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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
SIMONE LUIZA BARANHUK
PEDAGOGO-COACH NO COTIDIANO ESCOLAR E OS PROCESSOS PEDAGÓGICOS
CURITIBA 2014
SIMONE LUIZA BARANHUK
PEDAGOGO-COACH NO COTIDIANO ESCOLAR E OS PROCESSOS PEDAGÓGICOS
Artigo final apresentado à coordenação do PDE/SEED Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2013 – Área: Pedagogia – IES: UFPR – Orientadora: Professora PhD Sônia Maria Chaves Haracemiv
CURITIBA 2014
PEDAGOGO-COACH NO COTIDIANO ESCOLAR E OS PROCESSOS PEDAGÓGICOS
Autora: Simone Luiza Baranhuk1 [email protected]
Orientadora: Profª PhD Sônia Maria Chaves Haracemiv2 [email protected]
RESUMO: O presente artigo foi produzido a partir do Projeto de Intervenção Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná - SEED e do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná - UFPR, turma 2013. A intenção foi levar à reflexão, no sentido de encontrar caminhos e respostas para as inquietações que permeiam o trabalho do pedagogo na articulação das ações pedagógicas, quanto à clareza de sua identidade/formação e atuação, através de estudos, questionamentos, reflexões e discussões, junto à equipe pedagógica. O objeto de estudo, Coaching Educacional, foi apresentado numa metodologia que o pedagogo-coach pode utilizar no seu cotidiano e que possibilita o desenvolvimento de um trabalho junto a seus pares, na organização do espaço e tempo da escola necessária para a atualidade, sem perder de vista o Projeto Político Pedagógico, o desempenho, a aprendizagem e o desenvolvimento de si próprio, como também, dos gestores, docentes e discentes, sob um novo olhar. Palavras-chave: Pedagogo; Prática Pedagógica; Perfil de Competências.
Introdução
O pedagogo da escola pública enfrenta dificuldades no cotidiano escolar em
fazer com que os processos pedagógicos aconteçam com a efetividade desejada e
necessária.
Dentre os enfrentamentos encontrados pelos pedagogos, um dos principais
desafios é a grande quantidade de atribuições que o transformam em um
profissional multitarefa, de forma que o trabalho pedagógico fica secundarizado em
função de ações pontuais que aparecem no cotidiano da escola. Este contexto nos
leva a refletir sobre qual perfil de pedagogo-coach escolar é necessário para articular
os espaços e tempos pedagógicos da escola de hoje?
A sociedade atual precisa de um profissional comprometido com a busca de
soluções para os problemas da educação, com responsabilidade social, de forma
1 Professora Especialista do PDE 2013, Coaching Educacional, Pedagogia, Colégio Estadual do Paraná.
2 Professora PhD em Educação da Universidade Federal do Paraná, Setor de Educação, Departamento de Teoria e Prática de
Ensino.
crítica, com domínio de conteúdo científico, pedagógico e técnico, ético, político e
sujeito histórico.
A proposta desse trabalho foi refletir sobre o processo de coaching, como
metodologia no desenvolvimento de competências e habilidades dos pedagogos,
fazendo parte do seu trabalho no cotidiano da escola, no desempenho de suas
funções e atribuições para a articulação das ações pedagógicas. Para tanto, buscou-
se com os objetivos propostos, contribuir com a difusão de uma prática colaborativa
na escola pública, de forma a trazer novos elementos que possibilitem um real
avanço no trabalho do pedagogo escolar.
Foi necessário conceituar “coach e coachee (pessoas) e coaching (processo)”
e caracterizar a trajetória profissional do pedagogo na literatura, investigando as
atribuições desenvolvidas no espaço escolar, no ano letivo, pelo pedagogo, visando
verificar se há articulação entre o projeto pedagógico da escola e as pessoas
envolvidas no processo, de forma a identificar as aproximações e distanciamentos
das atribuições desenvolvidas pelo pedagogo, com as atribuições necessárias para
atuar como pedagogo-coach articulador pedagógico.
Encaminhamentos Metodológicos
Utilizou-se a pesquisa-ação para articular a pesquisa teórica à prática, de
forma a revelar os fatos que acontecem na escola e que causam estranhamento ao
processo pedagógico, após estudos e reflexões, na busca de ações que levem à
mudança. A pesquisa-ação
(...) é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os representativos da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2008, p.16).
Em se tratando de uma pesquisa aplicada, cujos objetivos foram
exploratórios, pois, sendo Coaching Educacional um tema com pouco conhecimento
acumulado, foi necessário uma descrição do campo, com coleta de dados junto aos
pedagogos da escola, com o objetivo de traçar o perfil dos pedagogos atuantes para
poder comparar os distanciamentos ou aproximações dos seus fazeres frente às
suas atribuições prescritas no Regimento Escolar, como também, uma pesquisa
documental quando da análise dos documentos e das atribuições contidas nos
referidos documentos, visando correlação destas descrições com as exercidas pelo
pedagogo no seu lócus de trabalho e de um coach.
Foram sujeitos da investigação 13 pedagogos dos três turnos do Colégio
Estadual do Paraná, do município de Curitiba. No primeiro semestre de 2014, foi
trabalhado o Caderno Pedagógico, contendo estratégias de ações, discutidas
durante as oficinas de estudos, visando investigar o auto-perfil que o pedagogo tem
de si, frente às atribuições do seu fazer na escola, suas impressões sobre as
atribuições que deve desempenhar, os problemas enfrentados e estratégias de
superação das necessidades percebidas com a utilização do Coaching Educacional
prescrito na literatura, com o objetivo de contribuir para o processo educacional de
maneira qualitativa, de acordo com os objetivos propostos no PDE. Ao mesmo
tempo, participaram 13 pedagogos da rede estadual de ensino, através do Grupo de
Trabalho em Rede - GTR 20143, sendo que deste grupo 4 participantes são
pedagogas do CEP e trabalharam nas oficinas, as outras 9 participantes, atuam em
escolas das seguintes cidades: Araucária (1), Campo Largo (1), Curitiba (1),
Colombo (1), Londrina (1), Marechal Candido Rondon (1), Palmas (1), Paranaguá (1)
e São José dos Pinhais (1).
O pedagogo-coach articulador dos espaços e tempos pedagógicos: histórico e conceito
Ao repensar o pedagogo e seu papel conforme as necessidades educacionais
que surgem com cada momento histórico, hoje, é do pedagogo como articulador das
ações pedagógicas. Historiando, vemos no cenário paranaense, na década de 90, o
panorama vigente, onde:
(...) o Orientador Educacional, teve a sua função assegurada no interior da escola, pois na ausência deste profissional, a demanda permanecia em aberto, não podendo ser substituído. Enquanto isso, os cargos de Supervisão Escolar e Coordenação poderiam ser preenchidos por professores de diferentes áreas, sendo “cargo de confiança” do diretor, que eleito pela comunidade escolar pelo voto direto, direcionava tais cargos de acordo com seus interesses políticos e/ou pessoais (VILA, 2007, p. 7).
3 Modalidade de Educação a Distancia oferecido pela Secretaria Estadual de Educação do Paraná - SEED/PR, como
Formação Continuada dos Professores da rede pública estadual. Neste caso, o grupo citado fez parte do curso intitulado: SIMONE LUIZA BARANHUK - GTR 2014: Pedagogo-Coach no cotidiano escolar e os processos pedagógicos.
Em 2000, outra mudança importante acontece nas Escolas Públicas do
Paraná, com a junção das categorias do Orientador Educacional e do Supervisor
Escolar, onde:
(...) unificou-se as funções dos especialistas, passando de Supervisão Escolar e Orientação Educacional para Equipe Pedagógica, cargo a ser ocupado pelo então denominado “Professor Pedagogo”, não diferenciando uma ou outra função. Desta vez, a formação em Pedagogia é exigência básica para ocupar o cargo, podendo ser profissional efetivo por meio de concurso público, e na falta deste, através de contratos temporários (VILA, 2007, p. 8).
A partir da Lei complementar nº 103/2004, no Estado do Paraná, que dispõe
sobre o plano de carreira dos professores da Rede de Educação Básica, no artigo
4º, inciso 5º do capítulo III, delibera que o pedagogo é professor, ficando a partir daí,
adotado o termo professor pedagogo no Estado do Paraná. Sendo que no Art. 33
fica estabelecido:
Os cargos de Professor e Especialista de Educação, que compõem o Quadro Próprio do Magistério da Rede Estadual de Educação Básica do Paraná, ficam transformados em cargos de Professor, sendo que os ocupantes dos referidos cargos ficam enquadrados no presente Plano de Carreira do Professor, obedecidos os critérios estabelecidos nesta Lei (PARANÁ, 2004).
No início sua função, como supervisor escolar, era acompanhar e controlar o
trabalho do professor, fazendo cumprir decisões pré-estabelecidas sem questionar,
chegando aos dias de hoje, onde a necessidade é do pedagogo como articulador
das ações pedagógicas. Quanto a esta afirmação, destaca-se:
Em relação às mudanças ocorridas nas atribuições do professor pedagogo, vale lembrar que além do mesmo havia também o Orientador educacional, cada qual tinha sua especificidade na organização do trabalho pedagógico da escola, embora sustentado por uma metodologia tecnicista, era perceptível as atribuições de ambos enquanto mediador do processo ensino aprendizagem (PEDAGOGO 1- GTR, 2014).
Apresenta-se que, mesmo o trabalho sendo fragmentado, tinha-se clareza do
que era função do orientador e do supervisor. Hoje, busca-se clarear isso na função
do pedagogo que se funde inclusive com atividades que não são pedagógicas.
As mudanças ocorridas nas atribuições do Professor Pedagogo estão
descritas no Edital nº 37/2004 da Secretaria de Estado da Educação para a
Educação Infantil, o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e da Educação
Profissional (PARANÁ, 2004) e, o Edital nº 10/2007 - GS/SEED, para atuação nos
anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio (PARANÁ, 2007).
A partir disto sabe-se que o pedagogo precisa ir além do conhecimento
teórico, acompanhando o trabalho pedagógico e estimulando os professores com
percepção e sensibilidade para identificar as necessidades dos alunos e
professores, tendo que se manter sempre atualizado, buscando fontes de
informações e refletindo sobre sua prática, um trabalho que precisa da disposição e
colaboração de todos.
Quando questionados sobre a percepção das mudanças no desempenho do
pedagogo na sua escola, dentre as respostas compartilhadas no grupo, destaca-se
como percepções de mudanças:
- Por meio de reuniões e discussões de texto e troca de experiências a Equipe Pedagógica se fortalece falando uma linguagem única podendo contribuir com professores, alunos e a escola como um todo (PEDAGOGO 2 - CEP, 2014). - Através da organização do trabalho junto aos professores na HA concentrada, nas reuniões da Equipe Pedagógica e na constante interação entre os próprios pedagogos no setor (PEDAGOGO 3 - CEP, 2014). - O trabalho do pedagogo como mediador já vem ocorrendo nas escolas, porem, ainda necessita avançar (PEDAGOGO 4 - CEP, 2014). - (...) Há uma ação individual (cada um busca seu aperfeiçoamento). Ainda é necessário avançar em momentos de estudo; "feedbacks" ao grupo, aperfeiçoamento teórico. Nesse aspecto, há a necessidade de compreender que precisamos "abrir" o espaço para planejamento das ações. Falamos em planejar, mas não planejamos as intervenções. É necessário avançar neste aspecto (PEDAGOGO 5 - CEP, 2014). - (...) o trabalho que era muito burocrático e tarefeiro, passou a ser mais pedagógico (PEDAGOGO 6 - CEP, 2014).
Outra questão colocada para discussão, no grupo, foi sobre as estratégias
utilizadas no trabalho como pedagogo na articulação das ações pedagógicas. Dentre
as elencadas, foram selecionadas:
- (...) trocar ideias com os professores sobre as dificuldades encontradas em sala de aula e fazer contato com a família e o educando, procurando sempre sanar as dificuldades em relação a aprendizagem do aluno (PEDAGOGO 7 - GTR, 2014). - Como estratégia, utilizamos as horas atividades dos professores para trocar ideias, dialogar sobre o PPP, definir metas para a melhoria do ensino e aprendizagem e também realizamos as reuniões pedagógicas sempre que possível. Quanto aos alunos, fazemos o acompanhamento da aprendizagem através dos pré-conselhos e conversas com alunos para que se conscientizem da importância e necessidade de seu aprendizado. Com os pais, quando necessário, fazemos reuniões para tomadas de decisões. (...) participamos sempre de cursos promovidos pelo Estado e pelo Município, realizamos estudos na escola e leituras, a fim de que não
fiquemos somente na prática pedagógica, mas haja o embasamento teórico (PEDAGOGO 8 - GTR, 2014). - (...) prioridade na otimização e organização do trabalho pedagógico entre nós pedagogas e direção em sintonia com os professores, para que não sejamos sucumbidos pela turbulência do cotidiano escolar, aproveitando todos os momentos possíveis para dialogar, discutir e traçar ações frente aos desafios de ordem pedagógica, disciplinar e operacional. (...) focar e articular as questões mais relevantes do processo ensino aprendizagem envolvendo e estimulando a colaboração de todos para atentar às necessidades da escola e na busca de soluções (PEDAGOGO 1 - GTR, 2014). - Procuro na utilizar da empatia em situações que permeiam os sujeitos deste processo. Entendo que a escuta é fundamental para considerar as situações e motivos. Avaliando os retrocessos e avanços consequentes no processo do Ensino e da Aprendizagem (PEDAGOGO 9 - GTR, 2014).
O pedagogo precisa ter clareza do perfil necessário e das funções e
competências que lhes são inerentes ao trabalho, assim como os meios possíveis
para se alcançar tal objetivo, por isso, esse trabalho propõe a utilização de técnicas
e ferramentas de coaching como estratégia na escola pública, para a realização das
ações pedagógicas pela equipe, com foco em desenvolvimento, reeducação,
mudanças de comportamentos, reflexão, planejamento e ação para conquista e
realização de objetivos/metas. As definições de coaching são diversas, conforme
cada coach e cada instituição de formação. Pérez (2009) define coaching sob dois
pontos de vista, sendo o primeiro:
(...) em função de quem o pratica, ora como uma técnica ou uma ferramenta poderosa de mudança que permite orientar a pessoa em direção ao êxito, ora como uma filosofia de vida que, ainda que pretenciosa, anseia por um mundo melhor. Ambas as definições partilham a máxima de conceder a função fulcral ao ser humano: o actor principal, a figura-chave em todo esse processo de melhoria ou crescimento pessoal contínuo (p. 17).
Essa afirmação leva a compreender que esse conceito, do autor
supracitado, define o coaching como processo de aprendizagem, com foco na
situação presente, não perdendo de vista a mudança, aonde “recursos e ferramentas
de trabalhos específicos venham permitir a melhoria do desempenho nas áreas que
as pessoas procuram” (PÉREZ, 2009, p.17). Dessa forma, o conceito desse
processo, segundo o referido autor é:
(...) o coaching como um modo de vida que retendo pôr ordem nas nossas consciências e ajudar as pessoas a serem felizes. Defende-se nesta vertente, um conhecimento extenso sobre nós próprios e tudo o que nos rodeia para tentar alcançar o nosso próprio equilíbrio vital e uma relação harmoniosa com o nosso meio envolvente (p. 17).
Este processo permite que a pessoa tenha o apoio e o assessoramento
necessários, no momento que necessita, mas não a exime da responsabilidade pela
tomada de decisões e o desenvolvimento das atividades para alcançar seus
objetivos. O coaching é definido como:
(...) um processo de descoberta pessoal e/ou profissional, que para acontecer necessita da presença de dois personagens, o coach e o coachee. Via de regra, o coachee tem uma ou mais questões a tratar e, juntamente com o coach, promove estratégias e prazos para atingir as metas no tempo determinado. Ao contrário da psicoterapia, por exemplo, ao coach não interessam obstáculos que se apresentam no caminho do coachee, mas unicamente, como ele fará para superá-los. Importante ressaltar que a solução sempre vem do coachee e não cabe ao coach, salvo em raras exceções, dar opinião ou sugerir alternativas (MENDONÇA, 2011, p. 95).
4
Basicamente, coach é a pessoa que conduz o processo de coaching, e
coachee é a pessoa que passa pelo processo, sendo que “Coach é o papel que você
assume quando se compromete a apoiar alguém a atingir determinado resultado”
(ARAUJO, 1999, p.25). Nesse enfoque, pode-se observar que houve entendimento
dos participantes da intervenção no Grupo de Trabalho em Rede:
(...) o sujeito se constitui na relação com o outro e, que o interlace das relações sociais constrói a base do crescimento humano, é válido afirmar que o indivíduo para crescer e amadurecer como pessoa e como profissional, seja em que área de atuação for, precisa vencer obstáculos internos e externos para conquistar coisas e realizar sonhos, para inovar práticas e agregar novos valores à elas, necessita focar aquilo que deseja no âmbito pessoal, bem como, no seu desempenho profissional. Portanto, dentro das responsabilidades pertinentes à atuação do professor pedagogo podemos traçar um viés de conexão importante com aquilo que o Coaching reconhece como princípio (PEDAGOGO 10 - GTR, 2014).
O Coaching Educacional é utilizado para atender o contexto educacional,
podendo ocupar-se com questões relativas à dimensão docente, discente e
administrativa na área de gestão educacional. Muito utilizado em empresas,
recentemente está sendo aplicado na área de Educação, sendo que o coaching:
(...) não é simplesmente uma técnica a ser conduzida e rigidamente aplicada em algumas circunstâncias prescritas. É um jeito de gerenciar, um jeito de tratar as pessoas, um jeito de pensar, um jeito de ser. Aproxima-se o
4 In: PERCIA, A.; SITA M. Manual completo de coaching – grandes especialistas apresentam estudos
e métodos para a excelência na prática de suas técnicas. São Paulo: Editora Ser Mais, 2011.
dia em que a palavra 'coaching' desaparecerá de uma vez do léxico, e essa prática passa a ser apenas uma maneira de se relacionar com os outros no trabalho, e em qualquer outro lugar (WHITMORE, 2010, p.13).
O método utilizado no coaching é voltado para a solução de problemas,
desenvolvimento de novas habilidades, tomada de decisão, autoconhecimento e
aprendizagem emocional.
O olhar do pedagogo sobre si, frente às atribuições do pedagogo-coach prescrito na literatura
Este profissional, na escola, tem 25 atribuições, de acordo com o Edital
nº10/2007 – GS/SEED de seleção para o concurso público do Paraná, podendo ser
definido como:
Pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação ativa de saberes e modos de ação, tendo em vistos objetivos de formação humana definidos em sua contextualização histórica (LIBÂNEO, 2009, p. 52).
Assim sendo, o pedagogo escolar atua com a comunidade escolar e, para que
haja efetividade precisa organizar o trabalho escolar, sendo que a organização e a
gestão do trabalho escolar está relacionado:
(...) aos meios de realização do trabalho escolar, isto é, à racionalização do trabalho e à coordenação do esforço coletivo do pessoal que atua na escola, envolvendo os aspectos, físicos e materiais, os conhecimentos e qualificações práticas do educador, as relações humano-interacionais, o planejamento, a administração, a formação continuada, a avaliação do trabalho escolar (LIBÂNEO, 2009, p.7).
Do exposto acima, o autor aponta que são ações necessárias para que as
escolas cumpram seus objetivos, pois buscam resultados como qualquer instituição,
“o que implica uma ação racional, estruturada e coordenada”. Trata-se de uma
atividade coletiva, por isso, depende de objetivos comuns “e de ações coordenadas
e controladas dos agentes do processo” (LIBÂNEO, 2009, p.7).
Tomando como referência todas estas necessidades, ressalta-se que o
Coaching Educacional é um processo de gestão que resulta numa forma de se
trabalhar mais participativa, possibilitando o sentido de unidade e ação conjunta da
equipe. O pedagogo-coach é um mediador das ações pedagógicas, no cotidiano da
escola, utilizando-se do coaching, pode tornar mais efetivo o trabalho coletivo
mobilizando esforços para atingir metas estabelecidas.
Para dar conta de suas atribuições e da organização do trabalho pedagógico,
pode-se levar em consideração a necessidade do pedagogo possuir determinadas
competências. Na profissão de educador, elencamos algumas que são:
1. Organizar e estimular situações de aprendizagem. 2. Gerar a progressão das aprendizagens. 3. Conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciação evoluam. 4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e no trabalho. 5. Trabalhar em equipe. 6. Participar da gestão da escola. 7. Informar e envolver os pais. 8. Utilizar as novas tecnologias. 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. 10. Gerar sua própria formação contínua (PERRENOUD, 2001, p. 1).
A partir das considerações a respeito do conceito, atribuições na organização
escolar e competências do Pedagogo, até aqui tratadas, segue-se na busca de
encontrar elementos que possibilitem construir um referencial teórico para o trabalho
do pedagogo-coach. Sabendo que pouco há de específico para as ações deste
profissional, procurou-se traçar, a partir do que existe do coach, em geral, um perfil
do profissional escolar, necessário para o desempenho das funções do pedagogo-
coach. O perfil do pedagogo, passou historicamente por mudanças, que precisam
ser analisadas a luz do novo perfil exigido para a escola de hoje. O Quadro 1,
apresenta um comparativo entre as mudanças dos “profissionais do passado” e dos
“profissionais do 3º milênio”.
QUADRO 1 – DIFERENÇAS NO PERFIL DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
PERFIL DO NOVO PROFISSIONAL
OS PROFISSIONAIS DO PASSADO OS PROFISSIONAIS DO 3º MILÊNIO
Aprendiam quando alguém lhe ensinava Procuram deliberadamente aprender
Achavam que o aprendizado ocorria principalmente na sala de aula
Reconhecem o poder do aprendizado decorrente da experiência do trabalho
Responsabilizam o chefe pela carreira Sentem-se responsáveis pela sua própria carreira
Não eram considerados responsáveis próprio desenvolvimento
Assumem a responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento
Acreditavam que sua educação estava completa ou só precisava de pequenas reciclagens
Encaram a educação como atividade permanente para a vida toda
Não percebiam a ligação entre os que aprendiam e os resultados profissionais
Percebem como o aprendizado altera os negócios
Deixavam o aprendizado a cargo da instituição Decidem intencionalmente o que aprender FONTE: ZAIB e GRIBBLER, 2013, p. 179.
Estas informações dão ideia do avanço em termos de visão de futuro e
autonomia, pois, os profissionais estão cada vez mais preocupados com o aprender
e o aprender na prática, para a vida toda. Mas do que nunca, o educador precisa
estar se atualizando, ou seja, em formação continuada. “A função de coordenador
pedagógico exige que o profissional esteja sempre bem informado e estudando. É
essencial o conhecimento teórico da prática” (GUERREIRO, 2011, p.26).
Existe pouco material escrito, pois, “(...) no que diz respeito à parte
educacional, não existe ainda uma abundância de informação tão grande como
acontece, por exemplo, para o Coaching às empresas” (FERREIRA, 2010, p. 26).
Quanto as ferramentas base que podem ser utilizadas no Coaching
Educacional:
(…) são as mesmas, terão apenas de ser adaptadas às crianças, ao contexto familiar/escolar/sala de aula/escola em geral. Existem imensas formas de aplicação do Coaching, de uma forma muito criativa e fácil de implementar (FERREIRA, 2010, p. 26).
Nos outros segmentos existe “Coaching de Negócios, Coaching de
Planejamento de Vida, Coaching de Projetos, Coaching de Equipe, Coaching de
Férias, Coaching de Missão de Vida, Coaching Executivo, Coaching de Atração,
Coaching de Transição entre inúmeros outros nichos de trabalho” (FERREIRA,
2011). Conforme a necessidade das pessoas. Independente de ser na escola ou
não, o profissional responsável pelo processo, o coach, precisa ter uma formação
em Coaching para atuar com profissionalismo.
Apesar de existir uma diversidade de áreas de atuação do profissional coach,
as qualidades ou capacidades necessárias para o desempenho são universais.
Pérez (2009, p. 23), destaca que: “(...) saber ouvir, oferecer disponibilidade, saber
fazer o seu trabalho, ser competente, ter motivação, uma atitude mental positiva e,
sobretudo, uma metodologia precisa”. O autor ainda aponta outras capacidades para
ser um coach competente, devendo ele:
(...) possuir um certo conhecimento do meio envolvente em que tenha que intervir sem ter necessidade de ser um verdadeiro perito – ao contrário de um consultor (especialista no sector ou âmbito em que actua), uma boa capacidade de relação, algumas noções de psicologia e/ou desenvolvimento pessoal e um perfeito conhecimento de si próprio, condição necessária, mas não suficiente para desempenhar uma boa função (PÉREZ, 2009, p. 23).
Há quatro tipos de competências necessárias ao coach (docente), a primeira
corresponde às “Competências de aptidões: conhecimentos, capacidades e
inteligência” – visão para entender o todo da situação para encontrar alternativas
para a solução do problema e sabedoria no sentido de conhecimento que se
adquire com a experiência. A segunda são “Competências de personalidade:
definem o carácter e a forma de ser” – humildade no sentido da pessoa ser realista,
curiosidade para conhecer e aprender, flexibilidade é adaptar-se às circunstâncias,
segurança de si próprio através da convicção, paciência revela força para o
controle da ansiedade, consistência revelada no falar e fazer, a pessoa age
coerente com o que fala, convicção atuar na realidade de acordo com crenças e
valores próprios, proactividade agir com iniciativa e responsabilidade. A terceira diz
respeito às “Competências relacionais: que revelam domínio em ambientes sociais”
– inteligência emocional quando se conhece os próprios sentimentos e das outras
pessoas para benefício de todos. E a quarta são “Competências técnicas: o domínio
das ferramentas que se utilizam no processo de coaching” (PÉREZ, 2009, p. 24-30 -
grifo nosso).
O pedagogo-coach deve possuir a capacidade de trabalhar de forma
colaborativa e reconhecer os pontos fortes e fracos de cada pessoa, pontos que se
apresentam durante o desempenho de cada um, e ajudá-las na superação. Outra
característica essencial é a capacidade dar feedback constante, na busca do melhor
caminho da ação a ser tomada. Percebe-se que à medida que os Educadores vão
se tornando mais conscientes, encontram benefícios na utilização da ferramenta
Coaching, possibilitando-os:
Encontrar pontes de comunicação com os seus filhos/alunos.
Identificar zonas de conflito facilmente alteráveis.
Entender a razão de ser dos novos paradigmas e valores.
Desenvolver a sua Inteligência Emocional de forma a saber ressignificar conceitos, atitudes e crenças.
Perceber quais os pontos de apoio na relação.
Demolir velhos conceitos sobre autoridade, educação e liderança.
Alterar algumas das suas perspectivas que o/a limitam enquanto pai/mãe (professor/a).
Descobrir pontes de respeito mútuo.
Transformar algumas das atitudes que são desafiadas pelos jovens.
Questionar medos, dúvidas e inseguranças que o/a impedem de abrir mão de paradigmas desactualizados.
Sentir-se mais aberto aos novos modelos de pensamento.
Desenvolver recursos pessoais e adormecidos (FERREIRA, 2010, p. 34).
Assim sendo, pode-se dizer que o Coaching é um trabalho apaixonante para
aqueles que buscam agregar novos conhecimentos ao já conhecem.
Dessa forma, se o docente viver atrelado ao modelo de aprendizagem de
quando era estudante, terá “dificuldade em se adaptar à um novo paradigma. Não
basta mudar os objetivos pedagógicos. É preciso integrar essa nova realidade na
realidade de cada professor, para que possa haver congruência entre interação e a
sua aplicação” (FERREIRA, 2010, p. 34).
A sociedade demanda por profissionais melhores preparados para que uma
mudança significativa aconteça nas escolas e no mundo, pois, o “querer educar
gerações de crianças, livres, desimpedidas, inteligentes e saudáveis sem mexer na
geração que os educa é utopia” (FERREIRA, 2010, p. 34), sendo que, essa
mudança precisa começar em cada educador. As crianças aprendem pelo exemplo,
portanto, os educadores são referências para elas.
Foi solicitado aos participantes do GTR e aos 13 pedagogos da escola um
paralelo entre a função desempenhada no seu cotidiano escolar e a função
necessária sentida por eles. Frente às inúmeras respostas com discursos muito
próximos, foram selecionadas as falas mais significativas, na ótica da autora desse
trabalho e da literatura pertinente.
Segundo o posicionamento (Pedagogo 11 - CEP, 2014): “Acredito muito no
trabalho do pedagogo, e o que sinto como função necessária é o que faço, sinto falta
de poder estudar mais com os colegas do trabalho e com os professores”. Levando-
se em conta a referida declaração pode-se observar pelo conteúdo da fala que,
como ela, outros tantos, valorizam seu trabalho no espaço da escola e sentem falta
de um processo contínuo de formação.
Essa postura é importante, mas não atende o solicitado na tarefa, não
vislumbrando o fazer frente ao prescrito nos documentos legais, previamente
apresentados, lidos e analisados no Caderno Pedagógico (2013), quanto ao legal
teórico e a prática demandada no interior da escola. Abdala (2001, p. 17), alerta que:
“Na verdade, quando falamos de nossas necessidades, nos diversos momentos e
espaços profissionais, representamos nossas realidades, construímos nossas vidas,
explicando-as mediante nosso estoque de conhecimentos”.
No Quadro II pode-se observar o paralelo traçado por um pedagogo,
apontando as funções desempenhadas frente às necessárias para a escola que
atua.
QUADRO II – PARALELO ENTRE FUNÇÕES DO PEDAGOGO
FUNÇÃO DESEMPENHADA FUNÇÃO NECESSÁRIA
- Atendimento de professor e aluno. - Muita atividade burocrática (papéis), mas necessária. - Coordenar processo de ensino e aprendizagem. - Fomentar os momentos da Pedagogia: Conselho de Classe, Plano de Trabalho, Encontros Pedagógicos.
- Articular as ações pedagógicas. - Parceria e coletividade. - Ensino x aprendizagem. - Favorecer a mediação e estar junto ao professor no enfrentamento das adversidades.
FONTE: (PEDAGOGO 12 - CEP, 2014).
Frente aos paralelos traçados pelos participantes, as questões apontadas
levam a pensar que os pedagogos na escola tem sido "apaziguadores de conflitos"
em detrimento da mediação o trabalho escolar. A necessidade levantada pela
grande maioria é a de estudos com colegas e professores, como também
acompanhar o trabalho do professor sem intenção de "(...) controlar ou vigiar e sim
como mediador e articulador das ações pedagógicas" (PEDAGOGO 8 - GTR, 2014).
Compartilhando com o já apresentado acima, tem-se que em relação a função
do Pedagogo-coach o posicionamento é de:
Acredito que o Coaching nos auxiliará nesta mudança de visão e ação, pois é um método organizado de acompanhamento e desenvolvimento de competências. Que em primeiro lugar nos obriga a parar e pensar sobre nossas atitudes e ações (PEDAGOGO 13 - GTR, 2014).
Os pedagogos do CEP trabalham com uma realidade um pouco diferente dos
participantes do GTR, tendo em vista o porte da escola, possuem um número maior
de pedagogos e o apoio da Direção Auxiliar que atende os casos disciplinares. No
entendimento deste grupo o que falta é tempo para estudos e discussões no colégio.
Ao fazer uma análise frequente da prática pedagógica, numa formação
permanente em serviço, individual e coletiva, é preciso pensar
(...) criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática (FREIRE, 1996, p.43-44).
Repensando no dia a dia a atuação do pedagogo, questionou-se as
características e/ou competências possuídas e as que necessitariam ser
desenvolvidas, destacando que:
(...) possuo as seguintes características: organizo situações de aprendizagem, envolvo alunos em suas aprendizagens e no trabalho, desenvolvo e participo de trabalhos em equipe, utilizo as novas tecnologias nas situações de aprendizagem, informo e envolvo os pais nos resultados escolares, opto pelos cursos de minha própria formação continuada e sempre enfrento os deveres e dilemas éticos da profissão. Já as características que preciso desenvolver são: conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciação evoluam, participação efetiva na gestão escolar e gerar progressões de aprendizagem (PEDAGOGO - 13, 2014 - grifo nosso).
Como atividade proposta solicitou-se primeiramente a releitura do Edital
nº10/2007 – GS/SEED5, de seleção do concurso público do Paraná, onde
encontram-se elencadas as 25 atribuições necessárias no desempenho do
pedagogo da Rede Estadual de Ensino, e em seguida a escolha pelos participantes
de 5 atribuições que ainda não faziam parte da prática na escola, bem como, o
apontamento dos desafios que precisariam ser superados para colocá-las em
prática. Após análise das respostas, a atribuição mais apontada como não sendo
cumprida pelos pedagogos, diz respeito a: “Coordenar, junto à direção, o processo
de distribuição de aulas e disciplinas a partir de critérios legais, pedagógicos e
didáticos e da Proposta Pedagógica Curricular da Escola” (PARANÁ, 2007), ação
que fica a cargo das direções dos estabelecimentos de ensino e/ou GARH.
Na sequência, as outras atribuições apontadas como não sendo realizadas
pelos pedagogos participantes são:
- Ampliar os espaços de participação, de democratização das relações, de acesso ao saber da comunidade escolar. - Participar do Conselho Escolar, subsidiando teórica e metodologicamente as discussões e reflexões acerca da organização e efetivação do trabalho pedagógico escolar. - Promover e coordenar reuniões pedagógicas e grupos de estudo para reflexão e aprofundamento de temas relativos ao trabalho pedagógico e para a elaboração de propostas de intervenção na realidade da escola. - Coordenar a organização do espaço-tempo escolar a partir do Projeto Político-Pedagógico e da Proposta Pedagógica Curricular da Escola, intervindo na elaboração do calendário letivo, na formação de turmas, na definição e distribuição do horário semanal das aulas e disciplinas, da hora-atividade, no preenchimento do Livro Registro de Classe de acordo com as Instruções Normativas da SEED e em outras atividades que interfiram diretamente na realização do trabalho pedagógico (PARANÁ, 2007 apud PEGAGOGOS - CEP/GTR, 2014).
5 Site do Edital nº10/2007 – GS/SEED:
http://www.nc.ufpr.br/concursos_externos/seed2007/documentos/edital_102007_pedagogo.pdf
Não houve uma resposta de superação para cada atribuição elencada, e sim
respostas, no geral, das quais se destaca: "Precisamos direcionar nossa energia
para aquilo que nos compete, estudar mais, promover novas ações, conscientizar a
todos qual o nosso papel" (PEDAGOGO 14 - GTR, 2014). Foi comentado na
fala/escrita de muitos pedagogos. Outra resposta apresentada: "Quanto à
superação, um caminho seria a participação efetiva na gestão da escola de modo
democrático e flexível, pois a maior dificuldade está em deixar a prática diária para
reflexões no âmbito da escola" (PEDAGOGO 15 - GTR, 2014). Sabendo que:
A vida cotidiana de qualquer profissional prático depende do conhecimento tácito que mobiliza e elabora durante sua própria ação. Sob a pressão das múltiplas e simultâneas solicitações da vida escolar, o professor activa os seus recursos intelectuais, no mais amplo sentido da palavra (conceitos, teorias, crenças, dados, procedimentos, técnicas), para elaborar um diagnóstico rápido da situação, desenhar estratégias de intervenção e prever o curso futuro dos acontecimentos" (PÉREZ GÓMEZ, 1992, p. 102 apud PIMENTA, 1999, p. 43).
6
Essas considerações apontam para o fato de se reconhecer o que precisa
mudar, mas sem saber exatamente como fazer isso. O primeiro passo foi dado no
trabalho de intervenção, tratando-se de atividade crítica-reflexiva da própria prática,
pois, grupos de estudos, discussões e reflexões são caminhos para se chegar
concretizar o trabalho coletivo necessário para a escola de hoje através de ações
concretas.
Articulação entre o projeto pedagógico da escola e as pessoas envolvidas no processo: atribuições desenvolvidas pelo pedagogo-coach no espaço escolar
O projeto político-pedagógico da escola é o documento que a identifica, e
contribui com a organização de todo o trabalho da escola. No Projeto Pedagógico do
Colégio Estadual do Paraná, é destacada a importância do referido documento,
como sendo:
(...) um valioso instrumento de orientação das atividades escolares e propiciador de condições de surgimento de um efetivo trabalho coletivo na escola. Por essa razão, é de fundamental importância entendê-lo como resultante da ação coletiva da Comunidade Escolar que intencionalmente projeta uma realidade futura, que expressa a discussão do grupo, suas
6 In: PIMENTA, S. G. Saberes pedagógicos e atividade docente / textos de Edson Nascimento
Campos ... [et al]. São Paulo: Cortez, 1999.
análises e perspectivas, sem desconsiderar a necessidade premente de realimentação e atualização (PPP - CEP, 2011).
O mesmo está em permanente processo de discussão e reflexão a partir das
práticas pedagógicas que se desenvolvem, apresentando as diretrizes para a
realização de atividades pedagógicas de planejamento, matrículas, conselhos de
classe, reuniões de pais, conselho escolar, entre outras.
Elaborado e articulado de acordo com as demandas da comunidade escolar,
constitui-se num instrumento de prática coletiva, fazendo com que haja compromisso
das pessoas envolvidas. Dessa forma, o Projeto Político Pedagógico do Colégio
Estadual do Paraná:
(...) não está pronto e acabado, pois, apesar de apresentar-se como documento formal, ele deve expressar a prática do CEP. Portanto, após avaliações anuais com a participação de toda a comunidade escolar, os possíveis avanços serão expressos através de adendos, registrados em atas e que, a cada três anos, serão incorporados no documento (PPP - CEP, 2011).
É atribuição da equipe pedagógica organizar encontros entre setores e a
comunidade em geral, propiciando momentos de se trabalhar com base no PPP-
CEP, visando reflexão da atual situação da realidade escolar e buscando avançar
sempre.
O Projeto Político Pedagógico pode trazer modificações significativas nos
processos de organização e nas práticas escolares através do trabalho coletivo.
Assim sendo, se “(...) o projeto político pedagógico é mais frágil, o cotidiano do
coordenador é menos planejado e se dissolve em resolver problemas do dia a dia"
(GUERREIRO, 2011, p. 28), a equipe pedagógica precisa retomar o PPP-CEP como
base para planejar as ações pedagógicas e administrativas, necessárias para atingir
com qualidade os objetivos propostos.
No Marco Situacional do PPP do Colégio Estadual, são apresentados
aspectos que fazem parte do dia a dia da instituição e que esperam por melhorias e
soluções, relacionadas com o Marco Operacional, sendo importante ressaltar que,
este levantamento foi realizado através de diálogo e discussão com funcionários,
pais e alunos da Instituição.
O Projeto Pedagógico da escola precisa ser discutido e elaborado com as
pessoas envolvidas no processo pedagógico, levando-se em conta a necessidade
de análise contínua do planejado a ser atingido (objetivos), bem como, o como
desenvolver a partir do planejado. Assim sendo, é preciso PENSAR O FAZER
(Marco Situacional) e PENSAR COMO FAZER (Marco Operacional). Para tanto, na
intervenção, foi questionado aos pedagogos-CEP as atribuições que estão
elencadas no PPP e que não foram desenvolvidas no espaço escolar, visando a
superação do que não vem sendo feito até o momento, por se constatar de que é
preciso planejar o que se pretende fazer e o como fazer.
Os pedagogos-CEP com o PPP da escola em mãos, apontaram as ações que
foram planejadas e não foram desenvolvidas, partindo das prescritas no Marco
Situacional, e as específicas no Marco Sub Situacional, como pode ser observado
no Quadro III, onde estão elencadas a ação maior (Marco Situacional), e o conjunto
das ações para o atendimento da mesma (Marco Sub Situacional).
QUADRO III – ACÕES PLANEJADAS E NÃO DESENVOLVIDAS NA ÓTICA DO PEDAGOGO-CEP
Elevar o desempenho acadêmico dos alunos
Estabelecer uma comunicação clara com aluno. Estimular o aluno para práticas diárias mais organizadas de estudo diário e de pesquisa, eliminando práticas imediatas. Orientar hábitos e métodos de estudos aos alunos, além do Controle de Rendimento e Frequência. Cobrança justa e conjunta professor/aluno/família. Relação respeitosa entre todos. Promover a compreensão, pelos alunos, de que devem se responsabilizar pelos seus aprendizados. Incentivar o desenvolvimento de grupos de estudo entre os alunos. Promover cursos aos professores para compreensão de como se aprende e que mecanismos devem ser respeitados para que a aprendizagem aconteça.
Aprimorar a rede de comunicação e de informação em toda comunidade escolar
Diminuir o uso de papel e ampliar o uso da informação e de multimeios. Edição de um jornal interno para: leitura/participação de professores, alunos, funcionários, familiares, etc. Evitar informações ambíguas. Agilizar orientações para o Livro Registro de Classe.
Realizar uma prática educativa fundamentada no desenvolvimento de valores necessários à formação humana dos sujeitos do processo educativo.
Resgatar valores que envolvam alunos professores e comunidade escolar, como respeito entre pares, diálogo, postura, formalidade. Cumprimento dos direitos e deveres de cada segmento da escola. Instituir em programa de formação humana com respeito a valores como: diversidade, respeito, solidariedade, com atuação direta de alunos e educadores. Ser um bom exemplo quanto à postura e o respeito, desde as vestimentas até as relações entre colegas.
Organizar rotinas da escola e da sala de aula
Programar por turno, um dia mensal para discutir em grupos de alunos, professores, funcionários e pais as falhas da prática escolar e elaborar propostas de ação. Compreender que estudar é uma tarefa difícil, mas também prazerosa.
Qualificar a organização, manutenção e conservação do patrimônio escolar e humano
Aperfeiçoar os setores responsáveis pela gestão dos funcionários (GAA, GARH) para que suas ações sejam eficientes. Eliminar o consumo de alimentos e chicletes na sala.
Ampliar e qualificar o acesso e o desempenho na utilização de recursos
Evitar danos a equipamentos ou inacessibilidade de parte dos equipamentos dos laboratórios de informática, através do acompanhamento dos técnicos.
Organizar um ambiente escolar agradável e comprometido com o desempenho intelectual, moral e afetivo do aluno
Criar um ambiente solidário e uma postura de assumir responsabilidades e respeitar as diferenças humanas. Manter em bom relacionamento entre professor, aluno e funcionário, através do respeito, da ética e da cordialidade. Proporcionar ao aluno atividades de reflexão sobre o espaço que utiliza (sala de
MARCO SITUACIONAL MARCO SUB SITUACIONAL
aula, vestiários, banheiros, etc.)
Intensificar o conhecimento e utilização das normas de funcionamento do colégio, enquanto princípio de organização do trabalho docente e discente
Promover reuniões para reforçar o cumprimento do Regimento Escolar. Inserir o Guia do Aluno e o Regimento Escolar no site do CEP. Promover palestras com promotores e juízes sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Aprofundar as questões relativas ao Plano de Trabalho Docente e na utilização dos instrumentos pedagógicos
Promover palestras e discussões sobre a elaboração do Plano de Trabalho Docente (normas, formatação, nomenclatura, etc.) Reinventar e repensar o Plano de Trabalho Docente, pela utilização de metodologias de ensino diversificadas. Discutir a recuperação de estudos sempre que for necessária.
FONTE: (PEDAGOGOS - CEP, 2014).
Nas situações elencadas que precisam ser desenvolvidas, exige-se a
presença do trabalho pedagógico todo tempo, dessa forma, o pedagogo assume
toda a responsabilidade do desenvolvimento das ações. Não é de se admirar que
esse profissional esteja tão sobrecarregado.
O pedagogo-coach, precisa planificar conjuntamente com a comunidade
escolar as metas/objetivos das ações para realizá-las. De nada adianta somente
elencar sem ter um plano de ação para que elas aconteçam. Como passo para a
elaboração de um plano de método de ação, isto é, é preciso pensar estratégias de
ação, o como, tempo, espaços, pessoas envolvidas e os recursos necessários, como
os apresentados abaixo:
- Dividir o plano de acção em diferentes tarefas, definindo os objetivos a alcançar em cada uma delas. - Determinar as normas e metodologias a utilizar. - Determinar o tempo necessário para cada uma das tarefas. - Definir a sequência de passos a seguir e o caminho crítico. - Determinar o calendário de execução de todas e de cada uma das fases. - Calcular o custo, tanto pessoal como material, da realização de cada actividade. - Definir a organização e as responsabilidades das pessoas implicadas em cada uma das fases. - Determinar a formação de que o aluno (ou turma) necessita em cada caso. - Elaborar normas e procedimentos de controlo de cada fase. - Realizar uma análise dos possíveis riscos ou problemas. - Definir as medidas correctivas para os possíveis desvios (plano de contingência) (PÉREZ, 2009, p.112).
Este plano é apresentado pelo autor, para o Coaching em sala de aula,
podendo e devendo ser utilizado para todos os setores da escola. Um plano
demanda trabalho e tempo na sua elaboração da forma mencionada, porém,
possibilita que seja executado com rigorosidade e segurança, otimizando o Plano de
Trabalho da escola.
Importante ressaltar, que planejamento corresponde à ação contínua, “o plano
ou projeto corresponde a registros que permanecem como letra morta, caso não seja
ativados a partir de compromisso para sua implementação” (LÜCK, 2011, p.51).
Diante disso, para colocar um plano em prática há necessidade de um
planejamento, de um processo, de forma que ele seja repensado continuadamente,
para se chegar aos resultados concretos que se quer atingir.
Considerações Finais
As oficinas no chão da escola e o GTR, foram espaços significativos para
dialogar com as pessoas que participaram da implementação deste projeto, e
ampliar seu olhar na perspectiva de apontar uma metodologia de trabalho, de forma
à ressignificar o que está sendo feito.
Neste trabalho, foi possível analisar a realidade da escola que cada pedagogo
atua, onde se reconhece como sujeito de atuação e ação, responsável pela
organização do trabalho pedagógico no conjunto da escola. Ficou evidente nas
discussões que o pedagogo traz para si a grande responsabilidade de fazer tudo e
precisa aprender a organizar no conjunto e acompanhar para que cada pessoa da
escola seja responsável pela parte que lhe cabe. O ponto principal é sair do papel de
vítima e se colocar no papel de articulador pedagógico.
Observou-se que as discussões e estudos propostos por este projeto de
intervenção, contribuiu com material para articular e potencializar as relações no
interior da escola através da metodologia Coaching Educacional, estimulando ações
colaborativas entre a equipe pedagógica, no que poderá ser estendida para o todo
da escola.
O papel do pedagogo-coach e refletir sobre as atribuições que lhe são
inerentes, desenvolvendo competências e habilidades para colocá-las em prática,
num processo de estabelecimento de metas, estratégias para alcançá-las, visando
resultados. Tudo isso passa pela vontade pessoal de cada profissional em querer
mudar e fazer a mudança acontecer, com percepção dos enfrentamentos
necessários no cotidiano pedagógico das escolas na busca de superação efetiva.
Na tentativa de identificar as aproximações e distanciamentos das atribuições
desenvolvidas pelo pedagogo, com as atribuições necessárias para atuar como
pedagogo-coach articulador pedagógico, verificou-se que de coach todo mundo tem
um pouco, a partir do momento que se deixa de lado as receitas prontas e busca-se,
através de perguntas, organizar e estruturar o trabalho a ser realizado.
Parafraseando Ferreira (2010, p. 34), o que se precisa é encontrar pontes de
comunicação, identificar e saber lidar com conflitos, entendimento dos novos
paradigmas e valores, desenvolver inteligência emocional, saber ressignificar
conceitos, atitudes e crenças, superar limitações e abertura.
Nas participações ficou evidente a prontidão em conhecer diferentes
ferramentas que possibilitem um processo de inovação de forma responsável e
inteligente, saindo do conformismo e otimizando o trabalho pedagógico.
Ressalta-se que o pedagogo-coach vai se fortalecendo na escola à medida
que os pedagogos vão conhecendo o assunto e as capacitações/formações em
coaching vão sendo realizadas.
Este trabalho foi um primeiro passo no caminho de se ver e fazer acontecer,
nas escolas públicas, a utilização do Coaching Educacional.
REFERÊNCIAS
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