Os Caminhos Antigos no Território Fluminense

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  • 8/8/2019 Os Caminhos Antigos no Territrio Fluminense

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    Os cminhos anigos no terririo fluminenseAdriano Novaes*

    * Formado em Cincias Sociais, membro do Instituto PRESERVALE e do Colgio Brasileiro de Genealogia. Consultor em

    Histria Regional - Vale do Paraba.1 Projeto de Inventrio de Bens Culturais Imveis, Desenvolvimento Territorial dos Caminhos Singulares do Estado do Rio de

    Janeiro - Caminhos do Ouro, SEBRAE, UNESCO, INEPAC. 2003/2004.

    Muitos foram os caminhos de desbravamento e circulao utilizados no Brasilda Colnia ao Imprio. Estradas e picadas, percorridas a p, em lombo de burro

    ou em diligncias, levavam produtos ao interior e traziam as riquezas da terra

    que tomavam o rumo de Portugal. Fundamentais na histria e na construo da

    identidade da futura nao, os caminhos despertam hoje interesse e curiosidade.

    So associados imagem dos tropeiros e bandeirantes, corajosos homens que, ao

    vencerem a natureza e os primeiros ocupantes, forjavam o Brasil contemporneo.

    Residem no imaginrio como testemunhos de um pas que estava por se construir,

    em que, partindo de um suposto e forado marco zero, eliminando-se o elementoindgena, tudo poderia fazer, ou, mais importante, tudo poderia ser.

    Flvia Brito, in Caminhos Singulares 1

    apreseno

    O interesse em descrever, ou melhor, em transcrever os percursos das antigas estradas de

    penetrao no interior do territrio fluminense justifica-se pela importncia ue estas tiveram

    como vetores do povoamento e desenvolvimento da regio do Vale do Paraba no Estado do

    Rio de Janeiro.

    Parte significativa da histria de nossa colonizao foi escrita ao longo e atravs desses

    caminhos, e uando sobre eles nos debruamos trazemos tona acontecimentos ue abrangem

    desde a expulso dos ndios nativos de suas terras, ao transporte do ouro e o abastecimento

    das Minas Gerais, chegando ao estabelecimento da cultura do caf, ao surgimento e

    enriuecimento das famlias dos bares do caf, e s modificaes socioeconmicas e

    culturais por ue passou esta regio, e o pas como um todo, nesse perodo de tempo ue objeto de nosso estudo.

    Surgem, ento, com frencia, algumas perguntas: por uais caminhos trilharam esses

    desbravadores? Em ue locais se estabeleceram? Por onde passaram tantos viajantes

    estrangeiros, naturalistas, artistas e escritores? De onde vinha e para onde ia esse enorme

    contingente de aventureiros, dispostos a tudo, cheios de esperanas e vidos por riuezas e

    glrias?

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    Muitos vestgios desses tempos passados encontram-se registrados em relatos, desenhos e

    auarelas ue retratam as paisagens por onde passaram os viajantes, impulsionados pelos mais

    diferentes motivos. So elas: as primitivas roas para a proviso de mantimentos; as estalagens

    ue se tm notcias, os armazns ue abasteciam as tropas de mulas dos carregadores de ouro;

    os postos de registro ue controlavam o trfego das riuezas minerais extradas do interior do

    pas; os engenhos de acar com seus destiladores e moendas; as primeiras fazendas ue

    se ocupavam das plantaes de milho, mandioca, arroz e feijo e da criao de sunos para a

    produo de toucinho salgado, to apreciado pelos tropeiros; os portos fluviais de cidades ue

    desapareceram; os povoados e ncleos urbanos ue estacionaram no tempo.

    Porto de Estrela. RUGENDAS.FBN.

    Na vizinhana do Rio, a primeira aldeia de alguma importncia a do Porto

    da Estrela (...). As mercadorias destinadas s provncias do interior, como

    Minas Gerais, Minas Novas, Goiaz etc., so primeiramente conduzidas, da

    mesma forma que os viajantes, em pequenas embarcaes, do Rio ao Porto

    da Estrela. A so elas confiadas a tropas de mulas que, por seu lado, trazem,

    de volta, carga para os navios do Rio de Janeiro.

    RUGENDAS, Joo Maurcio. Viagem pitoresca atravs do Brasil. 3 edio, So Paulo. Livraria Martino. 1956. FUNDAO

    BIBLIOTECA NACIONAL, FBN, Seo de Iconografia.

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    Fazenda Mandioca. RUGENDAS.FBN.

    A estrada que vai de Porto da Estrela a Minaspassa diante de belas plantaes, atrs das quaisse percebem, ao longe, as pontas angulosas daSerra dos rgos.3

    Rio Paraba. RUGENDAS.FBN.

    Do lado do Rio de Janeiro, a provncia de Minas Gerais limitada pelo Rio Paraba, s margens do qual existem

    inmeros registros onde se pagam direitos de entradasobre as mercadorias, os negros.4

    Rio Paraibuna. RUGENDAS.FBN.

    Rio Paraibuna, afluente do Paraba junto divisacom Minas Gerais, onde o autor assinala uma pontee uma edificao, provavelmente uma das casas deregistro de mercadorias e escravos.5

    3 RUGENDAS, Joo Maurcio. Viagem pitoresca atravs do Brasil. 3 edio, So Paulo. Livraria Martino. 1956. FUNDAO BIBLIOTECA

    NACIONAL, FBN, Seo de Iconografia.4 Ib. 35 Ib. 3

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    Mais tarde, muitas dessas primeiras fazendas, de ue temos notcia, tornaram-se grandes produtoras

    de caf, a exemplo do Pau Grande, em Avelar (Paty do Alferes), de propriedade do Baro de Capivari

    e, depois, de seu filho, Visconde de Ub, ambos chamados Joauim Ribeiro de Avelar. Tem-se ainda

    a Fazenda Ub, de propriedade do Baro de Ub, Joo Rodrigues Pereira de Almeida, em Vassouras,

    e a Fazenda Boa Unio, em Paraba do Sul, pertencente a Jos Antonio de Carvalho, conhecido comoMajor Carvalhinho, futuro Visconde do Rio Novo.

    Fazenda Boa Unio.

    Trs Rios, RJARqUIVO CENTRAL

    DO IPHAN.

    Fazenda Rio Novo.

    Paraba do Sul, RJ.ARqUIVO CENTRAL

    DO IPHAN.

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    Esses vestgios tambm podem ser percebidos num olhar atento s paisagens remanescentes das

    matas nativas ue circundam e acompanham os leitos desses caminhos; nos calamentos de pedra ue

    insistem em permanecer revestindo trechos dessas estradas; na singeleza ou monumentalidade das

    runas e edificaes ue sobreviveram ao tempo e ue, por vezes, se adeuaram aos tempos modernos,

    ganhando novos usos e funes, como o so as edificaes daArquitetura do Caf.

    Fazenda

    Dois Amigos.

    Rio Claro, RJ.ARqUIVO CENTRAL

    DO IPHAN.

    Fazenda da Ponte.

    Itatiaia, RJ.Foto: HESSARqUIVO CENTRAL

    DO IPHAN.

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    Assim, a histria do Vale do Paraba Fluminense foi sendo construda, aos poucos, a partir do alcance e

    penetrao desses caminhos de terra primitivos, aliados riueza de sua rede fluvial, alimentada pela

    generosidade do Rio Paraba do Sul, e a riueza das florestas circundantes, com seus solos frteis (mas

    no eternos), ue se somaram a tantos outros fatores econmicos, polticos e sociais, contribuindo para

    transformar a regio, num passado no to remoto, meados do sculo XIX, num dos maiores plos

    produtores de caf do pas.

    Tamanha grandeza ainda se faz presente na imponncia das aruiteturas das casas-sede e demais

    edificaes ue compunham tais unidades produtivas, ue se constituem, per si, em verdadeiros

    documentos vivos de nossa histria.

    Fazenda do Governo.

    Paraba do Sul.RJ. V. FROND. FBN. 6

    Fazenda do Governo.

    Paraba do Sul.RJ. V. FROND. FBN. 7

    6 RIBEYROLES, Charles. Brasil Pitoresco.Litografias de V. Frond. Paris. 1861. FUNDAO BIBLIOTECA NACIONAL.FBN.7 Ib. 6

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    as primeirs esrds

    Os primeiros caminhos no Vale do Paraba surgiram, ainda no sculo XVII, uando a Coroa Portuguesa,

    com o objetivo de encontrar ouro e pedras preciosas no interior da Colnia, comeou a buscar pontos

    distantes do litoral, atravs das velhas picadas abertas pelos ndios. Encontrado o metal precioso nas Minas

    Gerais, deu-se incio corrida para conuist-lo e, em consencia, a construo de uma verdadeirarede de estradas, consolidada ao longo dos sculos seguintes. Com o declnio do Ciclo do Ouro a partir

    de 1750, os velhos caminhos de terra, sinuosos e estreitos, foram sendo calados e ampliados para a

    passagem das tropas ue transportavam o ouro verde, o caf, a maior riueza do sculo XIX.

    O cminho Velho

    Em meados do sculo XVI, a regio de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba recebeu especial ateno da

    metrpole, tendo em vista a colonizao da rea e a garantia de sua posse para a Coroa Portuguesa.Essas regies desempenhavam papel estratgico entre o caminho do mar e a penetrao para o interior.

    A principal atividade econmica da poca era o cultivo da cana-de-acar.

    Foi com o surgimento das notcias sobre o ouro, em 1695, ue os primeiros aventureiros subiram a

    trilha dos guaianazes com destino ao serto. No final do sculo XVII, foi criado o caminho para as Minas

    Gerais, a ue se tinha acesso pela serra do quebra Cangalha, pelo caminho da Freguesia do Faco (atual

    Cunha), atingindo-se o rio Paraba do Sul. Nesse ponto, dava-se o encontro com a rota dos bandeirantes

    paulistas, na altura de Guaratinguet, e na Garganta do Emba. Vencida a serra, o caminho seguia at

    Baependi, Carrancas, So Joo Del Rey e So Jos Del Rei (hoje, Tiradentes), at alcanar os arraiais

    de Antnio Dias e de Vila Rica (atual Ouro Preto).

    Parte desse caminho ainda existe, como, por exemplo, o trecho ue liga Paraty a Cunha e Guaratinguet,

    a atual RJ-165 / SP-171.

    O historiador MAGALHES apresenta o roteiro do Caminho Velho na pgina 177 de Cultura e opulncia

    do Brasil, ed. de 1837, de Andr Joo Antonil, anagrama do padre jesuta Joo Antonio Andreoni, ue o

    publicou em 1711:

    Em menos de trinta dias, marchando de sol a sol, podem chegar os que partem da cidade do Rio de Janeiro s Minas

    Gerais; porm raras vezes sucede poderem seguir esta marcha, por ser o caminho mais spero que o dos paulistas. E por

    relao de quem andou por ele em companhia do Governador Artur de S o seguinte: Partindo, aos 23 de agosto, da

    cidade do Rio de Janeiro foram a Parati, de Parati a Taubat, de Taubat a Pindamonhangaba, de Pindamonhangaba

    a Guaratinguet, s rocas de Garcia Rodrigues, destas roas ao ribeiro. E do ribeiro com oito dias mais de sol a sol

    chegaram ao rio das Velhas aos 29 de novembro; havendo parado no caminho oito dias em Parati, dezoito dias em

    Taubat, dois em Guaratinguet, dois nas roas de Garcia Rodrigues, e 26 no ribeiro. Que por todas so cinqenta e

    seis dias. E tirado estes dos noventa e nove, que se contam desde 23 de agosto at 29 de novembro, vieram a gastar neste

    caminho no mais que quarenta e trs dias.

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    Identificao dos Caminhos: Adriano Novaes

    Desenho: Luciana Neiva

    cr Geogri d Provni do Rio de Jneiro, 1858.Detalhe. ARqUIVO NACIONAL. AN. 8

    8 Procedncia/Autoria: Presidente da Provncia - Antonio Nicolao Tolentino. 1858. ARqUIVO NACIONAL / Cartografia. Detalhe. Folha 4 - O mapa

    representa a parte sul da provncia do Rio de Janeiro, prxima aos limites com Minas Gerais e So Paulo.

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    Vista da Cidade de

    Paraba do Sul, RJ.

    V FROND.Acervo Paulo Lamego.9

    O Caminho Novo, assim denominado para diferenciar-se da antiga rota, iniciava-se na cidade do Rio

    de Janeiro, onde por terra caminhava-se at o Porto de Iraj e deste por via fluvial, chegando a Iguau

    e depois ao Porto do Pilar. Deste Porto, a estrada seguia pela Baixada Fluminense at subir a Serra

    do Tingu, infiltrando-se por estas serranias at chegar s roas do capito Marcos da Costa Fonseca

    Castelo Branco (atual Marcos da Costa). Atravs da garganta do Rio Santana passava-se por Palmares e

    em seguida chegava-se nas Roas do Alferes (atual Paty do Alferes). A partir desta localidade, a estrada

    atravessava a fazenda Pau Grande (hoje Avelar), Cavaru e a cidade de Paraba do Sul, onde Garcia

    Rodrigues havia se fixado com fazenda e registro. Depois de atravessar o Rio Paraba do Sul, seguia

    em direo a Paraibuna (Monte Serrat), atingindo a Rocinha da Negra (atual Simo Pereira), Matias

    Barbosa, Fazenda Juiz de Fora (hoje cidade de Juiz de Fora), Chapu dUvas (hoje Antnio Moreira), na

    Mantiueira, Borda do Campo (atual Barbacena), Registro Velho e Encruzilhada do Campo. Nesse ponto

    a estrada se bifurcava em dois caminhos: o ue levava a Vila Rica, atual Ouro Preto, e o ue ia para So

    Joo dEl Rey.

    cminho Novo

    Em 1698, a Coroa Portuguesa tomou a deciso de abrir um novo caminho ue interligasse o Rio de

    Janeiro s Minas Gerais. Foram dois os motivos dessa mudana de rota do ouro: a longa extenso

    do Caminho Velho e a localizao dos portos de Angra dos Reis e Paraty, alvos fceis para piratas e

    corsrios. Esse percurso ficou conhecido como Caminho Novo. Nauele mesmo ano, o desbravador

    Garcia Rodrigues Paes, filho do famoso bandeirante Ferno Dias Paes, o caador de esmeraldas, foi

    encarregado da empreitada. Os trabalhos de abertura do novo traado tiveram incio na Fazenda Garcia,

    localizada nas margens do Rio Paraba do Sul, onde hoje se encontra a cidade de mesmo nome. J em

    1699, esta ligao entre o Rio de Janeiro e as Minas Gerais era praticvel, embora somente tenha sido

    concluda por volta de 1704.

    9 RIBEYROLES, Charles. Brasil Pitoresco. Litografia de V. de Frond.Paris. 1861. ACERVO PAULO LAMEGO.

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    Este ltimo ficou conhecido como Caminho do Ouro, uma vez ue por a circulavam os carregamentos

    de ouro destinados Coroa. O Caminho Novo diminuiu a viagem entre o Rio de Janeiro e Vila Rica de 95

    para 25 dias. Com a vinda da famlia real portuguesa para o Brasil, essa estrada ganhou o codinome de

    Estrada Real ou Estrada Geral.

    Ours vrines do cminho Novo

    Durante todo o sculo XVIII, inmeras vias alternativas ao Caminho Novo foram sendo abertas, todas,

    inicialmente, com a finalidade de encurtar distncias.

    Em 1723, Aires Saldanha, ento governador da Capitania do Rio de Janeiro, incumbiu Garcia

    Rodrigues de criar um caminho ue evitasse a Serra do Couto (prximo a Miguel Pereira), mas este

    no aceitou a incumbncia, alegando cansao e doena. O mesmo encargo foi ento proposto a

    Bernardo Soares de Proena, rico fazendeiro ue morava em Suru e conhecia toda a regio. Em

    troca, foi-lhe oferecida uma sesmaria desde o Alto da Serra at o Itamarati. Bernardo recebeu a

    sesmaria em 11 de setembro de 1721 e teve sua confirmao atravs de Carta Rgia de 30 de julho

    de 1723. Esse atalho ficou conhecido como Caminho de Inhomirim, Caminho de Estrela ou Variante

    doProena, mas seu nome oficial eraAtalho do Caminho Novo.

    O caminho alternativo de Bernardo Soares de Proena perfazia o seguinte trajeto: do Cais dos

    Mineiros, hoje praa XV de Novembro, na baa de Guanabara, subia-se o rio Inhomirim at o Portode Estrela, passava-se pela fazenda da Mandioca, ue pertenceu a Langsdorff, e por fazendas do

    Crrego Seco (atual Petrpolis), Padre Correa, Secretrio e Vila de Sebolas, encontrando-se, ao

    final, com o Caminho Novo em Santo Antnio da Encruzilhada.

    Hoje, o antigo Caminho do Proena ainda existe, prximo atual RJ-107, conhecida como Velha

    Estrada de Petrpolis ou Estrada Automvel Club. Grande parte foi aproveitada em 1850, com a

    construo da Estrada Normal de Estrela. O abandono desta estrada estaria na inaugurao do ramal

    ue ligava Guia de Pacobaba a Raiz da Serra, a Estrada de Ferro Baro de Mau, deslocando o eixo

    de embarue martimo do Porto de Estrela para Pacobaba. Mais tarde, parte dessa estrada seria

    aproveitada pela Estrada Unio e Indstria, atual RJ-107, entre Petrpolis e Posse.

    Alm dessa variante do Caminho Novo, duas outras vias se originariam no Rio de Janeiro, ainda no

    sculo XVIII. Uma delas o Caminho para So Paulo, ou Estrada Real de Santa Cruz, ligando o Rio

    de Janeiro a So Paulo de Piratininga. Essa via foi aberta em 1725, com o objetivo de transportar

    o ouro vindo das Minas de Cuiab, no Mato Grosso, para os portos do Rio de Janeiro. O caminho

    passava por Santa Cruz, Itagua e So Joo Marcos; a seguir, prosseguia, entrando na Provncia de

    So Paulo por Bananal e, posteriormente, Areias, e conectando-se com o antigo caminho velho emCachoeira Paulista.

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    A outra estrada, denominada Rodeio, Caminho de Terra Firme ou ainda Caminho Novo

    do Tingu, foi aberta por volta de 1750. Iniciava-se no Rio de Janeiro, prosseguindo em

    direo ao Engenho de Pedro Dias onde o Guarda-Mor Pedro Dias Paes construiu a

    capela dedicada a N. S. de Belm e Menino Deus, atual Japeri e subia a serra do Tingu,

    fazendo ligao com o Caminho deGarcia Rodrigues, na Fazenda Pau Grande. margem

    desse caminho viria a ser construda uma capela ue daria origem freguesia de Sacra

    Famlia do Caminho Novo do Tingu.

    Estrada Normal da Estrela. Marc Ferrez. INSTITUTO MOREIRA SALLES.10

    10 FERREZ, Marc. O Brasil de Marc Ferrez; 2 edio. So Paulo. INSTITUTO MOREIRA SALLES.IMS, 2005.

    Desses caminhos aparecem derivaes no sculo XIX, como auele ue, saindo de Belm

    (hoje Japeri), na direo de Terra Firme ou Rodeio, rumava para a capela de Thomazes,

    entre os rios Pira e Paraba do Sul, em seguida, para Barra Mansa e Campo Alegre da

    Paraba Nova, atual Resende. Essa estrada aparece citada com a denominao de Estrada

    Real das Boiadas.

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    cminhos do

    No incio do sculo XIX, com o esgotamento das minas de ouro nas Gerais, os caminhos abertos

    para o carregamento desse metal permitiram ue uma nova riueza, o caf, povoasse as terras

    praticamente virgens do Vale do Paraba do Sul. Com o apoio da Coroa, novas estradas logosurgiram, enuanto as antigas iam sendo melhoradas ou ampliadas com o objetivo de facilitar o

    escoamento da importante carga, inicialmente transportada em lombo de mula.

    As primeiras a serem construdas, no sculo XIX, ligando os portos do litoral ao Vale do Paraba

    do Sul, derivam de variantes e ramais dos antigos Caminhos: Velho e Novo.

    No Caminho Velho, o primitivo porto de Paraty foi substitudo pelos portos de Jurumirim, Arir,

    Itanema, Frade, Mambucaba, Bracu e Stio Forte, todos na baa de Angra dos Reis. Esses

    portos ue recebiam uase toda a produo do Sul e Sudoeste fluminenses, do chamadoNorte Paulista, da zona meridional de Minas e ainda de Gois. At 1864, a antiga povoao de

    Santos Reis Magos, atual cidade de Angra dos Reis, foi, depois do Rio de Janeiro, o porto mais

    movimentado do Sul do Brasil. Havia ainda os portos de Itagua e Mangaratiba.

    Atravs desses portos tambm se fazia o desembarue de africanos no litoral sul do Rio de

    Janeiro. Dois anos depois da promulgao da Lei de 1850, ue proibiu o trfico de escravos, um

    importante acontecimento, conhecido na poca como Caso de Bracuhy, envolveu os nomes

    de ricos fazendeiros com a atividade recm-proibida, como os de Manoel de Aguiar Vallim,

    o maior produtor de caf na regio de Bananal, e do Comendador Joauim Jos de Souza

    Breves, o chamado Rei do Caf. Todos foram indiciados, mas... inocentados.11

    nesses portos ue se iniciam as novas estradas, como a de Mambucaba, ue margeava o

    rio do mesmo nome, seguindo at a Serra Geral e a do Frade, onde se bifurcava para Silveiras

    e para So Jos do Barreiro e Resende; a estrada de So Joo Marcos, ue ligava o porto

    de Mangaratiba cidade do mesmo nome e subia em direo de Rio Claro at atingir Barra

    Mansa, onde se dividia para Resende e quatis; e a do Caramujo, ue ligava os portos de

    Angra dos Reis e Jurumirim a Rio Claro. So por essas estradas ue, at a construo dostrilhos da Estrada de Ferro D. Pedro II, se escoa toda a produo de caf de Resende, Barra

    Mansa, So Joo Marcos, Bananal e So Jos do Barreiro, regio pioneira na produo dessa

    lavoura no Vale.

    Dos portos da Baixada, ue serviam ao antigo Caminho Novo e variante, tambm surgem novas

    estradas: Comrcio, Polcia, Werneck e Presidente Pedreira. O Porto da Estrela, retratado por

    Rugendas, era um dos mais importantes da regio.

    11 MATTOS, Hebe Maria e SCHNOOR, Eduardo. Resgate: Uma janela para o Oitocentos. Rio de Janeiro: Editora Topbooks, 1995.

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    Esrd do comrio

    Construda entre 1813 e 1817 pela Real Junta de Comrcio,

    Agricultura, Fbrica e Navegao do Estado do Brasil e Domnios

    Ultramarinos, da o nome Comrcio. A estrada partia do Portode Iguau, no rio de mesmo nome, prximo ao Caminho Novo,

    mas, em lugar de subir rumo a Paty do Alferes, tomava a direo

    mais para o sul, galgando a Serra do Mar, em trecho ue foi

    chamado Serra da Estrada Nova entre as Serras do Tingu e

    de Sant Ana e passando Vera Cruz, Massambar, at atingir

    as margens do Rio Paraba do Sul. Da dividia-se: um brao

    rumava rio abaixo, entrava pela Fazenda de Ub, at encontrar o

    Caminho Novo e o da Estrela; o outro cruzava o rio, cuja travessia

    era feita por meio de balsa. Nesse ponto foi instalado um registro

    de mercadoria, ue deu origem localidade de Comrcio. Desse

    local, a estrada seguia para o Portodos ndios (nas margens do

    Rio Preto), mas antes, nas proximidades de Taboas, cruzava

    a estrada aberta por Rodrigues da Cruz, em 1801, ue segue

    para a Aldeia de N. Senhora da Glria de Valena, atual cidade

    de Valena, at atingir a Vila de Nosso Senhor dos Passos do

    Presdio de Rio Preto, na divisa da provncia de Minas Gerais.

    Segundo o Relatrio da Presidncia da Provncia do Rio de

    Janeiro de 1835, p. 28, esta estrada ainda no tinha atingido a

    Provncia de Minas, como objetivava.

    Ao longo do sculo XIX, surgiram vrias derivaes dessa

    estrada, a maioria delas construdas dentro dos municpios de

    Valena e Vassouras. Observe-se ue grande parte dessa

    estrada ainda existe e permanece em uso. importante ressaltar

    ue sua construo beneficiou, sobretudo, as principais fazendasdo Baro de Ub, constitudas, poca, de um complexo de 14

    sesmarias, capitaneadas pelas propriedades de Ub e Cazal. O

    Baro de Ub, um dos mais importantes membros da Junta de

    Comrcio, foi sem dvida nenhuma um grande articulador da

    construo da estrada.

    O naturalista August SAINT-HILLAIRE, ue descreve

    maravilhosamente o Brasil nos relatos de suas viagens por

    muitos desses caminhos, percorreu, em 1822, a Estrada do

    Comrcio, ue ele tambm denominava de Estrada Nova.

    Planta Hydro-topogrfica da Estrada do

    Commrcio. 1:60.000. Prodecncia/Autoria:ConradJacob de Niemeyer. 1844.FUNDAO BIBLIOTECA NACIONAL. FBN.

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    Esrd d Poli

    O seu traado tinha como objetivo ligar a capital do Reino do Brasil, o Rio de Janeiro, ao sul da

    provncia de Minas Gerais, passando pelo Vale do Paraba. Foi aberta a partir de 1817, pelo

    Intendente de Polcia do Rio de Janeiro, Paulo Fernandes Vianna, uma das mais proeminentesfiguras da Corte de D. Joo VI. Possuindo mais de 20 lguas de extenso, comeava no Rio

    Pavuna e seguia por uma vrzea de cinco lguas at iniciar a subida da Serra do Mar, no lugar

    denominado Joo Paulo, da para cima, seguia pelos morros atravessando as Serras de Santa

    Ana, Botaes, passava em Simo Antnio, prximo Sacra Famlia do Tingu, Serra do Mata

    Ces, aonde se chegava fazenda de Jos Rodrigues Alves, onde mais tarde foi fundada a

    cidade de Vassouras. Da prosseguia at as margens do Rio Paraba, onde foi construda uma

    ponte de madeira. s margens desse rio encontra-se a grandiosa Fazenda Santa Mnica, dos

    Marueses de Baependy, cuja propriedade muito se beneficiou com a construo da estrada. De

    Santa Mnica a estrada tomava a direo da Aldeia de Valena e, da, passava pelas terras de

    Vianna, para pouco mais adiante atingir a Vila do Presdio de Rio Preto.

    Vista da Cidade de Vassouras. V. FROND. ACERVO PAULO LAMEGO.

    12 Ib. 9

    De grande importncia para as fazendas de Vassouras e Valena, conforme citado na obra de

    Stanley Stein13 sobre a regio, assim referiu-se Joauim Jos Teixeira Leite, o futuro Barode Vassouras, Estrada da Polcia: nica fonte de vida e prosperidadee, ainda, se vocs

    desviarem essas estradas da cidade, a cidade ter ue se mudar tambm. Dessa estrada ainda

    existem trechos do traado original, a maioria no municpio de Vassouras.

    Em 1829, o pastor Robert Walsh percorre a Estrada da Polcia e, em seu livro Notice of Brazil,

    refere-se Vila de Valena, enuanto Sir Charles Banbury, em 1835, viajando, com toda certeza

    pela mesma estrada, j encontrou a Vila de Vassouras construda.

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    Esrd Presidene Pedreir

    Idealizada em 1840, s se tornou praticvel por volta de 1850. Antes denominada Estrada

    da Bocaina dos Mendes, seu traado foi estudado pela primeira vez por engenheiros da

    provncia do Rio de Janeiro sob as ordens do Presidente da Provncia, Jos ClementePereira, proprietrio da extensa Fazenda das Cruzes, nas proximidades de Ypiranga,

    municpio de Vassouras, cuja estrada cortou a mencionada fazenda. A estrada iniciava-

    se em Pavuna, passava por Belm (hoje, Japeri), Macacos (hoje, Paracambi) e subia a

    serra margeando o rio dos Macacos, at atingir Rodeio (hoje, Paulo de Frontin). Desse

    ponto a estrada tomava a direo de Santa Cruz dos Mendes (hoje, Mendes) e da

    seguia at as margens do Rio Paraba do Sul, em Ypiranga. Atravessando o rio, a

    estrada tomava a direo de Ipiabas, passando pelas terras do Baro do Rio Bonito,

    at atingir Santo Antnio do Rio Bonito (hoje, Conservatria). Em 1853, o presidente da

    provncia autorizou o fazendeiro Manoel da Silva Pereira Jnior a estender a estrada at

    a Santa Isabel do Rio Preto, na divisa com a Provncia da Minas Gerais, fazendo ligao

    com a Estrada de Bom Jardim na provncia de Minas Gerais.

    A respeito das vantagens da estrada para Vassouras, assim oficiou o Presidente da

    Cmara de Vassouras ao Presidente da Provncia, em 16 de setembro de 1853:

    ... no era apenas especialmente vantajosa, mas ainda absolutamente

    necessria para a cidade de Vassouras e a maior parte do municpio, queat a esta no tinha uma nica estrada de carroa para viajar Corte e

    para transportar certas cargas volumosas. (STEIN, 1985, p. 137)

    O nome Presidente Pedreira foi uma homenagem ao ento Presidente da Provncia

    do Rio de Janeiro Lus Pedreira do Couto Ferraz, o Visconde de Bom Retiro, por ter

    sido responsvel pelo trmino da obra. Com a chegada dos trilhos da Estrada de Ferro

    D. Pedro IIem Barra do Pira, a Presidente Pedreira foi praticamente abandonada no

    trecho Vassouras / Barra do Pira.

    As estradas supracitadas comunicavam-se atravs de outras to importantes uanto,

    como as Estradas de Werneck(ue cortava a do Comrcio, prximo a Paty do Alferes) e

    do Presidente ou Picu, uma derivao da Estrada de So Paulo, ue, saindo de Itagua,

    subia a serra na direo de Pira, passando depois por Barra Mansa, Resende, at

    encontrar a Serra do Picu na Provncia de Minas. Essa estrada (do Picu) foi construda

    entre 1843 e 1846. Havia tambm a Estrada Resende-Arir, construda na dcada de

    1830e a dos Fazendeiros, ue ligava Dores, no municpio de Pira, ao Porto da Pavuna,

    construda em 1840.

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    Esrd Unio e Indsri

    Descontando-se os caminhos percorridos com carroas pelos tropeiros e ue ligavam cidades e vilas

    brasileiras desde o sculo XVI, foi apenas com a inaugurao da Estrada Unio Indstria, em 1861,

    idealizada e executada pelo genial empreendedor Mariano Procpio Ferreira Lage, ue a histria das

    estradas pavimentadas comeou a ser escrita.

    A princpio a idia parecia absurda, pois o projeto, alm de inovador, era caro. Mas, sonhado por muitos

    fazendeiros do Vale, ue viviam atormentados pela demora do transporte do caf at a Corte, tudo se

    fez para concretiz-lo. A moderna tcnica construtiva da estrada acabava, em parte, com os enormes

    atoleiros causados pelas caravanas de mulas ue levavam o caf do Vale aos portos da Baixada.

    Estrada da Unio e Indstria trecho de Paraibuna.lbum da Estrada Unio e Indstria.13

    A maior obra de engenharia na Amrica Latina da poca comeou a tornar-se realidade em 7 de agosto

    de 1852, uando Mariano Procpio obteve, graas ao decreto n0 1.301 do Governo Imperial, a autorizao

    para a referida construo. As obras foram iniciadas em 12 de abril de 1856, com a presena e o incentivo

    de D. Pedro II e sua comitiva. Os trabalhos exigiam, no entanto, uma grande determinao de engenheiros

    e operrios, uma vez ue implicavam construes de pontes e os trajetos eram entrecortados pelas

    escarpas granticas da serra do Tauaral. Mariano Procpio encarregou o engenheiro alemo Koeler para

    assumir a responsabilidade do trecho ue ia da cidade de Trs Rios at Juiz de Fora ( poca, Paraibuna);

    e o brasileiro Antnio Maria Bulhes, do percurso entre as cidades de Petrpolis e Trs Rios.

    13 Vasuez, Pedro Karp.lbum da Estrada Unio e Indstria. 2 edio. Rio de Janeiro : quadratim G, 1998.

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    Tropa de Mulas na Estrada

    Unio e Indstria.

    lbum da Estrada Unio e Indstria.14

    Ao longo da estrada foram construdas slidas pontes de pedra e ferro, ue passaram a constituirverdadeiras relquias de engenharia, e de arte, j ue algumas resistiram bravamente ao tempo, como a

    das Garas, em Trs Rios.

    Nas margens da estrada, alm de se construrem muretas de pedra, plantaram-se mulungus vermelhos,

    rvores da famlia das leguminosas ue, dada a trama bem-feita de suas razes, conferem grande

    resistncia aos terrenos dos acostamentos. Em poca de florada, essas rvores proporcionavam um

    aspecto agradvel estrada, ue ficava toda salpicada de flores vermelhas. Nas 12 estaes de mudas

    edificadas, nenhuma aruitetura foi repetida.

    A tcnica de construo

    da estrada era das mais

    modernas do mundo, incluindo

    o uso do macadame, recurso

    ue Mariano aprendera nos

    Estados Unidos. O macadame

    uma tcnica ue surgiu na

    Esccia, uando John Mac

    Adam inventou um sistema

    de construo de estradas

    e ruas ue consiste em abrir

    nelas uma cavidade abaulada,

    igualmente alta em toda a sua

    largura (caixa de estrada), a serpreenchida com uma camada

    de pedra britada; esta, por sua

    vez, recoberta por outra de

    saibro e calcada com o rolo ou

    cilindro, formando um corpo

    slido e compacto.

    14 Ib. 13

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    Dividida em duas etapas, a estrada, ue foi concluda em 23 de julho de 1861, estendia-se por 144 km no

    eixo principal, ou seja, Petrpolis/Juiz de Fora, perfazendo 96 km no Estado do Rio de Janeiro e 48 km no

    Estado de Minas Gerais. Contava ainda com trs ramais, a saber: o primeiro partia de Paraibuna, seguia

    pela margem direita do rio Preto at Porto das Flores (hoje, Manoel Duarte), passando por Trs Ilhas e

    Santa Rosa; o segundo comeava na estao da Posse e ia at Aparecida, passando por Rio Preto (hoje,

    So Jos do Vale do Rio Preto); o terceiro ramal ia da Estao Luis Gomes a Sapucaia passando porBemposta. Os dois ltimos no foram concludos.

    Ponte das Garas, Trs Rios.

    lbum da Estrada

    Unio e Indstria.15

    Sem dvida nenhuma o ramal de Paraibuna foi o mais importante dos trs, como afirmado pelo prprio

    Mariano Procpio, em carta escrita ao Vice-Presidente da Provncia do Rio de Janeiro, datada de 1865:

    Finalmente est bem demonstrada a utilidade que o ramal da estao do Paraibuna a Porto

    das Flores presta lavoura, dizendo-se que o Exmo. Baro do Rio Preto, possuidor de extensas

    propriedades de Porto das Flores para cima, e mais avizinhado de Valena que da estao de

    Paraibuna, e todavia o melhor fregus desta, abraou calorosamente a idia de se levar avante

    o melhoramento projetado, concorrendo com 10:000$000, de acordo com BASTOS.

    A magnitude e importncia ue essa estrada trouxe podem ser ainda avaliadas pela descrio ue dela

    feita, em palavras e fotografias, no primeiro guia de viagens do Brasil, Doze horas em diligncia Guia

    do viajante de Petrpolis a Juiz de Fora, escrito pelo fotgrafo do imperador, o francs Revert Henriue

    Klumb, editado em 1872.

    15 Ib. 13

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    Estao de Paraibna.

    lbum da Estrada Unioe Indstria.16

    Estao de Trs Rios.

    lbum da EstradaUnio e Indstria.17

    16 Ib. 1317 Ib. 13

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    O dveno ds errovis

    No decorrer do sculo XIX, o crescimento econmico do pas, em grande parte devido exportao do

    caf produzido principalmente no Vale do Paraba, contribuiu para ue foras polticas, representadas

    por fazendeiros da regio, convencessem o governo da necessidade de implantao de uma rede

    ferroviria na Provncia do Rio de Janeiro.

    Em resposta presso da Inglaterra, ue tambm cobrava ao governo brasileiro o fim ao trfico

    transatlntico de africanos, foi editada em 1850 a Lei Eusbio de queiroz. O capital mercantil, ue antes

    privilegiava esse comrcio milionrio, a partir desse momento foi direcionado para outras atividades,

    destacando-se o surgimento de bancos comerciais, ue permitiram o financiamento e auisio de

    mauinaria para beneficiamento de caf e a construo de ferrovias para o escoamento da produo.

    Irineu Evangelista de Souza, futuro Visconde de Mau, ue se tornou um personagem importante de

    nossa histria, foi um dos ue solicitou o privilgio de construir uma via frrea, ue viria a ser a primeira

    da Amrica Latina. Inaugurou-se, assim, em 30 de abril de 1854, a Cia. Estrada de Ferro Mau, com

    14,5km de extenso, apenas 20 meses aps o incio das obras. Essa estrada ligava a localidade de

    Pacobaba, margem da Baa de Guanabara, hoje Mau, raiz da serra do Mar, no caminho para

    Petrpolis. O primeiro trem da E. F. Mau foi tracionado pela locomotiva Baronesa, construda na

    Inglaterra por William Fairbarin & Sons em 1852.

    Em 29 de maro de 1858, inaugurava-se o trecho da primeira seo da Estrada de Ferro D. Pedro II,com 48 km de extenso, indo da Estao da Corte, na praa da Aclamao (atual praa da Repblica),

    a queimados, municpio de Nova Iguau, na Baixada Fluminense. Essa primeira seo foi concluda

    sete meses depois, com a inaugurao da estao de Belm, hoje Japeri. A partir da, para se atingir o

    Vale do Rio Paraba do Sul, um grande obstculo deveria ser vencido, a Serra do Mar. Da, a estrada

    deveria bifurcar-se nos sentidos de Minas Gerais e So Paulo. O ponto da bifurcao da estrada foi

    motivo de acaloradas discusses, envolvendo, dois grupos distintos de fazendeiros, ambos influentes

    e prestigiados pelo Imperador.

    Por um lado, fazendeiros de Vassouras, representados pela famlia Teixeira Leite, ue desejavam

    localiz-lo na primeira estao da serra Rodeio, atual cidade de Paulo de Frontin passando por

    Vassouras, a caminho de Minas Gerais, e cortando o municpio de Vassouras ao meio, para depois

    alcanar as margens do rio Paraba do Sul. O outro grupo, constitudo por fazendeiros valencianos

    representados principalmente pela famlia Faro, desejava ue a ferrovia se dirigisse at as margens

    do Paraba do Sul, na altura de Barra do Pira, onde possuam terras. Diante da polmica instaurada,

    D. Pedro II mandou realizar um estudo ue definisse o trajeto mais vivel e, com base nas indicaes

    tcnicas, resolveu ue a bifurcao seria em Barra do Pira.

    1Publicao do Centro de Preservao da Histria Ferroviria do Rio de Janeiro, Engenho de Dentro. Rede Ferroviria Federal S. A, 1983.p. 31 e 36.2Ibidem.3Ibidem.

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    Estao de Vassouras8

    8 Ib. 4

    Dentre todas as estaes ue foram inauguradas na Estrada de Ferro D. Pedro II, a ue mais

    repercusso causou foi a Estao do Desengano, atual Juparan, assim descrita nas festividades de

    sua inaugurao ue contou com a presena da famlia imperial:

    um grande e lindo edifcio que tem nas extremidades dous bellos pavilhes e no centro

    uma elegante torre, em que est colocado um excellente relgio. Contem, nos pavilhes

    e nas salas das extremidades, accommodaes para os empregados da estao,

    escriptorios, recepo de passageiros, etc., e no centro um armazm da conveniente

    capacidade para um ponto que deve ser de considervel trafego...

    esta, sem contestao, de todas as estaes da estrada de ferro D. Pedro II a que

    merece ser visitada e apreciada com a belleza do edifcio. (Almanak Laemmert, 1865)

    Acervo Fundao Biblioteca Nacional.

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    Em funo de toda a riueza econmica, a malha ferroviria vai se expandindo a partir de novos

    entroncamentos com a Estrada de Ferro D. Pedro II. Em 1875, a regio do Mdio Paraba j contava

    com 15 estaes das 48 existentes nessa ferrovia: a Estrada de Ferro Unio Valenciana, Estrada de

    Ferro Rio das Flores, Estrada de Ferro Santa Isabel do Rio Preto, Ferro Carril Pirahyense, Estrada de

    Ferro Bananalense, Estrada de Ferro Resende a Areias, estas duas ltimas indo at a Provncia de So

    Paulo, na divisa com a do Rio de Janeiro (Bananal e Areias).

    Acervo Fundao

    Biblioteca Nacional

    Acervo Fundao

    Biblioteca Nacional

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    Havia tambm duas companhias de carris por trao animal, a Ferro Carril Vassourense,

    inaugurada em 5 de maro de 1875, sendo aproveitada em 1883 por locomotivas a vapor, ligava

    a cidade de Vassouras Estrada de Ferro D. Pedro II, distante 7km , e a Ferro Carril Paraibuna,

    ue, embora no fosse ligada D. Pedro II, foi de grande importncia para o escoamento do

    caf do Vale do Rio Preto e aduiriu os direitos de explorao do antigo ramal Paraibuna-Porto

    das Flores, da Estrada Unio Indstria.

    as errovis ps-perodo imperil

    Aps a proclamao da Repblica em 1889, a Estrada de Ferro D. Pedro II teve seu nome

    mudado para Estrada de Ferro Central do Brasil. Ao longo de sua expanso, no sentido das

    terras paulistas e mineiras, a empresa foi anexando vrias linhas frreas de propriedade do

    Estado e de particulares, como tambm a construo de novas.

    Nesta poca foi iniciada a construo da chamada Linha Auxiliar, executada pela Estrada de Ferro

    Melhoramentos a partir de 1892, e em 1898 foi entregue o trecho entre Mangueira, na Capital (onde

    essa linha e a do Centro se separam) e Entre Rios (Trs Rios). O traado da serra foi projetado porPaulo de Frontin, um dos incorporadores da estrada. Em 1903, a Estrada de Ferro Melhoramentos foi

    agregada Estrada de Ferro Central do Brasil e passou a se chamar Linha Auxiliar.

    Acervo Marcus Monteiro.

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    Outras ferrovias foram incorporadas a ela, como a linha de carris de Vassouras, construindo um ramal

    entre a Estao de Baro de Vassouras, na Linha Centro da Central do Brasil, at a localidade de

    Governador Portela em Miguel Pereira, na linha tronco da Auxiliar. Este trecho, ue ficou conhecido

    como Ramal de Vassouras, foi inaugurado em 1914.

    A Unio Valenciana e a Rio das Flores, depois de aduiridas, em 1910, pela Unio, foram conectadas,

    atravs da localidade de Taboas, fazendo ligao com a linha Centro, da Central do Brasil na altura de

    Afonso Arinos. O trecho Comrcio a Taboas foi desativado anos depois e o ramal Valena a Rio Preto

    foi prolongado at Santa Rita de Jacutinga, em Minas Gerais, conectando-se com a Estrada de Ferro

    Oeste de Minas em 1918.

    Em setembro de 1889, a Estrada de Ferro Santa Isabel do Rio Preto foi aduirida pela Companhia

    Estrada de Ferro Santana, antiga Pirahyense. Meses depois, as duas foram compradas pela Companhia

    Viao Frrea Sapucahy. Em 1893, foi feita a ligao da antiga Santa Isabel com a antiga Santana,estabelecendo-se assim a conexo entre Pira e Bom Jardim de Minas, via Santa Rita de Jacutinga, na

    Estrada de Ferro Oeste de Minas. Tempos depois a Sapuca foi aduirida pela Rede Mineira de Viao,

    constituindo, nos anos de 1950, a ferrovia mais extensa do Brasil.

    A Estrada de Ferro Resende - Areias foi vendida, em 1879, Companhia Estrada de Ferro Resende-

    Bocaina, e continuaria em funcionamento at 1928, uando foi completamente extinta. A Estrada de Ferro

    Ramal Bananalense foi vendida no final do sculo XIX a particulares, ue mudaram sua denominao

    para Estrada de Ferro Bananal. Em 1918, a Unio aduire esta ferrovia para vend-la novamente

    Estrada de Ferro Oeste de Minas. Em 1931, volta para a Estrada de Ferro Central do Brasil .

    A Estrada de Ferro Central do Brasil continuou na esfera federal at 1941, uando passou a ser uma

    autaruia, situao em ue permaneceria at 1957, uando foi incorporada Rede Ferroviria Federal.

    Logo a seguir a Rede tomou a iniciativa de desativar gradualmente vrios dos ramais ferrovirios aui

    mencionados, alegando inviabilidade econmica.

    Fontes

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    BARREIROS, Eduardo Canabrava. D. Pedro: Jornada a Minas Gerais em 1822. Coleo Documentos Brasileiros Volume 161. Riode Janeiro: Livraria Jose Olympio Editora, 1973. p. 03

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    Imagens fotogrficas(crditos):

    ARqUIVO CENTRAL DO IPHAN.

    ARqUIVO NACIONAL - AN

    FUNDAO BIBLIOTECA NACIONAL - FBN.

    FUNDAO DA IMAGEM E DO SOM - MIS

    INSTITUTO MOREIRA SALLES - IMS.

    COLEES PARTICULARES.