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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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A INTERTEXTUALIDADE DA TEMÁTICA AMOROSA EM POEMAS E

EM IMAGENS DO PERÍODO ÁRCADE

SLOBODJAN Vaneide Miguel Ribeiro1 FERNANDES Mônica Luiza Socio2

RESUMO: O presente artigo apresenta reflexões e resultados de um trabalho voltado à leitura de poemas e de pinturas do período árcade, realizado com alunos do 1º Ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual General Carneiro-EFMP. O mesmo está pautado nas relações dialógicas vinculadas à intertextualidade como processo constitutivo da literatura. Nosso objetivo foi desenvolver a habilidade de leitura e compreensão de textos poéticos do período árcade que tratam da temática do amor, estabelecendo a intertextualidade com as linguagens expressas nas artes poesia e pintura. O trabalho consiste em promover o diálogo entre as distintas manifestações culturais: literatura, pintura e mitologia, auxiliando o aluno na compreensão dos textos poéticos e oportunizando novas formas de perceber o sentido real da leitura tanto de textos verbais quanto de textos imagéticos. Tomamos por base os aportes teóricos de Bordini e Aguiar (1993), Candido (1983), Carvalhal (2003), Manguel (2001) e nas DCEs (2008), que evidenciam a importância da leitura para o desenvolvimento intelectual do ser humano. Palavras-chave: Leitura; intertextualidade; amor; poemas; pintura.

1. INTRODUÇÃO

A leitura é um processo que desenvolve a consciência crítica, levando à

emancipação. Logo, é uma atividade que oportuniza ao educando a participação

ativa nas práticas sociais, fazendo-o perceber que o aprendizado efetivo de

descobrir que as coisas que lemos, fazem parte da nossa vida e são relevantes na

compreensão do mundo em que vivemos.

Por essa razão, chamamos a atenção para a necessidade de criar situações

que desenvolvam a habilidade de leitura como prática social, possibilitando ao

estudante além do acesso às informações – a formação de valores que o prepara

para assumir uma postura de cidadão crítico e atuante na sociedade. Segundo

Cagliari (1994, p.130), “o objetivo fundamental da escola é desenvolver a leitura para

1Autora: Professora de Língua Portuguesa No ensino Fundamental e Médio da Secretaria de Estado da Educação/PR no Colégio General Carneiro-EFMP. Especialista em Literatura Brasileira. Descrição e Ensino (UNESPAR/campus de Campo Mourão). 2Orientadora: Docente do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Desenvolvimento, da UNESPAR/campus de Campo Mourão. Doutora em Literatura (USP),

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que o aluno se saia bem em todas as disciplinas, pois se ele for um bom leitor, a

escola cumpriu em grande parte a sua tarefa”. Esta reflexão aponta para a

necessidade de entendermos que a leitura deve ser a extensão da escola na vida

das pessoas para que elas possam interagir com a sociedade em que vivem e

transformá-la num mundo melhor.

A fim de proporcionar a interação do leitor com o mundo via leitura,

desenvolvemos este trabalho, cujo objetivo principal é ampliar as habilidades de

leitura e compreensão de textos literários, tendo como subsídio a leitura de poemas

dos poetas árcades Manuel Maria Barbosa du Bocage e Tomás Antônio Gonzaga

que trazem em suas obras a perspectiva da temática amorosa inspirada pela

presença dos deuses do amor da mitologia grego-romana Eros/Cupido e

Afrodite/Vênus.

Constatamos que a aproximação entre esses dois poetas acontece quanto à

temática lírico-amorosa e também quanto à inspiração por ser motivada pela beleza

de suas musas amadas, coincidentemente jovens denominadas “Marília”, pastoras e

as histórias mitológicas dos deuses do amor (Eros, Cupido, Afrodite/Vênus). Ambos

recorrem à aproximação da arte com a natureza como pano de fundo para suas

poesias, buscando retratar uma vida simples, bucólica e pastoril.

Assim, para que o aluno estabeleça o diálogo literário existente entre poesia e

pintura que tem em comum a temática amorosa, é necessário o conhecimento das

histórias da mitologia Greco-romana, pois muito do que está na poesia, sem o

entendimento da mitologia passaria despercebido. Por essa razão, mostramos que o

amor é um sentimento universal e revelador que nos permite ver e compreender

melhor as coisas, a relação entre os homens e o mundo, trazendo paz e equilíbrio,

aproximando assim, da tônica poética retratada pelos poetas árcades que concebem

o amor como um sentimento sublime, capaz de amenizar o sofrimento, a solidão e

colocar o eu - lírico em estado de graça.

No decorrer das atividades, procuramos mostrar em algumas pinturas e

poesias, o que há em comum quanto à temática, bem como no grau de lirismo

existente que ressalta o papel distintivo da intencionalidade do criador.

Nesse sentido, o trabalho com a leitura de poemas e imagens, baseado nas

relações dialógicas entre as diferentes linguagens, com foco principal no estudo dos

poemas, busca contribuir para um fazer transformador, viabilizando um ensino que

se volte à melhoria da percepção, o que faz com que o aluno possa ler um poema

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na verticalidade de seu significado por meio dos elementos que manipulam

linguística e imageticamente a sensibilidade dos leitores.

2. A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA ESCOLA

A leitura desenvolve a concepção de mundo do indivíduo e contribui para a

formação da consciência crítica, por isso, o melhor que a escola pode oferecer ao

aluno deve estar voltado para a leitura que é uma atividade de assimilação do

conhecimento e de reflexão, oportunizando ao leitor uma visão de mundo que

resulta num processo que transcende os limites geográficos e linguísticos e ampliam

o universo de informação.

Sendo assim, a leitura vista como um processo de interação entre o leitor e o

autor, ultrapassa a compreensão da superfície e se transforma num ato dinâmico

entre sujeitos que instituem trocas de experiências por meio da socialização do

texto. Tal experiência é uma possibilidade de entender como a sociedade se

relaciona com a produção cultural e social de cada leitor.

Ressaltamos que é muito importante compreendermos o caráter histórico e

social da leitura e entendermos que ela é via de acesso a um universo de

informação sobre a humanidade e os bens culturais produzidos historicamente ao

longo das gerações. Acreditamos que por meio da releitura e do diálogo com a

época primeira, conseguimos recuperar importantes elementos da historicidade do

texto. A possibilidade de distintas interpretações entre a retomada do passado e a

atualização no presente, possibilita uma interação ao mesmo tempo receptiva e

criadora, pois suscita a reflexão, o debate, a inferência e o diálogo com as diferentes

áreas do conhecimento.

Para desenvolver essas habilidades via leitura, o aluno leitor é convidado a

buscar em outras áreas, como nas artes plásticas e na mitologia greco-romana, o

suporte para compreender os poemas do período árcade que tratam da temática do

amor, sendo esse o foco do projeto, que pelo viés da intertextualidade, estabelece o

diálogo entre literatura e as artes plásticas e nesse ato de constituição de sentido

para o que lê e vê, possa entender o mundo em que vivem e como leitores críticos

precisam desvendá-lo.

Destacamos também a importância de um trabalho de leitura feito pelos

professores de todas as áreas, pois o esforço de todos para desenvolver a

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capacidade de leitura é condição facilitadora para as demais aprendizagens.

Conforme expresso nas DCEs (2008, p. 30), “os conteúdos escolares devem ser

fundamentados por conceitos que dialogam disciplinarmente com as experiências e

saberes sociais de uma comunidade historicamente situada”, uma vez que a

construção da linguagem é um fenômeno social e nasce da necessidade de

interação entre os homens.

A valorização do contato do ser humano com a leitura também é defendida

por Lajolo na tão necessária travessia do mundo da leitura a leitura do mundo.

Lê-se para entender o mundo, para viver melhor. Em nossa cultura, quanto mais abrangente a concepção de mundo e de vida, mais intensamente se lê, num espiral quase sem fim, que pode e deve começar na escola, mas não pode (nem costuma) encerrar-se nela. (LAJOLO, 1994, p.7).

Portanto, acreditamos que ampliar o universo de leitura do aluno é empenhar-

se em assegurar que os benefícios dela sejam compartilhados por todos, por isso é

necessário que os responsáveis pela sua promoção autoridades do Estado,

comunidade da escola, professores, pais e pedagogos estejam seriamente

convencidos da importância da leitura e dos livros para a vida individual e social do

leitor.

3. INTERTEXTUALIDADE E LITERATURA

A leitura de um texto é o momento de um encontro que se constitui por meio

da retomada de outros textos no qual se está lendo, permitindo ao leitor identificar

referências explícita e implícita de um texto em outro, bem como as marcas de

épocas que não desapareceram, mas são recuperadas em outro contexto,

enriquecendo cada vez mais a leitura dos diferentes textos.

Para explicar esse fenômeno do dialogismo textual, torna-se relevante e

esclarecedor entendermos a intertextualidade como um dos princípios constitutivos

da literatura, conforme descreve (Kristeva apud Carvalhal, 2003, p.72), “que a

intertextualidade como propriedade do texto literário se constrói como um mosaico

de citações, como absorção e transformação de outro texto,” possibilitando, dessa

forma, outras leituras que são enriquecidas a partir da relação que estabelecemos

com a pintura, a literatura e a mitologia.

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Assim, procuramos oportunizar aos educandos o encontro revelador e

transformador com as linguagens poética e pictórica, que se expressam por meio

dos poemas do período árcade e das telas desse respectivo período, buscando na

mitologia Greco-romana o suporte para o entendimento dos poemas. A discussão a

respeito do diálogo literário entre poesia e pintura, ressaltando a universalidade da

temática amorosa, mostrou que as duas artes se comunicam e atuam para produzir

sentidos.

A esse respeito, Jenny (1979, p.5), esclarece que “[...] fora da

intertextualidade, a obra literária seria muito simplesmente incompreensível, tal como

a palavra de uma língua ainda desconhecida.” Para esse autor, só há compreensão

da obra literária se a relacionarmos com seus arquétipos que são extraídos de

outros textos.

Assim, constatamos que a experiência de leitura do aluno com o texto literário

o leva a compreender a conexão que podemos estabelecer entre os textos a partir

da percepção da intertextualidade, possibilitando a reflexão, a aprendizagem e o

interesse pela leitura que ocorre por intermédio desse processo dialógico.

Para Bakhtin (1997, p. 316), “a linguagem é por natureza dialógica, isto é,

permeia o interior de outros enunciados com os quais se relaciona” refletindo e

complementando-se um no outro, possibilitando ao leitor a partir de suas

experiências de mundo estabelecer o diálogo interno consigo enquanto lê, interpreta,

assimila o que leu e aos poucos vai desbravando o sentido do texto que ao ser

colocado em diálogo, se relativiza e exibe uma existência plural.

Nesta perspectiva, a relação dialógica estabelecida entre poesia, pintura e

mitologia intensifica a expressividade do texto, estimulando o leitor/espectador a

produzir sentido a partir da análise de traços que aproximam as diferentes

manifestações culturais e linguagens. Nesta pesquisa, utilizamos diferentes formas

de expressão, a saber: as palavras dos textos em prosa e especialmente em versos,

as formas e cores, entre outros elementos da linguagem visual que compõem a

expressão pictórica.

Portanto, a obra literária é a que melhor favorece a descoberta de sentidos

porque o faz de modo mais abrangente não se limitando a tempo e espaço, ela é

atemporal e universal porque registra algo que faz parte da essência da condição

humana e, por isso mexe com a sensibilidade do ser humano.

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A esse respeito Antonio Candido potencializa as relações entre literatura e

sociedade, mostrando-nos sua grande força humanizadora na formação do homem,

pois o engajamento afetivo é de fato um componente essencial da literatura.

A literatura concebida no seu sentido amplo corresponde a uma necessidade universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito. Desse modo, ela é fator indispensável de humanização e, sendo assim, confirma o homem em sua humanidade, inclusive porque atua em grande parte no subconsciente e no inconsciente. (CANDIDO, 1989, p.112).

Para reforçar a capacidade do texto literário de agir sobre homem nas formas

de pensar e sentir Bordini e Aguiar argumentam que:

Constrói-se na, na obra literária, um mundo possível, no qual os objetos e processos nem sempre aparecem totalmente delineados. Esse mundo, portanto, envolve lacunas que são automaticamente preenchidas pelo leitor de acordo com sua experiência. A obra apresenta uma série de indicadores em potência, que o sujeito atualiza no ato da leitura. (BORDINI e AGUIAR, 1993, p.14 -5)

Dessa forma, a literatura entendida em sentido amplo retrata os diversos

segmentos da sociedade, é a representação social e humana, por isso o contato

com o objeto lido (o texto literário) em seu cotidiano (conhecimento prévio) aliado à

vontade de interpretar aumenta as chances de atribuição de sentido, pois permite a

livre movimentação do leitor, proporcionando um vasto enriquecimento individual e

social para além dos limites do texto.

A literatura é vivida pelo homem como uma experiência específica que não se

assemelha a nenhuma outra e só tem existência num intercâmbio social–autor-obra-

leitor, por isso podemos dizer que o texto literário e os textos pictóricos são

plurissignificativos, pois permitem leituras diversas justamente pelos seus aspectos

em aberto.

Bordini e Aguiar enfatizam a importância dos textos literários em detrimento

dos outros textos.

A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade para o leitor, o que não ocorre com os outros textos. Uma vez que ele mobiliza mais intensa e inteiramente a consciência do leitor, sem obrigá-lo a manter-se nas amarras do cotidiano. (BORDINI e AGUIAR, 1993, p.15)

Nesse sentido, a leitura principalmente a literária, constitui um tecido ao

mesmo tempo individual e coletivo. Cada leitor vai atribuindo significado ao texto lido

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de acordo com suas experiências, as quais contribuem para ampliar a interpretação

que nasce do seu diálogo com o texto.

Esse processo dialógico que ocorre entre os diferentes textos é um convite

para a convergência da linguagem literária com outras linguagens artísticas,

sobretudo entre poesia e pintura, pois poesia é como pintura, deve ser lida e vista,

por isso quando lemos um poema podemos ver as imagens por meio da imaginação

e, este entrecruzamento de vozes percebidas no interior dos textos é algo que

perpassa a escrita, a imagem e, em especial a existência social da literatura que

permanece existindo no leitor, incorporada como vivência a partir da experiência de

leitura de cada um.

4. DIALÓGO POSSÍVEL ENTRE POESIA E PINTURA

Para estabelecermos o início desse diálogo intertextual entre as linguagens

expressas nas artes poesia e pintura, possibilitamos ao aluno leitor a interação com

o texto poético do período literário denominado Arcadismo/Neoclassicismo,

proporcionando a fruição estética e a percepção do processo de construção

significativa do poema.

Assim, o aluno leitor foi convidado a buscar em outras áreas, a saber, nas

artes plásticas e na mitologia Greco-romana, o suporte para compreender os

poemas do período árcade que têm em comum a temática amorosa. A leitura dos

poemas foi um estímulo para que o educando pudesse perceber que a poesia

dialoga com outras linguagens.

Nesta perspectiva, o diálogo entre as pinturas e o texto poético permitiu ao

educando um novo olhar para a leitura de poemas e de imagens, pois tanto o texto

verbal como o imagético se abrem para uma pluralidade de interpretações. A palavra

fala da imagem, a descreve e a traduz, revelando sua matéria visual.

Nesse sentido, o discurso poético opera com determinadas composições

verbais em que a linguagem se apresenta elaborada de maneira especial por meio

de imagens e figuras de linguagens recriando o significado das palavras, colocando-

as num contexto diferente do normal. A palavra poética é sentida como

representação simbólica do objeto que passa a ser explorada numa outra dimensão

distanciando-se do valor denotativo, portanto exibe sua própria força, seu próprio

valor como portadora da mensagem poética.

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Observamos que o convívio com o texto poético permitiu aos alunos participar

da construção de seus sentidos de forma mais sensível, pois além de perceberem

os contornos visíveis que se dão no contato com o texto, conseguiram transcender a

esses limites, à medida que apreenderam a imagem do poema. Tais imagens não se

constroem simplesmente como um ícone do objeto que se fixou na retina mental,

mas é uma palavra articulada e carregada de significados que interferem na

imaginação visual.

Para Pound (1986, p.41), ”Usamos uma palavra para lançar uma imagem

visual na imaginação do leitor ou a saturamos de um som ou usamos grupos de

palavras para obter o efeito.” Sendo assim, a linguagem poética se vale de uma

tática toda sua, associando palavras, sons e ritmos que orienta o seu significado e

evidencia o seu valor enquanto portadora da mensagem poética. A linguagem

poética acaba por se constituir uma forma de composição que é o poema, ritmo, cor,

significado e ainda, é outra coisa: imagem. Por isso, se explica que quando lemos a

palavra evoca-se mentalmente a imagem que se faz dela, aproximando poesia e

pintura.

Sabemos que a ideia de artes irmãs já foi pensada desde a antiguidade, vale

dizer que as primeiras manifestações da atividade humana foram exteriorizadas em

imagens (desenhos) nas paredes das cavernas para comunicar e expressar seus

sentimentos.

Assim, observamos incansáveis esforços de pintores e poetas para aplicar

princípios do campo de uma arte na outra, estabelecendo paralelos que selam a

unicidade entre suas práticas, conduzindo o homem a chegar mais perto do

fenômeno da inspiração artística.

Essa correspondência praticada entre as artes é um arranjo espontâneo do

artista que consegue sugerir objetos ou por outro lado captar sugestões pictóricas,

reforçando a intrínseca relação entre pintura e poesia evidenciando para Praz (1982,

p.3), a importância da célebre frase atribuída por Plutarco a Simonides de Cós, no

sentido de “ser a pintura poesia muda e a poesia uma pintura falante”.

Para melhor esclarecermos essa relação recorremos também as

considerações feitas por Praz:

Em textos que tais fundou-se a prática de pintores e poetas durante séculos; aqueles iam buscar, para suas composições, inspiração nos temas literários, e estes tentavam pôr diante dos olhos dos leitores imagens que

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somente as artes visuais, ter-se-ia pensado, poderiam adequadamente oferecer . Uma vista de olhos a uma antiga tradição que remonta à descrição do escudo de Aquiles feita por Homero convencer-nos-à facilmente de que poesia e pintura têm marchado constantemente de mãos dadas, numa fraterna emulação de metas e meios de expressão ( PRAZ,1982, p.3)

Acreditamos que a correspondência interartística mostrada nessa pesquisa,

trouxe para o leitor maior compreensão e conhecimento das artes a partir do

entendimento da fusão dos elementos picturais e verbais que foram estudados nos

poemas árcades e nas telas e também ampliou a compreensão do fenômeno

estético como um todo, o que corrobora com a ideia inicial de que” a arte são todas

as artes” (SOURIAU, 1983, p.2)

Estudos nos mostram que a poesia tem a capacidade de sensibilizar o

homem, é a expressão da alma, dos sentimentos que por meio dos arranjos

vocabulares, “as palavras” dinamizam a vida, conforme sinaliza Paz:

são também como pontes que nos levam à outra margem, portas que se abrem para outro mundo de significados impossíveis de serem ditos pela mera linguagem. Ser ambivalente, a palavra poética é plenamente o que é - ritmo, cor significado - e, ainda assim, é outra coisa: imagem. (PAZ, 1982, p.26).

Diante da importância da poesia no seu sentido vital, sistema expressivo

dotado de poder e significado, ligada às necessidades básicas do homem de

compreender a vida e dar um sentido a ela, entendemos que a poesia e as demais

manifestações artísticas são como pontes que asseguram certo equilíbrio entre o

real e o sonho elementos indispensável à existência humana.

Entender a literatura, a arte e as demais linguagens são reflexos da

necessidade que o ser humano tem de sentir-se no mundo, de maneira que ele

busca constantemente atribuir significado para além daquilo que os olhos veem,

como exemplo, citamos a definição de Alberto Manguel, a respeito do poder

evocado pelas imagens como instrumento de informação.

Para aqueles que podem ver, a existência se passa em um rolo de imagens que se desdobra continuamente, imagens capturadas pela visão e realçadas ou moderadas pelos outros sentidos, imagens cujos significado ( ou suposição de significado) varia constantemente, configurando uma linguagem feita de imagens traduzidas em palavras e de palavras traduzidas em imagens, por meio das quais tentamos abarcar e compreender nossa própria existência. As imagens que formam nosso mundo são símbolos, sinais, mensagens e alegorias.(MANGUEL, 2001, p.21)

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A sensibilidade é o elemento principal da arte, tanto da pintura quanto da

poesia. Na poesia, a nossa percepção depende de nossa recepção em relação ao

tema ou à forma, já a pintura obedece a determinados conceitos estruturais da

linguagem plástica e para entendê-la é necessário o conhecimento prévio de alguns

elementos constitutivos dessa linguagem, tais como: signo, marca, sinal, ponto,

linha, proporção, superfície e textura, cores, luz, sombra, volume, espaço,

perspectiva e composição que no processo de criação sensibilizam o leitor e

complementam o conjunto da obra de arte.

A constatação da mútua correspondência entre as duas artes, dando a elas o

estatuto de irmãs, confirma que ambas expressam ideias, sentimentos,

representação simbólicas da mente humana que se materializam na arte, por isso

não há como separar essa intrínseca relação entre pintores e poetas que no

processo de criação buscam inspiração nos temas literários e pictóricos.

5.TEMÁTICA AMOROSA EM POEMAS E EM IMAGENS DO PERÍODO ÁRCADE

O amor é um tema recorrente nas múltiplas manifestações artísticas e no

caso dessa proposta de trabalho, esse tema é expresso na linguagem poética e

visual como um sentimento universal e atemporal, perpassando pela mitologia até os

nossos dias. A escolha da temática “amor” se deu a fim de sensibilizar os alunos

visto que os mesmos estão na adolescência e nesta fase vivenciam esse sentimento

em letras de músicas, poemas, romances, contos, nos filmes e em suas próprias

experiências amorosas.

Pretendemos, com este trabalho, demonstrar que o amor é um sentimento

universal que sugere harmonia de movimentos, da convivência entre outros seres,

mostrando que esse sentimento é comum a todas as épocas, portanto, percebê-lo é

de fundamental importância para despertar a sensibilidade e a socialização do ser

humano. Trata-se de um sentimento de reciprocidade que cada ser traz dentro de si

e pode partilhar, conforme as palavras de Paz para conceituar o amor.

O amor é um estado de reunião e participação aberto aos homens: no ato amoroso a consciência é como a onda que, vencido o obstáculo, antes de se desmanchar, ergue-se numa plenitude na qual tudo – forma e movimento, impulso para cima e força da gravidade – alcança um equilíbrio

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sem apoio, sustentado em si mesmo. Quietude do movimento. E do mesmo modo que através de um corpo amado entrevemos uma vida mais plena, mais vida que a vida. (PAZ, 1982, p. 29)

Compreendemos, a partir desse conceito, que o amor é um sentimento

inerente ao ser humano, constituindo se uma das necessidades mais elementares,

cuja satisfação é um direito e garante a sobrevivência humana, a fim de

complementar à formação integral da pessoa, uma vez que permite alcançar o

equilíbrio e experienciar uma vida mais plena.

Nesse sentido, procuramos utilizar os poemas dos poetas árcades Manuel

Maria Barbosa du Bocage e Tomás Antônio Gonzaga que retratam o lirismo

amoroso, comparado as pinturas desse respectivo período literário ,mostrando os

traços mais significativos da poesia árcade que é a recorrência aos seres

mitológicos.

Assim, propomos que o leitor vivencie a experiência dialógica entre literatura,

mitologia e artes plásticas, buscando pontos de confluência que aproximam os

textos. Tal diálogo é fundamental para a descoberta do sentido no ato da leitura,

oportunizando ao aluno perceber que toda obra de arte tem um valor e um

significado importante a ser descoberto e fazer essa descoberta contribuirá para sua

formação enquanto cidadão crítico atuante ou apenas como apreciador.

6. ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS

Na implementação pedagógica utilizamos a abordagem qualitativa que se

insere no processo investigativo do método histórico-dialético, objetivando situar o

objeto de pesquisa bem como, procedendo a análise das relações intertextuais entre

os textos selecionados para o estudo e a comparação com as pinturas, levando-se

em consideração os aspectos sociais e históricos em que os sujeitos estão inseridos

e também o contexto de produção. Esse trabalho está fundamentado nos

pressupostos teóricos que evidenciam uma concepção de leitura como prática

social, também pela orientação dialógica que constitui o sujeito e promove sua

relação com o outro, e pelo estudo do texto literário que por ser plurissignificativo

estabelece as relações intertextuais e o diálogo com as outras manifestações

culturais.

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Dentre as várias possibilidades de trabalhar a leitura e compreensão textual

das diferentes linguagens, citamos como exemplo das atividades propostas um

trecho do poema, uma das pinturas trabalhadas e o texto da mitologia que dialogam

produzindo a intertextualidade temática.

A pintura “Amor Observando” foi produzida em 1890, pelo pintor francês

William Adolphe Bouguereau encontra-se exposta no Museu do Louvre, em Paris –

França. A pintura centrada nos temas mitológicos representa cupido o deus do amor

na mitologia Greco-romana. O quadro apresenta um jovem nu, com uma expressão

introspectiva e um pouco tímida que parece observar o seu entorno para agir contra

o coração dos deuses e dos homens inspirando o amor.

LIRA II

Pintam, Marília, os poeta A um menino vendado, Com uma aljava de setas, Arco empunhado na mão; Ligeiras asas nos ombros O terno corpo despido, E de Amor ou de Cupido São os nomes que lhe dão. (GONZAGA, 2010, p.1) Cupido/Eros também representa o amor, considerado o deus do amor, era filho de Vênus e seu companheiro constante. Armado com arcos e flechas, atirava as flechas do desejo no coração dos deuses e dos homens representado como um jovem nu com asas douradas, ligeiro e bonito que lançava flechadas mágicas que inspiravam os sentimentos de amor nos deuses. Frequentemente aparece com os olhos cobertos para simbolizar a cegueira do amor e às vezes carregava uma flor, ou mais comumente um arco de prata e flechas douradas com o qual atirava os dardos de desejo contra os peitos dos deuses e dos homens apaixonados. (BULFINCH, 2010, p.23.)

Para o desenvolvimento das atividades propomos a leitura do poema

direcionando o aluno a buscar na pintura marcas que funcionaram como pistas,

favorecendo a compreensão que se institui entre o olhar a imagem e a possibilidade

de relacioná-la com o texto verbal e produzir sentido baseado nas relações

dialógicas entre os diferentes textos.

Verificamos que ao relacionarmos as distintas manifestações culturais como

poesia, pintura e mitologia, levamos o aluno ao entendimento de que a literatura

árcade é marcada pela retomada aos valores clássicos, por conta disso, há uma

recorrência aos seres da mitologia como fonte de inspiração da produção poética,

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fortemente influenciada pelas divindades do Olimpo: ninfas, musas e deuses,

conforme o exemplo da tela que retrata “Eros/Cupido o deus do amor”

A fim de capacitar os alunos para a prática da leitura de imagem, valemo-nos

de alguns questionamentos e de algumas telas, a saber: O Nascimento de Vênus do

pintor italiano Sandro Botticelli, “Amor Observando” do pintor francês William

Adolphe Bouguereau, “Pastoral de Outono” do pintor francêsFrançois Boucher, entre

outras que traziam em sua perspectiva os deuses do amor da mitologia que

serviram para orientar a leitura e a percepção da arte, sensibilizando o olhar do

leitor/espectador.

Por essa razão, ao trabalhar com as imagens buscamos inicialmente

sensibilizar o olhar do leitor/espectador diante do elemento artístico. Assim, as

pinturas escolhidas traziam em sua essência a mesma temática encontradas nos

poemas árcades “o amor”, de tal modo que entre o texto visual e o texto verbal há

propriedades que guardam similitude, proporcionando ao leitor um aprendizado da

educação dos sentidos e da percepção crítica, de acordo com a sintonia e o contato

que ele mantém com cada arte.

Percebemos que há uma eterna cumplicidade entre mitologia e literatura.

Assim, o contato do aluno com as histórias dos deuses do amor da mitologia Greco-

romana serviu como conhecimento prévio e para a compreensão dos poemas,

enriquecendo seu repertório cultural. Haja vista que sem o conhecimento da

mitologia, grande parte da literatura não poderia ser compreendida e nem apreciada,

uma vez que muitos autores recorrem às fontes da mitologia para o enriquecimento

de sua produção. Assim, a leitura dos poemas, e dos textos contando as histórias

dos deuses do amor da mitologia Greco-romana, bem como das pinturas que fazem

referência à temática amorosa, constituíram pistas textuais que contribuíram para

que o aluno leitor pudesse vivenciar a experiência dialógica entre as diferentes

manifestações artísticas: poesia – pintura que têm por base a mitologia com ênfase

na temática amorosa.

Nesse processo de leitura, tendo como princípio o dialogismo intertextual,

levamos o aluno ao entendimento que nenhum texto existe isoladamente, mas

dialoga com os outros. Assim, as atividades de leitura e de escrita oportunizaram a

reflexão e à interpretação crítica, porque tanto o texto verbal quanto o imagético se

abrem para uma pluralidade de interpretações e ampliam o horizonte de expectativa

do leitor.

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A seguir, passamos a descrição dos resultados coletados na investigação a

respeito da expectativa dos alunos sobre leitura, foco principal desse trabalho e

também quanto ao contato deles com o gênero poema.

Gráfico 01 – Expectativa dos alunos em relação à leitura.

O gráfico 01 –“Expectativa dos alunos em relação à leitura”, demonstra o resultado

do que os alunos fazem em seu tempo livre. Dos 32 alunos pesquisados, 69%

preferem ouvir música em relação à outra atividade. Em resposta a 2ª questão: O

que a leitura significa para você? Constatamos que 66% dos educandos sabem da

importância da leitura e dos livros para a aquisição do conhecimento. Para investigar

se a leitura dos diferentes textos feitos na escola tem ajudado a refletir, questionar e

se posicionar em defesa de suas opiniões, constatamos que 63% concordam que

essas habilidades são desenvolvidas durante a leitura. Em resposta à questão O

que a leitura de um livro suscita no leitor? 44% dos entrevistados responderam que

permite vivenciar outras experiências e, assim, ampliar o repertório cultural do leitor.

A 5ª questão do gráfico 01 propôs o seguinte pensamento “Quem tem um livro

nunca está sozinho”, e 50% das respostas evidenciaram que se a leitura for

interessante, ela preenche o vazio e espanta a solidão. A última questão proposta foi

a seguinte: Se a leitura ajuda a formar seres pensantes e promove a reflexão. 60%

responderam que sim, pois concordam com o poder transformador da leitura.

Diante dos resultados apresentados percebemos que embora a prática de

leitura não ocupe a maior parte do tempo livre dos educandos, os quais

mencionaram a preferência pela música, eles têm consciência da importância da

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leitura para a aquisição do conhecimento e para o desenvolvimento do pensamento

crítico.

Gráfico 02 – Sobre o Gênero Poema

Na sequência analisamos os resultados a respeito do “Gênero Poema” -

expressos no gráfico 02. A primeira questão proposta Se é possível adquirir o gosto

pela leitura a partir da leitura de poemas? Dos 32 alunos entrevistados, 81%

responderam que sim, porque a poesia está em toda parte. Em resposta a questão

2, 81% responderam que gostam de ler poemas e se identificam com esse gênero

textual. Na questão que solicitava que se definisse poesia, 38% responderam que

poesia é linguagem subjetiva, de natureza simbólica, que expressa emoção e

sensibilidade. Quanto à preferência pelo tema, 69% responderam o tema “Amor” em

detrimento aos outros. Discutir a respeito foi particularmente relevante para os

adolescentes, porque este sentimento está em consonância com a vida deles e os

mesmos argumentaram que o amor é capaz de tornar as pessoas mais carinhosas e

sensíveis à dor do outro, diminuindo a violência existente na sociedade.

Nas respostas ao questionário a respeito do tema apreciado pelos

estudantes, um dado chamou a nossa atenção, os mesmos alunos que

responderam não gostar do gênero poema, escolheram como tema “Violência, dor e

sofrimento” evidenciando um comportamento e estilo de vida carente de afeto e

embrutecido pelos sofrimentos demonstrados em suas próprias experiências de

vida.

Quanto à escolha do tema– gráfico 02, as respostas demonstraram que o

tema amor foi o mais apreciado por eles, pois os mesmos se identificam com esse

tema. Segundo eles, “ler poemas faz pensar o mundo de um jeito novo”, “se as

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pessoas cultivassem o amor e expressassem esse sentimento em suas vivências

não seriam tão frias a ponto de matar, roubar e cometer outras barbaridades”.

Considerando o resultado dos dados coletados na pesquisa percebemos que

os alunos compreenderam que a poesia tem a capacidade de sensibilizar o homem,

é a expressão da alma e dos sentimentos, portanto, precisa ser cultivada. Assim,

concluímos ainda que o contato com a literatura, a pintura e a mitologia possibilitou

aos jovens viajar, sonhar, pensar, refletir e se tornarem mais humanos, de modo que

a experiência dialógica com as múltiplas linguagens os ajudou a entender não

somente a expressividade do texto, mas também desenvolver a sensibilidade, a

afetividade e a imaginação do leitor.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho de leitura e compreensão de textos literários contemplando o

gênero textual poema em intertextualidade com as pinturas e as histórias da

mitologia greco-romana, possibilitou ao educando uma interação ao mesmo tempo

receptiva e criadora, pois suscitou a reflexão, o debate, a inferência e o diálogo com

as diferentes áreas do conhecimento.

Ao estabelecermos o diálogo entre os dois campos de estudo: poesia e

pintura buscamos também ampliar a compreensão do aluno para entender a relação

entre os diferentes textos da nossa cultura a partir da percepção da intertextualidade

como processo constitutivo da literatura, nesse sentido, a poesia enquanto arte

específica da palavra dialoga com as outras formas de expressão cultural,

estabelecendo correspondência, sobretudo entre artes plástica e literatura.

Ao final dos trabalhos, percebemos que os alunos ampliaram

significativamente suas habilidades de leitura de textos verbais e imagéticos, sendo

capazes de manifestar suas opiniões, defender seus pontos de vista sobre o assunto

estudado para que o conhecimento adquirido sirva de mediação entre o refletir e o

agir. Assim, alcançamos o objetivo preestabelecido nesse trabalho que pretendeu

contribuir para a formação de leitores críticos capazes de desempenhar um papel

atuante na sociedade na qual estão inseridos.

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