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OS CONTEÚDOS DIGITAIS DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA EXISTENTES PARA
TRABALHO PEDAGÓGICO COM OS LAPTOPS DO PROGRAMA UM
COMPUTADOR POR ALUNO (PROUCA)
MARCOS ANTONIO ALVES FILHO1
ADDA DANIELA LIMA FIGUEIREDO ECHALAR2
Resumo: Na busca por compreender as possíveis mediações para o uso de tecnologias digitais
este trabalho analisou o que foi desenvolvido de conteúdos digitais de Ciências e Biologia
para o PROUCA, no contexto de uma pesquisa do Programa Pró-Licenciatura da
Universidade Federal de Goiás (UFG). A pesquisa qualitativa, do tipo exploratória, foi
inicialmente realizada no Portal do Professor a partir de uma ficha de avaliação criada para
esta pesquisa. Identificou-se que não existem recursos digitais construídos para as
configurações dos laptops do PROUCA neste repositório digital. Todavia, foram identificados
125 planejamentos para o uso dos laptops em sala de aula, sendo 121 delas para os anos finais
do ensino fundamental e os demais quatro destinados ao ensino médio. Do total de
planejamentos observamos que sete distintos autores assumem a autoria das produções. Sendo
a maioria dos conteúdos digitais (120) foram produzidos em Uberlândia – MG por
professores da educação básica (89) e os demais por professores da Universidade Federal de
Uberlândia (31), Universidade de São Paulo (4) e Universidade Federal de Belo Horizonte
(1). Estes recursos são do tipo sugestão de aula que em grande maioria está composto por
links de vídeos e imagens disponíveis na internet. Os dados e a literatura pertinente ao estudo
crítico da temática nos permitem compreender que em um projeto nacional apenas uma região
do país concentrar a quase totalidade de produções didático-pedagógicas pode indicar um
processo formativo pouco vinculado ao contexto da sala de aula e as possíveis mediações
pedagógicas para o uso de tecnologias digitais.
Palavras-chaves: UCA; formação de professores; Portal do Professor; didática.
INTRODUÇÃO
As transformações dos processos comunicativos e sociais com a presença das
tecnologias da informação e comunicação (TIC) chegam a escola e são influenciadas pelo
processo de globalização, que possui uma lógica de produção diferente das produções
escolares (ALONSO, 2008). Desde os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio
(PCNEM) são destacadas a importância da utilização da tecnologia durante as atividades de
ensino, ou seja, em sala de aula. O documento salienta que o uso de distintas tecnologias pode
1 Graduando em Ciências Biológicas, modalidade licenciatura. Universidade Federal de Goiás. Bolsista
Prolicenciatura. Email: [email protected] 2 Universidade Federal de Goiás - PPGECM e ICB. Doutora em Educação. Pesquisa financiada pelo edital
universal FAPEG 005/2012 e pelo edital FAPEG n. 1/2016 para participação em eventos. Pesquisadora do
Kadjót e Colligat. Email: [email protected]
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proporcionar a contextualização dos conteúdos e adequação ao mundo do trabalho, além de
promover a inclusão digital com o acesso à internet e a gama de informações nela disponíveis.
Para Figueiredo e Peixoto (2013:121) com
a expansão da internet, a criação do Ministério e o uso cada vez mais frequente das
tecnologias digitais, verifica-se que pressões externas e as próprias demandas
internas conduziram o governo brasileiro à elaboração de programas, seguidos por
políticas públicas, que regulamentaram a inclusão digital, de forma a prevenir a
exclusão da parcela mais pobre da população. São políticas que se inserem no rol
de preocupações de incentivo à inovação e à democratização social.
A partir de 2003 o discurso governamental situou a inclusão digital nos direitos, do
exercício da cidadania e do desenvolvimento social, ressaltando o caráter possivelmente
transformador das novas tecnologias. Nesta perspectiva, o projeto One Laptop for Child
(OLPC) foi apresentado ao governo brasileiro, em janeiro de 2005, no Fórum Econômico
Mundial, em Davos (Suíça).
Mediante essa proposta da OLPC, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva cria
em 2005 o grupo de trabalho do PROUCA (GTUCA) para avaliar a proposta do
ponto de vista técnico e pedagógico. Durante um ano, este grupo se reúne e
considera necessário fazer experimentos em escolas. E, em fevereiro de 2007, este
grupo formaliza e apresenta o Projeto Base do UCA. As cinco escolas-modelo do
programa foram: Colégio Estadual Dom Alano Marie Du Noday (Palmas-TO);
Escola Municipal Ernane Silva Bruno (São Paulo-SP); Ciep Rosa Guedes (Rio de
Janeiro-RJ); Escola Estadual de Ensino Fundamental Luciana de Abreu (Porto
Alegre-RS) e Centro de Ensino Fundamental Escola Vila Planalto (Brasília-DF).
(FIGUEIREDO; PEIXOTO, 2013: 127).
Esta fase de implantação do projeto foi denominada fase I ou pré-piloto. Na
continuidade de ações para implantação do projeto supracitado, o Ministério da Educação
(MEC) e a Secretaria de Educação a Distância (SEED), com seus consultores, afirmam que os
pontos inovadores do Projeto UCA são:
• uso do laptop por todos os estudantes e educadores da escola pública em um
ambiente que permita a imersão numa cultura digital;
• mobilidade de uso do equipamento em outros ambientes dentro e fora da escola;
• conectividade, pela qual o processo de utilização do laptop e interação entre
estudantes e professores se dará por meio de redes sem fio conectadas à Internet;
• uso pedagógico das diferentes mídias colocadas à disposição no laptop
educacional (BRASIL, 2010b: 11).
Já no ano de 2008 a Câmara dos Deputados apresenta seu relatório sobre a fase pré-
piloto do PROUCA, expondo que os laptops do Programa apresentam várias avarias e
problemas com conectividade, as escolas terem pouca infraestrutura técnica e os professores
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alegarem ser insuficiente a formação técnico-pedagógica para lidar com os laptops em suas
atividades pedagógicas.
De acordo com o Guia de Orientação Didática (2012), um aspecto pedagógico
importante para o PROUCA é que “uma educação de qualidade deve contribuir para a
realização do ser humano” e que o Programa possui alicerce em princípios construtivistas
“onde o sujeito constrói ativamente o objeto do conhecimento” (p. 13). Ele ainda ressalta que
o processo formativo do professor deve apresentar características como: a formação centrada
no aluno e os laptops devem ser vistos como dispositivo de inovação pedagógica.
Estudos de Echalar (2015) indicam que é possível perceber no caso do PROUCA
uma forte ligação com os modelos técnicos de produção e, mesmo o programa declarando ser
fundamentada no desenvolvimento da inteligência, com vistas à autonomia e à ampliação do
conhecimento sobre a realidade contemporânea, a formação do professor se preocupa em
apenas na compreensão do laptop, logo focado somente no conhecimento técnico da máquina.
Para Libâneo (2013) e Evangelista (2013) indicam que a formação dos professores nas
políticas neoliberais se dá no modelo fordista e com baixa infraestrutura, que não dão
condições de trabalho ao docente.
De que forma o Guia de Orientação Didática de Ciências apresenta o trabalho com os
laptops do PROUCA?
O guia estudado neste trabalho é destinado ao ensino de Ciências e alega ser
destinado a “proposta voltada para uso do laptop no contexto educacional, por meio de
combinação única de atividade interativas multimídia” (GUIA DE ORIENTAÇÃO
DIDÁTICA, 2012: 7). O documento aborda os seguintes assuntos: 1. TIC na educação e a
cultura da mobilidade; 2. Fundamentos pedagógicos do PROUCA; 3. Tecnologias Digitais na
Educação; 4. Recursos para utilização dos descritores tecnológicos digitais; 5. Avaliação; 6.
Área de Conhecimento – Ciências; Estrutura de um plano de aula e uma aula sobre o tema
“Ser humano e saúde” como modelo.
Para tanto, o documento apresenta duas representações do trabalho pedagógico que
deve ser desenvolvidos (Figura 1A e 1B).
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A
B
Figura 1 – Representações do trabalho a ser desenvolvido com os laptops do PROUCA. A –
Relação entre os elementos do trabalho pedagógico com os laptops e os conteúdos específicos
de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências. B – Relação de interseção os dispositivos
digitais e os conteúdos de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências.
O elo entre as representações acima apresentadas, de acordo com o Guia de
Orientação Didática (2012: 8), visa compreender:
a) Metodologia que favorece a aprendizagem significativa por meio de sequencias
didáticas, cursos/oficinas e conteúdos de formação, organizados em módulos que
podem ser combinados de diversas maneiras. Ou seja, metaforicamente, podem ser
comparados a células que podem ser organizadas para permitir vários
agrupamentos diversificados;
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b) A ênfase na importância da avaliação diagnóstica dos alunos, com base em
descritores de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências;
c) A organização de um acervo digital de aulas, atividades, vídeos, exercícios,
sequências didáticas e artigos, como recurso de apoio à aprendizagem dos alunos e
professores.
Justifica-se a escolha pelas áreas de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências, pois
alegam que com isso é possível se obter domínio da linguagem escrita e falada, matemática e
científica.
Alegar que somente três áreas – língua portuguesa, matemática e ciências - é o
suficiente para formar um indivíduo, evidencia quanto o programa possui um caráter
reducionista e o total desprezo que tem com o contexto escolar das escolas contempladas pelo
programa. Essa redução na formação do indivíduo deixa claro que o programa atende as
necessidades imediatas do mercado, desprezando a formação crítica do aluno, centrando em
uma formação claramente técnica e descontextualizada.
O documento analisado ainda elenca características do que chamam de
caracterização de um “cidadão tecnologicamente competente” (GUIA DE ORIENTAÇÃO
DIDÁTICA, 2012: 17-18). Este cidadão deve ser portador de várias competências técnicas
ligadas ao desenvolvimento profissional do indivíduo para suprir a demanda do mercado de
trabalho. É visível que os objetivos do programa buscam desenvolver capacidades técnicas e
claramente evidencia uma ideia de ascensão social através do uso da tecnologia.
Deste modo, o Estado financia a educação em parceria com a esfera privada
tratando-a com os critérios de mercado. Para Echalar (2015: 37):
As políticas de inclusão social via inclusão digital têm reforçado uma pedagogia
tecnicista, denominada por Saviani (2005) de “concepção pedagógica
produtivista”, que visa a formação para o trabalho, subordinada a um ideal de
Brasil competitivo e desenvolvido tecnologicamente, capaz de acompanhar países
com economias maiores, em especial os EUA. [...] No contexto do neoliberalismo, a
educação assume, então, o papel de redentora, e a escola torna-se o lócus
privilegiado para a adaptação do indivíduo ao ideário neoliberal.
Todo o desenvolvimento do programa e os conceitos pedagógicos estão voltados na
tecnologia e nas possíveis melhoras que poderá se agregar a sociedade e a educação. Todavia,
as competências supracitadas são exigidas sem espaço formativo de apoio e suporte técnico
suficiente para a tal. Além disso, os laptops tornam praticamente inviável as realizações
destas competências devida sua limitação tecnológica.
Echalar (2015: 112) afirma que
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os professores possuem o interesse em utilizar os laptops em suas aulas, mas
alegam sentir necessidade de um suporte pedagógico e técnico para melhor uso do
dispositivo, já que não possuem plena autonomia na resolução de eventuais
problemas. Alegam também que possuem pouco tempo para o planejamento das
atividades com o uso do laptop.
O documento ainda apresenta características ligadas a historicidade, técnico-social e
formação críticas que são alicerce que sustenta e incentiva o tecnocentrismo e o consumismo.
Logo, a tradução perfeita do cidadão tecnologicamente competente seria de indivíduos
subordinados a satisfazer o mercado de trabalho e sustentar o ideário neoliberalista, através do
consumismo.
Nas ações educacionais ligadas a perspectiva neoliberal, verifica-se que as
metodologias e pedagogias apresentadas pelo Guia se preocupam em forma indivíduos
eficientes para o mercado de trabalho. Libâneo (2013:62) afirma que esta perspectiva política
para a escola:
[...] apontam quatro orientações gerais: ênfase na satisfação de necessidades
básicas de aprendizagem, conteúdos de aprendizagem e habilidades “mínimas”
necessários à sobrevivência e ao trabalho, avaliação do rendimento escolar pelos
resultados de aprendizagem, papel socializador e integrador da escola para a
formação da cidadania e solidariedade.
O Guia ainda apresenta métodos para avaliação e acompanhamento do aluno, além
de formas de utilização dos laptops, discorrendo sobre como montar planos de aulas,
conteúdos que devem ser ministrados durante suas aulas, além de exigir quais competências
que o aluno deve adquirir durante sua formação.
Nota-se que o Guia apresenta caminhos fechados para aplicação do conteúdo,
ocorrendo uma proposta de padronização no ensino. Esta padronização do uso dos laptops em
sala de aula tira a autonomia do professor, tornando-o um objeto que serve somente para
executar ações pré-determinadas.
Neste contexto, o presente trabalho visa analisar o que foi desenvolvido de objetos
digitais de aprendizagem, no ensino de Ciências e Biologia, para o trabalho pedagógico com
os laptops do PROUCA.
O PERCURSO METODOLÓGICO DESTE ESTUDO
A presente pesquisa é qualitativa, visto que permite a imersão do pesquisador no
contexto a ser estudado, além de usufruir da vantagem de poder explicitar todos os passos da
pesquisa, possibilita que se frequente o local da pesquisa por se preocupar com o contexto.
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Isso porque, o objeto de estudo é analisado como um espaço de subjetividade, história, com
evidências das relações sociais que o compõem, dentre outras características (ALVES-
MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2004).
Este trabalho foi divido em dois momentos: uma fase exploratória e uma de análise.
A fase exploratória permite ao pesquisador, sem descer ao detalhamento exigido na pesquisa
tradicional, defina pelo menos algumas questões iniciais, bem como os procedimentos
adequados à investigação dessas questões (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER,
2004). Já a fase de análise dos dados nos permitirá ir além de dados descritivos ao
levantamento que será efetivado.
A busca do material foi feita no Portal do Professor, repositório digital criado nos
anos 2000 pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e o Ministério da Ciência e
Tecnologia com o intuito de oferecer uma opção virtual que centraliza e divulga recursos
educacionais aos docentes e discentes do Brasil. Neste repositório se pesquisou o que existe
produzido para o trabalho pedagógico com os laptops do PROUCA para aulas de Ciências
Naturais e Biologia. O período de levantamento foi entre os meses de novembro de 2015 a
fevereiro de 2016. Porém, somente o Portal do Professor apresentou conteúdos digitais para o
PROUCA.
Foi inicialmente realizada uma análise por meio de uma ficha de avaliação criada
para esta pesquisa. Após a pesquisa exploratória a análise se deu qualitativa dos recursos
encontrados.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para atender ao problema de pesquisa deste trabalho, foi efetivada a análise dos
softwares presentes no laptop do PROUCA e do que existe no Portal do Professor criado para
este aparato digital no ensino de Ciências e Biologia.
Inicialmente, foi analisado o laptop do PROUCA disponibilizado pelo coordenador do
Laboratório de Tecnologia da Informação e Medias Educacionais (LabTime) para o
desenvolvimento deste estudo.
Na hierarquia de implementação do PROUCA em Goiás, a Universidade Federal de
Goiás, através do laboratório supracitado, é a instituição de ensino superior (IES) local,
responsável pela formação dos formadores integrantes dos Núcleos de Tecnologia
Educacional (NTE) e dos professores das escolas contempladas em Goiás, e subordinada ao
acompanhamento de um grupo de pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC SP) credenciado como IES Global e integrante do GTUCA.
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Em Goiás, o LabTime foi responsável por executar seis planos de trabalhos no
período de 2010 a 2012 totalizando um valor de R$9.573.150 milhões de assessoria e
desenvolvimento de recursos digitais para o MEC, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) e o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Estes documentos
salientam que o valor supracitado foi destinado a “Qualificação de alunos e professores de
escolas públicas no âmbito das tecnologias de informação e comunicação”, “Prospecção,
pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias interativas e interoperáveis para portais,
ambientes de aprendizagens e mídias educacionais” e “Prospecção, pesquisa e
desenvolvimento de mídias educacionais digitais interativas aplicáveis ao contexto das
escolas públicas nacionais” (ECHALAR, 2015: 141-142). Foi possível verificar que foi
construído um novo sistema operacional pelo grupo, mas não foi encontrado objetos de
aprendizagem no aparato e no site do laboratório.
Após a análise do laptop verificou-se que há um software que pode ser usado para o
ensino de Ciências, denominado de Stellarium. Este software livre3 de astronomia permite ao
usuário navegar por diferentes corpos celestes, sistemas e diversos planetas. Ele está
disponível para download4 nos seguintes sistemas operacionais: Linus, OS X, Windows,
UBUNTU e Beta.
De acordo com o site5 do programa, Stellarium possui os seguintes recursos
apresentados no Quadro 1.
Quadro 1 – Recursos do software Stellarium
Céu
Catálogo padrão com mais de 600.000 estrelas
Catálogos extra com mais de 210 milhões de estrelas
Asterismos e ilustrações das constelações
Constelações de mais de 20 diferentes culturas
Imagens de nebulosas (catálogo Messier completo)
Via Láctea realista
Atmosfera, nascer e pôr-do-sol bastante realistas
Os planetas e seus satélites
Interface
Um zum poderoso
Controle de tempo
Interface multilíngue
Projeção olho-de-peixe para cúpulas de planetário
Projeção de espelho esférico para a sua própria cúpula de baixo custo
Interface gráfica inteiramente nova e amplo controle pelo teclado
Controle de telescópio
Visualização Grade equatorial e azimutal
3 Software livre é um programa de computador que pode ser executado, modificado e distribuído gratuitamente
pelos usuários. 4 Download – transferência de dados de um computador remoto para um computador local. 5 Disponível em: <http://www.stellarium.org/pt_BR/>. Acesso em: 26 abr. 2016.
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Cintilação das estrelas
Estrelas cadentes
Simulação de eclipses
Simulação de supernovas
Paisagens personalizáveis, agora com projeção esférica de imagens panorâmicas
Customização
Sistema de complementos para adicionar satélites artificiais, simulação de oculares,
configuração de telescópios, dentre outros
Possibilidade de adicionar novos objetos do sistema solar a partir de recursos
disponíveis na rede
Adicione os seus próprios objetos do céu profundo, paisagens, imagens de
constelações, apresentações
Fonte: site do software Stellarium
Ao analisarmos o repositório digital do Portal do Professor, identificou-se também
que não existem recursos digitais construídos para as configurações dos laptops do PROUCA.
No entanto, foram encontrados 125 planos de aulas de Ciências Naturais e Biologia presentes
neste repositório e com designação para o programa estudado. A partir dessa análise foi
possível elaborar uma planilha do material existente e de suas possibilidades pedagógicas,
com os seguintes dados como objetos de análise: autores que planejaram, instituições
vinculadas no desenvolvimento dos planejamentos e temas dos PCN que foram atendidos.
Nessa perspectiva percebemos quatro eixos de problemas ao trabalho com recursos
digitais nos laptops do PROUCA, sendo eles:
1. o programa exige a formação de um “cidadão tecnologicamente competente”
através de competências extremamente complexas, técnicas e que corroboram com a política
neoliberal, logo desvinculada a pressupostos educacionais;
2. os planos de aula são desvinculados ao contexto de infraestrutura técnica das
escolas contempladas com o Programa;
3. os planos de aula são repletos de atividades vinculadas a padrões de aula
conteudista;
4. os laptops não possuem recursos tecnológicos suficientes para possibilitar desafios
coerentes ao que chamam de “cidadão tecnologicamente competente”.
Nos planejamentos podemos observar que a produção se deu por sete autores, sendo
eles: Lérida de Oliveira (28 aulas); Delma Faria Shimamoto (29 aulas); Juçara Moreira
Teixeira (uma aula); Lindomar de Oliveira Untelar (32 Aulas); Selma Gonzaga Silva (31
aulas); Mauricio Andrea Andrioli (uma aula); Grace Luciana Pereira (três aulas).
A maioria dos conteúdos digitais (120) foi produzida em Uberlândia – MG por três
professores da educação básica (89) e os demais por uma professorada Universidade Federal
de Uberlândia (31), dois professores da Universidade de São Paulo (4) e uma professora da
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Universidade Federal de Belo Horizonte (1). A concentração de praticamente todos planos de
aula a partir da realidade de uma cidade, Uberlândia-MG, indica um processo formativo
pouco vinculado ao contexto da sala de aula nos mais diferentes lugares do país.
A maioria dos planos de aulas segue um formato parecido, com explicações de ações
pedagógicas, sugestão de imagens e vídeos na Internet e questionários como critério
avaliativo. Nota-se que os planos de aula encontrados no Portal do Professor há diferenças
com o plano de aula sugerido no Guia de Orientação Didática. Porém, há um item em comum
nos planos, que são as atividades proposta ao aluno: em ambos os casos as atividades são
compostas com perguntas extremamente diretas e objetivas reforçando ainda mais o caráter
conteudista dos planos, se preocupando em fixar ou decorar o conteúdo proposto ao invés de
ampliar o senso crítico do aluno e por fim compreender o conteúdo e sua relação com o
mundo.
Grande parte dos planos de aulas explora mais de um tema da área, determinado
pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) ou PCN do Ensino Médio (PCNEM), por isso
os dados abaixo extrapolam os 125 planos encontrados. Os planos de aula estão assim
apresentados pelos temas:
Temas:
Ser humano e saúde – 68 aulas
Tecnologia e sociedade – 57 Aulas
Terra e universo – 4 Aulas
Vida e ambiente – 76 Aulas
Diversidade da vida e hereditariedade – 1 aula
Qualidade de vida das populações humanas – 3 aulas
No plano de aula, “Desvendando os mistérios do amido”, assim como em outros, a
quarta atividade pede que os alunos tenham acesso a um laboratório de Ciências e utiliza
vários materiais de difícil acesso à escola pública brasileira, como: tubo de ensaio, proveta,
reagente de lugol ou iodo, dentre outros. Este fator mostra uma opção de trabalho que
extrapolam a infraestrutura existentes em muitas escolas brasileiras.
Outro fator importante que pode ser notado ao analisar os planos de aula é que em a
maior atividade explorada é para fazer pesquisas na Internet, slides ou textos. Levando em
consideração as competências, apresentadas pelo Guia de Orientação Didática (2012) para o
aluno adquirir ao longo do programa, é impossível realizá-las com a limitação de usos
apresentadas nos 125 planos de aula analisados. Além disso, de acordo com a Câmara dos
deputados (2008), o laptop possui vários problemas técnicos que dificulta a sua utilização e os
estudos de Câmara dos Deputados (2008), Echalar (2015) e Gomes (2010) apontam que
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poucas escolas possuem um bom acesso à Internet, logo, tornando praticamente inviável o
acesso e o uso dos recursos indicados nos planos de aula.
A pesquisa de Gomes (2010) sobre os documentos técnicos de implantação do
PROUCA mostram que o projeto se sustenta em uma grande área do país, mas a qualidade do
sinal do wi-fi6 não é capaz de garantir acesso com qualidade. De acordo com as cartilhas do
UCA, no que tange a questão da cobertura versus a questão da quantidade de usuários
suportados:
Na análise feita até aqui, foi considerada apenas a questão da cobertura. No entanto,
uma escola pode estar inteiramente coberta e ainda assim prover uma experiência de
uso frustrante. Se um ponto de acesso for capaz de suportar apenas 25 usuários, por
exemplo (um desempenho bastante comum para pontos de acesso de prateleira), uma
rede com dois pontos de acesso não será capaz de suportar mais de 50 usuários
simultâneos. (BRASIL, 2010: 15).
Isso mostra uma total desconsideração com a realidade das escolas envolvidas no
Programa, pois implantam o projeto sem atender as estruturas técnicas necessárias para que
ocorra um bom funcionamento dos laptops na garantia da possível imersão digital.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O PROUCA é claramente um programa cujos pressupostos são ligados ao
determinismo tecnológico e na capacitação de indivíduos para o mercado de trabalho. No
Guia de Orientação Didática do UCA afirma que: “A avaliação na educação tecnológica é
orientada por competências e não por conteúdos...” (GUIA DE ORIENTAÇÃO DIDÁTICA,
2012: 24).
A educação e seus produtos, no caso deste estudo, os planos de aula para o trabalho
com os laptops do PROUCA, é vista como uma ferramenta econômica, logo é apontada com
a cruel tarefa de resolver todos os problemas econômicos e sociais através do acesso aos
aparatos tecnológicos.
Os planos de aula foram produzidos por um grupo pequeno de professores, de poucas
locais do país e sem levar em conta as condições concretas de trabalho dos docentes nas
distintas realidades escolares existentes.
Logo, o processo educativo é usado como uma forte arma para combater a exclusão
digital. Porém é necessário cuidado para que os programas governamentais não caiam no
determinismo tecnológico, fazendo que haja uma total anulação do contexto histórico e social
6 Wi-fi é uma rede local de sem fio, baseado no padrão IEEE 802.11.
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das escolas e alunos e enfatizar que a implantação de tecnologia é suficiente para uma
mudança social, tornando-a “regente” do desenvolvimento social e econômico.
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