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M uito da criatividade da antropologia e conseqliencia da ten- C sao entr~ duas q~estoes: a 9ue explicao homem universalmente ea /~)_{j: que exphca ~ cultura partlcularmente. S<.>beste aspecto a mUlh~r('7> )i''' nos proporclOnou um dos problemas mals desafiantes a s$<rconsl-<{ )\(. "~ derado. 0 status secundario feminina na sociedade e uma das ver- C'~, dades universais, um fata pan-cultural Mesma neste fato universal. J.: () Jas conce~coe.s cUlturai~ especificas e as simbolizacoes da mul~~r ~ao yf :~/.jj" ext,raor~Jnanamente dl~ersas e mesmo mutuamente contradltonas. \'''''' \f' ::;" Alem dISSO, 0 verdadeJro tratamento das mulheres. e seu poder e ,;,. ~l contribuicao relativos, variam muito de cultura a .cultura e em ).} )- f;:- perfodos diferentes na hist6ria das tradicoes culturais particulares. as dois pontos de vista - 0 fato universal e a variacao cultural - constituem problemas a serem esclarecidos. Meu interesse no problema, certamente, e mais do que acade- mico: desejo ver surgir uma mudanca genuina, a emergencia de uma ordem social e cultural na qual a c1assificacao do potencial hu- mano seja aberto as mulheres tanto quanta aos homens. A univer- salidade da subordinacao feminina, () fato de existir em todo tipo de c1assificaCao social e economica e em sociedades de todo grau de 9<; Bette Denich Carol Stack Joan Bamberger Karen Sacks Louise·Lamphere Margery Wolf Michelle Rosaldo Nancy Chodorow Sherry Ortner A MULHER, A CULTURA E 4 SOCIEDADE Coodenadoras: Michelle Zimbalist Rosaldo e Louise Lam phere Traduciio de Cila Ankier e Rachel Gorenstein EsIA a Mulher Para 0 Homem AsslmComoa Natureza Para a Cultura?

ORTNER, Sherry. Está a mulher para o homem assim como a natureza para a cultura?

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Do livro: "A mulher, a cultura e a sociedade"

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  • M uito da criatividade da antropologia e conseqliencia da ten- Csao entr~ duas q~estoes: a 9ue explicao homem universalmente e a /~)_{j:que exphca ~ cultura partlcularmente. Sbeste aspecto a mUlh~r('7> )i'''nos proporclOnou um dos problemas mals desafiantes a s$
  • ~omp~exidade, in~ica que estamos frente a algo muito profundo eIOfle

    dXlve

    l1e que nao podemos desenraizar simplesmente reclassifi-//

    can 0 a gumas tarefas e papeis no sistema social, ou mesmo reorde- 'nando ,toda a estrutura economica. Neste artigo tento eXpor a'logi-, ~i'ca subJacente do pensamento cultural que assume a inferioridade ) '\(fe~inina~ tento m~strar a natureza altamente per'sliaslvacEil6g1c-a,''(:' ,pOlSse nao Fosse tao persuaslva, as pessoas nao permaneceriam de' "Jacordo com ela. Mas tambem tento mostrar as fontes sociais e cul- turaIS da loglca para mdlcar onde se encontra 0 potencial para amudanca.

    E importante separar os niveis do problema. 0 entrelac;amentopode trazer confusao. Por exemplo, dependendo de qual aspeGto dacultura chinesa nos examinarmos, poderiamos extrapolar uma dasmuitas suposicoes completamente diferentes relacionadasao statusfeminino na China. Na ideologia do taoismo, ao principio femini-no yin _eao .masculino yang e dado ao mesmo peso; "a oposicao, al-ternacao e mteracao dessas duas forcas suscitam todos os fename-nos no. u.niverso" (S.i~,. 1968: 2). Portanto, poderiamos supor que'~ascuhmdade e femmlhdade SaDvalorizados igualmente na ideolo-gla geral da cultura I chinesa. Entretanto examinando a estruturasocial, veremos 0 principio da descenden~ia patrilinear fortementeenfatizada, a importancia dos filhos varoes e a absoluta autoridadedo pai, na fam.ilia: Poderiamos conduir entao, que a China e umasocledade patnarcal arquetfpica. Logo, examinando os reais papeisdesempenhados, 0 poder e a influencia manipulados e as contribui-Goes materiais feitas pelas mulheres na sociedade chinesa - contri-buicOes estas, e preciso ressaltar, absolutamente essenciais - diria-mos que. e atribuido as mulheres urn grande status (nao menciona-: do) no sIstema. Porem, poderiamos fqcalizar 0 fato que uma Deu-

    r!' sa, Kuan Yin, e a divindade fundamental (mais venerada e mais re-presentada) no Budismo chines e estariamos tentados a dizer como~u.itos 0 ten~aram sob~e ~ yeneracao de deus as nas culturas pre-his-tonc~s e socledades pnmltlvas, que a China realmente e urn tipb dematnarcado. Em resumo, precisamos ser absolutamente clarossobre 0 que estamos tentando explicar antes de explicil-Io.

    Podemos diferenciar tres niveis do problema:I - 9 fato universal do status de c1assesecundaria, cplturalmen-

    ~e_atribuido a mulher em todas as sociedades. Ouas questoes sKOImp~rt~nt~s aqui. P.rime,ira,0 que pensamos sobre isso equal e nos-sa eVldencla de que ISS0 e urn fato universal? E seg,unda, como expli-camas este fato, uma vez estabelecido?

    2 - _A.UQ,~_ologiasespecfficas, as simboliza~oes e as c1assificfl-coes socio-estruturais pertinentes as mulheres que variam extraQI-dinariamente de cultura a cultura. 0 problema nesse nivel e para serconsiderado em cada complexo cultural particular em termos dosfatores especfficos aquele grupo - 0 nivel padrao da analise antro-pologiea.

    3 - Detalhes das atividades, contribuil,iOes,poderes, influenciae etc. das mulheres, observaveis em campo, freqiientemente em di-_vergenia~QJ!l_a_is!.~ol~ia cultural !emb,?~.mpre restrita na hi--potese de que ~s mulheres nun~ serao oficia!.!!l~_nteproemine~~~"10 sistema t(),~~ILAtllalmente, este e 0 nive! da obserVal;;3.0direta,frequentemente adotado pelos antropologos de oriental;ao feminis-ta.

    Este artigo esta fundamentalmente relacionado com_Q_p-rim~:::._,ro desses niveis, 0 problema da desvalorizat;ao universal das m_I!H!~__~ Portanto, a analise nao depende de dados culturais especificos,mas na verdadede uma analise da "cultura" tomada genericamentecomo urn tipo especial de processo no mundo. Uma discussao dosegundo nivel, 0 problema da varia

  • dutos e seus meios sociais com menos prestigio do que ps relaciona-,.dos aos homens e as funcoes masculinas correlatas; (,2) esguema~,

    (simbalicos, tais Como a prerrogativa de violac;ao, que~derao se,r, interpretadas implicitamente como uma colocac;ao de ~,~'!Ji~~oe_~j!1:, lenores; e (3) as classlftcac;oes sodo-estruturais que exdluem as mu-Iheres da parti3e.l!.~~o no, ou em contato corn--a!ium domf!1i.o_nQqual reside 0 maior poderda sociedade 2. Estes tres tipos de dadospodem ser naturalmente tnterrelaclOnaaos em qualquer 'sistemaparticular, ainda que naosejam inwrescindiveis. Alem disso, geral-mente qualquer urn deles sera suficiente para salientar a inferiorida-de feminina numa dada cultura. Certamente, a exclusiio feminina

    , dos ritos mais sagrados ou do maior conselho politico, e uma evi-; dencia suficiente. Certamente uma ideologia cultural explicita des-valorizando a mulher (e suas tarefas, papeis, produtos e etc.) e umaevidencia suficiente. Parametros simb6licos tais como a profana-Gao, san comumente suficientes, ainda embora em alguns casos, nosquais digamos, homens e mulheres sao igualmente corrompidos urnpelo outro, urn panimetro posterior e necessario ..,.e tanto quantominhas pesquisas concluiram e sempre viavel.

    Portanto, no computo geral, eu afirmaria Que ach mos as mu-,Iheres subordinadas aos homens em todas as socied~~es conheci-,das. A pesquisa para uma cultura igualitaria genuina provou ser in-frutiiera sem levar em conta 0 matriarcado. Sera suficiente urnexemplo de uma sociedade que tradiciona:lmente postula este aspec-to. Entre os Crow matrilineares, como Lowie (1956) salienta, "Asm ulheres ... tinham postos altamente hontosos na Danca do Sol;das poderiam tornar-se dirigentes da Cerimonia do Tabaco e repre-sentavam, se e que representavam, a parte mais importante do queados homens; algumas vezes elas representavam as anfitrias noFestival da Carne Cozida; elas nao eram excluidas dos trabalhospes ados ou, de medical' ou de procurar POI' revelacoes divinas (p.61). De modo algum, "As mulheres antigamente, durante a mens-truacao, cavalgavam animais inferiores e evidentemente isto apare-cia como uma fonte de contaminacao, pois nao se petmitia suaaproximacao tanto de urn homem ferido como dos que se iniciavamnum destacamento de guerra. Nesta epoca, urn tabu ainda perduracontra sua aproximaciio dos objetos sagrados" (p.44) alem disso,antes de enumerar as direitos femininos de participacao nos vliriosrituais citados anteriormente, Lowie cita uma estranha Danca doSol de Boneca embrulhada que niio se permitia as mulheres de-sembrulhar (p. 60). Prosseguindo nesta trilha encontramos: "De98

    acordo com todos os informantes de Lodge Grass e muitos outro's,a,boneca de propriedade de "Face Enrugada" precedia niio somen-te as outras, mas tambem a todas as bonecas medicinais dos Crow ...Nao se permitia que esta boneca estranha fosse manipulada paruma mulher" (p. 229) J.

    /' Em resumo, os Crow sao .sem ,duvidl;! urn caso bastante tipico.\ Certamente as mulheres possuem certos 'poderes e. direitos, neste

    tcaso alguem as coloca em posicoes inegavelmente elevadas. Contu-

    '" do, no final cai 0 pano: a menstruac;ao e uma ameaca para 0 com-bate, uma das instituicoes maisvalorizadas da tribo, uma das prin-

    , cipais para sua auto-definicii.o; e a objeto mais sagradoda tribo etabu' para a olhar direto e a toque das mulheres.

    Exemplos similares podem ser infinitam1ente multiplicados, po-rem eu penso queja nos desobrigamos de demonstrar que a subor-Jinu-.:iio feminina e universal na cultura. 0 debate esta em abertopara aqueles que quiserem questionar este aspecto propondo exem-plos opostos. Eu assumirei a status secundario universal das rolllhe.-res como urn dadoe da,i prosseguirei.

    Natureza e Cu/tura' ~~n.~\),-,,-;"'t:j ,\';-fc:.:\"k,

  • ~ ~ Si- ~"'" 't:-~ ~~r~,~ f~1f',' '"interpretar a subordinacao feminina sob a luz de outros fatores uni-versais, elaborados na estrutura da situaeao mais generalizada, na,qual todo ser humano se encontra em qualquer cultura. Por exemplo, todo ser humano tern urn corpo fis~~oe urn se'nticio de mentenao fisica, faz parte de uma sociedadecom outros individuos e eherdeiro de uma tradicao cultural, deven-do se engajar em algum re-lacionamento ainda que Iigado com a "nlltureza" ou 0 reino naohumano, a fim de sobreviver. Todo 0 ser humano nalice (de u'mamae).e finalmente morre, todosestao interessados na sobrevivenciapessoal e a s~iedade/cultura tern seu pro'prio interesse para (oupelo menos em alguns mornentosem direeiio a) a continuidade e a.sobreviencia qtae transcende as vidas e as mortes de inlllividuos es- .pecificos, e assim por diante, f:no dominio de tal univ,rso da con-djcao humana que poderiamos procurar umaexplicat;ao pata 0,fato universal da desvalorizacao feminina.

    Em outras palavras,,,-~xplico 0 problema na seguipte questao.simples. 0 que poderia ter havido na estrutura generafizada e.,:nascondicoe~ de existencia comuns a cad a cultura, que P9_Q~!i~.l~a-la~a colocar urn valor inferior sobre a mulher? Especificamente minhatese e qu~ a mulher estll. sendo identificada com ,- QU se se desejar,parecer ser:urn simbolo de -::alguma coisa que cada cultl,lra desvalo~riza, alguma coisa que cada cultura determina como Sc;lldo_.YllliLQI-dem de existencia inferior a siproflria. Aggra parece que ha uma u- .mca coisa que corresponde aque a descrieao e e a "nlltureza" 00sentido mais generalizado. Cada cultura, ou, genericamtnte "cultu-ra" esta engajada no processo de gerar e suster sistemas de rormasde significados (simbolos, artefatos e etc.) por meio dos quais a hu-manjdade transcende os atributos da existencia natural, ligando-asa seus propositos, controlandp-os de acordo com seus interesses.Podemos assim amplamente equacionar a cultura com a noeao deconsciencia humana (isto e, sistemas de pensamento e tccnologia),por meio das quais a humanidade procura garantir 0 controle sobrea natureza.

    Agora as categorias de "natureza" e "cultura", c:ertamente,sao categorias conceituais - nao se pode encontrar limite no mundoconcreto entre os dois estados ou dominios do ser. Nao ha duvidade que algumas culturas estipulam uma oposicao muito mais forteentre as duas categorias, que outras - e tern ate sido questionadoque povos primitivos (alguns ou todos) nao veem ou intuem nenhu-ma diferenca entre 0 estado cultural humano e 0 estado da nature-za. Contudo eu sustentaria que a universalidade do ritual exprime100

    uma afirmai;ao em todas ~s culturas, a respeito, da hab.ilid~de espe- . 'J/y5cificaf!lente humana de aglr sobre e1~e de regula~la, ao mves.de. pa~- ') ,J.sivamente mover-se com, e ser movlda pelos atrlbutos de eXlstencla .'natural. No ritual, namanipulai;ao intencional de formas atributi-vas com 0 fim de regular e manter a ordem, cada cultura afirma que ",r~a relacao adequada entre a existencia humana e as forcas da nature-

    " za depende da utilizai;ao dos poderes especiais da cultura para regu-lar, os processos do mundo e' da vida.

    Urn dominio do pensamento cultural onde estes pontos saomuitas vezes convencionados e aquele dos conceitos de pureza ecorrup~ao. Virtualmente, cada cultura tern algumas dest~s c.ren~as,que em grande parte parecem, (ainda que por certo, nao mtelr~-mente), preocupj:1das com a relacao entre cultura e natureza (veJaOrtner, 1973, n.d.). Urn aspecto bem conhecidoda cren.ca transcul-tural e aquele do "contligio" natural de corrup~ao; deixada em seuspr6prios esquemas, a corrup~ao (para estes prop~sitos gros~eira-mente equiparada a. atua

  • meter e transcender a natureza, se as mulheres sac consideradasparte dela, entao a cultura achara "natural" subordina-las, paranao dizer oprimi-las. Contudo, embora este argumento demonstreter consideravel influencia, parece uma super simplific~ao do fata.Portanto . a formula~ao que eu gostaria de defender e ,elabora, r no )){0',proximo topico e que as mulheres sao consideradas "$.implesmen- "'Y/te" como estando mais pr6ximas da natureza do que~os homens.Isto e, a cultura (ainda assimequacionada relativamente sem ambi-gUidade pelos homens), reconhece que as mulheres sac participan-tes ativas em seus processos especiais, mas aomesmo tempo as con~sidera como sendo mais enraizadas,ou tendo afinidade mais diretacom a natureza.

    A revisao pode ser vista como' desimportante ou ate comum"porem, eu pense que e uma abordagem mais minuciosa de hipote- ,ses culturais. Alem disso, nesses termos, a serie de argumentos ternvarias vantagens analiticas sobre as formula~oes mais simples. Dis-'cutirei isto mais adiante. Poderia simplesmente ser salientado aq uique os argumentos revistos ainda seriam considerados para a des-valorizacao feminina pan-cultural, pois mesmo que as mulheresnao estejam equiparadas com a natureza, sac contudo consideradascomo representantes de uma ordem inferior, como sendo menostranscendentes a natureza do que os homens. Portanto, 0 proximo "

    1.enfoque deste artigo e considerar porque elas podem se~_~.~aI-~s!.~~.>desta maneira.'~"_.----- ('-

    \ ;~

    4 Por que as mUfheres p~recem mais pr,oximas da aaluma, 'L'}17 Certamente, tudo come~a com ocorpo e a func;ao de procria- ,. ~/'

    ~ . < s:aonatural, especifica somente as mulheres. Podemos extrair tres" ) I,l } nive~s de di~cu~sao para as quais este fatoabsoluta.mentefisi?19gicoI ~~ tern Importancla: (l) 0 corpo da mulher e suas[unoes, na m,alO,r par-i b te do tempo mais envolvidos com "especies de vida" parecem colo-'I ,ca-la mais proxima it natureza em contraste com ajisiologia mascu-i .>f ~ lina que 0 liberta mais completamente para assumir os esquemas dat 3cultura; (2) 0 corpo feminino e suas funadaptada para a necessidade do ovulo ao inves de suas proprias ne- :Pcessidades" (p. 24). A menstrua~ao e muitas vezes desconfort

  • Enquanto 0 livro de Beauvoir e ideologico, seu estudo sobre asituacao fisiologiea feminina pareee imparcial e aeurado. Simples-mente e urn fato que, propor:cionalmente, grande parte do corpo fe-minino, em grande porcentagem de sua vida e com algym.- as vezes,grande - onus a sua saude, for~a e estabilidade geral p~ssoal, se re-laciona com os processos naturais em torno da reproducao das es-pecies.

    De Beauvoir prossegue discutindo as implicacoes negativas da"e.scravizacao feminina asespecies" com rela~ao aos projetos nosquais 0 ser humano se engaja, projetos atraves dos quais a cultura egerada e definida. Ela portanto chega no ponto decisivo de seu ar-gumento (p. 58-59):

    Aqui temos a explicac.;ao completa do rnisterio. Nonivel biol6gico uma especie e mantida somente pela cria-cao de si propria sob nova forma; mas esta criacao so-mente resulta na repeticao da mesma Vida em mais in-dividuos. Mas 0 homem assegura a repeticao da Vida en-quanto transcendendo a Vida atraves da EXlstencia (isto'e, orientada para um alvo, para uma acao com sentido);por esta transcendeneia ele cria valores que impedem apura repeticao de todos os valores. No animal, a liberda-de e a variedade d,as atividades do macho $ao em vao,po is nao e envolvido nenhum esquema. Exceto por seusservicos as especies, 0 que ele faz e imaterial. Ainda queservido as especies, 0 homem tambem modela a face daterra, criando novos instrument os, inventancto e moldan-do 0 futuro.

    ~Em outras palavras, 0 corpo feminino parece condena-la aJ)1era reproducao de vida; 0 homem, em contraste, na.9 tendo fun-coes naturais de criacao deve (ou tern a oportunidade d~) basear sua.criatividade externamente "artIficialmente" por meios de simbolos~!Qgtt. Assim agindo, ele cda objetos relativamenie duradou-ras, eternos e transcendentes, enquanto a mulher cria ~eres pereci-veis - os seres h~manos.

    Esta formulacao revela inumeros "insights" importantes. Re-fere-se por exemplo ao motivo inexplicavel porque as atividadesmasculinas que envolvem a destruic.;ao (caca e luta), sao dadas mui-tas vezes maior importancia do que it habilidade feminina de pro-criar, de eriar a vida. Dentro da estrutura de Beauvoir, percebemosque nao e a morte que tem aspecto relevante e valorizado na caca e104

    na luta; porem, e a natureza transcendental (social e cultural) destasatividades, opondo-se a naturalidade do processo do nascimento."Pois nao e dando a vida, mas arriscando-a que 0 homem e elevadoacima do animal; isto e porque a superioridade da humanidade naoe devida ao sexo que gera, pOf(~m ao que mata" (ibid.).

    Portanto, como eu tenho sugerido, se 0 homem, em toda a par-te, e (inconscientemente) associado com a cultura e a mulher parecemais pr6xima da natureza, a razao para estas associacoes nao e difi-cil de compreender, basta considerar as implicac.;oes do contraste fl-siol6gico entre 0 homem e a mulher. No entanto, ao mesmo tempo,a mulher nao pode ser destinada totalmente1:l categoria da natureza,pois e perfeitamente 6bvio que eleseja urn ser humano maduro do-tada de consciencia humana exatamente como 0 homem; ela fazparte da metade da raca humana, sem cuja cooperacao todo 0 pro-cesso sofreria um colapso. Ela pode parecer mais amerce da natu-reza do que 0 homem, mas tendo consciencia, ela pensa e fala; ehigera, comunica e manipula simbolos, categorias e valores.Ela par-ticipa dos dhilogo'slhimarios nao somente corr as mulheres mastambem com os h0mens. Como Levi-Strauss diz, "A rnulher nuncapode tornar-se somente urn signo e nada mais, pois desde que nummundo masculino ela e ainda uma pessoa, e na medida em que eta edefinida como um signo, deve (ainda) ser reconhecida como gera-dora de sign os" (1969a: 496).

    ~Na verdade, 0 fato da plena consciencia humanada Olulher.seu pleno envolvimento e seu compromissocom 0 esquema culturalde transcendencia sobre a natureza, pode ironicamente explicar ou-. tra das ~randes complexidades do "problema feminino" :-.'Llndis-cutivel aceitacao quase universal da mulher de ~,:!~_'p_~ria de~alo: __

    - ~ao. Pareceria pols que ~omo ser humano con~fienle e ~!J1h.m>,,~a cultura, ela seguiu a logica dos argumentg5 dJ! cultyq.,~jJJ-cancou conclus6es culturais junto com os ~.2_'!len:l:.Como Beauvoircoloca (p. 59):

    Ela sendo tambem um ser existenle, senle a necessi-dade de sobrepujar e seu intento nao e repeticao. mastranscende em direcao a um futuro diferente - em seuintimo ela encontra a confirmacao das pretensoes mascu-linas. Ela acompanha os homens nos festivais que ce-lebram osucesso e as vit.6rias masculinas. Sua infelicida-de e ter sido biologicamente destinada para a procriacaoda Vida, quando mesmo ,em sua propria visao da Vida,

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  • nao leva em si as razoes de existencia, razoes que sac maisimportantes que a vida em si.

    Em outras palavras, a consciencia feminina - sua Pa!'ticiPaCao'5~:k:como foi na cultura - e evidenciada em parte pelo simples fato del a .aceitar sua propria desvalorizaeao e endossar 0 ponto de vista dacultura.

    Eu tentei aqui demonstrar uma parte da 16gica desta visao, aparte que surge diretamente das diferencas biol6gicas entre os ho-mens e as mulheres. Em razao do maior envolvimento do corpo fe-minino com a funeao natural que circunda a reprodueao, ela e en-carada mais como elemento da natureza do que 0 homem. Contu-do, em parte por sua consciencia e particip:wao no dialogo social,ela e reconhecida como uma participante da cultura. Portanto elasurge como intermediaria entre a cultura e a natureza numa e;calade trascendencia inferior a do homem.. 2. 0 papel 'Socialjeminino vista como mais proximo da natureza.

    As funcoes tisol6gicas das mulheres, como acabeide argumentar,podem motivar 5 em si maior proximidade da mulher. com a natu-

    . reza, urn ponto de vista como qual ela propria tera de concordar,. como observadora de si mesma e do mundo. As mulheres criam desu.a pr6~r!a. essencia, ~nquanto 0 homem eliyre para ou fon;;ado a,cnar artlflclalmente, IStO e, atraves de meios culturais e ciesta ma-neira manter ~a c~l~ur~. ;Acresce;lt.ando, desejo agor; d(#'monstrarEo.mo as func;o~s flSlologlcas feminmas tendem universalrjente a Ii-

    _....!!!Itar_seu mOVImento social e a contina-las universalment~ a certoscontextos s

  • mae e de outras mulheres a maior parte do tempo, quando na ver-dade a maior parte da profan'a
  • status humano (social e cultural) pode ser cumprida apenas pel oshomens. Nos ainda vemos isto em nossas proprias escolas, onde hituma inversao gradual na propor~ao de. professoras e professoresdurante os estagios~ a maioria dos professores do jardim pe infancia

    c SaG mulheres, a maioria dos professores universitari(j!s suo ho-mens '.

    Ou ainda, tomemos a culinitria. Na esmagadora maioria dassoeiedades a culin

  • ,nino e '!l
  • _,I:!DJ'::I

    .-='ii2sTi;ao !nt~rm~di~ apropriadamente moldada para a func;ao maternal por sua pr6pria sotializa

  • quase todas as culturas as atribuicoes admitidas para seu sexo sacmais estreitamente circunscritas do que as dos homens; e oferecidoas mulheres uma menor variacao de escolha de atividlides e Ihe epermitido urn acesso.
  • , ,

    tura. Ese e entendido como un}status ambfguo entre cullura e natu-reza, pode ajudar a considerar 0 fato que e~ ideologias t simboli~a-(toesculturais e~pec{ficas a mulher pode ocasionalmente ser assocla-da com a cultura e em qualquer ocasiao, muitas vezellldesignadacomo significado polarizado e contradit6rio dentro de urn unicosistema simb6lico. 0 status intermediario, as funcoes t!f?diadoras eos sentidos ambiguos, sao diferentesinterpreta~oes par, finalidadescontextuais diversas da mulher focalizada como intermll:iitiria entrea natureza e a cultura.' .'

    Conclusoo

    Finalizando, ,deve ser enfatizado novamente que todo 0 siste-ma e uma constru~ao da cultura ao inves de urn fato da natureza. Amulher nao esta "narealidade" mais proxima (ou mais distante da)natureza do que 0 homem, ambos tern consciencia e ambos sacmortais. Porem, certamente ha razoes pelas quais ela aparece destemodo, 0 que eu tentei demonstrar neste arti~,? 0 resultado e urnsistema lamentavelmente eficiente de feedback. Varios aspectos dasituaQao feminina (fisica, social e psicologica) contribuem para elaser considerada como mais proxima da natureza, enquanto, por suavez, esta proximidade e incorporada em forma institucionais quelembram sua situaQao. As implicaQoes para as mudanQas sociais sacigualmente circulares: umavisao cultural diferente pode surgir deuma atualidade social diferente; uma atualidade social diferentepode surgir de uma visao cultural diferente. Portanto, e claro que asituaQao deve ser discutidade ambos os lados. Os esforQos dirigidosunicamente na mudan.;a das institui~5es sociais, por exemplo, atra-yeS do estabeJecimento de quotas salariais, ou atraves da aprovaQaodas leis de igualdade de trabalho e salario, nao pode ter efeitos delongo alcance se a linguagem e as figuras culturais continuam a for-necer uma imagem relativamente desvalorizada da mulher. Porem,ao mesmo tempo, os esfor.;os dirigidos somente as mudan.;as depretens5es culturais, por exemplo, atraves do surgimento da cons-ciencia de grupos masculinos e femininos, ou atraves de revisoes demateriais'educacionais e imagens de mass-media, nao podem serbem sucedidos a menos que a base institucional da sociedade mudepara a manuten.;ao e 0 reforQo da visao cultural modificada. Final-mente, tanto homens como mulheres podem e devem sel envolvidosigualmente em

  • cia (formuhu;i\o simh6licas de inferioridade). Nllo diseordaria des Ie ponto de vis-ta aindu que u rilllioriu dos llntrop61ogos sociais provavelmente separariam estesdois tipoN.

    3 Ja que estamos falando de vli,rias injusti\;as, podemos notar que l owie comprousecreta mente esta boneca, 0 objeto mais sagrado do repertorio tnbal, de sua de-positaria, a viuva de "Face Enrugada". Eta pediu US $ 400,00 por ela mas estepre\;o estava mUlto alem dos meios de Lowie e finalmente elea adquiriu por S 80(p.300).

    4 Com todo 0 respeito devido a Levi-Strauss (1969 a, be passim,.5 A teoria semantica utiliza 0 conceito de motiva\;llo do significado, que abrange

    varios modos. pelos quais urn significado pade ser atribuido a um simbolo devi-

    do a certas propriedade Qbjetivas deste simbolo, ao inves de uma associa\;ao arbitniria. De certo modo, todo este artigo e uma pesquisa da motiVa\;110 do significa-do da mulher como um simbolo . perguntando-se por que e atribu/do inconscien-temente a mulher a significancia de estar proxima a natureza. Pala uma coloca-\;aO concisa dos varios tipos de motivacao do significado, veja Ullman (1963).

    6 Uma situacao que freqUentemente serve para tomar ela propria semelhante acrianca.

    7 David M. Schneider (comunicaCao pessoal) esta .preparado para argumentar queo tabu do incesto nao e universal, com base no material da Oceanld, P.ermita-nosdizer. neste momento, entao, que e virtualmente universal.

    8 Eu me recordo de ter meu primeiro professor n059 grau e me lemtHo de ler fica-do entusiasmada po is isto significava estar me tornando mais adulta.

    9 Ninguem parece se importar muito com 0 "sorocidio" -um ponlO que deve serpesquisado.

    10 A questao de Ingham e ambigua em si, uma vez que as mulheres Llmbem sao associadas com os animais: "Os contrastes homem/animal e homem/mulher saoevidentemente semelhantes ... a cae a e a meio, de adquirir tanto rnulheres comoanimais (p. 1095). Uma cuidadosa leitura dos dados sugere que tanto as mulherescomo os animais sao mediadores entre a natureza e a cultura desta tradicao.