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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013

Título: Agricultura Familiar - Diversificação da Produção

Autor: Selene Rocker Padilha

Disciplina/Área: Geografia

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Casa Familiar Rural

Município da escola: Nova Prata do Iguaçu

Núcleo Regional de Educação: Dois Vizinhos

Professor Orientador: Roseli Alves Santos

Instituição de Ensino Superior: Unioeste /Campus de Francisco Beltrão

Relação Interdisciplinar: Geografia, História, Sociologia, Agronomia.

Resumo:

Há algum tempo, vimos dialogando com os jovens educandos, buscando resgatar alguns valores da agricultura camponesa, na qual os agricultores produzem grande parte do que consumem, sendo considerados auto sustentáveis na produção de sua alimentação. Atualmente percebemos que parcela cada vez maior de agricultores adquirem, via mercado tradicional, grande parte das mercadorias de consumo diário, oriundos do campo, os quais foram eles próprios que produziram a matéria prima, que muitas vezes por comodidade ou por falta de opção preferem comprá-los transformados, nos supermercados e pagar um preço elevado. Considerando esse contexto e a realidade dos jovens educandos da Casa familiar Rural, pretendemos com esta unidade didática, trabalhar com o jovem agricultor, levando-o a fazer análise da produção, do consumo, dos custos e benefícios de forma alterar o contexto em que se insere. Para isto organizamos este trabalho em forma de oficinas.

Palavras-chave:

Agricultura Familiar, Sustentabilidade, Diversificação, Renda, Qualidade de Vida.

Formato do Material Didático: Unidade Didática

Público:

Terceiro ano Ensino Médio

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APRESENTAÇÃO

Esta Unidade Didática será apresentada à SEED – Secretaria de Estado de

Educação, como exigência parcial do PDE – Programa de Desenvolvimento

Educacional, a ser desenvolvida com os jovens do terceiro ano do Ensino Médio da

Casa Familiar Rural de Nova Prata do Iguaçu.

Através desta unidade didática buscamos sensibilizar o jovem educando da

Casa Familiar Rural de Nova Prata do Iguaçu da necessidade de diversificar a

produção no estabelecimento familiar/camponês.

Há algum tempo, vimos dialogando com os jovens, buscando resgatar

alguns valores da agricultura camponesa, onde os agricultores produziam grande

parte do que consumiam, eram quase que autossustentável.

De acordo com Kautsky (1968), retratando-se a Europa do séc. XVIII, a

família camponesa constituía uma sociedade econômica e bastava-se a si mesma,

produzia seus alimentos, construía suas casas, fabricava suas ferramentas, curtia

peles, preparava o linho e a lã, fazia suas roupas. Esta sociedade, que se bastava a

si mesma, era indestrutível. Poderia ser abalado por uma colheita ruim, um incêndio,

era um mal passageiro.

Atualmente percebemos que os agricultores adquirem, via mercado

tradicional, grande parte das mercadorias de consumo diário, oriundos do campo, os

quais foram eles próprios que produziram a matéria prima, que muitas vezes por

comodidade preferem comprá-los, transformados, industrializados, nos

supermercados e pagar um preço elevado por este mesmo produto.

Partindo dessa realidade, pretendemos com esta unidade didática, trabalhar

com o jovem agricultor, levando-o a fazer análise da produção, do consumo, dos

custos e dos benefícios da produção diversificada na agricultura de forma alterar o

contexto em que se insere. Buscamos também qualificar os jovens agricultores do

terceiro ano da Casa Familiar Rural de Nova Prata do Iguaçu, para que assumam

uma postura critica diante a realidade da agricultura familiar.

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Para isto organizamos este trabalho em forma de oficinas, em um total de

cinco. Na primeira oficina realizaremos pesquisa bibliográfica que nos possibilite

melhor compreensão da estrutura fundiária e das questões relacionadas ao campo

brasileiro. Para isto buscaremos aporte teórico em Kautsky (1968), Abramovay

(1992), Fernandes (2000), Hespanhol (2000), Oliveira (2004), Santos (2008),

Andrade (2005), Paulino (2003), Stédile (2005), visto que estes autores trazem em

seus estudos apontamentos importantes para o tema em estudo, ora convergindo

ora divergindo das perspectivas da agricultura familiar. Após a pesquisa, faremos a

coleta de dados sobre o consumo, a produção do estabelecimento de cada jovem.

Na oficina dois faremos estudo sobre a luta pela terra no Brasil, a agricultura

camponesa e a permanência desta cultura atualmente.

Na oficina três, estudaremos as viabilidades para produção sustentável

através da agroecologia.

Na oficina quatro, juntamente com a EMATER realizaremos cursos que

oportunizem práticas de diversificação da produção na agricultura familiar.

Na oficina cinco faremos avaliação da produção na propriedade, traçando

dados comparativos entre a realidade atual, o que pode ser mudado, e se a

diversificação da produção pode ou não trazer benefícios para o agricultor familiar.

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OFICINA 1 – Teorias da questão agrária – agricultura familiar e/ou camponesa

Conteúdo: Propriedade e ocupação de terras no Brasil

Objetivos: Compreender a dinâmica da estrutura fundiária, distribuição e o uso de

terras no Brasil e estabelecer a relação com a estrutura fundiária do sudoeste do

Paraná, especialmente das unidades familiares dos educandos.

Duração: 6 aulas

Material: Pendrive, computador, multimídia, caixa de som, cabos, texto impresso,

caneta, caderno.

Encaminhamento:

Iniciar a aula conversando com os jovens a respeito do que já conhecem

sobre a ocupação e uso de terras no Brasil.

Discutir a constituição da renda da terra (absoluta e diferencial) como uma

característica da sociedade capitalista, a partir do texto de Kautsky (1968).

Apresentar os dados do texto que segue “O Brasil sempre foi assim?”, através

da projeção de slide, fazer juntamente com os educandos, a interpretação dos

mapas e gráficos apresentados.

Fazer questionamento sobre a realidade de cada um quanto a propriedade e

uso da terra no local onde vivem.

Realizar levantamento de dados sobre a produção e as características da

renda diferencial no estabelecimento de cada jovem.

Construir um croqui da propriedade e após socializar com o grupo traçando

semelhanças e diferenças, construir alguns conceitos como: monocultura, agricultura

diversificada, renda fundiária.

Produzir tabela do consumo diário ao longo da semana buscando a origem de

cada produto.

Fazer leitura (individual ou coletiva) do texto de apoio, destacando os

principais elementos.

Organizar conversação sobre os apontamentos destacados e realizar a

sistematização das informações.

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Material didático das aulas 1 a 6.

Texto 01(material para preparar os slides)

FIGURA 1: Brasil Divisão Regional do IBGE.

FONTE: htt://WWW.geografia.seed.pr.gov.br acesso em 29/10/13

Segundo o historiador brasileiro Carvalho (1998), as terras brasileiras eram

divididas pela linha de Tordesilhas, demarcada pelo Tratado de Tordesilhas,

assinado entre Portugal e Espanha em 1494.

De acordo com o Tratado de Tordesilhas, uma linha imaginária a 370 léguas

das Ilhas de Cabo Verde serviria de referência para a divisão das terras entre

Portugal e Espanha. As terras a oeste desta linha ficariam para a Espanha,

enquanto as terras a leste eram de Portugal.

O acordo tinha como objetivo resolver os conflitos territoriais relacionados às

terras descobertas no final do século XV. Veja a figura:

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FIGURA 2: Linha de Tordesilhas FONTE: htt://WWW.geografia.seed.pr.gov.br cesso em 29/10/13

Conforme estudos realizados por BUENO (1999), em 1534, o rei de

Portugal, D. João III, criou o sistema de administração territorial conhecido como

Capitanias Hereditárias. Este sistema consistia em dividir o território brasileiro em

grandes faixas e entregar a administração a particulares, nobres ligados a Coroa

Portuguesa, com o objetivo de colonizar o Brasil e evitar invasões estrangeiras.

Os donatários (pessoa que recebia a concessão de uma capitania) deveriam

colonizar e administrar o território, podendo também explorar os recursos naturais

disponíveis na capitania. Veja o mapa:

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FIGURA 3: As Capitanias Hereditárias FONTE: htt://WWW.geografia.seed.pr.gov.br acesso em 29/10/13

O sistema de Capitanias, conforme BUENO (1999) foi extinto formalmente no

Brasil em 1821. Grande parte das Capitanias tornaram-se províncias. Após a

Proclamação da República, em 1889, as províncias imperiais tornaram-se estado.

Veja a reconfiguração do Brasil nas figuras abaixo:

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FIGURA 4: Brasil 1822

FONTE: http://cafehistoria.ning.com/ em 29/10/13

BRASIL 1889

FIGURA 5: Brasil 1889

FONTE: http://cafehistoria.ning.com/ em 29/10/13

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FIGURA 6: Brasil político

FONTE: htt://WWW.geografia.seed.pr.gov.br acesso em 29/10/13

Após análise das figuras acima, podemos perceber mudanças históricas na

divisão territorial do Brasil.

Entretanto podemos destacar que estas configurações territoriais – desde as

capitanias – tem uma divisão de terras em que predomina na maior parte do país as

grandes áreas, que caracterizam os latifúndios, que tiveram origem nas plantations e

permanecem nas estruturas das fazendas modernas atuais.

O Brasil é o maior país da América Latina e o quinto maior país do mundo em

extensão territorial. Possui uma área de 8.547.403 (IBGE). Porém, conforme

(CARVALHO, 2005), apenas 49,7% das terras no Brasil estão cadastradas no

INCRA. Segundo diagnóstico apresentado no II Plano nacional de reforma agrária

do Brasil (II PNRA), realizado em 2003, pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário

(MDA), os indicadores de concentração de terras superam a concentração de renda

no país.

Estas grandes propriedades utilizadas pelo agronegócio, são grandes

produtores agropecuárias, em sua maioria monocultoras altamente mecanizadas.

No atual momento histórico o Brasil apresenta uma estrutura fundiária com

intensa concentração de terra, gerando com isso inúmeros problemas relacionados

ao campo brasileiro. Observe os dados apresentados na figura e nos gráficos

abaixo:

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FIGURA 7 : Distribuição das Terras no Brasil

FONTE: htt://WWW.geografia.seed.pr.gov.br acesso em 05/11/13

Gráfico 8: Brasil - área total e número dos estabelecimentos FONTE: Censo Agropecuário IBGE - 2006

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Menos de 10 ha

10 a menos de

100 ha

Menos de 100 ha

100 a menos de 1000 ha

1000 ha e mais

Número de estabelecimentos agropecuários (Percentual)

Área dos estabelecimentos agropecuários (Percentual)

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Os gráficos e a figura7 mostram uma intensa concentração da propriedade

da terra. Enquanto um reduzido número de estabelecimentos possui grandes

extensões de terras, grande número de pequenos estabelecimentos possuem

pequenas extensões de terras, muitas vezes insuficientes para proporcionar vida

digna e sua permanência no campo.

Outro problema enfrentado pelo Brasil está relacionado ao uso do solo, onde

grande percentual das terras é utilizado de forma inadequada. Veja os dados

abaixo:

Utilização das terras

Variável

Número de estabelecimentos

agropecuários (Unidades)

Área dos estabelecimentos

agropecuários (Hectares)

Total 5.175.636 333.680.037

Lavouras – permanentes 1.480.251 11.679.152

Lavouras – temporárias 3.127.358 44.609.043

Lavouras - área plantada com forrageiras para corte

521.393 4.203.774

Lavouras - área para cultivo de flores (inclusive hidroponia e plasticultura), viveiros de mudas, estufas de plantas e casas de vegetação

11.075 100.607

Pastagens – naturais 1.672.338 57.633.189

Pastagens - plantadas degradadas 313.142 9.905.612

Pastagens - plantadas em boas condições

1.510.733 92.503.261

Matas e/ou florestas - naturais destinadas à preservação permanente ou reserva legal

1.097.590 50.933.736

Matas e/ou florestas - naturais 975.314 36.056.860

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(exclusive área de preservação permanente e as em sistemas agroflorestais)

Matas e/ou florestas - florestas plantadas com essências florestais

188.972 4.734.219

Sistemas agroflorestais - área cultivada com espécies florestais também usada para lavouras e pastoreio por animais

305.825 8.316.119

Tanques, lagos, açudes e/ou área de águas públicas para exploração da aquicultura

439.911 1.333.890

Construções, benfeitorias ou caminhos 2.193.785 4.733.526

Terras degradadas (erodidas, desertificadas, salinizadas, etc.)

71.891 795.997

Terras inaproveitáveis para agricultura ou pecuária (pântanos, areais, pedreiras, etc.)

466.927 6.143.465

Tabela 9: Uso do solo de acordo com a área total e número dos estabelecimentos.

FONTE: Censo Agropecuário IBGE 2006.

Outro dado que nos chama a atenção são as áreas destinadas às pastagens

serem superiores às destinadas a lavouras.

TEXTO 2 : Propriedade e ocupação de terras no Brasil

Desde a antiguidade até a chegada dos portugueses, por volta de 1.500 d. C.

conforme Stédile (2005), a história registra que as populações que habitavam nosso

território viviam em agrupamento, tribos, a maioria nômade, dedicando-se

basicamente a extração de seus alimentos da natureza (caça, pesca coleta). Como a

natureza era farta e atendia as necessidades de alimentação daquele momento

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histórico, os povos pouco desenvolveram a agricultura, esses povos viviam no modo

de produção do comunismo primitivo. Todo o bem da natureza era de posse e uso

coletivo e eram utilizados para atender as necessidades de sobrevivência do grupo.

Segundo os estudos de Ribeiro (1995), quando os colonizadores europeus

invadiram nosso território, estimava-se que aqui havia mais de 300 grupos tribais,

eram aproximadamente cinco milhões de pessoas.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, de acordo com Stédile (2005),

trouxeram consigo os ideais do capitalismo comercial europeu e se apoderaram de

nosso território, impondo as leis e as necessidades políticas da Monarquia

portuguesa. Com a invasão dos europeus o processo de produção e a apropriação

dos recursos da natureza passaram a obedecer às regras do capitalismo comercial,

dominante na Europa. A produção passou a visar lucro que seria enviado a

metrópole portuguesa para acumulação de capital. Após o acúmulo de capital

financiado pelos minerais brasileiro, logo perceberam que as terras brasileiras

poderiam gerar muitas riquezas, terra fértil, grande produtora dos produtos tropicais

que até então eram trazidos da Ásia e da África. Os colonizadores passaram então a

organizar a produção de modo que atendesse as necessidades do mercado

europeu, denominado pelos historiadores de agroexportador. O modelo adotado

para organizar as unidades de produção agrícola foi o da plantation forma de

organizar a produção agrícola em grandes fazendas, praticando a monocultura,

utilizando mão de obra escrava, destinada a exportação, como: cana de açúcar,

cacau algodão e outros.

Neste momento histórico, a propriedade da terra pertencia a Coroa

Portuguesa, não havendo propriedade privada. Para implantar o modelo

agroexportador e estimular os capitalistas a investirem seu capital na produção de

mercadorias para a exportação, conforme Stédile (2005) a Coroa fez a concessão de

uso da terra. No período grandes extensões de terras brasileiras passaram a serem

negociadas com capitalistas colonizadores que dispunham de capital, estes eram

atraídos para fazerem grandes investimentos no Brasil e deveria assumir o

compromisso de produzirem produtos destinados à exportação. A concessão de uso

da terra era de direito hereditário, seus herdeiros poderiam continuar com a posse e

a exploração, mas não tinham o direito de venderem as terras.

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Segundo estudos realizados por Stédile (2005), somente a partir de 1850, a

Coroa portuguesa, sofrendo pressões inglesas para substituir o trabalho escravo

pelo trabalho assalariado, a prova a primeira lei de terras do país. Essa

lei foi um marco jurídico para a adequação do sistema econômico. A Lei n 601, de

1850, tinha o objetivo de implantar no Brasil a propriedade privada das terras,

transformar a terra em mercadoria. Essa lei dava o direito de qualquer cidadão

brasileiro se tornar proprietário. Poderia transformar sua concessão de uso em

propriedade privada da terra, com direito à venda e compra e para isso pagar

determinado valor a Coroa Portuguesa. Essa lei foi então o batistério do latifúndio no

Brasil. Ela regulamentou e consolidou o modelo de grande propriedade rural, que é a

base legal, até os dias atuais, para a estrutura injusta da propriedade da terra no

Brasil.

Com a promulgação da Lei Áurea Ribeiro (1995), em 1888 consolidou-se a

libertação dos trabalhadores escravizados. Ao mesmo tempo em que tornavam livres

eram impedidos de se transformarem em camponeses, então a grande maioria de

escravos saem das fazendas, das senzalas, abandonando o trabalho agrícola e vão

para as cidades, em busca de algum meio que garantisse sua sobrevivência. Sem o

trabalho dos escravos, entra em crise o modelo agroexportador, quem iria substituir

o trabalho sem pagamento conforme os negros. Como alternativa para superar a

crise a elite capitalista lança na Europa campanhas para atrair camponeses pobres,

excluídos pelo avanço do capitalismo, para que viessem para o Brasil com o sonho

de conseguir terra barata, fértil. Nesse período vieram para o Brasil, conforme

estudos realizados por Ribeiro (1995), mais de 1,6 milhões de camponeses pobres.

Segundo estudos realizados por Stédile (2005), grande parte destes

migrantes se dirigiu para o Sul do país, devido à disponibilidade de terras e pelo

clima ser semelhante ao europeu. Parte destes migrantes foi para São Paulo e Rio

de Janeiro, onde foram obrigados a trabalhar nas fazendas de café, sob o regime de

colonato, onde recebia a lavoura de café, casa para moradia e o direito de usar uma

área de aproximadamente dois hectares por família, para cultivar produtos para a

subsistência. Para cuidar da lavoura de café cada família recebia determinado valor,

o pagamento era feito em café.

.

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A crise do modelo agroexportador atingiu a economia e a política brasileira,

que teve como consequência a queda da Monarquia e o estabelecimento da

República. Conforme estudos históricos, num golpe militar realizado pelo próprio

Exército da Monarquia.

Em 1930, a nascente burguesia industrial, segundo Stédile (2005), promove

uma revolução política no Brasil e assumem o poder antes da oligarquia rural

exportadora e impõe um novo modelo econômico para o país. Surgiu então o

modelo de industrialização dependente, pois esse processo aconteceu sem romper

a dependência econômica aos países europeus e a oligarquia rural, pois estes

mesmos assumiram a posição das “novas elites” dominantes. Conforme afirma

Stédile (2005, p.29).

Do ponto de vista da questão agrária, esse período se caracteriza pela subordinação econômica e política da agricultura à indústria. As oligarquias rurais continuam donas das terras, continuam latifundiárias e produzindo para exportação, mas não mais detêm o poder político. As elites políticas- a burguesia industrial, agora no poder- fazem uma aliança com a oligarquia rural, tomam seu poder, mas a mantêm como classe social, por duas razões: porque a burguesia industrial brasileira tem origem na oligarquia rural, da acumulação das exportações do café e do açúcar, ao contrário dos processos históricos ocorridos na formação do capitalismo na Europa e nos estados Unidos. A segunda razão é o modelo industrial, como era dependente, precisava importar máquinas, e até operários, da Europa e dos estados Unidos. E a importação dessas máquinas só era possível pela continuidade das exportações agrícolas, que geravam divisas para seu pagamento, fechando o ciclo da lógica da necessidade do capitalismo dependente.

Neste período surgem então, as indústrias produtoras de insumos para a

agricultura e as de beneficiamento de produtos agrícolas. A burguesia agrária

procura modernizar sua exploração agrícola e destiná-la ao mercado interno. Neste

momento os camponeses também são induzidos a se integrarem as regras do

mercado e a se integrarem a indústria. Este sistema reservou aos camponeses a

função de fornecer mão de obra barata para a indústria na cidade. O êxodo rural era

estimulado pela lógica do capitalismo. Seguinda a ideologia capitalista filhos de

camponeses não deveriam lutar pelo acesso a terra, vida digna no campo, pela

reforma agrária. Estes deviam se iludir com os novos empregos, salários, vida fácil

na cidade. Com o grande número de camponeses que iam para a cidade formava

um excedente de mão de obra induzindo ainda a queda nos salários. Quantas

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vezes ouvimos: ”seu filho é inteligente; não pode ser deixado na roça; é preciso

encaminhá-lo nos estudos. Vencerá na vida melhor que seu pai, conseguirá uma

boa posição social”. (Granereau, 1969, p.22 apud NOSELLA 2007, p.7).

Isso também equivalia dizer que o campo não é lugar para a inteligência, mas

só para o trabalho pesado.

A massa de camponeses, embora desenvolva uma função essencial no mundo da produção, não forma seus próprios intelectuais “orgânicos”, nem absorve alguma categoria de intelectuais “tradicionais”; entretanto, outros grupos sociais extraem dos camponeses muitos dos seus intelectuais orgânicos e mesmo grande parte dos intelectuais tradicionais é de origem camponesa. (GRAMSCI, 1975, p.1514 apud NOSELLA 2007, p.7).

Seguindo a lógica do capitalismo industrial dependente, grande parte dos

camponeses, migraram para a cidade e se transformaram em operários. A grande

propriedade capitalista avançava e concentrava ainda mais a terra, era a lógica do

capitalismo. Apesar deste cenário, parte dos camponeses através de movimentos

sociais, cooperativas, sindicatos tem lutado pelo acesso a terra e melhores

condições de vida no campo.

Chegamos hoje, neste cenário que apresenta uma agricultura modernizada,

capitalista, e um setor camponês sufocado pelos interesses do capital industrial. De

acordo com Stédile (2013), há na sociedade brasileira uma estrutura de propriedade

da terra, de produção e renda no meio rural hegemonizada pelo atual modelo do

agronegócio, que está criando problemas estruturais gravíssimos para o futuro, 85%

das melhores terras do Brasil são utilizadas apenas para o cultivo de soja, milho,

pasto e cana de açúcar. Apenas 10% dos proprietários rurais, os fazendeiros que

possuem áreas acima de 500 hectares controlam 85% de todo o valor da produção

agropecuária destinando-a para a exportação, estas matérias primas são vendidas e

apropriadas por apenas 50 empresas transnacionais que controlam os preços, a

taxa de lucro e o mercado mundial. A matriz produtiva imposta pelo modelo do

agronegócio é socialmente injusta, pois ela desemprega cada vez mais pessoas

substituindo-as pelas máquinas e venenos. Stédile (2013), afirma que:

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Este modelo é insustentável para o meio ambiente, pois pratica a monocultura e destrói toda a biodiversidade existente na natureza, usando agrotóxicos de forma irresponsável. E isso desequilibra o ecossistema, envenena o solo, as águas, os alimentos. O fato é que o Brasil responde por apenas 5% da produção agrícola mundial e consome 20% de todos os venenos do mundo.

Diante deste cenário, se faz necessário uma profunda reforma na agricultura,

não apenas na distribuição de terras, mas também no modo de produzir. Que

comece pela democratização da propriedade da terra e que reorganize a produção

agrícola, para produzir em primeiro lugar alimentos sadios para o mercado interno e

para toda a população brasileira. Isso é necessário e possível criando políticas

públicas que garantam o estímulo a uma agricultura diversificada, produzindo com

técnicas de agroecologia.

Conforme Stédile, o governo precisa investir mais recursos em pesquisas

agropecuárias para alimentos. Fazer investimentos em tecnologias alternativas de

mecanização agrícola para as pequenas propriedades. É preciso criar programas de

implantação de pequenas e médias agroindústrias na forma de cooperativas, para

que os pequenos agricultores possam agregar valor a sua produção e criar mercado

aos produtos locais.

OFICINA 2 – Agricultura camponesa e a luta pela terra.

Conteúdo: Agricultura camponesa.

Objetivos: Compreender a luta pela terra no Brasil, os princípios da agricultura

camponesa e sua permanência na sociedade capitalista.

Duração: 6 aulas

Material: : Pendrive, computador, multimídia, caixa de som, cabos, texto impresso,

caneta, caderno.

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Encaminhamento:

Conversar com os jovens partindo do que sabe sobre a agricultura familiar, a

agricultura camponesa e o agronegócio.

Apresentar através de slides os gráficos e figuras do texto “Agricultura

Camponesa”, fazer a leitura e interpretação dos dados.

Fazer a leitura (individual ou coletiva) do texto de apoio. Destacar alguns itens

que considerar importante para socializar com os colegas.

Dialogar sobre o texto em processo envolvendo todo o grupo, o qual deverá

escolher um relator para sintetizar as principais ideias debatidas.

Após conversação destacar o que foi registrado pelo relator.

Refletir em quais medidas os estabelecimentos dos educandos se aproximam

das questões da agricultura camponesa e/ou familiar

Material didático das aulas 7a 12

Texto 03: AGRICULTURA CAMPONESA (material para preparar slides)

A luta pela terra no Brasil vem desde que o colonizador português colocou os

pés em nosso solo destruindo e expulsando os índios para depois escravizá-los.

Atualmente movimentos sociais lutam por políticas públicas que possibilitem o

acesso e a permanência na terra.

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FIGURA 10: Estrutura Fundiária

FONTE: http://wwwgoogle.com.br/search?q=agriculturacamponesa em 21/10/13

A agricultura camponesa ( ver texto de apoio para esta oficina), continua

sendo essencial para a produção de alimentos bem como para a segurança

alimentar e fixação das família nas áreas rurais.

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FIGURA 11: sementes

FONTE: http://wwwgoogle.com.br/search?q=agriculturacamponesa em 21/1013

Na figura 11 podemos perceber a importância da diversidade na agricultura

camponesa para geração de trabalho no campo. Apesar de ocupar menor

percentual das terras agricultáveis e dispor de menos quantidade de recurso e de

créditos.

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FIGURA 12: Agricultura no Brasil

FONTE: http://wwwgoogle.com.br/search?q=agriculturacamponesa em 21/1013

Conforme mostra os dados da figura 12, a agricultura camponesa estimula a

geração de trabalho no campo, é a grande responsável pela produção de alimentos,

porém, ocupa apenas 24% das terras agricultáveis e dispões de apenas 14% dos

créditos agrícolas. Enquanto o agronegócio apenas 30% de sua produção é

alimentos, dispõe de 76% das terras agricultáveis e 86% dos créditos destinados a

produção. É necessário medidas Governamentais, com políticas públicas sérias para

transformar esta realidade.

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TEXTO 4 : Agricultura camponesa (texto de apoio)

Desde o século XIX, diversos teóricos como Kautsky (1968), Abramovay

(1992), Fernandes (2000) , Hespanhol (2000), Oliveira (2004), Santos (2008),

Andrade (2005), Paulino (2003), Stédile (2005) entre outros, realizaram estudos

acerca do campesinato. Para alguns, estes produtores estão se metamorfoseando

da essência camponesa à reprodução de características do modo de produção

capitalista, em agricultura familiar. Outros defendem que seu desenvolvimento não

tem provocado o desaparecimento do campesinato, mas a luta constante para

manter-se no campo e garantir vida digna a família, através do trabalho e da renda

da terra, sem explorar o trabalho do outro, tem levado a sua recriação. Fernandes

(2001) defende:

que o agricultor familiar que utiliza os recursos técnicos e está altamente integrado ao mercado não é um camponês, mas sim um agricultor familiar. Desse modo, pode-se afirmar que a agricultura camponesa é familiar, mas nem toda a agricultura familiar é camponesa, ou que todo camponês é agricultor familiar é camponês. Criou-se assim um termo supérfluo, mas de reconhecida força teórico política. E como eufemismo de agricultura capitalista, foi criada a expressão agricultura patronal. (FERNANDES, 2001, p.29-30).

Para HESPANHOL (2000), mesmo com a luta intensa pelo acesso a terra,

aconteceu um processo de diminuição do campesinato, e estes passaram por

processos de transformação nas relações de produção que se faz necessários

refutar o conceito de camponês, coloca:

que a utilização na década de 1990, da categoria de análise agricultura familiar para designar genericamente as unidades de produtivas, nas quais a terra, os meios de produção e o trabalho encontram-se estreitamente vinculados ao grupo familiar, deve ser aprendida como um reflexo das alterações recentes ocorridas na agricultura brasileira e que, em última análise, levaram a valorização do segmento familiar. Nesse sentido, as categorias de análise até então utilizadas para caracterizarem essas unidades de produção, como campesinato, pequena produção, agricultura de subsistência, produção de baixa renda, entre outras, perdem seu poder explicativo, favorecendo a emergência de novas concepções teóricas consubstanciadas na categoria agricultura familiares. (HEPANHOL, 2000, pág.2).

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Para estes teóricos a agricultura familiar apresenta algumas características

que a diferencia da agricultura camponesa, conforme destaca Abramovay (1991)

como: integração ao mercado, o papel determinante do Estado no desenvolvimento

de políticas públicas e a incorporação de tecnologias. Este agricultor seria então a

reprodução do projeto da sociedade e do modo capitalista de produção. Dentro

desta lógica, o camponês representa o velho, o atraso, enquanto o agricultor familiar

representa o novo, o moderno, o progresso.

Uma agricultura familiar, altamente integrada ao mercado, capaz de incorporar os principais avanços técnicos e de responder às políticas governamentais não pode ser nem de longe caracterizada como camponesa... (Teríamos assim) unidades produtivas que são familiares, mas não camponesas. (ABRAMOVAY. 1992, p.22).

Conforme Paulino (2003) acredita-se não se tratar de picuinhas conceituais,

visto que por trás das concepções teóricas se constroem projetos de intervenção na

realidade, os quais modificam o presente e criam possibilidades de definir o futuro de

quem vive do campo. Acerca da dimensão política do conceito Shanin (1980, p.76-

77, apud PAULINO 2003 p.43) coloca:

Um camponês não é uma palavra vazia a refletir os preconceitos do populus, as frivolidades linguísticas dos intelectuais ou ainda, conspirações de adeptos de uma ideologia, embora às vezes isso possa ser verdadeiro. Se revogado, este conceito (ainda?) não pode ser facilmente substituído por algo de natureza semelhante. Ele tem, assim como os conceitos de “capitalismo”, “proletariado” e, é claro, “modo de produção”, potenciais de reificação, isto é, pode ser enganoso, assim como pode ser usado para enganar, especialmente quando utilizado de maneira ingênua. Tem-se dito corretamente que “o preço da utilização de modelos é a eterna vigilância”. É verdade também que sem tais construções teóricas não seria absolutamente possível qualquer progresso nas ciências sociais. O camponês é uma mistificação principalmente para aqueles que são propensos a se tornar mistificados (...). Em última instância, os conceitos devem servir não a “uma questão de reconciliação dialética de conceitos”, mas “a compreensão das relações reais.” (...) Excetuando sua mistificação e sua utilização ideológica, o conceito de campesinato cumpriu, muitas vezes, todos esses serviços. Esta capacidade ainda não se esgotou.

Desta forma, conforme Paulino (2003), ao instituir as relações econômicas,

nas quais o mercado comparece como agente exclusivo e soberano, como eixo de

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análise, nos trás a ideia de que o camponês deixa de ser o principal criador de sua

própria existência. Paulino (2003, p.44) coloca:

O pressuposto de que a iminência do mercado extermina o campesinato nos remete àquela velha concepção de que essa classe social seria um resíduo em vias de extinção, pois se admitirmos que a mesma seja parte do capitalismo, não é possível sentenciá-la ao isolamento das condições produtivas orquestradas por esse modo de produção.

Sobre isto, Abramovay (1992, p.58-59) coloca que o problema que

preocupava Chayanov é hoje de grande atualidade nas ciências sociais como um

todo:

Não se pode compreender o campesinato imputando-lhe categorias que não correspondem suas formas de vida. Embora a unidade de produção camponesa lida com o trabalho, bens de produção e terra, disso não decorre a presunção de que ela gera salário, lucro e renda da terra. (...) O campesinato não é simplesmente uma forma ocasional, transitória, fadada ao desaparecimento, mas, ao contrário, mais que um setor social, trata-se de um sistema econômico, sobre cuja existência é possível encontrar as leis da reprodução e do desenvolvimento.

Sobre isto Chayanov (1986, apud ABRAMOVAY 1992 p.59) diz que diferente

do trabalhador assalariado o camponês é: “sujeito criando sua própria existência”.

A história do campesinato no Brasil é marcada de preconceito. Ao longo do

tempo, conforme Andrade (2005) criou-se meios de manter sua existência no

campo. Pela reação às transformações impostas, surgiram assim estratégias de

ação, baseadas nas ideias de enfrentamento aos proprietários de terras por meio de

elementos capazes de gerar resistência e buscar a garantia de suas reivindicações.

A ideia de campesinato na sua origem passa, portanto, por uma posição política de

como interpretar as reivindicações de determinado grupo social.

Assim, conforme Oliveira (2004) o camponês luta para construir uma história

diferente, em que os meios de produção estejam ao alcance dos setores que

produzem alimentos para a mesa de todos, de forma que não se deseja construir

uma categoria que tenha privilégio, mas que possa ser reconhecida na sociedade. O

anseio da maioria dos camponeses é a garantia da permanência no campo com

condições dignas e justas para poder viver.

O que pretendemos com este trabalho, não é levantar discussão a respeito do

conceito de agricultura familiar e camponesa, apenas o fizemos para compreender o

embate histórico da luta pela terra defendida pelos camponeses. O que nos

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propomos, é buscar apontar caminhos viáveis para uma agricultura que possibilite

vida digna, acesso consciente aos bens produzidos pela sociedade, as novas

tecnologias de modo que não comprometa a sustentabilidade, onde o camponês

através da busca constante pelo conhecimento, trabalho, técnicas, possa produzir e

apropriar-se do fruto de seu trabalho. Acreditamos, que com a existência de uma

classe camponesa que tenha acesso ao conhecimento que envolve sua vida e seu

trabalho, que com vasta variedade da produção e de políticas públicas que

possibilite uma relação direta do produtor com o consumidor, o que permite um

ganho real no produto produzido, é possível melhorar a renda desta classe e abrir

novas possibilidades de permanência no campo.

Oficina 3 – Agroecologia uma prática sustentável

Conteúdo: Agricultura agroecológica

Objetivos: Conhecer práticas de cultivo agroecológico e suas implicações, avaliar os

benefícios e consequências de cada prática, adquirir hábitos de consumo de

alimentos agroecológicos e compreender que além de saudáveis contribuem com o

bem estar de todos e a preservação da natureza.

Duração:6 aulas

Material: Pendrive, computador, multimídia, caixa de som, cabos, texto impresso,

caneta, caderno, documentário, ônibus para visita de estudo.

Encaminhamento:

Apresentar através de slides o material desta oficina.

Refletir sobre o título da oficina.

Fazer leitura crítica das imagens apresentadas.

Realizar leitura e debate coletivo sobre a proposta da cartilha sobre

Agroecologia, produzida pelo Grupo de Estudos Territorias da Unioeste.

Organizar um registro coletivo destacando ações que podem ser realizadas

nas propriedades para atingir os objetivos propostos nesta unidade, como

“em minha propriedade eu posso melhorar:”

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Material didática das aulas 13 a 18

Texto 5 (material para preparar os slide)

Vamos refletir um pouco?

FIGURA : 13 consumo de venenos

FONTE: http://wwwgoogle.com.br/search?q=agriculturacamponesa em 21/10/13

Atualmente, em grande parte da produção, é utilizada a mecanização com o

uso de máquinas para preparar a terra,semear, adubar e colher.

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FIGURA: 14 Agricultura Mecanizada

FONTE: htt://WWW.geografia.seed.pr.gov.br acesso em 06/11/13

FIGURA: 15 Agricultura Comercial

FONTE: htt://WWW.geografia.seed.pr.gov.br acesso em 06/11/13

Podemos buscar uma agricultura sustentável, com geração de renda,

qualidade alimentar e permanência das pessoas no meio rural? Como?

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FIGURA: 16 Agricultura Sustentável

FONTE: htt://WWW.geografia.seed.pr.gov.br acesso em 06/11/13

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FIGURA: 17 Produção de Hortaliças

FONTE: htt://WWW.geografia.seed.pr.gov.br acesso em 06/11/13

Trabalhar neste momento a cartilha: SAQUET, Marcos Aurélio. Et al.

Agroecologia e consumo consciente. Francisco Beltrão: SETI, USF, 2010.

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OFICINA 4 – Aulas práticas sobre diversificação da agricultura

Conteúdo: Práticas que oportunizem a diversificação e o aproveitamento da

produção na agricultura familiar.

Objetivos: Oportunizar aos jovens práticas que possibilitem a diversificação e o

aproveitamento da produção, compreender a importância dessas práticas para

promover melhoria na renda, a qualidade de vida, o bem estar e a preservação da

natureza.

Duração: 10 aulas

Material: Pendrive, computador, multimídia, caixa de som, cabos, texto impresso,

caneta, caderno, documentário.

Encaminhamento: Para o desenvolvimento desta oficina será utilizada a tabela de

consumo feita na oficina um, onde os alunos farão a relação do que consomem, sua

origem e custo. A partir destes dados organizaremos aulas práticas, demonstrando

possibilidades para produzir, transformar e aproveitar sua produção, de modo que

possam estar diminuindo custos e melhorando sua qualidade alimentar.

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OFICINA 5 – Auto avaliação das práticas agrícolas dos educandos referentes

as unidades de produção

Conteúdo: Avaliação do uso da propriedade e possíveis mudanças.

Objetivos: Avaliar o uso da propriedade e traçar possíveis mudanças buscando

melhoria na renda, produção, qualidade de vida e preservação ambiental.

Duração: 4 aulas

Material: caderno, lápis, lápis de cor, régua, cartolina, fita adesiva, Pendrive,

computador, multimídia, caixa de som, cabos, caneta.

Encaminhamento:

Rever as discussões levantadas na primeira oficina (como está a organização

da propriedade, como está sendo usada, o que está sendo produzido).

Retomar a o quadro sobre o consumo diário de cada família e fazer reflexões

sobre este consumo, buscando possíveis mudanças à partir dos temas

estudados nesta unidade, como mudanças de hábitos, consumo alternativo,

aproveitamento do que se produz na propriedade.

Construir um novo croqui sobre as possibilidades de mudanças sustentáveis

no uso do solo na propriedade, buscando mudanças possíveis à partir do que

foi estudado nesta unidade.

Socializar com o grupo o novo croqui, destacando as mudanças possíveis em

cada um.

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REFERÊNCIAS

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Paulo-Rio de Janeiro-campinas,Hucitec Anpocs,1992.

ANDRADE, Manoel Correia de. A terra e o homem no Nordeste. São Paulo:

Cortez. 7. Ed., 2005.

BUENO, Eduardo. Capitães do Brasil : a saga dos primeiros coloniadores. Rio

de , Janeiro: Objetiva,1999.

CARVALHO, Carlos Delgado de. História diplomática do Brasil (1884-1989).

Brasília: Senado Federal, 1998.

FERNANDES, Bernardo Monçano. A formação do MST no Brasil. São Paulo,

Vozes, 2000.

________________ Questão Agrária, Pesquisa e MST. São Paulo, Vozes, 2000.

HESPANHOL, Rosângela Aparecida de Medeiros. A produção familiar:

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Prudente. Rio Claro, 2000. Tese ( Doutorado em Geografia). Programa de Pós –

Graduação em Geografia do Instituto de Geociência e Ciências Exatas da

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KAUTSKY,Karl. A questão agrária. Rio de Janeiro, Laemmert, 1968.

LACKI, Polan. O verdadeiro livro dos pobres rurais. 2006. Acesso em 05 de junho

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OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de; MARQUES, M.I.M. (orgs.) O campo no século

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Terra,2004.

PAULINO, Tomiasi Eliane. Terra e vida: a Geografia dos camponeses no Norte

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ao Curso de Pós – Graduação em Geografia da Faculdade de Ciência e Tecnologia

da Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2003.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo,

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SANTOS, Roseli Alves dos. Considerações sobre a ideologia do moderno no

desenvolvimento e na modernização do território brasileiro. In: O processo de

modernização da agricultura no Sudoeste do Paraná. UNESP. 2008. Tese (

Doutorado em Geografia) apresentada ao Programa de Pós- Graduação em

Geografia – área de concentração: “Produção do espaço geográfico”, na

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Julio Mesquita Filho”. Campus de

Presidente Prudente.

SAQUET, Marcos Aurélio. Et al. Agroecologia e consumo consciente. Francisco

Beltrão: SETI, USF, 2010.

STÉDILE, João Pedro. A questão agrária no Brasil. São Paulo. Expressão

Popular, 2005.