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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Ilse Maria Viola1 José Ricardo Souza2 ... teoria e a aplicabilidade. Não é necessário que todos os exercícios sejam situações

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

APROPRIANDO-SE DE CONHECIMENTOS SOCIOCULTURAIS E SUAS

IMPLICAÇÕES REAIS NA SOCIEDADE, POR MEIO DO PROGRAMA MINHA

CASA MINHA VIDA.

Ilse Maria Viola1

José Ricardo Souza2

RESUMO

Este artigo apresenta uma forma possível de trabalhar os conteúdos programáticos de Matemáticapor meio de uma situação - problema real/social da comunidade onde o aluno está inserido, deconceber e materializar algumas das Tendências Metodológicas como a Modelagem Matemática,a Resolução de Problemas e Mídias Tecnológicas como método de ensino-aprendizagemabordando o tema do programa Minha Casa Minha Vida do governo Federal. Aplicado no 2º ano Ado Ensino Médio do Colégio Estadual Nestor Victor dos Santos, São Miguel do Iguaçu. Tendocomo principal objetivo formar e informar os alunos sobre o programa, prós e contras, público quepode usufruir, e em quais condições. Os conteúdos estruturantes e específicos abordados:Geometrias (Espacial e Plana); Grandezas e Medidas (Sistema de medidas métricas decimais,escala, área); Tratamento da Informação (Matemática Financeira). É o resultado do trabalhodesenvolvido no PDE 2013/2014, Programa de Desenvolvimento Educacional que proporcionaaos professores da rede pública do Estado do Paraná um período de afastamento das atividadesdo magistério para se dedicarem aos estudos, pesquisas e desenvolvimento de projetos quevisam melhorar a qualidade do ensino e aprendizagem.Palavras-Chave: Situações-problema. Tendências Metodológicas. Programa do Governo FederalMinha Casa Minha Vida.

Introdução

A Matemática historicamente é uma das disciplinas que mais assusta os

estudantes, pela forma como é abordada, desprovida de ligação com situações

próximas da vida dos alunos, pela linguagem utilizada nos livros didáticos e

reproduzida por muitos professores, sem estabelecer nenhuma relação entre a

teoria e a aplicabilidade. Não é necessário que todos os exercícios sejam

situações reais. Entretanto, o ponto de partida é fundamental que esteja ligado

com situações do universo do educando, de sua família e de sua comunidade.

1 Licenciada em Matemática no Curso de Ciências – Licenciatura plena em Matemática pelaUNOESTE - Universidade do Oeste Paulista. Especialista em Matemática no Curso deESPECIALIZAÇÃO “LATO SENSO” EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA pela UNIOESTE- Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Professora da Rede Pública do Estado do Paraná.

2 Licenciado em Ciências – Habilitação Matemática – pela UEPG, mestre em EducaçãoMatemática pela UNESP de Rio Claro e doutor em Educação pela UFPR. Atualmente é docenteda Unioeste/Campus de Foz do Iguaçu. Tem experiência na área de Matemática, com ênfase emEnsino de Matemática, atuando principalmente nos seguintes temas: Formação de Professor,Metodologias para o Ensino de Matemática, Avaliação e Interdisciplinaridade.

Quando aborda-se um tema de ordem social ou uma informação cultural que os

alunos demonstram interesse, a primeira resistência pela aula já é amenizada,

diminuindo assim as dificuldades, os preconceitos e se despindo de modelos

prontos. Deste modo, a Matemática é recebida pelos alunos como as outras

disciplinas. Na maioria das vezes não há uma predisposição dos alunos para

aprender e usar a Matemática como ferramenta para entender e resolver

situações do dia a dia e de outras áreas do conhecimento, assim como

desenvolver o raciocínio lógico. De acordo com discussão realizada no GTR

(grupo de trabalho em rede), uma cursista postou: tudo o que possa fazer com

que o aluno se aproxime mais de sua realidade torna o estudo mais agradável.

Talvez o que faça muita falta à matemática seja realmente esse laboratório que

aproxime mais o aluno da matéria.

Outro fator importante é atentar-se que a cada ano a mudança de

comportamento dos alunos é evidente. São pessoas que lidam com as mesmas

situações só que de maneira diferente. Possuem acesso a todo tipo e veículo de

informações, o que se aplica num ano, no outro ano já é ultrapassado, em função

disso é indispensável que as escolas e os educadores encontrem um movimento

para melhorar essa aproximação.

Muitos professores são sensíveis à realidade da educação do nosso país.

Já houve mudanças na forma de pensar o processo de ensino aprendizagem da

Matemática. Entretanto, não ocorreu uma adequação, pois, para que ocorra uma

capilarização dessas mudanças nas salas de aula é preciso que o professor tenha

tempo para estudar, pesquisar, refletir e investir na sua formação continuada. Os

estudos sobre Educação matemática que existem dentro e fora do Brasil

raramente chegam às escolas.

Acredita-se que vários fatores podem ser apontados justificando esse fato:

falta de investimento na formação continuada de qualidade, tempo para o

professor da Educação Básica desenvolver pesquisas, carga horária da disciplina

de Matemática. Existem escolas no Estado do Paraná com duas aulas semanais

para alunos do Ensino Médio. A linguagem matemática possui uma simbologia

própria, o aluno tem dificuldade para fazer a leitura do vocabulário específico da

disciplina, necessitando auxílio do professor com muita frequência. Tudo isso

contribui para resistência e insegurança dos professores para se adequarem e

aderirem a novos movimentos. O projeto PDE está proporcionando esse precioso

momento para que os professores estaduais do Paraná possam vivenciar de

maneira teórica e prática essas tendências.

As pesquisas sobre a Educação Matemática já avançaram

academicamente. Entretanto, para democratizar a ideia do ensino-aprendizagem

por meio de construção aberta dos materiais concretos e de situações reais leva

muito tempo e envolve várias esferas da educação: projetos políticos, Secretarias

de Educação Estaduais e Municipais, Direção e Supervisão das Escolas e o

Corpo Docente. É uma melhora que pode ser alcançada a longo prazo e

coletivamente, jamais de forma individualizada. Claro que não espera-se que

todos mudem ao mesmo tempo. Entretanto, tem-se a obrigação enquanto

educadores de por em prática e difundir o que deu certo para que informe e forme

o maior número possível de educadores e educandos.

As Tendências Metodológicas em Educação Matemática apresentadas na

DCE/Matemática: História da Matemática, Etnomatemática e a Diversidade

Cultural, Resolução de Problemas, Modelagem Matemática, Investigação

Matemática, Mídias Tecnológicas e Softwares Matemáticos e Jogos, apresentam

um leque de possibilidades de abordagem e encaminhamentos metodológicos

que podem dar certo, o importante é lançar mão do mais adequado para cada

situação. Muitas vezes recorre-se há mais de uma tendência concomitantemente.

Neste trabalho buscou-se a Modelagem Matemática, embora a História da

Matemática, Mídias Tecnológicas e a Resolução de Problemas também estiveram

sempre presentes.

A matemática vista como uma disciplina escolar deve transcender a ideiade um conhecimento isolado, pronto e acabado, concepção tão comumnas práticas de sala de aula, e passar a desempenhar um papel muitomais abrangente, assumindo a posição de possível orientadora noprocesso de formação do ser humano autônomo. Para atingir tal objetivo,seu ensino e aprendizagem devem estar comprometidos com o contextohistórico, social, econômico, político e ambiental dos educandos. Dessaforma uma das possibilidades é inserir, nas atividades escolares,elementos das demandas locais, advindas da cotidianidade dos alunos,permitindo que eles, em conjunto com o professor, desenvolvam práticasque reflitam essa cotidianidade, elaborem e busquem soluçõesmatemáticas para essas demandas, desenvolvendo, para além dopensamento e de conceitos matemáticos, a criatividade, a autonomia e oespírito de coletividade. Uma das formas para o desenvolvimento dessaconcepção de ensino e aprendizagem da Matemática é a ModelagemMatemática na Educação Matemática (CALDEIRA, et al., 2011, p.65).

Já há algum tempo existem relatos da aplicação dessa Tendência e seus

respectivos resultados nas escolas. Entretanto, ainda falta muito para desenvolver

um ensino-aprendizagem na perspectiva da Educação Matemática Crítica.

A ideia mais geral e unificadora é: para que a educação, tanto comoprática quanto como pesquisa, seja crítica, ela deve discutir condiçõesbásicas para obtenção do conhecimento, deve estar a par dosproblemas sociais, das desigualdades, da supressão, etc., e deve tentarfazer da educação uma força social progressivamente ativa. Umaeducação crítica não pode ser um simples prolongamento da relaçãosocial existente. Não pode ser um acessório das desigualdades queprevalecem na sociedade. Para ser crítica, a educação deve reagir àscontradições sociais (SKOVSMOSE, 2001, P. 101, grifos do autor).

É preciso perceber que a apropriação dos conhecimentos em Matemática

não se realiza apenas no espaço fechado da sala de aula.

(...), o ponto que me parece de fundamental importância e que representao verdadeiro espírito da Matemática é a capacidade de modelarsituações reais , codificá-las adequadamente, de maneira a permitir autilização das técnicas e resultados conhecidos em um outro contexto,novo. Isto é, a transferência de aprendizado resultante de uma certasituação para uma situação nova é um ponto crucial do que se poderiachamar aprendizado da Matemática, e talvez o objetivo maior do seuensino. (D’AMBOSIO, 1986, p. 44).

O trabalho com a Modelagem Matemática consiste em conhecer mais

profundamente a clientela da Escola, se faz necessário ouvir as perspectivas dos

alunos, para viabilizar propostas abertas que contemplem temas e conteúdos que

por uma ou outra razão são próximos do seu universo e por isso os motivam no

ensino aprendizagem. Não é fácil trabalhar com um programa aberto, a aula pode

tender para caminhos que tiram o foco principal da proposta, e nesse momento é

fundamental uma sutil intervenção do professor trazendo os alunos de volta para

o objetivo inicial da aula. A Modelagem Matemática pode ajudar a solucionar

muitos problemas presentes hoje nas salas de aula: motivação, já que os alunos

poderão perceber a aplicabilidade ao que estudam na escola; facilitação da

aprendizagem, já que podem conectar a assuntos do interesse deles, da sua

família e quiçá de sua comunidade.

Segundo Ole Skovsmose:

(...). O essencial é que o processo educacional está relacionado aproblemas existentes fora do universo educacional. Além disso, várioscritérios podem ser usados para selecionar esses problemas. Os doiscritérios fundamentais são os seguintes. O subjetivo: O problema deveser concebido como relevante na perspectiva dos estudantes, deve serpossível enquadrar e definir o problema em termos próximos dasexperiências e do quadro teórico dos estudantes. E objetivo: o problemadeve ter uma relação próxima com problemas sociais objetivamenteexistentes (2011, p. 19).

Quando diz-se que o ensino de Matemática deve primar por problemas

relevantes na perspectiva dos estudantes e que deve ter uma relação próxima

com problemas sociais, pois contextualizando as disciplinas estamos fazendo

uma inserção do conhecimento disciplinar em experiências reais, incorporando

relações vivenciadas tornando o conteúdo mais significativo dentro de uma

perspectiva da Educação Matemática Crítica (SKOVSMOSE,2011). O professor

deve dispor de todos os recursos metodológicos que possam contribuir para que

o conhecimento torne-se significativo para o estudante. Entretanto, o que não

pode ocorrer é que caia o nível da construção do conhecimento em função da

problematização e da interdisciplinariedade. Deve-se ser feito o contrário, a partir

do problema numa perspectiva da subjetividade do aluno, ampliando seus

conhecimentos, desenvolvendo-se para uma reflexão analítica da situação,

preparando cidadãos capazes de utilizar o conhecimento científico para resolver

problemas do cotidiano. Diante disso questiono?

Como aproveitar a estrutura do programa Federal Minha Casa Minha Vida

como forma de aprendizagem de conteúdos estruturantes de Geometrias,

Grandezas e Medidas e Tratamento da Informação numa perspectiva de

Educação Matemática Crítica?

Educação matemática crítica não é para ser entendida como um ramoespecial da educação matemática. Não pode ser identificada como certametodologia de sala de aula. Não pode ser constituída por um currículoespecífico. Ao contrário, eu vejo a educação matemática crítica comodefinida em termos de algumas preocupações emergentes da naturezacrítica da educação matemática (SKOVSMOSE apud D’Ambrosio. U,2007, p. 73).

Desenvolvimento

Deu-se início a implementação do projeto em fevereiro de 2014, num bate-

papo informal em sala de aula com o objetivo de conhecer a turma e a turma

conhecer-se: moradia, transporte, dificuldades encontradas para estudar,

formação da família, perspectivas para futuro. Observou-se a precariedade na

questão da moradia, fator já observado no decorrer dos anos de vida profissional

no Colégio Estadual Nestor Victor dos Santos, fator este que influencia no ensino

e aprendizagem, (espaço adequado para repousar, estudar, fazer a higiene

pessoal, privacidade,...). Levantou-se a discussão sobre as políticas públicas

existentes historicamente e na atualidade para a aquisição da casa própria. Neste

momento deu-se início o desenvolvimento da tarefa 1. Foi elaborado um roteiro

coletivamente em sala de aula para a realização de uma pesquisa no Laboratório

de Informática: Quando e em qual contexto social surgiu a ideologia da casa

própria? Quais programas de políticas públicas existentes historicamente e na

atualidade para a aquisição da casa própria? Qual é a origem dos recursos?

Quais são as áreas de atuação? Como os recursos são distribuídos? Para quem

se destina? Qual é o significado da casa própria para as famílias, já que promove

bem-estar, pois nela encontra-se a representação da segurança, do ambiente

familiar privativo e individualizado, capaz de garantir a proteção, independência e

aconchego das famílias?

Os alunos foram organizados em grupos pequenos, de dois ou três

integrantes, pois não havia computadores para todos. As informações foram

selecionadas e salvas em uma pasta, ao término da pesquisa o material foi

impresso e elaborado uma apostila que foi utilizada para a realização de tarefas

posteriores.

A tarefa 2 foi integrada com Língua Portuguesa, onde a professora da

referida disciplina deu as coordenadas para elaboração de ofícios que foram

redigidos nas aulas de Matemática. Os ofícios foram digitados por alunos em

papel timbrado do Colégio Estadual Nestor Victor dos Santos convidando uma

família atendida pelo Programa Minha Casa Minha Vida, a representante da Caixa

Econômica no nosso município e um Engenheiro Civil, os próprios alunos fizeram

a entrega, com autorização da Direção do Colégio. No ofício constava um roteiro

do conteúdo esperado na palestra de cada um dos profissionais, as palestras

ocorreram dentro do esperado: conteúdo, tempo, participação dos alunos com

perguntas e adendos. Deu-se em três momentos diferentes. Um adendo relevante

de um dos alunos na palestra da representante da caixa: Não seria justo que a

parcela do imóvel fosse definida em função do número de pessoas que habitariam

a casa?

Na tarefa 3 foi realizada a interpretação de projetos arquitetônicos de casas

do Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida, material cedido por

arquitetos de nossa cidade, também alguns projetos das famílias dos alunos.

Havia cópias dos projetos impressos e também disponível nos computadores do

laboratório de informática. Classe organizada em grupos, preencheram as tabelas

abaixo:

Tabela 1

Cômodos da casa Dimensões de cada cômodo - 2D

.

.

.

.

.

.Tabela 2

Aberturas Dimensões das aberturas – 2D

.

.

.

.

.

.Tabela 3

Paredes –

enumerar as

paredes.

Dimensões das paredes – 3D

Parede Comprimento Largura Altura

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.Obs. Nesta atividade o aluno identificou cada parede construindo uma

legenda.

Tabela 4

Cobertura Dimensões – 2D

.

.

.

.

.

.Obs. No preenchimento desta tabela foi enumerado cada parte da

cobertura com forma de polígono regular para facilitar o trabalho.

Tabela 5

Dimensões das telhas – 2D

Os alunos tiveram dificuldades para analisar e interpretar os projetos:

medidas, legendas, cortes, elevações, ... , demandaram auxílio do professor e dos

colegas.

Na tarefa 4, os alunos fizeram uso de várias bibliografias na Biblioteca do

Colégio para pesquisaram Geometria e o que envolve a Geometria. Novamente

tiveram em mãos cópias dos projetos disponibilizados na tarefa 2 para a

identificação da Geometria Espacial e Plana neles existentes. A atividade foi

realizada em grupos com intervenção do professor quando necessário.

Identificaram e classificaram as formas geométricas espaciais e planas que

compunham os projetos. Diferenciaram formas espaciais de formas planas, o

tridimensional do bidimensional. Fizeram uma reflexão sobre sólido geométrico e

a representação do sólido geométrico. identificaram os elementos das formas

espaciais encontradas no projeto da casa: face, aresta e vértice.

Estabeleceram a relação entre o nº de faces, arestas e vértices de cada figura

espacial e verificaram a mesma relação em vários outros poliedros convexos

registrando a relação de Euler, pesquisando-o em várias bibliografias e fazendo

comparações.

Construiram uma tabela e preencheram-na, com a seguinte estrutura:

POLIElDRO CONVEXO V A F V – A + F

.

.

.

Resolveram exercícios tais como: Um poliedro convexo possui 20 vértices

e de cada um deles saem 3 arestas. Calcule o número de arestas e o número de

faces desse sólido. Construa esse sólido, denomine seu nome e identifique o

polígono da face. Observou-se o entusiasmo dos alunos ao resolverem questões

como esta baseando-se em uma pesquisa feita por eles, foi como se naquele

momento tivessem descobrindo aquela situação, ficou evidente que quando se

delega a responsabilidade da aprendizagem para o aluno o resultado é

consideravelmente melhor.

A tarefa 5 foi um ensino aprendizagem para professor e alunos, pois

observou-se uma nova metodologia para trabalhar escala. Tem-se o péssimo

hábito de reproduzir o ensino da forma que aprende-se ou da forma que

encontram-se expostos nos livros didáticos. Nesta aula ocorreu um método

simples e concreto para ensinar e aprender escala. A 1ª atividade foi criar uma

escala para representar o espaço da sala de aula na página do caderno. Criou-se

a escala juntos, professor e alunos, utilizou-se uma trena (instrumento de medida

da construção civil), a medida tomada para criar a escala foi o comprimento da

sala de aula. A partir da escala criada reduziu-se os espaços e os elementos que

o compõem na mesma proporção. A 2ª atividade foi ler, analisar e interpretar a

escala dos projetos de casas que já faziam parte do acervo construído no início

da implementação do projeto, foi muito fácil!

As tarefas 6 e 7 foram trabalhadas concomitantemente. Questionou-se:

como é possível saber a quantidade exata ou bem aproximada do material de

construção que deve ser adquirido para a execução do projeto de uma casa?

Obviamente que vários alunos responderam que deveria ser feito o cálculo da

área e do volume, pois são medidas que o aluno aprende no Ensino fundamental.

1ª atividade foi pesquisar na internet e também no livro de matemática utilizado

pelos alunos as figuras planas e a fórmula para o cálculo da área das mesmas. 2ª

atividade pesquisar e entender que o volume em quase 100% dos casos é

simplesmente o produto da área da base da figura espacial e a sua altura.

Algumas atividades propostas:

Observe o Corte A-A’ da planta da casa da Tarefa 3, a mesma indica a

altura das paredes, e na planta baixa parte 4, indica a espessura das paredes.

Calcular o volume das paredes da casa, descontando o espaço das

aberturas.

Ao calcular a área da base das paredes, constatou-se o espaço perdido na

construção em função da espessura das paredes, informação dada pelo

Engenheiro civil na palestra que aconteceu na tarefa 2.

Calcular a área total do terreno, área construída e área não construída.

Na capa dos projetos apresentados pelo Engenheiro Civil na tarefa 2, nas

informações de estatísticas do projeto, havia as informações sobre área útil, taxa

de ocupação do terreno (razão entre a área construída e a área do terreno), que

deve estar de acordo com o Plano Diretor do município e em função do

zoneamento da cidade, que muitas vezes não pode ultrapassar 50%.

Fazer uma análise: levando em consideração a área do terreno e o projeto

arquitetônico, a casa em questão poderia ser ampliada?

Neste caso concluiu-se que o projeto analisado poderia sim ser ampliado

tanto no que diz respeito a taxa de ocupação, quanto no diz respeito ao projeto

que foi elaborado com projeção para ampliação.

A tarefa 8 foi com toda a certeza a “menina dos olhos” do projeto, foi

proposta a seguinte atividade: Construir maquetes que reproduzem a casa de um

dos projetos disponibilizados na tarefa 2, determinando qual é a melhor escala, de

acordo com o material utilizado para a construção. Sugestão de material: palitos

de picolé, caixas de leite tetra pak, cola, fitas adesivas, tintas, etc. Os alunos

foram organizados em grupos. Neste momento já obtinham todas as informações

matemáticas para a execução da tarefa que aconteceu em suas casas. A

disciplina de arte já vinha trabalhando o movimento cubista do século XX, pois na

semana pedagógica em fevereiro quando aconteceu a apresentação do projeto

de intervenção para a comunidade escolar, fez-se uma parceria com as

disciplinas que trabalhariam em consonância e interdisciplinar com matemática no

período da implementação do mesmo. Os alunos foram orientados pela

professora de arte sobre a projeção da maquete no papel, olhar artístico, fachada

da casa, cores harmônicas, a ocupação da taxa de permeabilidade do terreno

com jardins, móveis e objetos de jardins. Construíram as maquetes em casa com

a participação de suas famílias, alguns grupos relataram que toda a família

participou da construção, inclusive as vovós na confecção das cortinas, roupas

das camas como colchas, travesseiros e fronhas. Depois de prontas

transportaram-nas para o Colégio apresentando-as e deixando-as expostas para

toda a comunidade escolar. Algumas expressões ditas pelos alunos neste

momento: depois de muitos encontros com pipoca, risadas, choro, raiva e

alegrias, está pronta; enfim terminamos, vamos sentir saudades.

O problema é que nossas escolas não possuem um espaço adequado para

deixar os trabalhos dos alunos amostra, em função disso são facilmente

danificados, ficando com uma aparência comprometida e tendo que descartá-los.

Algumas imagens das maquetes estão em anexo.

Na tarefa 9 foi proposta a seguinte atividade: Pesquisar junto a algumas

imobiliárias de São Miguel do Iguaçu, o valor de um terreno, de acordo com sua

localização antes do lançamento do Programa Minha Casa Minha Vida, num

período de quatro anos antes de 2009, e de 2009 até agora. Os alunos elegeram

um integrante de cada grupo para fazer a pesquisa, vale lembrar aqui que os

grupos compostos no início da implementação do projeto se mantiveram ao longo

da implementação. Uma das informações relevante obtida nesta atividade, é que

houve um aquecimento no mercado imobiliário após o lançamento do programa

em 2009, os valores dos terrenos e casas sofreram altas desproporcionais aos

anos anteriores. Na tarefa 10 foram propostos os seguintes questionamentos:

Com base nas informações obtidas nas pesquisas da tarefa 1 e nas entrevistas

da tarefa 2, com um proprietário de um imóvel do programa Minha Casa Minha

Vida e com a representante da caixa econômica, responder e analisar as

seguintes questões: (Os alunos tinham em mãos uma simulação de financiamento

para pessoas na faixa salarial de R$ 1600,00)

Em quantas parcelas normalmente é dividido o empréstimo?

Qual é o valor aproximado das parcelas?

As parcelas possuem um valor fixo?

Qual é o valor total pago na casa após a quitação?

Em que valor este imóvel está avaliado hoje?

Qual é a taxa de juros empregada neste financiamento?

Fazendo uma estimativa do valor que essa família pagaria em aluguel

neste prazo, foi vantajosa a aquisição da casa nestas condições? Por

quê?

Calcular o valor dos móveis que o programa Minha Casa Melhor

permite adquirir: guarda-roupas, cama de casal e de solteiro (com ou

sem colchão), mesa com cadeiras, sofá, refrigerador, fogão, lavadora de

roupas, TV digital e computador.

Cinco mil reais são suficientes para aquisição destes produtos?

Qual é o prazo que o contratante tem para pagar o empréstimo?

Qual é o valor da parcela?

Qual será o montante após a quitação do empréstimo?

Qual é a taxa de juros empregada no empréstimo?

Esta atividade foi importante para amarrar as ideias que ao longo do

desenvolvimento do projeto ficaram soltas, na medida que os alunos foram

respondendo as questões por meio da realização de cálculos ou com informações

obtida nas pesquisas, foram formamdo opiniões sobre o Programa Minha Casa

Minha Vida relativas a condição da família que adquire o financiamento.

Considerações Finais

Este trabalho de pesquisa, produção e implementação preocupou-se com

os alunos que na maioria das vezes não encontram motivação para estudar.

Neste sentido foram repensadas metodologias do ensino e aprendizagem da

matemática que propõem ao aluno situações reais, que fazem parte de suas

vidas, mas que também estejam em evidência no contexto social, que ao falar e

resolver situações próximas e do seu interesse, também estão se apropriando de

um conhecimento que os permitem discutir e entender políticas públicas,

economia, dignidade do ser humano, sentindo-se preparados para tomar decisões

importantes pautadas em conhecimentos adquiridos. De acordo com discussão

realizada no GTR (grupo de trabalho em rede), uma cursista postou: Artigo 6º –

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o

lazer,a segurança,a previdência social, a proteção à maternidade e à infância,

a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Constituição da República Federativa do Brasil. Em seguida comenta: É

extremante importante para o aluno a construção do próprio conhecimento sobre

determinados assuntos e isso se dará de modo mais efetivo se o mesmo estiver

mais próximo do objeto de estudo. Sendo assim, partir de uma questão já

existente, ou seja de uma realidade palpável onde o aluno possa refletir, dialogar

e interagir de algum modo. O objeto de estudo possibilita ao aluno partir de um

princípio e nele problematizar, discutindo e achando possíveis soluções. Se o

aluno reconhece o problema ele pode se sentir seguro para explanar e assim

formar o seu conhecimento sobre o mesmo, pois o tema parte de um pressuposto

que já existe, não é um conteúdo estudado e sem a perspectiva de uso real pelo

aluno. Ele irá conhecer um pouco do programa "minha casa minha vida", sobre o

sistema financeiro da habitação e das ações do governo federal sobre o tema.

Poderá ter conhecimento das leis, das medidas, das formas, do tratamento das

informações sem perder o foco social que tange tudo isso como o direito a

moradia digna e as questões econômicas como "sair do alugue”. Parte-se de um

modelo para trabalhar todos os conteúdos estruturantes da matemática nele

contidos. Baseado na obra de Amartya Sen, Desenvolvimento como liberdade, na

qual, nas palavras do próprio autor: “Uma concepção adequada de

desenvolvimento deve ir muito além da acumulação e do crescimento do PIB e de

outras variáveis relacionadas à renda. Sem desconsiderar a importância do

crescimento econômico, precisamos enxergar muito além dele.” (Sen, 2007,

p.28). É muito importante que o aluno reflita sobre todas as questões que este

projeto pedagógico vai abranger e a compreenda como a matemática pode ajudá-

lo nesta compreensão. Postagem de outra cursista: O projeto de intervenção e a

Produção Didático-Pedagógica que você escreveu é uma verdadeira

contextualização de conteúdos que ensinamos tradicionalmente. Nele você

fez uso de uma situação-problema no ensino de Matemáca que é um dos

métodos que mais viabiliza o processo de ensino aprendizagem de forma

significativa para o aluno obtendo conhecimento útil a posteriores vivências

diárias dos alunos, também favorece um melhor rendimento escolar e contribui na

melhora da indisciplina que, na maioria das vezes, está relacionada às aulas

teóricas ou às atividades mecânicas.

Destacam-se no projeto o tema real e atual que despertou o interesse dos

alunos, de suas famílias e de muitos professores do Colégio onde o projeto foi

aplicado, o uso das mídias tecnológicas facilitaram a realização das pesquisas e

comunicação entre os envolvidos, os encaminhamentos permitiram que a

responsabilidade maior fosse delegada aos estudantes.

Encerrando este trabalho sabemos que não é um modelo que possa ser

aplicado em outras realidades sem sofrer adaptações e atualizações, o tema não

foi esgotado, ainda há muito que pesquisar. Foi gratificante observar o interesse

pelo tema e os níveis de aprendizagem apresentados pela turma.

REFERÊNCIAS

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Anexos

Figura 1 – imagens das maquetes – tarefa 8 - Fonte: Ilse Maria Viola.

Figura 2 – imagens das maquetes – tarefa 8 - Fonte: Ilse Maria Viola.