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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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ARTICULADORES DISCURSIVO-ARGUMENTATIVOS: SINALIZAÇÃO DA

ARGUMENTAÇÃO EM TEXTOS OPINATIVOS

Autora: Sandra Teixeira da Rocha1 Orientadora: Alcione Tereza Corbari2

Resumo: O presente artigo apresenta algumas reflexões teóricas, bem como um relato de experiência, referentes à nossa participação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), promovido pela Secretaria Estadual de Educação do Paraná (SEED). Neste texto consta, a princípio, uma abordagem acerca dos operadores discursivo-argumentativos – tema central deste trabalho – a partir dos estudos de Koch (2002, 2003, 2004, 2009), Bunzen e Mendonça (2006), Antunes (2010), Geraldi (2002). Na sequência, há um relato reflexivo sobre a Implementação Didática, ocorrida em turma de terceiro ano do Colégio Estadual Pacaembu, de Cascavel, Paraná. Encontra-se, também, neste artigo, uma seção que sintetiza nossa participação no Grupo De Trabalho em Rede (GTR) e, por fim, são apresentadas nossas considerações finais sobre a Implementação e sobre o PDE como um todo.

Palavras-chave: Argumentação. Artigo de Opinião. Articuladores discursivo-argumentativos.

INTRODUÇÃO

O presente artigo, que conclui nossa participação no Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), encerra uma síntese das ações referentes à

aplicação da Produção Didático-Pedagógica aos alunos do 3º ano matutino do

Colégio Estadual Pacaembu, da cidade de Cascavel, Paraná.

Com a nossa matrícula no referido programa, objetivávamos delinear uma

proposta de trabalho que ampliasse a autonomia do aluno nos processos de leitura,

de interpretação e de produção textual. Isso porque, em tais quesitos, os estudantes

do Ensino Médio, normalmente, apresentam uma defasagem muito acentuada.

Então, a fim de encontrar uma forma de enfrentar o relatado problema,

propusemos desenvolver um trabalho de intervenção pedagógica que consistisse

em ofertar aos alunos conhecimentos e estratégias que lhes capacitassem à

1 Professora de Língua Portuguesa da rede pública estadual de ensino do Paraná no Colégio

Estadual Pacaembu Ensino Fundamental e Médio-Cascavel e participante do Programa de Desenvolvimento Educacional da SEED – 2013/2014. 2 Doutora em Letras e Linguística pela UFBA, Mestre em Letras pela UNIOESTE, Professora do curso

de Letras da UNIOESTE, campus de Cascavel.

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percepção da importância dos recursos linguísticos, bem como dos efeitos destes

para a construção do(s) sentido(s) do texto. Para tanto, optamos por abordar, a partir

do gênero artigo de opinião, os articuladores discursivo-argumentativos, que

constituem um grupo de conectivos fundamentais ao bom exercício do discurso.

Ademais, em nosso trabalho escolar cotidiano, percebemos que os

estudantes não empregam corretamente tais elementos de coesão textual, o que

compromete seriamente sua capacidade de analisar e de produzir textos. Por isso,

acreditamos que um trabalho específico direcionado para tal fim pode contribuir

decisivamente para a inserção do aluno no domínio das práticas discursivas.

Em nossa Implementação Didática, serviram de modelo alguns artigos

veiculados pelo jornal Hoje, da cidade de Cascavel, bem como outros da autora Lya

Luft, publicados pela revista Veja. A escolha desse gênero textual se justifica pelo

fato de que sua natureza, essencialmente argumentativa, constitui corpus fecundo

para o trabalho com os articuladores discursivo-argumentativos.

Para essa abordagem, o aporte teórico adotado neste estudo foi pautado

principalmente em Koch (2002, 2003, 2004, 2009), Antunes (2010), Bunzen e

Mendonça (2006) e Geraldi (2002).

1 - Abordagem dos operadores discursivo-argumentativos na perspectiva da

Linguística Textual

Nas décadas de 60/70, a Linguística Textual – corrente teórica recém-surgida

e que começava a ser propalada em todo o continente europeu –, embora já

afirmasse o texto – e não as frases isoladas – como o verdadeiro fundamento para

os estudos linguísticos, sua perspectiva ainda era limitada, ocupando-se

basicamente com o exame dos mecanismos de análise das frases. Nesse período,

de acordo com Isenberg (1971 apud KOCH, 2009, p. 10), o texto era concebido

como uma “sequência coerente de significados”.

Nessa época, Dressller (apud KOCH, 2009) apresentou a possibilidade de

estabelecer limites rígidos entre sintaxe e semântica, postulando que esta última

deveria constituir o ponto de partida para a representação da estrutura dos

significados do texto e que as relações de sentido excediam as acepções das frases

tomadas avulsamente.

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Numa segunda fase, graças, sobretudo, à influência dos estudos de Teun Van

Dijk (1972 apud KOCH, 2009), a vertente linguística em questão ampliou seus

horizontes, passando a conceber o texto como fenômeno discursivo. É dessa época

que advêm as “gramaticas textuais”.

Por fim, numa terceira fase, os estudiosos dessa linha de pesquisa sentiram a

necessidade de ir além da abordagem sintático-semântica, procurando estabelecer

uma relação entre a teoria e a prática. Bunzen e Mendonça (2006), discorrendo

sobre esse período, relata que, a partir de então, começaram a ganhar destaque

questões do tipo: “Para quê ensinar a Gramática”? “O que ensinar como ensinar e o

que avaliar?”. Com efeito, compreendeu-se que a investigação de um texto envolve

processos de ordem cognitiva, o que implica saberes acumulados, experiências e

conhecimentos de mundo. Portanto, somente uma abordagem global das

manifestações textuais, que apreendesse toda a conjuntura a elas imanente, poderia

esquadrinhar de modo cabal os fenômenos linguísticos.

De tais reflexões, plasmou-se a Análise Linguística, segmento teórico que

ultrapassou o estudo tradicional das formas gramaticais, inserindo novos

paradigmas para o ensino de língua materna.

A Análise Linguística trouxe novas abordagens para temas historicamente

tratados pela Gramática Tradicional. Um exemplo disso ocorre com os operadores

discursivo-argumentativos – tema deste trabalho – que, em épocas anteriores, eram

enquadrados – e de forma muito limitada – ao conceito de conjunção.

Com efeito, os operadores discursivo-argumentativos integram, juntamente

com os lógico-semânticos, o tema da coesão sequencial, o qual, segundo Koch,

[...] diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre os segmentos do texto (enunciados, partes de enunciados, parágrafos e sequências textuais), diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas, à medida que se faz o texto progredir (KOCH, 2004, p. 53).

Conforme Fávero (2006), os mecanismos da coesão sequencial são os que

têm por função a progressão temática. Entre tais mecanismos, encontram-se os

operadores discursivo-argumentativos, os quais recebem esse nome por terem a

função de estruturar enunciados por meio de encadeamentos sucessivos,

orientando-os argumentativamente (KOCH, 2004). Neste trabalho, nos interessa a

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coesão sequencial, que está relacionada aos mecanismos empregados no texto

para que ele possa progredir.

Segundo Koch (2004), os operadores do tipo discursivo ou argumentativo têm

a função de estabelecer relações pragmáticas, retóricas ou argumentativas entre

orações de um mesmo período, entre dois ou mais períodos e entre parágrafos de

um texto. São responsáveis pela estruturação de enunciados em textos, por isso

também são chamados de operadores ou encadeadores do discurso, de acordo com

a autora.

Ainda de acordo com Koch (2003), as relações discursivo-argumentativas

encadeiam atos de fala distintos, como oposição, contraste, concessão, justificativa,

explicação, generalização, especificação, comprovação. Esses operadores são

responsáveis pela estruturação dos enunciados em textos, visando a justificar,

explicar, atenuar, contraditar, enfim, possuem suma importância para melhor

compreensão do funcionamento textual e das intenções do produtor do texto.

Os articuladores discursivo-argumentativos colaboram, então, para a

argumentatividade do texto. Segundo Koch (2004), são elementos que determinam o

valor argumentativo dos enunciados, constituindo-se em marcas linguísticas

imprescindíveis para a enunciação.

Nesse contexto, ressalta-se a importância da investigação acerca do uso

desses operadores em artigos de opinião e produções textuais, já que um desvio em

seu uso pode implicar em efeito de sentido(s) diferente(s) daquele(s) pretendido(s)

pelo autor.

Os articuladores discursivo-argumentativos são classificados de acordo com

as funções (relações semânticas) que desempenham. A seguir, colocam-se alguns

exemplos com base nos estudos desenvolvidos por Koch (2004, p. 72-77):

Conjunção: Ligam enunciados que constituem argumentos para uma mesma

conclusão. Ex.: e, também, mas também, tanto... como, além de , além disso, ainda,

nem...

Disjunção argumentativa: São orientações discursivas diferentes e resultam

de dois atos de falas distintos, em que, por meio do segundo, procura-se provocar o

leitor ouvinte para levá-lo a modificar sua opinião ou, simplesmente, aceitar a opinião

expressa no primeiro. Normalmente, essa relação é representada pela conjunção

ou.

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Contrajunção: Através da qual se contrapõem enunciados de orientações

argumentativas diferentes, devendo prevalecer a do enunciado introduzido pelo

operador em questão. Ex.: mas, porém, contudo, todavia...

Explicação ou justificativa: quando se encadeia, sobre um primeiro ato de

fala, outro ato que justifica ou explica o anterior. Ex.: pois, porque, que, já que...

Comprovação: São aqueles que, através de um novo ato de fala,

acrescenta-se uma possível comprovação da asserção apresentada no primeiro.

Ex.: (tanto, tal)... como (quanto), mais... (do), que, menos... (do) que...

Conclusão: Introduz um enunciado de valor conclusivo em relação a dois (ou

mais) atos de falas anteriores. Ex.: portanto, logo, por conseguinte, pois...

Comparação: Estabelece uma relação de inferioridade, superioridade ou

igualdade entre um termo comparante e outro comparado. Ex.: como (quanto), mais,

(do) que, menos...

Generalização/extensão: É quando o segundo enunciado exprime uma

generalização do fato contido no primeiro ou uma amplificação da ideia nele

expressa. Ex.: aliás, também, é verdade que, de fato, bem, mas, realmente...

Especificação/exemplificação: Ocorre quando o segundo enunciado

particulariza ou exemplifica uma declaração de ordem mais geral apresentada no

primeiro. Ex.: por exemplo, a saber, como...

Correção/definição: É quando, através de um segundo enunciado, se

corrige, suspende ou redefine o conteúdo do primeiro. Ex.: na verdade, pelo

contrário, isto é, ou melhor, de fato, ao contrário, ou seja...

Os articuladores discursivo-argumentativos presentes no ato de argumentar

são marcas linguísticas, cuja função é de orientar a sequência discursiva de um

enunciado, o que é indispensável ao desencadeamento de efeitos, de conclusões

propiciadas pelo contexto. Ou seja, tais marcas instigam e direcionam

argumentativamente a produção de sentido(s) para os textos.

2 - Os operadores discursivo-argumentativos no Artigo de Opinião

Com o reconhecimento alcançado pela Linguística Textual no âmbito do

ensino de Língua Portuguesa, houve, consequentemente, uma valorização dos

gêneros textuais. Isso porque, para essa corrente de estudos, o texto é o lugar por

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excelência de onde o professor deve extrair as devidas reflexões, bem como

delinear as atividades a serem desenvolvidas com os alunos.

Em nosso caso, como pretendíamos trabalhar os operadores discursivo-

argumentativos, era imprescindível que lançássemos mão de um gênero que

calhasse com tal proposta. Examinando, então, o quadro de gêneros discursivos

disposto pelas DCEs paranaenses – o qual está dividido em nove “esferas de

circulação” –, chamou nossa atenção um grupo muito diversificado ligado à esfera

“imprensa”. Entre os gêneros constantes nesse segmento, vislumbramos que o

“Artigo de Opinião” se enquadrava perfeitamente ao nosso intento final, que era o de

fomentar nos estudantes o poder da argumentatividade.

Com efeito, o Artigo de Opinião é um gênero fundamentalmente

argumentativo, “pois está voltado ao domínio social da discussão de assuntos

sociais controversos, objetivando um posicionamento frente a eles, exigindo para tal,

sustentação e tomadas de posição” (OHUSCHI; BARBOSA, 2011, p. 305).

Ademais, a opção por essa modalidade textual teve como vantagem o fato de,

em razão de o jornal Hoje, de Cascavel, conter seções direcionadas para tal gênero,

poderíamos discutir com os alunos temas locais, partindo da opinião de um jornalista

desta região. Assim, os estudantes tiveram por objeto de estudo algo próximo ao

seu cotidiano, o que facilitou o bom andamento das atividades.

Com efeito, segundo Koch (2004), quando interagimos por meio da

linguagem, temos sempre objetivos, fins a serem atingidos; há relações que

desejamos estabelecer, efeitos que pretendemos causar, comportamentos que

queremos ver desencadeados, isto é, pretendemos atuar sobre o(s) outro(s) de

determinada maneira, obter dele(s) determinadas reações (verbais ou não verbais).

É por isso que se pode afirmar que o uso da linguagem é essencialmente

argumentativo, pois pretendemos orientar os enunciados que produzimos no sentido

de determinadas conclusões (com exclusão outras), conforme pontua a autora. “Em

outras palavras, procuramos dotar em nossos enunciados determinada força

argumentativa” (KOCH, 2004, p. 29).

A argumentação e a persuasão fazem parte do cotidiano, estando presentes

em editoriais, discursos políticos, jurídicos, publicitários e até em alguns textos que

se pretendem neutros, mas não resistem a uma análise que desmascare as ideias

ali defendidas.

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Como ser dotado de razão e vontade, o homem, constantemente, avalia,

julga, critica, isto é, forma juízos e valor. Por outro lado, por meio do discurso – ação

verbal dotada de intencionalidade – tenta influir sobre o comportamento do outro ou

fazer com que compartilhe determinadas de suas opiniões. Conforme Koch (2002),

[...] É por essa razão que se pode afirmar que a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepção mais ampla do termo. A neutralidade é apenas um mito: o discurso que se pretende “neutro”, ingênuo, contém também uma ideologia – a da sua própria objetividade (KOCH, 2002, p.17).

Qualquer uso de linguagem implica argumentação, como afirma Koch (2004),

porém há textos em que a argumentação fica explícita, como é o caso do Artigo de

Opinião. Neste e em outros textos opinativos, para convencer alguém, os

argumentos são essenciais e precisam estar postos de forma clara, explícita. No

diálogo propiciado por meio de textos opinativos, a argumentação leva a conhecer

novas formas de pensar e oportunidades de reelaborar conceitos e atitudes,

portanto, é uma estratégia de aprendizagem e amadurecimento (DEPUBEL;

SOARES, 2010).

Em face do exposto, o modelo de análise de artigos de opinião proposto neste

trabalho deve levar em consideração o texto como um todo. Sendo assim, ao

analisarmos os operadores argumentativos, não olharemos frases isoladas de um

contexto, pois assim estaríamos separando elementos de um conjunto, e num texto

absolutamente nada é separável totalmente (ANTUNES, 2010). Dessa forma,

mesmo que se olhe atentamente para um aspecto particular, o que pretendemos

compreender é de que forma os elementos linguísticos focalizados podem afetar a

dimensão global da produção.

Em suma, o entendimento do uso dos operadores discursivo-argumentativos

pelos alunos é essencial para estes desenvolvam a capacidade de argumentação.

Para tanto, o gênero Artigo de Opinião, como ser verá, configura um terreno fértil

para tal abordagem.

3 - Exercícios de Análise Linguística com foco nos operadores discursivo-

argumentativos

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Conforme Bezerra e Reinaldo (2013), a prática de Análise Linguística propicia

aos alunos, entre outras coisas, a comparação entre textos, bem como a reflexão

sobre a adequação e sobre efeitos de sentidos presentes. Procura-se, assim, levar o

aluno a compreender e a se apropriar das alternativas que a língua lhes oferece

para sua comunicação.

Todavia, a ascensão da Análise Linguística no currículo de língua portuguesa

nacional é uma conquista relativamente recente. De acordo com Souza e

Cavalcante (2012), a partir das décadas de 1980 e 1990, passou-se a viver uma

redefinição bastante marcante quanto aos objetivos do ensino da Língua

Portuguesa, até então marcado pela Gramática Normativa.

Com efeito, em meados dos anos 80, além das contribuições advindas dos

estudos da Linguística e da Linguística Aplicada, os estudos construtivistas

começaram a ser disseminados no Brasil. Por conseguinte, o ensino pautado na

memorização e na fixação dos conteúdos da gramática, bem como a reprodução de

atividades de escrita propostas pela escola até então começaram a ser motivo de

questionamentos entre estudiosos da língua e professores. Outrossim, no processo

de ensino e aprendizagem, passou-se a considerar o conhecimentos prévio dos

alunos e o papel do professor como mediador entre a reflexão acerca desses

conhecimentos e aqueles que à escola cabia ensinar (MENDONÇA; BUZEN, 2006).

Nesse sentido, a análise linguística se diferencia, em diversos aspectos, do

ensino tradicional de gramática, conforme o quadro abaixo, elaborado por Mendonça

(2006):

Quadro 1 – Esquema comparativo entre ensino de gramática e prática de Análise

Linguística

Ensino de Gramática Prática de Análise Linguística (AL)

Concepção de língua como sistema, estrutura inflexível e invariável.

Concepção de língua como ação interlocutiva situada, sujeita às interferências dos falantes.

Fragmentação entre os eixos de ensino: as aulas de gramática não se relacionam necessariamente com as de leitura e de produção textual.

Integração entre os eixos de ensino: a AL é ferramenta para a leitura e a produção de textos.

Metodologia transmissiva, baseada na exposição dedutiva (do geral para o particular, isto é, das regras para o exemplo) + treinamento.

Metodologia reflexiva, baseada na indução (observação dos casos particulares para conclusão das regularidades/regras).

Privilégio das habilidades metalinguísticas. Trabalho paralelo com habilidades

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metalinguísticas e epilinguísticas.

Ênfase nos conteúdos gramaticais como objetos de ensino, abordados isoladamente e em sequência mais ou menos fixa.

Ênfase nos usos como objetos de ensino (habilidades de leitura e escrita), que remetem a vários outros objetos de ensino (estruturais, textuais, discursivos, normativos), apresentados e retomados sempre que necessário.

Centralidade na norma-padrão. Centralidade nos efeitos de sentido.

Ausência de relação com as especificidades dos gêneros, uma vez que a análise é mais de cunho estrutural e, quando normativa, desconsidera o

Fusão do trabalho com os gêneros, na medida em que contempla justamente a intersecção das condições de produção dos textos e as escolhas linguísticas.

Unidade privilegiada: a palavra, a frase e o período.

Unidade privilegiada: o texto.

Preferência pelos exercícios estruturais, de identificação e classificação de unidades/funções morfossintáticas e correção.

Preferência por questões abertas e atividades de pesquisa, que exigem comparação e reflexão sobre adequação e efeitos de sentido.

Fonte: Mendonça (2006, p. 207)

Ainda na década de 1980, a Análise Linguística teve um grande impulso com

os trabalhos de João Wanderley Geraldi. Aliás, foi esse autor quem primeiro utilizou

o termo “Análise Linguística” (TEIXEIRA, 2011).

Muitos associam Geraldi à ideia de um pensador que postulou a supressão

absoluta da Gramática Tradicional nas aulas de português. Essa fama se deve,

sobretudo, à perspectiva aparentemente iconoclasta de sua obra O texto em sala de

aula, publicada em 1984. Todavia, conforme vemos no livro Portos de Passagem, de

1991, Geraldi, em vez de simplesmente contestar o ensino gramatical, parece querer

alçar o conceito de Análise Linguística a um patamar mais elevado, que englobaria

tanto as atividades “metalinguísticas” quanto as “epilinguísticas”. Portanto, ele refuta

a ideia que entre essas esferas haveria uma dicotomia.

Com a expressão “Análise Linguística” pretendo referir precisamente este conjunto de atividades que tomam uma das características da linguagem como seu objeto: o fato de ela poder remeter a si própria, ou seja, com a linguagem não só falamos sobre o mundo ou sobre nossa relação com as coisas, mas também falamos sobre como falamos. Como já vimos, a estas atividades têm sido reservadas as expressões 'atividades epilinguísticas' ou 'atividades metalinguísticas' (GERALDI, 2002, p. 191).

Com o termo “atividades metalinguísticas”, Geraldi está se referindo a uma

abordagem que apreende a linguagem em si – como o faz a Gramática. Já pelo

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termo “atividades epilinguísticas” o autor se reporta a um estudo que investiga

pragmaticamente o fenômeno linguístico, relacionando este a todo o contexto

(histórico, social, ideológico etc.) que o subjaz.

Embora afirme que “as gramáticas existentes, enquanto resultado de uma

certa reflexão sobre a linguagem, são insuficientes para dar conta das muitas

reflexões que podemos fazer” (GERALDI, 2002, p. 192), o linguista em questão

observa:

Note-se, pois, que não estou banindo das salas de aulas as gramáticas (tradicionais ou não), mas considerando-as fonte de procura de outras reflexões sobre as questões que nos ocupam nas atividades epilinguísticas (GERALDI, 2002, p. 192, grifo do autor).

Em suma, Geraldi não contesta a abordagem dos tópicos gramaticais em sala

de aula, mas sim que essa abordagem se dê mediante o exame de frases isoladas.

Então, o linguista postula que o professor deve partir de atividades de leitura e de

produção de textos – “pois é no interior destas e a partir destas que a Análise

Linguística se dá” (GERALDI, 2002, p. 189) – e, daí por diante, desenvolver os

conteúdos conforme a dinâmica que o texto propicia.

Assim, estas atividades produzem uma linguagem (a metalinguagem) mais ou menos coerente que permite falar sobre a linguagem, seu funcionamento, as configurações textuais e, no interior destas, o léxico, as estruturas morfossintáticas e entonacionais (GERALDI, 2002, p. 191).

As propostas de Geraldi, como também a de outros linguistas que,

semelhantemente, propunham a substituição do modelo gramatical normativo pelo

da Análise Linguística no ensino do português, foram se consolidando nas décadas

seguintes. No Paraná, em 2008, com a publicação das Diretrizes Curriculares da

Educação Básica (DCEs), a corrente de estudos em pauta foi abonada.

O estudo da língua que se ancora no texto extrapola o tradicional horizonte da palavra e da frase. Busca-se, na análise linguística, verificar como os elementos verbais (os recursos disponíveis da língua), e os elementos extras verbais (as condições e situação de produção) atuam na construção de sentido do texto (PARANÁ, 2008, p. 60).

Segundo Travaglia,

Quando se trabalha com o ensino teórico, sugerimos que ele deve ter objetivos, tais como: facilitar, no ensino, a referência a elementos da língua,

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mas não deve ser cobrado dos alunos, sobretudo no Ensino Fundamental e em especial em suas séries iniciais (1ª a 4ª); portanto, ser um instrumento de mediação e não um fim em si; b) ser objeto de uma cultura científica necessária na vida moderna; c) ser usado como um instrumento para ensinar a pensar (objetivo geral da educação e não um objetivo de ensino de língua) (TRAVAGLIA apud TEIXEIRA, p. 2011, p. 165).

Conforme Fiorin e Savioli (1996), quando se escreve, é preciso usar o

conector adequado ao tipo de relação que se quer exprimir, com vistas à elaboração

da argumentação. Tal afirmação torna-se imprescindível para que possa haver

coesão e coerência dentro de um escrito.

Para a Gramática Normativa, tais operadores são classificados apenas como

classes de palavras invariáveis. Dessa forma, o aprendizado sobre eles, na língua

portuguesa, fica muito vago e aumenta a dificuldade de se criarem opiniões crítico-

interpretativas.

4 - Relato reflexivo da implementação Didática

Nossos trabalhos tiveram início com a apresentação do Projeto de

Intervenção Pedagógica à direção, à equipe pedagógica, ao corpo docente e aos

agentes educacionais do Colégio Estadual Pacaembu.

Na semana seguinte, em nosso primeiro encontro com a turma em que

aplicaríamos o projeto – o terceiro ano do Ensino Médio –, fizemos uma exposição

geral acerca do PDE, destacando a importância dessa iniciativa para a Educação

como um todo. Em seguida, explicamos que a Implementação trataria dos

articuladores discursivo-argumentativos, tendo como base o gênero artigo de

opinião. Fizemos, então, uma explanação geral acerca desse assunto, salientando

que, nos encontros posteriores, haveria um aprofundamento maior.

No segundo encontro, os alunos foram orientandos a pesquisar na internet,

em jornais, em revistas e em livros as principais características do gênero em foco.

Depois, apresentamos a esses jovens um trecho do filme “Vem dançar”, no qual é

mostrada a cena em que um professor de dança, numa reunião com os pais, tentar

convencer estes, mediante argumentos bem fundamentados, sobre a importância da

dança naquele ambiente social.

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Partindo de uma recapitulação da cena assistida, no encontro seguinte, os

alunos debateram a mesma questão – porém, trazendo-a para a realidade deles – e,

em grupos, discutiram a tese, formulando argumentos.

No quarto encontro, trabalhamos o Artigo de Opinião oralmente, explorando a

estrutura do gênero. Além disso, mostramos aos alunos características recorrentes

nesse gênero, ressaltando que argumentação e persuasão fazem parte do cotidiano.

Muitos alunos, entretanto, afirmaram desconhecer o fato de existir, em jornais e em

revistas, um espaço próprio destinado ao Artigo de Opinião. Além disso, muitos

disseram que nunca leram um artigo.

No quinto encontro, analisamos o plano global e as partes que compõem um

Artigo de Opinião. Para enfatizar esse conteúdo e para que os alunos aprendessem

mais sobre o gênero proposto, apresentamos algumas características gerais, tais

como o contexto de produção, de circulação e de recepção. A fim de exemplificar,

apresentamos dois Artigos de Opinião veiculados no jornal Hoje, de Cascavel.

Inicialmente, fizemos uma discussão oral acerca da temática tratada neles.

Localizamos, na sequência, a tese defendida pelos autores e discutimos com que

finalidade tais textos foram publicados naquele jornal. Destacamos também a

relevância e a função de determinadas palavras, principalmente os conectivos,

usadas pelos autores para manifestarem sua opinião. Nessa aula, alguns alunos

tiveram dificuldades para responder certas questões de análise linguística propostas

na Unidade Didática (tais questões enfocavam algumas estratégias argumentativas

que o autor do texto utilizou para defender seu ponto de vista).

No encontro seguinte, exploramos, em outro artigo, as estratégias

argumentativas nele presentes. Com isso, pretendíamos destacar que, geralmente,

o Artigo de Opinião está associado a um tema polêmico da atualidade. Assim, ao

dialogar com alguma questão polêmica – concordando ou discordando – o Artigo de

Opinião constitui-se em um texto argumentativo, polifônico e dialógico.

Do sétimo ao nono encontro, trabalhamos com os estudantes uma sequência

de atividades – previamente encandeadas – que envolviam, entre outras coisas, o

estudo da coesão textual – especialmente, a sequencial – e, especificamente, o

exame dos articuladores discursivo-argumentativos, tudo isso a partir de frases

retiradas de artigos publicados por Lya Luft na revista Veja.

No décimo e no décimo primeiro encontro, os estudantes procederam à

realização de exercícios de análise linguística, assim como uma leitura reflexiva a

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partir de dois artigos publicados no jornal Hoje. Observou-se, também, na ocasião, o

emprego de alguns elementos importantes para a argumentação e para a sequência

argumentativa. Em outro momento, com o intuito de que os alunos aprendessem

mais sobre o gênero proposto, salientamos a importância do reconhecimento do

contexto de produção, de circulação e de recepção na interação com o texto. Para

ratificar o que havíamos exposto, outros dois Artigos de Opinião veiculados no jornal

Hoje foram apresentados em multimídia. Inicialmente, fizemos uma discussão oral

acerca da temática, da tese defendida pelos autores, bem como do objetivo em

razão do qual esses artigos foram publicados nesse jornal. Ainda por meio da

oralidade, destacamos a relevância e a função de determinadas palavras,

principalmente dos conectivos, usadas pelos autores para manifestarem sua opinião.

No décimo segundo encontro, os alunos fizeram exercícios de análise

linguística, observando a função semântico-discursiva dos articuladores discursivo-

argumentativos. Em seguida, por meio de exemplos mostrados no multimídia,

abordamos os efeitos de sentido imanentes ao uso dos articuladores discursivo-

argumentativos, aprofundando, assim, o conceito de coesão textual. Depois

apresentamos os principais tipos de articuladores propostos por Koch (2004). Os

alunos não apresentaram dificuldades para fazer as atividades propostas. Ao

contrário, muitos perceberam que, dependendo da escolha de um ou outro

conectivo, pode-se modificar e/ou atribuir outro sentido ao enunciado. Também

começaram observar o uso dos modalizadores em suas falas e na dos colegas de

classe.

No décimo terceiro encontro, os alunos participaram de um jogo intitulado

“Jogo dos articuladores”, que objetivava identificar os articuladores e usá-los

apropriadamente. No encontro seguinte, os estudantes receberam um texto que

apresentava espaços para serem preenchidos com conectores; a turma, em sua

maioria, completou a atividade de modo adequado.

No décimo quinto encontro, partindo de uma retomada das principais

características do gênero abordado até então, os alunos produziram um artigo de

opinião observando o emprego dos articuladores argumentativos estudados. Para

realizar esta atividade, eles foram ao laboratório de informática, leram vários Artigos

de Opinião publicados naquela semana pelo jornal e, em seguida, cada aluno

escolheu um tema polêmico para produzir seu texto. Fizemos, a partir daí, uma

análise do texto de dois alunos, observando as estratégias argumentativas e os

Page 15: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · enunciados, parágrafos e sequências textuais), diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas, à medida que se faz

conectivos empregados, sobretudo dos articuladores discursivo-argumentativos que

os alunos utilizaram para manifestar sua opinião.

Para a avaliação do nível de compreensão alcançado pelos estudantes no

decorrer da Unidade Didática, fizemos a correção dos artigos de opinião produzidos

por eles, observando o emprego adequado dos articuladores discursivo-

argumentativos. Depois, procedemos à coleta de alguns textos (sem identificar o

autor) e os apresentamos em multimídia, analisando as situações em que os

articuladores foram ou não empregados corretamente, ressaltando a função e os

efeitos de sentidos que tais vocábulos carregam em diferentes situações de

comunicação.

Durante a implementação do projeto, tivemos que mudar alguns

encaminhamentos metodológicos, pois observamos que alguns alunos

apresentavam dificuldades, principalmente em relação à compreensão de questões

de análise linguística, que abordavam alguns articuladores discursivo-

argumentativos.

No entanto, podemos afirmar que o resultado da intervenção pedagógica foi

muito produtivo, pois contribuiu para que os alunos do 3º ano do Colégio Estadual

Pacaembu conhecessem e compreendessem a função dos conectivos em pauta,

bem como as especificidades do gênero Artigo de Opinião. Com efeito, perceberam

que, embora cada enunciado seja resultante de atos de fala distintos (KOCH, 2004),

eles se entrelaçam em encadeamentos sucessivos, expressando a vontade do

produtor de agir sobre o interlocutor, mobilizando este para concordar com sua

opinião.

5 - Reflexão Sobre o GTR (Grupo de Trabalho em Rede)

Concomitantemente à Implementação Didática, pudemos, na função de

tutora, compartilhar nossas experiências com outros professores no Grupo de

Trabalho em Rede (GTR), que é um curso de capacitação promovido pela SEED.

Na primeira Temática, apresentamos aos cursistas o Projeto de Intervenção

Pedagógica, solicitando-lhes que, por meio do Fórum de Debates e do Diário,

opinassem sobre a relevância do nosso tema e que refletissem sobre a

exequibilidade deste em turmas de terceiro ano no Ensino Médio. A participação e a

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interação dos cursistas foram relevantes, de modo que contribuíram para a reflexão

e a construção do conhecimento deles a respeito do projeto analisado.

Nesse sentido, alguns professores ressaltaram a importância do projeto

enquanto contribuição para o ensino da gramática estrutural e posterior análise

linguística. Além disso, foi citado que o aluno da escola pública deve ter acesso a

leituras que visem sua formação crítica a partir da compreensão dos significados dos

operadores argumentativos. Nessa perspectiva, foi abordado que o projeto enfatiza

um grande problema que as escolas estão enfrentando na atualidade, por exemplo,

que alunos estão chegando ao ensino médio sem dominar a leitura e a produção de

texto.

Na temática II, os cursistas apontaram algumas observações a respeito da

Produção Didático-Pedagógica, enfatizando a relevância desta para turmas de

terceiro ano. Ademais, enalteceram o material elaborado, que, segundo eles, é rico

em conteúdo, além de conter atividades significativas e diversificadas.

Os cursistas consideraram a proposta interessante, possível de

desenvolvimento de acordo com a especificidade de cada turma e escola, reiterando

que não é novidade para nós, professores, que nossos educandos do ensino médio,

na sua maioria, apresentam sérias dificuldades relacionadas à leitura e

compreensão/interpretação de textos. Basta analisarmos os índices das avaliações

externas, incluindo o SAEP. E por fim, ressaltaram que é um trabalho que se

diferencia das atividades apresentadas nos livros didáticos, e que por meio desta

produção didático-pedagógica será possível enfatizar, contextualizar e aprofundar

determinados conteúdos, que normalmente são abordados superficialmente,

desvinculados das situações concretas de escrita.

Na Temática III, foi o momento de relatar as ações e os resultados referentes

à aplicação do projeto. Nesta etapa, os cursistas foram muito solícitos,

demonstrando interesse de aplicar nossas atividades com turmas em que lecionam.

Os professores, de modo geral, destacaram a relevância de trabalhos desse

jaez na formação dos alunos, uma vez que o conhecimento, ao ser trabalhado de

forma associada à realidade do aluno, faz com que este compreenda a função

daquele saber, adquirindo um aprendizado mais profundo. Quanto às dificuldades

enfrentadas, estas fazem parte do processo ensino aprendizagem, até porque

lidamos com pessoas em diferentes realidades e vivências. A respeito da

reestruturação, essa etapa foi considerada fundamental, pois se o aluno consegue

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reorganizar o seu ou outro texto no sentido de diminuir ou eliminar os problemas

relacionados à coesão textual - sequencial é porque ele realmente incorporou esses

conceitos.

Algumas metodologias alternativas, como tablet em sala de aula, ou o quadro

interativo foram apontadas com ferramentas importantes para o processo ensino

aprendizagem. No decorrer da análise dos resultados, os professores cursistas

citaram o jogo dos articuladores, que desenvolvido e implementado no projeto,

servirá de alicerce para que os alunos produzam seus textos, orais e escritos

efetivamente, ou seja, que participem do mundo com voz ativa e clara. E esse

processo poderá contribuir também para a formação de um produtor de texto capaz

de manifestar-se coerentemente com a situação de interação que participa.

Considerações finais

Este artigo configurou uma síntese dos resultados da implementação, em

âmbito escolar, de nossa Produção Didático-Pedagógica, bem como uma análise

dos pressupostos teóricos que orientaram as atividades trabalhadas.

Inspirados pelos princípios da Análise Linguística e, de forma especial, pelos

estudos de Koch (2002, 2003, 2004, 2009), procuramos, a partir do gênero Artigo de

Opinião, estabelecer um programa atividades com o intuito de explorar os

articuladores discursivo-argumentativos, aguçando, nos estudantes, o poder da

argumentatividade. A despeito de alguns contratempos, os resultados foram muito

satisfatórios. Ao longo de todo o processo, os alunos, paulatinamente, engajaram-se

em nossa proposta, empenhando-se, com afinco, na execução das atividades

estabelecidas. Porém, a maior comprovação do sucesso de nosso empreendimento

é que, nos exercícios finais, que envolviam a produção de Artigos de Opinião

partindo de uma reflexão acerca dos conectivos em destaque, a qualidade dos

textos apresentados foi de altíssimo nível, o que nos leva a crer que, se projetos

desse gênero forem desenvolvidos regularmente em todas as séries do Ensino

Médio, os estudantes poderão assegurar avanços consideráveis no domínio das

práticas discursivas.

Foi também uma experiência enriquecedora a tutoria do Grupo de Trabalho

em Rede (GTR). Além do privilégio de partilhar com os cursistas as experiências

vivenciadas durante a Implementação Didática, pudemos aprender muito com as

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postagens que eles efetuaram no decorrer dos módulos. Tratava-se de um grupo de

professores muito qualificado, cuja experiência contribuiu significativamente não só

para o desenvolvimento dos trabalhos, como também para o nosso crescimento

pessoal.

O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) constituiu uma

experiência singular em nossa carreira docente, sobretudo porque nos propiciou

uma verdadeira imersão no universo da Análise Linguística, possibilitando uma

intervenção pedagógica com vistas a fomentar nos estudantes a capacidade de

argumentação, tornando-os cidadãos críticos, aptos para defender proficientemente

suas opiniões.

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