OS ANIMAIS TEM ALMA (Ernesto Bozzano) - pdfapi.ning.com/files/*C0I9KbOykQt9Nl6vXPg0TukD0ieciUn7TqL6gHohRy… · manifestações de telepatia ou de assombração, propõe -se a hipótese

  • Upload
    trandan

  • View
    226

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • WWW.AUTORESESPIRITASCLASSICOS.COM

    LIVRO

    ERNESTO BOZZANO

    OS ANIMAIS TM ALMA???

    PREFCIO

    J se observou muitas vezes, a propsito das manifestaesmetapsquicas, em que os homens so agentes ou percipiente, que

    WWW.AUTORESESPIRITASCLASSICOS.COM

  • elas foram conhecidas em todas as pocas e por todos os povos, masno se pode dizer a mesma coisa nos casos em que o papel de agenteou percipiente desempenhado por animais.

    Naturalmente que as manifestaes metapsquicas, em que osprotagonistas so animais, no podem deixar de estar circunscritasem limites de realizao mais modestos do que quando osprotagonistas so seres humanos, pois esses limites correspondem scapacidades intelectuais das espcies animais com as quais os fat osse produzem. Entretanto, eles parecem mais notveis do que sepoderia supor primeira vista. Entre esses fenmenos encontram -se,com efeito, episdios telepticos em que os animais nodesempenham somente o papel de percipiente, mas tambm o deagentes, episdios concernentes a animais que percebem, ao mesmotempo em que os homens, espritos e outras manifestaessupranormais fora de toda coincidncia teleptica e, finalmente,episdios em que os animais percebem, coletivamente com ohomem, as manifestaes que acontecem nas localidadesassombradas. Deve-se acrescentar ainda a estas categorias episdiosde materializaes de formas de animais obtidas experimentalmentee, enfim, aparies post-mortem, de formas de animais identificados,circunstncia que apresenta um valor terico considervel, j quepermite apoiar a hiptese da sobrevivncia da psique animal.

    O exame deste ramo dos fenmenos metapsquicas foicompletamente esquecido at aqui, embora nas revistasmetapsquicas e, sobretudo, nas colees dos Proceedings e doJournal da excelente Society for Psychical Research, de Londres,encontrem-se numerosos casos do gnero, mas esses casos nuncaforam recolhidos, classificados e analisados por ningum, tendo -se,alis, escrito e discutido bem pouco a respeito deles. No h, pois,grande coisa a se resumir relativamente s teorias formuladas a esterespeito.

    Observarei apenas que, nos comentrios de certo caso isoladopertencente classe mais numerosa dos fenmenos em questo, isto, aquela na qual os animais percebem, juntamente com o homem, asmanifestaes de telepatia ou de assombrao, prope -se a hiptese

  • segundo a qual as percepes psquicas dessa natureza extrairiam asua origem de um fenmeno alucinatrio criado pelos centros deidealizao de um agente humano e transmitido em seguida,inconscientemente, aos centros homlogos do animal presente epercipiente.

    Para uma outra classe de fenmenos e precisamente para a dasaparies de formas de animais, supe -se um fenmeno dealucinao pura e simples da parte do percipiente, mas a anlisecomparada dos fatos mostra que, muitas vezes, as formas de animaisso percebidas coletiva e sucessivamente. Elas so, alm disto,identificadas com as de animais que viveram e morreram nalocalidade, e mais, que os percipiente ignoravam que esses animais,vistos nessas condies, tivessem existido.

    Assim sendo, preciso concluir que, de modo geral, as duashipteses de que acabo de tratar so insuficientes para considerar osfatos. Esta concluso de uma grand e importncia terica, pois queela nos fora a admitir a existncia de uma subconscincia animal,depositria das mesmas faculdades supranormais que existem nasubconscincia humana e, ao mesmo tempo, ela nos leva areconhecer a possibilidade de aparies verdicas de formas oualmas de animais.

    Resulta da todo o valor cientfico e filosfico deste novo ramodas pesquisas psquicas. Ele nos permite prever que devemos, antes,consider-lo para estabelecer, em bases slidas, a nova cincia daalma, que ficaria incompleta e mesmo inexplicvel sem acontribuio que lhe trazem o exame analtico e as conclusessintticas relativamente psique animal, o que me reservodemonstrar no momento preciso.

    Intil observar que no pretendo, de modo algum, que estaclassificao - a primeira tentada sobre o assunto - baste paraanalisar a fundo um tema to vasto e de grande importnciametapsquicas, cientfica, filosfica. Rejubilo -me unicamente de terlevado uma primeira contribuio eficaz s novas pesquisas e de tercom isso despertado o interesse de pessoas que se ocupam com estesestudos, favorecendo assim o acmulo ulterior do material bruto dos

  • fatos, o que parece indispensvel para fazer confinar as pesquisassobre este jovem ramo das doutrinas metapsquicas.

    Enfim, se quiser indicar a poca em que se comeou a levar sria considerao as manifestaes metapsquicas dos animais,dever-se-ia indicar o famoso incidente de telepatia canina do qual oconhecido romancista ingls sir Rider Haggard foi o percipiente,incidente que se produziu em condies tais que impossvelduvidar se dele. Como resultado de uma dessas condiesprovidenciais de tempo, de lugar, de meio, que se encontra bastasvezes no comeo da histria dos novos ramos da cincia, surgiu naInglaterra um interesse inesperado, quase exagerado: os jornaispolticos se apoderaram dele e o discutiram longamente, do mesmomodo que as revistas de variedades e as revistas metapsquicas,determinando um ambiente favorvel para as novas pesquisas.

    , portanto, oportuno comear a classificao das`manifestaes metapsquicas dos animais pelo caso teleptico noqual o percipiente foi o romancista Rider Haggard.

    PRIMEIRA CATEGORIA

    ALUCINAES TELEPTICAS NAS QUAIS UM ANIMALDESEMPENHA O PAPEL DE AGENTE

    Caso I - (Em sonho, com indcio aparente de posse) - o casoHaggard, que me limitarei a narrar tal como foi resumido, com amaior exatido, na edio de julho de 1904 da Revue des tudesPsychiques, enviando o leitor que desejar detalhes mais amplos aonmero de outubro de 1904 do Journal of the Society for PsychicalResearch. Ei-lo:

  • O senhor Rieder Haggard conta que se tinha deitadotranqilamente l pela uma hora da madrugada do dia 10 de julho.Uma hora depois, a senhora Haggard, que dormia no mesmo quarto,ouviu o seu marido gemer e emitir sons inarticulados tais como umanimal ferido. Inquieta, ela chamou por ele e o senhor Haggardpercebeu a voz como em um sonho, mas no conseguiu livrar -se dopesadelo que o oprimia. Quando despertou completament e, contou esposa que havia sonhado com Bob, o velho co perdigueiro de suafilha primognita e que ele o vira se debater numa luta terrvel,como se fosse morrer.

    O sonho tivera duas partes distintas. A respeito da primeira, oromancista lembra-se apenas de ter experimentado uma sensao deopresso, como se estivesse a ponto de afogar -se. Entre o instanteem que ouvia a voz de sua esposa e aquele em que despertou, osonho tomou uma forma mais precisa. Eu via, conta o senhorHaggard, o velho Bob estendido entre os canios de uma lagoa.Parecia-me que a minha prpria personalidade saa misteriosamentedo corpo do co, que comprimia a sua cabea contra o meu rosto deuma maneira bizarra. Bob procurava como que me falar e, no sefazendo compreender pelo som, me transmitia, de outro modoindefinvel, a idia de que estava preste a morrer.

    O senhor e a senhora Haggard tornaram a dormir e o romancistano foi mais perturbado no seu sono. Na manh seguinte, nodesjejum, ele contou s filhas o que havia sonhado e riu com elas domedo que a me tivera. Atribua o seu pesadelo m digesto.Quanto ao co Bob, ningum se preocupou com ele, pois que, natarde anterior, tinha sido visto com outros ces da vila e fizera osseus agrados sua dona, como de costume. Quand o as horas darefeio colidiam passou sem que Bob aparecesse, a srta. Haggardcomeou a experimentar alguma preocupao e o romancista a suporque se tratasse de um sonho verdico. Ento se fizeram buscas ativasque duraram quatro dias, no fim das quais o prprio senhor Haggardachou o pobre animal flutuando na gua de uma lagoa, a doisquilmetros da vila, com o crnio fraturado e duas patas quebradas.

  • Um primeiro exame, feito pelo veterinrio, fez supor que oinfeliz animal tivesse sido apanhado em uma a rmadilha, mas seencontraram em seguida provas indiscutveis de que o co tinha sidoapanhado por um trem na ponte que atravessava a lagoa e que foralanado, pelo choque, entre plantas aquticas.

    Na manh de dezenove de julho, um cantoneiro da estrada deferro achara na ponte a coleira ensangentada de Bob. Agora norestava dvida alguma de que o animal morrera na noite do sonho.Por acaso, naquela noite; tinha passado pela ponte, um pouco antesda meia-noite, um trem extraordinrio de recreio que devia t er sido acausa do acidente.

    Todas as circunstncias so provadas pelo romancista por meiode uma srie de documentos.

    Segundo o veterinrio, a morte devia ter sido quase instantnea;ela teria ento precedido de duas horas, ou mais, o sonho do senhorHaggard.

    Tal , em resumo, o caso acontecido com o escritor ingls noqual se encontram vrias circunstncias de fatos que concorrem paraexcluir, de modo categrico, qualquer out ra explicao que no sejaa de Transmisso teleptica direta entre o animal e o homem

    No se podia tratar, com efeito, de um impulso telepticoproveniente da inteligncia de uma pessoa presente, pois queningum assistira ao drama nem fora informado dele, assim como severifica pelo inqurito feito pelo prprio senhor Haggard, como,alis, fcil de presumir, levando -se em conta a hora avanada danoite na qual ele se passou.

    No se podia tratar de uma forma comum de pesadeloalucinatrio, com coincidncia fortuita, pois que as circunstnciasverdicas, que se encontram na viso, so verdadeiramente bemnumerosas, sem falar do fato em si da coincidncia entre o sonho e amorte do animal.

    No se podia tratar de um caso de telestesia graas ao qual oesprito do romancista teria visto, de longe, o desenrolar do drama,pois que, ento, o percipiente seria um espectador passivo, quandono foi assim. Como se pde ver, ele foi submetido a um fenmeno

  • muito notvel de personificao ou de um comeo de possesso.Esse fenmeno, tal como observou o editor do Journal ofthe Societyfor Psychical Research, oferece um paralelo interessant e com aspersonificaes e as dramatizaes observadas to freqentementenos sensitivos ou mdiuns no estado de transe.

    No se poderia, finalmente, falar em sonho premonitrio, pois osenhor Haggard nada sabia sobre o acontecido, do que s soube maistarde quando o cadver do co Bob foi achado, boiando, na lagoa,isto, quatro dias depois do estranho sonho. Com efeito, com essasoluo, no se chegaria a nenhuma explicao: nem o fato dacoincidncia verdica entre o sonho e o acontecimento, nem ofenmeno da dramatizao igualmente verdica do caso, nem o caso,to notvel, de personificao ou possesso.

    Eis as principais consideraes que concorrem para provar, demodo incontestvel, a realidade do fenmeno de t ransmissoteleptica direta entre o homem e o animal. Achei dever enumer -lospara responder quaisquer objees que chegaram de diferentessetores, depois que a Society for Psychical Research acolheu ecomentou o caso em questo. Ao mesmo tempo, as mesmasconsideraes podero servir de regra aos leitores para julgar sobre ovalor da hiptese teleptica relativamente aos casos que se seguiro.

    Caso II - (Em sonho) - 10 de fevereiro de 1885.

    Na primeira segunda-feira do ms de agosto de 1883 (folga docomrcio), achava-me em Ilfracombe. Pelas dez horas da noite, fuideitar-me e adormeci logo. Acordei s dez e meia quando a minhaesposa entrou no quarto. Contei -lhe que acabara de ter um sonho emque vira o meu co Fox estendido, ferido e moribundo, ao p de ummuro. No tinha uma idia exata com relao localidade, todaviaobservara que se tratava de um dos `muros secos que so uma

  • particularidade do condado de Gloucester. Deduzi da que o animalcara do alto de um desses muros, tanto mais que ele tin ha o hbitode pular por cima deles. No dia seguinte, tera -feira, recebi em nossacasa (Barton End Grange, Nailsworth) uma carta de nossagovernanta que me avisava de que Fox no aparecia h dois dias.Respondi imediatamente, ordenando -lhe que mandasse dar as maisminuciosas buscas possveis. No domingo, recebi uma carta que meescrevera na vspera e na qual ela me informava que o co foraatacado e morto por dois buldogues, na noite da segunda -feiraprecedente.

    Voltei para a minha casa quinze dias aps e comecei logo umrigoroso interrogatrio do qual resultou que, na segunda -feira emquesto, pelas cinco horas da tarde, uma senhora vira dois buldoguesatacarem e estraalharem ferozmente o meu co. Uma outra senhora,que morava no longe de l, contou que, pelas nove horas da noite,descobrira meu co morrendo perto de um muro que ela me indicoue que eu via pela primeira vez. Na manh seguinte, o co haviadesaparecido. Soube a seguir que o dono dos buldogues, sabendo doque acontecera e temendo as conseq ncias, tivera o cuidado demandar enterr-lo pelas dez e meia da mesma noite, hora doacontecimento que coincidia com a do meu sonho.

    E. W. Phibbs

    O caso que acabo de narrar foi citado vrias vezes peloprofessor Charles Richet no seu Tratado de metapsquicas com o fimde demonstrar que ele podia ser explicado pela criptestesia, sem quefosse preciso supor um fenmeno de telepatia em que o animaltivesse desempenhado o papel de agente e o seu dono o depercipiente. Richet observa a respeito: muito ma is razovel suporque a noo do fato que atingiu o seu esprito em lugar de admitirque a alma de Fox foi abalar o crebro do senhor Phibbs. (p. 330)

    Pela expresso a noo do fato, o senhor Richet se reporta suahiptese de criptestesia segundo a qual as coisas existentes, assimcomo o desenrolar de toda ao no mundo animado ou inanimado,

  • emitiram vibraes sui generis, perceptveis para os sensitivos, que,dessa maneira, estariam teoricamente em estado de conhecer tudo 0que se produziu, se produz e se produzir no mundo inteiro.

    Respondi a essa hiptese em um longo artigo publicado naRevu Spirite (1922, p. 256), onde constatei essa oniscincia,suposta, das faculdades subconscientes, demonstrando, pelo examedos fatos,.que as faculdades em questo e ram, ao contrrio,condicionadas e, portanto, limitadas, pela necessidade absoluta da`relao psquica, isto , que, se no existisse anteriormente algumlao afetivo, ou, em casos mais raros, relaes de simplesconhecimento entre o agente e o percipient e, as manifestaestelepticas no podiam verificar -se. Em seguida, reportando-me aocaso acima, continuava assim dizendo:

    Exclui-se que o pensamento do co, voltado com uma ansiedadeintensiva para o seu protetor ausente, tenha sido o agente quedeterminou o fenmeno teleptico, ou, em outros termos, se excluique a coisa tenha podido verificar -se graas existncia de uma`relao afetiva entre o co e o seu dono, ento no se pode deixarde perguntar: por que o senhor Phibbs viu, justamente naquela noi te,seu co agonizando e no viu todos os outros animais que, durante amesma noite, agonizavam certamente um pouco por todas as partes? impossvel responder esta pergunta de outra forma seno a dereconhecer que o senhor Phibbs no viu tal coisa porque nenhumarelao psquica, de qualquer sorte que seja, existia entre ele e osoutros animais: ele viu, ao contrrio, a agonia do seu co porquelaos afetivos existiam entre ele e o animal e porque, naquelemomento, o animal agonizante voltava intensamente o seupensamento para o seu protetor ausente, circunstncia que no temnada de inverossmil e que, ao contrrio, demonstra que o pobreanimal moribundo desejava urgente socorro.

    Parece-me que o bom fundamento destas concluses permaneceincontestvel. De todo modo, os nossos leitores acharo na presenteclassificao numerosos exemplos de diferentes espcies, queconfirmam amplamente a minha man eira de ver, ao passo quecontradizem a hiptese de uma criptestesia onisciente.

  • Caso III - (Em sonho) -Tiro o seguinte caso do livro do SenhorCamille Flammarion intitulado Linconnu et les problmaspsychiques (O desconhecido e os problemas psquicos)

    Posso citar-lhe ainda um fato pessoal que me perturbou bastantequando aconteceu, mas, como desta vez se trat a de um co, talvez euesteja errado em tomar o seu tempo. Peo -lhe que me desculpe emme perguntando onde param os problemas.

    Era ento moa e possua muitas vezes, em sonho, uma lucidezsurpreendente. Tnhamos uma cadela de uma inteligncia poucocomum. Era particularmente afeioada a mim, pois a acariciavamuito. Certa noite sonho que ela morre e que me olha com olhoshumanos. Ao acordar, disse minha irm: Lionne morreu, via -a emsonho, verdade. Minha irm riu e no acreditou em mim.Chamamos a governanta e lhe dissemos que chamasse acachorrinha, que no apareceu. Procurada em todas as partespossveis, apareceu, finalmente, morta em um canto. Ora, na vsperaela no estava doente e o meu sonho no podia ter sido provocadopor nada.

    K. Lacassagne, Dutant em solteira (Castres).

    Tambm neste caso, a hiptese mais verossmil a de que oanimal agonizante voltou ansiosamente seu pensamento para a dona,determinando assim as impresses telepticas, percebidas por ela emsonho; todavia esse episdio bem menos probante que o anterior,tanto mais que, desta vez, no se acha em presena de detalhes demodo a eliminar a outra hiptese, a de um possvel fenmeno declarividncia, em sonho.

  • Caso IV- (Impresso)- Eu o extraio da Light (1921, p. 187). Oseu narrador o sr. F. W. Percival, que escreve:

    O senhor Everard Calthorp, grande tratador de cavalos puro -sangue, no seu ltimo livro inti tulado The horse as comrade andfriend (O cavalo como companheiro e amigo), conta que ele possuaj h alguns anos uma magnfica gua chamada Windermere, qualera profundamente ligado e que era retribudo com um transporteafetivo de modo a conferir ao caso aqui apresentado um carterrealmente emocionante. Quis a infelicidade que a gua se afogassenuma lagoa perto da herdade do senhor Calthorp, que expe assimas impresses experimentadas no trgico momento:

    s trs e vinte da manh de 18 de maro de 1913, despertei, desobressalto, de profundo sono, no por causa de algum rudo oualgum latido, mas por um pedido de a juda que me transmitia - nosei como - a minha gua Windermere . Apurei os ouvidos e nopercebi o menor rudo naquela noite calma, mas, assim que desperteicompletamente, senti vibrar, no meu crebro e nos meus nervos, oapelo desesperado de minha gua. C ompreendi deste modo que elase encontrava em perigo extremo e que invocava auxlio imediatomeu. Vesti o sobretudo, calcei as botas, abri a porta e pus -me acorrer pelo parque. No ouvia latidos nem gemidos, porm sabia, deum modo incompreensvel e prodi gioso, de qual lado vinha essaespcie de `telegrafia sem fio . Retiniam sempre mais fracamente nomeu crebro e, quando cheguei margem da lagoa haviam cessado .Buscando na gua da lagoa, percebi que ela estava ainda enru gadapor pequenas ondas concntricas que atingiam a margem e, no meiodela, percebi uma massa preta que se precisava sinistramente naprimeira claridade da alvorada. Compreendi logo que se tratava docorpo de minha pobre Windermere e que, infelizmente, eurespondera muito tarde ao seu apel o, pois ela estava morta.

    O sr. F. W. Percival, reproduzindo esta narrao na revista Light(1921, p. 187), observa:

  • Sem dvida, nos casos iguais a este, falta -nos o testemunho doagente, mas isto no impede que as trs regras de Myers, destinadasa distinguir os fatos telepticos daqueles que no o so, sejam todasda mesma maneira aplicveis ao caso de que nos ocupamos. As dita strs regras so as seguintes: 1 - que o agente seja encontrado numasituao excepcional (aqui o agente lutava contra a morte); 2 - que opercipientes tenha experimentado algo de psiquicamenteexcepcional, inclusive uma impresso de natureza a fazer conhecer oagente (aqui a impresso que revela o agente manifesta); e 3 - queos dois incidentes coincidam no ponto de vista do t empo (estacondio igualmente satisfeita).

    Poder-se-ia acrescentar que o fato do impulso teleptico foibastante preciso e enrgico para despertar o percipiente de um sonoprofundo e fazer-Ihe perceber imediatamente que se tratava de umpedido de socorro da parte de sua gua e orientar os seus passos,sem nenhuma hesitao, para o teatro do drama. No parece entoque se possa pr em dvida a origem realmente teleptica doacontecimento.

    Caso V - Tirei-o do Journal of the Society for PsychicalResearch, vol. XII, p. 21. Lady Carbery, esposa de lorde Carbery,envia do castelo de Freke, condado de Cork, a seguinte narrativadatada de 23 de julho de 1904:

    Durante uma quente tarde de domingo do vero de 1900, fui,depois do almoo, fazer a minha costumeir a visita s estrebarias afim de distribuir acar e cenouras aos cavalos, entre os quais seachava uma gua assustadia e nervosa chamada Kitty e de que eugostava muito. Uma grande simpatia existia entre ela e eu, que amontava todas as manhs, antes do almoo. Eram excursestranqilas e solitrias ao longo de colinas pendendo para o mar esempre me pareceu que Kitty gostava, como a sua dona, dessespasseios na frescura matinal.

  • Na tarde de que se trata, saindo das estrebarias, segui sozinhapelo parque, percorrendo um quarto de milha e me sentando emseguida sombra de uma rvore, com um livro muito interessante,pois era minha inteno permanecer ali umas duas horas. Depois deuns vinte minutos, um sbito influxo de sensaes penosas veio seinterpor entre eu e a minha leitura, ao mesmo tempo em queexperimentava a certeza de que algo de penoso tinha acontecido minha gua Kitty. Busquei afastar tal impresso, continuando aleitura, mas a impresso aumentou de tal forma que fui obrigada afechar o livro e a me dirigir para as estrebarias. Uma vez l chegada,fui logo para o boxe de Kitty e encontrei -a estendida no cho,sofrendo e necessitando de uma assistncia imediata. Fuiimediatamente buscar os rapazes da estrebaria, que se achavamnuma outra seo, afastada do imvel, os quais acorreram, a fim deprestar ao animal os cuidados necessrios. A surpresa deles foigrande ao ver-me aparecer na estrebaria pela segunda vez,circunstncia inteiramente inslita.

    Lady Carbery

    O cocheiro que cuidou da gua, n aquela ocasio, assim confirmaa supracitada narrao:

    Era ento cocheiro do castelo de Freke e sua senhoria vieram ,durante tarde, distribuir, segundo o seu costume, acar e cenourasaos cavalos. A gua Kitty achava -se solta no seu boxe e emexcelentes condies de sade. Logo depois, voltei para o meualojamento, em cima das estrebarias, e os empregados delas forampara os seus quartos. Depois de meia hora ou quarenta e cincominutos, fiquei surpreso ao ver voltar sua senhoria que acorria parame chamar, assim como aos rapazes, a fim de que fssemos socorrerKitty que se achava estendida no cho, vtima de um mal sbito.Entrementes, nenhum de ns havia entrado nas estrebarias.

    Edward Nobbs

    Este segundo caso menos sensacional que o primeiro: aimpresso teleptica experimentada por lady Carbery foi tambm

  • menos precisa, entretanto ela foi bastante forte para dar a percipientea convico de que as sensaes que ela sentia indicavam que a guaKitty tinha necessidade de urgente assistncia e para faz -la decidirse a correr imediatamente para o local. Ora, essas circunstncias deordem excepcional e de uma significao precisa e sugestiva sosuficientes para autorizar a concluir em favor do carter telepticodo presente caso.

    Caso VI - (Impresso) - Este caso apareceu na Light (1915, p.168). O senhor Moldred Duke, conhecido sensitivo e autor deartigos bem profundos sobre assuntos metapsquicas, relata oseguinte fato que lhe aconteceu:

    H alguns dias, fui levado a escrever at uma hora avanada eestava absorvido pelo assunto de que tratava quando fui literalmenteinvadido pela idia de que a minha gata tinha necessidade de mim.Levantei-me e fui procur-la. Depois de ter feito, inutilmente, avolta pela casa, passei para o jardim e, como a escuri do me impediade ver, passei a cham-la. Percebi um fraco miado distncia e,cada vez que eu repetia o meu chamado, o miado me respondia, masa gata no apareceu. Voltei para casa, a fim de apanhar umalanterna, e atravessei em seguida o quintal, dirigi ndo-me para umlocal de onde me pareciam vir os miados. Depois de algumasbuscas, achei a minha gata numa cerca, presa por um lao estendidopara coelhos, com os ns lhe apertando o pescoo. Se ela tivesse seesforado para se livrar dele, teria se estrang ulado. Felizmente teve ainteligncia de no se mexer e de enviar, ao contrrio, ao seu dono,uma mensagem de pedido de socorro, pelo telgrafo sem fio.

    Trata-se de uma gata a que sou muito afeioado e esta no foi aprimeira vez que uma relao teleptica se fez entre ela e mim.

    H alguns dias, ns a supnhamos extraviada, pois no aencontrvamos em lugar algum, em vo chamando -a em todas aspartes. De repente, por uma espcie de fotografia mental, eu a vi

  • prisioneira numa pea vazia nos entulhos da casa , pea que ficavaquase sempre fechada. A viso era verdica. A gata, no se sabecomo, tinha se fechado l. No tinha ela, porm, enviado, aindadesta vez, uma mensagem teleptica para me avisar de sua priso?

    Para este caso, nada mais preciso dizer, po is no possvelduvidar da gnese teleptica das duas impresses sensoriaisrecebidas pelo autor da narrao.

    Caso VII - (Impresses) - Tiro-o do Journal of the Society forPsychical Research (vol. XI, p. 323). O sr. J. F. Young comunica oseguinte caso que lhe pessoal:

    Possuo um co fox-terrier de cinco anos de idade, pelo qualtenho muita afeio. Sempre gostei dos animais e, sobretudo, dosces. O co de que falo me dispensa tal afeio que no posso ir aqualquer parte e mesmo sair do meu quarto sem que ele me sigasempre. um terrvel caador de ratos e, como a despensa svezes freqentada por tais roedores, coloquei l uma caminha para oFido. No mesmo lugar, havia um fogo de cozinha onde havia sidointroduzido um forno para fazer pes, as sim como uma caldeira paraa limpeza, munida de um tubo que terminava na chamin. Nodeixava nunca, noite, de levar o co para o seu leito, antes de medeitar.

    J havia trocado de roupa e ia deitar -me quando fui de repenteassaltado pela sensao inexpl icvel de um perigo iminente. Nopodia pensar outra coisa seno em fogo e a impresso era to forteque acabei por ser dominado por ela. Vesti -me novamente, desci epassei a inspecionar o apartamento pea por pea para certificar -mede que tudo estava em ordem. Chegando despensa, no vi Fido,supondo que ele pudera sair de l para subir para o andar de cima,porm em vo chamei por ele. Fui na casa de minha cunhada parapedir-lhe notcias, mas ela no sabia de nada. Comecei a sentir -meinquieto: Voltei logo para a despensa e chamei vrias vezes pelo

  • cachorro, inutilmente. No sabia mais para que lado ir, quando,repentinamente, me passou pela cabea que, se havia alguma coisaque pudesse fazer o animal responder, era a frase: Vamos passear,Fido?, convite que o punha logo contente. Pronunciei ento estafrase e um gemido sufocado, como enfraquecido pela distncia,chegou-me aos ouvidos. Renovei o convite e ouvi distintamente olamento de um co em aflio. Tive tempo de certificar -me de que olamento vinha do interior do cano que fazia comunicar a caldeiracom a chamin. Eu no sabia como agir para retirar o co de l: osminutos eram preciosos e a sua vida estava em perigo. Muni -me deum martelo e comecei a derrubar a parede no local exato. Consegui,finalmente, com bastante dificuldade, retirar Fido de l, meiosufocado, sacudido por esforos de vmitos, a lngua e o corpointeiro negros de fuligem. Se eu tivesse me demorado por maisalguns momentos, meu cozinho querido estaria morto e, como nose serve seno muito raramente da caldeira, eu no teriaprovavelmente nunca sabido para qual fim fora feita. Minha cunhadaacorreu com o barulho e ambos descobrimos um ninho de ratoslocalizado no fogo, ao lado do cano. Fido, evidentemente, teriaperseguido um rato at o interior dele, de tal maneira que ficarapreso sem poder voltar e sair dele.

    Tudo isto se passou j h alguns meses e foi ento publicado naimprensa local, mas eu no teria nunca pensado em comunicar estefato a essa Sociedade se no tivesse acon tecido, entrementes, o casode sir Rider Haggard.

    J. F. YoungNew Road, Llanella, 13 de novembro de 1904.

    A senhora E. Bennett, cunhada do signatrio, confirma anarrao do seu parente.

    Para outros informes sobre es te episdio, envio o leitor aoJournal of the Society for Psychical Research, vol. XI, p. 323.

    Este quarto caso de telepatia por uma impresso diferesensivelmente dos que o precederam e nos quais o trao

  • caracterstico essencial do impulso teleptico consistiu na percepoexata de um apelo emanado de um animal em perigo e dalocalizao intuitiva do lugar em que ele se achava. Aqui, aocontrrio, a impresso que teve o percipiente lhe sugere a idia deum perigo iminente em relao com fogo, todavia a impresso bastante forte para o levar a se vestir apressadamente e irinspecionar a casa, de modo que, chegando cozinha e seapercebendo da ausncia do co, o chama, o procura e salva.

    Resulta da que, neste caso, a mensagem teleptica se verifica demodo imperfeito, adquirindo uma forma simb lica, o que noacrescenta nada ao seu valor intrnseco, pois que esta circunstnciano constitui, de modo algum, uma dificuldade terica. Sabe -se,com efeito, que as manifestaes telepticas, na sua passagem dosubconsciente ao consciente, seguem o canal de menor resistncia,determinado pelas idiossincrasias especiais do percipiente. Elasconsistem, sobretudo, no tipo sensorial ao qual pertence opercipiente (visual, auditivo, motor, etc.), em seguida, nas condiesdo meio nas quais ele vive (hbitos, repetio dos mesmosincidentes durante a vida cotidiana). Segue -se da que, quando oimpulso teleptico no chega a se realizar na forma mais direta, elese transforma em uma modal idade de percepo indireta ousimblica, que traduz, com maior ou menor f idelidade, opensamento do agente em questo. Isto exposto, dever -se-ia dizerque, no caso que examinamos, o apelo ansioso do co em perigoconseguiu impressionar a subconscincia do percipiente, mas, paraatingir a sua conscincia, tinha de perder uma gra nde parte da suanitidez, transformando-se em uma vaga impresso de perigoimediato com alguma relao com fogo o que correspondia ainda realidade, j que o animal estava efetivamente aprisionado e emperigo de morte por asfixia no cano do forno.

    Caso VIII - (Auditivo) - O dr. Emile Magnin comunica aosAnnales de Sciences Psychiques (1912, p. 347) o seguinte caso:

  • Acabo de ler, com muito interesse, a narrao do caso do coBobby, publicado nos Annales. Um caso mais ou menos semelhanteme foi contado, h alguns anos, pelo sr. P. M., advogado de grandetalento. Eu lhe dou um breve resumo dessa narrativa, certo de que,por sua analogia com o caso Bobby, interessar aos seus leitores.

    O sr. P. M., advogado na Corte de Apelao, possua umacadela espanhola chamada Creole, que ele costumava conservarperto de si em Paris e que dormia no corredor, detrs da porta do seuquarto de dormir. Cada manh, ao primeiro movimento do seu dono,ela arranhava a porta e gemia at que a porta lhe fosse aberta.Durante um perodo de caa, o sr. P. M. deixou a cadela Creole emRamboullet, aos cuidados do seu guarda -caa.

    Pela manh de um sbado, cedo, o sr. P. M. ouviu arranhar egemer na porta do seu quarto e, muito surpreso por ouvir a suacadela ali, levantou-se imediatamente, convencido de que o seuguardacaa fora a Paris para lhe comunicar algo de urgente. Grandefoi o seu espanto por no ver o guarda nem o animal. Dez horasdepois chegava um telegrama do guarda comunicando que Creolefora acidentalmente morta por um ca ador.

    Tambm este episdio, no qual a alucinao verdica foi denatureza auditiva, no parece possvel duvidar -se da origemrealmente teleptica da manifestao, e, no que diz respeito scondies nas quais o episdio se verificou, til observar que e lasdemonstram que o impulso teleptico foi, ainda uma vez, denatureza indireta ou simblica. Reportando -nos s consideraes quetemos desenvolvido a este respeito, diremos aqui que, como a cadelamorta tinha, quando viva, o costume de arranhar a porta d o quartodo seu dono e at de gemer, enquanto ela no fosse aberta, resultada que o impulso teleptico no chegou a se verificar de mododireto e se concretizou de modo indireto e simblico, commodalidades de realizao que eram as mais familiares aopercipiente e em relao com o pensamento do agente. Observo aquique a circunstncia de uma lei fundamental das manifestaestelepticas, realizando-se rigorosamente, mesmo quando se trata de

  • um agente animal, oferece grande valor terico, pois difcil n o sededuzir da que, se as manifestaes telepticas animais seequiparam s mesmas leis que as manifestaes telepticashumanas, resulta a identidade da natu reza do elemento espiritual emao, em ambas circunstncias.

    Caso IX - (Auditivo-coletivo) - Destaco no quarto volume,pginas 289/90, do Journal of the Society for Psychical Research, oseguinte caso narrado pela senhora Beauchamp, de Hunt Lodg,Twiford, numa carta dirigida senhora Wood, de C olchester,narrao da qual extramos o trecho a seg uir:

    Megatherium o nome de meu cozinho hindu que dorme noquarto de minha filha. Na noite passada, acordei subitamente aoouvi-lo saltitar no quarto. Eu conhecia bem a sua maneira de saltitar,muito caracterstica. Meu marido, por sua vez, no tardou adespertar. Interroguei-o, dizendo-lhe: Voc ouve isto? e ele merespondeu: Meg. Acendemos logo uma vela, procuramos portodas as partes, mas no pudemos ach -lo no quarto porque a portadele estava bem fechada. Ento me ocorreu a idia de que algumadesgraa sucedera a Meg. Tinha o pressentimento de que ele haviamorrido naquele momento mesmo. Consultei o relgio para precisara hora e pensei que devia descer e ir imediatamente assegurar -me deminha intuio, embora isto me parecesse um absurdo, e, depo is,fazia tanto frio... Fiquei indecisa um instante e o sono voltou.

    Pouco tempo devia ter-se escoado quando algum veio bater porta. Era a minha filha que, com uma expresso de grandeansiedade, exclamou: Mame, mame, Meg est morrendo.Descemos a escada de um salto e achamos Meg virado de lado, comas pernas esticadas e rgidas, como se j estivesse morto. Meumarido levantou-o do cho e se certificou de que o co ainda estavavivo, mas ele no chegou a verificar o que tinha sucedido.Verificou-se finalmente que Meg, no se sabe como, tinha enrolado

  • a correia de sua pequena veste em torno do pescoo de tal modo quequase se estrangulou. Ns o libertamos imediatamente e, logo que oanimal pde respirar, se reanimou e se restabeleceu.

    De agora em diante, se me acontecer experimentar sensaesprecisas desta natureza a respeito de algum, proponho -me acudirsem demora. Juro ter ouvido o saltitar to caracterstico de Megperto da cama e meu marido pode afirmar a mesma coisa.

    Para maiores detalhes sobre este caso, envio o leitor ao citadonmero do Journal.

    Ainda neste caso, cuja gnese claramente teleptica parece forade qualquer dvida (tanto mais que, desta vez, as pessoas quereceberam as impresses auditivas foram duas), neste caso ainda,digo eu, a manifestao teleptica se realiza sob uma formasimblica, isto , um apelo urgente de socorro, partido da mente docozinho agente, chega at ao percipiente transformado em um ecocaracterstico do saltitar que o animal fazia cada manh junto aoleito dos seus donos.

    Ora, incontestvel que uma percepo teleptica destacategoria, dadas as circunstncias nas quais ela se produziu, nopoderia constituir a expresso exata do pensamento do agente, massomente uma traduo simblico -verdica do pensamento domesmo. Com efeito, lgico e natural pensar que um animal a pontode morrer estrangulado, tenha voltado intensivamente seupensamento para aqueles que eram os nicos que podiam salv -lo,no sendo, ao contrrio, admissvel, de modo algum, que o animal,naquele momento supremo, tenha pensado, ao contrrio, nospulinhos que ele tinha o costume de dar todas as manhs junto aoleito dos seus donos.

    Caso X - (Auditivo, com coincidncia de percepo luminosa) -Tiro o seguinte caso do volume VIII, pgina 45, d os Annales desSciences Psychiques, que o reprodu ziram da revista italiana IIVessillo Spiritista:

  • A srta. Lubow-Krijanowsky, filha do general do mesmosobrenome e irm da srta. Wera Krijanowsky (atualmente senhoraSemenoff), contou-nos o seguinte caso que lhe aconteceu e que serefere debatida questo da alma dos animais.

    Trata-se de uma cadelinha que era predileta de ns todos,sobretudo de Wera, e um pouco por causa desta afeio e agradosexagerados, o animal caiu doente. Sofria de sufocaes e toss ia, maso mdico veterinrio que tratava dela esperava que a enfermidadeno fosse perigosa. Entretanto, Wera se preocupava muito e selevantava durante a noite para lhe fazer frices e lhe dar o seuremdio, embora ningum pensasse que ela fosse morrer.

    Certa noite, o estado de Bonika (este era o nome da cadelinha)piorou de repente. Ns ficamos preocupados, sobretudo Wera, eento resolvemos que, logo pela manh, a leva - ramos aoveterinrio, porque, se assim no fosse, ele s viria noite.

    Ento, pela manh, Vera e a nossa me partiram com oanimalzinho doente, enquanto eu ficava e me punha a escrever.Achava-me to absorvida que me esqueci da partida delas, quando,de repente, ouvi-a tossir no quarto vizinho. Era l que se achava asua caminha e, depois que ficara doente, mal comeava a tossir ou agemer que algum de ns ia ver do que estava precisando, dando -lhede beber o remdio ou ajustando um curativo que tinha no pescoo.

    Levada pelo costume, levantei -me e aproximei-me da caminha.Vendo-a vazia, lembrei-me de que mame e Wera haviam partidocom Bonika e fiquei perplexa, porque a tosse tinha sido to forte eto distinta que era preciso afastar qualquer idia de engano.

    Estava ainda pensativa, diante da caminha vazia, quando, pertode mim, fez-se ouvir um desses gemidos com que Bonika nossaudava quando regressvamos, depois, um segundo que pareciaprovir do quarto vizinho, enfim, um terceiro lamento que pareciaperder-se ao longe.

    Confesso que fiquei sobressaltada e possuda por um tremorpenoso, depois me veio a idia de que o animal morrera. Olhei parao relgio, que marcava cinco minutos para o meio -dia.

  • Inquieta e agitada, fui para a janela e aguardei os meus comimpacincia. Vendo Wera voltar sozinha, corri ao seu encontro e lhedisse queima-roupa: Bonika morreu. Como que voc sabe disto?,perguntou-me ela, espantada. Antes de responder -me, perguntei-lhese sabia a hora precisa em que o animal havia expirado. Algunsminutos antes do meio-dia, foi a resposta, e ela me narrou o que sesegue:

    Quando elas chegaram casa do veterinrio l pelas onze horas,esse j havia sado, mas a empregada pediu -lhes insistentemente queo esperassem, visto que, l pelo meio -dia, o seu patro deveriavoltar, como era de cos tume. Ento ficaram, mas, como oanimalzinho se mostrasse sempre mais agitado, Wera o punha ora nodiv, ora no assoalho, e consultava o relgio com impacincia.Afinal, com grande alegria, viu que faltavam poucos minutos para omeio-dia, quando ela voltou a ter sufocao. Wera quis coloc -la nodiv, mas, na ocasio em que a levantava do cho, viu, de repente,que tanto o animalzinho como as suas mos ficaram inundadas poruma luz prpura to intensa e to viva que ela, no compreendendonada do que estava acontecendo, gritou: fogo! Mame no viu nada,porm, como estivesse de costas para a lareira, pensou que a suaroupa tivesse pegado fogo e se virou, espantada, mas logo depois viuque Bonika acabava de morrer, o que fez com que mame nocensurasse Wera pelo seu intempestivo grito e pelo med o que lhahavia causado.

    Fao observar que este fato se reveste, por sua vez, de certocarter simblico. Nada de mais freqente, com efeito, que essescasos de transformao mais ou menos aberrante dos impulsostelepticos combinem com as idiossincrasias especiais dospercipientes. Todavia, quando os episdios desta natureza serealizam entre criaturas humanas, cujo agente um morto, permitido supor que eles possam acontecer algumas vezes pelavontade do agente, que se conformariam assim com asidiossincrasias do percipiente e que, quaisquer que fossem asmodalidades pelas quais esses episdios se manifestassem,dependeriam sempre do fato de que um impulso teleptico deve

  • seguir necessariamente `a via de menor resistncia para chegar conscincia do percipiente.

    Nas colees desses casos publicados pela Society for PsychicalResearch, acha-se um episdio no qual uma entidade espiritual semanifesta, simultaneamente, de trs maneiras diferentes, a trspessoas, das quais uma s percebe o esprito dela, outra lhe ouve avoz que pronuncia uma frase de saudao, ao passo que a terceirasente um suave perfume de violetas, coincidindo com acircunstncia de que o cadver da entidade, no seu leito de morte,fora literalmente coberto de violetas. Ora, em tais cir cunstncias,seria racional supor que a entidade que se manifestava tenha agidocom o propsito deliberado, em manifestaes diversas, tudo deconformidade com as idiossincrasias pessoais dos percipiente, isto ,que ela se tenha manifestado sob uma forma objetiva pessoa do`tipo visual, que tenha transmitido uma frase de saudao pessoade `tipo auditivo e que tenha, enfim, engendrado uma sensaoolfativa na pessoa cuja via de menor resistncia era constituda pelosentido do olfato. O incidente que t orna plausvel esta varianteexplicativa se acha constitudo pela frase de saudao que percebe apessoa do `tipo auditivo, frase que pode dificilmente ter sido criadana passagem da subconscincia conscincia de um nico impulsoteleptico, ao passo que tudo se explicaria facilmente supondo -seque a frase em questo tenha sido pensada e transmitida pelaentidade comunicante.

    Voltando ao caso relatado mais acima, observo nele umacircunstncia que de fato complica a sua interpretao terica: queBonika morreu nos braos de sua dona. Isto leva a pensar que nodeveria haver, no animal doente, motivos emocionais que pudessemfazer com que voltasse o seu pensamento para outra pessoa dafamlia que ficara na casa, determinando assim um impulsoteleptico. Nestas condies, dever-se-ia concluir da que, muitoprovavelmente, se produz nos animais o que acontece muitas vezesnas criaturas humanas, isto , que o enfermo determina, ao morrer,manifestaes telepticas pelo nico fato de dirigir um pensamentode tristeza para o meio afastado no qual viveu longa e felizmente.

  • Observo, todavia, que, no caso de criaturas humanas, haveria umaoutra explicao que seria de natureza, no teleptica, mas esprita,isto , que, em circunstncias especiais, o esprito do mo rto, logoque livre dos laos corporais, voltaria ao meio no qual viveu,esforando-se por fazer conhecer a sua presena aos seus familiares.

    Quanto ao fenmeno luminoso percebido pela moa que tinhaBonika nos braos, no momento da morte, ele no se acha no meiodas manifestaes que acabamos de examinar, embora, de um outroponto de vista, no deixe de ser interessante e sugestivo, j quefenmenos anlogos se realizam muitas vezes no leito de morte decriaturas humanas.

    Caso XI - (Visual) - Colho o seguinte fato em um interessanteartigo da senhora Elisabeth Esperance, publicado pela Light no seunmero de 22 de outubro de 1904, pgina 511:

    Uma nica vez aconteceu-me algo de semelhante numa prova`pessoal da presena, em esprito, de um animal que e u conheceramuito bem em vida. Tratava-se de um fox-terrier, grande favorito deminha famlia que, em conseqncia da partida do seu dono, o tinhadado a um dos seus admiradores que morava a uma centena demilhas de nossa casa.

    Um ano depois, quando eu ent rava, certa manh, na sala dejantar, vi, com grande espanto meu, a pequena Morna que corriapulando em volta do quarto e parecia estar presa de enorme alegria.Pulava, pulava sempre, ora se metendo debaixo da mesa, ora seintroduzindo debaixo das cadeiras , assim como tinha o costume defazer nos seus momentos de excitao e alegria, depois de umaausncia mais ou menos longa da casa. Conclu da, naturalmente,que o novo dono de Morna a havia levado nossa casa ou que, pelomenos, a cadelinha conseguira s ozinha achar o caminho de sua

  • antiga casa. Interroguei a esse respeito vrios membros de nossafamlia, mas ningum sabia de nada, de forma que achei deverprocur-la por todas as partes e mesmo chamar pelo seu nome, masMorna no apareceu. Foi-me dito ento que eu devia ter sonhado ousido vtima de alguma alucinao, depois do que o incidente foiesquecido.

    Vrios meses, um ano talvez, se passaram antes que acontecesseencontrar-nos com o novo dono de Morna, ao qual pedimos notciasdela. Contou-nos ele que Morna havia morrido em conseqncia deferidas recebidas durante uma luta com um canzarro. Ora, pelo quepude verificar, a luta deu-se na mesma data ou bem pouco tempoantes do dia em que eu a vira (em esprito) correr, pular, girar emtorno da sala de sua antiga morada.

    Esta narrativa relembra a ltima considerao que fiz a respeitodo exemplo anterior, isto , que, no caso das criaturas humanas,poder-se-ia s vezes supor que no se trata precisamente de umaalucinao teleptica reproduzindo a forma do agente, mas antes, doprprio esprito do agente que, logo que liberto dos laos da matria,voltou ao meio em que vivera, procurando assinalar a sua presenaaos seus familiares. Ora, embora no se trate de uma criaturahumana, porm de uma cachorrinh a, preciso reconhecer que amaneira com a qual se comporta o fantasma - correndo e pulando noquarto, presa de um acesso de alegria, como a cadelinha viva tinha ocostume de fazer - depois de uma longa ausncia, sugereirresistivelmente a idia da presen a espiritual do animal morto.

    E, aqui, a fim de prevenir qualquer objeo possvelrelativamente a esta suposio, que poderia parecer, primeira vista,gratuita ou audaciosa, recordo que, na introduo desta obra, jpreveni os meus leitores de que narr arei, no momento chegado,alguns bons exemplos de aparies post -mortem, de formas deanimais identificados, que foram percebidos, quer coletivamente porvrias pessoas, quer sucessivamente por diversos percipientes queignoravam, reciprocamente, a experi ncia dos outros. Segue-se daque esses fatos, absolutamente conformes ao que se produziu nas

  • aparies, post-mortem, de espritos humanos, justificam econfirmam a suposio que acabo de aventar.

    Caso XII - (Visual) - O seguinte caso foi tirado dos Proc eedingsof the Society for Psychical Research, vol. XN, p. 285, e narradopela senhora Mary Bagot. Ei-lo:

    Em 1883, achavamo-nos alojados no Hotel des Anglais, emMenton. Havia deixado na minha casa, em Norfolk, um cozinhofox-terrier amarelo e preto chamado Judy, meu grande favorito, e oconfiara aos cuidados de nosso jardineiro. Certo dia, quando meachava sentada mesa do hotel, percebi de repente que o meucozinho atravessava a sala e, sem refletir, gritei: Como que vocest aqui, Judy? No havia , entretanto, nenhum co no lugar. Breveestava na casa de minha filha, que se achava acamada e sofrendo, elhe contei o caso. Alguns dias aps, recebi uma carta na qual me eranarrado que Judy, depois de ter sado de manh com o jardineiropara fazer o seu passeio habitual e, no estando muito bem, foraatingido por um mal sbito, pela hora do almoo, e morrera em meiahora. Bastante tempo decorreu para eu me convencer de que o virano instante mesmo em que expirava.

    A filha da senhora Bagot, senhora Wodehouse, a pedido dosenhor Frederic Myers, lhe enviou o dirio do que tomara notadurante a sua estada em Menton. Ali escreveu a respeito do casoacontecido com a sua me, nestes termos: 24 de maro de 1883.Mame, durante o jantar, viu a figura de Judy! A m esma senhoranarra a Myers suas recordaes sobre o caso, do qual tiro asseguintes linhas:

    Recordo-me perfeitamente de que meu pai, minha me, minhairm (Srta. Algernon Law) e minha cozinheira (srta. Dawnay)entraram todos no meu quarto e me contaram, ri ndo, que mamevira Judy atravessar a sala quando estava sentada mesa do hotel.Minha me estava de tal modo certa de que vira algum, que meu

  • pai, creio eu, foi perguntar a um empregado do hotel se havia cesno estabelecimento, o que lhe foi respondido negativamente.

    (Para outros detalhes a este respeito, envio os leitores ao volumeVII, p. 243 dos Proceedings of the Society for Psychical Research)

    Este caso , em tudo, semelhante ao precedente, s que destavez a forma do cozinho morto se limita a atr avessar o aposento,sem dar qualquer sinal de ter conscincia do meio em que se achava,nem da presena de sua dona, modalidade de manifestao passivaconforme a que se produz nas alucinaes telepticas propriamenteditas, ao passo que, no exemplo preced ente, o animal se comportoude modo espontneo e `ativo, de modo a mostrar a sua presenaespiritual no lugar.

    Caso XIII - (Visual tctil, com telecinsia) - O astrnomoCamille Flammarion comunicou aos Annales des SciencesPsychiques (1912, p. 279) a seguinte narrao que lhe foi enviadapelo sr. G. Graeser, residente em Lausanne, na Sua:

    Permiti-me relatar-vos um pequeno fato que diz respeito smanifestaes de que falais no vosso livro Linconnu et lesproblmes psychiques. No vos falaria dele se tivesse visto um casosemelhante na supracitada obra.

    No se trata de uma pessoa, mas de um animal... Um poucosolitrio, amando o estudo e no o mundo, no tenho amigos, mastive um s: um co, que era mais inteligente do que muitos homens.Era o meu guardio. Durante a noite, quando ficava sozinho econtemplando o cu, ele estava fielmente deitado aos meus ps, como seu espesso plo (era um So Bernardo) me cobrindo as pernas, deforma que me era difcil mexer quando precisava seguir a marcha deuma estrela. Se estivesse no meu quarto e lendo, ele ficava sentado,olhando-me, e eu direi mesmo que me compreendendo. Sentia queele gostava tanto da solido quanto eu, por isto no nosseparvamos.

  • Vou fazer-vos esta exposio para que possais compreender aminha afeio por ele e por que o considerava como um amigo. Eis,pois, a minha narrao:

    Foi em dezembro de 1910, precisamente no dia 14, que minhame levou o meu Bobby com ela. Devo observar, antes de tudo, quetinha o desagradvel costume, quando algum se aproximava, de semostrar para com ele um tanto agressivo; em segundo lugar, que,quando eu discutia com meu pai, ele tomava parte na disputa e secolocava seriamente ao meu lado.

    Por motivo de uma queixa, penso eu (s o soube muito tarde,para meu pesar), meus parentes resolveram mandar abat -lo.

    Aconteceu numa noitinha, s 7 horas e meia. Eu estava no meuquarto e ouvi a porta abrir -se (ele a abria sozinho, pois era to altocomo eu, medindo 1 metro e 80). Ento, escutei a porta abrir -se e viaparecer o meu Bobby, com ar de sofrimento, no limiar da porta.Gritei: Vem, Bobby!, sem levantar os olhos, mas ele no meobedeceu. Repeti ento a minha ordem e ele veio, esfregou -se nasminhas pernas e deitou-se no tapete. Quis acarici-lo, mas... ele noestava l.

    Ainda que eu nunca tenha lido hi strias iguais em incomumprecipitei-me para fora de meu quarto, deixando a porta aindaaberta, e telefonei para Lausanne (dois quilmetros), ligando para ogalpo do abatedouro, e eis textualmente o meu rpido dilogo:

    - Al, fala do abatedouro.- O senhor viu a uma senhora de preto com um co Sao -

    Bernardo?-Acaba-se de abater um deles, ha dois minutos apenas. Est

    deitado, e a senhora perto.A estas palavras, ca de costas e desmaiei. Quando voltei ao meu

    estado normal, chamei pelo meu co. Ele no se achava l estavamorto. Depois me foi contado todo o drama

    Tal a histria de meu Bobby. E de se notar que no mesmominuto em que morria, eu o via com meus prprios olhos e o queafasta qualquer idia de alucinao a p orta aberta por ele prprio

  • (O senhor Flamnrarion pediu a um professor da Universidade deLausanne que fizesse um inqurito sobre o caso. Sendo confirmadaa narrativa do jovem Senhor Graeser)

    Neste caso notabilssimo, encontram duas circunstancias deproduo que no se realizam seno raramente no caso dealucinao teleptica.A primeira e a mais importante consistem nofato de que a apario da forma do co foi precedida pelo fenmenofsico da porta que abriu. Na fenomologia teleptica encontram svezes episdios nos quais os percipientes v abrir a porta e entrar umesprito mas quase sempre a porta e em seguida fechada.Aocontrario neste caso assim como alias em grande numero de outros aporta foi achada aberta no se tratando de uma alucinao mais d eum fenmeno de ordem supranormal .

    O fenmeno em questo no poderia. Pois se explicar senoreconhecendo o fundamento do que observamos anteriormente isto, que as aparies que chamamos de telepticas no o so semprena significao puramente alucinat rio-verdica que se liga telepatia. Pode-se tratar algumas vezes de verdadeiras apariesobjetivas implicando a presena, no local, da entidade espiritual quese manifesta. Essa entidade, por motivo de morte muito recente eviolenta, ficaria, durante a lgum tempo, saturada de fora vital epoderia assim agir ainda sobre a matria. Se o incidente da porta quese abriu foi bem observado ento somos levados a inferir que aforma do co no era apenas uma simples projeo alucinatriamas, antes, a objetivao de alguma coisa de anlogo ao perispritodo animal

    A assero seria, de certa forma, confirmada pela outracircunstncia que se produziu durante a manifestao, a saber: que oco respondeu ao convite do seu dono, entrando no quarto do moo,deitando-se aos seus ps e esfregando-se nas suas pernas. Todosestes detalhes so sugestivos em favor de uma presena real, poisque, em geral, as aparies telepticas so inertes como esttuas.Quando elas se deslocam e caminham, procedem de maneiraautomtica, como se ignorasse o meio em que se acham,modalidades todas conformes teoria segundo a qual elas

  • consistiriam em puros simulacros projetados exteriormente pelopensamento do percipiente, influenciado pelo do agente.

    bem verdade que, em certos casos, as formas telepticasprovam que elas no ignoram o meio em que se acham, nem aspessoas que as observam e s quais dirigem mesmo, por vezes, apalavra. Apenas, nestas circunstncias, pode -se perguntar se no setrata realmente, e sempre, de manifestaes ob jetivas. Em suma, jque tudo concorre para provar que as aparies de formas espirituaistm a sua origem em causas diversas, de tal modo que h certamenteformas objetivas (entre as quais a classe total dos fenmenos debilocao, nada impede que se admi ta tambm que uma parte dasmanifestaes que ocorrem seja do tipo teleptico -alucinatria).

    Caso XIV - (Visual) - O rev. Ellis G. Roberts enviou a Light(1922, p. 241) a narrao de um incidente supranormal acontecido sua filha e escrita por esta mesma nos seguintes termos:

    Eu possua um fox-terrier irlands chamado Paddy e havia entrens uma afeio recproca. Certa manh ele no apareceu para aprimeira refeio e no fiquei preocupada, porque tinha n costumede ir passear sozinho, embora fosse q uase sempre regular na hora dacomida. Pelas nove horas, achava -me na cozinha que se abre sobreuma pequena arcada, de onde, por uma outra porta, se passa despensa. A porta exterior estava aberta e da posio que ocupava eupodia ver diretamente o jardim. Era uma manh ensolarada e a terraestava coberta de neve. Olhando para fora, vi Paddy chegar pulandosobre a neve, atravessar o jardim, entrar na arcada e desaparecer nadespensa. Eu o segui, mas no o encontrei em parte alguma.Espantada e perplexa, voltei para a cozinha, onde se achavamdiversas pessoas que, nada tendo visto, queriam convencer -me deque eu havia tomado por Paddy um outro co de raa dlmata, deplo malhado, muito mais gordo do que Pad dy e muito diferente deum fox-terrier irlands. Esse animal ficava tambm na casa. Estava

  • apegada a uma tentativa de explicao, que me parecia absurda: euhavia percebido, no fundo brilhante da neve, o meu cozinho,observando bem o contraste entre o seu plo negro e a brancura domeio. Voltei a procurar por todas as partes, mas inutilmente. Paddyno estava na casa.

    Cerca de uma hora e meia, vi Paddy chegar em condiesdeplorveis: tinha pedaos de plo arrancados do peito e das pernase quatro a cinco dentes lhe faltavam da boca. Evidentemente ocoitado do animal tinha sido assaltado e maltratado sem piedade,porm ns nunca chegamos a saber o que lhe tinha sucedido. Morreualguns meses aps, mas no creio, entretanto, que a morte tenha sidocausada pelas feridas.

    O rev. Ellis G. Roberts continua esta n arrao com algumaslinhas de comentrios:

    Minha filha nunca foi sujeita a alucinaes visuais, de modo queme parece que a nica explicao razovel do incidente narradoconsiste em o reconhecer como um exemplo de telepatia entre umco em perigo e a sua dona, para a qual o seu pensamento se voltou,precisamente, na necessidade em que se achava de ser socorrido.

    As concluses do rev. Robert s parecem consistentes e slida s.sendo-nos pois, intil tratar do assunto , mas seria til, uma vez maisobservar que as condies, nas quais se realizou, contribuem paraconfirmar ainda a regra a que j fizemos aluso h bem pouco, isto, que as manifestaes telepticas se produzem geralmenteseguindo a `via de menor resistncia que elas encontram nasFaculdades sensoriais do percipiente. Se no for assim, quando umagente teleptico se acha numa situao dramtica e dirige o seupensamento para um protetor que est longe, este deveriainvariavelmente perceber a imagem do agente segundo a situao naqual se acha. Com efeito, a agitao produzida pela situao nopode seno ter invadido momentaneamente o campo inteiro daconscincia do agente, parecendo ento que no pde achar lugarpara outra idia seno a que o domina no momento da transmissoteleptica. Ora, ao contrrio, verifica-se, na pratica, que estacorrespondncia na representao verdica dos acontecimentos no

  • se realiza a no ser raramente nas transmisses telepticas, assimcomo ela no se realizou no caso da filha do rev. Roberts, aondevimos que um cozinho assaltado e maltratado, tendo,inegavelmente, voltado o seu pensamento para a sua afastadaprotetora, determina nesta uma manifestao teleptica emconseqncia da qual a moa, em lugar de o perceber su a situaoem que se achava, o v voltar para ca sa, caminhando penosamente,atravessar o jardim e entrar na despensa, isto , que ela o visualizaem uma das formas habituais de sua atitude diria. Ora, estadiferena entre o pensamento do agente e a visualizao dapercipiente s pode ser explicada gra as lei psquica doeindicamos, segundo a qual todo o impulso teleptico est sujeito a setransformar para o percipiente na visualizao que lhe a maisfamiliar, com relao ao agente.

    Fao notar, em ltimo lugar, doe, quando uma visualizaoteleptica a reproduo fiel da situao na qual se acha o agente, ofato significa que as condies da relao psquica entre o agente e opercipiente so de tal modo harmoniosas que no existem obstculospara o impulso teleptico.

    Caso XV No publicado!!!

    Caso XVI - (Visual-auditivo) - Tomo-o de emprstimo a RevueScientifique et Morale du Sp itisme (1920, p. 251) e a senhoraCamier que narra este fato acontecido a ela mesma:

    Eu possua uma belssima gata angor, de comprido plo brancomanchado de cinza e de olhos verdes rodeados de preto. Era mansa emeiga e todo o mundo a admirava, mas tinha um defeito: todas asnoites tentava fugir para ir passear. O ptio da casa em que eumorava era dividido em dois por uma grade e ela escapava saltandopor cima dela.

  • Certa noite cheguei ao ptio a tempo de agarr -la quando sepreparava para pular a grade. Tinha -a apenas apertada nos meusbraos quanto tive a surpresa de perceber uma outra gata angor, emtudo igual minha, e que pulava por cima da grade. Naquelaocasio, nada sabia a respeito de doutrina esprita e olhei do outrolado da grade para certificar -me desse fato estranho, emborasabendo que, em todo quarteiro, no existia uma gata semelhante minha, mas, l do outro lado, nada vi.

    Mais tarde, j tendo algum conhecimento de espiritismo,compreendi que a minha gata estava, naquele instante, de tal modopossuda pela idia de fugir, que o seu perisprito se libertou comtamanha fora e ele pde parecer substancial.

    Algum tempo depois, o pobre animal ficou doente e me vi nanecessidade de confi-lo aos cuidados de um veterinrio. Na noiteem que ela morreu, senti - positivamente senti - a minha gataagarrar, com as suas unhas, a minha coberta e subir para a cama,como fazia habitualmente, impresso to real que estendiinstintivamente a mo para certificar -me de que no estavaenganada. Na manh do dia seguinte fui casa do veterinrio, ondesoube que a minha gata havia morrido durante a noite, sendo o seultimo pensamento evidentemente para mim.

    Dos dois incidentes de telepatia animal contidos na narrao dasenhora Camier, o segundo no difere dos outros que relatamos, aopasso que o primeiro de natureza excepcional e interessante.Dispensando a explicao fantasista que dele d a percipiente,podemos dizer, entretanto, que este incidente constitui um exemplobem caracterstica de transmisso teleptica de pensamento entre oanimal e o homem. Ele nos faz assistir ao fenmeno de uma gata,surpreendida pela dona em flagrante delito em brusca interrupo desua inteno. A idia que invade a sua mente se transmitetelepaticamente a mente da dona que percebe uma gata alucinatriasaltando por cima da grade, de acordo com a imagens pensamentoexistente na mente da gata real. O caso notvel e instrutivo, tantomais que o animal agente se achava nos braos da percipiente.

  • *

    Deixo de narrar, por brevidade, sete outros casos semelhantes,enviando os eventuais leitores interessados s seguintes obras epublicaes:

    Caso XVII -Phantasmas of the Living vol. II p. 446 (Visual).Caso XVIII - Journal of the S.P.R., vol. VI, p. 375 (Visual-

    coletivo).Caso XIX - Juiz Edmonds: letters and tracts p. 336 (Visual-

    coletivo).Caso XX - Rivista di Studi Psichici, 1900 , p. 350 (Visual).Caso XXI - Proceedings of the S.P.R., vol. X, p. 181 (Visual

    Coletivo)Caso XXII - Revue Scientifique et Morale du Spiritisme 191 1,

    p. 723 (Visual-tctil-coletivo).Caso XXIII - Revue Scientifique et Morale du Spiritisme 1920,

    p. 25 (Visual).

    SEGUNDA CATEGORIA

    ALUCINAES TELEPTICAS NAS QUAIS UM ANIMAL

    O PERCIPIENTE

    Os casos desta categoria ainda que no lhes falte por vezesalgum interesse, no podem representar um valor cientifico rela pelaimpossibilidade de assegurar do que efetivamente aconteceu com oanimal e o que ele percebeu realmente.

  • Caso XXIV - Em La Revue Spirite de janeiro de 1905 p. 5l, obaro Joseph de Kronhelm narra o seguinte Cato que aconteceu apessoas de suas relaes:

    Um oficial de meu conhecimento, acantonado em G ajsin, naPodlia, Rssia, partia, no ms de abril, para a guerra com o Japo.Na vspera do dia de sua partida, enviou o seu co de caa, um beloanimal, muito inteligente e que lhe era muito afeioado, a um outrooficial do mesmo regimento, seu amigo, grande amante da caa,pedindo-lhe para guardar o animal at a sua volta, se Deus lhepermitisse voltar. Na eventualidade de sua morte devia o co ficarcomo propriedade do amigo. Trs meses aps a partida do oficial,certa manh, o co, sem nenhuma causa aparente, se ps a soltarterrveis uivos que incomodaram muito a famlia do oficial e os seusvizinhos. Tudo o que se fez para acalm -lo foi intil. O pobre doanimal no deu a menor importncia s carcias do oficial e de suaesposa, nem quis comer nada, uivando sem cessar dia e noite, atque os seus uivos cessaram no terceiro dia. O dito oficial, umhomem muito instrudo, que j ouvira falar sobre os pressentimentosdos animais, anotou cuidadosamente a data do acontecimento e disse sua esposa: Queira Deus que eu me engane... mas estes uivos denosso co, sem nenhuma razo aparente, so um sinal de mauagouro. Acho que vai acontecer -nos alguma desgraa ou iremosreceber m notcia. E a desgraa no se fez por esperar. Algumtempo aps, chegava notcia da morte do antigo dono do animal,que falecera durante uma luta com os japoneses, no instante mesmoem que esse comeara a uivar.

    Este fato parece bastante probante no sentido nitidamenteteleptico, pois, se o animal se ps subitamente a uivarlastimosamente, sem causa aparente, persistindo nessa at itude apesardos afagos que lhe faziam os familiares e mesmo recusando -se acomer, preciso supor que devia haver a uma causa oculta qualquercorrespondente desolao dele. Ora, como se verificou que, nomomento em que o co comeou a uivar, o seu anti go dono morria

  • na guerra, tudo contribui para se presumir que o animal teverealmente a viso teleptica da morte do oficial.

    Caso XXV - Foi primeiramente publicado na Ligh t (1818, p. 5)- Um redator dessa publicao esprita londrina, amigo do senhorTom Terriss, filho do ator dramtico W illiam Terriss, assassinadoem 1817, escreve:

    Na noite mesma do assassinato, a senhora Terriss estava sentadano salo do seu pequeno hotel no Belford P ark e tinha, sobre osjoelhos, um pequeno fox-terrier chamado Davie, que dormia. Seusfilhos, William e Tom, estavam com ela. O relgio marcava setehoras e vinte minutos quando, de repente, sem que nada o pudessefazer prever, o co pulou para o cho e comeou a se atirar para c epara l, rosnando, ladrando, arreganha ndo os dentes e mordendo,num extraordinrio estado de clera e de terror. Essa inslita atitudecio animal causou profunda impresso na senhora Terriss, que ficoutranstornada pelo resto da noite. Pois bem, foi exatamente s sete evinte da noite que o ator dramtico William Terriss tombouassassinado.

    Seu filho Tom exprimiu-se assim a este respeito eu jogava umapartida de xadrez com meu irmo William e o co dormia em cimados joelhos de nossa me, quando, repentinamente, ele nos assustouao pular para o cho e comeou a pular de um lado para outro,furioso e agitado, arreganhando os dentes e mordendo o vcuo.Nossa me ficou espantada e exclamou: `Que aconteceu? O que eleest vendo? Ela estava convencida de que a raiva do animal eradirigida contra um inimigo invisvel. Eu e o meu irmo nosesforamos por acalm-lo, embora estivssemos, por nossa vez,bastante surpresos e perplexos com a atitude inexplicvel de um cogeralmente tranqilo e de um temperamento dcil.

    Considerando a natureza inverificvel do episdio em questo,seria intil estender-se em comentrios especiais, limitando -me

  • ento a observar que o fato de haver correspondncia perfeita dahora em que se deu o assassinato com a mmica furiosamenteagressiva do animal leva irresistivelmente a pensar gire ele teverealmente a viso subjetiva da cena dramtica na qual o seu donosucumbia e, em conseqncia, tentou defend -lo, lanando-se contrao agressor.

    Caso XXVI - Retiro-o de Les Annales des Sciences Psyc hiques(1916, p. 149) - Consta de uma carta particular que a senhoraEsperanza Payker enviou a 7 de dezembro de 1916, de Zurique,Sua, a uma das amigas, e se refere morte, na guerra, de um irmoda remetente da carta. Eis a passagem essencial da narrativa:

    Voc me pede notcias de Richard. Ele faleceu, infelizmente,combatendo contra os russos. Ele, o cosmopolita, que queria vertodo homem um irmo! No momento de sua morte, aconteceu umfato que no pode deixar de lhe interessar. Voc se lembra de Kacuy(o co de Richard). Pois bem, s sete horas da noite, de treze deagosto ltimo, ele estava como que adormecido aos meus ps.Repentinamente, levanta-se e corre para a porta, sacudindo a cauda,latindo e pulando como se fosse receber uma pessoa conhecida, mas,subitamente, retirou-se espantado, uivou lastimosamente, gemeu,tremeu, voltou a deitar-se aos meus ps, sem deixar de gemer a noiteinteira. Na manh do dia seguinte, abandonou a casa e nunca maisfoi visto.

    Ora, a estranha manifestao do co coincidiu exatamente com ahora em que Richard tombava gravemente ferido e odesaparecimento dele se deu na hora da morte do seu dono.

    Tambm neste exemplo a mmica expressiva do animal tende ademonstrar ao carter verdico da telepatia e neste casoconsiderando que de inicio ele se comporto u alegremente como seassistisse a volta de um familiar para mudar, em seguida,

  • bruscamente, de atitude, dando mostras de espanto, como se tivessenotado a natureza fantasmagrica do que percebia.

    TERCEIRA CATEGQRIA

    Alucinao teleptica percebida cole tivamente pelo animal epelo animal

    Esta categoria e o complemento da precedente e serve paraapoiar a suposio de que casos focalizados na srie anterior sorealmente telepticos.

    Caso XXVII (auditivo-visual-coletivo com impresso de ventomuito frio) Tiro-o da obra Camille Flammarion (O desconhecido eos problemas cientficos)

    Uma das minhas amigas de estudo fora ndia como medica.Perdendo de vista, mais sempre gostando uma da outra.

    Certa vez, na noite de vinte e oito para o dia vinte e nove deoutubro (eu estava ento em Lausanne, Sua), fui despertada antesdas seis horas por pequenas batid as na minha porta. Meu quarto d edormir dava para um corredor que terminava na escada do andar. Eudeixava a porta do meu quarto entreaberto para permitir que umgrande gato branco que eu ento tinha fosse caar durante a noite (acasa formigava de ratos). As batidas se repetiram, mas a campainhada noite no havia tocado e eu no ouvi ningum subir a escada.

    Por acaso, meus olhos caram sobre o gato que ocupava o seulugar habitual ao p de minha cama e ele estava sentado, com o peloeriado, tremendo e rosnando. A porta moveu -se como se agitadapor um leve golpe de vento e eu vi aparecer uma forma envolvida

  • numa espcie de tecido vaporoso branco como um vu sobre umaroupa escura, mais no pode distinguir bem o rosto. A formaaproximou-se e eu senti um sopro glacial passar por mim, ao passoque o gato rosnava furiosamente. Instintivamente fechei os olhos e,quando os reabri, tudo havia desaparecido. O gat o tremia o corpointeiro, que estava banhado de suor.

    Confesso que no pensava na minha amiga na ndia, mas emoutra pessoa. Cerca de quinze dias ma is tarde, soube da morte deminha amiga na noite de vinte e nove para o dia t rinta de outubro de1890, em Shrinagar, na Cachemira. Soube depois que haviasucumbido a uma peritonite.

    Neste caso, em que a percipiente no pde ver a face do esprito ,no se pode dizer que ele tenha sido identificado como a amiga dapercipiente, falecida naquele dia, na mesma hora, todavia o simplesfato desta coincidncia j constitui uma boa presuno no senti dodas concluses da doutora Thyle.

    De certo modo isto no diz respeito ao assunto de que nosocupamos no momento, isto , o da percepo coletiva demanifestaes supranormais por parte de homens e animais. Ora,sob este ponto de vista, preciso observar que, se o gato mostrou -seespantado a ponto de ficar tremendo e com abundante transpirao,tal fato mostra que teve, por sua vez, a viso de algo de bastanteanormal para o aterrorizar. Que podia ser essa qualquer coisa senoa forma espectral percebida pela sua dona ?

    Caso XXVIII - (Auditivo-coletivo) - Encontram-se na obra deHudson Tuttle intitulada The arcana of Spiritualism fatos depercepes supranormais da parte de animais, entre os quais figuraeste, de ordem coletiva, na pgina 234:

    O grumete do navio vela Avalanche, no naufrgio do qualpereceu toda a tripulao, possua um co que o amava mu ito e queatendia prontamente chamada de um apito para ces que o seu

  • dono trazia sempre consigo. Na noite do naufrgio, a me e a tia dogrumete achavam-se no toalete e o animal na cozinha. Entre nove edez horas, ambas foram surpreendidas por um assobio muito fortevindo do andar superior. O som era justamente o do api to de que seservia o jovem grumete. O co o tinha reconhecido por sua vez eimediatamente correspondido por meio de latidos, como era de seuhbito, e corrido para o andar superior, onde, acreditava ele, supunhaencontrar o seu dono.

    Se o co do coitado do grumete correu para o andar superior,latindo, e se, no mesmo instante, as duas percipiente tinhamlocalizado o soar alucinatrio do apito familiar, tudo leva a crer,logicamente, que o animal tinha ouvido a mesma coisa.

    Caso XXIX No ocorreu uma comprovao explicita do fatosendo retirado aps a publicao do livro.

    Caso XXX - (Visual com anterioridade do animal sobre ohomem) - Este caso foi publicado na Light (1907, p. 225). O senhorJ. W. Boulding, conhecido autor espiritualista, relata o segui nte fatoque aconteceu com uma famlia amiga da sua:

    Um dos meus amigos, residente cm Kensington, estava enfermoj h algum tempo e, em certa tarde de domingo do vero passado,um outro dos meus amigos e a sua esposa foram f azer-lhe, de carro,uma visita. Quando chegaram perto de um ponto da estrada de ferro,no longe da residncia do doente, o cavalo comeou a se rebelar,no quis seguir caminho, parecendo tomado de um s bito terror.Tremia, recuava, empinava, espantando muito as pessoas que seachavam no veculo. Em dado momento, a senhora se levantou paracertificar-se do que se passava e o seu espanto foi grande ao ver que,diante do cavalo, de braos abertos, estava o amigo doente que elesiam visitar! Seu espanto foi tal que ela caiu desmaiada no a ssento da

  • carruagem e o marido teve de dar ordem ao cocheiro para quevoltasse para casa. Eram 6 horas da tarde. Mais tarde resolverampr-se novamente a caminho e, quando chegaram casa do amigo,notaram que os postigos das janelas estavam fechados: no tardarama serem informados de que o enfermo morrera exatamente na horaem que surgira diante do cavalo. Note -se que o primeiro a perceber aapario foi o animal, circunstncia que surge em apoio afirmaode grande nmero de pessoas de que os animais c ompartilham como homem as faculdades de clarividncia.

    Com efeito, nos casos em que o animal o primeiro a perceberuma apario teleptica, no h hiptese racional a se opor queconsidera os animais como dotados de faculdades supranormaissubconscientes, semelhana do homem, e esta considerao solveproblemas psicolgicos e filosficos de primeira importncia.

    Caso XXXI - (Visual com anterioridade do animal sobre ohomem) - O rev. Minot Savage, no seu livro (Pode a telepatiaexplicar?), pp. 46/48, narra o seguinte caso:

    Uma jovem dama, pertencente minha parquia de Boston,estava, em certa tarde de domingo, sentada no banco do seu piano,tocando, e no pensando em nada. Nenhum dos membros da famliase achava na casa, nem mesmo criados. Um co zinho, muito queridopela referida senhora, estava deitado numa cadeira, a alguns passos.Estando sentada frente ao piano, dava as costas porta que abriapara o salo. De repente, sua ateno foi atrada pela atitude doanimal que se tinha levantado, com o plo eriado no dorso, ecomeara a rosnar surdamente, olhando para a porta. A moa virou -se logo e percebeu as silhuetas vagas de trs formas humanas que seachavam no outro quarto, perto da porta dando para o salo. Antesque as formas desaparecessem, pareceu-lhe reconhecer uma delas.Nesse meio tempo, o terror do co tinha aumentado a tal ponto que

  • fora se ocultar debaixo do sof, de onde no se decidiu a sair senodepois de insistentes chamados de sua dona.

    A importncia deste episdio est em que p rova que se tratavade alguma coisa que fora percebido pelo animal antes que a suadona, isto , excluindo toda forma de sugesto relacionada com umaorigem humana.

    Da mesma maneira, relativamente a este fato, fcil observarque, se o cozinho se levantou de um pulo, rosnando surdamente eolhando para a porta, para correr em seguida a se refugiar debaixode um mvel, tudo isto mostra claramente que ele teve a viso dealgo fantasmagrico capaz de o espantar, tal como acontece muitasvezes nos casos desta espcie. O caso tanto mais notvel porque osces tm o instinto de ficarem irritados e de rosnarem vista de umintruso em carne e osso, mas no o de terem medo e se esconderem.

    Caso XXXII - (Visual-coletivo, com anterioridade do animalsobre o homem). O seguinte caso muito importante, pois que aspessoas que experimentaram a mesma forma de alucinaoteleptica, simultaneamente com um co - foram sete. O caso foicomunicado a Society for Psychical Research por AlexandreAksakof Eu o extraio do vol. X, p. 127, dos Proceedings (atas) daSociedade:

    So Petersburgo, 4 de maio de 1891. - Eis a narrativa dofenmeno de que toda a nossa famlia foi testemunha. Aconteceu emSo Petersburgo, em 1880, quando morvamos na rua Pouchkarska.Numa tarde do ms de maio, pelas seis horas, minha me (hojesenhora Telechof) estava no salo com os seus cinco filhos, dosquais era eu o primognito (tinha ento 16 anos). Naquele momento,um antigo servidor da casa, que se tratava como amigo (mas que, napoca, no servia mais conosco), viera visitar -nos e se empenharaem conversa com a minha me. De repente, as alegres distraes das

  • crianas pararam e a ateno geral voltou -se para o nosso cachorroMoustache, que se precipitara, ladrando fortemente, para a lareira.Involuntariamente olhamos todos na mesma direo e vimos nacornija da grande lareira, como ornato de faiana, um meninote deseis anos mais ou menos, de camisola. Reconhecemos nele o filhode nosso leiteiro, Andr, que vinha muitas vezes, em companhia desua me, brincar com as crianas, pois viviam bem perto de ns. Aapario se destacou da cornija, passou acima de todos ns edesapareceu pela janela aberta. Durante todo esse tempo, unssegundos apenas, o co no deixava de latir com todas as suas forase corria e rosnava ainda, seguindo o movimento da apario.

    No mesmo dia, um pouco mais tarde, nosso leiteiro veio nossacasa e nos comunicou que o seu filho Andr, depois de umaenfermidade de alguns dias (ns sabamos que ele estava doente)acabara de falecer, o que aconteceu provavelmente no momento emque o vimos aparecer.

    Daniel Amossof, Maria Telechof, (me de M. Amossof, nosegundo casamento) Kousema Ptrof (morando presentemente emLebiajey, perto de Oranienbaum).

    Neste ltimo caso, a atitude do co, em face da apario, parecede tal forma caracterstica e eloqente que somos irresistivelmentelevados a concluir que ele teve a mesma viso que o sete outrospercipientes. preciso observar, com efeito, que o co (que fora,alm disto, o primeiro a experimentar a sensao teleptica) seatirara na direo da lareira, onde os outros percipientes localizarama apario, e que, durante todo o tempo em que a apario ficouvisvel, no parara de ladrar para ela, seguindo -a no seu movimentoareo.

    Caso XXXIII - (Visual-auditivo-coletivo, com anterioridade doanimal sobre o homem e impresso, pela percipiente, de um soprode vento frio). O caso foi colhido e examinado pelo professor,JamesHyslop, que o publicou no Journal of the American Society forPsychical. (1907, p. 432), sem dar os nomes dos protagonistas por

  • pedido feito pela senhora que autora da narrativa. Eis o que contaela:

    H dois anos, meu primo William P., de 21 anos de idade,morria tuberculoso. Desde os primeiros anos da infncia que a maisprofunda afeio existia entre ns e a circunstncia de sermos ambosapaixonados pela msica nos ligava ainda mais, embora ele morasseem Tottenville (Nova Iorque) e eu, X., a uma distncia de duzentasmilhas. No ms de maro de 1901, caiu doente e.. . Faleceu a vinte enove de maro de 1902. Naquela ocasio, estava no meu quarto e liaa Bblia. Achava-me s com o meu filho de quatro anos, dormindona sua caminha, e o meu cozinho favorito. O quarto dava para umgabinete de trabalho cuja porta no era fechada seno por uma duplacortina de cor azul. Lia atentamente e sem ser perturbada, durantealgum tempo, mas, em um dado momento, ouvi passos pesados nodito gabinete, e no instante seguinte um sopro de vento glacial abriaas cortinas, roando-me o rosto. O animal levantou a cabea, olhounaquela direo e correu, gemendo, para se meter debaixo de umacadeira. Por minha vez olhei e percebi , entre as porteiras, o espri tode meu primo, alto e ereto, tal como ele era antes da doena, com osbraos estendidos, um sorriso anglico nos lbios. Fiquei olhando -ocomo que petrificada, durante alguns minutos, e o vi desaparecerquando o relgio marcava nove horas. No mesmo instante, ouvi soara campainha da porta e chegava um telegrama dizendo: Williamfaleceu oito horas. Venha imediatamente.

    Minha me me disse que o rosto de meu primo recm -falecido oferecia vista uma expresso de grande sofr imento, masque, depois de cerca de meia hora, tinha experimentado umamudana estranha, transformando-se em um sorriso anglico, queconservava ainda quando o depositamos no esquife, sorriso cont oqual me apareceu entre as cortinas da porta do gabinete de trabalho.

  • Se esta narrativa for publicada, queira suprimir os nomes dosprotagonistas, pois os meus familiare s atribuem minha viso a umasuperexcitao nervosa. (Assinado por inteiro: senhora H. L. B.).

    O professor Hyslop escreveu ao marido da senhora H. L. B., que mdico, e ele confirmou os fatos assim:

    Respondendo s perguntas que V. 5a . que me formulou em suacarta de 22 de maio, declaro que as duas notveis experinciasrelatadas por minha esposa se desenrolaram tais como ela as narrou.O segundo fato, em relao ao falecimento de um dos nossosprimos, no est menos presente minha memria que o primeiro .Ele aconteceu antes da chegada do telegrama nos comunicando oseu falecimento. Minha esposa contou logo o fato criada de quarto,que se acha atualmente em Filadlfia, e ao sr. J. H., residente a. Nosei como explicar teoricamente os fatos em questo. (Assinado porinteiro: doutor M. L.).

    Neste caso ainda, o primeiro percipiente foi um co.H que se notar que o esprito do defunto se manifestou urna

    hora aps a sua morte, com o rosto apresentando o mesmo sorrisoangelical que havia aparecido no cadve r uma hora depois dodecesso e que, alm disto, sua mani festao foi precedida pelofenmeno auditivo de passos pesados vindos do gabinete de trabalhobem como percebido durante as sesses experimentais nomomento da materializao medinica.

    A circunstancia teoricamente mais importante a demora deuma hora da manifestao teleptica, embora isso possa ainda serexplicado pela hiptese da `telepatia retardada, entretanto estahiptese no mais vlida quando se trata de fatos do mesmo gneronos quais a demora foi de dias e de semanas, resultando da anecessidade de recorrer a uma hiptese mais compreensvel, capazde explicar cumulativamente toda a srie de manifestaesretardadas coincidentes com casos de morte. Ora, isto no pode serfeito sem se acolherem essas manifestaes na categori a dasaparies de mortos e no na das aparies de vivos, como se temfeito at hoje. Isto no adiantado, bem entendido, seno de maneira

  • geral, admitindo a possibilidade de excees regra nos casos debreves demoras, de acordo com condies especiais.

    Caso XXXIV - (Visual-coletivo, com anterioridade do animalsobre o homem) - O professor Andrew Lang comunicou a Societyfor Psychical Research (Journal, vol. XN, p. 70) o episdio quesegue,constante de uma carta que lhe foi dirigida por uma senhorade sua amizade:

    22 York Mansions, Battersea Park, S. W. 10 de fevereiro de1909

    Caro professor,No decurso do seu artigo publicado no Morning Post, o senhor

    citou um caso de apario percebida simultaneamente por u ma damae o seu co. Penso que lhe pode interessar um caso semelhante queaconteceu comigo mesma e o meu co, h seis anos. Eu lia, sentadaao lado da lareira, no meu salo, cuja porta estava fechada. Meu co,Dan, dormia em cima do tapete. De repente, fui distrada, na minhaleitura, pelo animal, que comeara a rosnar surdamente. Debrucei -me para ele a fim de o acalmar, fazendo -lhe carinhos, porm eleficou mais estranho. Ento olhei na mesma direo que o animal (oque no pude fazer seno virando -me na minha cadeira) e, comgrande espanto meu, distingui uma forma de mulher vestida decinzento, de p, junto porta. No podia distinguir os traos do seurosto, que ficara oculto por uma planta colocada sobre a mesa.Julguei a princpio que fosse a minha irm e no dirigi a palavrapara lhe perguntar por que viera to cedo e como pudera entrar noaposento sem fazer rudo, mas logo me lembrei de que, estandosozinha, havia colocado o ferrolho na porta da casa. Ento melevantei de um salto, espantada, enquanto que Dan se lanaraladrando contra a intrusa, que desapareceu subitamente, embora aporta do salo continuasse fechada. O animal mostrava todos ossintomas de raiva e medo ao mesmo tempo, com os olhos luzindo,

  • mas a cabea baixa e o pelo eriado ao longo da coluna vertebral.Parecia convencido de ter visto uma pessoa real, visto que, quandoabri a porta, lanou-se, latindo furiosamente , e desceu a escada,para subi-la em seguida, procurando sempre a intrusa que,naturalmente, no chegamos a achar. S na c asa, experimentei umsentimento de alvio quando, pouco depois, a campainha da portatocou e a minha irm entrou.

    No tenho nenhuma teoria a propor para a explicao deste fato,sendo-me, alis, impossvel ligar a viso tida com acontecimentosque se produziram antes ou depois, mas estou absolutamente certado que percebemos, eu e o meu co, embora no tenha outratestemunha para confirmar a minha narrativa. Naturalmente, conteiimediatamente o caso a minha irm.

    Senhora Emma-L. Darton

    Podem-se encontrar detalhes adicionais do caso em questo nosupracitado volume do Journal da Society for Psychical Research. Osr. Andrew Lang supe que, nesta circunstncia, trata -seprovavelmente de um caso de telepatia procedendo uma chegada,isto , que a irm da senhora Darton, dispondo-se a sair, tinhapensado intensamente em algo relativo ao seu meio domstico,determinando a projeo teleptica do seu esprito no local. Essasmanifestaes telepticas tm realmente acontecido e a Sociedadeinglesa de pesquisas psquicas j juntou um nmero bem grandedelas, todavia creio pouco verossmil que assim seja no caso emexame, porque no me parece que o animal ficasse furioso napresena de uma pessoa da famlia.

    Eliminando esta hiptese, no seria fcil descobrir a gnese d aforma vista pela referida senhora e o seu co, a menos que seconsidere como um simples fenmeno de assombrao.

    Em todo o caso, a soluo do problema no parece interessar nomomento. Basta-nos notar que, ainda neste exemplo, o animal foi oprimeiro percipientes.

  • *

    Omito treze outros casos anlogos que constam das seguintesobras e publicaes:

    Caso XXXV -Proceedings of the S.P.R., vol. V, p. 307(Auditivo coletivo-assombrao).

    Caso XXXVI -Proceedings of the S.P.R., vol. V, p. 308(Auditivo-coletivo-assombrao).

    Caso XXXVII -Proceedings of the S.P.R., vol. V, p. 453(Visual-auditivo).

    Caso XXXVIII -Proceedings of the S.P.R., vol. X, p. 327(Visual-coletivo).

    Caso XXXIX - Camille Flammarion: L inconnu p. 104 Visual -coletivo).

    Caso XL - Phantasms of the living, vol. II, p. 149 (Visual).Caso XLI - Phantasms of the living, vol. II, p. 245 (Visual).Caso XLII - Phantasms of the living, vol. II, p. 458 (Visual).Caso XLIII - Phantasms of tlte living, vol. II, p. 510 (Visual).Caso XLIV - Journal of the S.P.R., vol. N, p. 53 (Visual -

    Coletivo anterioridade do animal sobre o homem).Caso XLV -American Proceedings of the S.P.R., p. 144 Visual

    coletivo).Caso XLVI -American Proceedings of the S.P.R., p. 145 Visual

    coletivo, com anterioridade do animal sobre o homem).Caso XLVII-American Proceedings of the S.P.R., p. 146 Visual

    auditivo, com anterioridade do animal sobre o homem).

    QUARTA CATEGORIA

    VISES DE ESPRITOS HUMANOS TIDAS FORA DEQUALQUER COINCIDNCIA TELEPTICA E PERCEBIDAS

    COLETIVAMENTE POR HOMENS E ANIMAIS

  • Os fatos pertencentes a esta categoria so relativamentefreqentes e tm uma importncia terica porque apresentam muitasvezes o valor de caso de identificao espirtica.

    Relatarei primeiramente dois episdios de datas bem antigas,resumindo-os:

    Caso XLVIII - Visual) - No seu livro sobre a vidente de1revorst, o dr. Justinus Kerner fala de uma apario que a videntepercebia, freqentemente, junto dela, durante mais de um ano.

    Ele observa a respeito que, cada vez que a vidente anu nciava apresena da apario, um galgo, pert encente famlia, secomportava de modo a fazer supor que ele a via tambm e corrialogo para perto de alguma das pessoas presentes, como se lhequisesse pedir proteo, gemendo, s vezes, lastimosamente. Desdeo primeiro dia em que ele viu a apario, nu nca mais quis ficarsozinho durante a noite.

    Caso XLIX - Visual-auditivo) - Sob o ttulo de Aparies reaisde minha esposa antes de sua morte (Chemnitz, 1804), o dr. Wetzelpublicou um livro que causou grande impresso na sua poca.

    Ele conta que, certas tarde, algumas semanas depois da morte desua esposa, quando se achava no seu quarto, sentiu subitamente, emtorno de si, um vento turbilhonante, ainda que as portas e as janelasestivessem fechadas. A luz s e apagara enquanto um batente da

  • alcova se abrira. Na fraca claridade que reinava no quarto, Wetzelhavia percebido a forma de sua mulher, que lhe dissera com vozfraca: Carl, sou imortal, ns nos veremos novamente. A apariotornou a se mostrar e, desta vez, o co do doutor Wetzel tinha giradoem torno do lugar onde se achava ela, sacudindo alegremente acauda.

    Neste ltimo caso, semelhantemente, preciso considerar aatitude do co, que parecia ter efetivamente percebido uma forma seassemelhando sua falecida dona.

    Apesar disto, considerando-se que, nos dois fatos que acabo decitar, os primeiros a experimentar em a alucinao foram,respectivamente, a vidente e o doutor Wetzel, pode-se sustentar,razoavelmente, a hiptese de que os dois percipientes t enham, emseguida, servido de agentes, transmitindo aos animais uma formaalucinatria que germinou no crebro deles. Em todo caso,