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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · compreensão do texto, relação entre textos, coerência e coesão no processamento do texto, relação entre recursos expressivos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

O ENSINO DA LEITURA SOB PERSPECTIVA DOS ESTUDOS DE

LETRAMENTO E VISÃO SOCIOINTERACIONISTA

Cirene Aparecida dos Santos Pinheiro de Oliveira1

Ana Lucia de Campos Almeida2

Resumo: Este artigo propõe um trabalho com diferentes situações de leituras, sendo elas: leitura oral, leitura e interpretação oral de textos escritos e interpretação escrita. Na oralidade leva em conta o meio em que os alunos vivem e propicia a interação com a comunidade ouvindo histórias em seus lares, contadas pelos pais, irmãos mais velhos ou outros do seu convívio que se relacionam com a leitura dos textos escritos através da reescrita das lendas brasileiras de Clarice Lispector. As atividades prévias de leitura favorecem no desenvolvimento da interpretação escrita, estando de acordo com estudos de letramento em que as práticas sociais são levadas em conta contribuindo para formação de leitores competentes, pois a leitura é um fator muito importante para o exercício da cidadania e somente através dela é que se formam leitores competentes e capazes de se comunicar melhor, interpretar, compreender e interagir nos acontecimentos do mundo em que estamos inseridos. Palavras – chave: leitura; letramento; comunicação; competência.

INTRODUÇÃO

Este artigo desenvolve uma proposta de ensino de Língua Portuguesa que

tem o objetivo de promover a capacidade de leitura de alunos de 8º ano do Ensino

Fundamental utilizando a perspectiva dos estudos de letramento (KLEIMAN, 2005,

ROJO, 2009) e adota uma abordagem sociointeracionista (PCNS, 1998, KOCH,

2011)

Observando o comportamento dos alunos do Colégio Estadual Rio Branco –

Ensino Fundamental e Médio com relação à leitura na escola, percebe-se que os

mesmos não demonstram interesse por esta prática e, conforme relato dos

professores de Português, apresentam sérias dificuldades de compreensão e

1 Licenciada em Letras pela Universidade do Oeste Paulista de Presidente Prudente. Pós-Graduação

em Leitura e Produção Textual pela FAFIJAN – Professora PDE 2013 pela UEL. Professora de Língua Portuguesa e Língua Inglesa no Colégio Estadual Rio Branco Ensino Fundamental e Médio de Rio Branco do Ivaí da Rede Estadual do Paraná.

2 Licenciada em Letras pela Unesp - Araraquara, mestrado e doutorado em Linguística Aplicada no

Instituto de Estudos da Linguagem - UNICAMP, professora de Metodologia do Ensino de Língua e Literatura Portuguesa no departamento de Letras Vernáculas e Clássicas da Universidade Estadual de Londrina.

interpretação de texto no desenvolvimento das atividades propostas pelo livro

didático entre outras. Observa-se ainda que os alunos não possuem familiaridade

com a leitura dos gêneros textuais presentes na cultura escolar e que, em geral, não

provem de famílias com alto grau de escolaridade, nem tem acesso no seu cotidiano

ás prática de letramento desenvolvidas nas esferas socioculturais de prestigio.

Conforme análises do IDEB (índice de desenvolvimento da educação básica)

referentes a esse mesmo Colégio em 2005: 2,4; 2007: 3,2; 2009: 3,5 e 2011: 3,5;

juntamente com a prova Brasil e Saeb, e comparando-os com o índice de

desenvolvimento ideal que deve ser acima de 6,0, comprova-se que os alunos

tiveram um baixo desempenho.

Na prova Brasil, no Ensino Fundamental, a dificuldade foi geral nos conteúdos

de Língua Portuguesa e na leitura foram apontadas dificuldades como:

procedimentos de leitura, implicações de suporte, do gênero e/ou do enunciador na

compreensão do texto, relação entre textos, coerência e coesão no processamento

do texto, relação entre recursos expressivos e efeitos de sentido e, finalmente,

capacidade de apreender o sentido global do texto.

Frente à situação apresentada, os professores indagam: o que fazer para

desenvolver o gosto e capacidade de leitura nos educandos?

É fato que a leitura está presente em nosso dia a dia nas mais diversas

formas e contextos, usando várias linguagens e que, muito antes de uma pessoa ir

para escola, ela já faz leitura do mundo que a rodeia, pois isto é algo inerente ao ser

humano desde os seus primeiros anos de vida.

Por isso, ao abordar a leitura na escola é necessário considerar que o

educando não é um papel em branco onde vai ser impresso aquilo que queremos.

Antes precisamos considerar que todos trazem marcas de suas práticas sociais,

portanto já têm uma história.

Tendo em vista estas noções, entende-se que a leitura não deve acontecer de

forma isolada e que, para acontecer o aprendizado, o ensino deve ser

contextualizado e realizado de modo significativo. Por isso, ao propor uma atividade

de leitura é preciso utilizar e explorar textos que circulem em esferas sociais que

respeitem as práticas vividas pelos educandos para que possam compreender mais

e melhor o mundo em que estão inseridos.

A leitura é um fator muito importante para o exercício da cidadania e somente

através dela é que se formam sujeitos críticos e reflexivos, competentes e capazes

de comunicarem-se melhor, de interpretarem, de compreenderem e interagirem nos

acontecimentos do mundo.

A proposta de ensino em questão propicia diferentes situações de leituras

propondo atividades que levam em conta o meio em que os alunos vivem suas

histórias de letramento, sua participação em eventos como ouvir histórias em seus

lares, contadas pelos pais, irmãos mais velhos ou outros da comunidade.

Portanto, os alunos entrevistaram pessoas da comunidade, onde ouviram

causos regionais e posteriormente através da oralidade contaram para os colegas

de classe no momento planejado, incentivando-os e estimulando-os a se

expressarem com clareza, ritmo e entonação além de explorar o imaginário e a

fantasia de cada causo.

A leitura de textos escritos iniciou-se com as Doze Lendas Brasileiras

recriadas por Clarice Lispector, sendo elas: Como nasceram as estrelas, Alvoroço de

festa no céu, O pássaro da sorte, As aventuras de Malazarte, A perigosa Yara, Uma

festança na floresta, Curupira, o danadinho, O Negrinho do pastoreio, Do que eu

tenho medo, A fruta sem nome, Como apareceram os bichos e Uma lenda

verdadeira.

As atividades com os textos escritos foram realizadas em grupos, nos quais

cada um recebeu uma lenda para leitura individual e coletiva, seguida de

discussões, reflexões, interpretação e compreensão oral.

Entre as lendas apresentadas os alunos escolheram duas para interpretação

e compreensão escrita sendo elas: Como nasceram as estrelas e Alvoroço de festa

no céu.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação do Paraná (2008, p. 56). “Ao

ler, o individuo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua

formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem”.

A leitura é uma produção de sentidos, e é através dela que o leitor se

encontra com o autor, concordando ou discordando e fazendo interferências nas

entrelinhas e assim dando novos significados ao texto. (GERALDI, 1993.)

Para que o leitor/aluno tenha esse encontro com o autor é necessário que os

textos oferecidos despertem o interesse e tenham relação com a realidade e práticas

sociais da comunidade a que pertence, então, quando se levam textos para estudos

em sala de aula baseados em interesse próprio do professor, sem o mínimo

conhecimento prévio dos leitores, não há possibilidade de produção de

conhecimento. (GERALDI, 1993.)

Segundo perspectiva dos estudos de letramento, há que se organizar o

trabalho com leitura direcionando e compartilhando tarefas em que todos os

envolvidos assumam responsabilidades na busca de informações, usando o

cooperativismo e agregando esforços de várias instituições (família, escola, igreja,

trabalhos e saberes de diferentes agentes sociais) e informações processadas em

sistemas multissemióticos (a mídia falada e escrita, a internet, etc.).

Nesse tipo de trabalho o professor passa a ser um agente de letramento e os

alunos têm oportunidades tanto de aprender como de colaborar para que a

aprendizagem se efetive, mas para que os sujeitos envolvidos sejam leitores é

preciso proporcionar vários suportes textuais, onde possam argumentar e opinar,

refletindo sobre os fatos e assim avaliar a veracidade dos mesmos. (OLIVEIRA,

TINOCO, SANTOS. 2011).

Para Koch & Elias (p.21, 2011), “considerar o leitor e seus conhecimentos e

que esses conhecimentos são diferentes de um leitor para outro, implica aceitar uma

pluralidade de leituras e de sentidos em relação a um mesmo texto”.

A vida do aluno fora dos muros escolares diz muito a seu respeito, por isso a

escola não pode descartar o seu conhecimento de mundo nas atividades propostas

ao contrário, deve valorizar, respeitar e, a partir destas, ampliar o seu horizonte de

expectativas em relação ao conhecimento cientifico.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa

(PCNS. 1998), ao ler um texto, o leitor seleciona, antecipa, faz inferências e

verificação a partir dos conhecimentos que tem sobre o assunto e a linguagem do

texto, então realiza atividades de interpretação e compreensão e dessa forma tem

capacidade para tomar decisões diante das dificuldades encontradas e ir à busca de

esclarecimentos para as dúvidas que surgirem, validando no texto as suposições

feitas.

Saber escolher os textos que atendam as necessidades de leitura é

características de um leitor competente, leitor este que lê as entrelinhas, identifica a

partir do que está escrito, elementos implícitos, estabelece relações entre o texto lido

e seus conhecimentos que tem referente a outros textos.

Segundo Kleiman, é a perspectiva dos estudos de letramento que pode dar objetivos significativos ao ensino da leitura e assegurar solidez à formação de leitores para a vida social. O letramento nos permite aprender a continuar aprendendo: se sabemos ler um mapa, poderemos achar nosso caminho por estradas de cidades desconhecidas nunca antes visitadas; porem, se tivermos decorado os nomes das ruas de uma cidade, quando precisarmos usar esse conhecimento, ele poderá estar obsoleto. Assim é com qualquer saber. Precisamos das ferramentas para continuar aprendendo, e a leitura é a ferramenta por excelência para isso (KLEIMAN 2005, p.23-51).

DESCRIÇÃO DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DIDÁTICO

Este trabalho iniciou-se com a construção de um projeto com produção

didática, intervenção pedagógica e resultados. Como ponto de partida foi

apresentado à escola de atuação na semana pedagógica para direção, equipe

pedagógica, corpo docente, funcionários e aos alunos do 8º ano nos primeiros dias

de aula. A proposta teve boa aceitação por parte de todos.

A intervenção teve diferentes situações de leitura: leitura/compreensão de

textos orais, leitura de textos escritos e interpretação oral e escrita.

Para o trabalho com leitura/ compreensão de textos orais, foi feito um estudo

prévio sobre as características dos causos. Para esta pesquisa aproveitamos o

próprio livro didático do aluno que os caracteriza como sendo histórias de tradição

oral, contadas, geralmente, em uma linguagem espontânea, que registra o jeito de

falar típico de determinada região ou localidade. Envolvem fatos pitorescos, reais,

fictícios ou ambos; e podem ou não envolver o narrador e os contadores de causos

apresentam vários recursos que costumam prender a atenção dos seus ouvintes,

como entonação, gestos, suspense, efeitos de surpresa, humor etc; características

como sotaque e vocabulário da região são naturais a muitos deles.

Após estas orientações deu-se início aos preparativos para a pesquisa de

campo. Foi feito levantamento dos alunos da turma para saber onde moravam e

então os grupos foram organizados com alunos do mesmo bairro para facilitar o

encontro dos integrantes, todos foram orientados para ouvir causos da comunidade

local. Em um momento programado os grupos se reuniram para contar os causos

que ouviram através da interação direta com pessoas do seu meio social. Segundo

Kleimam, a perspectiva dos estudos de letramento pode dar objetivos significativos

ao ensino da leitura assegurando solidez à formação de leitores para vida social.

(2005, p,51).

A atividade foi interessante, pois se desenvolveu a interação verbal: o falar e

ouvir, mostrando com esta prática que os alunos encontraram muita dificuldade em

se comunicar oralmente, alguns ficaram tímidos e constrangidos de falar

publicamente. Sabendo que a comunicação oral é de suma importância no processo

de aprendizagem fica claro que precisamos envolver com mais frequência no dia a

dia escolar, atividades que incentivem a pratica da comunicação oral motivando os

alunos para que desenvolvam mais habilidades comunicativas e a capacidade de

expressar-se com desenvoltura, clareza e segurança, praticando o letramento por

meio da interação social.

Na segunda parte da implementação pedagógica, leitura de textos escritos

com interpretação oral foi realizada com a reescrita das Doze Lendas Brasileiras, de

Clarice Lispector. Antes de iniciar as leituras das lendas os alunos buscaram uma

explicação sobre o gênero lenda no livro didático utilizado na escola: Língua

portuguesa, 8º ano / Tania Amaral Oliveira... [et al.]. --3. ed.-- São Paulo : IBEP,

2012. -- (Coleção Tecendo Linguagens), em que se lia: Quando alguém conta uma

história em que os fatos são relatados para explicar a origem de algo de seu

universo local, utilizando as próprias experiências e a imaginação, temos um texto

narrativo do gênero lenda.

As lendas estão presentes nas mais diferentes culturas e o seu surgimento

está ligado à tradição oral do povo, por isso a compreensão de causos coletados em

seu meio social com as lendas levou os alunos a relacionarem os sentidos das

práticas culturais locais com as práticas escolares vinculadas à cultura Letrada,

mostrando que a vida do aluno fora dos muros escolares diz muito a seu respeito,

portanto a escola não pode descartar o seu conhecimento de mundo nas atividades

propostas, ao contrário deve valorizar, respeitar e, a partir destas ampliar o seu

horizonte de expectativas em relação ao conhecimento desejado. Observar o

contexto sociocultural do aluno e integrar este conhecimento local ao conhecimento

da cultura letrada a ser adquirido está de acordo com uma perspectiva dos estudos

de letramento.

Assim, os causos da comunidade dialogaram com as lendas brasileiras que

foram lidas com os alunos distribuídos em nove duplas ficando cada dupla

responsável pela leitura de uma lenda na seguinte ordem: 1ª lenda - Como

nasceram as estrelas; 2ª lenda - Alvoroço de festa no céu; 3ª lenda - As aventuras

de Malazarte; 4ª lenda - Uma festança na floresta; 5ª lenda - Curupira, o danadinho;

6ª lenda - O negrinho do pastoreio; 7ª lenda - Do que eu tenho medo; 8ª lenda - A

fruta sem nome; 9ª lenda - Como apareceram os bichos. Todos os alunos tiveram

um momento para ler silenciosamente para conhecer a história da sua lenda e, a

partir de então, começaram as leituras coletivas nas quais cada grupo lia a sua

lenda em voz alta para que todos ouvissem e em seguida abria-se um espaço para

comentários, perguntas e respostas pelo professor e alunos, permitindo com que

todos opinassem e refletissem oralmente sobre cada texto que ia sendo lido.

As práticas de leituras em grupos proporcionaram aos alunos momentos de

reflexão e interação onde todos puderam participar expondo suas idéias e opiniões

esclarecendo suas dúvidas através das discussões feitas a partir das leituras

realizadas que contribuíram para o desenvolvimento de uma postura critica e cidadã

diante dos problemas vividos em nossa sociedade, desenvolvendo a autonomia e

responsabilidade, estimulando o trabalho coletivo, o gosto pela leitura e a

organização em que o trabalho com a leitura foi direcionado e as tarefas foram

compartilhadas proporcionando o envolvimento de todos na busca de informações.

Após as leituras e interpretações orais os alunos se sentiram mais preparados

para interpretação escrita e então deu se continuidade ao trabalho. Os alunos

escolheram duas das lendas lidas sendo elas: Como nasceram as estrelas e

Alvoroço de festa no céu; a turma foi distribuída em dois grupos ficando cada grupo

com uma das lendas escolhidas. A organização da atividade direcionada para que

as tarefas fossem compartilhadas foi uma forma de envolver todos

responsabilizando os a buscar informações. A partir de então, foram formadas

questões e respostas sendo que no momento desta produção os alunos recorreram

a mim sempre que tiveram dúvidas e eu ajudei esclarecendo-as.

O próximo passo desta atividade foi à troca das questões entre as equipes.

Houve um momento de reflexão e discussão entre os membros da equipe com

relação às questões que estavam respondendo e quando surgiram dúvidas eu fiquei

a disposição para ajudá-los. Após a conclusão das respostas cada grupo escolheu

um representante para ler as questões seguidas das respostas que tinham feito para

que o grupo que tinha formulado as mesmas pudesse fazer as possíveis correções

se necessário e, quando tive oportunidade também fiz algumas interferências. Dar

oportunidade para que as correções sejam feitas por seus escritores é uma maneira

de torná-los mais autônomos e seguros de si. A troca de materiais entre os

estudantes é uma situação importante porque permite que todos se manifestem e

contribuam e assim se sucedeu com ambos.

No momento em que esta proposta estava sendo implementada na escola ela

também foi compartilhada no grupo de trabalho em rede (GTR) onde proporcionou

reflexões importantes entre os professores do grupo que puderam analisar as

atividades propostas e compará-las com outras já conhecidas e, em alguns

momentos oportunos, houve até mesmo trocas de experiências que deram certo

contribuindo para o enriquecimento do trabalho dos professores envolvidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi uma experiência de trabalho muito boa, e possibilitou que os alunos

demonstrassem seus conhecimentos e suas dificuldades, praticando habilidades de

busca e informações, sintetizando dados, usando os estilos verbais e recursos

lingüísticos e revelando as descobertas que fizeram através das interpretações

orais. O fato dos textos terem sido explorados oralmente antes da escrita ajudou na

compreensão, pois permitiu que refletissem sobre o significado do texto mais

detidamente, que recapitulassem e com todo o conhecimento adquirido na oralidade

foi possível relacioná-los à escrita ao formular as perguntas, pois a escrita é um

processo de construção e reconstrução de sentidos em relação ao que vemos,

ouvimos, sentimos e pensamos. É impossível para o aluno escrever sobre um

assunto sobre o qual não tem nenhum conhecimento prévio. Nesse sentido como

professora meu papel foi de mediadora, o que contribuiu para que a leitura e escrita

acontecessem de forma mais consciente.

Despertar o gosto pela leitura escolar em nossos alunos é um grande desafio

apontado por muitos professores, observa-se que falta prazer em ler, fator este que

os leva a terem dificuldades em compreender e interpretar.

As atividades propostas neste trabalho, realizadas sob perspectiva dos

estudos do letramento, incentivaram a buscar leituras significativas partindo da

oralidade através dos causos que foram contados por pessoas da comunidade e que

se relacionaram com a leitura da reescrita das lendas brasileiras de Clarice

Lispector; este trabalho prévio de apreensão do gênero em sua dimensão discursiva

contribuiu para que os alunos demonstrassem mais segurança no momento de

praticar a interpretação escrita. Atividades como estas e as interações que os grupos

de trabalhos em rede nos oferecem mostram que é importante criar projetos que

dialoguem com outros para estimular a reflexão criando mecanismos que desafiem

os sujeitos a darem o melhor de si, interessando-se cada vez mais pelo mundo da

leitura e, assim ampliando seu conhecimento de mundo para que possam se tornar

cidadãos mais preparados em sua vida escolar e também social.

REFERÊNCIAS BAKTHIN, Mikhail M. Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina Galvão. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ________. (V. N. Volochínov. Marxismo e filosofia de linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2004. BRASIL, Secretária de Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília, 1998. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 10. ed. São Paulo: Cortez, 1985. _______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 21. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GERALDI, João Vanderlei. Portos de Passagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993. KLEIMAN, Ângela. Preciso “ensinar” o letramento? Campinas, SP: Unicamp, 2005. KOCH, Ingedore Villaça, ELIAS, Vanda Maria. Leitura, texto e sentidos. In:______ Ler e Compreender os Sentidos do Texto. 3. ed., 5. reimpressão. São Paulo: Contexto, 2011, p. 9 – 31. OLIVEIRA, Maria do Socorro, TINOCO, Glícia Azevedo, SANTOS, Ivoneida B. Araujo. Projetos de letramento e professor de língua materna. Natal: Edufrn, 2011. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação básica: Língua Portuguesa. Curitiba, 2008. ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola, 2009.

APÊNDICE 1 – Unidade Didática

O desenvolvimento da proposta de trabalho se deu segundo etapas definidas

e flexíveis.

1. LEITURA /COMPREENSÃO DE TEXTOS ORAIS

Objetivos

Motivar os alunos para que desenvolvam habilidades comunicativas e a

capacidade de expressar-se oralmente com desenvoltura, clareza e segurança, bem

como as práticas de letramento por meio da interação social.

Metodologia

Para o trabalho com leitura/compreensão de textos orais, os alunos serão

organizados em grupos para então ouvir causos da comunidade local, os quais

serão contados em momento programado, neste momento todos os grupos reunidos

contarão os causos que ouvirão uns para os outros.

1º Passo

Fazer levantamento dos alunos da turma para saber onde moram e então

formar os grupos com alunos do mesmo bairro para facilitar o encontro dos

integrantes de cada grupo.

2º Passo

Entrevistar pessoas da comunidade que gostem de contar causos.

3º Passo

Reunir os grupos na escola para contar os causos que ouviram.

2. LEITURA DE TEXTOS ESCRITOS COM INTERPRETAÇÃO ORAL DOS

MESMOS.

Objetivos

Praticar leituras de textos escritos com fluência, entonação e ritmo,

observando os sinais de pontuação. Oportunizar a interação em sala de aula através

da reflexão sobre os textos lidos, compreendendo e interpretando-os oralmente.

Metodologia

A leitura escrita será realizada com a reescrita das doze lendas brasileiras de

Clarice Lispector. Serão formados nove grupos e cada grupo ficará responsável pela

leitura de uma lenda, após a leitura de cada lenda serão realizados questionamentos

orais direcionados pelo professor e pelos alunos. Neste momento os alunos serão

instigados para refletir sobre a história de cada lenda.

1ºPasso

Formar os grupos e proporcionar um momento para que façam leitura

silenciosa e coletiva no grupo fazendo reflexões para conhecer bem a história lida.

2º Passo

Cada grupo faz a leitura da sua lenda para toda a turma.

3º Passo

Refletir e interpretar oralmente cada lenda lida. Os textos estão disponíveis na

internet em: http://www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/ClariceLispector.pdf

acesso em: 30/09/2013

1ª Lenda: Como nasceram as estrelas.

1- Questionamentos orais direcionados pelo professor.

a. Na cultura indígena qual era a responsabilidade dos homens e das

mulheres?

b. As mulheres foram até a mata à procura de milho. Elas conseguiram

encontrar com facilidade ou precisaram de ajuda?

c. Como era o ambiente da mata?

d. O que fizeram os curumins quando encontraram milho?

e. A autora diz que as estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra

tudo bem. E vocês o que pensam sobre as estrelas?

2- Questionamentos e reflexões espontâneas dos alunos.

2ª Lenda: Alvoroço de festa no céu.

1- Questionamentos orais direcionados pelo professor.

a. Qual é o assunto do texto?

b. Quem eram as personagens do texto e como agiam?

c. Quem foram os escolhidos para receber os convites?

2- Questionamentos e reflexões espontâneas dos alunos.

3ª Lenda: As aventuras de Malazarte

1- Questionamentos orais direcionados pelo professor.

a. Malazarte ganhou uma porta como herança. O que pretendia fazer com

ela?

b. Malazarte pegou um urubu para ajudar em suas trapaças. Como o urubu o

ajudou?

c. O que fez com o urubu no final da história?

2- Questionamentos e reflexões espontâneas dos alunos?

4ª Lenda: Uma festança na floresta

1- Questionamentos orais direcionados pelo professor.

a. Quem foram os convidados para a festa na floresta?

b. As filhas do macaco também foram convidadas para a festa. Qual era a

intenção delas?

c. O que aconteceu com os animais depois da festa e por quê?

2- Questionamentos e reflexões espontâneas dos alunos.

5ª Lenda: Curupira, o danadinho.

1- Questionamentos orais direcionados pelo professor.

a. Como é o curupira e como ele aparece e desaparece?

b. Quem dá fumo ao Curupira recebe o que em troca?

c. O que acontece com os índios que ferem os animais?

d. O que acontece se não der o que o Curupira pede?

2- Questionamentos e reflexões espontâneas dos alunos.

6ª Lenda: O Negrinho do pastoreio

1- Questionamentos orais direcionados pelo professor.

a. Quem era o Negrinho?

b. O que aconteceu com a tropilha que o Negrinho estava tomando conta e

por quê?

c. Quem ajudou o Negrinho? Como?

d. Por que o Negrinho foi colocado no formigueiro e o que aconteceu com

ele?

2- Questionamentos e reflexões espontâneas dos alunos.

7ª Lenda: Do que eu tenho medo.

1- Questionamentos orais direcionados pelo professor.

a. Como o saci é descrito no texto?

b. O que leva o saci a fazer suas maldades?

c. Quais são as maldades que o saci costuma fazer?

2 - Questionamentos e reflexões espontâneas dos alunos.

8ª Lenda: A fruta sem nome

1- Questionamentos direcionados pelo professor.

a. Por que os bichos se atrapalhavam com o nome da fruta?

b. Quem conseguiu o nome e de que forma?

c. Por que o casco do jabuti é rachado?

2- Questionamentos e reflexões espontâneas dos alunos.

9ª Lenda: Como apareceram os bichos

1- Questionamentos direcionados pelo professor.

a. O que disse a noiva para o índio quando ele lhe falou da festa?

b. Qual era a intenção da noiva?

c. O que fez o índio quando soube da intenção da sua noiva?

d. Como foi então que apareceram os bichos?

2- Questionamentos e reflexões espontâneas dos alunos.

2. INTERPRETAÇÃO ESCRITA.

Exercitar atividades de interpretação escrita, praticar habilidades de busca e

ordenação de informações, sintetizar dados usando adequadamente os estilos

verbais e recursos linguísticos.

Metodologia

Para interpretação escrita deixar os alunos escolherem duas das lendas lidas

para fazer esta atividade.

1º Passo

Escolher as duas lendas para interpretar.

2º Passo

Formar dois grupos. Cada grupo fica com uma lenda escolhida e formulam

questões e respostas referentes à sua lenda.

3º Passo

Os grupos trocam as questões sem as respostas para que as questões de um

grupo sejam respondidas pelo outro e vice-versa.

4º Passo

Um representante de cada grupo lê as questões e respostas do grupo para

possíveis correções