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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
FAMÍLIA E ESCOLA: UMA RELAÇÃO DE DESAFIOS
Autora: Dulcemara Terezinha Benato1
Orientadora: Solange Toldo Soares2
RESUMO
Este artigo tem como objetivo principal apresentar as reflexões da comunidade escolar sobre a participação das famílias nos ambientes escolares e sua importância para a aprendizagem dos alunos/filhos. A fim de estruturar as reflexões, utilizou-se a pesquisa bibliográfica como ponto inicial. Para que se pudesse verificar a percepção da comunidade escolar sobre o tema, foram utilizados questionários formados por perguntas previamente estruturadas. Para complementar a pesquisa, realizaram-se dez encontros com as famílias dos alunos, nos quais foram trabalhados os principais temas geradores de dúvidas e conflitos entre as famílias e a escola. Após análise e estudo do resultado das atividades realizadas, percebeu-se que as famílias valorizam o conhecimento escolar e estão cientes de suas responsabilidades, afirmam ser sua tarefa a educação dos filhos, colocando a escola como corresponsável nesta atribuição. Os problemas cotidianos e de trabalho foram apontados como fatores que inviabilizam o comparecimento frequente dos pais à escola.
Palavras-chave: Escola. Família. Parceria.
Introdução
A relação entre a família e a escola é um tema que tem gerado inúmeras
discussões nos ambientes educacionais. A influência, a responsabilidade, e
como acontecem os momentos de colaboração entre estes dois ambientes
aparecem nas pesquisas de autores como Parolin (2007), Carvalho (2013),
Perez (2004;2009), os quais afirmam que a família e a escola têm os mesmos
objetivos no processo de ensino aprendizagem dos filhos/alunos, mas o que
vemos hoje nem sempre demonstra parceria ou colaboração. Diante do
exposto, durante o ano de 2014 e 2015, através do Programa de
Desenvolvimento Educacional, PDE, desenvolvido pelo Governo do Estado do
1 Professora da Rede Estadual de Ensino (Secretaria de Estado da Educação do Paraná) Graduada pela FECLI
2 Professora, Universidade UNICENTRO, Campus Irati, Paraná. Orientador PDE.
Paraná e como resultado do mesmo, elaborou-se este Artigo, o qual, pautado
na pesquisa bibliográfica, busca refletir e compreender como as famílias e a
escola percebem os momentos de colaboração. Busca ainda, enfatizar a
importância da participação das famílias nos ambientes escolares e as
responsabilidades da família e da escola para uma aprendizagem significativa
e de qualidade. Reflete e apresenta também a análise do trabalho de pesquisa
realizado através de questionários, bem como apresenta o resultado das
intervenções, as quais foram organizadas no Caderno Pedagógico e realizadas
durante o primeiro semestre do ano de 2015. Busca-se, desta forma, como
Silveira (2013) pontua, efetivar uma real colaboração entre as famílias dos
alunos e a escola, com fronteiras menos rígidas, definindo as
responsabilidades e criando espaços que sejam de acolhimento e cooperação.
A família
Ao analisarmos a história da humanidade, a família aparece como uma
das protagonistas na formação da sociedade, sendo influenciada e
influenciando as mudanças que ocorreram durante sua evolução. Segundo
Parolin (2007, P.50), “a família é o núcleo constitutivo do sujeito”, é um sistema
que une as pessoas que a compõem, não apenas sobre o mesmo sobrenome,
o mesmo teto, mas pelas representações que se constroem à medida que vão
compartilhando o cotidiano. É um núcleo ímpar, possuidor de uma cultura
própria, com suas regras, mitos e crenças peculiares.
Perez (2009), afirma que, apesar de terem ocorrido evoluções,
mudanças e conquistas nos grupos familiares, o grande desafio hoje é viver em
família, independente do modelo familiar em que se convive. Completando,
Barbosa (2011), pontua que a escola e a família são instituições que surgiram
com o início da modernidade, sendo ambas responsáveis pela educação e pelo
cuidado das crianças e jovens.
No início da civilização, de acordo com Santos e Santos (2009), a
família, ou grupamento familiar, não apresentava relações individuais, apenas a
mãe era reconhecida. Com o surgimento de grupos diferentes, estes
começaram a interagir, propiciando o surgimento de uniões individuais, as
relações monogâmicas. De acordo com os autores, o surgimento da família
monogâmica foi fundamental para a estruturação da sociedade. Com o
reconhecimento da paternidade, os filhos foram beneficiados com a proteção e
assistência paternal. Durante o período romano, a família assumiu um
importante papel, pois era responsável pelo setor social, econômico, político,
religioso e jurídico da sociedade. O “pater”, membro mais importante da família,
administrava o patrimônio e o culto aos deuses, distribuía a justiça,
participando do senado e exercendo seu poder sobre a mulher e os filhos.
Neste cenário, o filho varão trabalhava com o pai nos campos, no foro, ou nas
guerras, e as filhas ajudavam as mães em suas tarefas (ENGUITA, 1989).
Com o início da Idade Média, houve uma ampliação do domínio da Igreja
sobre as relações familiares. O casamento religioso era o único reconhecido,
sendo papel da família, neste período, conduzir os filhos quanto à profissão a
ser seguida, a qual era transmitida de geração para geração. As famílias eram
formadas por muitos filhos, pois a economia, baseada na agricultura, exigia
mão de obra numerosa (SANTOS e SANTOS, 2009). Completando, Campos
(2011), afirma que, neste período, os ensinamentos transmitidos pelas famílias
eram suficientes para a sobrevivência dos grupos sociais. Os valores, os
conhecimentos, a moral e as práticas profissionais eram aprendidos no grupo
familiar, os mais velhos transmitiam aos mais novos seus conhecimentos,
garantindo, desta forma, as atividades necessárias à perpetuação e
sobrevivência das famílias/grupos.
No entanto, para Enguita (1989), mesmo que os filhos adotassem a
profissão dos pais, havia o afeto como obstáculo para a autodisciplina e
independência, necessários para o aprendizado. Assim, para que a relação
entre mestre e aprendiz não fosse afetada pelas relações familiares, os jovens
aprendizes eram enviados a outras famílias, as quais assumiam a função de
educá-los, já demonstrando neste período “a incapacidade parcial da instituição
familiar para iniciar as jovens gerações nas relações sociais existentes”
(ENGUITA, 1989, p.108).
Após o advento da industrialização, de acordo com Santos e Santos
(2009), a família perdeu a função de produtora e o homem passou a trabalhar
nas fábricas. Para Oliveira (2009), acompanhando o aumento da economia,
ocorreu uma maior pressão sobre o consumo de bens e serviços e o que antes
era produzido no interior das famílias, passou a fazer parte do cômputo
doméstico. O trabalho assalariado começou a ser realizado também pelas
mulheres, as quais passaram a contribuir para o aumento do orçamento
familiar. As novas demandas que surgiram com o aumento do consumo
exigiram maior formação e a escola passou a dividir com a família a
responsabilidade sobre a educação dos seus filhos. É nesse cenário que a
instituição escolar ganhou importância, sendo vista como a continuidade da
educação familiar, oferecendo conhecimentos aprimorados e específicos para
atender as demandas exigidas pelo desenvolvimento (CAMPOS, 2011).
Enguita (1989), coloca que, neste período, a escola deveria gerar nos jovens o
comportamento, a disposição, o hábito e o caráter necessários para o trabalho
nas indústrias, ficando a instrução como segundo plano, atrás da ordem, da
compostura e da pontualidade.
Segundo Oliveira (2009), podemos observar que ocorreram mudanças
radicais na composição familiar e nas relações entre seus membros, mudanças
estas que ocasionaram um grande impacto na maneira como cada indivíduo
constrói sua identidade e como ele se relaciona socialmente. Esta nova família,
organizada de diferentes formas, propõe arranjos diferenciados, os quais
podem variar em sua composição e nas relações que se estabelecem entre
seus membros. Essa nova composição pode variar em união de parceiros
separados ou divorciados, pessoas do mesmo sexo, com filhos de outros
casamentos, avós com netos e uma infinidade de arranjos, todos diferentes do
modelo nuclear tradicional. No entanto, para a autora, “apesar de fazer parte do
cotidiano das pessoas, não podemos afirmar que são socialmente aceitas”
(OLIVEIRA, 2009 p.70).
Para Parolin (2007), seja composta por pai, mãe e filhos, avós e netos,
avó, mãe e neto, mãe e mãe, pai e filho, ou outras formações, a grande arte da
família é continuar se mantendo família, promovendo o crescimento, o
desenvolvimento, a mudança de seus membros, mas continuando a ser família.
Para a autora, ela deve ser um grupo duradouro, mas ao mesmo tempo pronto
para aceitar mudanças, deve ser afetiva e funcional, deve promover o
pertencimento de cada indivíduo e ao mesmo tempo promover e compreender
a individualidade de cada um.
Responsabilidades família/escola
As leis brasileiras contemplam o compromisso da família em relação ao
cuidado e acompanhamento dos filhos, enfocando a responsabilidade e a
obrigatoriedade da frequência escolar. Conforme o Art. 205 da Constituição
Federal, lei soberana, promulgada em 1988, a educação é um direito de todos
os cidadãos e um dever do Estado e da família, devendo acontecer com o
incentivo e colaboração da sociedade. Também o Art. 227 declara que é dever
da família, da sociedade e do Estado assegurar às crianças, jovens e
adolescentes o direito à educação e à cultura. Ademais encontramos na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional:
Art.2º: A educação, dever da família e do estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL,1996)
Com a instituição do ECA (1990), Estatuto da Criança e Do Adolescente,
a função e o dever familiar foram definidos, demonstrando em seu Art. 4 que é
dever da família, da comunidade e do poder público assegurar a efetivação dos
direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação. Confirma em seu Art. 53,
que as crianças e adolescentes têm o direito à educação visando ao pleno
desenvolvimento de sua pessoa e preparando-o para ser um cidadão, citando
como direito dos pais ou responsáveis ter conhecimento dos processos
pedagógicos e participar da construção das propostas educacionais da escola.
Portanto, de acordo com as citações anteriores, as leis brasileiras
estabelecem de maneira clara o direito fundamental das crianças e dos
adolescentes à educação, destacando a importância desta. Mas estas leis
também deixam claro que a formação das crianças não é função somente da
escola ou das famílias, mas das duas instituições que, com apoio da
sociedade, devem garantir o seu pleno desenvolvimento. Desta forma, para
que os direitos previstos nas leis sejam assegurados, a escola e a família
devem trabalhar em conjunto, buscando envolver a comunidade onde estão
inseridas e o poder público, para que os direitos das crianças e adolescentes
sejam respeitados e cumpridos.
Para Oliveira e Marinho-Araújo (2010), a família é responsável pela
educação primária. Portanto cabe a ela a transmissão dos modelos e a forma
como a criança desempenhará seus papéis sociais, orientando-a no
desenvolvimento e na aprendizagem dos comportamentos, de acordo com os
padrões sociais adequados ao grupo em que está inserida. Completando,
Portela e Almeida (2009), afirmam que, mesmo não sendo o único espaço de
socialização, a família é um lugar privilegiado, pois tende a ser o primeiro grupo
socializador, se instituindo como uma das mediações entre o homem e a
sociedade.
Neste contexto, Parolin (2007, p.56), completa:
É na família que uma criança constrói seus primeiros vínculos com a aprendizagem e forma o seu estilo de aprender. Nenhuma criança nasce sabendo o que é bom ou ruim e muito menos sabendo do que gosta e do que não gosta. A tarefa dos pais, dos professores e dos familiares é a de favorecer uma consciência moral, pautada em uma lógica socialmente aceita, para que, quando essa criança tiver de decidir, saiba como e por que está tomando determinados caminhos ou decisões.
Dessen e Polonia (2007), defendem que a escola pode ser considerada
um “microssistema” da sociedade, e que as transformações que ocorrem no
meio social em que está inserida se reproduzem em seu interior. Para as
autoras, preparar alunos, os professores e os pais para que possam enfrentar
as dificuldades e acompanhar as mudanças e os conflitos interpessoais de uma
sociedade que muda rapidamente, é uma das tarefas da escola, a qual deve
também orientar o indivíduo em seu desenvolvimento. Para Oliveira e Marinho-
Araújo (2010), apesar de a escola e a família serem agências socializadoras,
são distintas, e apresentam ao mesmo tempo características comuns e
divergentes. Para as autoras, a família e a escola partilham a tarefa de
preparar os indivíduos para uma vida econômica, social e cultural, mas os
objetivos na tarefa de ensinar são diferentes.
Sob essa perspectiva, Perez (2009), defende que, ao se relacionar com
a família informalmente, a criança aprende. Na escola, o aprender deve
acontecer em momentos programados, pré-estabelecidos, com pessoas
específicas. Escola e família se constituem, assim, como agências
socializadoras e educativas, com características comuns e diferenciadas.
Ambas preparam os indivíduos, desenvolvendo habilidades que contribuem
para sua participação na sociedade. Contudo, cabe à escola também, a
responsabilidade de transmitir os conteúdos escolares valorizados, conteúdos
estes considerados essenciais para a formação do cidadão (PEREZ, 2009).
Completando, Oliveira e Marinho-Araújo (2010, p.101) afirmam:
Escola e família têm suas especificidades e suas complementariedades. Embora não se possa supô-las como instituições completamente independentes, não se pode perder de vista suas fronteiras institucionais.
De acordo com Parolin (2007), à medida que nossa sociedade se torna
cada vez mais complexa, maiores são as relações sociais que se estabelecem.
Para a autora, observamos hoje que a tarefa de orientar os indivíduos, antes
exclusiva das famílias, passou a ser também das escolas. Aprender a viver em
sociedade deixou de ser responsabilidade somente das famílias. A igreja, o
bairro e a escola contribuem para essa aprendizagem, pois as crianças são
enviadas cada vez mais cedo para as creches e escolas, originando uma nova
filosofia para os educadores e para a escola, “os quais devem ser parceiros
das famílias na formação dos indivíduos” (PAROLIN, 2007, p. 61). Nesta nova
realidade, a escola e as famílias surgem como as duas instituições
fundamentais para o desenvolvimento da criança “atuando como propulsoras
ou inibidoras do crescimento físico, intelectual e social das pessoas” (DESSEN
e POLONIA, 2007, p. 22).
Implementação: discussão e análise
Este trabalho teve como base uma escola pública da cidade de Irati,
Paraná, a qual oferece Ensino Fundamental e Médio. Situada num bairro de
periferia, atende famílias, em sua maioria, de nível socioeconômico baixo, cujos
pais são trabalhadores, e os filhos permanecem a maior parte do tempo
sozinhos ou sob cuidados de avós ou irmãos mais velhos. Fizeram parte do
estudo as famílias dos alunos do 6º e 7º anos, bem como os professores e a
equipe pedagógica do Colégio.
Primeiramente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, a qual estruturou
o estudo, respondendo indagações sobre as formações familiares e buscando
a compreensão dos papéis desempenhados pela família e pela escola no
processo de formação do aluno. Para entender como a família percebe a
escola e qual é a sua responsabilidade na aprendizagem e orientação do
filho/aluno, aplicou-se um questionário, previamente elaborado, com perguntas
abertas e fechadas. Para integrar o estudo, de acordo com o projeto inicial,
foram realizadas dez intervenções, encontros, com os pais, para os quais
também foram convidados a participar os professores e a equipe pedagógica
do Colégio. Nestes encontros, foram discutidos temas considerados relevantes
para se buscar uma maior colaboração e participação das famílias nas
demandas escolares.
Ao se perguntar aos pais se consideravam importante a participação nas
reuniões escolares, 100% responderam que consideram a participação dos
pais nos ambientes escolares muito importante. Neste enfoque, Lahire (2013),
afirma que as famílias de classes populares são injustamente acusadas de ter
desinteresse pela aprendizagem de seus filhos. Segundo ele, o que acontece é
que os pais de meios populares, embora tenham consciência da importância da
escola, talvez devido a problemas econômicos, materiais, profissionais, não
estejam em condições de se interessar pela aprendizagem dos filhos. Mas para
o autor, isso não deve ser considerado abandono educativo.
Ao responderem sobre a função da escola, a maioria dos pais a
percebem como um meio para que seus filhos melhorem de vida, sendo que
50% responderam ser sua função a aprendizagem e o ensino; 30% consideram
a escola como uma forma de seus filhos se tornarem cidadãos com um futuro
melhor e 15% reconhecem a escola como parceira das famílias na educação
dos filhos. Somente 5% responderam ser função da escola a educação dos
seus filhos. Neste enfoque, Perez (2009), evidencia que as famílias atribuem à
escola papel relevante para a concretização de um futuro melhor aos filhos,
mas a desesperança, acrescida das dificuldades escolares e a necessidade do
trabalho precoce, o qual dificulta a frequência escolar, acabam minando esta
esperança. No que se refere à responsabilidade sobre a educação dos filhos, a
totalidade respondeu ser função dos pais educar os filhos. O pai A respondeu:
“educar é função dos pais, mas é fundamental o aprendizado do meu filho e a
escola também ajuda muito meus filhos”. No entanto, os pais consideram os
professores seus parceiros nesta função, de acordo com o pai B, “em casa os
pais educam, na escola os professores”, “com certeza são os pais que educam,
mas com ajuda dos professores” (PAI C).
Para Silveira (2013, p. 8):
É fundamental que se entenda que os pais e professores assumem lugares distintos e cumprem funções diferentes, porém complementares na educação de crianças e adolescentes.
Completando, a autora afirma que é necessário a coerência entre as
práticas educativas, a da escola e a realizada nas famílias. Nesta relação, é
importante que a escola assuma a responsabilidade sobre seu aluno e que os
pais assumam pelo seu filho. Para Carvalho (2013), somente a presença dos
pais na escola nem sempre é garantia de um ensino de qualidade, “uma
instituição não substitui a outra, nem deve condicionar seu dever de educar a
atuação da outra” (p.19). Para o autor há conflitos nas expectativas da escola e
da família, mesmo apresentando um objetivo comum.
Observou-se que 80% dos pais responderam que procuram
comparecer, quando possível, nas reuniões realizadas pela escola, 10%
afirmam participar em alguns momentos e 10% afirmam não participar devido
ao horário de trabalho. Neste enfoque, para Dessen e Polonia (2005), há um
envolvimento constante dos pais com relação às atividades escolares de seus
filhos, sendo que eles preocupam-se com as avaliações e com o aprendizado
dos mesmos, independente do nível econômico ou social. No entanto, para
Lahire (2013), para que os pais sejam orientados naturalmente para o interesse
escolar de seus filhos, são necessárias condições econômicas, familiares e
culturais.
Para Portela e Almeida (2009, p.156):
Trata-se, então, de buscar fazer com que a família se perceba como participante do processo educacional, uma vez que ela pode contribuir com aspectos fundamentais durante o tempo em que a criança passa sob sua influência, sem no entanto, ter a pretensão de substituir o lugar da escola.
Para Barbosa (2011), a comunicação entre professor e pais é a forma
mais antiga de colaboração. Mas, para a autora, a maioria dos professores
utiliza somente esta prática, sendo o professor aquele que apresenta apenas
os pontos negativos dos alunos, causando aos pais certo receio, pois quando
são chamados pelos professores é porque seus filhos estão apresentando
dificuldades.
Como resposta à pergunta “em que momentos os pais vão à escola”,
55% responderam comparecer sempre que convidados para as reuniões, 30%
somente quando convocados e 15% afirmam ter dificuldade em comparecer
devido ao trabalho.
Esses dados se confirmaram ao se realizar as implementações
organizadas no Caderno Pedagógico, havendo uma média de 45% de
participação nos encontros. Neste enfoque, Barbosa (2011), coloca que a
aproximação entre família e escola é uma tarefa difícil, que envolve
inseguranças e incertezas, mas pode ser construída a partir do momento em
que os pais compreendam que a escola não é a única responsável pela
educação dos seus filhos, e que a escola se perceba como corresponsável no
processo de formação do aluno.
Pôde-se observar nestas intervenções, que os pais estão cientes de
suas responsabilidades, mas estão confusos. Muitos não sabem que atitudes
tomar frente às dificuldades apresentadas pelos filhos/alunos, buscando na
escola apoio e orientação.
Na primeira intervenção, cujo tema foi o Regimento Escolar e a
apresentação do PPP do Colégio, os pais demonstraram admiração com o
número reduzido de participantes. Ao se mostrar a proposta do trabalho e o
objetivo, sentiram-se à vontade para questionar, manusear os materiais
apresentados e perguntar sobre suas dúvidas. Na avaliação do encontro, todos
o consideraram positivo. “Que bom poder conhecer os pais dos amigos de meu
filho”, colocou o pai D. O pai F completou: “gostei muito da dinâmica, melhorou
a interação com os outros pais”.
A segunda intervenção foi adaptada às necessidades do Colégio, e
realizada com o objetivo de esclarecer sobre a formação, as responsabilidades
e a participação nos órgãos colegiados, Conselho Escolar, APMF. O primeiro
encontro aconteceu como programado, com número reduzido de pais, os quais
envolveram-se, perguntaram, e muitos demonstraram o desejo de cooperar
mais ativamente nas decisões escolares. No segundo encontro, houve a
participação de todo o coletivo escolar, inclusive dos envolvidos na primeira
reunião sobre o tema. Apesar de apresentado o mesmo material, não surgiram
perguntas espontâneas, sendo necessário estimular a colaboração.
Comprovou-se assim que, com número pequeno de pais, estes ficam mais
tranquilos para cooperar e integrar-se.
A terceira intervenção teve como tema “As contribuições da família para
o aprendizado do aluno/filho”, na qual percebeu-se que os pais dos 6º anos
têm uma maior facilidade para orientar os filhos, dispondo ainda de certo
controle sobre as atitudes dos mesmos. Já os responsáveis pelos alunos
maiores, do 7º ano, apresentaram suas angústias, pois muitos não conseguem
impor regras e limites, tendo dificuldade em se relacionar com os filhos
adolescentes.
Como trabalho da quarta intervenção, a Psicóloga Vanessa Hecavey
trabalhou com os pais o tema “limites”, apresentando o relato:
A intervenção com os grupos de pais teve um impacto muito positivo. Os pais aceitaram bem a proposta do grupo, interagindo durante as dinâmicas e se envolvendo nas discussões. Foram dois grupos que participaram da intervenção. Pôde-se perceber a diferença entre os dois grupos. O grupo 1 era formado por pais que estavam ainda no momento de aceitação/negação do filho adolescente, apresentando um maior conflito com a realidade, alguns negavam a situação como se ainda não percebessem o filho adolescente. Foi um grupo que trouxe a eles autoconhecimento da realidade em que vivem e uma reflexão sobre os momentos que virão na adolescência do filho. No grupo 2, os pais já se portaram como pais que estavam cientes da adolescência, porém com dúvidas de como lidar com os novos comportamentos. Nesse grupo, foi de extrema relevância a abordagem sobre autonomia e independência, as quais devem partir da atitude dos pais para que sejam geradas nos filhos. Nos dois grupos, ficou claro, a partir dos comentários que os pais entenderam a proposta da palestra, perceberam que realmente os comportamentos inadequados na escola, advém de falta de limites
em casa. Isso foi um grande ganho, pois percebe-se que os pais precisam de um espaço de reflexão dentro da escola. Esse espaço possibilitou aos pais fazer uma auto-observação e criar um apoio para que possam ser melhores pais, proporcionando uma melhor educação para seus filhos.
O último tema proposto aos pais foi um encontro com os responsáveis
pelo Conselho Tutelar da cidade, sendo convidados os conselheiros Antonio
Ademir Carneiro e Neli Krepki. Neste encontro foi trabalhado a Legislação que
regulamenta a responsabilidade da família e da escola frente ao aprendizado,
educação e a frequência dos filhos/alunos. Tema muito polêmico, surgindo
muitas perguntas, principalmente relacionadas às atitudes que os pais podem
ter com relação ao desrespeito pelos filhos às regras familiares e escolares.
Previsto para durar 3 horas, este encontro se estendeu para além do horário, e
mesmo durante o lanche de encerramento, os pais continuaram a interagir.
Ao se perguntar sobre os pontos positivos das reuniões organizadas
pela escola, 90% responderam que a melhora do ensino e da aprendizagem do
filho era o ponto principal.
Conforme Carvalho (2013), a questão fundamental não é somente a
participação dos pais e o tipo de relação que se estabelece entre a escola e a
família, mas proporcionar encontros, estabelecendo confiança mútua. É
necessário que a escola crie espaços e grupos onde os pais possam trocar
ideias entre si, com especialistas e com os educadores, discutindo os papéis
e as responsabilidades, família, escola, aluno, abordando novos assuntos além
dos problemas disciplinares (SILVEIRA, 2013). Completando, Lahire (2013),
afirma que os professores devem também respeitar os pais que trabalham e
enfrentam grandes desafios econômicos e familiares, pois eles não têm
condições de comparecer à escola. “Por que fazer pairar sobre eles a suspeita
de uma negligência parental?” (LAHIRE, 2013, p.37)
Considerações finais
Os resultados da pesquisa apresentada demonstraram que as famílias
dos alunos do Ensino Fundamental do Colégio Estadual “João de Mattos
Pessôa”, têm consciência de sua responsabilidade em educar e conduzir seus
filhos, valorizam a escola, e a colocam como a principal forma para seus filhos
ascenderem socialmente, buscando mudar a realidade em que vivem
atualmente. Comprovou que as famílias são conscientes da necessidade de
comparecerem à escola, afirmando que procuram comparecer sempre que
solicitados e o trabalho ou as condições o permitam. Percebeu-se uma grande
valorização da frequência dos filhos à escola. Ficou evidente nos encontros
realizados, que as famílias estão inseguras e buscam na escola referências ou
afirmações que validem as decisões a serem tomadas por eles com relação à
orientação aos filhos. Observou-se que as mães dos alunos com problemas de
aprendizagem ou indisciplina apresentaram maior participação.
Os resultados demonstraram que o número reduzido de pais nos
encontros aumentou as relações e o diálogo. Esta forma mais íntima de contato
entre as famílias e a escola pode ser um fator de grande importância para que
as famílias se percebam como corresponsáveis na formação dos alunos/filhos.
Essa corresponsabilidade é fator imprescindível para uma aprendizagem
de qualidade. No entanto, não podemos dispor sobre as famílias toda a
responsabilidade pelos problemas e dificuldades que nossas escolas
enfrentam. A escola, sua estrutura e como ela conduz suas demandas também
tem uma grande influência na aprendizagem e socialização dos alunos. Esta
deve tentar conhecer a realidade social, cultural e emocional das famílias de
seus alunos e da comunidade onde estão inseridas, e a partir desse
conhecimento, criar estratégias diferenciadas de acolhimento, para que juntos,
família e escola, possam superar a enorme distância que existe entre estes
dois ambientes. Devemos estar cientes de que esta relação não pode ser
imposta ou forçada, mas deve ser construída com confiança, sendo a escola
responsável pela idealização desta parceria.
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