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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Holanda, “Apesar de você”; intérprete Elis Regina, “O bêbado e a equilibrista”; Caetano Veloso, “Alegria

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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MÚSICA E LITERATURA: PRÁTICAS DE ENSINO A PARTIR DA ESTÉTICA DA RECEPÇÃO

Karin Vaniessa Andriola* Daniela Silva da Silva**

RESUMO O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados obtidos a partir do debate entre literatura e música, utilizando a Estética da Recepção e a Melopética como forma de exercitar a leitura de textos literários com os alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual Dom Carlos de Palmas-PR, onde se buscou compreender, a partir das relações entre essas duas áreas, o período histórico brasileiro compreendido entre os anos de 64 e 85. Para tanto se tomou como corpus de estudo o conto “Os sobreviventes”, de Caio Fernando de Abreu, e o poema “Voltas para casa”, de Ferreira Gullar. O trabalho se justificou por apresentar uma proposta metodológica para as aulas de literatura, pondo em diálogo a música, o conto e o poema como fontes para problematizar um tema: a ditadura militar no Brasil, que pode servir para reflexão do contexto atual dos alunos, tendo em vista as diversas manifestações sociais dos dias de hoje. Sendo assim, lidamos com o debate entre as mudanças sociais, políticas e culturais das décadas de 60, 70 e 80, proporcionando, então, uma forma de os alunos pensarem a leitura como uma maneira de comunicação e interação entre leitor/autor/texto.

Palavras-chave: Literatura. Leitura. Música. Ditadura. Estética da Recepção.

INTRODUÇÃO

A literatura é uma das maneiras de mudar um indivíduo, um grupo, uma

sociedade. Quando pequenos, na nossa vida escolar, mantemos contato com os

livros literários. Porém, ao crescermos nem todos continuamos esse contato.

Nos anos em que temos trabalhado com Ensino Médio, percebemos a

resistência dos alunos em ler livros de textos literários.

As aulas de literatura, há muito tempo, vêm sendo ministradas da mesma

forma cristalizada privilegiando o aspecto cronológico histórico literário, o que

desmotiva a prática da leitura com prazer. Percebemos, assim, que muitos alunos só

leem se forem obrigados, para receberem uma nota, e, quando o fazem, apresentam

baixo desempenho, pois ainda não se tornaram leitores críticos e por isso não

identificam recursos discursivos mais sofisticados.

*Licenciada em Letras Português. CPEA - FAFI Palmas PR. Especialização em Produção e Recepção de Textos - CPEA Palmas PR ** Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande, FURG, (2004), mestrado (2006) e doutorado (2010) em Linguística e Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS. Foi bolsista de iniciação científica e de doutorado, pelo CNPq, e de mestrado pela CAPES. Fez estágio com Bolsa Sanduíche - PDEE também pela CAPES, na qualidade de Visiting Scholar na Universidade de STANFORD dos EUA (2008).

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Com o interesse de mudarmos, aperfeiçoarmos, a conduta pedagógica,

buscando contribuir para a mudança dessa mentalidade, é que se propôs esta

pesquisa. Tendo como ponto de partida a “Teoria da Recepção”, formulada por Hans

Robert Jauss e seus colegas da Escola de Constança. Esses pesquisadores

apontam alternativas à apresentação de textos literários aos alunos, sem que se

anule a época em que foram escritos, os motivos que levaram os autores a

determinada produção, assim como as temáticas por eles abordadas, sem deixar de

aproximar autor/leitor/obra.

Para desenvolver essa forma de ler e tornar as aulas de literatura mais

dinâmicas, a proposta foi trabalhar com a música relacionando-a ao período da

ditadura militar no Brasil. Percebemos, por isso, a necessidade de utilizar métodos

que ressignifiquem o estudo da literatura em sala de aula.

Assim como os livros literários, a música tem um papel importante na

sociedade, uma vez que é um meio de comunicação poderoso. Através dela,

expressarmos sentimentos arrebatadores e extremos. Ela também resgata a história

da sociedade quando vemos que “todo e qualquer movimento revolucionário teve

sua música como tema”. (PINHEIRO, 2011, p.9)

Além disso, o propósito de se escolher a época do Regime Militar para

analisar, relacionar e comparar música e literatura, durante as aulas em que o

projeto foi desenvolvido, deu-se porque, a partir do golpe militar do ano de 1964, o

Brasil passou a conviver com um regime muito diferente daqueles aos quais já

estava acostumado. Essa diferença é marcada, principalmente, pela repressão e

censura impostas pelos ditadores à imprensa brasileira, aos artistas e ou a qualquer

tipo de comunicação: nada poderia fugir, destoar daquilo de que os ditadores

gostariam que fosse falado, criado, cantado e contado. Conforme Pinheiro (2011,

p.10),

Sempre que se fala no período do regime militar instalado no Brasil, principalmente entre os anos de 1964 e 1974, não se pode deixar de mencionar a música popular brasileira. A MPB representou, durante aquele período, um dos maiores e mais fortes instrumentos de reflexão, comunicação e formação de opinião. Numa época que a imprensa estava sujeita à censura prévia, o povo brasileiro sentiu a necessidade de buscar novas formas de expressar e registrar o que sentia.

Por todas essas razões, o trabalho se justificou por apresentar uma proposta

metodológica para as aulas de literatura, pondo em diálogo a música, o conto e o

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poema como fontes para problematizar um tema: a ditadura militar no Brasil, que

pode servir para reflexão do contexto atual dos alunos, tendo em vista as diversas

manifestações sociais dos dias de hoje.

Para tanto, notou-se que o maior problema enfrentado pelos profissionais do

Colégio Estadual Dom Carlos de Palmas – PR foi fazer com que suas aulas de

literatura fossem mais dinâmicas para os alunos do Ensino Médio. Além de ensiná-la

de forma “engessada”, sempre do mesmo modo, privilegiando o aspecto cronológico

da história da literatura, método esse, que desvaloriza o texto para dar ênfase ao

contexto histórico, o tempo torna-se insuficiente para, através da obra/texto,

desenvolver o trabalho de leitura reflexiva com os alunos.

Por isso, traçou-se para o projeto a seguinte questão problema: Como a

música brasileira lê a literatura brasileira e assim podemos construir práticas de

ensino sobre o tema da ditadura em Caio Fernando de Abreu e Ferreira Gullar a

partir da Estética da Recepção e da Melopoética?

Partindo dessa problemática, buscou-se durante nossa permanência no

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), oriundo do governo do Estado do

Paraná, desenvolver ações pedagógicas voltadas à leitura reflexiva e criativa.

Através da referência bibliográfica e da relação com as teorias discutidas com

professores da IES, tornamo-nos mais capacitados para nossa atuação em sala de

aula, dando às nossas aulas um novo significado em relação à leitura literária e a

forma como ela é trabalhada com os alunos. Acreditou-se que, a partir disso, tivemos

suporte para as reflexões que pretendíamos fazer tendo como referência Oliveira

(2002) e Zilberman (1989), autoras que discutem música e literatura, aquela a

música e esta a literatura, mas ambas abordando a Estética da Recepção.

Essa problemática levou-nos ao seguinte questionamento: como trabalhar a

leitura de textos literários de forma dinâmica com alunos de Ensino Médio?

Trabalhamos conforme as Diretrizes Curriculares de Ensino (DCEs), a fim de

propor outras formas de abordagem, com base na teoria literária, as quais se

acreditavam que pudessem ser eficazes no ensino de leitura de textos literários. Por

esse motivo, propôs-se um trabalho embasado na Estética da Recepção para criar

aulas de literatura, objetivando, assim, aprimorar a metodologia a fim de elevar a

qualidade de ensino nas escolas do Paraná.

Aliada à Estética da Recepção trabalhamos música e literatura durante o

período da ditadura militar no Brasil e, para fazer o elo entre essas duas artes,

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escolhemos o conto “Os sobreviventes” de Caio Fernando de Abreu, o poema

“Voltas para casa” de Ferreira Gullar na literatura, e na música: Chico Buarque de

Holanda, “Apesar de você”; intérprete Elis Regina, “O bêbado e a equilibrista”;

Caetano Veloso, “Alegria, alegria”; Geraldo Vandré, “Pra não dizer que eu não falei

das flores” e Legião Urbana, “Que país é esse?”, com vistas a destacar as relações

entre artes. Mas, para que essa metodologia atingisse o objetivo esperado, fez-se

necessário traçar alguns pontos que deveriam ser seguidos. Portanto, formulamos

atividades em que buscassem, acima de tudo, promover um debate entre literatura e

música, utilizando as contribuições teóricas da Estética da Recepção como forma de

exercitar a leitura de textos literários, com os alunos do Ensino Médio, e por meio

disso também compreender, a partir de discussão temática, as relações entre essas

duas artes, e o período entre 64 e 85.

Dessa forma foi necessário:

- estudar os princípios da Estética da Recepção e da Melopoética.

- compreender as origens da estética engajadora principalmente no conto de

Caio Fernando de Abreu e no poema de Ferreira Gullar.

- entender as mudanças sociais e políticas das décadas correspondentes a

1960, 1970 e 1980 articulando aquele momento histórico com a realidade atual.

- destacar a presença da ideologia rebelde na música de Caetano Veloso, a

intérprete Elis Regina, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Legião Urbana,

relacionando-os com os autores Caio Fernando de Abreu e Ferreira Gullar.

A partir desse aporte, propusemos o debate sobre as mudanças sociais,

políticas e culturais das décadas de 60, 70 e 80, proporcionando uma forma para

que os alunos pensassem a leitura como uma maneira de comunicação e interação

entre leitor/autor/texto. Quando esse diálogo ocorresse que os alunos

fossem capazes de refletir sob uma visão crítica de que a leitura é capaz de oferecer

aos indivíduos a capacidade de transformação da realidade onde estão inseridos.

Para tanto esse artigo se divide em três partes: Introdução - apresentada até

então; o Desenvolvimento – o que virá a seguir; e por fim serão apresentados os

Relatos das Aulas e as Considerações Finais.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Partindo das propostas de Regina Zilberman e Solange Ribeiro de Oliveira,

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buscamos resolver nosso problema de pesquisa e através das autoras temos os

conceitos de Literatura e Música: A Estética da Recepção e análise da obra musical,

e a Estética da Recepção e história da literatura.

A primeira autora, Regina Zilberman, discute os conceitos da Estética da

Recepção, divulgada na década de 70, na Alemanha, quando Hans Robert Jauss,

em uma exposição durante um congresso bienal dos romancistas, apresenta uma

nova visão e forma de trabalho sobre a teoria da literatura.

Essa nova técnica tem início nos anos 60, está relacionada a acontecimentos

políticos e se enraíza no ambiente intelectual alemão, por isso afeta além dos

setores das investigações literárias a sociedade ocidental.

Em 1967, na Universidade de Constança, na Alemanha, ocorreu uma reforma

educacional, conhecida como “Provocação” a qual ocorre pela recusa dos métodos

tradicionais de literatura, que eram considerados desinteressantes.

Wolfgang Iser, na mesma linha de Jauss, afirma que o texto possui

uma estrutura de apelo e é por causa desta que o leitor se torna peça fundamental

de uma obra, que é compreendida como característica de comunicação.

Divergindo de Iser e Jauss, Hohendahl, citado por Zilberman, afirma-se que

na Escola de Constança: “os estudos sobre o leitor são classificados como

extrínsecos, em contraste com a abordagem intrínseca, que focaliza o fenômeno

estético-literário em si mesmo.” Hohendahl apud Zilberman (1989, p.14), em relação

à Estética da Recepção, vão além, ao afirmar que o historicismo é divergente,

enquanto proposta para a Estética da Recepção. Todavia, Jauss acredita que a

possibilidade de uma obra do passado ser percebida no presente significa

atualização, uma vez que esta não deve ser identificada através de um dado período

histórico. A experiência vivida pelo leitor para a teoria da literatura é de suma

importância, e ela nos permite analisar as ligações entre as artes de uma

determinada época passada e o receptor contemporâneo.

Além das teorias temos ainda a sociologia da leitura. Tal corrente tem por

objetivo estudar o público enquanto fator ativo do processo literário. Percebemos,

então, que a sociedade dispõe de elementos que podem facilitar a disseminação de

uma obra ou de um autor. Além disso, os estudos à sociologia da literatura encaram

a obra como testemunho político e ideológico, onde o autor analisa seus escritos

partindo do consumo de seus livros quando lidos, tendo como finalidade avaliar os

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mecanismos de distribuição e circulação do livro. Considerando a situação social do

escritor, este estudo é capaz de identificar diversos caminhos traçados pelos textos,

e, dessa forma, pode-se entender por que a cultura se divide em erudita e de massa.

R. Escarpit (apud Zilberman,1989,p.18), em outras publicações, discute como um

livro e a leitura permanecem no mercado, qual a duração do prestígio do autor, bem

como a interferência do mercado na produção e divulgação de uma obra. A

sociologia da leitura não tem sua importância diminuída por esse motivo, sua

eficiência está em compreender a sua permanência no cotidiano, caracterizada pela

circulação e consumo da obra. E para que essa existência ocorra, o leitor tem papel

fundamental no conjunto de suas ideologias.

Já o estruturalismo tcheco, fundado em 1926 e divulgado em 1929, seguindo

padrões do formalismo russo, herdeiro das ideias de Roman Jakobson, Sergei

Karcevsky e Piotr Bogatyrev, representou uma importante mudança na concepção

de valor estético, quando se torna elemento móvel, deixando de ser uma ideia

universal, porque a arte é renovada constantemente. E cabe a ela “desautomatizar”

os processos perceptivos do indivíduo leitor, quando, esses, ao acostumar-se com o

cotidiano acabam ignorados, por isso não há como evoluir em pesquisas sem

reconhecer o leitor.

Sendo assim, é o leitor que transforma a obra em objeto estético quando este,

decifra os significados transmitidos por ela. A estética estrutural de Jan Mukarovsky

“concebe ao recebedor como uma consciência ativa, com papel determinante, ao

facultar a passagem da obra da condição de coisa inerte à de objeto significativo.”

Zilberman (1989, p.22). Além disso, o recebedor não é definido como indivíduo

particular, mas um ser de consciência coletiva, portanto um importante elo entre a

visão de obra de arte para a visão sociológica.

Dessa forma, sabe-se que a percepção da obra não se dá de maneira direta.

A consciência estética participa da criação artística que passa por transformações

porque mudam as normas literárias. E, por serem elementos de estatização, sua

estabilidade é precária, uma vez que a ruptura dessas normas constrói a evolução

de arte e literatura. O que prova que a literatura é um fenômeno contínuo, e ao

mesmo tempo em constante transformação.

A norma é, portanto, o elo que intermedeia o sujeito e o objeto estético, a obra

individual e a história, assim como seus fatores estruturais. No entanto, ela não é um

determinante de valor artístico. Cada texto, em particular, nega as normas vigentes.

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Por fim, a mudança no enfoque em relação ao autor/época/criação é notável.

Independente de quando uma determinada obra apareceu com audiência, ela se

transporta no tempo e tem respostas às necessidades distintas do leitor de cada

época. As obras vão e vêm no tempo, portanto, não há como tratá-las de forma

linear em sua historicidade.

Jauss divide seu projeto em sete teses, sendo as quatro primeiras consideradas

premissas que servem de, consideradas por ele, “linhas mestras da metodologia

explicitada nas três últimas”.(ZILBERMAN,1989,p.33)

A primeira impõe que “a natureza eminentemente histórica da literatura se

manifesta durante o processo de recepção e efeito de uma obra” (Zilberman,

1989,p.33). A segunda tese examina a experiência literária do leitor, onde sua

análise é feita a partir da recepção, efeito da obra; isto é: Jauss busca determinar o

virtual do leitor, o saber prévio. A terceira tese é a reconstituição do horizonte. A

quarta tese compromete-se com a hermenêutica e procura associar o texto com a

época de seu aparecimento, sem deixar de dialogar com o público, uma vez que, um

texto apresenta um discurso com liberdade significativa, o que o liberta do domínio

de seu criador assim que é escrito. O programa de ação de Jauss investiga a

literatura sob tríplice aspecto: o diacrônico correspondente à quinta tese, que se

refere à recepção de obras literárias ao longo dos tempos. Ele afirma que uma obra

não perde o seu valor ao se transpor de uma época a outra, o que pode ocorrer é

sua importância crescer ou diminuir no tempo. A sincrônica, que para o público

aparece com simultaneidade, ou seja, o público percebe a multiplicidade de uma

obra através da Estética da Recepção e as relaciona com outras obras de sua

atualidade, construindo dessa forma, a unidade de um horizonte comum e gerador

de significados, antecipações literárias, expectativas e recordações.

A última tese refere-se às relações da literatura com a sociedade. Essa tese é

compreendida como formadora. É ela quem determina a importância da literatura no

meio social, uma vez que é responsável por pré-formar a compreensão de mundo do

leitor, que repercutirá no seu comportamento social.

As análises da literatura medieval é que levaram Jauss a organizar

indicações conceituais sobre a história da literatura, e nos apresentar a Estética da

Recepção. O autor afirma que uma obra é independente de seu tempo de criação.

Assim sendo, cada período possui uma particularidade, todavia, não há um ponto de

observação privilegiado, todos pertencem ao encadeamento temporal de onde se

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examinam presente e passado. O objetivo principal da Estética da Recepção é

trabalhar com o resultado da investigação, que coincide com a reconstituição do

“horizonte da pergunta e da resposta”, e não o da época em que a obra foi escrita,

quem a escreveu e por quê. Portanto, o foco da história da literatura deve recair

sobre o leitor, ou a recepção e não sobre o autor, a produção.

Contudo, a função social da arte é de influenciar o destinatário, quando

aborda normas ou as cria, veiculando-as, poderá reproduzir padrões já existentes,

mesmo que ao fazê-lo, reforce-os, e consegue ultrapassar a condição de reflexo. A

arte também pode antecipar-se à sociedade, quando sua produção está muito à

frente dela, ela é inovadora e rompe com códigos “consagrados”. Quando isso

acontece, assume a natureza utópica, apresentando não o que é, mas o que poderá

ser.

Enfim, a literatura, na prática, assume uma função importante: a de criar ou

destruir normas, e do exame da experiência estética, verificar a importância da

identificação quando esta estiver na condição de exercício da função comunicativa,

por parte de um produto artístico.

No que respeita à hermenêutica literária, podemos dizer que essa ciência geral

da interpretação fornece a Jauss conceitos importantes para a revisão teórica da

literatura. Criada por Gadamer cita alguns conceitos da hermenêutica: o horizonte de

expectativas; a lógica da pergunta e da resposta. Logo, a hermenêutica ocorre de

forma simultânea: a compreensão fruidora e a fruição compreensiva.

Em 1975, Jauss menciona a diferença entre leitor implícito e leitor explícito,

ao se referir às duas espécies de concretização: a do horizonte implícito – de

expectativas; e a análise das expectativas – normas e papéis extraliterários. O

primeiro corresponde ao leitor implícito, possui cunho intraliterário, ou seja, já

prefigurado pelo texto, que transmite a recepção condicionada pelo leitor, esse

contribui com suas experiências pessoais, subjetivas que vão dar vida à obra e

dialogar com ela.

O segundo corresponde ao leitor explícito que inclui elementos de ordem

histórica, social ou até mesmo biográfica. Este transmite orientações prévias,

imutáveis ao texto, porque o texto permanece o mesmo ao leitor.

Finalizando a reflexão sobre a Estética da Recepção, num texto literário,

ambos os leitores são importantes para a recepção, uma vez que, é na fusão desses

dois que acontece a hermenêutica literária. E, se a leitura de um texto só ocorre

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diante da mediação de um leitor, o mesmo ocorre com a música como comprova

Solange Ribeiro Oliveira, na obra “Literatura e Música” onde podemos constatar, nos

próximos parágrafos, que a leitura de uma a partitura depende de seu intérprete para

a execução musical, que também tem relação de dependência com a Estética da

Recepção.

Solange Ribeiro Oliveira, ao tratar de literatura e música na obra Literatura e

Música, aborda a Melopoética, – do grego mélos (canto) + poética (dado sistema

poético), campo interdisciplinar cada vez mais respeitado, o qual Steven Paul Scher

distingue em duas orientações genéricas. Sendo a primeira técnica ou formativa a

qual se apoia em noções técnicas, críticas e metodológicas, e a segunda é a cultural

que busca interpretar os fenômenos artísticos em função do contexto cultural.

Podemos observar que as duas formas não são incompatíveis mas complementares,

o que reforça a importância da Melopoética. Por isso, podemos considerar entre elas

literatura e música, uma estética intersemiótica.

Na música, enquanto produto normalmente criado sem predeterminação de

limites definidos, por exemplo, ao nível melódico e/ou político, onde cada uma de

suas partes se constituem em elementos inseparáveis de apreensão rítmico-

harmônico integrado a uma dada sensação estética. Na literatura, a arte gráfica de

ritmo-musicalidade subjetivamente implícita, repete-se essa integração inscrita na

relação entre o todo e as partes o que constitui como elemento próprio de

compreensão da mensagem veiculada. A essa designação, tomando termo de Paul

Steven Scher podemos chamar Melopoética.

Solange Ribeiro Oliveira discute que a literatura tem um papel importantíssimo

na sociedade pois ela influencia o leitor quando este, ao ler, torna-se co-autor de um

texto o que o capacita para mudar a si e até mesmo um contexto social e o mesmo

pode acontecer com a música. Essa influência só acontece porque segundo a

formulação de Oliveira (MUKAROSWISKY apud Oliveira, 2002, p.82) a obra de arte

abrange três elementos: um sensorial, criado pelo artista; um sentido (= objeto

estético) situado na consciência social (= leitor/interprete coletivo) que se projeta na

consciência individual e por último a relação com a coisa significada que é a que

remete a todo o contexto social. Do contrário, Oliveira (2002, P.83) afirma:

Sem a participação de um intérprete, a obra literária, como a musical, assemelha-se a uma partitura, simples material recoberto de caracteres gráficos. Só a ação de um leitor/ouvinte pode chamá-la à vida, galvanizar a

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criação meramente potencial latente na representação gráfica.

Partindo dessa afirmativa teremos a estética da recepção e para melhor

compreendê-la, no decorrer desse estudo, faremos uma analogia entre a literatura e

a música. Para tanto podemos constatar, inicialmente, que assim como a partitura

depende da execução musical, a leitura de um texto só se concretiza diante da

mediação de um intérprete para ele, no caso o leitor.

Essa relação entre texto/leitor/intérprete ocorre a partir da estética da

recepção, a qual se estabelece como ponto de encontro entre texto e leitor que

dialogam, e é por essa união que efetivamente a obra de arte marca sua existência.

Porém, a recepção só acontecerá se existir a interação entre os elementos citados

anteriormente; depende de um horizonte de expectativas, da consciência do leitor,

da literalidade e do caráter de ficção de uma obra, pois um texto se constitui de

elementos nele embutidos (processo objetivo) e pela ação do leitor (processo

subjetivo). Podemos atribuir tais características também à música uma vez que as

obras musicais vêm sendo bastante analisadas através da estética da recepção.

Emprestando seu aparato crítico à musicologia, a crítica literária paga assim a dívida para com a origem musical da metáfora que explora a analogia do texto literário com uma partitura, dependente de um executante/intérprete para sua plena existência. Em contrapartida, alguns musicólogos comparam a peça musical à obra de arte verbal. (OLIVEIRA,2002, p.85)

Portanto a composição musical se dá a partir de uma ‘leitura’ efetuada por

ouvintes/executantes providos de sua competência auditiva ou por sua familiaridade

com a música o que valida a execução da obra. Assim, este leitor da obra musical

torna-se ‘autoridade’ no assunto porque compreende desde, por exemplo, o simples

ouvinte até os vários tipos de intérpretes como: cantor, executor de instrumentos,

regente de uma orquestra, mas esse conhecimento só foi possível porque antes

aconteceu uma leitura ou uma ação criadora do ouvinte/intérprete, e a mesma deu

“vida” musical à partitura.

Acontece, dessa forma, também com a literatura que emerge do indivíduo a

partir de seus conhecimentos prévios. Para melhor ilustrar, pegaremos como

exemplo de uma partitura composta por Mozart. Quando ouvimos o

compositor/executor temos uma forma de interpretação original, mas se porventura

um músico contemporâneo lê essa partitura e tira dela seus próprios arranjos

musicais para a apresentação de um concerto, teremos a reinterpretação da obra

musical de Mozart. Há, portanto, leitura diferente, idiossincrática de quem a está

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produzindo ou a reproduzindo neste momento. A essa reprodução podemos chamar

de intertextualidade, quando o ato de ouvir pode criar e/ou recriar uma obra

ouvida. O mesmo poderá acontecer com a leitura de um texto literário, cada leitor dá

um sentido e “ao fazê-lo, atribui à relação intertextualidade de obras musicais o

mesmo valor que lhe concedem, na esfera do literário”. (OLIVEIRA, 2002, p. 91)

Da mesma forma que ocorre a intertextualidade, dependendo de nossos

anseios e bagagem histórica, um texto ou uma música podem ter diferentes

recepções do pretendido pelo seu autor ou compositor, bem como pode exercer a

função de canal para denúncias particulares, políticas e ou culturais. A recepção

individual é responsável pela diversidade interpretativa que o leitor ou o ouvinte

podem dar a um texto ou a uma música. “O caráter político dessa conclusão sugere

a forma, às vezes imprevista, como a música manipulada pelos detentores do poder

(...) pode ser apropriada pelos oprimidos e utilizada para seus próprios fins”.

(OLIVEIRA, 2002, p. 95). Nesse sentido “a recepção criativa consegue transformar o

texto musical em meio de expressão de uma cultura e suas aspirações políticas, o

mesmo sucede com a criação musical.”

Tomamos a música popular brasileira das décadas de 60 e 70 conhecidas

como canções de protesto, nas quais muitas tinham como objetivo fazer revelações

da opressão, durante o período da ditadura militar, ao cidadão em todas as camadas

sociais, quando a música como catarse tinha um impacto mais profundo e

abrangente que o de outras artes. Entre tantas composições daquela época,

destacamos Chico Buarque De Holanda. Na composição de “Cálice” o compositor

faz alusão à oração de Jesus Cristo dirigida a Deus: “Pai, afasta de mim este cálice.”

Para muitos os artistas da época que lutavam pela democracia, o silêncio era forma

de morte, mas para os opressores a morte é que era uma forma de silenciar os

artistas ou qualquer cidadão que não aceitasse o calar. Do ponto de vista cultural, a

canção “Cálice” faz uma crítica ao regime político brasileiro instaurado na época. Por

isso Chico Buarque explorou a sonoridade para dar duplo sentido às palavras cálice

e cale-se como podemos constatar no trecho: “De muito gorda a porca já não anda

(Cálice!) / De muito usada a faca já não corta / Como é difícil, Pai, abrir a porta

(Cálice!) / Essa palavra presa na garganta...”, esse foi o modo que o compositor

encontrou para desabafar o que sentia em meio a repressão. O cálice aí não

significa taça, mas o controle dos ditadores sobre o que o povo dizia.

Essa denúncia ao regime militar não está apenas na música, uma vez que a

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música é apenas uma das manifestações de arte, mas se apresenta também na

literatura, em que, entre outros autores, podemos destacar Ferreira Gullar, que, por

meio de sua produção poética cheia de ousadia, retrata nos seus poemas uma

realidade injusta e contraditória aos princípios políticos desejáveis, a democracia.

Relacionando música e literatura, podemos concluir que ambas dialogam

histórica e culturalmente. Assim como a música sofre variações, a literatura não para

no tempo. Não podemos distanciá-las do momento em que fazem parte e fazem

história, tampouco do pensamento histórico crítico. Por isso, justificamos o encontro

deste trabalho com a Estética da Recepção.

A partir desses pressupostos teóricos foi desenvolvida a prática em sala de

aula que ocorreu como descrevo a seguir.

A PRÁTICA

A produção didático–pedagógica implementada na turma do 3º ano A do

Ensino Médio do Colégio Estadual Dom Carlos situado em Palmas, no Estado do

Paraná deu-se da seguinte forma:

Introdutoriamente, depois das apresentações, explicou-se para a classe o objetivo

do projeto Música e Literatura: um olhar sob a estética da recepção e

consequentemente como procederia ao trabalho com o método recepcional.

Na primeira etapa do referido método, perguntou-se aos alunos o que sabiam

sobre a ditadura militar no Brasil. Dos 37 apenas dois souberam responder o que foi

esse regime e suas consequências. A intenção dessa primeira atividade era

determinar o horizonte de expectativas dos alunos.

Em seguida, mostraram-se à turma dois vídeos com imagens de manifestos,

protestos que ocorreram durante a ditadura militar no Brasil. Assim que assistiram

aos vídeos solicitou-se que escrevessem sobre o que as imagem diziam, e lessem

para os demais. Após a leitura houve discussões acerca das respostas dadas.

Na sequência, comentou-se sobre Caio Fernando de Abreu se os educandos

sabiam quem era ele. A maioria afirmou conhecê-lo através do Facebook. Também

se discutiu sobre e as falsas autorias que ocorrem em textos que circulam via

Internet atribuídas ao autor em questão e a outros autores. Posteriormente, os

alunos foram ao laboratório de informática, a fim de pesquisarem quem foi Caio

Fernando de Abreu. A pesquisa teve a apresentação oral e como objetivo atender ao

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horizonte de expectativas.

Na aula seguinte, os alunos receberam impresso o conto “Os sobreviventes”

de Caio Fernando de Abreu para que lessem e comentassem sobre qual seria a

temática abordada. Houve unanimidade na conclusão de que ela estava centrada na

vida sexual dos personagens, portanto os alunos não relacionaram profundamente a

época da ditadura militar com suas consequências vividas e relatadas através das

personagens representadas, pelo autor texto. Ao serem questionados, eles também

não tinham claro que os diálogos entre personagens significavam os problemas de

uma juventude que viveu sob um regime opressor, repressor e , principalmente, o

que mais afetou o mundo artístico: a falta de liberdade de expressão.

Para atender ao terceiro passo citado por Jauss: rompimento do horizonte de

expectativas, os alunos pesquisaram sobre a ditadura militar no Brasil. Houve

discussão acerca das pesquisas e em seguida os alunos leram novamente o conto

“Os sobreviventes e, dessa forma conseguiram entender e elaboraram respostas às

questões de interpretação, direcionadas a que se tratava de uma narrativa de

testemunho que se baseia numa experiência infeliz, que não pode ser recontada de

modo objetivo e linear, isso porque a linguagem é afetada por esta experiência, uma

vez que ao testemunhar um evento histórico traumático ou uma experiência pessoal

vivida como traumática, “Os sobreviventes” elabora uma narrativa entrecortada,

fragmentada, desconexa e violenta, que recupera na linguagem a violência vivida. A

partir das atividades realizadas os alunos perceberam a importância de se conhecer

o autor e, nesse caso, a época vivida por ele, pois só assim foi possível a leitura do

texto e a teoria da recepção responsabilizou-se pelo diálogo entre texto/autor/leitor.

Tendo se familiarizado com a história: ditadura militar; o conto e com o autor,

foi entregue aos alunos o texto de Marcelo Rubens Paiva: “Um tormento que não

acaba”, para leitura. Essa atividade atendeu ao quarto passo defendido por Jauss:

questionamento do horizonte de expectativas. Após a leitura discutiram-se as

questões sobre tortura no Brasil durante a ditadura e hoje. Alguns casos de tortura

foram citados pelos alunos, entre eles o do pedreiro Amarildo que foi torturado, pela

polícia do RJ em 2013, com o intuito de fazê-lo confessar onde traficantes

guardavam armas. Os alunos também expressaram opiniões acerca das atitudes de

policiais que abusam da autoridade como uma forma de amedrontar e intimidar a

população. Disseram que a polícia tem como dever proteger os cidadãos não o

contrário. Também foi relatada a indignação dos estudantes quando policiais usaram

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da violência para dissipar manifestantes nas grandes cidades, nos protestos

ocorridos em 2013. Essas discussões ocorreram sempre relacionando a realidade

atual com o período da ditadura.

Antes de aplicar a atividade que correspondia ao quinto e último passo da

estética da recepção: ampliação do horizonte de expectativas, perguntou-se aos

alunos se eles gostavam de música, que tipo de música ouviam e, se para eles a

letra da música diz alguma coisa, ou seja, é importante. Todos afirmaram gostar de

música. No que diz respeito ao estilo musical, a preferência era de sertanejo

universitário, funk e rap. Apenas 08 dos 37 alunos afirmaram gostar de rock, rock

pop e MPB. Quanto à importância da letra da música os 08 afirmaram valorizar uma

música pela sua letra e pelo instrumental. Já os 29 restantes disseram preferir o

ritmo e a letra pouco importava.

“Após essa discussão os alunos receberam impressas as letras das músicas:

“O bêbado e a equilibrista”, “Alegria alegria”, “Para não dizer que não falei das

flores”, “Apesar de você”, “Que país é esse?”. Receberam também o poema “Voltas

para casa?”, para fazerem a leitura. Em seguida eles ouviram as músicas e

posteriormente foram passadas questões, onde tiveram de identificar nos textos os

momentos de protesto que os compositores ressaltaram em cada letra; O que as

músicas tinham em comum com o conto “Os sobreviventes”?; Que estrofe do poema

possuía relação com as letras das músicas e com o conto. Além de terem de

relacionar as reivindicações ocorridas nos protestos de 2013 com as letras das

músicas, poema e conto. As atividades interpretativas envolvendo

música/poema/conto pareceram fáceis, uma vez que os alunos já estavam

familiarizados com o tema, possuíam conhecimento prévio e o horizonte de

expectativas já havia sido rompido e ampliado. A última atividade proposta foi a

escrita de um texto dissertativo argumentativo, cujo tema era: “A censura atualmente

no Brasil", o qual foi produzido para ser lido e avaliado. Muitos alunos usaram o

método prós e contras da censura, houve unanimidade na questão de que, muitas

vezes, a censura se faz necessária como nos programas de televisão, dependendo

do horário deve haver censura quando esses possuírem cenas de sexo ou violência

nos horários em que crianças estejam assistindo à televisão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Através da Implementação Pedagógica, concluiu-se que por meio do

método recepcional o estudo da literatura se tornou mais interessante, pois

cada etapa, estando direcionada para um objetivo diferente, conduziu os

alunos a um entendimento mais reflexivo e diversificado sobre o texto. Pode-

se perceber também que ao relacionar música e textos, a compreensão foi

bastante significativa, uma vez que os alunos através da música entendem

melhor a literatura. E esse é um entendimento comprometedor, pois desperta

a sensibilidade, criatividade e o senso crítico do aluno. As aulas de literatura

se tornaram mais prazerosas e despertou, em muitos, a consciência de que a

literatura e contribuí para a construção de uma nova sociedade.

Partir do conhecimento prévio dos alunos foi um passo importante para

o desenvolvimento de aulas dinâmicas, as quais os conduziram a uma

reflexão voltada para a realidade, onde se privilegiou o diálogo

leitor/obra/autor resultando na ampliação do conhecimento sobre a obra e o

mundo que os cerca. Assim, a utilização dessa teoria na confecção da

Unidade Didática foi bastante relevante. Ela serviu como material de apoio

que permitiu mudar a visão dos alunos em relação aos textos literários,

quando passaram a vê-los como indispensáveis para a formação humana.

Porém, no início da experiência com a Estética da Recepção, a insegurança se fez

presente, afinal o novo desperta “medo” por trabalhar de forma tão diferente da

habitual. Mas à medida que as aulas avançavam a teoria se concretizava, e pode-se

concluir que é muito mais produtiva uma aula de literatura onde o texto é o principal

material, do que as aulas que seguem o método tradicional tendo a Escola Literária

como base, pois essa não valoriza o texto, enquanto que aquela além de valorizá-lo

permite que o leitor dialogue com ele e se sinta responsável, peça chave para que a

leitura se concretize, emancipando-o. E, a alternativa de buscar estratégias e

metodologias que tenham como prioridade estimular o encontro entre o sujeito leitor

e o texto de forma que o leitor saia satisfeito e tenha o seu horizonte de expectativas

ampliado, serviu, sim, como recurso teórico, uma vez que o ponto de partida foi no

que o aluno tinha interesse o que o conduziu a caminhar para a ampliação de

conhecimentos e para sua autonomia enquanto leitor.

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Quanto ao debate entre as mudanças sociais, políticas e culturais das

décadas de 60, 70 e 80, proporcionou uma forma de os alunos pensarem a leitura

como uma maneira de comunicação e interação entre leitor/autor/texto. E, quando

esse diálogo ocorreu os alunos foram capazes de refletir sob uma visão crítica de

que a leitura é capaz de oferecer aos indivíduos a capacidade de transformação da

realidade onde estão inseridos.

REFERÊNCIAS

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GULLAR,Ferreira. Voltas para casa? In Escritor Online. Disponível em http://rubens1.wordpress.com/2010/09/09/ferreira-gullar-80-anos/. Acesso em set. de 2013. HOLANDA, Chico Buarque de. Apesar de você In - Letras de músicas. Disponível em http://letras.mus.br/chico-buarque/7582/. Acesso em set. de 2013. PAIVA, Marcelo Rubens. Um tormento que não acaba. In Revista Veja. Disponível em http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/marcelo-rubens-paiva-um-tormento-que-nao-acaba. Acesso em out. de 2013. REGINA, Elis. O bêbado e o equilibrista In – Letras de músicas. Disponível em http://letras.mus.br/elis-regina/45679/. Acesso em nov. de 2013. URBANA, Legião. Que país é esse? In Letras de músicas. Disponível em http://letras.mus.br/legiao-urbana/46973/. Acesso em set. de 2013. VANDRÉ, Geraldo. Para não dizer que não falei das flores In Letras de músicas. Disponível em http://letras.mus.br/geraldo-vandre/46168/. Acesso em set. de 2013. VELOSO, Caetano. Alegria alegria. In Letras de músicas. Disponível