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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2016. 6. 10. · Hip-Hop – Cultura Negra. Público: Alunos do 8° Ano A do ensino fundamental do período matutino – Colégio

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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Ficha para catálogo Artigo final

Professor PDE-2013

Título: Hip Hop Cultura e Resistência do Povo Negro.

Autor: Nelson Pereira dos Santos

Escola de Atuação Colégio Estadual José de Anchieta - EFMNP -

Localização: Rua Generozo Karpisnki, 1345

Município da escola: Santa Maria do Oeste – Paraná

Núcleo Regional de Educação: Pitanga

Professor Orientador: Dr. José Ronaldo M. Fassheber.

Instituição de Ensino Superior: Unicentro

Área do conhecimento/Disciplina Educação Física

Relação Interdisciplinar: Todas.

Resumo:

O enfoque da pesquisa é o Hip Hop, e a

sua importância para a educação, nessa

perspectiva o estudo se ocupa, dos

aspectos relacionados na formação dos

estudantes, possibilitando um olhar

totalmente diferente em relação à

sociedade, tornando-o a cada dia um

sujeito mais ativo, participativo e

transformador de sua própria realidade. O

Brasil Historicamente é rico em

diversidade artística, o “Hip Hop” é uma

delas que trata de temas sempre ligados o

sua realidade, e o seu cotidiano. O hip hop

na sua dificuldade é a contra posição do

sistema dominante que busca a todo

instante se manter no poder, e o sistema

dominante teve uma postura ativa e

permissiva diante da descriminação e do

Racismo que atinge a população afro

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descendente Brasileira até hoje. No campo

educacional, promove uma educação

voltada para o respeito e convívio

harmônico com a diversidade. Deve se

partir de temáticas significativas do ponto

de vista ético, propiciando condições

desde a mais tenra idade, para que os

alunos desenvolvam sua capacidade

dialógica, tomem consciência de nossas

próprias raízes históricas que ajudaram e

ajuda a construir a cultura e formar a

nação Brasileira, pois o preconceito e o

racismo são formas de violência.

Palavras-chave:

(3 a 5 palavras)

Escola - Racismo – Lei 10.639/2003 – Hip-Hop – Cultura Negra.

Público:

Alunos do 8° Ano A do ensino

fundamental do período matutino –

Colégio Estadual José de Anchieta.

HIP HOP CULTURA E RESISTÊNCIA DO POVO NEGRO

Nelson Pereira Dos Santos1

José Ronaldo M. Fassheber2

RESUMO

O enfoque da pesquisa é o Hip Hop, e a sua importância para a educação, nessa perspectiva o estudo se ocupa, dos aspectos relacionados na formação dos estudantes, possibilitando um olhar totalmente diferente em relação à sociedade, tornando-o a cada dia um sujeito mais ativo, participativo e transformador de sua própria realidade. O Brasil Historicamente é rico em diversidade artística, o “Hip Hop” é uma delas que trata de temas sempre ligados o sua realidade, e o seu cotidiano. O hip hop na sua dificuldade é a contra posição do sistema dominante que busca a todo instante se manter no poder, e o sistema dominante teve uma postura ativa e permissiva diante da descriminação e do Racismo que atinge a população afro descendente

1 Nelson Pereira Santos – Professor PDE – Unicentro. Professor de Educação Física do

Colégio Estadual José de Anchieta – EFMNP de Santa Maria do Oeste - Pr. 2 Dr. José Ronaldo M. Fassheber,- Orientador: Professor Mestre em Antropologia Social e Dr

em Educação Física.

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Brasileira até hoje. No campo educacional, promove uma educação voltada para o respeito e convívio harmônico com a diversidade. Deve se partir de temáticas significativas do ponto de vista ético, propiciando condições desde a mais tenra idade, para que os alunos desenvolvam sua capacidade dialógica, tomem consciência de nossas próprias raízes históricas que ajudaram e ajuda a construir a cultura e formar a nação Brasileira, pois o preconceito e o racismo são formas de violência.

Palavras chaves: Escola - Racismo – Lei 10.639/2003 – Hip-Hop – Cultura

Negra.

ABSTRACT

The focus of the research is Hip Hop, and its importance for education, this

perspective the study is concerned, the aspects in the training of students,

enabling a totally different look in relation to society, making it every day a guy

more active, participatory and transformative reality of its own. The Historically

Brazil is rich in artistic diversity, "Hip Hop" is one that always comes to issues

related to your reality, and your daily life. The hip hop in its difficulty is the

position against the dominant system that seeks at all times remain in power,

and the dominant system had an active and permissive attitude towards

discrimination and racism that reaches downward african Brazilian population

today. In the educational field, promotes education for respect and harmonious

coexistence with diversity. It must be from significant themes of ethical

viewpoint, providing conditions from an early age so that students develop a

dialogic capacity to become aware of our own historical roots that helped and

helps build the culture and form the Brazilian nation, because prejudice and

racism are forms of violence.

Keywords: Education - Racism - Law 10,639 / 2003 - Hip-Hop - Black Culture.

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INTRODUÇÃO

O Brasil, Colônia, Império e Republica, teve historicamente, no aspecto

legal, uma postura ativa e permissiva diante da discriminação e do racismo que

atinge a população afro-descendente brasileira até hoje.

O Decreto nº 1.331, de 17 de fevereiro de 1854, estabelecia que nas

escolas públicas do país não seriam admitidos escravos, e a previsão de

instrução para adultos negros dependia da disponibilidade de professores. O

Decreto nº 7.031-A, de 6 de setembro de 1878, estabelecia que os negros só

podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no

sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares.

Após a promulgação da Constituição de 1988, o Brasil busca efetivar a

condição de um Estado democrático de direto com ênfase na cidadania e na

dignidade da pessoa humana, contudo, ainda possui uma realidade marcada

por posturas subjetivas e objetivas de preconceitos, racismo e discriminação

aos afro-descendentes que, historicamente, enfrentam dificuldades para o

acesso e a permanência nas escolas.

O Brasil historicamente é rico em diversidade artística e o “Hip Hop”3 é

uma delas o qual trata de temas sempre ligados a realidade e ao cotidiano.

O Hip Hop afirma-se como o mais importante movimento jovem da

atualidade pelo qual os negros passam a expressar todas as suas dificuldades

através de suas canções, dança e poesia, pelas quais expressam contra

posição ao sistema dominante. Ele inclui outros movimentos como o RAP e o

FUNK, como notou Dayrell (2011).

A escola deve promover uma prática educacional voltada para o respeito

e convívio harmônico com a diversidade. Deve-se partir de temáticas

significativas do ponto de vista ético, propiciando condições desde a mais tenra

idade, para que os alunos desenvolvam sua capacidade dialógica, tomem

consciência de nossas próprias raízes históricas que ajudaram e ajudam a

construir a cultura e formar a nação Brasileira, pois o preconceito e o racismo

3 Hip-Hop: é uma cultura artística que começou na década de 1970 nas áreas centrais de

comunidades jamaicanas, latinas e afro-americanas da cidade de Nova Iorque. A tradução literal desta expressão é "balançar os quadris".

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são formas de violência.

É preciso um trabalho de conscientização e sensibilização que envolva

mais diretamente a escola, produzindo efeitos positivos nos alunos, nos

educadores e na sociedade. Para que isto venha ocorrer, é preciso que a

escola esteja comprometida em romper com o paradigma da educação

centrada na cultura dominante, compreendendo o seu papel na formação do

educando.

Diante desses fatos percebe-se que a valorização em relação às

minorias nunca aconteceu, apesar da legislação. É um problema a ser

superado e a forma mais coerente para romper com esta situação é trabalhar

as diferenças dentro da escola.

Sendo assim este projeto tem por finalidade contribuir para que o

processo ensino-aprendizagem aconteça de forma consistente e plural,

partindo da investigação sobre a importância do hip hop na escola como

afirmação da identidade negra.

Entre seus objetivos podemos destacar a valorizar a memória social da

cultura Hip Hop, a compreensão o movimento Hip Hop na atualidade, o

respeito as diversidades culturais, enquanto conhecimento para sua formação

de forma ativa, crítica e participativa. Além do reconhecimento da contribuição

do negro na história do Brasil através do Hip Hop desconstruindo estereótipos

e preconceitos, reafirmando a Lei 10.639 e a Lei 11.645.

A criação da Lei 10.639 e da Lei 11. 645 as quais estabeleceram a

obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, bem

como as relações étnico raciais em todos os espaços educacionais, têm

contribuído para que as crianças e jovens se vejam representados, valorizados

nos espaços escolares, oportunizando maior permanência e inclusão dos

mesmos nas instituições escolares.

No entanto as instituições escolares ainda se deparam constantemente

com situações complexas em relação à discriminação, violência, preconceito e

exclusão social, principalmente com o “POVO NEGRO” e “ índios” que

passaram pela escravidão por mais de trezentos anos. Cabe a escola

desmistificar e valorizar a diversidade de gênero, cultura e o mito da

democracia Racial.

Para que isso ocorra é preciso que a omissão, o imobilismo não faça

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parte do ambiente escolar, mas que esse processo seja ativo, transformador e

atinja o objetivo que é a valorização e o respeito à diversidade Humana no

campo social, econômico, político e cultural.

A proposta apresentada visa contribuir, para que a comunidade escolar

veja a cultura negra com um novo olhar, de forma a colaborar

significativamente tanto na desmistificação quanto na apresentação da beleza

cultural negra, onde as diferenças não sejam objetos de discriminação, mas

sim, valorizadas em sua riqueza de diversidade.

Portanto o referido projeto tem como finalidade mostrar a importância e

as diferentes manifestações artísticas do movimento hip-hop principalmente em

nosso país.

1 DESENVOLVIMENTO

A organização escolar vigente não permite às crianças ou adolescentes

a plena vivência de suas pluralidades de saberes, sua diversidade de raça,

etnia, gênero, valores morais e religiosos, sentimentos, desejos e fantasias.

Essas dimensões fundamentais as quais dão sentido a vida, são dificultadas

ainda mais no espaço da escola, se considerar as meninas e meninos negros.

Nessa perspectiva ao abordar o Hip Hop no desenvolvimento do projeto

de pesquisa o qual terá como público-alvo “crianças e adolescentes”, “meninos

e meninas” para referir-se a sujeitos integrais (afetivos, históricos, sexuais,

cognitivos, raciais, corporais, sociais, culturais, etc.) demarcando uma

contraposição ao tratamento genérico da escola, onde todos são considerados

igualmente alunos e onde a dimensão cognitiva tem sido privilegiada.

Esquece a escola que toda criança e adolescente traz para o cotidiano

desta a sua totalidade de ser, síntese daquilo que vão experienciando;

apropriam-se e resignificam os conhecimentos a partir de suas vivências e

escolhas num processo criativo, dinâmico e conflituoso.

Por considerar que “todos são iguais” a escola trata de uma única

cultura, socialmente mais valorizada e aceita como válida – a cultura do

colonizador – eurocêntrica, masculina, branca, heterossexual e cristã. A

desvalorização ou a não consideração dos conhecimentos trazidos pelas

crianças negras e a não consideração da bagagem cultural que elas herdam e

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produzem em seu grupo social, a supervalorização de uma determinada

cultura, de um determinado saber escolar, as diferenças entre os padrões da

escola, acabam por gerar choques que dificultam a permanência dessas

crianças no processo de escolarização porque reproduzem as práticas racistas

conhecidas na sociedade brasileira.

Chauí (1993, p.61) considera cultura a criação coletiva de

representação, valores, símbolos e práticas que determinam para uma

coletividade suas formas de relação como o espaço, o tempo, a natureza e os

outros homens, definindo o sagrado e o profano, o necessário e o possível, o

contraditório e o impossível, o justo e o injusto, o verdadeiro e o falso, o belo e

o feio, o legítimo e o ilegítimo, o nós e o eles.

Entende-se que cultura é muito mais do que aquilo que se mostra diante

de nós, é perceber o quanto a escola se omite em não revelar a verdadeira

riqueza cultural que existe dentro dela mesmo.

O sistema social em que o sujeito está inserido o faz pensar no que

fazer para tentar reverter essa condição subumana de não se reconhecer como

pessoas, é preciso mudar a maneira de pensar, dando ênfase ao coletivo em

vez do individualismo.

No Brasil o movimento Hip-Hop foi adotado, sobretudo pelos jovens

negros pobres de cidades grandes como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e

Porto Alegre, como forma de discussão e protesto contra o preconceito racial, a

miséria e a exclusão. Como movimento cultural, o hip-hop tem servido como

ferramenta de integração social e mesmo de socialização de jovens das

periferias no sentido de romper com essa realidade. A maioria dos integrantes

do movimento Hip Hop busca denunciar sua dura realidade com objetivo de

gerar consciência e a transformação social.

Nesse sentido as culturas consideram os diferentes espaços e tempos.

Assim, vão sendo recriadas, reinterpretadas e renovadas pelos grupos

culturais. Esses saberes têm sido desprezados pelo caráter excludente e

homogeneizador da escola e também pela concepção de cultura que se

materializa na prática pedagógica dos profissionais da educação.

Segundo Giroux (1986, p. 94-95) ao discutir as relações entre

conformação e resistência no cotidiano da escola, afirma que:

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A marca da sociedade e da cultura dominante é impressa em uma variedade de práticas escolares, isto é, a linguagem oficial, as regras da escola, as relações sociais na sala de aula, a seleção e a apresentação do conhecimento escolar, a exclusão de capital cultural específico, etc. É desnecessário dizer que ela não é simplesmente impressa ou imposta sobre a consciência ou sobre as ideologias dos oprimidos. Ë sempre mediada, algumas vezes rejeitada, algumas vezes confirmada. [...] É crucial reconhecer que as escolas representam terrenos contestados na formação das subjetividades, mas que esse

terreno é tendencioso a favor da cultura dominante.

A escola não deveria conceber esta hegemonia que desfavorece os

educandos, negando seus valores quanto cidadãos de direitos, dar

oportunidade de forma significativa na construção do conhecimento para sua

autonomia para melhorar sua compreensão da realidade.

Para Apple (1994, p.59) o currículo nunca é apenas um conjunto neutro

de conhecimentos, que de algum modo aparece nos textos e nas salas de aula

de uma nação. Ele é sempre parte de uma “tradição seletiva” resultado da

seleção de alguém, da visão de algum grupo acerca do que seja conhecimento

legítimo. É produto das tensões, conflitos e concessões culturais, políticas e

econômicas que organizam e desorganizam um povo.

Nesse sentido, o currículo é um elemento importante na organização do

trabalho pedagógico na escola não somente porque organiza os

conhecimentos a serem socializados e apropriados pelos sujeitos, mas porque,

nele estão implícitas, as escolhas, os rituais, as disputas culturais, sociais e

políticas que privilegiam determinados conhecimentos e cultura em detrimento

de outros.

Há um currículo oculto nas escolas, e este para Giroux (1989, p. 258) se

refere às normas, valores e atitudes subjacentes que são frequentemente

transmitidos tacitamente, através das relações sociais da escola e da sala de

aula. Ao enfatizar a conformidade as regras, a passividade e obediência,

constitui uma das mais importantes forças de socialização usadas para

produzir tipos de personalidade dispostas a aceitar as relações sociais,

características das estruturas que governam o mundo do trabalho.

Na compreensão de Santomé (1998, p. 150), uma política educacional

antidiscriminatória não pode reduzir-se a uma série de lições ou unidades

didáticas isoladas destinadas ao estudo desta problemática. Não podemos

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dedicar apenas um dia por ano à luta contra os preconceitos raciais e a

marginalização. Um currículo democrático e respeitador de todas as culturas é

aquele no qual estão presentes estas problemáticas durante todo o curso

escolar, todos os dias, em todas as tarefas acadêmicas e em todos os recursos

didáticos.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação Básica

de Educação Física e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação

das Relações Etnico-Raciais para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira

e Africana, propõe o estudo da História e Cultura da África, dos Africanos,

Afrodescendentes e Indígenas no Brasil, na perspectiva de contribuir para que

o aluno negro e indígena mire-se positivamente pela valorização da história de

seu povo, da cultura, da contribuição para o país e para a humanidade.

Pretende-se com esse projeto despertar nos educandos a reflexão, bem

como mudanças de atitudes no cotidiano escolar que tanto almejamos. Mas

para que isso aconteça, a reflexão e a ação têm que fazer parte da nossa vida,

para que os problemas sociais, como preconceito, discriminação, violência,

desapareçam dando lugar ao respeito e a solidariedade tão necessária a

formação humana. Devem-se realizar questionamentos sobre a ausência de

valor que é dada as minorias étnicas na sociedade. Questionar o conceito real

de democracia, pois um país que nega seu próprio povo, nunca será um país

de verdade. Faz-se necessário uma escola com práticas pedagógicas

inovadoras tendo a participação ativa do aluno para que o processo de

mudança social aconteça.

2 A IMPLEMANTAÇÃO

O Projeto de Intervenção Pedagógica foi desenvolvido com estudantes

do 8°A, do período matutino do Colégio Estadual José de Anchieta- EFMP, do

município de Santa Maria do Oeste – Paraná.

O que se pretendeu com os recursos didáticos escolhidos na proposta

de intervenção pedagógica era despertar o interesse dos educandos para que

reconheçam a importância do Hip Hop como instrumento de transformação

social

A proposta apresentada visou contribuir, para que a comunidade escolar

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visse a cultura negra com um novo olhar, de forma a colaborar

significativamente tanto na desmistificação quanto na apresentação da beleza

cultural negra, onde as diferenças não sejam objetos de discriminação, mas

sim, valorizadas em sua riqueza de diversidade, pois como afirma Chaui “a

cultura passa a ser compreendida como o campo no qual os sujeitos humanos

elaboram símbolos e signos, instituem as práticas e os valores a si mesmos”.

Portanto a referida implementação teve como finalidade mostrar a

importância e as diferentes manifestações artísticas do movimento hip-hop

principalmente em nosso país. Todas as estratégias de ação do presente

projeto foram desenvolvidas a partir de atividades a seguir relacionadas:

Apresentação do Projeto à escola e conscientização sobre a

importância do mesmo no espaço escolar, ocorreu no primeiro dia de

implementação explicando para os alunos a importância do tema e de sertã

forma estimulando o interesse dos alunos a aprofundar seus conhecimento

sobre o Hip Hop.

Nesta apresentação foi esclarecido para os alunos os objetivos deste

projeto, que além de trazer ao conhecimento dos alunos a historia do Hip Hop,

também era conscientizar os alunos sobre as lutas vividas pelo povo africano

em nosso pais e em outros que utilizaram os negros como escravos.

Promovendo desta forma uma ação dentro da escola de combate ao racismo e

preconceitos.

O Estudo e conhecimento da Lei 10.639/03 e 11.645/08 por meio de

pesquisa, leitura e discussões, usando os recursos tecnológicos

(computadores) existentes na escola. Nesta parte da implementação os alunos

também realizaram um levantamento bibliográfico sobre o tema e sua

organização. Com esta prática vamos de encontro com as propostas de Giroux

(1989) de construção de conhecimento curricular e pedagógico considerando a

compreensão e a análise crítica de múltiplas histórias, experiências e culturas,

ou seja, analisar além do currículo formal.

Após a apresentação foram organizado grupos de alunos os quais ficaram

responsáveis em pesquisar e conhecer como e quando o Hip Hop chegou ao

Brasil, quais são as suas características e sujeitos envolvidos, produzir letras

de músicas e socializa-las em sala de aula fazendo uma ação interdisciplinar

com português aprendendo a utilização do sistema métrico da poesia e arte na

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confecção de cartazes, recortes, pinturas e colagem com fotos sobre o tema

abordado para exposição, elaboração de coreografia de hip hop.

Para mostrar a importância do Hip Hop na escola e na sociedade, foram

usados textos pesquisados pelos próprios alunos, vídeos que enfatizavam o

racismo que ocorre nos dias de hoje e comparando com a época da

escravidão, foram utilizados também vídeos de musica Hip Hop, filmes como a

biografia de Mandela, documentários sobre o grafitt e sua função cultural e

social, slides e a vivencia dos próprios alunos e a influencia que este ritmo

exerce na sociedade atual.

Foi pedido aos alunos que expressassem por forma de grafitt a sua

posição sobre o racismo e sobre a realidade que vivem em sua cidade, neste

momento foi possível notar um grande interesse e uma variedade de ideias

expressadas através do desenho, cada aluno fez questão de explicar e dar vida

através de palavras a sua arte. Com esta prática foi possível observar o que

Apple(1994) afirma sobre o incentivo a tolerância dos grupos racialmente

diferentes, pois através da arte é possível mostrar o multiculturalismo que

estava oculto dentro da escola.

Com tudo não foi possível notar o mesmo entusiasmo quando foi pedido

a eles que dançassem um break, pode-se notar certa resistência em danças

por parte dos alunos alguns disseram que tinham vergonha ou que não sabiam

dançar, mesmo assim realizaram a atividade proposta.

No que se refere a aplicação e conhecimento amplo da cultura hip-hop

e suas filosofias os alunos fizeram a interpretação das letras de musicas

analisando as mesmas de uma forma critica, pois as letras de Hip Hop trazem

um conteúdo polemico sobre as dificuldades e realidades vividas em nosso

pais, sobre relação familiar, sobre a sociedade e até mesmo sobre a escola.

Neste momento da aula foi pedido aos alunos que em grupo

escrevessem algumas letras de hip hop, notou-se que nesta atividade os

alunos demonstraram grande facilidade e entusiasmo, depois compartilharam

coma turma suas produções cantando dentro da sala de aula.

No que se refere a historia do Hip Hop foi desenvolvido com os alunos

um painel informativo com histórias pesquisadas por eles sobre temas

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diversos, líderes do passado e do presente: (Zumbi4, Dr. Martin Luther King5,

Malcom X6, Gandhi7, Dandara8, James Brown9, Black Panthers10, Steve Biko11,

Nelson Mandela12). Neste momento notou-se que os alunos não conheciam

algumas das pessoas pesquisadas e ficaram surpresos com a importância e a

influencia que as mesmas exerceram dentro da historia e da luta dos negros

para viver em igualdade dentro da sociedade. Alguns alunos mencionaram que

não sabiam que um gênero musical poderia esconder uma historia tão rica de

lutas pelos direitos de igualdade. Enfatizando mais uma vez as falas de Giroux

(1989), quando afirma que uma abordagem como essa pode orientar o ensino

nos diferentes componentes curriculares neste caso na historia trazendo a

conhecimento dos alunos fatos históricos relacionados a cada personagem

pesquisado.

Para finalização da implementação foi realizada uma apresentação dos

trabalhos desenvolvidos pelos alunos os grafites e seus significados, as letras

de musicas e o painel de pesquisa sobre o Hip Hop. Com esta implementação

pudemos mostrar de forma prática o que Santomé (1998) afirma em relação ao

respeito a todas as culturas durante o curso escolar, que elas devem e podem

ser trabalhadas todos os dias em todas as tarefas acadêmicas usando todos os

4 O principal representante da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial. Foi líder do

Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos dos engenhos, índios e brancos pobres expulsos das fazendas. Disponível em: http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/zumbi_dos_palmares.htm 5 Um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, e no

mundo, com uma campanha de não violência e de amor ao próximo. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/martin-luther-king.jhtm 6 Um dos maiores defensores do Nacionalismo Negro nos Estados Unidos. Fundou a Organização para a

Unidade Afro-Americana, de inspiração Separatista. Ele era um defensor dos direitos dos afro-americanos, um homem que conseguiu mobilizar os brancos americanos sobre seus crimes cometidos contra os negros. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/malcolm-x.jhtm 7 Foi o idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do Satyagraha (princípio da

não-agressão, forma não-violenta de protesto) como um meio de revolução, grande influência nos pensamentos de Martin Luther King e Mandela. Disponivel em: http://www.suapesquisa.com/biografias/gandhi.htm 8 Foi uma guerreira negra do período colonial do Brasil, esposa de Zumbi dos Palmares

1 2 e mãe de seus

três filhos . Suicidou-se depois de presa1 , em 6 de fevereiro de 1694, para não retornar à condição

de escrava. Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2014/11/07/e-dandara-dos-palmares-voce-sabe-quem-foi/. 9 Foi um cantor, dançarino, compositor e produtor musical norte-americano reconhecido como uma das

figuras mais influentes do século XX na música. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/James_Brown 10

Foi um partido político revolucionário norte-americano, fundado em 1966,na cidade de Oakland,Califórnia, por Huey Newton e Bobby Seale. Originalmente chamado Partido Pantera Negra para Auto-defesa.Disponivel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_dos_Panteras_Negras 11

Líder estudantil fundou o Movimento da Conciência Negra (Black Consciousness Movement), que capacitava e mobilizava grande parte da população negra urbana. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Steve_Biko 12

Considerado como o mais importante líder da África Negra, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1993,

1 e pai da moderna nação sul-africana. Disponível em: http://www.brasilescola.com/biografia/nelson-

mandela.htm.

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recursos didáticos disponíveis.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho desenvolvido sobre o Hip Hop Cultura e Resistência da

Cultura negra teve como objetivo levantar a questão e discussão sobre

preconceito racial que já chegou dentro do espaço escolar. A escola tem o

papel de formar o aluno para o exercício da cidadania buscando o pleno

desenvolvimento das habilidades que permitam compreender a sociedade em

que vivemos.

Sendo assim o entendimento deste desenvolvimento da cidadania

também significa a capacitação para saber avaliar o sentido do mundo em que

vive, os processos sociais e o papel de cada um nesse processo.

O papel da escola nesse processo é buscar meios através de biografias sobre

questões étnicas raciais, promover grupos de estudos sobre estas questões,

criar cursos de capacitação sobre o tema para professores, alunos, e para a

comunidade escolar, para que possam se aprofundar nas causas e

consequências da dispersão dos africanos pelo mundo e a bordar a historia da

África antes da escravidão e sua contribuição para a nossa sociedade atual.

A Lei 10.609/2003 abre espaço para esta discussão nas escolas por isso

trabalhar esta temática da cultura africana e Afro-brasileira por meio de varias

metodologias que o professor pode utilizar este projeto utilizou a dança a

musica e a expressão artística para tratar a questão racial.

A questão racial é assunto de todos e deve ser tratada com respeito e

reconhecimento, sabemos que não é fácil tratar de um assunto desta

magnitude dentro da escola, uma questão polemica como esta nunca chega a

uma discussão final, pois o racismo e preconceito estão impregnados na

cultura brasileira desde os primórdios dos tempos da colonização, será que a

intensificação de ações e propostas de trabalho sobre essa temática serão

suficientes para diminuir o preconceito racial? Será que a escola obedece

todas as legislações previstas na lei para se manter livre de preconceitos?

Apesar de tudo o que se tem feito nas escolas é possível notar que exista uma

diminuição significativa em relação a resistência de manifestação

discriminativas das minorias negras? Afinal o que nos falta para que este

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assunto chegue a um ponto final?

Responder a estas questões trata-se de uma tarefa difícil é de

responsabilidade de toda a sociedade. Não basta apenas criar ações para

diminuir a pratica do racismo superar preconceitos, construir e preservar

valores que envolvam o respeito entre as pessoas estabelecer as possíveis

relações em meio às diferenças, não podemos esquecer que todo esse

processo também passa pela escola, pois como instituição que faz parte da

sociedade ela vive as práticas de discriminação e de desigualdade que

promovem a exclusão das pessoas.

4 REFERÊNCIAS

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