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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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Violências na escola: como prevenir?

Autora: Luciene Novitzki Cogo1

Orientadora: Beatriz Gomes Nadal2

Resumo: Este artigo trata dos estudos desenvolvidos no trabalho de pesquisa

e intervenção pedagógica proposto pelo Programa de Desenvolvimento

Educacional-PDE, sobre a prevenção das violências na escola. A intervenção

objetivou compreender melhor as diferentes formas de violências e como elas

ocorrem na escola, analisar as causas e possíveis ações que o coletivo escolar

possa desenvolver na prevenção das violências e contribuir para que os

professores possam intervir com autonomia. O projeto abrangeu estudos

bibliográficos acerca do tema violências na escola, pesquisa de campo junto

aos alunos para identificar quais as violências que incidem no ambiente

escolar, elaboração da unidade didática estruturando os conteúdos e atividades

sobre o tema a serem desenvolvidas com os professores e formação de

professores por meio do Grupo de Trabalho em Rede – GTR.

Palavras chave: Escola, Organização escolar, Violências, Práticas

pedagógicas.

1 Professora PDE 2013, formada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, pós graduada em Psicologia do Processo ensino aprendizagem. Pedagoga no Colégio Estadual Profº Amálio Pinheiro. Ponta Grossa- PR. 2 Doutora em Educação e Currículo pela PUC-SP. Professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa,

Orientadora do PDE.

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1.Introdução:

Este artigo é o resultado dos estudos desenvolvidos no trabalho de

pesquisa e intervenção pedagógica, proposto pelo Programa de

Desenvolvimento Educacional-PDE, sobre a prevenção das violências na

escola.

A escola, que é um espaço de convivência de todos, tem sido também

um espaço de muitos conflitos gerados pela intolerância e desrespeito,

chegando até à violência física. Nesse sentido, Charlot (2002, p.433) esclarece

que “a escola não se apresenta mais como um lugar protegido, mas como um

espaço aberto às agressões vindas de fora”. Os profissionais da educação e

as famílias têm presenciado diariamente situações conflituosas de

relacionamento, com as quais tem sido difícil lidar.

A organização do trabalho pedagógico também foi outra questão

importante a ser considerada, porque a equipe pedagógica despendia muito

tempo para atender os diversos casos de violência e tomar as providências

que são previstas no Regimento Escolar. Essa prática, que se tornara cotidiana

e ineficiente, não diminuía os casos de violências e não contribuía

positivamente para o desenvolvimento educacional dos sujeitos envolvidos.

Diante dessa necessidade, qual seria a melhor forma de abordagem para o

enfrentamento das violências no ambiente escolar?

Pela pesquisa bibliográfica realizada, compreendemos que a forma

mais adequada para enfrentarmos o problema das violências nas escolas seria

envolver os professores no trabalho de intervenção.

O trabalho se desenvolveu com base nos estudos de Charlot (2002),

Gomes (2010), Aquino (1998), Perez (2009), Abramovay e Rua (2003) e

Tognetta e Vinha (2008) que apresentam análise e reflexões acerca de toda

problemática. Assim, ao analisarmos as práticas da instituição e as práticas de

ensino como fontes de tensão cujos efeitos levam às violências no contexto

escolar, consideramos as contribuições dos autores citados.

O presente artigo apresenta os trabalhos que foram desenvolvidos no

PDE, os quais incluem os estudos bibliográficos acerca do tema, a pesquisa

de campo junto aos alunos para identificar quais as violências que incidem no

ambiente escolar, a formação de professores por meio do Grupo de Trabalho

em Rede – GTR e o projeto de intervenção com os professores.

Sendo assim, organizou-se o texto em quatro partes. Na primeira

abordamos as conceituações e análises que embasaram o trabalho com o

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tema violências na escola, na segunda relatamos a intervenção realizada com

os professores, na terceira parte apresentamos os resultados e na quarta parte

as considerações finais.

2. A escola e as violências

A escola não se apresenta mais como um lugar protegido, mas como um

espaço aberto que está vulnerável às agressões vindas de fora. Ao tratar das

violências, Charlot (2002, p. 433) lembra que se deve atentar as “múltiplas

fontes de tensão institucionais relacionais, pedagógicas que hoje agitam a

escola, e sobre cuja base, produzem-se às vezes incidentes violentos”. As

violências trazem muitos problemas para a escola , mas é preciso analisar que

o problema também está na forma como a escola articula suas forças, que

embora não use a força física, usa da força coercitiva e impositiva para fazer

valer seus objetivos.

Iniciamos nossos estudos a partir das análises de Charlot que foram

muito elucidativas, possibilitaram-nos conceituar e categorizar as formas de

violências presentes no contexto escolar estudado que são, segundo o autor,

A violência na escola é aquela que se produz dentro do espaço

escolar, sem estar ligada à natureza e às atividades da

instituição escolar... A violência à escola está ligada à natureza

e às atividades da instituição escolar: quando os alunos

provocam incêndios, batem nos professores ou os insultam,

eles se entregam a violências que visam diretamente à

instituição e aqueles que a representam. Essa violência contra

a escola deve ser analisada com a violência da escola: uma

violência institucional, simbólica, que os próprios jovens

suportam através da maneira que a instituição e seus agentes

os tratam. (grifos do autor CHARLOT, 2002, p.434-435)

Percebe-se, então, que a escola não é só vítima, é também autora de

violências. O problema é visto sobre outros enfoques que identificam diferentes

fontes de tensão dentro da escola.

A distinção entre violência, transgressão e incivilidades é muito

importante para possamos identificar os tipos de comportamentos

desencadeadores de conflitos existentes no contexto escolar. Vimos que:

a transgressão é o comportamento contrário ao regulamento

interno do estabelecimento, (mas não ilegal do ponta de vista

da lei): absenteísmo, não realização de trabalhos escolares,

falta de respeito, etc. Enfim, a incivilidade não contradiz nem a

lei, nem o regimento interno do estabelecimento, mas regras da

boa convivência: desordens, empurrões, grosseria, palavras

ofensivas, geralmente ataque quotidiano e com frequência

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repetido – ao direito de cada um (professor, funcionário, aluno)

ver respeitada a sua pessoa...(CHARLOT, 2002, p.437).

Esses comportamentos acontecem misturados e estão interligados,

porém a escola não pode tratar todos os fatos com um encaminhamento

padrão, é preciso pontuar as ações específicas para lidar com cada caso. Para

Charlot (2002, p.437) “o termo violência deve ser reservado ao que ataca a lei

com o uso da força ou ameaça usá-la: lesões, extorsões, tráfico de drogas na

escola, insultos graves”.

Não se deve tratar tudo como violências, nem tratar as violências na

escola como caso de polícia, muito embora isso ocorra rotineiramente. Aquino

(1998, p.8) elucida muito bem o que acontece no interior das escolas: “a

palavra de ordem passa a ser o encaminhamento. Encaminha-se, para o

coordenador, para o diretor, para os pais ou responsáveis, para o psicólogo,

para o policial.” Ou seja, o problema é transferido para frente, para que um

terceiro o resolva.

Ao tratarmos todas as situações como violências, corremos o risco de

tornarmos as medidas ineficazes. Por isso a importância de trabalhar os

conceitos e diferenças entre as condutas dos alunos. As incivilidades e as

transgressões, quando demasiadas, são desencadeadoras de muitos conflitos,

mas o que deve ser feito, de acordo com Charlot (ibid), é um “tratamento

educativo”.

Portanto, não há por quê chamar a polícia tantas vezes quanto hajam

conflitos de ordem regimental como pensam muitos profissionais da educação,

(refiro-me a profissionais da educação todos os professores, pedagogos e

gestores). É realmente difícil para eles separar o que são incivilidades e

transgressões do que é uma conduta ilegal, sem ter feito uma leitura mais

específica sobre o assunto. Chamar a patrulha é ao mesmo tempo um pedido

de socorro da escola por não obter resultado eficiente na resolução de conflitos

e reconhecer a sua ineficiência no trato com os alunos. Nesse sentido Tigre

(2009, p. 82) salienta:

Com frequência, esquece-se até a questão da legalidade de

tais abordagens, que são no mínimo questionáveis por

provocarem constrangimentos desnecessários aos alunos, os

quais, na sua grande maioria, são vítimas dessa mesma

violência que se tenta reprimir. Com certeza não será dessa

forma que o problema será solucionado.

Além do encaminhamento, outro ponto relevante para a repercussão do

fenômeno em todo âmbito escolar é como a gestão trata as violências da

escola. O gestor representa o poder dentro da escola. Se o gestor abusa do

poder coercitivo, ele é autoritário e isso provoca ainda mais reações violentas.

Isso se dá mais claramente na relação gestão-aluno. É uma relação que pode

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provocar mais fontes de tensão dentro do ambiente escolar e resultam em

várias formas de violências, estabelecendo um clima desfavorável à harmonia

e às relações interpessoais.

Nesse sentido Gomes alerta que,

a escola se torna claramente uma arena competitivo-conflitual,

onde se confrontam as culturas escolar e

adolescentes/juvenis... os alunos das classes populares

reagem às experiências de fracasso pela via da afirmação

pessoal, com rebeldia contra a escola”. (GOMES, 2010, p. 427)

Quando não podem participar do processo educativo e exercer algum

protagonismo, os alunos acabam por concentrar suas energias em atingir, de

alguma forma, a instituição e seus agentes. Faltam momentos de reflexão da

equipe gestora com o coletivo escolar para tomar medidas preventivas que

possam evitar as violências na escola; fala-se muito dos problemas sem

analisar as causas.

Gomes sugere para o enfrentamento das violências que

estratégias de mudança devem focalizar o estabelecimento

como um todo, em vez de cada professor individualmente.

Nesse sentido, deslocar o educador da escola para

capacitações pode ser muito menos efetivo que atuar com eles

em torno do projeto escolar e das suas dificuldades

específicas. (GOMES, 2010, p.431)

Para o autor (2010, p.434), “a gestão escolar é ao mesmo tempo, parte

do problema e da solução”. As possibilidades de diálogo e participação dos

alunos só ocorrem se a gestão assim desejar. Há gestores que são centrados

em processos burocráticos e não nas pessoas. Nesse sentido, Lira e Lima

(apud GOMES,2010, p.435) demonstraram em suas pesquisas que a gestão

democrática, o compartilhamento de decisões, a descentralização de poder e a

liderança carismática podem influenciar num clima favorável dentro da escola

evitando conflitos.

Gomes analisa as diversas faces da escola de acordo com suas

práticas:

A escola é autora, vítima e palco de violência. É autora quando

pratica a exclusão social por meio de processos mais ou

menos sutis, semelhantes a armadilhas, para uma parte dos

alunos, produzindo e reproduzindo a exclusão social. É vítima

quando seus gestores e docentes são hostilizados, em parte

como reflexo da violência que ela produz. (GOMES, 2010,

p.437)

Portanto, a análise que se tem da escola é bem realista, não é possível

fazer uma análise unilateral. Nesse sentido, Abramovay e Rua (2003, p. 24-25)

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buscam compreender o fenômeno das violências considerando as variáveis

endógenas e exógenas que interferem.

Entre os aspectos externos é preciso levar em conta: questões

de gêneros; relações raciais; situações familiares; influência

dos meios de comunicação; espaço social das escolas (o

bairro, a sociedade). Entre os aspectos internos, deve-se levar

em consideração: a idade e a série ou o nível de escolaridade

dos estudantes; as regras e a disciplina dos projetos

pedagógicos das escolas, assim como o impacto do sistema de

punições; o comportamento dos professores em relação aos

alunos e à prática educacional em geral.

É preciso ir além dos fatos que observamos na sala de aula, deve-se ter

o olhar sobre todos esses aspectos da própria instituição, do seu entorno, da

segurança e da estrutura do prédio escolar.

Com relação às violências simbólicas, que são mais difíceis de serem

percebidas pelos professores, precisam ser considerados pelos educadores

“modos de composição das classes, de atribuição de notas, de orientação,

palavras desdenhosas dos adultos, atos considerados pelos alunos como

injustos ou racistas.” (CHARLOT, 2002, p. 434). Ao analisar essa temática,

Abramovay (2003) aponta a escola como um local em que a violência é

exercida pelo uso do poder, que sem o uso de armas ou de grito, mas que pelo

uso de punição, silencia protestos. Embora essa violência esteja mais presente

onde se verifica vandalismo ou depredação do prédio escolar, não significa que

não aconteça nas escolas com outras formas de violências.

Para apontar caminhos para a prevenção das violências na escola,

Tognetta e Vinha (2006, p.17) formulam algumas estratégias possíveis de

trabalhar com os alunos no sentido de prevenir as violências na escola. A

mediação de conflitos, e as assembleias são práticas que podem fazer parte do

quotidiano da escola. As assembleias devem ser conduzidas pelos

professores, mas os alunos devem abordar questões importantes como a

violência entre eles. São momentos em que os alunos podem ser ouvidos e,

sentindo-se valorizados em participar, o que pode levar à diminuição da

agressividade na sala de aula. Outra estratégia é a mediação de conflitos em

que pais, alunos ou professores podem atuar como mediadores em momentos

graves. Além destas, a resolução de conflitos por meio de discussão de

dilemas morais, rodas de conversa, histórias, filmes e dramatizações

constituem outras formas de abordar o tema com os alunos.

3.Metodologia

Para realizar a formação dos professores foi necessária a pesquisa

bibliográfica acerca do tema violências, a pesquisa com os alunos para

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identificar quais as formas de violências presentes no contexto escolar e a

elaboração da unidade didática a ser utilizada na intervenção.

A proposta de intervenção foi apresentada a todo o coletivo escolar

durante a semana pedagógica do início do ano. Os professores, pedagogos,

diretores e funcionários foram convidados a participar da formação que se daria

em oito encontros de quatro horas cada, uma vez por semana, todas as

quartas feiras no período vespertino.

Foi organizada uma Unidade Didática, estruturada com os conteúdos e

atividades para a formação de professores, contendo o referencial teórico,

vídeos e propostas de atividades que subsidiaram a análise e reflexão sobre o

tema violências na escola. Durante os encontros de formação de professores

foram estudados os conceitos e categorias de violências, os fatores endógenos

e exógenos que influenciam no fenômeno estudado, os encaminhamentos

dados aos casos de violências, a escola como autora, vítima e laboratório de

violências, o bullying, a relação família com a escola, os dados coletados pelos

questionários aplicados aos alunos e por fim, traçou-se coletivamente

estratégias de ação para a prevenção das violências, sempre por meio de

estudo de textos com leitura comentada, vídeofórun, atividades para realizarem

em grupo.

Embora as intervenções na escola tenham buscado mobilizar os

professores no enfrentamento das violências na escola, foi importante

conhecer o que pensam os alunos, vítimas ou não dessas violências.

Para conhecer como os alunos percebem as violências no ambiente

escolar aplicamos questionários para 90 alunos, em idade de 12 a 15 anos,

que frequentam do sétimo ao nono ano do Ensino Fundamental da escola

pública em que se deu a intervenção com os professores. Foi utilizado o

questionário com questões abertas e fechadas sobre as violências na escola.

Dentre os 90 questionários aplicados, 02 foram inutilizados porque os alunos

não souberam responder e marcaram todas as respostas, ficando válidos 88

questionários.

Destes 88 alunos que participaram da pesquisa, 32% responderam que

não sofreram violências na escola e 67% sofreram alguma forma de violência

na escola.

Os dados revelados pelos questionários demonstraram as formas de

violências que ocorrem na escola: a) 38% consideraram os apelidos que não

gostam, como violência; b) 30% sofreram agressão física (socos, tapas e

chutes); c) 26% envolveram-se em brigas sem agressão física; d) 25%

sofreram zombaria; e) 17% sofreram ofensas; f) 11% sofreram discriminação;

g) 11% apontaram que tiveram seu corpo apalpado sem permissão; h) 6%

sofreram furto; i) 4% foi obrigado a dar dinheiro sob ameaça. As análises dos

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questionários demonstraram que a maioria das violências é de agressão verbal

com ofensas, zombaria e apelidos que magoam. Em segundo lugar aparecem

as agressões física dentro da escola. Não foram registrados casos de

violências contra a escola, de fora para dentro, nem de vandalismos. Entre os

alunos o desrespeito é muito grande.

Quanto às vítimas procurarem ajuda após a violência, verificou-se que:

a) 45% não procurou ajuda de alguém b) 23% das vítimas procuraram o diretor

e 20% procuraram a pedagoga após terem sofrido violências; c) 54% acham

que as pedagogas procuram punir os agressores; d) 34% acham que o diretor

procura punir os agressores.

Os resultados mostraram ainda que as providências mais citadas foram:

22% registrar na ficha do aluno; 22% fazer o aluno pedir desculpas; 17% dos

casos foi chamado os pais dos alunos. Constatou-se que embora a pedagoga e

o diretor tomem as citadas providências, (previstas no Regimento da escola),

49% dos alunos que sofreram violências acharam que não houve justiça na

resolução dos conflitos. Ao serem questionados sobre o motivo, somente

alguns escreveram:- “Porque a pessoa continuou fazendo isso.” –“Só pedir

desculpas e registrar não vai mudar o que aconteceu.” –“Porque a pessoa

continuou...” –“Nunca foi resolvido com justiça.” –“Porque a pessoa continuou

me ameaçando não tomavam providências justas.”

Quanto à postura dos profissionais da educação em relação aos alunos

vítimas de violências na escola, constatou-se que: a) 54% acham que a

pedagoga procura punir os culpados; b) 34% acham que o diretor procura punir

os culpados; c) 27% acham que professores procuram punir os culpados.

Percebe-se que não se configura a ausência de punição ou de medidas

para solucionar os conflitos por parte dos profissionais da educação. Esses

dados demonstram que considerável número de alunos que já foram vítimas de

violências expressam a sensação de impunidade que vigora no ambiente

escolar e que repercute negativamente entre os alunos. É um dado relevante a

ser considerado, apresenta-se como uma crítica dos alunos às medidas

regimentais, que por vezes tornam-se ineficazes.

Ao final do questionário, no item de sugestões dos alunos para a escola

tratar as violências, constatou-se que: a) 22% dos alunos não expressaram

sugestões; b) 10% sugeriu acompanhar melhor os casos; c) 9% pediram

punição severa; d) 6,8% sugeriram mais policiais; e) 5,6% sugeriram palestras;

f) 4,5% sugeriram dialogar mais. Portanto, os alunos esperam atitudes das

escola e, com essas sugestões, contribuíram significativamente para que a

escola possa planejar algumas ações.

As agressões verbais apontadas pela maioria dos alunos foram

provocações e apelidos dados pelos colegas. Embora ofensas, apelidos e

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constrangimentos sejam em frequentes, não temos dados suficientes para

afirmar que o bullying é o tipo de violência que mais ocorre. Ao ser

questionado sobre a frequência com que aconteceram as violências, os dados

revelaram que: a) 42% dos casos a violência ocorreram uma vez; b) 32% que a

violência acontece de vez em quando; c) 5% que a violência acontece

sempre.

Sobre grupos opressores atuantes na escola, os dados revelaram que

61% dos alunos afirmaram que gangues não atuam na escola e 28% afirmaram

que gangues atuam. Tal constatação confirmou a expectativa que tínhamos

antes da intervenção. Ao serem questionados se as vítimas continuam a ser

agredidas pelo agressor, 74% responderam que não continuam e 18%

respondeu que a violência continua. Por isso que consideramos a importância

da formação do professor que, conhecendo exatamente as características do

bullying, possa observar cuidadosamente os alunos na sala, identificar e intervir

posteriormente.

Alguns dados revelados são de suma importância para os professores,

outros nem tanto, mas todos contribuem significativamente para desenvolver os

estudos na formação e para planejar ações que possam diminuir e prevenir as

violências no ambiente escolar.

4.Resultados/Discussão

Os dados foram tabulados e analisados e identificaram que a maioria

das formas de violências que ocorrem são “ violências na escola”, como as

microviolências e as incivilidades, pois constatou-se que muitos conflitos

partem de provocações no interior da escola, apelidos e maus tratos entre os

alunos na sala de aula e fora dela, culminando em agressões físicas e verbais

graves.

A análise dos professores sobre os dados apontados pelos questionários

foi que se confirmaram as situações que são visíveis no quotidiano da escola e

a necessidade do coletivo escolar pensar sobre as violências. Alguns

professores analisaram com preocupação o fato das agressões físicas entre

os alunos aparecerem em segundo lugar. Alguns disseram:-“Já esperava esse

resultado.” “- Os alunos se agridem demais!” – Eles não sabem conversar, já

vão logo se estapeando!

As transgressões foram muito citadas pelos professores. Por serem

comportamentos contrários ao Regimento, causam indignação dos

professores. Nesse sentido, os professores também se preocupam com a

sensação de impunidade que repercute no ambiente escolar, com a ineficácia

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das normas regimentais concluem que o trabalho da gestão e do corpo docente

deve ser mais preventivo.

A todo novo encontro, por meio dos conteúdos trabalhados, confirmava-

se a necessidade de tratarmos das violências nas escolas. Os professores

participaram com muito interesse no sentido de estudarem os textos,

interpretarem, analisarem o que já se descobriu no campo que está sendo

pesquisado.

Nas reflexões sobre o texto de Gomes, os professores demonstraram a

contradição quanto às práticas autoritárias. Ao mesmo tempo em que alguns

acham que o papel do gestor autoritário é fundamental para o trato com os

alunos, para manter a disciplina e a ordem, não querem a mesma postura do

gestor em relação ao corpo docente. É difícil romper com esse ideário, mas as

análises deram um novo olhar sobre a gestão e as práticas institucionais.

Quanto ao trabalho da instituição, os professores analisaram as várias

práticas e fizeram inúmeras considerações, tais como o uso de uniforme que é

obrigatório, a entrada dos alunos, a formação de filas em vários momentos do

dia letivo, as condições das salas de aula, a rigidez dos horários, a ausência

de momentos de descontração no ambiente escolar, a ordem das carteiras

(que nunca mudam), o tempo das aulas que é muito curto. Tudo que é

externo e aparente foi rapidamente enumerado, entretanto, todos concluíram

que não podem ser modificadas porque garantem a ordem e ajudam na

disciplina dos alunos. Por mais que o texto de Gomes fosse muito rico em

fornecer subsídios de análise das práticas institucionais e pedagógicas, os

professores optam pelas prática tradicionais de organização.

Ao falarmos da importância de rever os conteúdos, de incluir

metodologias adequadas para que envolvam os alunos e evitem as situações

de indisciplina, houve concordância. Percebe-se que os professores refletem

sobre algumas mudanças necessárias nos tempos e os espaços escolares,

mas ao mesmo tempo sentem-se imobilizados e acomodados com o que está

convencionado e não têm iniciativa de mudar, aguardando sempre que venha a

imposição de um órgão superior como a Secretaria da Educação.

Durante as análises e discussões que analisaram as práticas do

encaminhamento do problema da violência e a prática de chamar a presença

da Patrulha Escolar, nem todos concordaram com os estudos apresentados. A

concepção de alguns professores é de que a autoridade policial pode ser a

única alternativa frente as violências, e que a escola deve buscar ajuda,

mesmo que o problema volte para a escola.

A análise dos professores quanto à relação das famílias com a escola foi

realmente preconceituosa. O texto de Perez enfatizou o que de fato ocorre na

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relação família e escola. Porém, os professores não reconhecem que tem essa

visão das famílias e não avançamos muito nesse sentido.

Os professores reconheceram a necessidade de se trabalhar valores

como respeito, solidariedade e amizade com os alunos dentro da sala de aula.

As estratégias para isso, sugeridas no texto de Telma Vinha, seriam rodas de

conversa que favoreçam o diálogo, assembleias semanais em que se

discutam as causas das incivilidades e transgressões, filmes, vídeos e músicas

com letras que expressem os valores da amizade, respeito, e solidariedade.

5.Considerações Finais

A metodologia da pesquisa-ação que o Programa de Desenvolvimento

da Educação proporcionou aos Professores-PDE, no sentido de possibilitar que

o professor tenha um nova postura, de analisar o problema , pesquisar e atuar

sobre ela, foi um conjunto de experiências desafiadoras e gratificantes.

Ao escolhermos os professores como sujeitos de minha intervenção eu

estava consciente de que o desafio seria ainda maior. Mas com a orientação

segura de minha Orientadora do PDE, eu senti que era o modo mais adequado

para trabalhar sobre a problemática das violências. E em todo processo de

Pesquisa-Ação, isso se confirmou.

Todos os trabalhos desenvolvidos de pesquisa, de planejamento, de

intervenção de GTR, de elaboração dos resultados, contribuiram para a

melhoria do exercício profissional como pedagoga e aproximaram-me dos

professores. Recuperamos o diálogo que entre nós estava esquecido devido à

correria do quotidiano escolar. Esse diálogo entre pedagogo e professor, é

fundamental para tratar das questões educacionais.

O tema escolhido das violências é atual e premente nas questões

importantes que temos na escola. Mais do que resolver a problemática que se

apresentou, foi fundamental pesquisar.

Todos os textos interessantíssimos que apresentaram conceitos e

análises apropriadas para a problemática da violência, foram objeto de leitura e

estudo, e assim contribuíram para que pudéssemos mudar alguns conceitos

velhos e preconceituosos que embasavam a minha prática. Sem a leitura e os

estudos, não se poderia conhecer as novas concepções que se apresentaram,

nem teria tido a capacidade de fazer uma intervenção pedagógica, com a

qualidade que foi realizada. Parece presunção ou falta de modéstia , mas é a

realidade, a intervenção foi muito agradável, aproximou os professores, foram

momentos de estudo, de reflexão produtiva e de diálogo entre todos os

envolvidos.

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Quando elaborou-se a unidade didática, introduzindo textos, vídeos e

atividades necessárias ao professor, teve-se o maior cuidado para que os

conteúdos fossem interessantes, atuais, úteis e que a metodologia usada fosse

adequada para não cansá-los demais, mas ao contrário, pudesse estimulá-los

a conhecer mais e a reverem suas práticas sob um novo olhar. Desse modo, foi

possível oferecer o embasamento teórico para práticas autônomas dos

professores e ao mesmo tempo, unir o grupo de professores para atuarem

coletivamente no sentido de enfrentamento das violências também.

Não chegamos a concretizar um projeto pedagógico próprio do grupo de

professores que participaram da formação. Entretanto, os primeiros passos

foram dados no sentido de elucidar conceitos, questionar e levar a reflexão

sobre a instituição escolar como promotora de violências. Com a leitura das

fontes que embasaram nossos trabalhos, o professor pode implementar várias

ações junto aos alunos para diminuir a violência no contexto escolar. Ou pelo

menos ter uma nova disposição em alterar suas práticas cotidianas e refletir

sobre elas.

Portanto, tem-se a certeza que os objetivos foram atingidos e que

contribuiu-se para a enriquecer as práticas pedagógicas dos professores

envolvidos. O enfrentamento da questão das violências permanece como um

desafio a ser superado, dia a dia, com a atenção devida de todos do coletivo

escolar. Essa responsabilidade é da escola, é de todos e cada um tem que

assumir.

6. Referências:

ABRAMOVAY, M; RUA, M. G. Violências nas escolas. Brasília, DF: Unesco,

2003.

ANTUNES, D. C.; ZUIN, A. A. S. Do bullying ao preconceito: os desafios da

barbárie à educação. Revista Psicologia & Sociedade. Belo Horizonte,v.20

(1) 33-42, 2008.

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