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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Desenvolvemos o projeto “Leu? Conta aí que eu reconto aqui !” sob a luz da metodologia da mediação dialética e fundamentado

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

SECRETARIA DO ESTADO DO PARANÁ - SEED Superintendência da Educação - SUED

Diretoria de Políticas e Programas Educacionais - DPPE Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE

UNESPAR /FECILCAM

LEU ? CONTA AÍ QUE EU RECONTO AQUI !

VILSON FERREIRA DA SILVA

Artigo final apresentado à UNESPAR, Campus

de Campo Mourão e a Secretaria de Estado de

Educação do Paraná (SEED), como requisito

para conclusão de estudo no Programa de

Desenvolvimento Educacional –PDE, sob a

orientação do professor Me. Wilson Rodrigues

de Moura.

CAMPO MOURÃO/PR 2013/2014

LEU ? CONTA AÍ QUE EU RECONTO AQUI !

Autor: Vilson Ferreira Da Silva1

Orientador: Wilson Rodrigues de Moura2

Resumo: O presente artigo tem por objetivo mostrar os resultados obtidos no desenvolvimento da

implementação pedagógica do projeto “ Leu. Conta aí que eu reconto aqui !” realizado com alunos do Colégio Estadual Alberto Santos Dumont no município de Campina da Lagoa-Pr, utilizando-se da contação de história no ambiente escolar, com intuito de incentivá-los a se tornarem leitores assíduos, proficientes e, consequentemente, contribuir para o desenvolvimento humano. Constatou-se que a escola deve criar condições e situações para formar um leitor competente e crítico e portanto rever conceitos de leitura, repensar sobre a oralidade e a utilização da contação de histórias nas salas de aulas, além de refletir como trabalhar usando a oralidade em benefícios do processo ensino-aprendizagem para cativar o interesse e a curiosidade dos alunos. Desta forma, o aluno durante a implementação do projeto, leu e recontou histórias de várias maneiras. Ele pôde envolver-se com a cultura popular, ter contato com diversos gêneros textuais, exercitar a imaginação e executar também a leitura de uma maneira mais crítica.

Palavras chave: Leitura; imaginação; contação de história; cultura popular. Abstract: This article aims to show the results obtained in the development of the pedagogical

implementation of the project "Read. Account where I re-telling here! "carried out with students from State College Alberto Santos Dumont in the municipality of Campina da Lagoa-Pr, using the story-story in the school environment, in order to encourage them to become regular readers, proficient and, consequently, contribute to human development. It was noted that the school must create conditions and situations to form a competent reader and critic and therefore review concepts of reading, rethink the orality and the use of storytelling in classrooms, in addition to reflect how to work using the orality in benefits of teaching-learning process to captivate the interest and curiosity of the students. In this way the student during the project implementation, read and retold stories in several ways. He could engage with popular culture, having contact with several text genres, exercising the imagination and also perform the reading a more critical way.

Keywords: reading; imagination; storytelling history; popular culture.

Introdução

Este artigo destina-se àqueles que querem vivenciar uma experiência de

reflexão e atividades com leitura e contação de histórias. Na elaboração e

implementação do projeto “Leu? Conta aí que eu reconto aqui !” discussões

surgiram acerca da importância, da necessidade de leitura e o uso da oralidade

no nosso cotidiano escolar e fora dele, do geral para o particular.

Nosso foco foi a leitura, a oralidade e o enfrentamento a resistência em

não efetivar a leitura na escola e fora dela, despertar o interesse e valorizar um

texto de tal maneira, que após sua leitura o leitor sentisse o desejo de

compartilhá-lo com alguém, fazendo releituras deste mesmo texto, contando-o

de sua forma, com a sua perspectiva e procurasse contagiar quem ouvisse sobre

o texto, e que esse ouvinte desejasse ir de encontro com o texto para lê-lo ou,

simplesmente, recontá-lo.

Esta era a contribuição que se esperava fazer dentro do contexto escolar

referente à leitura. Portanto, ao observar a falta de interesse pelo ato de ler e a falta

de acesso a ela, em casa e nas escolas e sabendo da importância da leitura para as

pessoas no campo pessoal, cultural e econômico, buscamos com a execução deste

projeto voltado a leitura e contação de histórias, colaborar com a prática de ler e

minimizar esse problema.

Então, no desenvolvimento do projeto tentamos valorizar de um modo

diferente a leitura e nos interrogamos sobre a importância do ato de ler, enxergando

a leitura não somente com o aspecto de pretextos para ensinar conteúdos que estão

sendo ministrados ou ainda, para resolver problemas específicos de comportamento

pessoal e social, mas como estratégia para preservar e aumentar o imaginário, o

conhecimento das pessoas, pois a literatura tem um campo fértil para despertar a

curiosidade e o poder da imaginação do ser humano e, desta forma, inclusive, levá-

lo a sua inserção social.

_________________________________ 1 Professor de Português, Literatura e Língua Estrangeira no Colégio Estadual Alberto Santos Dumont – EFMP de Campina da Lagoa do Núcleo Regional de Campo Mourão – Pr. Integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional, turma 2013. Contato: [email protected]

2 Professor Mestre em Estudos Literários. Professor orientador do PDE pela UNESPAR Campus de Campo Mourão – PR. Contato: [email protected]

Somado a isto, percebemos que nós como escola, deveríamos criar

condições para formar um leitor que não se apresentasse ingênuo e sim um leitor

competente e crítico. E por essas razões o trabalho com a contação de história foi

desenvolvido para que pudesse contribuir incentivando os alunos a se tornarem

novos leitores assíduos no cotidiano escolar, melhorando não somente sua

aprendizagem de uma forma geral na escola, mas seu desenvolvimento humano e

social.

A linguagem oral é a ferramenta mais usada pela humanidade na

comunicação e a escola deveria rever conceitos e repensar sobre a oralidade e a

utilização da contação de histórias nas salas de aulas e ainda refletir como trabalhar

usando a oralidade em benefícios do processo ensino-aprendizagem para despertar

a imaginação, o interesse e a curiosidade dos alunos, desta forma, o aluno durante o

projeto, lendo e depois recontando histórias de várias maneiras, envolvendo-se com

gêneros textuais diferentes, como: fábulas, lendas, músicas, causos, anedotas e o

conto, o aluno pode ir ao encontro de textos interessantes e ir à busca de novos

textos, criando mais e mais o hábito de ler.

Para poder desenvolver esta proposta de ensino na sala de aula que

oferecesse aos alunos uma aprendizagem que resultasse de algo positivo, que é ler,

que estivesse ligado a sua maneira de agir na sociedade e no dia a dia na escola e

em casa, observamos os seguintes questionamentos:

Como trabalhar com o ato de ler relacionando este ato com a qualidade de

vida do aluno? É possível adquirir o gosto pela leitura por meio da contação de

histórias? Ler seria um pretexto para a contação de histórias ou a contação de

histórias seria um pretexto para a leitura? Como conscientizar o aluno e a família

sobre a importância do hábito de leitura?

Buscando efetivar a proposta do projeto “Leu? Conta aí que eu reconto

aqui!” elaboramos um caderno pedagógico com propostas de atividades de leitura e

contação de histórias com o objetivo geral de despertar, incentivar e promover a

leitura no âmbito escolar, estendendo-se à família e à comunidade, oferecendo

momentos ao aluno, para que ele desenvolvesse seu hábito de leitura e favorecesse

lhe a interação e a ampliação cultural por intermédio da contação de histórias.

Colocamos em prática, na sala de aula, na escola os encaminhamentos

pesquisados tentando conscientizar o aluno e seus familiares sobre a importância da

leitura e a oralidade em suas vidas.

Procedimentos Adotados e Resultados

Pensar sobre o ato de ler é um passo fundamental para alcançar os objetivos

propostos sobre leitura no âmbito escolar. Portanto uma observação sobre a

questão de leitura na escola e no ambiente familiar na tentativa de responder as

questões referentes ao desinteresse pela leitura norteou o início do trabalho.

Desenvolvemos o projeto “Leu? Conta aí que eu reconto aqui !” sob a luz da

metodologia da mediação dialética e fundamentado na teoria histórico-cultural e

pedagogia histórico –crítica, já que esta dispõe sobre a natureza e a estrutura da

atividade humana, o envolvimento entre atividade de ensino, de aprendizagem e

desenvolvimento humano. E permite compreender a formação educacional a partir

do trabalho real, das práticas correntes no contexto de trabalho e não a partir do

trabalho prescrito, tal qual aparece na visão da racionalidade técnica e também

como aparece na concepção de senso comum sobre formação, que ainda vigora

fortemente nas escolas e nas instituições formadoras.

Desenvolvemos o projeto com atividades de leitura e contação de histórias

como atividade cultural e social, visando à fixação do hábito de leitura, assim como a

conscientização da importância dela no nosso cotidiano.

Na concepção da Teoria Histórico-Cultural, a linguagem deu-se no homem a

partir das relações sociais do trabalho e apresenta importância significativa na

formação da consciência.

A importância da linguagem para a formação de consciência consiste em que ela efetivamente penetra em todos os campos da atividade consciente do homem, eleva a um novo nível o desenrolar dos seus processos psíquicos. Por isto a análise da linguagem e o discurso (da forma de transmissão da informação que emprega meios de linguagem) [...]deve ser considerada[...]como fatos de construção de todo o conjunto da consciente

do homem. (LURIA, 1991, p 81-82 – grifos do autor).

Para isso, detectamos que os adolescentes em geral perdem o interesse pela

leitura. Portanto escolhemos trabalhar com uma turma do 9º ano do ensino

fundamental do Colégio Estadual Alberto Santos Dumont – Ensino Fundamental,

Médio e Profissionalizante, de Campina da Lagoa-PR. Turma com 14 meninas e 16

meninos na faixa etária de 13 anos, onde a maioria dos alunos não apresentava o

hábito da leitura e muitos deles liam apenas para cumprir obrigações impostas pela

escola e pelos professores e não compreendiam a leitura como um meio de lazer,

pesquisa e aquisição de conhecimentos.

Pesquisamos vídeos e principalmente textos, junto com os alunos, em

revistas, jornais, livros literários e didáticos, na internet e em outras fontes, textos de

gêneros variados como: fábulas, lendas, músicas, causos, anedotas e o conto ou

outro gênero que o aluno mostrasse interesse em ler, para que assim o ato de ler se

tornasse um momento de distração e de busca de conhecimento.

Realizamos um estudo oral dos textos seguindo uma adaptação do roteiro de

análise de textos narrativos sugerido por Cândida Vilares Gancho no livro Como

Analisar Narrativas (2006), com o propósito de aproximação, de tornar íntimo o

aluno leitor com o texto e assim esta leitura se tornasse algo vivo no seu dia a dia,

contando com a participação dos alunos nas atividades propostas no caderno

pedagógico elaboradas para este referido projeto de incentivo a leitura.

A disciplina de Língua Portuguesa, junto aos PCN, ressalta como objetivo

formar bons leitores e escritores e para que isso aconteça traz como recomendação

metodológica o trabalho com textos produzidos em condições reais, isto é, textos da

realidade social e dos mais diferentes gêneros, o que ocorreu no caderno elaborado.

É preciso, portanto, oferecer-lhes os textos do mundo: não se formam bons leitores solicitando aos alunos que leiam apenas durante as atividades na sala de aula, apenas no livro didático, apenas porque o professor pede. Eis a primeira e talvez a mais importante estratégia didática para a prática da leitura: o trabalho com a diversidade textual. Sem ela pode-se até ensinar a ler, mas certamente não se formará leitores competentes (BRASIL, 1997, p.42).

Começamos o trabalho na turma com uma observação sobre a questão de

leitura na escola e no ambiente familiar em busca de respostas às questões ligadas

ao desinteresse e a importância do ato de ler, numa tentativa já mencionada de

conscientização e valorização desta prática para cada um de nós.

No início apresentamos o projeto aos alunos e buscamos na internet vídeos e

textos sobre a importância do ato de ler e também sobre a importância da contação

de histórias na vida das pessoas.

Percebemos no meio escolar, que mesmo quando o aluno apresenta-se

alfabetizado, a ausência de leitura em sua vida traz-lhe grandes problemas como: a

dificuldade em interpretar, a falta de argumentação no momento de produzir um

trabalho escrito ou oral e a insegurança ao ter que ler ou falar em público. É

necessário que o ato de ler seja um hábito constante em sala de aula, e para que

isso se torne realidade, educadores, alunos, por fim as escolas deveriam mudar

certas atitudes e assumir novos princípios perante a leitura buscando atingir seus

devidos objetivos no processo educacional, que é de incentivar o aluno a ser um

leitor interessado no conteúdo que o texto lhe oferece e que seja consciente e

crítico.

A leitura é o meio mais eficaz de enriquecimento e desenvolvimento da personalidade, é um passaporte para a vida e para a sociedade. Levar a criança apenas a ler, não é o bastante para despertar o prazer pela leitura. O que permanece e acompanha a criança ao longo da vida, como uma fonte de prazer, é um olhar diferenciado para a obra literária. Afinal, como tão bem comenta Rubens Alves (2004), [...] “o lugar da literatura não é a cabeça: é o coração. A literatura é feita com as palavras que desejam morar no corpo”. Apud in GARCIA (2012, p.4).

A vivência tem demonstrado que quem lê habitualmente, ainda que não

conviva no meio acadêmico, possui uma visão mais critica do mundo.

Conforme a DCE de Língua Portuguesa do Estado do Paraná :

[...] é tarefa da escola possibilitar que seus alunos participem de diferentes práticas sociais que utilizem a leitura, a escrita e a oralidade, com a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interação. Se a escola desconsiderar esse papel, o sujeito ficará à margem dos novos letramentos, não conseguindo se constituir no âmbito de uma sociedade letrada. (DCE/PR, 2008, p.48).

Compreendendo que letramento vai além da alfabetização:

[...] de acordo com Soares (1998), refere-se ao indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e escrita, posiciona-se e interage com as exigências da sociedade diante das práticas de linguagem, demarcando a sua voz no contexto social. Apud in DCE/PR (2008, p.50).

Ainda nas DCE;

No ambiente escolar, a racionalidade se exercita com a escrita, de modo que a oralidade, em alguns contextos educacionais, não é muito valorizada; entretanto, é rica e permite muitas possibilidades de trabalho a serem pautadas em situações reais de uso da fala e na produção de discursos nos quais o aluno se constitui como sujeito do processo interativo. (DCE/PR, 2008, p.55).

Sem dúvida, o processo da oralidade realiza-se extraclasse. Não se aprende

a falar primeiramente na escola e depois volta ao convívio familiar, em fim nas

diferentes esferas de interação social, talvez por isso, a oralidade, por não ocorrer

primeiramente nos bancos escolares é que a devida importância do discurso oral

esteja a margem e não desperta tanto interesse em tê-lo inserido como tema no

contexto escolar. Essa ideia de que a fala já é tão praticada no cotidiano e bem

dominada por todos é falha, pois sentimos a necessidade de que a oralidade fosse

transformada em objeto de estudo em sala de aula para que pudesse contribuir para

o surgimento de bons oradores e bons leitores de textos, consequentemente, bons

escritores.

O resgate da contação de histórias oferece um estimulo à imaginação, à

socialização, à leitura e à pesquisa:

Contar histórias de origem na oralidade e na tradição popular restabelece um caminho que permite desenvolver um resgate da memória coletiva e do ato do ser humano de comunicar-se poeticamente. Além do que, nossa imaginação encontra um terreno fértil na literatura tradicional, já que os contos são curtos e econômicos, cabendo à imaginação completá-los. O conto da tradição popular, por ser econômico, se revela rico em imagens (BUSATTO, apud TORRES E TETTAMANZY, 2008 p.5)

A escola como um espaço democrático deve respeitar as diferentes formas de

linguagem, pois a criança já chega à escola munido da prática da oralidade, pelas

narrativas que já ouviram de seu núcleo de convivência, familiares, vizinhos, etc.

Mas, essa prática de oralidade aos poucos vai se perdendo no ambiente escolar.

O professor precisa planejar e desenvolver atividades aproveitando o

conhecimento que as crianças trazem de seus lares, sempre procurando melhorar o

seu uso no ambiente escolar.

Para a implementação do projeto, a sala foi dividida em equipes que

trabalharam juntas até o final, para incentivar a cooperação e socialização, onde

após executarem a leitura e análise oral dos textos sugeridos, eles procuraram,

leram e escolheram outros, contaram e recontaram as histórias por meio de mímica,

dramatização, desenhos ou outra forma para as outras equipes na sala.

As equipes também convidaram familiares, professores ou outros membros

da comunidade para contar histórias em sua sala.

Segundo SOARES (1991), na leitura estão juntos, o leitor, o seu universo, sua

posição na sociedade, sua relação com o mundo e com os outros, o autor, o seu

universo, sua posição social, e sua relação com o mundo e com os outros. Assim, a

leitura se constitui interativa, já que não é somente receptiva.

Os alunos ainda participaram da criação do clube de leitura e contação de

histórias que foi organizado na escola para incentivar e valorizar a leitura e trabalhar

a expressão na hora de contar uma história, com encontros ocorridos fora do

período de aula, o qual se espera que seja de maneira permanente no colégio.

Quem nunca se deliciou ouvindo alguém contar uma boa história. É

importante recuperar o hábito de contar e ouvir histórias, promover a roda de

contação de histórias em nossas escolas, pois por meio desta atividade, atrai-se a

atenção, incentiva a imaginação, aguça a curiosidade, a pesquisa no meio escolar,

além de ampliar o vocabulário, a concentração e o poder de expressão. Ela é

também responsável pela transmissão de conhecimento e de cultura.

De acordo com, SILVA:

Os grupos de contadores de histórias atuam como elementos motivadores e preparatórios à leitura de livros, e nisso diferem dos contadores de anedotas e das novelas de TV. O contador de histórias sabe que seu papel é levar o ouvinte a tornar-se leitor, além de entretenimento na hora da contação, dá informações sobre o livro onde a história se encontra, o nome de seu autor, e a editora que publicou, é fiel ao texto escrito, repetindo as palavras do autor, conservando seu estilo inalterado. O contador é, antes de tudo, um leitor privilegiado, que cumpre um papel ativo: faz leituras prévias, seleciona textos, informa-se sobre o autor, observa a ilustração do livro, memoriza o texto, interpreta suas intenções para transformá-las em modulações de voz e gestos. (2009.p.35).

Há uma carência entre os professores que buscam ensinar por meio dos

contos, lendas, causos, por meio da leitura e contação de histórias para então

incentivar o gosto e o prazer pelo ato de ler. A criança quando vem motivada para a

leitura nas séries iniciais esbarram com poucas atividades para dar continuidade ao

hábito de leitura nos anos finais, pois não é dada a importância necessária para

progressão desse hábito.

O ato de contar história é uma arte milenar e uma das mais antigas

manifestações culturais dos seres humanos onde eram repassados valores,

mensagens, ensinamentos de geração a geração.

Hoje o contador de histórias é visto como um artista que busca se aproximar de técnicas e formas de contar histórias. Na verdade, não existe uma técnica propriamente dita uma vez que cada contador de histórias faz uso de sua própria cultura- oral e escrita – para construir-se enquanto contador de histórias. O contador de histórias cria e recria um universo de onde ele mesmo surgiu e, ao fazer isso, permite que outros recriem seus próprios universos. (SANTOS apud, TIERNO, 2010 p.115).

Com o projeto “Leu? Conta aí que eu reconto aqui!” oportunizou-se um

encontro dos alunos com um contador de histórias profissional, para apresentação,

dar dicas sobre a contação de histórias e ser entrevistado pelos alunos.

Para que como nas DCE de Língua Portuguesa o professor “...estimule a

contação de histórias de diferentes gêneros, utilizando-se dos recursos

extralinguísticos, como entonação, expressão facial, corporal e gestual, pausas e

outros.” (DCE/PR, 2008, p.99).

Desta forma, acreditamos que, ao compreendermos a importância de

trabalhar a leitura e a oralidade no ambiente escolar, para que tanto professor e

alunos percebam que no mundo de hoje cada dia mais competitivo e exigente, ler e

expressar-se bem sejam ferramentas decisivas quanto a sua inserção nos diferentes

contextos sociais.

Durante este período de implementação, foi trabalhado a leitura dos textos do

caderno pedagógico contendo textos sobre valorização da leitura, valorização da

oralidade e contação de histórias, textos com os gêneros fábulas, lendas, músicas,

causos, anedotas e o conto, formulando questões para propiciar a discussão e a

compreensão dos textos sugeridos num processo de construção de sentido e

utilizando-se de recursos audiovisuais em todos os capítulos do caderno de

atividades.

O leitor, de acordo com POSSENTI (1999), está numa posição privilegiada,

pois, hoje, após o surgimento da Linguística moderna, este passou a fazer parte do

processo de construção dos sentidos do texto, sendo que antes só autor e texto

eram importantes na efetivação de sentido.

E por fim, junto com a turma, levamos apresentações de contação de histórias

e dramatização a comunidade, buscando socializar e valorizar o trabalho

desenvolvido pelos alunos do 9º ano A do Colégio Estadual Alberto Santos Dumont

– EFMP, do município de Campina da Lagoa – Paraná.

Para avaliação deste Projeto de Intervenção Pedagógica, solicitamos aos

alunos que descrevessem suas impressões sobre a leitura antes e depois do

envolvimento com o projeto Leu? Conta aí que eu reconto aqui! , quais foram os

pontos positivos e os pontos negativos deste trabalho e o que se pode fazer para

melhorar, passando os resultados obtidos para os demais professores de língua

portuguesa de nosso colégio para que possam na medida do possível usar em suas

práticas pedagógicas.

Em uma visão pedagógica todas as atividades envolvendo leitura e contação

de histórias do projeto exigiu participação ativa do professor e dos alunos, com

orientação e estímulo do professor para que o aluno se posicionasse de forma crítica

diante do texto, comentando as ações das personagens envolvidas e refletindo

sobre as situações apresentadas, logo, compreender a leitura e contação de

histórias como momento de se comunicar e adquirir conhecimento.

Destacamos também que no mesmo período que se realizava o projeto com

os alunos, tivemos nossa participação como tutores no GTR – Grupo de Trabalho

em Rede, uma das atividades do PDE prevista no Plano Integrado de Formação

Continuada para socialização e análise da produção do professor PDE com outros

professores da Rede Estadual de Ensino que se mostraram interessados no tema do

projeto. O GTR foi composto por três temáticas, sendo a temática 1 – Estudo do

Projeto de Intervenção Pedagógica: “Leu? Conta aí que eu reconto aqui !”

temática 2 – Estudo do Material Didático: “Leu ? Conta aí que eu reconto aqui !” e

temática 3 – Ações de Implementação.

Nesta atividade de tutoria no GTR com momentos de interação, discussão,

troca de ideias, os professores participantes estiveram sempre dedicados e

empenhados.

Eles refletiram sobre a questão da oralidade e a importância de se expressar

bem e deixaram evidente sua preocupação com o ensino e a aprendizagem da

leitura, assim como elogios ao projeto num todo, relatando ser um material muito

interessante, com atividades bem elaboradas e com vídeos muito bem selecionados,

onde uma atividade complementava a outra, tudo muito propícios aos objetivos

propostos, o que nos agradou muito, pois percebemos que o projeto colaborou para

a reflexão e prática da temática leitura e oralidade.

Observamos neste período de GTR a necessidade de atividades de leitura e

oralidade, que devem ser constantes em sala de aula, pois o professor deve assumir

esse papel de incentivador à leitura e a expressão oral e criar situações significativas

para que elas ocorram, conscientizando principalmente o aluno da importância de ler

e contextualizar o texto para o seu desenvolvimento pessoal.

Considerações Finais

Ao longo do trabalho, a partir das leituras, reflexões e contextualizações dos

textos, percebemos que discutir as possíveis ações referentes à leitura e a contação

de histórias na escola vai além de professor, aluno e sala de aula. Essa temática

envolve educadores, pais, educandos, espaço e oportunidade para se efetivar a

leitura, não para um ambiente, mas sim para o ser.

Leitura e contação de história é um processo difícil, exige comprometimento,

aprofundamento na história e ao tema, além da responsabilidade que se deve ter em

reproduzir uma narrativa. Principalmente em se tratando de uma proposta que foge

ao cotidiano de sala de aula e é vista atualmente como arte e por isso possa

desencorajar algumas pretensões.

Inicialmente precisamos buscar um conhecimento mais pormenorizado sobre

a história a ser contada e não somente ler, mas também estudar sua influência

cultural, talvez política, religiosa, econômica e social exercida sobre nossa

sociedade, além de ter muita atenção ao modo de interpretá-las e analisá-las, pois

as histórias expressam valores e ideologias em sua intencionalidade.

Contudo, o recurso do uso da contação de histórias pode ser uma alternativa

para o desenvolvimento do gosto pela leitura, apropriada pelo estudante de forma

mais próxima de seu cotidiano que é a oralidade, o “bate-papo”.

Notamos que o estudo relacionado à leitura e oralidade ainda não foi

despertado em todos os professores inclusive nos de língua materna que se

encontram às vezes indiferentes a ela. Portanto é necessário abordar à questão da

importância da leitura e da oralidade no ambiente escolar, juntamente com pais,

alunos e professores, pois essa problemática norteia o espaço escolar e social.

É necessário pontuar que, ao término da implementação do projeto notava-se

claramente o comprometimento dos alunos da turma com a questão de leitura e a

oralidade em suas vidas e que isso refletiu em seus estudos. Eles se constituíram

mais participativos e interessados em entender o conteúdo de um texto a eles

apresentado.

Sem dúvida, o resultado obtido nesse trabalho foi satisfatório e, destaca-se

pelo entendimento do aluno que reconhece o valor, busca a informação e tenta fazer

a contextualização de cada texto lido por ele, seja de maneira oral ou escrita. E

temos certeza de que a contação de histórias pode ser um grande aliado nas

escolas e contribuir dando oportunidade de construção de conhecimento, cultura e

consequentemente melhorar a aprendizagem de leitura.

Por fim, acreditamos que a leitura torna-se significativa para os nossos alunos

quando lhes faz sentido o ato de ler e que a intervenção do professor incentivando o

aluno a ler, impulsiona a aprendizagem. Portanto para nós, fica claro também o

importante papel do professor no processo de formação do aluno leitor.

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