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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · ... fica restrito ao uso do livro didático e realização de atividades de fixação. Palavras-chave: Jogos matemáticos

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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1 Graduada em Matemática – FAFI-PR; Especialista em Gestão de Pessoas – FACULDADES

ESPÍRITA-PR; especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional – Grupo UNINTER – Professora PDE 2014.

2 Mestre em Educação para a Ciência, área de concentração Ensino de Ciências. Professor

Assistente do Departamento de Matemática da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Unicentro, Campus de Irati (PR).

JOGOS MATEMÁTICOS COMO RECURSO PEDAGÓGICO NO

ESTUDO DAS QUATRO OPERAÇÕES FUNDAMENTAIS.

Professora PDE: Elizandra Angélica G. Da Lus1.

Professor Orientador: Clodogil Fabiano Ribeiro dos Santos2.

RESUMO: Para a maioria dos alunos, a disciplina de Matemática é de difícil compreensão, os conteúdos são complexos e desinteressantes. Em virtude dessa concepção, encontramos muitas dificuldades em atingir o nosso maior objetivo em sala de aula, que é ensinar. Em busca de alcançar êxito no processo de ensino-aprendizagem e superar as dificuldades encontradas ao ensinar os conteúdos matemáticos, a proposta do presente projeto é apresentar diferentes alternativas e estratégias pedagógicas através dos jogos matemáticos como recurso pedagógico no ensino das quatro operações fundamentais. Vários autores enfatizam que os jogos matemáticos são um recurso pedagógico capaz de propiciar aos alunos um ambiente favorável à aprendizagem. O jogo por si só já é desafiador e estimula o aluno a realizar as atividades com interesse. A utilização do jogo como metodologia diferenciada é capaz de auxiliar o aluno na construção do conhecimento matemático e vai de encontro com a mudança do modelo tradicional de ensino, que por vezes, fica restrito ao uso do livro didático e realização de atividades de fixação. Palavras-chave: Jogos matemáticos. Aprendizagem. Conhecimento. Operações fundamentais.

INTRODUÇÃO

Desde a antiguidade, o homem tem se preocupado em observar e

registrar padrões, regularidades e transformações observadas na natureza. Ao

longo da História da Humanidade, foram surgindo os conceitos relacionados à

contagem, à comparação, às formas, às medidas e ao cálculo. Essas ideias

preliminares foram, através do tempo, os conhecimentos ancestrais à

Matemática que conhecemos atualmente.

Se fizermos uma viagem através da história da Matemática, podemos

verificar que muitas foram as contribuições dos povos babilônios, gregos,

egípcios, entre outros, no desenvolvimento dos conhecimentos matemáticos.

Para D’Ambrosio:

A Matemática é, desde os gregos, uma disciplina de foco nos sistemas educacionais, e tem sido a forma de pensamento mais estável da tradição mediterrânea que perdura até os nossos dias como manifestação cultural que se impôs, incontestada, às demais formas. Enquanto nenhuma religião se universalizou, (...), a matemática se universalizou, deslocando todos os demais modos de

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quantificar, de medir, de ordenar, de inferir e servindo de base, se impondo como o modo de pensamento lógico e racional que passou a identificar a própria espécie. Do Homo sapiens se fez recentemente uma transição para o Homo rationalis. Este último é identificado pela sua capacidade de utilizar matemática, uma mesma matemática para toda humanidade e, desde Platão, esse tem sido o filtro utilizado para selecionar lideranças (D'AMBROSIO, 1990, p.10).

Percebe-se na citação de D'Ambrosio que a preocupação educativa em

relação à matemática já podia ser notada na antiguidade. Entretanto, essa

preocupação só foi sistematizada mais recentemente, quando as relações

entre professor e aluno passaram a ganhar mais importância, especialmente no

que se refere à aprendizagem de matemática.

As experiências de atuação em sala de aula de diversos professores têm

revelado várias dificuldades ao trabalhar com os conteúdos matemáticos.

Grande parte dos alunos define os conteúdos como incompreensíveis,

complexos e as aulas como difíceis e desinteressantes. Assim, o aprendizado

da matemática acaba se tornando inacessível na maioria das vezes para

muitos estudantes.

Diante desse contexto, buscou-se modificar a metodologia em sala de

aula, utilizando recursos pedagógicos como os jogos matemáticos, para tornar

o ambiente mais prazeroso, e assim, despertar mais interesse dos alunos em

aprender. Foi possível perceber que, ao proporcionar momentos com

atividades lúdicas, a participação nas aulas é mais efetiva e contribui de

maneira positiva na compreensão dos conceitos matemáticos.

Conforme Smole, Diniz e Milani (2007, p. 9), “podemos dizer que o jogo

possibilita uma situação de prazer e aprendizagem significativa nas aulas de

matemática”.

Para Grando:

Quando nos referimos à utilização de jogos nas aulas de Matemática como um suporte metodológico, consideramos que tenha utilidade em todos os níveis de ensino. O importante é que os objetivos com o jogo estejam claros, a metodologia a ser utilizada seja adequada ao nível que se esta trabalhando e, principalmente, que represente uma atividade desafiadora ao aluno para o desencadeamento do processo (GRANDO, 2008, p 25).

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Dessa forma os ganhos são significativos no processo ensino-

aprendizagem, sendo que, para isso, a metodologia deve ser adequada ao

nível com o qual se esteja trabalhando. Deve ainda ter objetivos bem definidos,

sendo apresentado como uma atividade desafiadora.

“A possibilidade de utilizar os jogos relaciona-se com a aprendizagem,

com a própria construção do conhecimento matemático”, (SMOLE et al., 2007,

p 22). Neste processo o aluno é capaz de atribuir sentido e construir significado

às ideias matemáticas e o professor tem a função de articular o processo

pedagógico, a visão de mundo do aluno, suas opções diante da vida, da

história e do cotidiano.

Para Smole et al.:

Em se tratando de aulas de Matemática, o uso de jogos implica uma mudança significativa nos processos de ensino e aprendizagem que permite alterar o modelo tradicional de ensino, que muitas vezes tem no livro e em exercícios padronizados seu principal recurso didático”, (SMOLE et al., 2007, p 09).

Neste trabalho, a proposta foi buscar diferentes alternativas e estratégias

pedagógicas através dos jogos matemáticos como recurso pedagógico no

ensino das quatro operações fundamentais. A implementação pedagógica foi

desenvolvida na forma de um curso direcionado aos professores do Ensino

Fundamental, realizado em sete encontros presenciais, totalizando trinta e duas

horas, com o objetivo de proporcionar aos professores um momento de

reflexão, discussão, produção de material e formação continuada, no intuito de

identificar os resultados atingidos.

1. O JOGO MATEMÁTICO COMO RECURSO PEDAGÓGICO:

Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Matemática

(PARANÁ, 2008), atualmente a Matemática é trabalhada a partir da Tendência

Histórico-Crítica, que surgiu em meados de 1984. Através de sua metodologia

fundamentada no materialismo histórico, que dá suporte a essa tendência, a

disciplina de Matemática é vista como um saber vivo, dinâmico, construído para

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atender às necessidades sociais, econômicas e teóricas em um determinado

período histórico.

Nesse sentido, a aprendizagem da Matemática torna-se relevante, pois

busca criar estratégias que tornem o conhecimento do conteúdo matemático

significativo para o aluno e a ação do professor deve estar pautada no

conhecimento da concepção histórica da disciplina, como também no seu

objeto de estudo. Esse objeto ainda está em construção, mas visa a prática

pedagógica e engloba as relações entre o ensino, a aprendizagem e o

conhecimento matemático.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais:

Pela Educação Matemática, almeja-se um ensino que possibilite aos estudantes análises, discussões, conjecturas, apropriação de conceitos e formulação de ideias. Aprende-se Matemática não somente por sua beleza ou pela consistência de suas teorias, mas, para que, a partir dela, o homem amplie seu conhecimento e, por conseguinte, contribua para o desenvolvimento da sociedade (PARANÁ, 2008, p.48).

Outro aspecto importante a ser considerado, é a metodologia adotada

pelo professor ao ensinar os conteúdos matemáticos, pois interfere diretamente

no processo ensino-aprendizagem.

Dessa forma, ao retomar o trabalho com o conteúdo envolvendo as

quatro operações fundamentais no 6º ano do Ensino Fundamental, espera-se

que o aluno traga consigo o conhecimento sobre os conceitos e os algoritmos

dessas operações. A grande preocupação do professor hoje é levar o aluno a

construir o significado de cada operação, diante das diversas situações em que

elas podem aparecer.

De acordo com o Caderno Pedagógico de Teoria e Prática 3, do

Programa de Gestão Escolar da Aprendizagem Escolar – GESTAR I – do

Ministério da Educação (BRASIL, 2007, p.10), na aprendizagem da adição e

subtração de números naturais, de início deve ser dada ênfase na identificação

das características que cada situação apresenta, para posteriormente serem

introduzidas as propriedades, existência do elemento neutro, os algoritmos e

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situações-problemas. As atividades devem ser desafiadoras e relacionadas ao

cotidiano, pois assim despertam maior interesse.

Ainda de acordo com o documento citado acima, a multiplicação é o

mesmo que adicionar parcelas iguais, porém ela apresenta ainda o aspecto

combinatório, por meio dos problemas de contagem e a configuração

retangular, onde a organização espacial dos elementos é representada. Já a

divisão aparece como operação inversa da multiplicação e é utilizada para

resolver situações-problema em que aparece a ideia de repartir igualmente

uma quantidade de elementos e em situações que envolvem a ideia de medir,

em que um total de elementos deve ser separado em grupos com uma

quantidade dada de elementos, sendo necessário descobrir quantos grupos

serão formados (BRASIL, 2007, p.36).

Para tanto, é necessário que na sala de aula haja um ambiente favorável

para a aprendizagem, baseado em objetivos claros, bem planejados, onde os

professores possam agir de maneira interativa, sendo mediadores entre o meio

e os alunos.

Para Lakomy:

O professor precisa criar situações desafiadoras em contextos significativos ao aluno, permitindo que ele explore várias possibilidades, mesmo que sejam contraditórias ou falsas. As contradições, que fazem parte do processo de aprendizagem, são depois esclarecidas, exploradas e discutidas (LAKOMY, 2008, p. 46).

Nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica da disciplina de

Matemática (PARANÁ, 2008), os encaminhamentos metodológicos propõem

articular os Conteúdos Estruturantes com os Conteúdos Específicos, a fim de

enriquecer a prática pedagógica e dar mais significado aos conteúdos, sem

trabalhá-los de maneira fragmentada.

Ainda, de acordo com Paraná (2008), os conteúdos matemáticos devem

ser abordados por meio de tendências metodológicas da Educação

Matemática, que fundamentam a prática docente.

Então, no que se refere às expectativas de ensino e aprendizagem do

conteúdo sobre as quatro operações fundamentais, espera-se que os alunos

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compreendam os conceitos de adição, subtração, multiplicação e divisão de

números naturais e suas propriedades. Deve-se compreender que os números

estão inseridos em contextos articulados com os demais conteúdos da

Matemática.

Autores como, Vygotsky (1991) e Piaget (1978) estudaram a influência

dos jogos na aprendizagem, e várias são as contribuições que as atividades

lúdicas trazem positivamente no processo ensino-aprendizagem. O conceito de

jogo é muito complexo, existem várias concepções e definições sobre o que é o

jogo e de que maneira essa atividade interfere no desenvolvimento da criança.

Para Vygotsky (1991), o que fica evidente é que as atividades lúdicas exercem

um papel fundamental para o desenvolvimento cognitivo, social, afetivo das

crianças.

De acordo com Vygotsky (1991), o valor do jogo para a aprendizagem

ganha força e importância a partir da ideia de que o jogo potencializa a zona de

desenvolvimento proximal.

De acordo com Vygotsky:

A zona de desenvolvimento proximal caracteriza-se pela distância entre o nível real (da criança) de desenvolvimento determinado pela resolução de problemas independentemente e o nível de desenvolvimento potencial determinado pela resolução de problemas sob a orientação de adultos ou em colaboração com companheiros mais capacitados (VYGOTSKY, 1991, p.97).

Entende-se que, ao jogar, a criança amplia sua capacidade de

desenvolver habilidades e conceitos. Assim, o jogo pode ser utilizado como

uma situação didática desenvolvida em sala de aula com a intenção de

promover a aprendizagem, buscando resolver um problema ou investigar uma

situação.

Para Muniz:

Nessa perspectiva, o jogo é concebido como um importante instrumento para favorecer a aprendizagem na criança e, em consequência, a sociedade deve favorecer o desenvolvimento do jogo para favorecer as aprendizagens, em especial, as aprendizagens matemáticas (MUNIZ, 2010, p.13).

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Além de Vygotsky (1991), Piaget (1978) também discute a importância

do jogo no desenvolvimento social, afetivo, cognitivo e moral da criança. De

acordo com Grando (2008, p.21), esse teórico propõe estudar os jogos

segundo três formas básicas de assimilação: o exercício, o símbolo e a regra,

investigando o desenvolvimento da criança nos vários tipos de jogos e sua

evolução no decorrer dos estágios de desenvolvimento cognitivo.

Segundo Piaget (1978), os jogos de exercício correspondem às

primeiras manifestações lúdicas da criança. Nesses jogos, a criança exercita as

estruturas subjacentes ao jogo, mas sem o poder de ação para modificá-las,

com a finalidade de vivenciar o prazer de funcionamento do próprio jogo. Nos

jogos simbólicos, ou jogos do tipo “faz de conta”, ocorre a representação, pela

criança, do objeto ausente, já que se estabelece uma comparação entre um

elemento real, um objeto e um elemento imaginado, o que ele corresponde,

mediante uma representação fictícia. Já os jogos de regras, são herdeiros das

regularidades presentes na estrutura do jogo de exercício e das convenções

criadas a partir do jogo simbólico, constituindo uma estrutura de jogo definida

pelo seu caráter coletivo, em que é possível jogar em função da jogada do

adversário.

Para Grando (1995), o jogo se apresenta como uma atividade dinâmica

e de prazer, desencadeada por um movimento próprio, desafiando e motivando

os jogadores à ação. A necessidade de auto-conhecimento do indivíduo, suas

capacidades, limites e existência é satisfeita pela atividade jogo, numa

competição que envolve muito mais o competir consigo do que com o outro,

propiciando ainda o desenvolvimento cognitivo. “Podemos dizer que o jogo

possibilita uma situação de prazer e aprendizagem significativa nas aulas de

matemática” (SMOLE et al., 2007), pois é um recurso que favorece o

desenvolvimento da linguagem, o raciocínio lógico, proporciona momentos de

interação entre os colegas, instiga os alunos a desenvolver estratégias, fazer

observações, análises, levantar hipóteses, além de fugir do modelo tradicional

das aulas, ao qual estamos acostumados.

De acordo com Smole et al.,

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Todo jogo por natureza desafia, encanta, traz movimento, barulho e uma certa alegria para o espaço no qual normalmente entram apenas o livro, o caderno e o lápis. Essa dimensão não pode ser perdida apenas porque os jogos envolvem conceitos de matemática. Ao contrário, ela é determinante para que os alunos sintam-se chamados a participar das atividades com interesse (SMOLE, et al. 2007, p.10).

Quando é proposta aos alunos uma atividade com jogos matemáticos,

normalmente a reação é positiva, pois o interesse pela atividade lúdica já

motiva a participação e o interesse de maneira natural. Porém, só o jogo pelo

jogo não tem objetivo pedagógico definido, sendo necessário que o professor

faça uma intervenção pedagógica, a fim de que a aprendizagem realmente

aconteça.

Antes de aplicá-lo em sala de aula, o professor deve fazer um estudo

minucioso do jogo escolhido, bem como prever as estratégias que serão

adotadas no decorrer do jogo, pois de acordo com Smole et al. (2007). Um jogo

pode ser escolhido porque permitirá que seus alunos comecem a pensar sobre

um novo assunto, ou para que eles tenham um tempo maior para desenvolver

a compreensão de um conceito, para que eles desenvolvam estratégias de

resolução de problemas ou para que conquistem determinadas habilidades que

naquele momento você vê como importantes para o processo de ensino e

aprendizagem.

De acordo com Grando:

Consideramos que o jogo, em seu aspecto pedagógico apresenta-se produtivo ao professor que busca nele um aspecto instrumentador e, portanto, facilitador na aprendizagem de estruturas matemáticas, muitas vezes de difícil assimilação, e também produtivo ao aluno, que desenvolveria sua capacidade de pensar, refletir, analisar, compreender conceitos matemáticos, levantar hipóteses, testá-las e avaliá-las (investigação matemática), com autonomia e cooperação. (GRANDO, 2008, p. 26).

Assim, no decorrer do processo educativo através da atividade com

jogos, a criança vivencia situações que auxiliam no desenvolvimento do seu

raciocínio lógico, favorecendo assim, positivamente na aprendizagem.

2. A ATIVIDADE EM DESENVOLVIMENTO:

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O projeto foi desenvolvido na Escola Estadual Nossa Senhora das

Graças - Ensino Fundamental, no período noturno, com professores do Ensino

Fundamental, na forma de Grupo de Estudos, realizando a implementação em

sete encontros presenciais, seis de quatro horas e um de oito horas, com o

objetivo de proporcionar aos professores um momento de reflexão, discussão,

produção de material e formação continuada, pesquisar e coletar informações

sobre a concepção do uso das atividades lúdicas em sala de aula.

Foi elaborado um Material Didático, utilizado para possibilitar o

desenvolvimento do Projeto de Intervenção Pedagógica na escola. Nesse

material, estão descritas várias atividades envolvendo jogos matemáticos,

abordando as quatro operações fundamentais, que foram aplicadas pelos

professores durante suas aulas, com o intuito de refletir sobre a contribuição

que uma atividade lúdica pode trazer no cotidiano escolar, bem como, constatar

se houve aprendizagem de fato.

De acordo com Fiorentini, Lorenzato (2007), “o pesquisador, ao iniciar

uma pesquisa de campo, sempre produz intervenções no ambiente a ser

investigado, causando alguma perturbação nos sujeitos”. Com esse objetivo, foi

apresentada aos profissionais inscritos, a proposta de estudar e discutir a

respeito da contribuição dos jogos matemáticos na prática docente em sala de

aula, como recurso pedagógico capaz de auxiliar o aluno na compreensão dos

conceitos matemáticos e de tornar as aulas mais interessantes.

No primeiro encontro, foi apresentada a proposta de trabalho aos

professores através de uma apresentação de slides, comentando sobre a

contribuição dos jogos matemáticos, durante as aulas da disciplina de

Matemática. Em seguida, foi aplicado um questionário às participantes, para

verificar a concepção de cada um a respeito dos jogos matemáticos. De acordo

com as respostas apresentadas no questionário, conclui-se que esse tipo de

atividade já é um recurso utilizado atualmente e que traz resultados positivos

ao ensinar os conteúdos matemáticos.

Na sequência, foi feita a leitura e discussão do texto: “Jogos como

prática matemática da formação de Docentes e dos alunos das séries iniciais”.

As atividades foram desenvolvidas de maneira bastante proveitosa e com

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bastante interesse das participantes, permitindo a discussão e reflexão do

quanto é importante uma formação de qualidade.

No segundo encontro, como aprofundamento teórico, foi realizada a

leitura e discussão do texto: “Um Pouco de História do Sistema de Numeração

Decimal (SND)”, objetivando conhecer um pouco que a perspectiva histórica

proporciona a oportunidade de compreender que a constituição da ideia de

número, surge de maneiras diferentes, em culturas diferentes. Na sequência,

conduzida uma apresentação em slides sobre “Os Jogos nas aulas de

Matemática; Funções do Jogo; Jogo e resolução de problemas; Maneiras de

explorar o jogo nas aulas de matemática; Planejamento do trabalho envolvendo

os jogos”. Todas essas discussões possibilitaram enfatizar o quanto é

importante o bom planejamento das atividades para que os objetivos sejam

alcançados. Além disso, apresentada uma sugestão de Jogos para abordar o

conteúdo sobre SND, fazendo a construção de um ou mais Jogos para utilizar

em sala de aula. Em seguida, foi construído em conjunto um Relatório

avaliativo para o jogo. A discussão foi muito produtiva, pois ficou concluído que

é de suma importância realizar o registro da atividade.

No terceiro encontro, aconteceu uma apresentação feita em slides sobre

os sete momentos do Jogo, segundo Grando (2008, p.45):

- Familiarização do aluno com o Jogo;

- Reconhecimento das Regras;

- Jogar para garantir regras;

- Intervenção Pedagógica Verbal;

- Registro do Jogo;

- Intervenção escrita;

- Jogar com competência.

Esse estudo possibilitou observar que, quando bem planejada, a ação

fornece dados para análise do professor e também serve como instrumento de

avaliação. Também foi feita a apresentação de sugestão e construção de Jogos

abordando o conteúdo sobre as Operações de Adição e Subtração.

No quarto encontro, foi realizada a Leitura e discussão do Capítulo 1 –

“O Jogo na Educação Matemática: Aspectos Teóricos e Metodológicos”.

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(GRANDO, 2008, p.17) que apresenta as vantagens e desvantagens de se

utilizar o jogo matemático nas aulas. Percebe-se que o trabalho envolvendo a

utilização dos Jogos exige maior dedicação por parte do professor. Porém, os

resultados são positivos em relação à aprendizagem. Nesse dia, foi feita a

construção de Jogos abordando o conteúdo sobre as Operações de

Multiplicação e Divisão, Divisores e Divisibilidade.

No quinto encontro, houve discussão sobre a análise do erro do aluno no

jogo, possibilitando a aprendizagem através do erro, como o erro pode auxiliar

no processo de ensino-aprendizagem. Feita a construção de jogos abordando

o conteúdo sobre Potenciação. Nesse encontro em especial, surgiu um

interesse muito grande por parte das professoras, no intuito de perceber que

essa é mais uma forma de ação, que contribui no processo de ensino-

aprendizagem.

No sexto encontro, discutiu-se sobre as Intervenções Pedagógicas que

podem ser feitas pelo professor ao trabalhar com jogos. Foi feita uma análise e

reflexão de como e quando deve haver a intervenção do professor, para que os

objetivos da atividade sejam realmente atingidos. Novamente aconteceu a

construção de jogos abordando o conteúdo sobre Expressões Numéricas. A

proposta final de atividade foi para que cada professor escolhesse duas turmas

para realizar uma experiência: Numa turma deveria escolher um conteúdo

abordado durante os encontros, para aplicar o jogo; na outra deveria trabalhar

o mesmo conteúdo, mas sem a utilização do jogo e fazer uma verificação sobre

os resultados obtidos. O registro da experiência foi trazido para o último

encontro.

No último encontro aconteceu o fechamento das atividades com a

apresentação dos trabalhos realizados, de acordo com a proposta feita e

também o preenchimento do questionário avaliativo dos encontros. Porém, foi

surpreendente a apresentação das professoras, relatando que a

Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica proposto foi além das

expectativas. Os jogos selecionados para trabalho com os alunos foram

excelentes e serviram ainda como incentivo ao desenvolvimento,

aprofundamento deste tipo de atividade.

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Isso porque, quando iniciado o trabalho de Implementação Pedagógica,

muitas dificuldades surgiram no sentido de encontrar professores dispostos a

participar, seja por falta de tempo, incompatibilidade de datas e horários, ou

outro motivo particular. Inscreveram-se somente quatro professoras, e

concluíram a formação somente três.

Mesmo assim, diante de todos esses complicadores, o trabalho

apresentou resultados excelentes. Ao mesmo tempo em que ocorreu a

implementação, foi desenvolvido pelas participantes um trabalho com jogos em

turmas do Ensino Fundamental – Fase Inicial, Ensino Fundamental – Fase

Final, EJA – Educação de Jovens e Adultos e também da Educação Especial,

envolvendo alunos da Sala de Recursos Multifuncional tipo um.

Na Sala de recursos os alunos confeccionaram não só os Jogos

indicados pela proposta de Intervenção, mas também outros que eles mesmos

selecionaram através de pesquisas. De acordo com as professoras, esta

atividade permitiu trabalhar com conceitos cognitivos básicos, incluindo

exercícios de coordenação motora e discriminação viso-motora através de

recortes, pinturas, colagens, medições, leitura e interpretação das regras dos

Jogos, raciocínio lógico, cálculo mental, seleção, seriação, classificação e

ênfase nas quatro operações fundamentais.

“Durante a realização da proposta pudemos identificar muitas

dificuldades dos nossos alunos, intervindo neste sentido e planejando futuras

ações e ou atividades que possam auxiliá-los na superação das mesmas,

trocando ideias e experiências, sugestões sobre cada caso específico”,

declarou uma das participantes.

Os alunos da Sala de Recursos foram orientadores da aplicação destes

jogos nas turmas de 4º e 5º ano (Ens. Fundamental – fase inicial) e 6º ano

(Ens. Fundamental – fase Final). Como relataram as professoras, esse foi um

novo desafio para os alunos da Educação Inclusiva, pois esta atividade

promoveu desenvolver a socialização, a explanação das regras dos jogos pelos

mesmos, que tiveram que enfrentar seus receios e falar, orientar os demais,

envolver–se com todos. “Foi uma experiência muito gratificante e

emancipadora para todos os envolvidos nela”, disse uma das professoras.

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Na atividade desenvolvida com a EJA – Educação de Jovens e Adultos –

Fundamental noturno, houve a colaboração da professora da disciplina de

Matemática. Nesta modalidade de ensino os alunos também apresentam

muitas defasagens em relação ao processo do cálculo das quatro operações

fundamentais, compreensão das regras de alguns jogos (aqueles mais

complexos) e ainda, o fato da não aceitação das próprias dificuldades por parte

de alguns diante dos jogos. Em princípio, a visão que os estudantes tinham em

relação ao jogo é de que: “isso é coisa de criança”! (citação de um aluno). A

aplicação dos jogos em sala de aula aconteceu com uma certa resistência no

início, devido à concepção que tinham sobre esse tipo de atividade. Romper

barreiras, superar desafios, despertar interesse e motivar os alunos, foi

possível na medida em que o entendimento do conteúdo ficou evidente após a

atividade prática durante as aulas. Dessa forma puderam perceber a vantagem

de se aprender com o jogo. Detalhes que antes não eram bem compreendidos

ganharam significado através das atividades lúdicas.

Conforme relato das professoras, no transcorrer da atividade, aos

poucos foram compreendendo que jogar é mais uma das muitas maneiras que

se tem para aprender, e que tal estratégia, implica na necessidade de

conhecimentos de conceitos básicos. “É aprender brincando.”

Ainda foi relatado pelas professoras que, ao finalizar as intervenções,

outros colegas de trabalho manifestaram interesse em também confeccionar os

Jogos matemáticos apresentados, solicitando inclusive aplicação das

atividades em outras turmas do ensino fundamental, processo este concluído

ainda no ano de 2015.

Enfim, o desenvolvimento desta proposta de Intervenção Pedagógica foi

de grande valia, contemplou mais de uma modalidade de ensino e oportunizou

novas formas de ensino-aprendizagem, trazendo resultados significativos para

o desenvolvimento dos alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo o trabalho desenvolvido, através das respostas

registradas no questionário avaliativo dos Encontros de Implementação,

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concluiu-se que o jogo é uma atividade que desperta maior interesse nos

alunos, bem como, possibilita além do aprendizado de conteúdos matemáticos,

o desenvolvimento de habilidades cognitivas. A atividade didática trouxe um

resultado positivo nas turmas onde foi utilizado, servindo como motivação para

que outros professores adotem essa prática em sala de aula.

Houve contribuição no aperfeiçoamento, compreensão e memorização

de conceitos matemáticos, melhora na socialização, cooperação mútua,

participação da equipe em busca de desenvolver estratégias e fazer análises.

Isso foi possível evidenciar através dos relatos das professoras participantes ao

realizar as atividades com seus alunos.

Assim, ficou evidente ainda que, quando o professor planeja bem a

atividade, tem objetivos claros e faz as intervenções de maneira adequada, o

jogo pode ser utilizado inclusive como instrumento avaliativo.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação. Caderno de Teoria e Prática 3, do Programa de Gestão da Aprendizagem Escolar GESTAR I .Operações com Números Naturais. Brasília: Ministério da Educação, 2007. Disponível em: portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/gestar/tpmatematica/mat_tp3.pdf. Acesso em 10/08/14.

D’Ambrosio, U. Etnomatemática: Arte ou Técnica de Explicar ou Conhecer. São Paulo: Editora Ática, 1990.

FIORENTINI, Dario; LORENZATO, Sérgio. Investigação em Educação Matemática: percursos teóricos e metodológicos. 2. ed.rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2007.

GRANDO, Regina Célia. O Jogo e suas possibilidades metodológicas no processo ensino-aprendizagem. Dissertação de Mestrado. Campinas: UNICAMP, 1995.

GRANDO, Regina Célia. O Jogo e a Matemática no Contexto da Sala de Aula. São Paulo: Paulus, 2ª edição, 2008.

LAKOMY, Ana Maria. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. 2. ed. rev. Curitiba: Ibpex, 2008.

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