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A cultura celta não deve ser confundida de forma alguma com a cultura nórdica. Os celtas foram um povo que ocupou as ilhas britânicas bem como a península ibérica se expandindo para as terras que hoje são a Alemanha, daí talvez o encontro de culturas, como é o caso dos germanos que tem entrada na cultura nórdica. No entanto, são culturas na sua base diferentes. O estudo das sociedades celtas na Antigüidade segue uma periodização dividida em duas épocas: a época de Hallstatt (Primeira Idade do Ferro) e a época de La Tène (Segunda Idade do Ferro). Esses períodos foram assim denominados devido aos sítios arqueológicos onde foram encontradas as primeiras evidências das sociedades celtas dessas épocas, no entanto, não há uma uniformidade na datação desses períodos Aos olhos dos arqueólogos e historiadores que se dedicam ao estudo das tribos celtas antigas, as sociedades hallstattianas eram sociedades rurais que se encontravam organizadas em “fazendas” e pequenas aldeias dispersas pelo território, estando elas, porém, submetidas aos assentamentos fortificados localizados no topo de montes. Assim compreendidos tais assentamentos constituiriam centros regionais, que controlariam toda a região ao seu redor até, aproximadamente, 50km de distância. Para muitos autores, seriam eles, ao mesmo tempo, fortalezas, onde em caso de guerra ou perigo se refugiaria toda a população, e também o local onde residiriam os chefes, os membros da aristocracia mais próximos a ele e os artesãos que produziriam os bens para consumo dessa aristocracia. Neste sentido, as estruturas das fortalezas hallstattianas indicariam centros proto-urbanos que concentrariam: a produção artesanal, o armazenamento do excedente da produção, a redistribuição dos recursos, as trocas e o centro político dessas sociedades; sendo, portanto, interpretados como residências ou centros principescos. Dentre os principais sítios da primeira Idade do Ferro destaca- se o caso de Hochdorf que, com a tumba principesca e a aldeia encontrada próxima a ela, não se insere nesse modelo organizacional das sociedades hallatattianas, uma vez que não foram encontrados vestígios de uma residência principesca relacionada a este sítio. A Ilha de Eriú

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Mitologia

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Page 1: os celtas

A cultura celta não deve ser confundida de forma alguma com a cultura nórdica.

Os celtas foram um povo que ocupou as ilhas britânicas bem como a península ibérica se expandindo para as terras que hoje são a Alemanha, daí talvez o encontro de culturas, como é o caso dos germanos que tem entrada na cultura nórdica.

No entanto, são culturas na sua base diferentes.

O estudo das sociedades celtas na Antigüidade segue uma periodização dividida em duas épocas: a época de Hallstatt (Primeira Idade do Ferro) e a época de La Tène (Segunda Idade do Ferro). Esses períodos foram assim denominados devido aos sítios arqueológicos onde foram encontradas as primeiras evidências das sociedades celtas dessas épocas, no entanto, não há uma uniformidade na datação desses períodos

Aos olhos dos arqueólogos e historiadores que se dedicam ao estudo das tribos celtas antigas, as sociedades hallstattianas eram sociedades rurais que se encontravam organizadas em “fazendas” e pequenas aldeias dispersas pelo território, estando elas, porém, submetidas aos assentamentos fortificados localizados no topo de montes.

Assim compreendidos tais assentamentos constituiriam centros regionais, que controlariam toda a região ao seu redor até, aproximadamente, 50km de distância. Para muitos autores, seriam eles, ao mesmo tempo, fortalezas, onde em caso de guerra ou perigo se refugiaria toda a população, e também o local onde residiriam os chefes, os membros da aristocracia mais próximos a ele e os artesãos que produziriam os bens para consumo dessa aristocracia.

Neste sentido, as estruturas das fortalezas hallstattianas indicariam centros proto-urbanos que concentrariam: a produção artesanal, o armazenamento do excedente da produção, a redistribuição dos recursos, as trocas e o centro político dessas sociedades; sendo, portanto, interpretados como residências ou centros principescos.

Dentre os principais sítios da primeira Idade do Ferro destaca-se o caso de Hochdorf que, com a tumba principesca e a aldeia encontrada próxima a ela, não se insere nesse modelo organizacional das sociedades hallatattianas, uma vez que não foram encontrados vestígios de uma residência principesca relacionada a este sítio.

A Ilha de Eriú

Quando os celtas começaram a chegar à Irlanda, por volta do século V a.C., encontraram na ilha culturas neolíticas e megalíticas, com as quais se fundiram. Esse caldeamento do modo de vida celta com os povos anteriores deu origem às peculiaridades irlandesas, ao mesmo tempo que se mantinham os traços básicos que demonstram parentesco com os galeses e bretões. Gregos e romanos tiveram notícias dos irlandeses, que conheciam com os nomes de hibernes, ou iernes, possível origem do termo que posteriormente designou a ilha e seu povo: Ériu, hoje Eire.

Essas notícias chegavam aliadas a idéias confusas sobre lugares distantes e misteriosos, pois Rufo Festo Avieno em Ora Marítima chama à terra dos iernes a ilha sagrada. Um dos elementos destacados dos iernes era a organização estável de reinos – contrastando com a organização tribal da maioria dos outros celtas, chegando, inclusive, a haver a predominância

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de um Grande Rei sobre os demais, com destaque para o reino de Tara, que foi celebrizado no filme O vento levou como o expoente máximo da autoridade central e da unidade dos irlandeses. Outro aspecto destacado era a formação dos poetas (fili) e, sobretudo dos druidas, que era muito longa, de vinte anos ou mais e que incluía o estudo e recitação de poesia, de listas de reis, e de conhecimentos práticos e teóricos sobre a natureza. A elite intelectual irlandesa não chegou, porém, a criar nenhum tipo de alfabeto ou de escrita.

O período celta pagão durou cerca de dez séculos, e encerrou-se quando missionários galeses – dos quais São Patrício é o mais conhecido – pregaram o Evangelho em Ériu, a partir do século V. Mas a cultura tradicional permaneceu e de certo modo se consolidou. De fato a conversão dos eriúgenas ou iernes ao cristianismo processou-se de modo pacífico, sem traumas nem mártires, o que teve conseqüências muito especiais. A mais determinante foi o outro lado dessa moeda: se os celtas pagãos aceitaram o cristianismo, enquanto cristãos não rejeitaram a cultura tradicional. Pelo contrário, munidos agora de instrumentos intelectuais mais elaborados puderam transcrever e redigir as lendas e poesias que até então só recitavam de memória. Já no século VII foram escritas as poesias épicas do Ciclo de Ulster, centrado no herói Cúchulain, e o ciclo das confrarias de caçadores dirigidos pelo guerreiro Finn.

Deve-se lembrar a propósito o Ciclo de Artús, o herói galês que combateu os anglo-saxões, e se tornou, num contexto germanizado, uma das maiores fontes da literatura medieval: o Rei Artur. Outra conseqüência da transição pacífica para o cristianismo foi a influência – talvez só indireta – da cultura dos druidas na formação monástica: o elevado nível de erudição e de dedicação ao estudo dos druidas deu tal impulso à vida cultural dos mosteiros irlandeses que em cerca de dois séculos eles já sobrepujavam todos os mosteiros do Continente. O alto grau de competência dos irlandeses ia da Teologia e da Filosofia à Cosmologia e à Astronomia, mas foram também mestres nas artes, sobretudo decorativas: iluminuras, miniaturas, ourivesaria, escultura, bem como na poesia e na retórica; assim se explica que, tendo se espalhado pela Escócia e pela Inglaterra, e depois pelo Continente, do século VII ao IX os monges irlandeses tenham contribuído decisivamente para o “reerguimento” cultural da Europa, chegando a merecer o título de salvadores da civilização. Mas o mais notável é que conseguiram criar uma forma de cultura cristã que em muitos aspectos preservava a tradição celta de Ériu. Mas essa criatividade por vezes fantasiosa, quando não obscura e rebuscada, mereceu-lhes a reprovação de Roma, a cujas imposições tiveram que ceder.

Mas o fim trágico da cultura celta irlandesa medieval chegou pela via das armas e da opressão. O que os romanos de César e os anglo-saxões não conseguiram – ocupar a ilha sagrada – os normandos levaram a cabo: a partir de 1171, quando Henrique II desembarcou na ilha com o seu exército, tudo o que podia representar a identidade irlandesa foi sistematicamente proibido e destruído. O roubo, a espoliação, e a humilhação fizeram os descendentes dos hibernes esquecer seu idioma – o gaélico – as suas tradições e a sua literatura. Vencidos, empobrecidos e esfomeados os irlandeses emigraram em massa para a América do Norte, sobretudo depois da grande fome de 1846-49.

A última fase da cultura celta irlandesa começou ainda no final do século XIX com a reação contra o domínio inglês e a retomada da

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consciência nacionalista. Delas foi sintoma a criação da Associação de Defesa do Gaélico, em 1876. A partir daí o Celtic Revival, que se estendeu aos irlandeses norte-americanos – não parou de crescer, e hoje se estende a quase todas as manifestações culturais na República da Irlanda. Só para lembrar um exemplo, a música de inspiração celta é um dos fenômenos artísticos contemporâneos de maior aceitação e difusão em todo o Ocidente.