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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
A LEITURA DE OBRAS LITERÁRIAS COMO INSTRUMENTO DE CRÍTICA SOCIAL
Ivanete Cristina Belgamasco 1
Márcio Roberto do Prado 2
RESUMO O presente artigo é parte integrante das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), constituindo uma base de consulta para professores da Rede Pública Estadual de Educação, que visa articular o trabalho com clássicos da literatura brasileira, como a obra “O cortiço” (muitas vezes parte de listas de vestibulares), de Aluísio Azevedo, com os contos “Uma vela para Dario”, de Dalton Trevisan e “Relato de ocorrência”, de Rubem Fonseca, visando à reflexão crítica a respeito de uma relevante questão social, inserindo obra literária e os educandos em tal contexto. As atividades didáticas referem-se à implementação do projeto no Colégio Estadual Urbano Pedroni – Ensino Médio, do município de Floraí, NRE de Maringá, com os alunos do 2º ano do Ensino Médio. O objetivo do trabalho é o de oportunizar a reflexão acerca do individualismo, possibilitando uma tomada de posição crítica, por meio do trabalho literário. Palavras-chave: Leitura. Obras literárias. Crítica social.
INTRODUÇÃO
A sociedade atual é fortemente marcada pelo individualismo e não é fato
incomum a leitura de fatos (em jornais, revistas, etc.) ou o aparecimento nos
noticiários de flagrantes dessa triste constatação.
Esse problema também se reflete na escola, gerando conflitos, bullying,
intolerância em geral e outras vertentes da violência. Esse cenário compromete o
trabalho pedagógico, pois o sujeito individualista de hoje apresenta grandes
dificuldades para envolver-se em atividades grupais, deixando de realizar as tão
necessárias interações, imprescindíveis para a aquisição do verdadeiro
conhecimento, efetivado através do discurso como prática social.
Essa concepção de linguagem baseia-se nos estudos de Bakhtin,
considerado como pioneiro nos estudos da interação, nos quais prioriza a interação
verbal como realidade fundamental da linguagem.
Assim, conforme Bakhtin, a linguagem é um processo de interação humana,
no qual os interlocutores, considerados como sujeitos históricos e ideológicos, vão
se modificando e se construindo. Dessa forma, torna-se claro que os educadores
1 Profª PDE da Rede Pública do Estado do Paraná, especialista em Literatura pela Fafipa, graduada
em Letras pela mesma instituição, professora no Colégio estadual Urbano Pedroni – Ensino Médio. 2 Prof. Dr. em Estudos Literários pela UNESP, campus de Araraquara, graduado em Letras pela
mesma instituição, professor Adjunto do Departamento de Letras da Universidade Estadual de
Maringá- UEM.
desempenham um papel fundamental na formação de um cidadão crítico, tendo
como via o trabalho com a linguagem. Por isso, cabe aos professores o papel de
conscientizar o aluno de que é capaz de ampliar o conhecimento por meio da leitura,
pois é também através dela que são ampliados horizontes, buscando entender
melhor os problemas sociais e as possíveis soluções para resolvê-los.
Além disso, a escola deve combater veementemente a não sensibilização dos
alunos quanto aos problemas sociais que os cercam. Muitos podem afirmar: “o
problema não é meu, não tenho nada a ver com isso”, mas não é essa a visão do
verdadeiro cidadão que a escola deve formar.
O papel dos educadores já está definido como mediadores do conhecimento,
papel este que vai além do simples repasse de conteúdos ou de preparar os alunos
para o mercado de trabalho, mesmo sabendo que estarão sendo inseridos em uma
sociedade capitalista onde reina o individualismo.
É, portanto, tarefa do educador fazer com que o aluno participe ativamente do
seu grupo, apropriando-se dos conhecimentos historicamente acumulados de
maneira significativa, tanto para si mesmo como para o meio social que o rodeia.
Sob essa perspectiva, esse material constitui uma base de consulta para
professores da Rede Pública Estadual de Educação, pois articula o trabalho com
clássicos da literatura brasileira, como a obra “O cortiço” (muitas vezes parte de
listas de vestibulares), de Aluísio Azevedo, com os contos “Uma vela para Dario”, de
Dalton Trevisan e “Relato de ocorrência”, de Rubem Fonseca, visando à reflexão
crítica a respeito de uma relevante questão social, inserindo obra literária e os
educandos em tal contexto.
As atividades didáticas referem-se à implementação do presente projeto no
Colégio Estadual Urbano Pedroni – Ensino Médio, do município de Floraí, NRE de
Maringá, com os alunos do 2º ano do Ensino Médio.
A FUNÇÃO SOCIAL DA LEITURA SEGUNDO BAKHTIN
As atividades que abordam as obras literárias e sua reflexão das críticas
sociais trazem consigo a proposição de alternativas pedagógicas que proporcionem
reflexões acerca do individualismo social, utilizando como aporte teórico a ótica de
vários autores, dentre a qual se destaca a concepção de linguagem de Bakhtin.
Portanto, muitos substratos teóricos que embasam o trabalho com a leitura e
literatura servem de base para os documentos norteadores da educação, sobretudo
na rede estadual de educação do Paraná, e devem ser levados em conta. Assim, as
Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná entendem que “ao ler, o indivíduo busca
as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar,
religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem” (PARANÁ, 2008, p. 56).
Desse modo, o envolvimento no processo é maior, o que permite um
posicionamento crítico diante do que é lido, sendo esse um dos objetivos do ensino
de Língua Portuguesa.
Para tanto, o educando, enquanto ator do processo de ensino e
aprendizagem, “procura pistas formais, formula e reformula hipóteses, aceita ou
rejeita conclusões, usa estratégias baseadas no seu conhecimento linguístico, nas
suas experiências e na sua vivência sociocultural” (PARANÁ, 2008, p. 71).
Bordini e Aguiar (1993) comentam a importância do âmbito cultural na
formação do leitor:
A formação escolar do leitor passa pelo crivo da cultura em que este se enquadra. Se a escola não efetua o vínculo entre a cultura grupal ou de classe e o texto a ser lido, o aluno não se reconhece na obra, porque a realidade representada não lhe diz respeito (BORDINI; AGUIAR, 1993, p.16).
Essa proposta objetiva atribuir ao leitor uma função mais ativa no processo,
pois é na recepção da obra que os significados aparecem como afirma Eagleton
apud Paraná (2008, p. 58), que, “sem essa constante participação ativa do leitor,
não haveria obra literária”.
A questão da passividade do leitor foi muito discutida por Hans Robert Jaus,
na década de 60 e culminou em uma nova teoria, conhecida como Estética da
Recepção na qual são abordadas sete teses. A primeira tese trata da relação entre
leitor e texto, afirmando que o leitor dialoga com a obra atualizando-a no ato da
leitura. A segunda destaca o saber prévio do leitor, o qual reage de forma individual
diante da leitura; a terceira enfatiza o horizonte de expectativas; a quarta aponta a
relação dialógica do texto; na quinta, discute o enfoque diacrônico, que reflete sobre
o contexto em que a obra foi produzida e a maneira como ela foi recebida e (re)
produzida em diferentes momentos históricos; a sexta tese refere-se ao corte
sincrônico, no qual o caráter histórico da obra literária é visto no viés atual e na
última, o caráter emancipatório da obra literária relaciona a experiência estética com
a atuação do homem em sociedade (PARANÁ, 2008, p. 58).
Outra sugestão das DCEs é a “Teoria do Efeito”, do contemporâneo e adepto
de Jauss, Wolfgang Iser que, sobre ela, esclarece:
O texto literário permite múltiplas interpretações, uma vez que é na recepção que ele significa. No entanto, não está aberto a qualquer interpretação. O texto é carregado de pistas/estruturas de apelo, as quais direcionam o leitor, orientando-o para uma leitura coerente. Além disso, o texto traz lacunas, vazios, que serão preenchidos conforme o conhecimento de mundo, as experiências de vida, as ideologias, as crenças, os valores, etc., que o leitor carrega consigo (PARANÁ, 2008, p. 59).
Ainda nesse contexto, Campos (2006) comenta a validade dessas teorias
para o ensino:
A Estética de Recepção é uma excelente busca para se ensinar literatura, mas requer um professor cônscio de sua responsabilidade de educador para a leitura. Um professor que sempre esteja preparado para selecionar textos referentes à realidade da classe e, ao mesmo tempo, saber romper com ela. Uma tarefa, portanto, nada rotineira, muito pelo contrário, pois está em constante mutação (CAMPOS, 2006, p. 43).
Com base nessas teorias, as autoras Bordini e Aguiar construíram o chamado
Método Recepcional, que serviu como embasamento para a realização das
atividades dessa unidade, pois este: “enfatiza a comparação entre o familiar e o
novo, entre o próximo e o distante no tempo e no espaço” (BORDINI; AGUIAR,
1993, p. 86). O Método Recepcional constitui-se de cinco etapas, de acordo com
Bordini e Aguiar (1993, p. 91), que são:
1. Determinação do horizonte de expectativas;
2. Atendimento do horizonte de expectativas;
3. Ruptura do horizonte de expectativas;
4. Questionamentos do horizonte de expectativas;
5. Ampliação do horizonte de expectativas.
Analisando essas etapas, Bordini e Aguiar (1993) concluem que:
O ato de ler é, portanto, duplamente gratificante. No contato com o conhecido, fornece a facilidade da acomodação, a possibilidade de o sujeito encontrar-se no texto. Na experiência com o desconhecido, surge a descoberta de modos alternativos de ser e de viver. A tensão entre esses dois pólos patrocina a forma mais agradável e efetiva de leitura (BORDINI; AGUIAR, 1993, p. 26).
Aliada a essa concepção, cumpre lembrar a teoria de Bakhtin, que, além de
destacar a importância da leitura na interação da língua, destaca que essa não se
apresenta de maneira isolada do meio social:
A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que despertam em nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida (BAKHTIN, 1986, p. 95).
Assim como a concepção de Bakhtin, destaca a função social da leitura como
oportunizadora de reflexão e criticidade, a literatura de obras que trazem a tendência
da teoria do realismo- naturalismo pode suscitar a reflexão crítica do aluno para a
sociedade em que está inserido e seus contextos sociais.
Os contos também podem ser utilizados como grandes estrategistas de leitura
para interpretação, desenvolvimento da criticidade e reflexão social. É imprescindível
que a escolha de um conto assegure em seu conteúdo a carga social.
Segundo Gotlib (1991):
O conto é toda narrativa que apresenta uma sucessão de acontecimentos de interesse humano e tudo ‘na unidade de uma mesma ação’. Assim, há diversas maneiras de se construir essa tal ‘unidade de uma mesma ação’, nesse projeto humano com uma sucessão de acontecimentos. Para o conto, não há limites entre o real e a ficção, pois ele não se refere somente ao acontecimento, já que não tem compromisso com a realidade (GOTLIB, 1991, p.12).
Nas leituras de obras literárias, como o conto, pode ser destacado o trabalho
com os elementos da narrativa, por sua estrutura assemelhar-se à da língua. A
narrativa faz parte do cotidiano do ser humano e da realidade social que o cerca,
com elementos, estrutura e características específicas. Os elementos estruturais de
uma narrativa são: enredo, ação, tempo, espaço, foco narrativo, personagem e
recursos de expressão utilizados pelo narrador. Segundo Culler (1975), a narrativa é
um texto organizado constituído por uma história (os acontecimentos, as
personagens e os cenários) e por um discurso (a forma de apresentação ou
narração da história), contudo deve ser estudada dentro de um contexto social e
educativo.
As histórias narram: a) o desenvolvimento de uma ação desencadeada por
uma situação conflitual, real ou imaginária; b) as tensões e os conflitos vividos pelos
protagonistas; e c) a forma como os conflitos foram superados. As semelhanças com
as vivências de cada indivíduo na resolução de conflitos as tornam extremamente
acessíveis e significativas para a compreensão da realidade e a atribuição de
significados (McEWAN, H.; EGAN, K. , 1998).
A letra de música é um material linguístico que devemos tomar para a análise
e compreensão dos processos de construção dos sentidos e do funcionamento da
linguagem, exatamente por reconhecer a complexidade dos processos de produção
e compreensão dos textos nas diferentes situações comunicativas e por desenvolver
o potencial crítico e interpretativo. Além disso, a letra de música é um texto que se
constitui como um excelente exemplo para análise de vários aspectos, tanto aqueles
relativos à coerência, como os relativos à coesão textual, dando possibilidades de
trabalhar alguns fatores de coerência, a saber, o conhecimento de mundo, o
conhecimento partilhado e as inferências.
Assim, qualquer abordagem que pressuponha um trabalho no sentido de
integrar o ensino de literatura com a formação de um cidadão crítico e capaz de se
posicionar por meio de seu próprio discurso deve levar em consideração os
posicionamentos teóricos anteriormente apontados, de modo que as estratégias de
ação a serem adotadas seguirão tal tendência.
RESULTADOS
As obras literárias são extremamente importantes para o desenvolvimento
crítico do educando e podem ser complementadas por outros gêneros auxiliadores
como estratégias de ensino, por exemplo, a letra de música e o filme. Ambos são
excelentes instrumentos de ensino desde que o professor saiba o intuito e a
metodologia de complementar o trabalho com as obras.
As obras literárias não deixam de ser contos de uma pessoa que observa o
mundo com um olhar diferente e sempre está atenta aos detalhes. Há uma questão
bem curiosa: nas obras literárias, conseguimos nos identificar com os personagens.
As obras literárias são escritos que podem contar a realidade do momento ou do
passado por um indivíduo uma nação. Existe uma facilidade em conseguir inserir o
contexto vivido nas histórias.
A formação do leitor inicia-se no âmbito escolar e se processa em longo
prazo, tendo como mediador o professor.
O presente trabalho foi realizado no Colégio Estadual Urbano Pedroni –
Ensino Médio, do município de Floraí, com alunos do 2º ano do Ensino Médio,
período noturno. As aulas foram planejadas e organizadas em dez unidades,
perfazendo um total de 32 horas aulas e aconteceram no 1º semestre de 2015.
Segue abaixo o programa das unidades, com a devida carga horária:
UNIDADE 1 – 1 h/a O valor das obras literárias
Exposição do projeto, comentando sua natureza, sua importância, a relação
com a nossa realidade e o valor da leitura, em especial da obra literária, enquanto
retrato de uma sociedade e instrumento de reflexão sobre ela.
UNIDADE 2 – 2 h/a Determinação do horizonte de expectativas
Essa etapa deve conter “[...] os valores prezados pelos alunos, em termos de
crenças, modismos, estilos de vida, preferências quanto a trabalho e lazer,
preconceitos de ordem moral ou social e interesses específicos da área de leitura”
(BORDINI; AGUIAR, 1986, p. 88). Além disso, as características do horizonte de
expectativas podem ser constatadas por meio de técnicas que permitem o exame de
obras lidas anteriormente, como:
[...] observação direta do comportamento, pelas reações espontâneas a leituras realizadas, ou através da expressão dos próprios alunos em debates, discussões, respostas a entrevistas e questionários, papel em jogos, dramatizações e outras manifestações quanto a sua experiência das obras (BORDINI; AGUIAR,1986, p. 88).
O professor poderá orientar o seu trabalho investigando as leituras
espontâneas ou os comentários sobre obras em situações informais ou, ainda, por
solicitações dos alunos.
Atividade 1: Interpretação de imagens;
Atividade 2: Questões sobre a poesia: Além da imaginação de Ulisses
Tavares;
Atividade 3: Trabalho com o filme: “Ilha das Flores”.
Análise dialogada e escrita do filme.
UNIDADE 3 - 2 h/a Conceituação: conto e verossimilhança.
O conto se trata de uma narrativa curta e que se diferencia dos romances
não apenas pelo tamanho, mas também pela sua estrutura: há poucas personagens,
nunca analisadas profundamente; há acontecimentos breves, sem grandes
complicações de enredo; e há apenas um clímax, no qual a tensão da história atinge
seu auge, quando o conto traz sua carga social, sendo, portanto, um excelente
instrumento de ensino para o desenvolvimento da reflexão crítica social.
Nesta fase, passamos para o atendimento do horizonte de expectativas, que
consiste em:
[...] proporcionar à classe experiências com os textos literários que satisfaçam as suas necessidades em dois sentidos. Primeiro, quanto ao objeto, uma vez que os textos escolhidos para o trabalho em sala de aula serão aqueles que correspondem ao esperado. Segundo, quanto às estratégias de ensino, que deverão ser organizadas a partir de procedimentos conhecidos dos alunos e de seu agrado (BORDINI; AGUIAR, 1986, p. 88).
A etapa foi concretizada com a oferta do texto de Rubem Fonseca, “Relato
de ocorrência”, onde foram levantados problemas como: individualismo, fome,
pobreza, intolerância e o porquê do fato descrito ser verossímil.
UNIDADE 4 – 1 h/a Conceituação dos elementos da narrativa
É preciso conceituar os elementos da narrativa para que o educando possa
identificá-los e reconhecer sua importância composicional nas obras literárias.
Para que haja narrativa é preciso uma história e um contador de história. Toda
história apresenta, geralmente, enredo, personagens, espaço e tempo.
Os elementos da narrativa são:
Narrador: quem conta a história. Ele pode ser um narrador observador, que
não participa da história, ou pode participar da história sendo um narrador-
personagem.
Enredo: É composto pelos fatos narrados. Os acontecimentos que compõem
a narrativa, a qual pode apresentar: introdução (apresentação dos personagens, do
espaço e do tempo), desenvolvimento (a sequência dos fatos), clímax (momento em
que o conflito alcança seu ponto máximo) e desfecho (é a conclusão da narrativa,
isto é, como os fatos e conflitos são resolvidos e encerrados).
Personagens: são seres, criados pelo escritor, que apresentam
características físicas e psicológicas à semelhança de um indivíduo.
Espaço: lugar ou ambientes onde transcorre a história.
Tempo: indicação do momento em que ocorre o fato narrado. O tempo pode
ser cronológico ou psicológico. O cronológico é aquele marcado pelo relógio, de
caráter objetivo. O psicológico é o tempo subjetivo, que não pode ser marcado
materialmente, que está dentro da consciência do personagem.
Foco narrativo: é o ângulo de visão adotado pelo narrador para contar a
história, que pode ser de primeira pessoa (eu) quando o narrador participa da
história, ou de terceira pessoa (ele) quando o narrador observa a história penetrando
ou não no mundo interior dos personagens.
Atividade - Leitura do conto: “Tragédia Brasileira”, de Manuel Bandeira.
Exercícios sobre elementos narrativos presente no texto.
UNIDADE 5 -2 h/a A ruptura do horizonte de expectativas
Em continuidade, foi solicitada a leitura do conto “Uma vela para Dario”, de
Dalton Trevisan; análise dos elementos narrativos do conto. A ruptura do horizonte
de expectativas se dará nesse momento uma vez que o texto abrange aspectos
humanos e quando se espera solidariedade na verdade acontece uma total falta de
respeito ao indivíduo, havendo assim novas leituras e novos olhares. De acordo com
Bordini e Aguiar, a etapa de ruptura do horizonte de expectativas configura-se
[...] pela introdução de textos e atividades de leitura que abalem as certezas e costumes dos alunos, seja em termos de literatura ou de vivência cultural. Essa introdução deve dar continuidade à etapa anterior através do oferecimento de textos que se assemelhem aos anteriores em um aspecto apenas: o tema, o tratamento, a estrutura ou a linguagem. Entretanto, os demais recursos compositivos devem ser radicalmente diferentes, de modo a que o aluno ao mesmo tempo perceba estar ingressando num campo desconhecido, mas também não se sinta inseguro demais e rejeite a experiência (BORDINI; AGUIAR, 1986, p. 89).
Nessa unidade foi realizado o confronto entre elementos narrativos presentes
no conto e do conteúdo, em atividades dialogadas e escritas.
UNIDADE 6 – 1 h/a Música como obra literária
A música, em sala de aula, pode ir além de apenas um instrumento capaz de
promover o desenvolvimento do ser humano, mas de conhecer os elementos de seu
mundo para nele intervir, transformando-o no sentido de ampliar a comunicação e
interpretação da realidade.
Sabendo que a letra de música é um gênero textual constituído, com suas
próprias normas e regras, não podemos deixar passar em branco o caráter
‘narrativo’, ou seja, uma história que nos é passada por muitas destas letras. São
histórias que contêm todos os elementos originalmente pertencentes à prosa, como
o enredo, as personagens, espaço e tempo etc.
De acordo com Martins et al. (2009), a música pode ter três linguagens: a
linguagem verbal, musical e a litero-musical. Dessa maneira a música exige essa
tripla competência, sendo a última a capacidade de articular as duas primeiras
linguagens. Portanto, cabe, em grande parte, ao professor definir qual o caminho
mais propício para trabalhar com determinada música que esteja de acordo com seu
objetivo.
Foi trabalhada nessa unidade a música do cantor Daniel “Pra ser feliz”. O
objetivo desse trabalho com a música é o de compreender que a música também
apresenta elementos narrativos e promover a reflexão e discussão a respeito da
importância da vida e dos direitos humanos. Destaque à inclusão e superação
retratadas na letra.
UNIDADE 7 – 10 h/a Questionamento e ampliação do horizonte de
expectativas
Na sequência das etapas do método recepcional, segue-se o questionamento
do horizonte de expectativas:
A seguir, ocorrerá a etapa de questionamento do horizonte de expectativas, decorrência da comparação entre as duas anteriores. Sobre o material literário já trabalhado, a classe exerce sua análise, decidindo quais textos, através de seus temas e construção, exigiram um nível mais alto de reflexão e, diante da descoberta de seus sentidos possíveis, trouxeram um grau maior de satisfação. Supõe-se, portanto, que os textos de melhor realização artística tendem a ser vistos como difíceis num primeiro momento e, devidamente decifrados, a provocar a admiração do leitor. (BORDINI; AGUIAR, 1986, p. 90, grifo das autoras)
Este é o momento em que os alunos verificam que conhecimentos escolares
ou de sua vivência proporcionaram facilidade de entendimento do texto ou das
atividades desenvolvidas e ofereceram solução para os problemas encontrados. Tal
etapa pode ser verificada por meio de discussões participativas, em pequenos ou
grande grupo, com anotações como forma de registro.
Resultante dessas reflexões entre a leitura e a vida, delineia-se a última etapa
do método recepcional, que é a ampliação do horizonte de expectativas:
Tendo percebido que as leituras feitas dizem respeito não só a uma tarefa escolar, mas ao modo como vêem seu mundo, os alunos, nessa fase, tomam consciência das alterações e aquisições, obtidas através da experiência com a literatura. Cotejando seu horizonte inicial de expectativas com os interesses atuais, verificam que suas exigências tornaram-se maiores, bem como sua capacidade de decifrar o que não é conhecido foi aumentada. (BORDINI; AGUIAR, 1986, p. 91)
Neste momento, para se efetuar o questionamento e a ampliação do
horizonte de expectativas, partimos para o conhecimento de trechos do filme
naturalista “O cortiço”, de Aluísio Azevedo, selecionado por acreditarmos que vem
ao encontro dos questionamentos que foram levantados com a análise dos contos.
Os momentos de leitura foram intercalados com trechos do filme.
Com essa atividade, objetivamos mostrar a contemporaneidade da crítica
social da obra, denunciada pelos comportamentos reprováveis, movidos pelos
interesses individuais, que destruíam e ainda destroem as relações humanas; é por
meio dessa obra que novos questionamentos surgirão focalizando a conscientização
do aluno enquanto membro atuante na sociedade atual.
Análise de trechos do filme e leitura do romance “O Cortiço”, de Aluísio de
Azevedo, mostrando a contemporaneidade da crítica social presentes na obra.
UNIDADE 8 – 3 h/a Jogo
Jogo interativo com questões relacionadas ao romance “O Cortiço” e seu
autor Aluísio Azevedo.
UNIDADE 9 – 4 h/a Filme
Exibição do filme “Cidade de Deus” para comparação da favela atualmente,
levantando indagações nos educandos.
UNIDADE 10 – 5 h/a Painel ilustrativo
Painel ilustrativo primeiramente com a temática que envolve “O Cortiço” e sua
atualidade. Em seguida, figuras de ações que representam benfeitorias, alternadas
com comentários críticos dos alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esse trabalho, pudemos oportunizar a reflexão acerca do individualismo,
possibilitando uma tomada de posição crítica, por meio do trabalho literário. Analisar
imagens, contos, músicas, filmes, utilizando conhecimentos prévios dos educandos
como ponto de partida, induzindo-os ao diálogo e ao levantamento de hipóteses,
formulando atividades de compreensão e interpretação, priorizando a
intertextualidade e trabalhando de forma contextualizada, contribui para a formação
de um leitor crítico e competente.
De um modo geral, a turma mostrou-se bastante participativa, interessada e
comprometida com as atividades propostas.
Os problemas surgidos foram poucos, tais como: conversas paralelas, falta de
atenção e a não realização de algumas tarefas propostas por parte de alguns
alunos, porém, nada que comprometesse o desenvolvimento e o objetivo do
trabalho.
As atividades desenvolvidas consideram o valor da linguagem imagética nos
processos de aprendizagem. Segundo Pretto (1996) não é função do audiovisual
desvincular o espectador/usuário de sua realidade, tornando as (multi) mídias um
instrumento de escapismo dentro do universo caótico no qual está inserida a
sociedade atual. Pelo contrário, é necessário fazer da experiência com o audiovisual
um exercício de capacidade crítica, através do qual o aluno possa estabelecer uma
relação entre o transmitido na imagem e na tela e o mundo ao seu redor.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. V. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1986. BORDINI, M. G.; AGUIAR,V. T. Literatura e Formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. CAMPOS, A. F. A formação do leitor através do método recepcional. In: Cadernos de Ensino e Pesquisa da FAPA - n. 2 - 2º Sem, Porto Alegre, 2006. Disponível em: <http://www9.fapa.com.br/cadernosfapa/artigos/2edicao/literatura/FragElemObraBolor.pdf.>. Acesso em: 03 ago. 2014. CULLER, J. Poética estruturalista: o estudo da literatura, lingüística e o estruturalismo. Londres: Routledge e Kegan Paul, 1975. GOTLIB. N. B. Teoria do conto. São Paulo: Ática, 1991. MARTINS, ET AL. A utilização da música como prática de ensino nos livros didáticos. Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URIISSN 1809-1636. Vol.5, N.8: p.77-83, Outubro/2009. McEWAN, H.; EGAN, K. A narrativa no ensino, aprendizagem e pesquisa. Buenos Aires: Amorrortu Editores, 1998. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da rede pública de educação básica do Estado do Paraná. Curitiba, 2008.