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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · 1Professora de Matemática e Especialista em Educação Matemática da rede estadual de ensino do Estado do Paraná 2Doutora

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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CLUBE DE MATEMÁTICA: Um Projeto em Construção

Autora: Márcia Eliza Zanin Pollo1

Orientadora: Neila Tonin Agranionih2

RESUM0

Relatamos neste artigo o processo de implementação de um Clube de Matemática

desenvolvido como atividade do Programa de Desenvolvimento da Educação – PDE no Colégio

Estadual Pinheiro do Paraná – Curitiba, com a participação de alunos do 9º ano do Ensino

Fundamental, com o objetivo de constituir um espaço motivador e facilitador na abstração de

conceitos matemáticos e contribuir para estimular o gosto pela matemática. O processo envolveu a

realização de uma gincana matemática, a qual tinha por intenção motivar os alunos a participarem do

Clube, e possibilitou a mobilização e o envolvimento dos alunos na sua constituição. O Clube de

Matemática permitiu aos alunos serem protagonistas de seus processos de aprendizagem, passando

de uma atitude passiva para uma atitude ativa, tornando-se sujeitos da ação, construindo os seus

próprios conhecimentos, ou seja, desenvolvendo sua autonomia intelectual na conquista de novas

aprendizagens. Nesta perspectiva, a implementação de Clubes de Matemática, promove a realização

de atividades dinâmicas, motivadoras e envolventes, o que facilita a aprendizagem de conteúdos

matemáticos pelos participantes e é uma das alternativas possíveis para se estabelecer um ambiente

propício ao desenvolvimento de atividades educativas, constituindo-se um recurso relevante para o

ensino da matemática.

Palavras-chave: Clube de Matemática. Ensino de matemática. Gincana de

matemática.

_____________________ 1Professora de Matemática e Especialista em Educação Matemática da rede estadual de ensino do

Estado do Paraná 2Doutora em Educação e professora do Setor de Educação da UFPR

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1 INTRODUÇÃO

A matemática desempenha papel importante e decisivo no nosso cotidiano.

Ela interfere fortemente na formação de capacidades intelectuais, na estruturação do

pensamento e no desenvolvimento do raciocínio dedutivo do aluno.

Diante destes fatos, torna-se cada vez mais importante a discussão de

abordagens metodológicas pelas quais o aluno possa aprender matemática de

maneira a empregá-la adequadamente nas situações diversas com as quais se

depara.

A escola, de acordo com as Diretrizes Curriculares de Educação Básica de

Matemática (PARANÁ, 2008, p.15), deve promover e incentivar práticas

pedagógicas com diferentes metodologias para atender a todos os alunos. Assim,

acreditamos que a organização de um ambiente que favoreça as discussões de

diversos assuntos da matemática seja muito importante. O Clube de Matemática

vem ao encontro desta proposta.

Nesse trabalho temos como objetivo descrever a implementação de um Clube

de Matemática no C.E. Pinheiro do Paraná, cuja finalidade é constituir-se como

agente motivador e facilitador na abstração de conceitos matemáticos, procurando

contribuir para estimular o gosto pela matemática, uma vez que suas atividades

envolvem pesquisas, jogos, resoluções de problemas, além de práticas aplicadas ao

dia a dia.

Inicialmente, apresentamos uma revisão teórica que situa o Clube de

Matemática como espaço de aprendizagem; em seguida, a metodologia que norteou

o processo de implementação do clube e, para finalizar, descrevemos e analisamos

este processo, suas etapas e a descrição das atividades realizadas através de uma

gincana matemática.

2 CLUBES DE MATEMÁTICA – ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM

O Novo Dicionário Aurélio (2009) define clube como sendo: “1. local de

reuniões políticas, literárias ou recreativas; 2. associação de pessoas com o objetivo

de promover debates em torno de matéria de interesse comum.” O Grande

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Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001) conceitua clube como “a

associação de grupos de indivíduos que tem por objetivo realizar, conseguir,

executar um determinado propósito.”

Moura e Cedro (2004), ao expor um projeto de Clube de Matemática,

caracterizam-no como um espaço de aprendizagem, um ambiente permeado pela

análise crítica, pela descoberta e pela prática social, no qual o indivíduo concebe

situações que envolvem processos interindividuais e intraindividuais que lhes

oportuniza desenvolverem-se para atingir objetivos e o desenvolvimento da

criatividade. Referem-se ao Clube de Matemática como um ambiente para o

desenvolvimento de atividades educativas que possibilitam a discussão dos mais

variados aspectos da matemática, tendo como objetivo criar condições que

permitam à criança estabelecer relações entre as componentes abstratas e

concretas dos conteúdos matemáticos.

Para Silva (2010, p.28), as atividades realizadas no Clube poderão contribuir

para o melhor entendimento dos conceitos matemáticos e favorecer o

desenvolvimento de atitudes essenciais frente à matemática pelos educandos.

Essas atitudes são compreendidas como estímulos à construção do conhecimento

matemático, à curiosidade, à tomada de decisão baseada em análises e conclusões,

à colaboração, ao trabalho em equipe, à perseverança na busca de soluções,

promovendo o acreditar mais em si mesmo e o gosto pela matemática.

Tendo em vista estas definições, entendemos, neste trabalho, Clubes de

Matemática como grupos de pessoas com interesses ligados à matemática, cujas

atividades realizadas podem contribuir para o ensino e aprendizagem desta

disciplina de diversas formas como, por exemplo, resolução de problemas,

realização de gincanas, jogos, oficinas, projetos, entre outras.

Neste trabalho, a implementação do Clube se deu pela realização de uma

Gincana de Matemática. Nela, estiveram presentes metodologias diferenciadas de

ensino de matemática, tais como os jogos e a resolução de problemas. Em ambos, é

possível trabalhar vários conceitos matemáticos, resgatar conteúdos já aprendidos,

promover a autoconfiança do aluno e, consequentemente, promover aprendizagens.

Ao introduzi-los como metodologias de ensino no ensino da matemática, o professor

contribui para a melhoria do processo ensino-aprendizagem, motiva seus alunos e

torna suas aulas mais interessantes.

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Alves (2001, p. 12), observando criticamente o cotidiano de sala de aula e,

por não concordar com a prática pedagógica tradicional, propõe várias atividades

para minimizar sua inquietude e dentre elas, as gincanas.

As Gincanas Matemáticas são atividades já conhecidas por grande parte de

professores. É importante salientar que muitos já utilizam desse recurso em sua

prática pedagógica, e, em sua maioria, concluíram que a experiência foi bem

sucedida e gratificante.

Gincana como recurso pedagógico, tem como objetivo, além do lúdico, a

formação humana dos alunos através de atividades físicas, intelectuais e

culturais. No caso da Gincana de Matemática, ampliam-se estes objetivos

por mostrar aos professores como podem estimular seus alunos na busca

do conhecimento matemático, estimulando a aprendizagem de conceitos

nesta disciplina. (ALVES, 2001, p. 12)

Ao desenvolver uma nova proposta metodológica estaremos levando o aluno

à reflexão, estimulando-o a pensar, a raciocinar e descobrir a matemática de uma

forma diferente. Nesta disciplina, como em qualquer outra, o envolvimento ativo do

aluno é uma condição fundamental da aprendizagem (PONTE, 2003).

É importante ressaltar que, os encaminhamentos metodológicos presentes no

Clube de Matemática estão pautados nas Diretrizes Curriculares da Educação

Básica para o ensino da Matemática (PARANÁ, 2008, p.63), onde afirmam que os

conteúdos propostos devem ser abordados por meio das tendências metodológicas

da Educação Matemática que fundamentam a prática docente.

O jogo é um dos recursos que pode ser utilizado para motivar os alunos e dar

concretude a conceitos matemáticos. Destacamos sua importância devido a sua

potencialidade para o desenvolvimento do pensar matemático, da criatividade e da

autonomia dos educandos (RIBEIRO, 2009, p 13).

De acordo com os PCN de Matemática:

Um aspecto relevante nos jogos é o desafio genuíno que eles provocam no

aluno, que gera interesse e prazer. Por isso, é importante que os jogos

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façam parte da cultura escolar, cabendo ao professor analisar e avaliar a

potencialidade educativa dos diferentes jogos e o aspecto curricular que se

deseja desenvolver. (BRASIL, 1997, p. 49).

Desse modo, verificamos que as atividades lúdicas se configuram como um

grande aliado no ensino. Silva (2010) considera fundamental o trabalho com jogos

proporcionado pelo Clube de Matemática, pois, além de desenvolver aspectos

citados anteriormente, gera satisfação e alegria na aprendizagem, bem como torna

os alunos mais dedicados, comprometidos e responsáveis.

Como já referimos, a metodologia de resolução de problemas ocupa papel

importante no Clube de Matemática. Nesse sentido, Dante (2009, p. 19) refere que:

É possível por meio da resolução de problemas desenvolver no aluno

iniciativa, espírito explorador, criatividade, independência e a habilidade de

elaborar um raciocínio lógico e fazer uso inteligente e eficaz dos recursos

disponíveis, para que ele possa propor boas soluções às questões que

surgem em seu dia-a-dia, na escola ou fora dela.

Se os alunos sentirem-se instigados, motivados, e o problema despertar sua

curiosidade, este poderá desencadear um comportamento de pesquisa e auxiliar na

construção de conhecimentos matemáticos. A prática constante da resolução de

problemas levará o aluno a interpretar o enunciado da questão que lhe é proposto, a

estruturar a situação que é apresentada e fazer transferências de conceitos para

resolver novos problemas.

Segundo Silva (2008), o conhecimento matemático no qual se articule o saber

pensar e o saber fazer é uma necessidade para criar o ser humano que lide com

informações e se constitua um „resolvedor‟ de problemas, possibilitando uma efetiva

atuação diante das situações vividas no cotidiano.

Assim, todas as considerações mencionadas vêm ao encontro dos objetivos

de um Clube de Matemática e fundamentam essa pesquisa, pois quando propomos

uma condição de aprendizado em que há entusiasmo em sua realização, gosto

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pelos desafios, cooperação entre os envolvidos, promovemos a cidadania e

enriquecemos a formação dos valores humanos – objetivos essenciais da Educação.

3 IMPLEMENTAÇÃO DO CLUBE DE MATEMÁTICA

O “Clube de Matemática: um projeto em construção”, foi elaborado para o

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/Turma 2013, e implementado no

Colégio Estadual Pinheiro do Paraná. Uma das primeiras ações para a

implementação do Clube de Matemática foi realizada no final do 2º semestre de

2013, envoveu uma pesquisa com os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental,

para verificar o interesse em relação a futura implementação do Clube, a

disponibilidade em participar e as atividades que gostariam que fossem

desenvolvidas. Na pesquisa foram entrevistados 150 alunos, sendo que, desses,

20% se mostraram interessados em participar. Em relação às atividades que

gostariam de realizar, a maioria demonstrou interesse por gincanas matemáticas

realizadas na escola e, também, pela construção e exploração de jogos, fator

decisivo na opção pela realização de uma Gincana Matemática como atividade do

Clube.

As etapas propostas para a implementação do Clube de Matemática foram

organizadas como especificadas no Quadro 1.

Quadro1 – Etapas da Implementação do Clube de Matemática

ETAPAS ATIVIDADES

1 Apresentação do projeto aos profissionais da Educação do C. E. Pinheiro do PR.

2 Organização do espaço de funcionamento do Clube.

3 Divulgação do Clube através de uma apresentação, e demonstração de algumas

atividades lúdicas.

4 Processo de inscrição no Clube.

5 Reunião inicial e elaboração das regras para o funcionamento do Clube.

6

Desenvolvimento das Atividades:

1º momento: os alunos participam de uma gincana.

2º momento: os alunos elaboram e organizam uma gincana a partir da

experiência realizada.

No início de 2014 iniciamos a implementação do Clube de Matemática. O

público alvo foram os alunos do 9º ano vespertino, e os encontros foram realizados

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no contraturno. A primeira etapa foi realizada durante a Capacitação dos

Professores, no começo do ano letivo, com a apresentação da proposta,

esclarecendo e buscando apoio de toda a equipe docente. O objetivo principal era

que os professores pudessem incentivar os alunos a participarem do Projeto.

Durante a divulgação, foram aplicadas algumas atividades de raciocínio lógico,

resolução de problemas e jogos para os professores, com a intenção de mostrar as

possíveis contribuições do Clube, e como o trabalho iria ser realizado. A participação

foi muito expressiva e toda a equipe docente se entusiasmou com o trabalho.

Em seguida, foi escolhido o espaço físico para os encontros. Por falta de

salas desocupadas, dividimos o espaço com a Sala de Apoio do 6º ano. Durante

essa etapa, foram selecionados os materiais de matemática disponíveis no Colégio,

jogos e materiais didáticos, e, com esse levantamento observamos que existiam

uma grande quantidade de materiais espalhados, em diferentes espaços, sem um

lugar apropriado, consequentemente não sendo utilizados.

O convite para o ingresso no Clube foi uma das etapas mais importantes da

implementação, uma vez que, como sabemos, a matemática representa uma grande

vilã para muitos alunos, e permitir que participem e se envolvam em atividades

relacionadas a esta disciplina é um grande desafio para o educador. A divulgação foi

realizada através de uma apresentação para as turmas de 9º ano, onde foram

esclarecidas a dinâmica do projeto, os objetivos, as atividades a serem

desenvolvidas e a importância do trabalho colaborativo.

Para o ingresso no Clube foram disponibilizadas 20 vagas. As inscrições

foram realizadas e, em um primeiro momento, devido a grande curiosidade por parte

dos envolvidos, tivemos 23 inscritos num público de 50 alunos, muito além do que

esperávamos. Porém, devido ao fato de os encontros realizarem-se no contraturno,

cerca de 50% dos inscritos acabaram por desistir da participação no Projeto.

Com os membros do Clube já efetivados, foi elaborado, em conjunto com os

participantes, um regulamento para normatizar o funcionamento do mesmo, e a

escolha do nome que seria dado ao Clube. Dentre as normas, foi definido que a

participação no Clube não teria vínculo com notas na disciplina de Matemática, mas

com o interesse do aluno em participar.

Em seguida deram-se início às atividades propostas na Unidade Didática

elaborada no Projeto de Intervenção Pedagógica, a qual apresentava os

encaminhamentos da proposta de trabalho, sendo esta dividida em dois momentos:

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a participação em uma gincana matemática e a elaboração de uma gincana

matemática.

3.1 PARTICIPAÇÃO EM UMA GINCANA MATEMÁTICA

Num primeiro momento, os alunos participaram de uma Gincana Matemática

sendo divididos em duas equipes, as quais foram identificadas por nomes de

matemáticos famosos. Este momento envolveu duas etapas: a das atividades

prévias e a das atividades do dia.

A primeira etapa, das atividades prévias, foi composta pela realização de

tarefas estabelecidas previamente, tendo como objetivo desenvolver a criatividade, a

cooperação e a solidariedade. (Quadro 2).

Quadro 2 – Resumo das tipologias e características das atividades prévias da gincana

TAREFAS PRÉVIAS

CARACTERÍSTICAS DAS ATIVIDADES

1. Criar uma logomarca da Gincana A logomarca é uma representação gráfica. Pode

ser representado através de um desenho.

2. Grito de guerra Criar uma frase ou refrão para incentivar a ação

dos membros da equipe.

3. Apresentar um mascote da equipe Incentivar a pesquisa e a criatividade. Cada

mascote deve mostrar uma relação com a

matemática.

4. Caracterização de um matemático importante Pesquisar sobre os matemáticos mais

importantes e suas obras. Usar a criatividade e

a imaginação na caracterização da personagem

escolhida.

5.Paródia Musical com o um tema de

Matemática

Contribuir na ampliação do conhecimento

matemático através da pesquisa de um tema.

A realização das tarefas prévias fez com que os alunos participantes

buscassem através de livros, dicionários e pesquisas na internet, conhecimentos

matemáticos que contribuíssem na construção das tarefas. Nesse momento, coube

ao professor ser o mediador do conhecimento, contribuindo para que o aluno

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construísse seus conceitos, desenvolvessem suas habilidades, favorecendo uma

postura reflexiva e investigativa.

Na segunda etapa da Gincana, realizada durante os encontros semanais,

objetivou-se o desenvolvimento do uso de estratégias na resolução de problemas, a

criatividade, o estímulo, a atenção e concentração e, ainda, a vivência de situações

que exigem solidariedade e companheirismo entre os participantes.( Quadro 3 )

Quadro 3 – Resumo das tipologias das tarefas do dia

ENCONTROS TAREFAS DO DIA PROBLEMATIZAÇÕE

S

1 Montagem do Tangram

Construir polígonos usando o

Tangram;

Nomear os polígonos de acordo

com o número de lados;

Determinar o perímetro e a

área dos polígonos construídos

com o Tangram;

Analisar a semelhança entre

os triângulos que compõem o

Tangram.

2 ..Jogo Domine o Mundo

Determinar o valor numérico de

uma expressão algébrica;

Resolver problemas contendo

expressões algébricas.

3 ... Jogo Matix

Adicionar e subtrair números

inteiros;

Construir textos com

dicas/estratégias para planejar

e melhor executar as jogadas.

4 Raciocínio Lógico Resolver exercícios de níveis

fácil, médio e difícil.

Durante a realização das tarefas do dia, nos três primeiros encontros, foram

introduzidas algumas problematizações referentes aos conteúdos matemáticos

abordados nas atividades. A realização das problematizações após cada tarefa

serviu como um facilitador da aprendizagem, contribuindo para que o aluno fixasse

os conteúdos.

A montagem do Tangram, inicialmente considerada difícil, se tornou

significativa e interessante. Nos jogos “Domine o Mundo” e “Desafios de Raciocínio

Lógico”, os alunos demonstraram interesse e entusiasmo, inclusive levaram esses

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jogos para as respectivas salas de aula, para compartilhar e desafiar os próprios

colegas.

Ao final de cada encontro foi realizado um feedback das atividades,

elencando os pontos positivos e negativos de cada uma, verificando as dificuldades

existentes, sugestões e alternativas para melhor atingir os objetivos propostos. No

início os integrantes não opinavam e nem argumentavam muito, porém, conforme

foram se conhecendo e apresentando significativo envolvimento nas atividades, esta

perspectiva mudou, e eles tornaram-se mais críticos e autoconfiantes, „perdendo o

medo de errar‟. Os participantes demostravam interesse e sempre colaboraram com

as atividades; a cada encontro estavam mais motivados e ansiosos por novas

descobertas.

É importante destacar que os participantes do Clube foram assíduos durante

os encontros, não ocorrendo mais afastamentos e desistências após o início das

atividades da gincana.

3.2 ELABORAÇÃO DE UMA GINCANA

Após o término da gincana entre os alunos, seguiu-se para o 2º momento das

atividades do Clube: os alunos elaboraram e realizaram uma gincana para outra

turma do Colégio. Nessa etapa foi discutido como seria realizada a gincana, qual

seria a turma escolhida para participar e quais as atividades que seriam

contempladas.

A gincana elaborada pelos participantes do Clube teve o mesmo formato da

qual eles participaram, mas foram criadas algumas atividades diferentes, as quais

podemos destacar: caça palavras matemáticas, Torre de Hanói, jogo de perguntas e

respostas e jogos envolvendo tabuada. As atividades planejadas foram elaboradas

pelos integrantes do Clube, que tiveram que pesquisar quais seriam os conteúdos

de matemática contemplados para a turma escolhida, o grau de dificuldade, o tempo

para a realização da mesma, o número de participantes, a pontuação, entre outros.

(Quadro 4 ). Os alunos se dividiram em grupos e cada grupo pesquisou sobre uma

atividade proposta; em seguida, aplicaram todas as atividades entre eles para

„testar‟ o seu funcionamento.

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Quadro 4 - Cronograma de atividades e pontuação da Gincana elaborada pelos membros do

Clube de Matemática.

PROVAS PONTUAÇÃO

1 – Grito de Guerra

50 pontos – para a equipe que se apresentar com

todos os membros;

50 pontos- atribuídos pela comissão julgadora

2 – Uniforme

02 pontos – por aluno que estiver vestindo a cor da

equipe.

3 - Tangram 50 pontos – montagem do Tangram

4 – Perguntas e respostas 100 pontos – 10 pontos cada resposta correta

5 – Desfile do matemático

50 pontos – tarefa realizada

50 pontos – atribuídos pela comissão julgadora

6 – Tarefa Surpresa 50 pontos – Confecção de um poliedro

7 – Corrida da Matemática 50 pontos – tabuada

8 – Paródia Musical

50 pontos – tarefa realizada

50 pontos – atribuídos pela comissão julgadora

9 – Desafios matemáticos

25 pontos – 1º Desafio – Raciocínio Lógico

50 pontos – 2º Desafio – Caça-palavras

11 – Torre de Hanói 50 pontos

12 – Tarefa Solidária 5x número de caixas de leite

As turmas escolhidas para participar da gincana aplicada foram os 8º anos do

Ensino Fundamental do turno da tarde. Conversamos com o professor de

matemática da turma, o qual participou das atividades, orientando e incentivando

seus alunos. Em seguida, foi realizada uma reunião com os alunos participantes, na

qual os membros do Clube apresentaram o regulamento, as atividades planejadas,

etc.

Na realização da gincana houve muito entusiasmo e participação das

equipes. Os alunos organizadores, membros do Clube, demonstraram

responsabilidade e comprometimento na condução da gincana. Durante as provas,

foi possível constatar que alguns alunos, apesar de muita vontade, tiveram

dificuldades na prova da tabuada e dos desafios matemáticos. Os membros do

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Clube estavam sempre motivando as equipes e, ao final das provas, procuravam

refazer e corrigir as atividades sugeridas. A realização da prova Torre de Hanói foi

considerada a mais empolgante. Este desafio foi realizado por quatro integrantes da

equipe, onde três deles eram os pinos da torre de Hanói e não podiam fornecer

nenhuma ajuda. O outro integrante escolhido fez o transporte dos discos de um dos

pinos a outro, seguindo as regras do jogo. Nesse momento, os professores da

escola que participavam como avaliadores envolveram-se na atividade.

4 CLUBE DE MATEMÁTICA : processo de construção

O Clube de Matemática construído caracterizou-se como um espaço de

aprendizagem, como referiu Cedro (2004), uma vez que possibilitou a vivência entre

os sujeitos e o compartilhamento de saberes. Foi uma tentativa bem sucedida de

possibilitar aos alunos, por meio de atividades lúdicas e mediadas por conceitos

matemáticos, de estarem em atividade de aprendizagem. Tais atividades mostraram

para professores e alunos que o acesso ao conhecimento pode ser prazeroso, sem

ser um fardo.

Cabe ressaltar o envolvimento e a motivação dos alunos ao realizarem as

atividades propostas. As mesmas possibilitaram uma retomada de conceitos

aprendidos e fez com que enxergassem a disciplina de matemática de outra forma.

Participando do Clube, eles sentiram-se valorizados, acreditando mais em si

mesmos. Conforme Silva (2010), as atividades do Clube contribuem para a melhor

compreensão de conceitos matemáticos, desenvolvem a criatividade, o espírito de

equipe, e favorecem o desenvolvimento de atitudes essenciais para a construção do

conhecimento.

A realização da Gincana Matemática, como a primeira atividade do Clube, foi

o agente motivador para a participação dos alunos no projeto. Os jogos e a

resolução de problemas como atividades da gincana geraram satisfação, interesse e

alegria na aprendizagem. Os próprios alunos relatam que, ao mesmo tempo em que

se divertiam, aprenderam.

Segundo Alves (2001, p. 12), as Gincanas como recurso pedagógico, têm

como objetivo, além do lúdico, a formação humana dos alunos através de atividades

físicas, intelectuais e culturais. No caso da Gincana de Matemática, ampliam-se

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estes objetivos por mostrar aos professores como podem estimular seus alunos na

busca do conhecimento matemático, estimulando a aprendizagem de conceitos

nesta disciplina.

Durante o processo de implementação do Clube de Matemática tivemos

algumas dificuldades. Uma delas foi o fato de os encontros do Clube acontecerem

no contraturno. Muitos alunos gostariam de ter participado, mas as dificuldades

foram várias como transporte escolar, ajudar em casa, participação em outros

projetos já existentes, e a falta de apoio familiar. A falta de um espaço físico

adequado para os encontros do Clube e a falta de recursos tecnológicos, como

computadores, multimídia e o mau funcionamento do laboratório de informática

também impediram a realização de algumas atividades. Durante os encontros, a

sala em que o Clube desenvolvia suas atividades foi dividida com os professores da

Sala de Apoio e a coordenação do Curso Técnico Profissionalizante, dificultando em

partes a organização e o armazenamento dos materiais do Clube.

Deste modo, vimos que a possibilidade de implementação de ações mais

dinâmicas e criativas depende também das condições concretas para a sua

realização, dentre elas as de espaço físico. Como é referido na Formação de

Professores do Ensino Médio , etapa I, caderno V.

Assim, a efetivação de práticas pedagógicas integradoras entre a teoria e

prática, entre o pensar e o fazer, podem ser facilitadas ou dificultadas se

houver na escola espaços adequados como laboratórios e salas de artes,

material esportivo, por exemplo, que permitam o desenvolvimento da

autonomia e das amplas capacidades humanas (BRASIL, 2013, p. 46-47).

No período de implementação do projeto foi possível socializar a experiência

com outros professores, através do Grupo de Trabalho em Rede (GTR). Os

professores participantes do GTR relataram ter encontrado dificuldades semelhantes

na implementação de outros projetos como: Sala de Apoio, CELEM, Clube de

Leitura, entre outros. Eles também citaram a falta de apoio dos pais como uma das

dificuldades mais frequentes no desenvolvimento de projetos.

Atualmente, a falta de colaboração da família em relação às atividades

propostas pela escola é um dos grandes desafios encontrados pelos professores.

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Como ressalta Paulo Freire (1999, p.106), “é indispensável que os pais tomem parte

das discussões com os filhos em torno desse amanhã. Não podem nem devem

omitir-se, mas precisam saber e assumir que o futuro é de seus filhos e seu.” A

parceria pais/escola é a chave para o sucesso de muitos projetos, não só no Clube

de Matemática.

Alguns professores do GTR sugeriram a parceria com as Universidades,

buscando projetos e oficinas que venham contribuir no desenvolvimento e

aprendizagem de nossos alunos. Outros argumentaram que a implementação do

Clube de Matemática deveria ser permanente na escola através do Programa de

Atividade Complementar no contraturno, existentes em algumas escolas.

Os Clubes de matemática foram entendidos pelos participantes do GTR como

espaços de conhecimento que visam contribuir para melhorias no ensino e

aprendizagem da matemática. Na sequência, algumas considerações realizadas

pelos participantes, que justificam a importância da implementação de um Clube de

Matemática na escola:

-“As ações implementadas no Clube ajudarão o aluno a pensar

produtivamente, desenvolver o raciocínio, equipar-se com estratégias para

resolver problemas.” (Professor A)

-“O Clube de matemática irá despertar no aluno o conhecimento científico, a

buscar as respostas por meio de experiências, a aprender a aprender”.

(Professor B)

-“Ajudar a elevar auto estima do aluno, confiança na própria capacidade de

resolver problemas, a motivação, o interesse e iniciativa.” (Professor C)

-“Explorar o que o aluno traz, suas vivências e experiências e a partir delas

ampliar estes conhecimentos através de jogos, resolução de problemas,

textos entre outros. (Professor D)

-“Professores e alunos terão a oportunidade do “fazer e descobrir”

matemática”. (Professor E)

-“Espaço de incentivo ao processo de ensino e aprendizagem. Retirar o

aluno da posição passiva para torná-lo ativo.” (Professor F).

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Basear as aulas somente no método tradicional de ensino não motiva mais os

alunos. Neste sentido, Sadovsky (2010, p.7), alerta para a “[...] necessidade urgente

de avaliar, questionar e repensar os métodos de ensino da disciplina. Segundo a

autora “o que era antes – ao menos no caso da matemática, já não atrai, não

satisfaz, não gratifica e não seduz nem os docentes, nem os alunos”. Dessa forma, o

Clube de Matemática, sendo um ambiente que favoreça os diversos assuntos de

matemática, poderá estimular maior interesse do aluno e, sobretudo despertar o

prazer de aprender esta disciplina.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi descrever a implementação de um Clube de

Matemática no C.E. Pinheiro do Paraná, com o intuito de constituir um espaço

motivador e facilitador na abstração de conceitos matemáticos e contribuir para

estimular o gosto pela matemática.

Nesse contexto, o Clube de Matemática surgiu como uma das alternativas

que buscam resgatar o gosto e o prazer de aprender matemática por jogos,

problematizações, mídias, entre outros. Por meio da motivação e o interesse dos

alunos na realização e criação das atividades realizadas durante o projeto de

implementação do Clube de Matemática, pode-se afirmar que o ensino como um

todo e, especialmente o da matemática, deve ser um processo compartilhado e

também apoiado em experiências agradáveis. Muitos dos problemas relacionados

com as dificuldades que os alunos apresentam na disciplina de Matemática podem

ser amenizados, e até resolvidos, através de experiências individuais, ou em grupo,

realizados no Clube de Matemática.

Cabe ressaltar que o Clube de Matemática exige tempo, planejamento,

organização, flexibilidade e paciência do professor, mas com determinação é

possível atingir bons resultados. Esse esforço é grandemente recompensado pela

melhoria visível dos alunos em relação ao interesse e a motivação.

Se pudéssemos implementar Clubes de Matemática em nossas escolas

públicas aproveitando espaços como os oferecidos por Programas, tais como o

Mais Educação ou no Programa de Atividade Complementar Curricular no

Contraturno, estaríamos incentivando nossos alunos a serem protagonistas do

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processo de aprendizagem, oportunizando que passem de uma atitude passiva para

uma atitude ativa, tornando-se sujeitos na construção de conhecimentos, ou seja,

desenvolvendo autonomia intelectual na conquista de novas aprendizagens. Logo,

esperamos que a experiência realizada possa contribuir nesse processo.

6 REFERÊNCIAS

ALVES, E M. A Ludicidade e o ensino de Matemática. Campinas, SP: Papirus, 2001. BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio, etapa I – caderno V: organização e gestão democrática da escola/ Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica; [autores: Celso João Ferretti, Ronaldo Lima Araújo, Domingos Leite Lima Filho]. Curitiba: UFPR/Setor de Educação, 2013.53p. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997. CEDRO, W.L.; MOURA, M.O. O espaço de aprendizagem e a atividade de ensino: o clube de matemática. Disponível em:<www.sbem.com.br > Acesso em: 08 mai 2013. DANTE, L.R. Formulação e resolução de problemas de matemática: teoria e prática. 1.ed. São Paulo: Ática,2009 FERREIRA, A. B. de.H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 4 ed. Curitiba: Positivo, 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários a prática educativa 11 ed. Rio de Janeiro; Paz e Terra,1999. HOUAISS, A.; SALLES, V. M. Grande dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

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PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Educação Básica.Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Matemática. Curitiba, PR: SEED;DEEB, 2008.

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