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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE … · Enem tem alcançado níveis consideráveis. Palavras-chaves: Variação linguística. Ensino. ... Estudo do texto “Nóis mudemo”

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

DIVERSIDADE LINGUÍSTICA: A VARIAÇÃO NA SALA DE AULA

Autora: Profª Ana Maria M. Rodrigues Scudeler

Orientadora: Profª Drª Fabiane Cristina Altino

Resumo

O ensino de Língua Portuguesa deve levar o educando a perceber a multiplicidade de usos e funções da língua, pois são nas aulas de língua materna que deve ser oferecido a ele instrumentos que o leve a refletir sobre o uso da língua na vida e na sociedade. Diante disso, a pretensão desse projeto foi desmistificar o conceito de certo e errado, no intuito de minimizar o preconceito linguístico, estimulando os alunos a conhecer e usar o dialeto padrão como forma de interação social. Trabalhamos com os alunos do 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual Marcelino Champagnat – Ensino Fundamental e Médio, na cidade de Londrina, uma escola central, bastante conceituada e muito procurada pela comunidade de todas as regiões da cidade, pois nas avaliações Saep, Saeb e Enem tem alcançado níveis consideráveis. Palavras-chaves: Variação linguística. Ensino. Preconceito Linguístico.

1. Introdução

Este artigo é parte integrante no processo de conclusão do curso PDE- 2015

(Programa de Desenvolvimento Educacional) oferecido aos professores da rede

pública de ensino pelo Governo do Estado do Paraná. Ao participar deste curso

escolhi a linha de pesquisa com o tema Diversidade Linguística: A variação na sala

de aula, por entender que a escola, embora ensine o saber prático, não deixa de

reproduzir a ideologia dominante.

Nesse sentido é possível perceber que tal como a desigualdade social, a

diversidade linguística não tem sido contemplada pelo sistema de ensino, pois nem

sempre propõe uma educação que reconheça as diferenças e influências na língua,

assim como rege a sociolinguística, que leva em conta o ensino voltado para o

respeito às experiências dos alunos, bem como às diferenças socioculturais e às

variedades linguísticas.

Dessa forma, cabe à escola promover o combate ao preconceito linguístico e,

consequentemente, ao processo de exclusão que surge a partir dele. Bortoni-

Ricardo (2004) reconhece isso, afirmando que:

[...] Estamos vendo, então, que são fatores históricos, políticos e econômicos que conferem prestígios a certos dialetos ou variedades regionais e, consequentemente, alimentam rejeição e preconceito em relação a outros. Mas sabemos que esse preconceito é perverso, não têm fundamentos científicos e tem de ser seriamente combatido, começando na

escola. [...] Lembrem-se de que a pluralidade cultural e a rejeição aos preconceitos linguísticos são valores que precisam ser cultivados a partir da educação infantil e do ensino fundamental (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 34-35).

Nas Diretrizes Curriculares da Educação do Estado do Paraná, desde o seu

processo de elaboração em 2003, percebe-se a preocupação de que a escola

ofereça aos alunos a possibilidade de adaptarem-se às diferentes situações de uso

da língua, uma vez que ela não é única e homogênea, ao contrário está em

constante transformação e seu uso não pode ser restringido e tão pouco controlado.

De acordo com o documento citado acima:

A sociolinguística não classifica as diferentes variantes linguísticas como boas ou ruins, melhores ou piores, primitivas ou elaboradas, pois constituem sistemas linguísticos eficazes, falares que atendem a diferentes propósitos comunicativos, dadas as práticas sociais e aos hábitos culturais das comunidades. (PARANÁ, 2008, p. 56)

A preocupação com o ensino de língua portuguesa nas escolas tem sido uma

constante, pois percebe-se que nelas têm se apresentado uma visão simplista de

que para ensinar a língua materna é necessário valorizar as regras prescritivas,

desconsiderando-se a constituição interativa da linguagem.

Essa insistência em ensinar apenas a gramática normativa como único

aspecto da língua traz prejuízos aos alunos, uma vez que eles já chegam à escola

com uma gramática internalizada, processada a partir de suas próprias experiências

linguísticas.

Para Bortoni-Ricardo (2005) não devemos justificar o ensino da língua

materna através do erro gramatical, pois dessa maneira estaríamos

desconsiderando as características linguísticas de cada falante, sua língua materna

e, principalmente, sua identidade.

Assim, tendo em vista a diversidade cultural do Brasil é importante que o

ensino da língua portuguesa oportunize aos educandos compreender o fenômeno

chamado de variação linguística, respeitando a forma que cada indivíduo tem de se

expressar estando ele dentro ou fora do ambiente escolar. Uma vez que, em

diferentes regiões de um mesmo país a língua falada ganha características

singulares evidenciando e enaltecendo, dessa forma, os valores culturais, as

diferenças sociais e o regionalismo.

Diante disso, este trabalho pretendeu colaborar para um ensino de qualidade,

onde se valorize as práticas vivenciadas pelos alunos para que a sala de aula não

deixe de ser um lugar de interação e comunicação, uma vez que a linguagem não

deve ser substituída, deve sim, ser adequada às diversas situações de uso.

Alguns objetivos específicos orientaram esse trabalho: (i) enfocar o respeito

às diversas variedades linguísticas, trabalhando com situações de uso da língua; (ii)

compreender que diversos fatores como região, faixa etária e classe social são

responsáveis pela variação da língua, dando ênfase à variação social; (iii) minimizar

a valorização excessiva da norma culta, percebendo a influência da oralidade na

escrita e suas implicações; e (iv) desenvolver a competência comunicativa dos

alunos nas diversas situações de uso.

Pretendeu-se com os objetivos acima citados chegar ao objetivo maior de

transformar as aulas de língua materna num compromisso com a formação do

alunado contra qualquer forma de exclusão social pela linguagem.

2. Fundamentação Teórica

O ensino de Língua Portuguesa deve levar o educando a perceber a

multiplicidade de usos e funções da língua, pois é principalmente nas aulas de

língua materna que o estudante tem a oportunidade de aprimoramento de sua

competência linguística, momento em que são oferecidos a ele instrumentos que os

ajudem a refletir sobre o uso da língua na vida e na sociedade, como regem os

Parâmetros Curriculares Do Ensino Médio:

O desenvolvimento da competência linguística pelo aluno do Ensino Médio não está pautado na exclusividade do domínio técnico de uso da língua legitimada pela norma padrão, mas, principalmente, no saber utilizar a língua em situações subjetivas e/ou objetivas que exijam grau de distanciamento e reflexão sobre contextos e estatutos de interlocutores – a competência comunicativa vista pelo prisma do valor social e simbólico da atividade linguística e dos inúmeros recursos concorrentes. (BRASIL, 1999).

A fim de fundamentarmos as concepções teóricas do projeto que serviu de

base à implementação, começaremos com uma breve abordagem sobre fatores

históricos e políticos que desencadearam reflexões sobre as diferenças linguísticas.

No início da década de sessenta, uma grande parte da população norte-

americana vivia em estado de pobreza crônica. Essas pessoas

socioeconomicamente desfavorecidas, sofrendo discriminação no mercado de

trabalho e vendo suas crianças e jovens serem discriminados na escola começaram

a reivindicar a democracia liberal que o país pregava. O governo, por sua vez,

temendo o avanço desses movimentos reivindicatórios decretou uma falsa medida

de integração social.

Na área da educação atribuiu-se a culpa do fracasso escolar à própria criança

e a seu contexto cultural. Através da aplicação de testes, entrevistas e observação

do comportamento no contexto escolar, apresentou-se dentre as causas desse

fracasso, a privação cultural e o déficit linguístico.

Surgindo, assim, a ideologia da deficiência cultural, que conforme afirma

Magda Soares (2002, p.21) “segundo a lógica da teoria da deficiência cultural, o

déficit linguístico é atribuído à pobreza do contexto linguístico em que vive a criança,

particularmente no ambiente familiar”.

Países da Europa e América Latina de estrutura capitalista, que como toda

formação social dessa natureza precisa reproduzir suas forças de produção e,

portanto, levava à marginalidade as classes menos favorecidas, tomaram o mesmo

posicionamento dos Estados Unidos.

No Brasil essa ideologia chegou na década de setenta, quando já estava

severamente criticada nos Estados Unidos, com a expansão quantitativa da

educação escolar, que fez com que a escola passasse por uma grande

transformação, principalmente no que diz respeito ao ensino da língua materna.

Como a elite sempre teve acesso à escola, a expansão quantitativa abarcou

aqueles segmentos que, até então, achavam-se privados de seus direitos

educacionais. Começaram a frequentar a escola alunos pertencentes à classe baixa

(periferia urbana e rural) portadores de um sistema linguístico muito diferente

daquele veiculado no sistema escolar.

De acordo com Camacho (2001) o modelo da deficiência considera diferenças

verbais como desvios da norma culta, que está mais próxima das classes mais

privilegiadas.

Essa diferença verbal, que implica a questão social por parte do indivíduo é a

chamada variação diastrática, ela é segundo Ilari e Basso (2006, p.175) “referida às

vezes como “português subpadrão” ou “português sub-standard”, é a variedade de

português falada pela população menos escolarizada”.

O prestígio do chamado português culto acentua as desigualdades sociais,

mas não há como ignorá-lo, porém se a escola impõe o ensino da língua padrão,

desconsiderando os traços linguísticos e culturais do aluno, pode provocar nele uma

sensação de insegurança e, até mesmo, a rejeição ao ato de aprender as formas

consideradas “prestigiadas” da língua. Nas palavras de Botoni-Ricardo (2005, p. 26):

[...] a aprendizagem da norma culta deve significar uma ampliação da competência linguística e comunicativa do aluno que deverá aprender e empregar uma variedade ou outra de acordo com as circunstâncias da situação de fala.

A mesma autora afirma que apesar dos esforços da sociolinguística, a

educação ainda não deu a atenção merecida aos aspectos de variação e que “é

possível ensinar a norma padrão a falantes do português popular sem criar uma

situação conflitiva, desde que seja implementada em sala de aula uma pedagogia

culturalmente sensível”. (BORTONI-RICARDO, 2005, p.206)

Portanto, se o objetivo das aulas de Língua Portuguesa é oportunizar o

domínio do dialeto padrão isso deve ser feito, de acordo com Camacho (2001), de

modo que não agrave, nem contribua para situações de exclusão a que já estão

sujeitas as pessoas marginalizadas socialmente.

3. A Unidade Didática

Para alcançar os objetivos propostos no projeto de ensino, estudamos um

texto em que as diferentes formas de comunicação foram concebidas como erros, a

fim de que os alunos do 2º ano do ensino médio percebam que agindo assim

estaremos negando que todos nós falamos a mesma língua – o português brasileiro.

Pois, de acordo com Ataliba Castilho (2012) “se insistirmos no ritmo atual e

tentarmos impor o padrão linguístico de uma classe sobre a outra, continuaremos a

promover nas classes mais baixas o complexo de incompetência linguística”.

No intuito de provocar um aprofundamento na reflexão desses alunos sobre o

tema, abordamos dois artigos de opinião que criticavam a fala do ex-presidente Luiz

Inácio Lula da Silva.

A metodologia de ensino utilizada para o desenvolvimento de nossa proposta

de trabalho seguiu os seguintes passos:

1º Momento:

a) Introdução sobre o assunto, variações linguísticas, através de slides

apresentados na TV – pendrive;

b) Identificação do conhecimento prévio dos alunos sobre o assunto

abordado.

2º Momento:

a) Estudo do texto “Nóis mudemo” de Fidêncio Bogo, levando os alunos a

refletir sobre nossas atitudes diante do falar popular;

b) Análise reflexiva da matéria de capa da Revista Educação, publicada em

março de 2003: O português de Lula é um mal exemplo?;

c) Análise reflexiva da matéria “A voz do Brasil”, veiculada na Revista

Discutindo Língua Portuguesa, ano 1, nº4.

3º Momento:

a) Introdução sobre o gênero artigo de opinião;

b) Reconhecimento da estrutura do gênero artigo de opinião (características,

procedimentos argumentativos);

c) Produção textual: elaboração de um artigo de opinião, sobre a diversidade

linguística, para que os alunos a refletissem sobre o conceito de “certo” ou

“errado”, minimizando o preconceito linguístico.

d) Reescrita do artigo de opinião com a ajuda dos colegas e da professora

com sugestões de melhorias e correções para o texto final.

3.1. A Implementação da Unidade Didática: relatos de experiência

Iniciamos a implementação da Produção Didático-pedagógica, expondo os

objetivos e a metodologia a ser utilizada na aplicação da produção. Em seguida tive

uma longa conversa com os alunos trocando experiência sobre as atitudes deles

diante das diferenças percebidas na fala das pessoas.

Foi um momento interessante, pois, mesmo negando, percebi nitidamente, na

fala dos alunos, algum tipo de preconceito em relação às variedades linguísticas.

Tudo foi anotado para ser discutido em outro momento.

Dando continuidade à implementação fiz a apresentação dos tipos de

variações linguísticas através de slides na TV Pendrive. Aproveitei para explicar que

nossa língua embora altamente organizada, é variável, pois nenhuma língua viva é

fixa e que na concepção da sociolinguística (que é uma das ciências da linguagem

que explica as variações linguísticas), a língua é intrinsecamente heterogênea, ou

seja, múltipla, variável, instável, estando assim, sempre em construção e

desconstrução. Os alunos demonstraram interesse pelo conteúdo e ajudaram a

encontrar outros exemplos além dos apresentados nos slides e pelos comentários

pude notar que perceberam possuir algum tipo de preconceito linguístico.

Chegou o momento de tratar da questão do preconceito linguístico na prática,

para tanto solicitei aos alunos que fizessem uma reflexão e trouxessem para a

próxima aula, por escrito, a resposta à pergunta: Você tem algum tipo de preconceito

linguístico?

Na aula seguinte e iniciamos a reflexão oral. Conforme eles liam o que

responderam eu anotava, na lousa, as respostas que evidenciavam preconceito

linguístico.

Ao terminarmos expliquei aos alunos que as variações linguísticas existem

devido à diversidade de povos e culturas e que após conhecermos todos os tipos de

variações iríamos trabalhar apenas com variação social da língua, mesmo assim,

fizemos algumas atividades sobre todos os tipos de variações linguísticas abordadas

nos slides.

Iniciei o próximo grupo de aulas dizendo aos alunos que os gramáticos

idealizaram a língua padrão e a trataram como modelo, enquanto a linguagem

popular transformou-se em alvo de preconceito. No intuito de refletirmos sobre isso e

deixar claro que o objetivo das aulas de Língua Portuguesa é oportunizar o domínio

do dialeto padrão, mas de maneira que não contribua para o agravamento ou para a

manutenção da situação de exclusão estudamos o texto “Nóis mudemo” do autor

Fidêncio Bogo – antes de iniciarmos as atividades fizemos o reconhecimento do

autor através de sua biografia.

Os estudantes ficaram sensibilizados com a história do personagem Lúcio,

fizemos uma exploração oral do texto e em seguida responderam algumas questões

que elaborei sobre o texto, todos participaram ativamente das reflexões levantadas

no decorrer desse estudo.

Na aula seguinte os alunos foram convidados a se colocarem no lugar de

Lúcio e escreverem um pequeno texto reflexivo sobre como se sentiriam se

estivessem passando pela mesma situação do menino. Alguns alunos leram suas

reflexões e foi bastante gratificante perceber como eles já estavam entendo o

problema da intransigência diante da variedade social da língua.

Nessa mesma aula uma aluna comentou que havia recebido pelo Whats App

uma fala do jornalista Alexandre Garcia sobre a abordagem das variações

linguísticas em livros didáticos distribuídos pelo governo. Solicitei a ela que salvasse

no pendrive e trouxesse para que pudéssemos assistir. Para encerrarmos pedi aos

alunos que fizessem uma pesquisa escrita sobre o ECA para a próxima aula.

Chegada a aula seguinte solicitei que comentassem a pesquisa que fizeram

sobre o ECA e escrevessem um parágrafo respondendo se o ECA poderia ter

ajudado para que a vida de Lúcio não tivesse sido tão sofrida. Assim que terminaram

muitos alunos leram suas respostas.

Na 2ª aula desse mesmo dia assistimos, na TV pendrive, ao vídeo comentado

pela aluna na aula anterior e expliquei o equívoco do jornalista em acreditar que

respeitar as variedades linguísticas não significa que a escola não irá ensinar a

norma padrão e aproveitei para trabalhar a adequação linguística.

Iniciei aula seguinte apresentando aos alunos um artigo da Revista Educação

de março de 2003, onde o autor Josué Machado (2003) lança uma pergunta a

professores, gramáticos e outros profissionais questionando se a fala do ex-

presidente Lula poderia representar um mau exemplo para nossas crianças e

jovens, em seguida lemos, refletimos e comentamos os depoimentos dos

entrevistados.

Após uma breve retomada do assunto abordado na aula anterior fizemos e

corrigimos as atividades sobre o estudo do texto de Josué Machado. Todas as

questões abordadas levaram os alunos a refletir sobre o assunto e sobre as

repostas dos entrevistados.

Ainda nesse contexto, dividi os alunos em cinco grupos e através de sorteio

entreguei a quatro grupos um depoimento da matéria estudada para que os

integrantes do grupo se preparassem para defendê-la oralmente, o quinto grupo

deveria escolher uma das opiniões defendidas pelos quatro grupos anteriores e

contestá-la. Os adolescentes anotaram suas opiniões para serem apresentadas na

próxima aula.

As apresentações foram realizadas na aula seguinte e foi muito produtivo,

pois os alunos necessitaram se posicionar em relação à opinião dos entrevistados,

defendo ou contestando, conforme recebido no sorteio, independente de ser sua

verdadeira opinião e, nesse momento, exercitaram também a modalidade oral.

Na próxima aula fizemos a leitura e o estudo do recorte de uma matéria sobre

a fala do ex-presidente Lula veiculada na Revista Discutindo Língua Portuguesa, na

qual o autor Paulo Bearzoti Filho (2009) aborda que, após muitas críticas, o ex-

presidente Lula procurou aproximar sua fala à língua padrão e, com o tempo, se

distanciou da fala popular que o consagrou.

Na reflexão feita durante o estudo dessa matéria, alguns alunos concluíram

que Lula viu no preconceito linguístico que sofria um enorme preconceito social dos

intelectuais que não discriminavam apenas a linguagem dele, mas ele próprio era

discriminado em sua identidade individual e social.

Ao final da aula pedi aos alunos que trouxessem artigos de opinião de

revistas ou jornais para trabalharmos na aula seguinte.

Nessa etapa da implementação relembramos as características estruturais de

um artigo de opinião, a linguagem que deve ser utilizada, a finalidade desse gênero

discursivo e seu contexto de circulação. Isso foi possível, pois a implementação foi

realizada com alunos que já haviam estudado, no ano anterior, o gênero artigo de

opinião.

Em seguida, os alunos iniciaram a análise do artigo de opinião que trouxeram

respondendo questões sobre a estrutura, finalidade, linguagem e o contexto de

circulação. Na segunda aula, desse dia, terminamos e corrigimos oralmente a

atividade.

Para finalizarmos a implementação, os alunos foram orientados a escreverem

um artigo de opinião com o tema: Variação linguística, ensino e preconceito

linguístico.

Conversamos sobre o planejamento do texto e o suporte no qual o texto

deverá ser publicado. Não deu tempo de iniciar a escrita do texto, portanto ficou para

próxima aula. Orientei que trouxessem elaborados os argumentos que usariam, para

facilitar a produção do texto solicitado.

Na primeira aula do dia seguinte os estudantes redigiram o texto solicitado e

na 2ª aula fizeram a revisão final seguindo alguns critérios que elenquei no quadro

negro. Ao final da aula os textos foram entregues para correção.

Essa última correção, além de verificar se os alunos seguiram a estrutura do

artigo de opinião teve, principalmente, o objetivo de comparar a reflexão feita por

eles no início da implementação desse projeto com os argumentos apresentados na

produção de texto solicitada.

Para nossa satisfação observou-se que houve uma mudança de postura em

relação ao preconceito linguístico apresentado no início do trabalho, pois os alunos

demonstraram terem entendido que o preconceito linguístico não atinge somente a

esfera linguística como também o indivíduo como um todo.

4. Considerações Finais

Com este trabalho foi possível comprovar que ainda há muito preconceito

linguístico, por parte dos alunos, com relação às pessoas que fazem uso de um

dialeto não prestigiado pela sociedade e concluímos que a escola deve assumir o

papel de mostrar que existe uma norma que é tida como padrão para certas

formalidades, porém deve evidenciar o respeito às variantes e capacitar os

educandos a utilizar essas variantes linguísticas em função das diferentes situações.

Acreditamos, que nossa implementação pedagógica obteve bons resultados,

principalmente pela participação dos alunos e por termos conduzido as atividades,

com base no exposto, de forma a contribuir para a diminuição do preconceito

linguístico na escola e no convívio social de nossos estudantes, proporcionando

conhecimentos e aprendizagens para um ensino de qualidade.

Referências

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