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Revista Química e Derivados - EDITORA QD Origem natural garante evolução de negócios Lastreada por óleos e gorduras obtidos de fontes renováveis, a oleoquímica retoma fatias de mercado nos produtos de consumo e mostra força para disputar aplicações industriais MARCELO FAIRBANKS A produção de derivados oleoquímicos virou o jogo. Mais do que centenária, essa indústria perdera prestígio com o advento da petroquímica, suportada com preços relativamente mais baixos, pelo menos até a década de 1970. Além do preço, os derivados do petróleo e do gás natural foram vistos como modernos, com possibilidades ilimitadas de oferecer variações de moléculas. No entanto, o apelo ecológico devolveu o charme aos produtos obtidos a partir de matérias-primas de origem natural e renovável, ainda que exijam processos mais complexos e sofram com sazonalidades e quebras de safra dos produtos agropecuários. Na visão atual de modernidade, os derivados dos ácidos e álcoois graxos deslocam ingredientes sintéticos das formulações de Divulgação http://www.quimica.com.br/revista/qd419/graxo1.htm (1 de 5)27/8/2007 14:46:30

Origem natural garante evolução de negócios · borracha, sem falar na produção de resinas alquídicas para tintas. ... Reusch salientou que a América Latina é rica em matérias-primas

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Origem natural garante evolução de negócios

Lastreada por óleos e gorduras obtidos de fontes renováveis, a

oleoquímica retoma fatias de mercado nos produtos de consumo e mostra força para disputar aplicações industriais

MARCELO FAIRBANKS

A produção de derivados oleoquímicos virou o jogo. Mais do que centenária, essa indústria perdera prestígio com o advento da petroquímica, suportada com preços relativamente mais baixos, pelo menos até a década de 1970. Além do preço, os derivados do petróleo e do gás natural foram vistos como modernos, com possibilidades ilimitadas de oferecer variações de moléculas. No entanto, o apelo ecológico devolveu o charme aos produtos obtidos a partir de matérias-primas de origem natural e renovável, ainda que exijam processos mais complexos e sofram com sazonalidades e quebras de safra dos produtos agropecuários.

Na visão atual de modernidade, os derivados dos ácidos e álcoois graxos deslocam ingredientes sintéticos das formulações de

Divulgação

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produtos de higiene pessoal e cosméticos, além de mostrar força até em alguns domissanitários.

Hidrogenador de alta pressão da SGS

Nas linhas industriais, o uso já é consagrado em lubrificantes e aditivos para plásticos e borracha, sem falar na produção de resinas alquídicas para tintas.

O mercado mundial reflete o quadro recessivo da economia global. “Os preços estão muito deprimidos, com demanda apenas estável, insuficiente para absorver toda a produção do setor”, avaliou Ramon Vargas Fernandez, gerente regional de vendas da Cognis Brasil.

Cuca Jorge Na Europa, já se fala em excesso de capacidade de álcoois graxos, por exemplo, enquanto as produtoras de óleos e derivados da Ásia atuam com desenvoltura, apoiadas pela disponibilidade de óleo de palma barato. A queda foi recente, pois,

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segundo Fernandez, até 2002 os negócios cresciam muito bem, mantendo os preços equilibrados em todas as linhas. “Para 2003, não esperamos crescimento em nenhum mercado, nem para a Cognis, nem para os concorrentes”, comentou. No entanto, a empresa mantém firme o projeto de ampliar em 20% sua capacidade de álcoois em todo o mundo, além de estar estudando um reforço na oferta de ácidos graxos.

Fernandez: investimentos em capacidade desafiam crise

O Brasil, com produções crescentes de soja e de bovinos, fica em estágio intermediário. A oleoquímica nacional segue limitada às operações básicas de destilação e hidrogenação, restringindo-se à oferta de ácidos graxos mistos, com honrosas exceções. No campo dos alimentos e aditivos alimentares os avanços são mais significativos, com a oferta das recentes gorduras e óleos hidrogenados isentos dos isômeros trans, de periculosidade controvertida. Já na área dos insumos industriais, a situação é mais conservadora.

“Cabe informar, de princípio, que a oleoquímica industrial não concorre com a oferta de alimentos, como óleos comestíveis e margarinas, mas usa subprodutos dessas linhas”, salientou Munir Aboissa, diretor geral da Aboissa Óleos Vegetais, empresa especializada na comercialização de matérias-primas oleoquímicas. “O problema é que em toda a América Latina só existem umas três ou quatro indústrias com portfólio, escala e tecnologia de nível mundial no setor”, lamentou.

No caso brasileiro, a histórica

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deficiência local em ácidos fracionados é justificada pela carência de matéria-prima adequada, pois o óleo mais abundante, o de soja, é limitado a cadeias carbônicas na faixa de C18.

Aboissa: América Latina carece de indústrias de porte mundial

“O ideal seria contar com um suprimento grande e estável de óleo de coco ou de babaçu, de composição mais diversificada, que permite a obtenção de frações mais nobres”, explicou Aboissa. Nesse quadro, os concorrentes asiáticos levam vantagem, operando instalações para mais de 100 mil t/ano de ácidos, enquanto a média nacional oscila entre 5 mil e 10 mil t/ano.

O consultor independente Bernhard Reusch estima a capacidade mundial de oleoquímicos básicos em 6,5 milhões de t/ano, que deve ser mantida pelo menos até 2005. “Enquanto as regiões líderes, Europa, Ásia e EUA mantêm taxas de ocupação superiores a 85%, a América Latina e as demais oscilam de 50% a 60%, em média”, afirmou. A sub-utilização da capacidade existente é explicada no Brasil pela instabilidade econômica crônica.

“Sem contar com produção em larga escala, a América Latina importa grandes volumes de oleoquímicos”, comentou Reusch. Ele citou a exceção dos produtos derivados do ácido esteárico, bem abastecidos, pelo menos no Brasil.

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Reusch: logística prejudica a integração da cadeia produtiva

“O País deixou de ser importador para se tornar exportador de sebo bovino”, explicou. Com isso, a oferta local de ácido esteárico é boa, avaliada por ele em 15 mil t/ano, que representam mais ou menos 60% da produção latino-americana (exceto México). Quase a totalidade da produção é realizada por meio de hidrogenação, permitindo obter produtos de baixo índice de iodo, mais estáveis e com menos cheiro. As antigas linhas de produção de estearina por filtragem sob pressão foram praticamente descontinuadas. Enquanto vai bem a linha esteárica, a do ácido oléico conseguiu triplicar sua produção durante os últimos dez anos, passando de 3 mil para 10 mil t/ano, segundo estimativa do consultor. “Há espaço para crescer mais”, afirmou. Reusch salientou que a América Latina é rica em matérias-primas vegetais e de origem animal, mas apresenta sérios problemas para o aproveitamento regional desses produtos. “As operações logísticas dentro da região, e mesmo dentro do Brasil, são muito caras, a ponto de inviabilizar movimentação de mercadorias de baixo valor”, comentou. “Às vezes, é melhor trazer o produto de Roterdã do que de Manaus.” Segundo ele, há uma possibilidade de desenvolver a indústria oleoquímica na Colômbia, país que enfrenta escassez de óleo diesel. Como a produção de palma (dendê) é grande, Reusch defende o aproveitamento do óleo de palma para a produção de éster metílico, que poderia substituir de 5% a 7% do consumo de diesel. Das amêndoas ou nozes, pode ser extraído óleo de palmiste (palm kernel) suficiente para alimentar uma unidade produtora de álcoois graxos de alta qualidade. “A América Latina importa aproximadamente 250 mil t/ano desses álcoois”, salientou. O insumo é muito usado nas mais recentes formulações de artigos de higiene pessoal e cosméticos.

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Sebo garantido – A expansão do setor de proteínas animais (suínos, bovinos e aves) no Brasil garante a oferta de matérias-primas oleoquímicas, com custos satisfatórios. “Só usamos sebo comprado diretamente de frigoríficos, de primeira qualidade”, afirmou Admir Lovato, diretor da Almad Óleos, Gorduras e Derivados, com fábrica em Araçatuba, no Oeste paulista. Para Lovato, o uso de sebo de boi limpo, sem contaminações, por apresentar cadeias carbônicas melhor definidas permite reduzir o tempo de residência no hidrogenador e economizar no catalisador, com vantagem evidente. No caso dos produtos de graxaria, sempre há mistura de material com restos suínos e vísceras, produzindo variações de qualidade. Já os resíduos de curtume, trazem contaminações atribuíveis ao processamento das peles.

A importância de manter qualidade consistente é explicada pelo fato de a Almad contar com contratos de fornecimento com especificações determinadas por clientes, que não admitem variações.

Cuca Jorge

Lovato: pedidos em carteira já absorvem toda a produção

“Temos produtos de prateleira, mas desenvolvemos produtos de acordo com as necessidades de clientes”, comentou. A hidrogenação, por exemplo, é conduzida a partir dessas encomendas. Nas linhas padrão, o processo é orientado de duas formas: a primeira proporcionando produtos com índices de iodo de 1 a 3, destinadas a usos mais específicos, e outra, indicada para a indústria de borracha, com índices variando de 3 a 8. “Fazemos, em alguns casos, até a bidestilação do ácido graxo”, afirmou. Ao mesmo tempo, Lovato identifica forte pressão para a redução de preços no setor, com base na ampla disponibilidade de produtos no mercado. “Existem até fornecedores informais, que aparecem e desaparecem com facilidade, mas acabam prejudicando as empresas mais sérias”, criticou. Daí a importância estratégica de atuar em produtos menos convencionais. Basta lembrar que, há pouco tempo, o sebo estava cotado a R$ 1,50 por kg, enquanto a estearina saía por R$ 2,00. “Nessa base, era

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melhor revender o sebo do que produzir o ácido graxo”, explicou, salientando que o preço do sebo já voltou ao normal. Já as cotações dos principais oleoquímicos básicos continuam deprimidas. Com isso, embora tenha rodado com a fábrica cheia em 2002, os resultados financeiros da Almad “não foram muito bons”. A empresa está equipada para produzir 10 mil t/ano de ácidos graxos na forma bruta, incluindo o processamento de óleos vegetais, como soja e babaçu. “Se fizermos só ácidos destilados, essa capacidade cai para 5 mil t/ano”, comentou Lovato. Caso operasse apenas com hidrogenados, seria de 6 mil t/ano. O equilíbrio varia conforme a demanda. Embora busque produtos customizados, a Almad embasa boa parte da produção nos ácidos gaxos brutos e destilados. “Muitas empresas oleoquímicas nos procuram porque têm dificuldades crescentes em realizar essas operações por estarem localizadas perto de zonas urbanas, que reclamam contra o mau cheiro”, explicou.

A Almad foi montada em 1993, e depois adquirida por Lovato, que precisou investir em sistemas de proteção ambiental para atender aos requisitos ambientais do Estado de São Paulo. “Tenho concorrentes em outros estados que operam sob fiscalização menos severa, mas estão, com certeza, criando um problema para o futuro”, afirmou. Em 1998, a empresa instalou dois hidrogenadores e um destilador, comprado usado, no qual foram feitas algumas alterações para ampliar a capacidade produtiva e reduzir o consumo de vapor. No processo da Almad, o resíduo ácido é neutralizado e tratado dentro dos parâmetros legais. O material residual sólido é tratado e depositado em aterro classe II. “Estamos desenvolvendo uma aplicação desse resíduo tratado como fertilizante, mas ainda não está em fase comercial”, comentou.

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A empresa também revende óleos de babaçu, palma, linhaça e tungue, além de outros, em menor volume. No caso do babaçu, segundo Lovato, podem ser feitas hidrogenação e destilação, conforme a necessidade dos clientes. O problema da sazonalidade é marcante nessas linhas. “A indústria de tintas e vernizes usa muito óleo de tungue como secativo, mas a produção nacional se concentra em apenas três meses do ano”, afirmou. Recentemente, a Almad ingressou no mercado de ingredientes para domissanitários, com destaque para o ácido sulfônico, o lauril éter sulfato e amidas, importadas a partir do Uruguai. Também álcoois graxos estão sendo importados, sempre com o objetivo de agregar valor à linha de produtos. Também por isso, está investindo em linha própria de oleoquímicos para cosméticos. “Investimos sempre com base no capital próprio a partir da geração de caixa; vamos devagar, mas de forma contínua”, explicou. Depois de ter verificado forte aumento de demanda pelos ácidos destilados, em 2002, Lovato alimenta boas expectativas para os resultados de 2003. “Nossa capacidade já está toda comprometida com os pedidos em carteira”, informou. A preocupação é garantir o estoque de matérias-primas junto aos fornecedores habituais. Origem vegetal – A queixa contra concorrentes informais é reforçada por Ricardo Silva, diretor da SGS Oleoquímica, de Ponta Grossa-PR, operando 750 t/mês de capacidade de destilação, a partir de óleo de soja e borra de refino (soap stock). “Tem empresas trazendo ácido esteárico da Argentina com preços inferiores aos praticados lá, e nem sequer apresentam registro no Conselho Regional de Química”, criticou. Segundo informou, essas empresas aparecem e somem com grande rapidez, não sem criar estragos no mercado. “Junto com elas, há empresas em situação financeira difícil, que acabam vendendo produtos abaixo do nível mínimo de rentabilidade”, disse. Nesses casos, ele espera que a fiscalização de órgãos como a Receita Federal, CRQ e o controle de fronteiras torne-se mais rígida, apoiando a competição saudável. Silva salienta o bom desempenho da demanda por produtos oleoquímicos no Brasil, em contraste com o mercado dos países vizinhos, muito deprimido. “Estamos estudando a colocação de mais um destilador, com encomenda a ser fechada no final deste ano ou no início de 2004”, afirmou. Conforme explicou, a unidade de Ponta Grossa transfere a metade da produção de ácidos graxos destilados para sua unidade de produção de resinas alquídicas situada no Rio Grande do Sul. Como esta foi recentemente duplicada, a destilaria não consegue atender à demanda de mercado. Segundo Silva, os destilados representam 60% dos negócios de ácidos graxos da SGS.

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A hidrólise do óleo de soja oferece produtos de uso alimentícios de alta qualidade, como gorduras vegetais, óleos hidrogenados, e ácido graxo para preparação de lecitina, aplicação esta desenvolvida na Europa. “Temos certificação de produto isento de organismos geneticamente modificados e também de produto kosher”, afirmou. A obtenção de ácido esteárico a partir de óleo de soja é feita tendo por alvo o mercado de aditivos alimentares.

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Contando com hidrogenador moderno, capaz de atuar a 30 kgf de pressão, a SGS consegue obter gorduras alimentícias isentas da forma trans, plenamente hidrogenadas. Atualmente, apesar das controvérsias científicas, creditam-se à forma trans os malefícios das gorduras à saúde humana, daí o interesse em eliminá-la. Segundo Silva, o fato de as operações de cisão (a alta pressão, sem catalisadores), hidrogenação e destilação serem conduzidas de forma integrada, é reduzido o estresse térmico dos produtos, obtidos com tempo de reação menor. “As operações são automatizadas e rastreáveis”, disse. A linha industrial se vale mais do processamento da borra de refino de óleo, obtendo-se ácido esteárico para segmentos diversos, como a produção de estearatos metálicos (para PVC), aditivos petroquímicos, têxteis, domissanitários, lubrificantes, agroquímicos e vários outros, como a fabricação de borracha. Segundo Silva, o esteárico obtido de fontes vegetais é valorizado pela alta pureza (88% na faixa de C18), com baixo teor de ácido palmítico, além da certificação de origem, natural e renovável. “Isso é fundamental nas áreas cosmética e de alimentos”, explicou. O diretor afirmou que a Anvisa está se tornando mais exigente quanto aos controles aplicados aos produtos de origem animal, preocupação justificada pelo aparecimento, no exterior, da doença da “vaca louca”. “A estrutura oleoquímica nacional foi montada com base no sebo, mas a soja, cuja abundância permite reduzir preços está se firmando como alternativa aos consumidores”, comentou. Para 2003, o preço do produto vegetal subiu, pela divulgação de quebra de safra nos Estados Unidos. Silva considera que houve precipitação dos mercados para garantir abastecimento e que a quebra de safra não será tão intensa, com grande possibilidade de os preços da soja voltarem à média histórica. Tão logo consiga ampliar sua capacidade produtiva, a SGS poderá aprofundar estudos para separar compostos saturados dos insaturados. “Os insaturados com duplas e triplas ligações encontram demanda crescente no setor de cosméticos, como bioativos”, informou. Para o mesmo segmento, também poderão ser obtidos esteróis (fitoesterol e tocoferol, por exemplo), usados como pró-vitamínicos e antioxidantes. Gigantes no páreo – Duas das maiores indústrias oleoquímicas do mundo atuam no Brasil em segmentos mais a jusante da cadeia

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produtiva, sem produzir ácidos e álcoois graxos no país. A Cognis, empresa desmembrada da Henkel, traz do exterior ácidos e álcoois graxos para alimentar suas linhas de produtos locais, feitos no sítio de Jacareí-SP, onde mantém hidrogenação e acidificação operantes, e revende uma parte desses produtos para terceiros. Além disso, coordena negócios de importação direta de grandes usuários (Indent). “Verificamos um equilíbrio entre os setores de revenda e Indent com o consumo próprio”, explicou Ramon Vargas Fernandez, gerente regional de vendas da Cognis Brasil. A empresa é muito ativa na conversão de álcoois graxos em tensoativos para vários segmentos de mercado. Embora verifique uma clara tendência para o maior uso de produtos naturais, Fernandez explica que os tensoativos sintéticos são ainda muito usados na Europa, muitas vezes em mistura com os naturais. “Os sintéticos são mais baratos por lá”, justificou, mencionando os detergentes domissanitários e industriais, sem abranger os produtos de higiene pessoal, nos quais os naturais se destacam. Na América Latina, a preferência recai nos tensoativos de origem natural. No caso brasileiro, os álcoois graxos com cadeias carbônicas de C12 a C14 são, em grande parte, direcionados para processos de etoxilação e sulfatação, originando tensoativos para uso doméstico e pessoal. Além disso, o álcool alimenta a produção de aminas graxas, usado, por exemplo, nos amaciantes de roupas. Os álcoois de C16 a C18 são requeridos pela indústria cosmética, também encontrando usos nos domissanitários. A Cognis fabrica em Jacareí uma série de ésteres para vários usos. Maurício Ruiz, gerente de negócios da empresa, destaca a produção de soja epoxidada para plásticos. “Já fizemos algumas exportações de epoxidados”, comentou. O segmento de ésteres atendeu, no passado, à indústria de tintas. Nos últimos anos, esses clientes desenvolveram o uso de óleo de soja diretamente na fabricação de resinas, por medida de economia. Atualmente, a empresa está instalando um novo reator em Jacareí para promover esterificações, visando a produção de ingredientes para óleos lubrificantes sintéticos, um mercado ainda em desenvolvimento no País.

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Cuca JorgeDiferenciação – A Uniqema, resultado da união das divisões de especialidades químicas da ICI e a oleoquímica da Unichema (ex-Lever), mantém seis fábricas de química graxa, espalhadas pela Europa, Estados Unidos e Ásia. “Estamos concentrados em duas grandes linhas sinérgicas: oleoquímicos e surfactantes”, explicou o gerente-geral para o Brasil, Lincoln Gibin Romero. Ele salienta que a meta da companhia é oferecer todos os efeitos e propriedades desejadas pelos clientes. “Isso não implica termos todas as moléculas, mas proporcionar os benefícios desejados”, explicou.

Sem apoio de produção local, a Uniqema reforça a atuação em aplicações diferenciadas, com melhor remuneração. “Estamos crescendo à taxa de 10% ao ano no País, embora tenhamos enfrentado a alta do dólar no ano passado e a atual recessão”,

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afirmou. Ele afirma que a região latino-americana é um forte pólo de crescimento de consumo, exigindo maior participação da companhia, considerada líder em ácidos graxos.

Romero: atuação voltada para oleoquímicos e surfactantes

Aumentar a posição por meio da importação de commodities seria um “caminho fácil”, como afirma Romero. “Poderíamos bancar uma importação pesada de produtos, com os quais provocaríamos um impacto forte, porém de curto prazo, fora o risco de obter um prejuízo considerável”, explicou. O caminho escolhido foi o crescimento sustentado, por meio do desenvolvimento de negócios. Um exemplo é a possibilidade de o Brasil adotar em larga escala o uso de lubrificantes automotivos sintéticos, a exemplo do que acontece na Europa, forte consumidor de ésteres derivados de oleoquímicos. Nos Estados Unidos, a preferência das montadoras de automóveis recai nos produtos de base mineral. “O Brasil ainda não se definiu, mas como as montadoras de origem européia têm forte participação de mercado, é possível que o uso de sintéticos cresça”, afirmou o gerente-geral. Para a Uniqema seria uma situação ideal: esses ésteres consomem ácidos graxos especiais, e exigem o atendimento de normas rígidas e verificação de desempenho.

O gerente de contas da empresa, Gerson Placites Crisci, pondera que o Brasil possui grande capacidade instalada para fazer esterificações, além de contar com enorme suprimento de etanol. “Porém, são instalações de baixa sofisticação”, avaliou. Para a produção de ésteres

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especiais seria preciso investir em uma unidade configurada para o propósito, que representaria um investimento muito elevado. A porta de entrada mais usual da Uniqema no mercado nacional tem sido a fabricação de produtos mundiais por parte de transnacionais. “Quando eles precisam adaptar ou desenvolver uma formulação local eles nos procuram, porque já somos certificados pelas matrizes”, explicou. Isso já acontece no fornecimento de aditivos de extrema pressão e temperatura para lubrificantes industriais.

Com portfólio variado, contendo glicerina, ácidos graxos destilados, poliinsaturados e parcialmente hidrogenados, além de diméricos, polimerizados, ésteres e amidas, a companhia também oferece especialidades como o álcool iso-esteárico.

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Crisci: falta sofisticação na produção local de ésteres

“Para atender o mercado local, estamos construindo um laboratório de suporte de aplicação”, afirmou Crisci. Um produto com boa possibilidade de desenvolvimento local é um rompedor de emulsão óleo/água que pode ser usado na produção de petróleo.

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Marcelo FairbanksTecnologia local – A Miracema Nuodex desenvolve há anos uma cadeia complexa de produtos oleoquímicos de qualidade reconhecida internacionalmente, o que lhe permite manter uma carteira de exportações constante. “É estratégia da empresa manter um nível de exportações da ordem de 30%, de modo a compensar flutuações do mercado interno e absorver impactos cambiais”, explicou o diretor industrial André Rohr.

A empresa tem capacidade instalada para produzir 1.000 t/mês de ácidos graxos, com índice de ocupação média situado entre 45% e 50%. “Temos um consumo próprio de 30% a 35% da produção”, disse Rohr. O restante é vendido para diversos segmentos de mercado, entre os quais se destaca a produção de resinas alquídicas para tintas. O diretor explica que esse consumo depende da relação de preços entre o ácido graxo e o óleo de soja, além da aplicação final da tinta a produzir.

Rohr: processos diversificados permitem obter especialidades

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Outros bons consumidores desses ácidos graxos são os produtores de aditivos para lubrificantes e de sabões de brilho. Também são oferecidos ácidos graxos obtidos a partir do arroz, algodão, babaçu e mamona. “Mantemos a venda de ácidos graxos destilados, apesar da pequena margem obtida, mas o melhor é desenvolver produtos de alto valor agregado”, comentou. A partir da borra de refino de óleo de soja, por exemplo, são obtidos ácidos graxos usados pela Miracema para fazer agentes de flotação para beneficiamento da apatita (rocha fosfática). Segundo Rohr, a demanda é muito boa, mas a baixa oferta de borra limita a expansão. “O Brasil exporta muita soja em grão, e acaba ficando sem os subprodutos aproveitáveis industrialmente”, lamentou. A falta de óleo e dos resíduos de extração já comprometeriam, segundo ele, a produção de ésteres necessários para fazer o biodiesel, uma proposta de cunho ambiental atualmente em fase de crescimento no Brasil. A empresa prefere receber borra já acidulada, de modo a reduzir a quantidade de efluente a tratar. Como nem sempre há produto disponível, apesar do bom relacionamento com fornecedores, ainda promove a acidulação da borra bruta. O óleo de soja é hidrogenado, de modo a aumentar o teor de cadeias saturadas. “Paramos de fazer a estearina, tanto vegetal quanto animal”, disse. O material serve para a fabricação de ésteres metílicos, de largo emprego. Um dos usos mais comemorados pela Miracema consiste no fornecimento de ésteres para a formulação de líquidos de perfuração de poços de petróleo. Já o óleo de mamona pode ser hidrogenado e vendido como tal, ou destilado, para a obtenção do ácido 12-hidroxiestárico, ou na forma do seu éster metílico. “São produtos que têm bom mercado no exterior, mesmo com o dólar por volta de R$ 3”, comentou André Rohr. Um problema dessa linha é a forte variação de preços da mamona, sujeita a flutuações de safra, podendo ir de R$ 1,70 a R$ 3 por kg. O óleo obtido do abate de aves é refinado e frigorificado pela Miracema, encontrando uso como aditivo para óleos lubrificantes automotivos, em razão de suas propriedades. Alguns aditivos são obtidos mediante o processamento de sebo bovino. “Este é usado em quantidade relativamente pequena”, explicou. Há casos de aditivos que são desenvolvidos a pedido de clientes.

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A hipótese de investir no fracionamento de ácidos graxos não é considerada viável pelo diretor, embora identifique demanda crescente pelos produtos obtidos no processo. “É muito caro manter uma coluna de fracionamento”, considerou. A Miracema já possui linhas de cisão a alta pressão, hidrogenação, amidação, acidulação, cloração, oxidação, polimerização, sulfonação e surfurização, entre outros, que lhe garantem amplas possibilidades para a obtenção de derivados. Glicerina sobra – A ampliação da oferta de oleoquímicos proporcionará um conseqüente aumento na oferta de glicerina, obtida pela cisão da matéria graxa. “A glicerina sempre ajudou e afundou o setor”, comentou o consultor independente Berhard Reusch, ao explicar o papel de fiel da balança desse produto no balanço econômico da atividade. Nessa situação, a adesão mundial ao uso de biodiesel poderá provocar um excedente da ordem de 500 mil t/ano de glicerina, com potencial para cortar ao meio o atual nível de preços, estimado por ele de US$ 0,50 a US$ 1/kg. O próprio Reusch descarta qualquer prognóstico catastrofista. “Certamente vão ocorrer mudanças, mas a glicerina mais barata poderá ser usada para novos usos, como a produção de polióis e glicóis, a exemplo do sorbitol”, comentou. Quanto aos aspectos tecnológicos, o consultor não espera grandes novidades no setor. “É uma indústria conservadora em termos de processos produtivos, surgem algumas novidades, mas nem sempre se revelam economicamente viáveis”, explicou. É o caso da esterificação enzimática, que seria conduzida sem aplicação de temperatura e pressão elevadas, sem, no entanto, ter encontrado indústrias interessadas em bancar seus custos. Os maiores avanços ocorreram na aplicação dos oleoquímicos, entre eles a confecção de lubrificantes não-poluentes usados por barcos na Europa, ou a substituição de óleo de cachalote em cosméticos. José Nocito, diretor industrial da Mazbra (G.Mazzoni no Brasil), tradicional fornecedor de equipamentos e unidades fabris completas para saboarias e oleoquímicas, não alimenta grandes expectativas de negócios para os próximos anos. “Tem muito equipamento seminovo no mercado para revenda, isso inibe as encomendas de linhas mais novas”, explicou. Ele aponta como atualização tecnológica as linhas de cisão e

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hidrogenação contínuas, mais eficientes que as antigas, que operavam por bateladas. Mas esses novos produtos exigem suprimento de vapor a 50 kgf de pressão. “Nem sempre o cliente quer mudar a caldeira para um gerador de vapor de alta pressão”, lamentou. Mesmo o mercado de reforma e atualização de equipamentos usados se encontra desaquecido. Segundo Nocito, existe apenas alguma demanda pelos testes de pré-operação e partida de unidades que se encontravam desativadas ou foram transferidas.

Óleos especiais apóiam comunidades e ambiente

O desenvolvimento de oleoquímicos especiais ajuda a conservar a floresta tropical e garante rendimento econômico para pequenas comunidades amazônicas. Desde 1999, a Cognis Brasil desenvolve um trabalho de aproximação e parceria com pequenos grupos populacionais dispersos, aos quais incentivou a prensar sementes de determinadas espécies vegetais, em vez de abater árvores para a venda de madeira.

“A andiroba, por exemplo, dá uma madeira bonita, semelhante ao mogno, mas suas sementes também fornecem óleo de alto valor comercial”, explicou a bióloga Janice Casara, gerente da unidade de negócios Amazon Care Chemicals. O relacionamento direto com as

Cuca Jorge

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comunidades garante a transferência de renda e reforça a mentalidade de preservação da riqueza natural da floresta. Outro exemplo é o aumento da coleta de frutos da copaíba, uma alternativa para os seringueiros, cuja atividade tornou-se pouco remuneradora nos últimos anos. Além do extrativismo, a Cognis promove o reflorestamento de uma área em Rondônia, onde atua simultaneamente com mais ou menos quatro espécies vegetais.

Atualmente, a unidade de negócios mantém em portfólio seis óleos naturais: de andiroba, cupuaçu, pequi, castanha, copaíba e murumuru, com aplicações mais freqüentes na área de

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higiene pessoal e cosméticos. Como vantagens, Janice cita a propriedade hidrofílica de alguns óleos tratados, que permite a sua incorporação a xampús capilares transparentes na proporção de 4%, quando o máximo dos óleos convencionais é de 2%.

Janice: extração de óleo evita o abate de árvores amazônicas

Além disso, há usos na área de nutrição e saúde humana, e até na linha industrial de amaciantes têxteis. “Nesse caso, é possível melhorar propriedades sensoriais e hidrofílicas de toalhas de banho”, comentou, citando o desenvolvimento feito em parceira com uma tecelagem, interessada em oferecer toalhas novas que apresentem boa secagem mesmo antes das primeiras lavagens. Por enquanto, o volume de óleos comercializados pela Amazon Care Chemicals é muito pequeno, mas a idéia está sendo vista com olhos muito bons pelo conselho de administração mundial da companhia. “É um projeto que vai ao encontro da proposta de trabalho da empresa de atuar em atividades sustentáveis”, confirmou o gerente regional de vendas de oleoquímicos Ramon Vargas Fernandez. O aumento da produção será decorrência do desenvolvimento da demanda, exigindo ampliar o número de comunidades parceiras. Além do consumo brasileiro, esses óleos especiais estão sendo exportados, em pequena quantidade para países da América Latina. Os óleos naturais extraídos em quatro Estados da Amazônia – Rondônia, Amazonas, Amapá e Acre – são enviados para a fábrica da Cognis em Jacareí, onde passam por uma etapa de filtração simples. “Queremos vender o óleo o mais natural possível”, explicou Janice. A extração é feita em prensas qeu

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pertencem à cada uma das comunidades (geralmente em parceria com alguma ONG) ou à própria Cognis. A etapa mais crítica é a conservação das sementes antes da prensagem, sujeitas à rancificação e ao ataque microbiológico, que podem prejudicar a qualidade do produto final. “O óleo extraído já é rico em tocoferóis, um antioxidante natural”, explicou a bióloga. Com larga experiência no acompanhamento de comunidades amazônicas, Janice Casara explica que alguns Estados oferecem apoio ao projeto. Também só agora, contando com a presença da Ministra Marina Silva, oriunda da região, o Ministério do Meio Ambiente tornou-se mais sensível à idéia. “Ainda falta uma política forte de desenvolvimento sustentável na região amazônica”, disse.

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