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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
ARTIGO
MÚSICA NA ESCOLA – A MAGIA DAS FANFARRAS ESCOLARES
Autora: Consuelo Luiza Lucas Orientadora: Prof.ª Ma. Vânia Malagutti
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo relatar a trajetória do curso de formação de
instrutores de fanfarras escolares. É um estudo referente ao programa PDE, cuja
intervenção foi realizada no município de Campo Mourão, tendo como participantes
integrantes das estâncias colegiadas de escolas pertencentes ao núcleo regional de
educação de Campo Mourão. Os conteúdos foram aplicados por meio de atividades
práticas e utilizou o material didático pedagógico preparado ao longo do programa.
O curso proporcional aos participantes conhecimentos musicais para a organização
de uma fanfarra escolar, bem como foi possível detectar as necessidades básicas
para a formação de instrutores de fanfarras.
Palavras- Chave: Fanfarra; Instrutores, Material didático;
1. Introdução
As bandas e fanfarras têm sido abordadas em pesquisas na área da Educação
Musical como um importante espaço de formação musical. As bandas de música,
entendida como um conjunto instrumental, estão presentes na sociedade há muito
tempo. Como afirma Ribeiro (2010), bandas de música são instituições musicais que
estão presentes no contexto da música brasileira desde o Brasil Colônia. Nesse
momento da história, ainda eram chamadas de bandas da fazenda, integradas por
músicos escravos, que tocavam em troca do seu sustento (CAJAZEIRA, 2004).
Diversas pesquisas apontam como as bandas e fanfarras atuam na formação dos
cidadãos. Elas exercem importantes funções nas comunidades onde atuam. Como
indica Cislaghi (2009), além da influência na continuidade da cultura, as bandas e
fanfarras exercem uma função de inclusão social, permitindo “afastar crianças e
jovens da marginalidade social” e possibilitando além da possível profissionalização,
uma “melhora na qualidade de vida das crianças e jovens atendidos” (CISLAGHI,
2009, p.19).
Enquanto educadora com formação em música, em minha trajetória profissional as
fanfarras sempre estiveram presentes. Participo de bandas e fanfarras desde
criança, e essa prática me incentivou a me profissionalizar em música e a estudar o
desenvolvimento das atividades musicais nas escolas. No núcleo de educação em
que atuo, incentivo constantemente a retomada dessas atividades nas escolas,
entretanto, há sempre a dificuldade em encontrar profissionais com formação e
dispostos a atuar como instrutores.
Foi pensando nessa dificuldade que organizei meus estudos no Programa PDE
visando contribuir para a ampliação de profissionais que atuem nessa área.
Utilizando-se de experiências acumuladas ao longo do tempo, somadas às múltiplas
leituras de aprofundamento e relatos de professores durante o PDE, busca-se
fornecer material didático com informações necessárias à efetiva formação de
instrutores de fanfarras escolar. Neste, deverá constar diferentes etapas e seu
desenvolvimento musical, de forma estruturada, como aporte para uma formação
musical de qualidade.
2. A origem, formação e manutenção das fanfarras escolares
“... o homem se desenvolve por etapas, antes da pronúncia do vocabulário, sons; antes da vida adulta, uma vida infantil e pré-adulta...” (SWANWICK, 2003).
Para a realização do material didático, realizei leituras com sobre o ensino de
música e suas metodologias. Um dos educadores com que me identifiquei foi Keith
Swanwick (2003), que afirma que o processo de aquisição do conhecimento musical
se dá essencialmente através da vivência musical prática, complementado com
conhecimentos técnicos e literários da música.
Segundo esse autor, composição, execução e apreciação musical encontram-
se na base de uma estruturação curricular para o ensino da música, e a técnica e a
literatura são consideradas complementares no processo de educação musical por
tratarem do conhecimento sobre música e por encontrarem necessariamente nos
parâmetros práticos. Porém, na educação básica, essas atividades devem ser
contempladas não com intuito de formar músicos, mais em primeira instância em
formar os indivíduos mais conscientes quanto essa linguagem artística.
Acrescentar essas formas de ensino de música nas práticas das fanfarras é
proporcionar um ambiente de aprendizado musical amplo, com diferentes
possibilidades. Além disso, diversificar a forma de ensinar música pode tornar o
aprendizado mais estimulante e prazeroso. A meu ver, a escola tem poucos atrativos
que possibilitem aos alunos passarem mais tempo em seu interior. Seria bastante
importante que se oferecesse atividades complementares, as quais venham ao
encontro das necessidades do mundo atual, haja vista, os nossos jovens estarem
cada dia mais reclusos em suas casas, ligados a internet e jogos eletrônicos os
impedindo de um convívio real com outras pessoas.
Com o intuito de tornar as escolas um ambiente atraente aos nossos alunos a
SEED está desenvolvendo atividades em contra turno escolar que oferecem aos
alunos atividades esportivas, culturais e científicas1. Dentre as atividades culturais
de contra turno, está a formação de fanfarras escolares, atividade que já foi uma
prática muito procurada pelos alunos em outras épocas praticamente em todos os
estabelecimentos de ensino, mas que hoje tem se mostrado menos atraente. Para
tornar viável a formação das fanfarras escolares, a SEED idealizou um quite de
instrumentos musicais que é enviado aos estabelecimentos que manifestam o
interesse em formar seu grupo musical. Porém, sabemos que para a formação de
uma fanfarra são necessários três fatores: instrumentos, alunos e professor
(Condutor). Hoje, este terceiro item é a maior barreira para a concretização da
proposta, pela falta de um profissional que tenha interesse e formação mínima para
conduzir uma fanfarra. A formação de fanfarras escolares não requer uma formação
aprofundada em música, porém é necessário que os professores tenham noções
elementares, como experiência de prática de conjunto, leitura musical e regência.
1 Site para maiores informações <www.educacao.pr.gov.br/modules/conteudo.php?conteudo=65> acessado em 05/07/2013
3. O Material Didático
Partindo dessa premissa desenvolvi um método para o
curso de formação de instrutores de fanfarras com
elementos básicos de teoria musical, bem como
metodologias e normas técnicas para a formação de
fanfarras escolares. O material foi disposto em dez aulas
em que os participantes tiveram a oportunidade de
agregar conhecimentos teóricos e práticos
simultaneamente.
4. A Aplicação Do Curso
O curso foi desenvolvido em dez encontros semanais com duração de três
horas. As inscrições foram abertas para a comunidade escolar, sendo aceitos como
participantes tanto professores como funcionários. Tivemos no total 15 participantes,
sendo que a maioria deles já possuíam conhecimentos musicais relacionados à
participação em fanfarras.
Na primeira aula todos se apresentaram e contaram um pouco de suas
experiências com música, formação e desenvolvimento de fanfarras. Fiz também
uma explanação sobre os instrumentos que compõe a fanfarra simples, notando que
muitos participantes já possuíam esses
conhecimentos. .2
Na segunda, terceira e quarta aulas,
dedicamos ao conhecimento dos demais
instrumentos bem como sua prática e, ao
passo que íamos agregando instrumentos
criamos arranjos simples de percussão.
Como afirma Swnawick, a criação musical não deve ser negligenciada, sendo
um dos pilares importantes para a compreensão da música. Além disso, foi
2 Foto do curso. Arquivo pessoal
Foto do curso. Arquivo pessoal
importante para os participantes vivenciarem essa forma de ensino para que, em
suas práticas com fanfarras, também proporcionem aos estudantes essa vivencia.
Na quinta aula, os alunos já tinham manuseado todos os instrumentos,
porém, apenas em repouso (sem deslocamento). A partir da quinta aula, começaram
as ver noções de ordem unida, técnicas e formas de deslocamento.
Na sexta aula, foi possível a prática instrumental em deslocamento, pôde-se
desenvolver em formação básica como também em desenhos de coreografias
criados pelos alunos. Devido ao número limitado de participantes, os desenhos
coreográficos foram experimentados com mais propriedade, posteriormente, pelos
alunos em suas corporações. Nesta aula, os alunos conheceram também a
formação de Linha de Frente, composta por escudos, estandartes, brasões,
flâmulas, pavilhão nacional (obrigatório segundo a lei 5.700/71), acompanhado da
respectiva guarda de honra.
Foto do curso. Arquivo pessoal
Na Sétima aula, já foi possível agregar todos os conhecimentos teóricos
instrumental e de deslocamento com arranjos de percussão, com a introdução do
tema Baliza e ou Balizador.
Na oitava aula, começamos a função do maestro/instrutor. Para isso,
conhecemos as formas de regência, como o gesto preparatório. Esse é um dos
movimentos mais importantes, pois deve indicar
simultaneamente o tempo, a dinâmica e o caráter da
música que vai se iniciar.
Para os participantes do curso, esse foi um
momento bastante importante, já que alguns já são instrutores de fanfarras, mas não
conheciam as técnicas de regência. Embora de forma superficial ainda,
considerando o pouco número de aulas, esses conhecimentos contribuíram para
que esses profissionais melhorassem seu desempenho em seus grupos. Um bom
instrutor realmente necessita ter domínio das questões elencadas, porem, a meu
ver, o principal é que tenha sensibilidade para desenvolver em nossos jovens o
gosto e respeito pela Música.
Na nona aula discutimos sobre uniformidade e uniformidade instrumental. A
definição do Aurélio para uniforme é que só tem uma forma; que não varia; farda ou
vestuário confeccionado segundo modelo oficial e
comum, para uma corporação, classe. Partindo
dessa definição que o Instrutor deve idealizar o
uniforme para sua corporação. Não há a
necessidade de luxo e sim de padrão. É muito
importante que o uniforme seja confortável, levando-
se em consideração as condições climáticas da sua
região. Para a cobertura usa-se Barretina ou Quepe.
Para Linha de frente e Corpo Coreográfico, é muito comum que se opte por
saias, porem é bem importante que as componentes estejam confortáveis e seguras.
O uniforme não necessita ser igual ao do corpo musical, no entanto, deverá seguir o
padrão de cor. Botas de cano longo dão um efeito muito bonito. Quanto a cobertura,
Quepes dão um acabamento mais elegante ao conjunto.
Foto de Fanfarra. Arquivo pessoal
Geralmente os uniformes das balizas são os mais elaborados, sempre com muitas
franjas e bordados, porem são os mais sacrificados nas, as
apresentações, pois as balizas realizam evoluções no solo
que exige muito. Um collant bem ajustado ao corpo é
fundamental devido às acrobacias realizadas. É fundamental
que ao término de cada apresentação o uniforme das balizas
seja sempre revisado.
É de bom tom que os componentes se apresentem de forma discreta,
preferindo sempre cabelos presos, barba feita, evitando o uso de piercing, e uso
excessivo de maquiagens e adornos.
Por fim, na décima aula, fizemos uma revisão de todo o conteúdo e
ensaiamos os toques criados pelos alunos para a apresentação na escola.
5. Considerações Finais
Após aplicação das atividades compostas no caderno pedagógico para a
realização deste projeto, pude observar que os participantes gostaram bastante do
material, porem o tempo de aplicabilidade foi insuficiente. Quando abri inscrições
para participação no curso, estava esperando a adesão de pessoas interessadas no
assunto, porém, sem conhecimentos musicais. A procura foi muito grande por
profissionais que já atuam como instrutores de uma forma bem intuitiva com baixo
conhecimento teórico. O capitulo em que abordamos regência foi o mais enfatizado
por eles. A prática instrumental é comum a eles, mesmo para aqueles que se
escreveram e não tinham nenhuma experiência com instrutor.
Quando estava desenvolvendo o material, pensei em criar também um
material que pudesse ser acompanhado on line, como foi o caso do GTR.
Entretanto, não gostei muito do resultado, pois os alunos do GTR sentiram muito a
falta da prática.
Já a implementação trouxe grande contribuição a todos, pois foi a
oportunidade da troca de informações bem como de absorção de novos conteúdos,
principalmente teóricos aos participantes que apresentavam menos conhecimentos
em relação à prática com Fanfarras..
No decorrer da implementação tive o convite para montar a Fanfarra
Municipal de Terra Boa, e a Fanfarra Estadual do Colégio Elena Kolody no mesmo
município. Foi uma excelente oportunidade para aplicar os estudos deste trabalho
uma vez que o propósito foi montar a fanfarra para o desfile de Sete de setembro e
ao mesmo tempo capacitar dois instrutores que irão dar sequencia ao trabalho. Foi
um grande desafio, pois os dois instrutores mesmo sendo músicos, não tinham
nenhuma experiência com fanfarras. Foram dez ensaios no total, com integrantes e
instrutores totalmente leigos, mas com um resultado surpreendente, pois os
instrutores conduziram as corporações com muita eficiência.
Seguem fotos, de arquivo pessoal, da apresentação.
Bandas e Fanfarras fazem parte da minha formação musical e de minha
história. Coroando esse trabalho de mais de 40 anos, tive a oportunidade de
visitar a Banda de música da Universidade de Houston, Texas, onde acompanhei
por dois dias os ensaios, tendo sido muito bem recebida por todos. Como ouvinte
pude observar técnicas de ensaio, tanto geral quando de naipes, que irão
acrescentar muito em meu trabalho.
AGRADECIMENTOS
A todos os meus alunos e amigos que compartilham desse amor pela música em
especial pelas bandas e fanfarras, meu muito obrigada por estarem sempre ao
meu lado nessa caminhada
REFERÊNCIAS
BRUM, Oscar da Silveira. Conhecendo a Banda de Música. Rio de Janeiro, 1988.
CRUVINEL, Flavia Maria. Educação Musical e Transformação Social. Goiânia, 2005.
FILHO, José Vieira. Instrumentos musicais de sopro. Rio de Janeiro, 1998.
LIMA, Marco Aurélio. A Banda estudantil em um toque além da Música. São Paulo, 2007.
MED, Bouhumil. Teoria da Música. Brasília, 1986
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares de arte para a educação básica. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação, 2008.
SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. 2003
Ensaio da Banda de música da Universidade de Huston. Arquivo pessoal