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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA … BELA E A FERA: A MOTIVAÇÃO PARA A LEITURA POR MEIO DO CONTO DE FADAS Iraci Maria Gallo de Souza1 Valdeci Mello2 RESUMO Este artigo tem como objetivo

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

A BELA E A FERA: A MOTIVAÇÃO PARA A LEITURA POR MEIO DO CONTO DE FADAS

Iraci Maria Gallo de Souza1

Valdeci Mello2

RESUMO

Este artigo tem como objetivo refletir, discutir e encontrar maneiras de tornar as aulas de leitura no 6º ano do ensino fundamental eficientes e atrativas, transformando a leitura numa forma de lazer, de prazer, de aquisição de conhecimento, de enriquecimento cultural e de interação. A metodologia adotada foi a contação de histórias e o conto foi “A Bela e a Fera”, que foi explorada pela leitura reflexiva. A justificativa para a escolha do tema se deu pela vontade de reelaborar conceitos, e contribuir para as mudanças sociais através da contação de histórias, desenvolvendo hábitos de leitura além de valores morais e éticos que são saudáveis para o convívio em sociedade. A conclusão a que se chegou é que os alunos apreciam este recurso pedagógico, a arte de contar histórias ainda está presente no imaginário dos jovens e adolescentes, principalmente porque a história recontada tem sempre algo novo a mostrar.

Palavras-chaves: Conto de fadas; leitura, cultura; interação.

INTRODUÇÃO

Este estudo buscou encontrar meios de motivar os alunos para a leitura,

interpretação e compreensão do texto narrativo, utilizando o conto de fadas que é um gênero

textual capaz de produzir no leitor um encantamento divertido e atraente, de revisitar

histórias já conhecidas, considerando que a maioria dos alunos, na sua infância, ouviu

histórias, fábulas, contos. O resgate do conhecido por meio desses textos na escola contribui

para o entendimento e a fixação de algumas experiências de vida, capazes de fortalecer a

identidade e a capacidade de resiliência dos alunos.

Sabemos que a arte de contar histórias é milenar recontar história amplia o universo

literário, desperta o interesse pela leitura e estimula a imaginação e a elaboração e

construção de imagens interiores. Além disso, representa um vasto campo dentro de uma

escola, desenvolve a linguagem, auxilia na capacidade de ampliação do léxico e do

repertório discursivo e linguístico que potencializam a produção de textos, fomentando

possibilidades pedagógicas criativas e estimulantes para concentração do aluno.

1 Professora PDE, 2014-2015. Núcleo Regional de Francisco Beltrão, Língua Portuguesa.

2 Professora orientadora da IES, Unioeste, Campus de Cascavel.

Toda história, por mais simples que pareça, transmite algum

ensinamento que contribui com o desenvolvimento do ouvinte ou leitor, de

uma forma criativa e reflexiva. Além disso, contar uma história de forma

criativa pode entrar ser considerado conteúdo da comunicação oral, visando

o desenvolvimento da articulação verbal oral do aluno.

Narrar uma história é sempre um exercício de renovação da vida, um encontro com

outras possibilidades desconhecidas, com o imaginário sociocultural e o desafio de, em todo

tempo e em todas as circunstâncias, construir um final da maneira de cada leitor/ouvinte,

atuando no desenvolvimento comunicativo, devido a sua provocação, permita e esse

interlocutor dialogar com seus colegas ouvintes e a (re)contar a história para seus amigos

que não estavam presentes naquele momento, conduzindo à auto crítica reflexiva,

improvisação e melhora na forma de recontar e até criar seus textos.

No projeto de intervenção pedagógica foram utilizados contos como “A Bela e a

Fera”, como conto principal e os contos complementares, “Patinho Feio” e “A Princesa e o

Sapo”. Todos eles, de maneira peculiar trazem mensagens importantes sobre como viver

em coletividade e como conviver com as diferenças.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A arte de contar histórias representa um vasto campo dentro das

escolas, porque faculta o fomento da linguagem, auxiliando a capacidade e

desenvolvimento da leitura da produção textual, desperta possibilidades

pedagógicas criativas e estimulantes para o aluno.

Toda história, por mais simples que pareça, transmite algo a mais para

o desenvolvimento da criança, de uma forma criativa e reflexiva,

proporcionando, na oralidade, riquezas extraordinárias que nos permitem

organizar e sistematizar os conhecimentos cognitivos e afetivos. Além disso,

contar bem uma história pode favorecer o ensino e aprendizagem de valores

éticos e morais, conforme apontado por Zilbermann (2003, p.64), "incute na

criança certos valores, sejam eles de natureza social ou ética (ou ainda

ambas)". E mais, propicia a adoção de hábitos de consumo (aquisição de

livros e leitura permanente) e hábitos comportamentais preferidos pela

sociedade como, boas maneiras e estímulos de questionamento das bases

de organização da sociedade.

Para Coelho (2009, p.16):

Ao estudarmos a história das culturas e o modo pela qual elas foram sendo transmitidas de geração para geração, verificamos que a literatura foi o seu principal veículo.

Literatura oral ou literatura escrita foram as principais formas pelas quais recebemos a Tradição que nos cabe transformar, tal qual outros fizeram, antes de nós, com os valores herdados e por sua vez renovados (grifo da autora).

Vivemos em uma sociedade em constante transformação permeada

por diversos conflitos, a história, o conto, de certa forma suaviza e faz a

criança entender o mundo que a cerca. Coelho (2009, p.15) explica que "a

literatura em especial a infantil, tem uma tarefa fundamental a cumprir nessa

sociedade em transformação: a de servir como agente de transformação,

seja no espontâneo convívio leitor/livro, seja no diálogo leitor/texto estimulado

pela escola".

A arte de contar histórias é antiga, e foram contadas de diversas

formas, a Arqueologia mostra que os homens primitivos que habitavam as

cavernas deixaram seu legado cultural desenhados nas rochas, eram

histórias contadas através da arte rupestre.

Conforme Casasanta (1974, p.51):

Nos velhos tempos, o povo assentava ao redor do fogo, para esquentar, alegrar, conversar, contar casos. Pessoas que viviam longe de suas pátrias contavam e repetiam histórias para guardar sua tradição e sua língua. Contar histórias tornou-se uma profissão em vários países como na Irlanda e na Índia. Com o advento da imprensa, os jornais e os livros se tornaram o grande agente cultural dos povos. As fogueiras ficaram para trás. Os velhos contadores foram esquecidos. Mas as histórias de incorporaram definitivamente a nossa cultura. Ganharam novas casas através da doce voz materna, das velhas babás, dos livros coloridos para encantamento da criançada. E os pedagogos descobriram esta mina de ouro - as histórias. Os psicólogos aprovaram. Surgiu a literatura infantil (grifos da autora).

Mas o acervo literário para crianças só surgiu mesmo no final do

século XVII e durante o século XVIII, faz parte da burguesia ascendente

deste século que patrocinou a expansão e o aperfeiçoamento do sistema

escolar. A infância que foi negada até a Idade Média passou a ser valorizada,

mas as crianças ainda eram vistas como "desconhecedoras das coisas do

mundo". A escola, nesse contexto tinha e ainda tem um papel fundamental de

inserir o aluno no meio social, e apresentar a ele o conhecimento

sistematizado e é através da leitura e da literatura que a escola "manipula" e

conduz o aluno para a normatização social vigente (ZILBEMANN, 2003).

Assim, as histórias, os contos, as fábulas foram sendo repassados de

geração para geração, utilizados na família e na escola com o intuito de

educar, de transmitir valores éticos e morais, de discernir o certo e o errado,

o bem e o mal, enfim, como forma de incutir nos menores as normas sociais

e os problemas cotidianos.

Conforme aponta Bettelheim (2002, p.7):

Ao contrário do que acontece em muitas histórias infantis modernas, nos contos de fadas o Mal é tão onipresente quanto a Virtude. Em praticamente todo conto de fadas o Bem e o Mal recebem corpo na forma de algumas figuras e de suas ações, já que bem e mal são onipresentes na vida e as propensões para ambos estão presentes em todo homem. É esta dualidade que coloca o problema moral e requisita a luta para resolvê-lo.

A respeito do citado, ao contar uma história espera-se suscitar o

imaginário do aluno, a curiosidade e o encontro de respostas para os

questionamentos que se apresentam, incluindo diferentes desfechos. Como

bem enfatiza Zilbermann (2003, p.27), "[...] pelo conto de fadas, pela

reapropriação de mitos, fábulas e lendas folclóricas, ou pelo relato de

aventuras, o leitor reconhece o contorno no qual está inserido e com o qual

compartilha lucros e perdas". Essa é uma questão importante, ligar a história

com o cotidiano, com os problemas que assolam o meio, por isso, o professor

tem que escolher bem o gênero que vai utilizar e se ele serve para os

objetivos almejados.

Por meio da leitura é possível munir o leitor de informações que sirvam

como reflexão para ele atuar no meio onde vive. A leitura é uma prática

imprescindível para um contexto educacional diferenciado e eficiente. Por

meio dessa prática, pode-se oferecer uma educação que atinge o

desenvolvimento integral do aluno. A leitura vislumbra uma dimensão do

social, do homem e do mundo, contribui para a construção do conhecimento

amplo, profundo, satisfatório, constituindo-se numa metodologia necessária

para transformar a educação.

Para Silva (2005, p.24)

[...] a prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade justa, democrática e feliz.

Diante disso é possível afirmar que um dos papéis mais importantes

da escola, hoje, é estimular a leitura, formando leitores capazes de

estabelecer relações dialógicas entre os diferentes textos. Um leitor que

compreenda a leitura como atividade vital não só dentro da sala de aula, mas

para além do espaço escolar.

O ensino da prática de leitura requer um professor que “além de

posicionar-se como um leitor assíduo, crítico e competente, entenda

realmente a complexidade do ato de ler” (SILVA, 2005, p.22).

A leitura de um texto para se tornar significativa deve ser devidamente

interpretada e compreendida. Orlandi (2000) fala que a leitura é polissêmica,

ela atribui sentido ao texto, o leitor pode fazer a leitura de mundo.

A autora enfatiza a perspectiva discursiva sobre a leitura e enumera

fatos importantes, como:

a) o de pensar a produção da leitura e, logo, a possibilidade de encará-la como possível de ser trabalhada (se não ensinada);

b) o de que a leitura, tanto quanto a escrita, faz parte do processo de instauração do(s) sentido(s);

c) o de que o sujeito-leitor tem suas especificidades e sua história;

d) o de que tanto o sujeito quanto o sentido são determinados histórica e ideologicamente;

e) o fato de que há múltiplos e variados modos de leitura;f) finalmente, e de forma particular, a noção de que nossa

vida intelectual está intimamente relacionada aos modos e efeitos de leitura de cada época e segmento social. (ORLANDI, 2000, p.8)

Orlandi reflete, ainda, sobre a legibilidade do texto, que tem uma

amplitude histórica e social, por isso deve contar com a interação entre o

leitor e o texto. Há muitas coisas inseridas num texto, o intrínseco e o

extrínseco, o implícito e o explícito, e o leitor tem que saber extrair do texto

essas informações.

[...] a leitura pode ser um processo bastante complexo e que envolve muito mais do que habilidade que se resolvem no imediatismo da ação de ler. Saber ler é saber o que o texto diz e o que ele não diz, mas o constitui significativamente (ORLANDI, 2000, p.11).

A leitura e interpretação em qualquer modalidade de ensino são

fundamentais para o avanço e crescimento intelectual do indivíduo.

As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa (DCE), apontam á

necessidade de se imprimir um caráter funcional à leitura e à escrita desde a

etapa inicial da alfabetização, fica subjacente ainda um objetivo implícito: o

importante é o domínio da língua escrita (PARANÁ, 2008).

Por necessidade, as pessoas encontram meios para sobreviver às

dificuldades enfrentadas no dia a dia, mesmo assim existe certo grau de

dependência da boa vontade de outros. Para um indivíduo iletrado interagir

com um mundo letrado não é uma tarefa fácil, ele tem que se submeter ao

fato de que sabe menos, que não domina a leitura, a escrita, os cálculos. A

exclusão social é visível, e as possibilidades de competir no mercado de

trabalho ficam restritas a funções menos valorizadas financeiramente.

De acordo com os Dados do Programa Internacional de Avaliação de

Alunos (PISA/Inep, 2000), a escola não tem formado bons leitores, existe

uma defasagem muito grande dos alunos em relação a essa prática.

Os bons leitores, ao ler, conseguem interpretar e reproduzir o que

leem, e a fala, o diálogo se efetua de forma mais fluente e compreensível.

Bakhtin apud Agustini (2008, p.57) salienta que:

A obra, assim como a réplica do diálogo, visa à resposta do outro (dos outros), uma compreensão responsiva ativa, e para tanto adota todas as espécies de formas: busca exercer uma influência didática sobre o leitor, convencê-lo, suscitar sua apreciação crítica, influir sobre êmulos e continuadores, etc.

O aluno busca na leitura respostas, um diálogo com o texto e com o

autor, se ele não encontra essa relação, potencialmente não vai entender do

que a obra, o texto está falando, essa conversação com a obra e com o

autor, é o que faz a compreensão do texto e que torna a leitura mais

agradável.

Sobre o gênero Conto de Fadas, seguimos a teoria de Bakhtin que nos

mostra que o gênero serve a uma situação social, daí se fala que os gêneros

estão relacionados aos discursos de cunho social e podem ser políticos,

ideológicos ou religiosos. Cada texto ocupa um espaço genérico, possui um

estilo.

As características dos textos enfatizados por Bakhtin apresentam três

aspectos básicos, sendo, o tema (do que se trata), o modo composicional

(como está composto) e o estilo (modo como o autor escreve).

O estilo é indissociavelmente vinculado a unidades temáticas determinadas e, o que é particularmente importante, as unidades composicionais: tipos de estruturação e de conclusão de um todo, tipo de relação entre o locutor e os

outros parceiros da comunicação verbal (BAKHTIN, 1997, p.284).

Cada autor expressa seu estilo nas suas produções textuais e também

em enunciados. Para Bakhtin, o enunciado está subentendido em uma frase,

um parágrafo em que o autor disse tudo o que pretendia naquele momento.

Por isso, uma simples frase, uma charge, quadrinhos, reproduzem

brevemente o diálogo do autor com o leitor, ou do falante com o ouvinte.

Os gêneros dividem-se em dois grandes grupos: primários e

secundários. Segundo Bakhtin (1997), os gêneros primários são simples e

estão relacionados à vida cotidiana; são compostos por diálogos (réplicas),

cartas, diários, documentos e outros. O gênero secundário necessita do

primário para ter continuidade ou para ser reproduzido de forma mais

elaborada; esses textos compõem os romances, as peças teatrais, os

discursos e outros, ou seja, neles o discurso perde seu fim utilitarista prático,

para ganhar o fim poético e simbólico próprios da figuração literária. Vemos

então que:

Os gêneros primários, ao se tornarem componentes dos gêneros secundários, transformam-se dentro destes e adquirem uma característica particular: perdem sua relação imediata com a realidade existente e com a realidade dos enunciados alheios (BAKHTIN, 1997, p. 282).

E os gêneros secundários são mediados pela figuração artística. O

gênero “conto de fadas” assim como as fábulas são gêneros secundários, e

como todo gênero discursivo, o conto de fadas parte da vida social e cultural

do autor para uma narrativa curta, mas que tem uma reflexão sobre a moral

no final, é uma breve mensagem rica de conteúdo para ser explorado.

Para Rocha e Silva (2015, p.1083):As primeiras histórias foram produzidas e destinadas aos adultos e, com o tempo, incorporaram à tradição oral popular, e, apenas posteriormente, elas foram transformadas em literatura para crianças. Essa transformação ocorreu na França, com Charles Perrault, escritor e poeta francês, do século XVII, maravilhado pela memória do povo, dispôs-se a redescobri-la e descrevê-la, recontando as histórias da tradição oral popular.

Assim os contos foram trazendo a magia, a imaginação e a graça das

estórias contadas e criadas tanto para adultos como para as crianças, e

através delas e do seus ricos conteúdos, as famílias iam educando os seus

pequenos, mostrando o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é

ruim. Todo conto tem um sentido e é necessário interpretá-lo.

Como enfatizado por Bakhtin, nem sempre o título tem a ver com ele,

como no caso da “Bela e a Fera” ou a “Gata Borralheira”. Se o leitor não ler e

interpretar o texto, não vai relacionar o título ao conteúdo expresso. Esses

contos foram criados através de associações com episódios da vida

cotidiana, e da necessidade de mostrar as pessoas, que na pobreza existe

também, a beleza e atitudes nobres como a contada em a “Gata Borralheira”

ou então, no caso da “Bela e a Fera”, que mostra a capacidade de amar uma

pessoa com defeitos e desprovida de beleza física. É nessas entrelinhas que

o leitor deve se deter, e perceber as intenções do autor em fazer associações

de uma forma graciosa, bem humorada e instigante, que acaba captando a

atenção de quem ouve ou quem lê a história.

A narrativa registra e performa a experiência vivida, e sua necessidade

de ordenar e significar o caos do mundo pela contação suas vivências

(histórias) e passar importantes lições de vida para outras gerações. As

relações entre animais e seres humanos expressos nestas obras,

inicialmente, parecem estar direcionadas ao público infantil, mas na realidade

seu objetivo é atingir o leitor adulto, pois a criança, dependendo de sua idade,

não entende a “moral da história” e somente com o tempo vai perceber o

conteúdo expresso no interior ou nas entrelinhas do conto.

METODOLOGIA

Escolher um Conto de Fadas que mais se ajustasse a idade

cronológica dos alunos. Optou-se por A Bela e a Fera pelo seu contexto que

envolve as diferenças, tema altamente debatido na sociedade no momento, a

beleza externa difundida na mídia e a beleza interna não percebida pela

maioria. O Bullying, a violência e o desrespeito com o diferente, a inclusão

escolar, os aspectos multiculturais.

Após a escolha foram desenvolvidos planos de aula que compuseram

a unidade didática e posteriormente explorar os assuntos em sala de aula de

forma diversificada utilizando outros atrativos como filmes e documentários.

DESENVOLVIMENTO

A Implementação Pedagógica se iniciou em fevereiro de 2015.

Primeiramente apresentamos o projeto à Direção da escola, à equipe

pedagógica, aos professores e funcionários do Colégio Estadual Leo Flach

com o objetivo de sua socialização, com todos os profissionais e dos

objetivos e finalidades com a implementação.

No dia 18 de março de 2015 apresentamos o Projeto de Intervenção

para os alunos do 6º ano A do Colégio Estadual Leo Flach e a forma como

seriam desenvolvidas as atividades propostas na Unidade Didática. Fiz um

questionamento sobre leitura: Você gosta de histórias? Qual a história que

mais gostou de ler? Seus pais e/ou avos têm o hábito de contas histórias?

Você gosta de ler? Com esta atividade, percebi que a maioria dos alunos

gosta ouvir histórias, uns poucos disseram não gostar de ler, sendo que uma

minoria se considera apaixonado pela leitura.

As atividades propostas em sala de aula iniciaram com a contação da

história “A Bela e a Fera” fazendo um relato sobre a primeira versão, quem

escreveu, quando foi escrita e as adaptações que teve com o passar do

tempo. Os alunos já conheciam a história e mesmo assim ficaram

encantados com as novas descobertas. Ao assistirem o filme “A Bela e a

Fera” ampliaram os horizontes e se sentiram seguros para produzirem um

texto comparando a história contada com o filme. Aproveitamos a

reestruturação deste texto para abordar o conteúdo sobre gênero e texto

narrativo. Neste momento trabalhamos a estrutura e composição do texto

narrativo.

Abordamos outros temas sobre as diferenças (o Bullying, a violência, o

desrespeito com o diferente, a beleza externa e a beleza interna). Neste

momento fizemos uma mesa redonda onde todos tiveram a oportunidade de

falar sobre os temas abordados. Foi um momento muito enriquecedor, tanto

para os alunos envolvidos como para mim. Sentimo-nos confiantes e falamos

sobre acontecimentos que jamais tínhamos compartilhado.

Os alunos foram motivados para a leitura e a interpretação através do

vídeo com a música “Sentimentos” presente no filme “A Bela e a Fera”.

Aproveitamos para trabalhar os sentimentos tais como: ódio, raiva, medo,

amor, gratidão, compaixão e simpatia. Aqui também surgiram muitos relatos

de acontecimentos presenciados por eles onde envolvia os sentimentos

mencionados.

Abordamos valores considerados éticos pela sociedade, assistindo

uma tira do filme “Shrek -Ogros são como cebolas” e a letra da canção “A

melhor parte de mim” da banda “NX Zero” e debatemos sobre a amizade.

Através de atividades escritas os alunos opinaram sobre o tema. Senti

maturidade nas respostas e opiniões colocadas no grande grupo.

Aproveitamos o momento para produzirmos o texto “Meu melhor amigo”. Os

textos ficaram ótimos e foram lidos para os colegas.

Desenvolvemos a leitura de imagens com o filme “O Patinho feio” que

não apresenta texto escrito, somente as imagens e a leitura do texto “O

Patinho Feio” fazendo comparações entre ambos. Motivar os alunos para

ouvir histórias contando a história “A princesa e o Sapo” para a classe

promovendo o lado artístico através do desenho. Os trabalhos ficaram ótimos

e foram expostos para o colégio todo. Os alunos encenaram a peça teatral “A

princesa e o Sapo” e apresentaram para as outras turmas de sexto ano.

Avaliamos o desenvolvimento, a participação, a criatividade e a

motivação dos alunos para leitura, textualidade, interpretação de textos e

produção de texto. Um dos trabalhos mais apreciados pelos alunos foi a

produção de texto “Um conto maluco”. A turma foi dividida em grupos de

quatro alunos, cada grupo recebeu um envelope contendo oito imagens

diferentes dos contos trabalhados na Unidade Didática, cada membro do

grupo tirava uma imagem do envelope e inseria no texto. Os textos ficaram

muito engraçados e os alunos se divertiram muito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta de implementação tinha como objetivo refletir, discutir e

encontrar maneiras para tornar as aulas de leitura no 6º ano do ensino

fundamental, eficientes e atrativas, transformando a leitura numa forma de

lazer, de prazer, de aquisição de conhecimento, de enriquecimento cultural e

de interação.

A proposta trouxe o gênero discursivo conto de fadas e a narrativa

principal foi “A Bela e a Fera”, a partir dela desenvolveram-se outras

atividades de leitura, escrita, discussão e reflexão a respeito do que as

histórias contam e a relação que elas têm com a vida real.

A proposta lançou mão de outros contos, filmes, vídeos quem

contribuíram para ampliar o conhecimento dos alunos e a motivação para a

leitura e a interpretação.

Através desse conto, os alunos foram instigados a repensar as suas

atitudes em relação a beleza, propagada nos meios de comunicação,

deixando os valores éticos e morais de lado. A intensão era despertar o

interesse e um olhar crítico sobre os padrões de beleza destacados e

defendidos pelos jovens, percebe-se uma desvalorização da beleza

intelectual, da cultura, da educação e valoriza-se a beleza externa, física.

Muitos sofrem e se sentem excluídos dos grupos por não se sentirem belos e

formosos. O que a proposta trouxe e com grande aceitação foi o debate em

torno desses valores esquecidos, como a amizade verdadeira sem olhar se é

belo ou feio, do amor sem preconceito e do respeito às diferenças.

Ao término de todas as atividades, pode-se afirmar que os alunos

apreciam esse recurso pedagógico, porque o conto de fadas traz consigo a

magia, o sonho, a imaginação fazendo com que aquele que lê ou ouve a

história aprecie seu conteúdo com motivação e interesse. E a aceitação foi

tanta que já se pensa em um projeto de contação de histórias para o próximo

ano letivo, com novos contos e histórias interessantes.

REFERÊNCIAS

AGUSTINI, M. C. Bakhtin, gênero e o texto: uma professorinha muito maluquinha. Crátilo: Revista de Estudos Linguísticos e Literários. Patos de Minas: UNIPAM. [1]:57-69, ano 1, 2008.

BETTELHEIM, B. A psicanálise dos contos de fadas. 16.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

CASASANTA, T. Criança e literatura. Belo Horizonte: Vega, 1974.

COELHO, N. N. Literatura infantil: teoria – análise – didática. São Paulo: Moderna, 2009.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

ORLANDI, E. P. Discurso e leitura. 5.ed. São Paulo: Cortez, 2000.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008.

ROCHA, R. K.; SILVA, V. A. Os contos de fadas de Perrault: uma leitura de “as fadas”. V Seminário Interdisciplinar de Experiências Educativas. UNIOESTE, 20 a 22 de maio de 2015.

SILVA, E. T. A produção da leitura na escola. São Paulo: Editora ática. 2005.

_______ Conferências sobre Leitura – trilogia pedagógica. 2 ed. Campinas/SP: Autores Associados, 2005.

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003.

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