquer outro tipo de irregularidade se faz necessria a medida extrema de converso da pena alternativa em privativa de liberdade. 4.8 Clculo da Pena de Prestao de Servios Comunidade

O clculo da pena de prestao de servios comunidade feito da seguinte forma: Cada dia de condenao equivale a 01 (uma) hora de prestao de servios comunidade, logo uma pena de 01 (um) ano de deteno o mesmo que dizer que o apenado ter que prestar servios comunidade por 365 (trezentos e sessenta e cinco) horas. Se o apenado for condenado a uma pena de at 01 (um) ano, dever prestar 07 (sete) horas semanais de PSC, logo o cumprimento da pena dar-se- no mesmo lapso temporal estipulado na sentena. Caso lhe seja imputada pena superior a 01 (um) ano, o apenado poder cumprir a PSC trabalhando entre 07 (sete) e 14 (quatorze) horas semanais, desde que o cumprimento da pena no se d em tempo inferior metade da pena privativa de liberdade fixada. 4.9 Monitoramento do Cumprimento das Penas Alternativas

4.9.1 Relao entre a Vara de Execuo de Penas Alternativas e Instituies Conveniadas. Estabelece-se entre a VEPA e as instituies conveniadas uma relao de parceria, por meio da qual os membros da equipe tcnica mantm permanente contato com estas parceiras propiciando uma troca de crticas, solicitaes e sugestes relativas aos servios realizados. Diante do credenciamento de uma nova instituio recebedora, seja por sua localizao geogrfica, por sua carncia de mo de obra disponvel ou outro fator relevante, um representante da Equipe Tcnica entra em contato telefnico com a instituio candidata agendando uma visita para que sejam esclarecidos todos os termos do possvel convnio. Quando necessrio, a visita pode contar com a participao do juiz e/ou promotora da VEPA, acompanhado por tcnicos e/ou estagirios. Na visita inicial, os responsveis pelas instituies recebem esclarecimentos acerca dos servios a serem prestados pelos apenados, sobre a metodologia de ao da vara, sobre os conceitos de penas alternativas e sua execuo. Nesta ocasio so entregues aos responsveis os seguintes documentos: cpias da Lei n 9714/98 e da Lei Estadual n 12.862/98, Folha de Freqncia e Levantamento de Dados da Instituio. Este Levantamento de Dados dever ser, to logo preenchido, enviado VEPA. Quanto Folha de Freqncia so dadas orientaes no sentido de salientar a importncia de seu correto e preciso preenchimento e da pontualidade de seu envio mensal Vara de Execues de Penas Alternativas. Sanadas todas as dvidas e obscuridades, a parceria formalizada atravs de convnio, o qual estabelece compromissos recprocos entre as partes. Ressalta-se que um dos compromissos firmados entre a VEPA e as instituies o de que seja realizado contato prvio ao encaminhamento do apenado para negociao acerca do recebimento do mesmo, sendo facultado instituio sua aceitao ou recusa em face do delito cometido, horrio

disponvel para prestao do servio, demanda, funo etc. admitida tambm a posterior devoluo do beneficirio na hiptese de no adaptao do mesmo qualquer que seja o motivo. Atualmente a Vara de Execuo de Penas Alternativas mantm convnio com 182 (cento e oitenta e duas) instituies recebedoras, pblicas ou filantrpicas, dentre as quais, creches, escolas, hospitais, centros de sade, abrigos, centros comunitrios, agncias de cidadania e outros. 4.9.2 Controle de Freqncia e Contabilidade das Horas de Servios Prestados

O controle de freqncia do apenado realizado atravs da folha de freqncia, que entregue no momento da realizao do convnio. A instituio recebedora orientada e reorientada acerca do seu preenchimento quantas vezes necessrio, a fim de que sejam registrados precisamente os dias e horrios de entrada e sada do prestador de servio, bem como ressaltada a importncia da assinatura do responsvel pelo apenado na instituio. Eventuais faltas cometidas, atrasos, sadas antecipadas e compensaes posteriores tambm devem ser registradas na referida folha. Observa-se que algumas instituies adotam procedimentos diferenciados de controle de freqncia como cartes e livros de ponto. Para assegurar a preciso dos registros e como forma de uniformizar as freqncias dos apenados, solicitado que o responsvel pelo apenado na instituio transcreva mensalmente os registros para a folha de freqncia padro da VEPA. Ao receber as folhas de freqncia provenientes das instituies, a secretaria da VEPA junta estas aos autos processuais e efetua o registro do total de horas trabalhadas na folha de acompanhamento que mantida junto a contracapa do processo. Ao constatar o cumprimento total da pena, a Secretaria da VEPA certifica nos autos e inicia os procedimentos para a extino de punibilidade. 4.9.3 Fiscalizao pelos Integrantes de Equipe Tcnica.

Como forma de monitoramento da execuo das penas alternativas so realizadas visitas peridicas s instituies recebedoras. Tais visitas ocorrem diuturnamente nos sete dias da semana, deslocando-se o agente de fiscalizao at a instituio, sem aviso prvio a esta ou ao apenado. O mapa de fiscalizao elaborado pelos integrantes da equipe tcnica organizado por rotas (no existe a fixao prvia do dia do ms a ser realizado a visita apenas o dia da semana), atualizado bimestralmente e executado da seguinte forma: Dias teis : fiscalizao realizada por estagirios e tcnicos, ficando cada integrante da equipe tcnica responsvel por dia da semana e turno previamente acordado. (No perodo noturno as visitas so realizadas exclusivamente por tcnicos.) Fins de Semana : fiscalizaes realizadas por duas oficialas de justia lotadas na VEPA. O deslocamento do agente de fiscalizao para a instituio efetuado durante a semana em transporte prprio da VEPA. Nos finais de semana, efetuado em veculos particulares das oficialas de justia que recebem ajuda de custo e horas-extras para a realizao da atividade. Na ocasio da visita de fiscalizao, o agente de fiscalizao dirige-se ao responsvel pelo acompanhamento do apenado na instituio e verifica no s a presena do mesmo, mas o efetivo trabalho realizado, bem como seu desempenho; relacionamento deste com dirigentes, demais funcionrios da instituio e clientela; assiduidade e pontualidade; possveis problemas ocorridos, e so registradas quaisquer outras informaes importantes relatadas pela instituio. Estas

informaes so registradas em formulrio prprio e ao final de cada visita, este deve ser devidamente conferido e assinado pelo agente de fiscalizao e responsvel pela instituio. Tais formulrios so arquivados pela equipe tcnica e utilizados no planejamento das fiscalizaes posteriores. Constatando-se faltas no justificadas, os faltosos so contactados por componente da Equipe Tcnica para que esclaream suas ausncias e, em casos de faltas motivadas, apresentem documentos que atestem tal motivao. Neste contato, o apenado poder sanar eventuais questionamentos acerca do cumprimento da pena, desde a localizao da instituio, horrios e procedimentos a serem adotados nos casos de falta justificada, situao em que so instrudos a comunicar previamente a ausncia instituio e posteriormente apresentar documento justificativo. Em casos de abandono imotivado, o contato tem por escopo solicitar o retorno imediato ao cumprimento da pena, alertando-se para os riscos e conseqncias inerentes ao descumprimento do mesmo. 4.10 Fim do Cumprimento da Pena Alternativa.

Verificado o trmino do cumprimento da pena alternativa, a secretaria da VEPA certifica esse fato nos autos. Aps a certificao, ser ouvido o Ministrio Pblico e, emps, sero os autos conclusos para que o juiz determine, mediante sentena, a extino da punibilidade, com a conseqente baixa no sistema informatizado criminal e arquivamento do processo. Caso haja converso das penas alternativas em privativa de liberdade, aps o trnsito em julgado da sentena, os autos so redistribudos Vara de Execues Criminais para os procedimentos cabveis. 5. PROCESSO DE RESSOCIALIZAO DOS APENADOS NA COMARCA DE FORTALEZA No presente captulo ser analisado o processo de ressocializao dos apenados na Comarca de Fortaleza desenvolvido pela Vara de Execuo de Penas Alternativas. Tal anlise baseia-se em questionrios aplicados, no perodo compreendido entre Fevereiro de 2003 e Abril de 2005, pela VEPA aos apenados no trmino do cumprimento da pena alternativa, buscando avaliar os benefcios trazidos pela prestao de servios comunidade e a pena de limitao de fim de semana; se durante o cumprimento da pena de PSC houve algum fato que trouxe satisfao ou constrangimento ao apenado; se houve alguma mudana na vida do apenado com o cumprimento da pena restritiva de direitos; as experincias adquiridas pelos apenados. Buscam ainda estes questionrios traar um perfil psicossocial dos beneficirios, discriminando idade, sexo, situao familiar, grau de instruo, renda familiar, religio e consumo de drogas. Ao trmino do cumprimento das penas de prestao de servios comunidade e limitao de fim de semana aplicado um questionrio junto s instituies recebedoras dessas alternativas penais, ou seja, um feed back das instituies sobre os servios prestados e comportamento dos apenados durante o cumprimento da pena, assim como, os benefcios auferidos em virtude desta experincia. Ressalte-se que a prestao de servios comunidade a pena alternativa de maior aplicabilidade na Comarca de Fortaleza, e a que possibilita uma capacidade de ressocializao mais elevada. Sendo seguida pela pena de limitao de fim de semana, que tambm desenvolve um importante papel nesse processo de ressocializao do apenado, por ser uma medida de cunho eminentemente educativo.

5.1 Ressocializao dos Apenados atravs da pena de Prestao de Servios Comunidade Atravs de convnios estabelecidos entre a Vara de Execuo de Penas Alternativas e as instituies recebedoras, essa pena executada de modo muito eficaz, atingindo seu objetivo primordial que a ressocializao dos apenados, mediante tratamento individualizado. Na Comarca de Fortaleza, conforme dados estatsticos fornecidos pela VEPA, esta pena representa, aproximadamente, 78% de todas as alternativas penais, seguindo-se as penas de prestao pecuniria e limitao de fim de semana. Diferentemente do que ocorre nas penas privativas de liberdade, inmeros so os benefcios alcanados pela prestao de servios comunidade, tais como: a possibilidade de ampliao do crculo de amizades; a aquisio de novos conhecimentos; aprendizado de novas profisses; oportunidade de ajudar o prximo e os mais necessitados; sensao de utilidade e importncia sociedade; reflexo acerca de seus atos; ajuda aos familiares; aquisio de senso de responsabilidade, dentre outros. Flagrante tambm a constatao de que o apenado sente-se motivado e satisfeito diante da possibilidade de auxiliar os mais carentes, sentindo-se com isso estimulado a trabalhar. Outro diferencial que muito agrada aos sentenciados o tratamento que recebem nas instituies e por parte dos integrantes da VEPA, pois no h contra eles discriminao ou indiferena, e sim um trato digno e respeitoso desprovido de qualquer preconceito em virtude do cometimento de um delito. Muitos chegam a alegar que so mais bem tratados nas instituies e na VEPA que no seio familiar. No se pode negar que, embora em nmero reduzido, alguns apenados ainda sofrem constrangimentos durante a execuo da pena alternativa ora em comento. Tais constrangimentos advm do preconceito estigmatizado na sociedade para com os indivduos infratores da lei, o que gera dificuldades em seus relacionamentos interpessoais. Ponto crucial no estudo da aplicao das penas alternativas referente s mudanas na vida dos apenados decorrentes da aplicao de tais sanes, podendo-se perceber a consumao ou no dos fins almejados pela execuo da pena, isto , a sua reinsero no seio social. Vrias mudanas so apontadas pelos apenados, dentre elas a conscientizao e motivao para o no cometimento de um novo delito, a melhora do relacionamento com outras pessoas, um aperfeioamento profissional, desenvolvimento pessoal e equilbrio emocional. Observa-se tambm que alguns conseguem largar as drogas e outros tantos continuam a desenvolver atividade laboral remunerada, propiciando uma vida mais digna a eles prprios e suas famlias. Diante das mudanas ocorridas em suas vidas, muitos apenados passaram a fazer planos para o futuro, como arranjar um emprego com carteira assinada, fazer cursos para obter uma qualificao profissional e, conseqentemente, conseguirem uma vaga no mercado de trabalho, voltar a estudar e viver mais integrados famlia, instituio essencial formao do carter e personalidade do indivduo. Em virtude da experincia adquirida com o cometimento do delito e cumprimento da pena alternativa, os apenados extraem aprendizados como o desenvolvimento atravs do trabalho, a obrigatoriedade do respeito pelo o prximo, ressaltando-se a importncia da influncia exercida pelo seu ciclo de amizade. Tais dados j representam avanos excepcionais no processo de ressocializao destes

infratores. Nas instituies conveniadas so desenvolvidas atividades como segurana, porteiro, auxiliar de servios gerais, zelador, maqueiro em hospitais, almoxarifado, pintor, atendimento ao pblico etc. Esse trabalho executado pelos apenados traz inmeros benefcios s instituies, j que as atividades so exercidas com qualidade e eficincia, muitas vezes melhores do que as exercidas pelos prprios empregados da instituio, sem falar que, por se tratar de um trabalho gratuito, a instituio recebe uma mo-de-obra qualificada sem despender recursos. 5.2 Ressocializao dos Apenados pela Pena de Limitao de Fim de Semana

Essa modalidade de pena restritiva de direitos vem ganhando importncia na Comarca de Fortaleza em virtude de seu carter essencialmente educativo e ressocializador. Atravs de um convnio formado entre a Vara de Execuo de Pena Alternativa a Secretaria de Educao Bsica do Estado do Cear SEDUC, essa pena alternativa vem sendo executada de forma eficaz e satisfatria no Centro de Educao de Jovens e Adultos CEJA Paulo Freire, instituio mantida pela SEDUC e Ministrio da Educao MEC. Mediante o convnio supracitado, a equipe tcnica da VEPA conjuntamente com a equipe do CEJA Paulo Freire, desenvolve um projeto que viabiliza a execuo e uma maior aplicabilidade da pena de limitao de fim de semana, projeto que vem sendo realizado com muito xito. Encaminhado ao CEJA Paulo Freire para cumprimento da pena de limitao de fim de semana, o apenado passa a freqent-lo aos sbados (das 13:00 s 18:00 horas) e aos domingos (das 08:00 s 13:00 horas). Durante esse perodo de permanncia na referida instituio, so ministradas aulas de Matemtica, Ingls, Histria, Geografia, Cincias, Educao Fsica, artes e pinturas, tica, moral e comportamento social, fazendo com que os apenados reflitam sobre suas aes delituosas, buscando sempre elevar sua auto-estima. Ressalte-se que os apenados, alm de um tratamento especial por parte dos componentes da instituio supramencionada, recebem, ainda, vales-transporte para o seu deslocamento ao CEJA. Durante as horas de estudo, lhes so servidos caf da manh (aos domingos), lanche e almoo, sendo todas as refeies de boa qualidade. As aulas so ministradas com base em mdulos e sendo aplicadas provas para o avano nos mdulos da disciplina, comprovando, muitas vezes, o interesse dos apenados pelos estudos. Alm disso, so oferecidas a eles palestras que abordam temas importantes como lcool, consumo de drogas, sade, dentre outros. Por meio do excelente trabalho desenvolvido pela VEPA, SEDUC e CEJA - Paulo Freire, a experincia da execuo de pena de limitao de fim de semana tem se mostrado exitosa quanto ressocializao dos apenados participantes desse projeto, atingindo os fins modernos da pena. Muitos apenados, no decorrer do cumprimento da pena de limitao de fim de semana, conseguem um emprego com carteira assinada, largam as drogas e se reinserem sociedade e famlia. Os professores do CEJA Paulo Freire procuram sempre estimular os apenados a estudar, desenvolver tr