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OS CONDOMINIOS RESIDENCIAIS HORIZONTAIS E AS TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM DO MORRO DO
IMPERADOR EM JUIZ DE FORA/MG
Nelson Paes Leme Domingues de Araújo Geógrafo, especialista em Gestão Ambiental e mestrando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal Fluminense.
Resumo
O presente trabalho mostra como os agentes sociais de uma cidade podem organizar
e transformar o espaço urbano e suas paisagens de acordo com seus interesses.
Essas transformações criam novos valores para os imóveis de determinado setor e
podem trazer inúmeros impactos ambientais, quando não é respeitada a legislação
ambiental em cada área em que estão inseridas. O estudo de caso escolhido mostra
as transformações na paisagem do Morro do Imperador, em Juiz de Fora e os
impactos ambientais causados pela proliferação dos condomínios residenciais
horizontais na região.
Palavras chaves: Paisagem, Impactos Ambientais e Condomínios Residenciais.
Introdução
Ao longo da história da humanidade o homem vem transformando a paisagem do
espaço terrestre com a finalidade de organizá-lo. Com a evolução das tecnologias, o
meio natural passou a ser modelado pelo homem. Milton Santos (2002) já afirmava
que o meio natural está ficando cada vez mais técnico.
As transformações da paisagem da superfície da Terra podem ser observadas na
maior parte do mundo e nos mais diversos tipos de organizações sociais. Ocorre tanto
em áreas rurais como em áreas urbanas. Porém, é no espaço das cidades onde são
observadas as maiores modificações, pois sobre este é que acontece a maior
concentração das atividades humanas. Para o geógrafo Roberto Lobato Corrêa
(1989), o espaço urbano capitalista é fragmentado e articulado, reflexo e
condicionante social, cheio de símbolos e campos de luta, ou seja, é um produto
social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes
que produzem e consomem espaço.
Ao considerar o espaço urbano e, por conseguinte, a transformação de sua paisagem
como fruto de um produto social, é importante considerar as ações dos agentes
sociais nesse processo de transformação.
O arquiteto e urbanista Carlos Nelson Ferreira dos Santos (1988) destaca a
importância dos agentes na produção do espaço urbano, comparando a cidade como
resultante de um jogo de cartas. Ele defende a idéia de que o ideal seria fazer com
que toda a população dominasse as regras básicas de conformação da sua cidade.
Portanto, as modificações na paisagem estão relacionadas à maneira com que os
agentes sociais organizam o espaço. Sendo assim, à mudança desses agentes
segundo as intervenções antrópicas, pode corresponder também uma mudança na
forma de organização do espaço.
No sistema capitalista os agentes transformam o espaço e a paisagem em função da
lógica do mercado, bastante empreendida pelos agentes imobiliários, valorizando e
desvalorizando lugares e terrenos de acordo com os interesses dos agentes
dominantes.
O crescimento dos centros urbanos também traz relevantes conseqüências para a
transformação e organização de seus espaços, além de alterar a maneira de como a
população se apropria desse espaço. Nos países em desenvolvimento como o Brasil
o processo de aglomeração urbana e crescimento das cidades vem acompanhado de
problemas, como violência e poluição; percebe-se, em contrapartida, o aumento pela
busca da qualidade de vida em diferentes escalas desses aglomerados.
Para fugir dos problemas causados pelo desenvolvimento insustentável das cidades,
muitas pessoas, principalmente aquelas com renda mais elevada, procuram por
moradias mais afastadas desses centros, com o desejo de contar com mais
segurança e conviver mais próximos às áreas verdes. Surgem assim os condomínios
residenciais, uma nova proposta de se morar; vende-se agora um novo estilo de vida,
mais saudável, em contato com a natureza, com conforto e a segurança pretendida.
Tal fato pode ser observado em várias cidades brasileiras.
Mas esses condomínios, como toda construção, transformam a paisagem local e,
muitas vezes, geram grandes impactos ambientais, pelo fato de muitos não
respeitaram as leis de proteção ambiental e de uso e ocupação do solo, e devido à
falta de planejamento paisagístico e urbanístico, virando, por vezes, uma espécie de
“favelas de luxo”. O termo se dá uma vez que encontramos um aglomerado de casas
luxuosas que descaracteriza a paisagem local, impermeabiliza o solo, modifica o
relevo e destrói quase toda a cobertura vegetal da área, afastando, assim, a
possibilidade de resposta adequada, sustentável, na busca pela qualidade de vida,
tanto procurada por seus moradores.
Este trabalho procura contribuir para o entendimento sobre a transformação da
paisagem, quando da criação e proliferação de condomínios residenciais, destacando
as alterações ocorridas no Morro do Imperador, em Juiz de Fora, Minas Gerais, onde
as construções desses condomínios causam sérios impactos ambientais, pois a
maioria de suas localizações se situa em topos de morros, em outras áreas de
preservação permanente e em áreas de preservação ambiental ou próxima a elas.
Condomínios no Brasil
Os processos sociais acontecem com clareza nas cidades capitalistas, devido ao
acúmulo de capital e da reprodução social no espaço. CORRÊA (1989) acredita que
esses processos propiciam a criação de funções e formas espaciais, constituindo,
assim, a distribuição e a organização espacial urbana.
São esses processos sociais, como o da urbanização, que transformam a paisagem
de um determinado local, de acordo com o interesse dos atores sociais envolvidos.
Podemos observar uma mudança no processo de urbanização brasileira que
começou a partir da década de 1970, primeiramente nas áreas metropolitanas e,
posteriormente, nas cidades de médio porte. É relevante a observação que essas
transformações advêm, principalmente, de processos sociais que impulsionam as
transformações físicas.
Segundo Nestor Goulart Reis (2006), essas mudanças se dão, entre outros, devido,
aos seguintes fenômenos:
“- a formação de áreas de urbanização dispersa, que se entende por esse vasto território, separada no espaço, mas mantendo estreitos vínculos entre si, como partes de um único sistema (urbano);
- a adoção de novos modos de vida pela população, que adquire maior mobilidade;
- a adoção de novas mobilidades de gestão do espaço urbano, com formas condominiais diversificadas, com loteamentos fechados, nos condomínios horizontais para residências ou fábricas e nos projetos de desenvolvimento urbano de maior porte, como de Alphaville ou Riveira de São Lourenço(SP);
- novas formas de organização do mercado imobiliário, com o surgimento de empreendimento de usos múltiplos, que reúne residências, comércio, lazer, ensino, indústria e escritórios.” (2006, p.12)
Com essas mudanças surgiram novas formas de uso do espaço, em áreas de
expansão e de renovação do tecido urbano. Nestor Goulart Reis identifica essas
áreas com a apresentação de características antes inexistentes, tais como:
- Área com freqüência isolada do tecido urbano tradicional;
- Empreendimentos que não incluem apenas loteamentos, mas também espaços
coletivos, infra-estrutura, serviços e edificações;
- Empreendimentos complexos com tratamento urbanístico, em boa parte, dos
padrões do urbanismo moderno;
- Ocorrência, muitas vezes, na periferia das cidades;
- Atendimento na maior parte dos empreendimentos a múltiplas finalidades, incluindo
residências, escritórios, indústrias, lazer, comércio e serviços diversos;
- Substituição da gestão pública pela privada.
Com esse novo processo de urbanização temos destaque para os condomínios
residenciais que começaram a proliferar de forma mais significativa a partir dos anos
1990.
O sucesso dos condomínios residenciais se deve ao crescimento dos centros urbanos
e de seus problemas, como, entre tantos, o aumento da poluição e o crescimento
econômico desigual, que têm como conseqüência o crescimento do desemprego, da
violência e da marginalização nesses centros urbanos.
Com o quadro presente na maioria das cidades grandes e de porte médio no Brasil,
pessoas com maiores poderes aquisitivos procuraram formas de morar em locais
onde a qualidade de vida e a segurança fosse o principal requisito.
Aproveitando esses anseios, os empreendedores imobiliários passaram a vender não
somente lotes, casa e apartamentos, mas sim um estilo de vida que tem como base o
contato com a natureza e o conceito de “comunidade” e “unidade de vizinhança”, que
segundo Nestor Goulart Reis, são as base desses grandes projetos urbanísticos.
Segundo LEITÃO (1999):
“Esses empreendimentos, de acordo com informes publicitários se propunham a resgatar a qualidade de vida comprometida pelo crescimento urbano desordenado, criando um novo modo de viver”. (1999, p.83)
Como exemplos desses empreendimentos no Brasil, podemos destacar, além dos
exemplos citados - o Alphaville na periferia de São Paulo e o Riviera de São Lourenço
em Bertioga - os conjuntos da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro.
Com o crescimento desse tipo de empreendimentos, surge uma preocupação com a
transformação da paisagem e, conseqüentemente, com a degradação ambiental dos
locais onde estão inseridos, pois os espaços são de uso coletivo, mas de propriedade
privada.
Ainda segundo Nestor Goulart Reis (2006):
“As normas de preservação não podem ser alteradas pelos proprietários isoladamente, pelas câmaras de vereadores ou por omissão de funcionários das prefeituras, uma vez que são objeto de contratos de direito privado, no momento da compra do imóvel. A conclusão possível é que as normas prevalecem quando há interesse dos próprios moradores (condôminos)”. (2006, p.151)
Assim, mesmo os empreendimentos oferecendo normas para o direito de construir e
para a preservação ambiental, sua preservação fica atrelada à vontade dos
proprietários.
Condomínios em Juiz de Fora/MG
O município de Juiz de Fora está localizado na Zona da Mata Mineira, na Bacia do rio
Paraíba do Sul. Com a população estimada em mais de 513 mil habitantes, de acordo
com o Censo Demográfico do IBGE (2000), ele possui uma área de 1437 km², sendo
aproximadamente 400 km² de área urbana.
Pertencente à Região Mantiqueira Setentrional, Juiz de Fora se insere na Unidade
Serrana da mencionada Zona da Mata Mineira, tendo como característica o relevo
ondulado, apresentando grandes variações de altitude, próximas a 1.000 m nos
pontos mais elevados, 670 a 750 m no fundo do vale do rio Paraibuna e níveis médios
em torno de 800 m, de acordo com o Plano Diretor (1996).
O clima da cidade é classificado como o tropical de altitude, que apresenta duas
estações bem definidas: o período de verão brando ou moderadamente quente,
destacado pela concentração de chuvas, com temperaturas médias em torno de 22ºC
e o período de inverno frio e com estiagem, com temperaturas médias em torno de
16ºC. Favorece, assim, a formação da Floresta Estacional Semidecidual Montona,
como vegetação original.
Quanto à hidrografia, de acordo com o Plano Diretor (1996), a cidade está contida na
bacia do Médio Paraibuna, tendo como afluentes principais os rios do Peixe e Cágado
e pertencente à bacia do rio Paraíba do Sul. O Perímetro Urbano é drenado por 156
sub-bacias de diversas dimensões.
O município de Juiz de Fora mantém seu destaque econômico no setor terciário. Com
destaque para os serviços ligados à área de educação, segundo CREMONESE
(2007) contamos com um universo composto por treze instituições de ensino superior,
sendo a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) a única instituição pública
nesse nível.
Devido aos processos históricos e de localização geográfica, somada ao destaque do
setor terciário na região, principalmente em relação ao comércio local e aos serviços
nas áreas de educação e saúde, Juiz de Fora continua na posição de cidade pólo da
Zona da Mata Mineira, influenciando também as cidades fluminenses mais próximas à
divisa estadual.
Como a maioria das cidades de porte médio brasileiras, Juiz de Fora também sofreu
as conseqüências do crescimento urbano e econômico. E, por conseguinte, os
condomínios residenciais foram às soluções encontradas por muitas famílias de
classe alta e média, para melhorarem sua qualidade de vida e segurança.
Os primeiros condomínios em Juiz de Fora surgiram nos anos 1970, mas somente na
década de 1990 os lotes vazios começaram a dar lugar às primeiras residências.
Pela proximidade da capital fluminense e pelo histórico da cidade, sempre houve uma
grande influência do Rio de Janeiro sobre Juiz de Fora. Isso explica o fato dos
condomínios residenciais começarem a aparecer com freqüência a partir dos anos
1990 na cidade, uma vez que neste período ocorreu o boom dos condomínios na
Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Assim como os empreendedores da Barra da Tijuca, os empreendedores de Juiz de
Fora também vendiam um novo estilo de vida, em contato com a natureza e com
segurança para os juizforanos de classe alta e média, uma vez que os condomínios
se localizam, conforme foi mencionado, mais afastado do centro da cidade e próximo
à áreas de preservação ambiental.
Mas os condomínios de Juiz de Fora possuem uma característica que os diferem dos
condomínios da Barra da Tijuca. Na cidade mineira esses empreendimentos são
horizontais e não possuem serviços de comércio, clubes, escolas etc.
“Estes empreendimentos estão instalados entre 1 e 8 kms de raio do centro urbano de Juiz de Fora. Normalmente, um loteamento-padrão tem acima de dez casas com área construída de 100 m² em média. A parte residencial é fechada por muros ou grades de 3 a 5 metros de altura. Sobre muros e cercas há cacos de vidro ou fios elétricos. Câmeras e guardas vigiam os limites da propriedade. Existe pelo menos uma portaria munida de guarita, cancela ou portão. Os seguranças ficam em contato por interfone com cada uma das casas, como nos edifícios residenciais. Nos condomínios fechados, é possível de se encontrar toda uma infra-estrutura de lazer: são quadras esportivas, salão de festas, piscinas, churrasqueira, pista de corrida e sauna. Existem também jardineiros e outros funcionários que cuidam da manutenção e seguranças motorizados. Em alguns casos, os próprios moradores se organizam para criar mais serviços”. (Souza, 2003 p. 61)
Figura 1: Condomínio em Juiz de ForaFoto: Do autor (2007)
Até o final da década de 1990 a maioria dos condomínios de Juiz de Fora se
localizava na Zona Oeste da cidade que, de acordo com o Plano Diretor de 1996, é a
área de expansão urbana do município.
Segundo o Plano Diretor de Juiz de Fora, 1996:
“O Setor Urbano Oeste da cidade apresenta-se como área de “expansão urbana”, ou seja, representa uma área urbana que compreende espaços predominantemente vazios e pouco adensados. Este setor é fruto de uma orientação que encontra seu principal marco na implantação da Av. Independência, na década de 1970.
O acentuado desnível do relevo em relação ao centro da cidade lhe conferiu a determinação de “Cidade Alta”. O setor caracteriza-se por uma ocupação horizontalizada, alastrada pela totalidade do território, com predominância de residências unifamiliares de, no máximo, dois andares. O caráter dos bairros contido neste setor é predominantemente residencial.”
Figura 2: Setor Oeste de Juiz de Fora.Fonte: SOUZA, 2003.
A ocupação do Setor Oeste da cidade é facilitada pela disponibilidade de água,
devido à represa de São Pedro que abastece a região e a disponibilidade de área
plana, mesmo se tratando de uma área topograficamente mais alta em relação ao
centro de Juiz de Fora; daí a denominação “Cidade Alta”.
O interesse da população de renda mais elevada pelo Setor Oeste da cidade é
impulsionado pelos equipamentos de lazer que a região oferece para a cidade, além
das áreas verdes e do Campos da Universidade Federal de Juiz de Fora, no Setor
Oeste ainda se encontram alguns clubes campestres, o aeroporto, o marco
paisagístico constituído pelo próprio Morro do Imperador e seu Mirante e as
cachoeiras do Córrego São Pedro.
Os condomínios em Juiz de Fora e as transformações na paisagem do Morro do Imperador
Criada pela Lei Federal 9985/2000, as Unidades de Conservação de Juiz de Fora,
que são classificadas de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação – SNUC são: Reserva Biológica Municipal do Poço D'Anta, Parque
Municipal da Lajinha, Área de Proteção Ambiental Mata do Krambeck, Particular do
Patrimônio Natural Vale de Salvaterra, Florestas Municipais que atualmente são 11
(onze).
Juiz de Fora também possui algumas áreas tombadas: O Morro do Cristo, o Parque
Halfeld e o Parque do Museu Mariano Procópio, que segundo a AGENDA JF, órgão
responsável por atuar na proteção, conservação e promoção do meio ambiente no
município são áreas protegidas por lei, mas que não possuem uma categoria de
manejo específica, de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC), mas foram tombadas devido ao seu aspecto cênico e paisagístico.
Muitos dos condomínios residenciais que surgiram em Juiz de Fora na década de
1990 localizam-se no Morro do Cristo também conhecido como Morro do Imperador.
Tombado pelo Poder Público nos decretos municipais 4312/90 e 4355/93, por
exercer importante função paisagística, representativa do padrão e relevo do
Município, o Morro do Cristo, com uma área aproximadamente 78 há, foi e ainda é
alvo das ações de empreendedores imobiliários.
Figura 3: Condomínios no Morro do ImperadorFonte: Google Earth (2007)
A importância paisagística do Morro do Imperador para Juiz de Fora é de tal grandeza
que em 1998 foi criada por lei uma Zona especial no seu entorno. A lei diz o seguinte:
“LEI Nº 9204 - de 15 de janeiro de 1998:
Cria Zona Especial na área resultante do entorno do "Morro do Imperador", acrescida da área compreendida entre o Parque Halfeld e o Morro do Imperador.
A Câmara Municipal de Juiz de Fora aprova e eu sanciono a seguinte Lei:
Art.1º - Fica definida como Zona Especial, de acordo com o art. 11 da Lei nº6910, de 31 de maio de 1986, a área de vizinhança do "Morro do Imperador", tombado nos termos do Decreto nº4312, de 24 de maio de 1990, alterado pelo Decreto nº 4355, de 17 de agosto de 1990, e a respectiva visibilidade, referida no Decreto nº4223 de 10 de novembro de 1989, que "Dispõe Sobre o Tombamento do Parque Halfeld".
Art.2º - A Zona Especial fica subdividida nos Setores 1,2,3,4 e 5, este último subdividido em Sub-setores "A" e "B", delimitados em planta conforme anexo I e memorial descrito de acordo com o anexo II.
Art.3º - O Setor 1 passa a ser considerado área "non aedificandi", sendo vedado o seu parcelamento.
Parágrafo Único - A área abrangida pelo Setor 1 será objeto de projeto para correção do processo de erosão existente e de estudo paisagístico, visando a integração com área tombada.
Art.4º - No setor 2 só será permitida a construção de edificações de até 02 (dois) pavimentos e altura igual a 8,00 (oito metros), altura esta medida a partir do ponto mais alto do meio-fio, na linha de testada do terreno até o plano transversal correspondente a última laje (forro) ou cobertura de edificação, não se considerando telhados sobre lajes de forro, caixas d'àgua, casa de máquinas e assemelhados, com faixa "non aedificandi" de 25% da propriedade total do terreno, permeável, vedado o corte de árvores.
Art.5º - No Setor 3, a altura das edificações não poderá ultrapassar a 9,00 m (nove metros), altura esta medida a partir do ponto mais alto do meio-fio, na linha de testada do terreno até o plano transversal correspondente ao último elemento construtivo.
Parágrafo Único - Os projetos serão previamente apreciados e analisados pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento - IPPLAN, através de seus diversos órgãos e/ou comissões, no âmbito das respectivas atribuições.
Art.6º - Vetado.
Art.7º - O Setor 5, que corresponde à área de vizinhança pertencente à UTI, será subdividido nos Sub-setores "A"e "B".
§ 1º - As edificações a serem construídas no Sub-setor "A", terão até 04 (quatro) pavimentos e altura máxima igual a 11,70 (onze metros e setenta centímetros), altura esta medida a partir do ponto
mais alto do meio-fio, na linha de testada do terreno até o plano transversal que contém o ponto mais altoda edificação.
§ 2º - As edificações a serem construídas no Sub-setor "B" terão até 06 (seis) pavimentos e altura máxima igual a 17,10 (dezessete metros e dez centímetros), altura esta medida a partir do ponto mais alto do meio-fio, na linha de testada do terreno até o plano transversal que contém o ponto mais alto da edificação.
§ 3º - Não poderá ser utilizado o espaço sobre a laje do 4º (quarto) pavimento, conforme estabelece o § 1º deste artigo, e nem, a do 6º (sexto) pavimento, de acordo com o previsto no § 2º do mesmo artigo.
Art.8º - Será exigido projeto paisagístico relativo às áreas abrangidas pelos setores de 1 a 4, incluindo, no mínimo, soluções para correção do processo de erosão, se verificado, assim, como reflorestamento destas áreas com espécies existentes ou de garantida adaptação ao local.
Art.9º - Será observada, também no que couber, ou no que esta Lei se omitir, a legislação de Uso e Ocupação do Solo vigente.
Art.10º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Paço da Prefeitura de Juiz de Fora, 15 de janeiro de 1998.
a) TARCÍSIO DELGADO - Prefeito de Juiz de Foraa) GERALDO MAJELA GUEDES - Secretário Municipal de Administração.”
Sabemos que o consumo do espaço está relacionado com a lógica do mercado.
Assim, o Morro do Cristo, por possuir beleza cênica e paisagística e sendo envolvido
pela Mata Atlântica, virou objeto de especulação imobiliária em Juiz de Fora.
Com a necessidade de explorar o Morro do Cristo, percebe-se o desrespeito ao
Código Florestal (Lei Federal nº 4771/65) que estabelece proibições de corte de
vegetação nos topos dos morros (terço superior), nas declividades muito acentuadas
(superiores a 45 graus).
O não cumprimento do Código Florestal traz danos ambientais para o município,
como alerta o Plano Diretor (1996):
“Os desmatamentos e movimentos de terra são responsáveis pela reativação dos processos morfodinâmicos naturais. Já os deslizamentos e escorregamentos, agravados nos períodos de chuvas intensas e a forte erosão contribui para acelerar a instabilidade do relevo, sendo mais intensa a atuação da erosão laminar, presente extensivamente nas áreas não urbanizadas”.
Com a criação dos condomínios residenciais, vem ocorrendo transformações na
paisagem da área. Com isso, a vegetação original do topo dos morros vem aos
poucos sendo substituída por loteamentos com infra-estrutura urbana e por casas
luxuosas, que descaracterizam a paisagem local.
Figura 4: Construção de condomínioFoto: Do autor (2007)
Em muitos casos, principalmente em locais onde se encontra o relevo mais ondulado,
esses novos empreendimentos necessitam de movimentação de terra para implantar
sua ocupação ou para aumentar o número de lotes, fato que gera grande impacto
ambiental, pois o material solto é arrastado pelas chuvas para o leito dos córregos
gerando assoreamento. Essa amontoação de areias ou terras nos córregos diminui a
sua capacidade de receber águas pluviais e diminuem sua velocidade de
escoamento, podendo causar inundações nas localidades próximas aos córregos.
Assim, além de transformar a paisagem do Morro do Imperador, os condomínios
residenciais horizontais também causam diversos impactos ambientais no Setor
Oeste de Juiz de Fora, principalmente no córrego de São Pedro e na Represa de São
Pedro, responsável por abastecer parte da cidade, devido à falta de tratamento de
efluentes e a degradação da mata ciliar, pode ser observado o assoreamento da
represa e do córrego e a poluição de suas águas.
De acordo com o Plano Diretor (1996):
“O desequilíbrio das vertentes pode ser visualizado pelos elevados índices de movimentos de massa, principalmente em solos, além de processos erosivos tanto laminares como de escoamento concentrado”.
Figura 5: Córrego de São Pedro Fonte: Do autor (2007)
Além dos impactos já citados, a existência de um relevo cujos desníveis topográficos
alcançam mais de 200 metros, associadas aos fatores antrópicos causados pela
intensa urbanização, produz microclimas diferenciados dentro do próprio perímetro
urbano. Segundo o departamento de climatologia da Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF) já foi registrado diferenças de temperatura de até 11º C em diferentes
pontos da cidade.
Considerações Finais
Foi comprovado ao longo do trabalho que no sistema capitalista os agentes
transformam o espaço e a paisagem de acordo com a lógica do mercado. Assim,
essas transformações se relacionam com a maneira através da qual o espaço urbano
é organizado pelos seus agentes sociais.
A criação dos condomínios residenciais no Morro do Imperador em Juiz de Fora é um
exemplo de como os atores sociais atuam, transformando e dando valor de mercado
para determinado espaço.
Mesmo com as transformações na paisagem natural, essas ações sobre o espaço
podem valorizar a área no ponto de vista mercadológico, criando assim uma
especulação imobiliária no local e atraindo consumidores desse espaço.
Muitas vezes, essas ações são prejudiciais para a localidade se transformar em um
habitat sadio e garantir sua vitalidade (uma das cinco dimensões básicas para a boa
forma da cidade, segundo Lynch), trazendo para a população sustentação.
A degradação ambiental causada pelos condomínios residenciais em Juiz de Fora
traz para a população perda na qualidade de vida e no conforto ambiental nos
próprios condomínios e em sua proximidade, uma vez que a impermeabilização do
solo, a poluição, o desmatamento e modificações no relevo modificam o micro-clima
local, prejudicando a qualidade ambiental da região.
É preciso, portanto, uma melhor estruturação dos anseios de conceber um modelo de
ocupação que atenda às necessidades (ou luxos) das populações de alta renda, de
maneira a criar novas possibilidades para o modelo, tendo como referência as formas
de como esses condomínios têm sido construídos em Juiz de Fora, em muitos
momentos, não respeitando a declividade correta, o comprimento de rampa, a
topografia, a vegetação etc.
Segundo Carlos Nelson Ferreira dos Santos (1988), o perímetro urbano não deve
seguir modelos, dependerá de cada caso. Os condicionantes naturais devem ser
observados com cuidado, pois apontam as direções lógicas por meio das quais
podem ou não prosseguir o processo de urbanização. Assim, na construção dos
condomínios, as áreas protegidas por leis deveriam ser de fato respeitadas, e
determinado o potencial de desenvolvimento de cada lugar.
Para minimizar esses problemas, muitas vezes gerado pelo interesse de algum grupo
econômico, é necessário consonância das leis ambientais e de uso e ocupação do
solo, respeitando, assim os limites das áreas de proteção ambiental. Tal como, maior
fiscalização e seriedade dos órgãos responsáveis por liberar certos
empreendimentos.
Referências Bibliográficas
Lei Federal nº 4771/65. Código Florestal
CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 1989.
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