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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
ORGANIZAÇÃO E FORMAÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE
ESTUDANTIL
ANA HELEN JACOB BAUMGART1
YOLANDA ZANCANELLA2
Resumo: A proposição deste artigo é a de apresentar a experiência do processo de implementaçãodo Projeto de Intervenção Pedagógica denominado “A atuação do grêmio estudantil na gestãodemocrática: fragilidades e possibilidades”, do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE,realizado no Colégio Estadual Wilson Joffre, localizado no Município de Cascavel – PR. O estudodesenvolvido contemplou ações referentes à formação e organização da representatividade estudantilcom os alunos representantes de turma e a diretoria do Grêmio Estudantil, refletindo sobre aparticipação dos mesmos enquanto Instância Colegiada. O artigo contempla, portanto, a síntese dosestudos sobre a organização do Grêmio Estudantil e a sua participação nas ações referentes ao dia adia da escola, tais como: a representatividade do corpo discente em suas expectativas ereivindicações quanto à organização da escola e melhoria da qualidade da educação, bem como, naparticipação efetiva no Conselho Escolar e Conselho de Classe, resgatando a participação dos alunosna Gestão Democrática da Escola Pública.Palavras-chave: Pedagogo. Grêmio Estudantil. Representatividade.
Introdução
A escola é um espaço em que ocorre a aprendizagem formal dos
conhecimentos historicamente produzidos e acumulados pela humanidade, e
também, da participação social e da democracia, elementos estes que compõe a
Gestão Democrática, por meio da ação das Instâncias Colegiadas que representam
os diferentes segmentos que compõem a comunidade escolar: docentes, discentes,
agentes educacionais, pais/responsáveis.
Ao se organizarem em um Grêmio Estudantil, os estudantes amparados por
legislação específica, vivenciam a partir de um processo eleitoral a efetiva
representatividade do corpo discente da escola. Porém, o desconhecimento de suas
atribuições, devido a desinformação e a orientação escassa bem como o
envolvimento com outros compromissos inerentes a idade, com o passar do tempo,
leva ao desmantelamento da diretoria eleita. Com isso os alunos ficam afastados do
processo participativo e pretensamente democrático da escola pública.
Diante da realidade que se apresenta na maioria das escolas, o pedagogo,
um dos articuladores do trabalho pedagógico e da Gestão Escolar, pode orientar o
corpo discente sobre a importância de sua participação, através do Grêmio
1 Professora pedagoga da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná. E-mail de contato: [email protected] Orientadora PDE da Universidade UNIOESTE. E-mail de contato: [email protected].
Estudantil, nas Instâncias Colegiadas, e, através do aprofundamento teórico
subsidiar sua organização conduzindo a uma reflexão sobre a Gestão Democrática,
Participação e Função Social da Escola Pública.
Definido o objetivo que direcionou o estudo durante o PDE que foi o de refletir
sobre a atuação do Grêmio Estudantil, resgatando a participação dos alunos na
Gestão Democrática da Escola Pública, o Projeto de Intervenção Pedagógica e o
Material Didático-pedagógico elaborado propõem o envolvimento do corpo discente
na discussão sobre representatividade e atuação do Grêmio Estudantil na escola
enquanto Instância Colegiada que contribui nas decisões sobre o cotidiano escolar.
A gestão democrática e a participação da comunidade escolar
A educação é um direito fundamental, garantido pela Constituição Federal a
todos os brasileiros, auxiliando no desenvolvimento de cada indivíduo e da
sociedade, tornando possível sua transformação e colaborando na emancipação dos
seres humanos com vistas a uma maior autonomia e entendimento da realidade a
partir de uma visão crítica e global do que ocorre ao seu redor.
A escola é a instituição que assumiu perante a sociedade a função de difundir
para as novas gerações os conhecimentos acumulados, contribuindo para o pleno
desenvolvimento de cada indivíduo. É pela interação em sala de aula entre
professores e alunos que esse processo ocorre, materializado no ensino e
aprendizagem.
Entretanto, a escola também assumiu outras responsabilidades diante das
novas exigências que se expressam pela diversidade de problemas enfrentados pela
sociedade contemporânea.
Para tanto, não cabe mais à escola apenas ensinar, mas também propiciar
aos alunos formas de exercer a cidadania e a convivência para seu desenvolvimento
integral enquanto ser humano, articulando o conhecimento adquirido através do
conteúdo com a formação para a cidadania e o mundo do trabalho.
A educação, no contexto escolar, se complexifica e exige esforçosredobrados e maior organização do trabalho educacional, assimcomo participação da comunidade na realização desseempreendimento, a fim de que possa ser efetiva, já que não basta aoestabelecimento de ensino apenas preparar o aluno para níveis maiselevados de escolaridade, uma vez que o que ele precisa é aprenderpara compreender a vida, a si mesmo e a sociedade, comocondições para ações competentes na prática da cidadania. E o
ambiente escolar como um todo deve oferecer-lhe esta experiência.(LUCK, 2000, p. 12).
A escola para atender a essa formação ampla, consciente e crítica precisa
analisar qual tem sido a sua contribuição e de que forma tem atuado na efetivação
da democracia.
O Projeto Político-pedagógico é o documento que orienta todas as ações dos
sujeitos que atuam na escola, partindo do pressuposto de sua elaboração ocorrer de
forma coletiva a cerca de qual escola, sociedade e indivíduo se pretende formar.
Tais ações só podem ser efetivadas quando se materializa no espaço escolar a
Gestão Democrática.
O princípio democrático na Gestão Escolar implica em repensar a estrutura de
poder da escola, tendo em vista sua socialização, proporcionando a prática da
participação coletiva, da reciprocidade, da solidariedade e da autonomia. Assim a
implantação da gestão democrática necessita da ampla participação dos
representantes dos diferentes segmentos da escola nas decisões e ações
administrativo-pedagógicas ali desempenhadas.
A escola precisa articular à formação de cidadãos conscientes e
participativos, promovendo mudanças necessárias e despertando responsabilidades
com a comunidade em que está inserida, através de alunos capazes de refletir sobre
suas ações e as consequências geradas por elas, e conscientes de que a mudança
é resultado de interação em busca de uma nova realidade para o bem comum.
A gestão democrática é a forma de organização adotada pelas escolas
públicas da rede estadual do Paraná em que o profissional que responde pela
direção da escola concorre com outros professores candidatos que atuam no
estabelecimento de ensino num processo de eleição direta, atualmente denominado
de Consulta à Comunidade Escolar para designação de Diretores e Diretores
auxiliares.
O diretor eleito conta com o apoio das Instâncias Colegiadas que são:
Conselho Escolar; Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF) e Grêmio
Estudantil. Instâncias que atuam por representatividade de cada segmento da
escola, trazendo a comunidade que compõe a escola para o seu interior com o
objetivo de pensar e buscar soluções através da participação coletiva.
Com o avanço da democratização no âmbito escolar os processos
participativos são percebidos de forma mais evidente, pois os indivíduos incorporam
mecanismos politizantes que os habilitam a buscar mudanças, levando a
compreensão dos distintos papéis de cada segmento do cenário escolar e em todo o
seu entorno.
Num contexto em que os problemas e as soluções são discutidos e resolvidos
coletivamente exercita-se a gestão democrática e participativa, de forma que
membros de diferentes segmentos da realidade escolar com diferentes visões dos
desafios possam interagir entre si e chegar a uma solução mais eficaz.
O espaço escolar que tem a democracia por princípio básico torna-se um
espaço aberto à discussões, análises e busca de soluções coletivas para os
problemas do cotidiano (PARO, 2001). Isso é possível com a atuação efetiva das
Instâncias Colegiadas, pois “A transparência na escola depende da inserção da
comunidade no cotidiano escolar, do envolvimento dos segmentos com a causa
pública, passa pela socialização das informações, o que pode gerar um clima de
confiança e de clareza de propósitos entre os sujeitos da escola.” (ARAUJO, 2009,
p.257)
O Conselho Escolar enquanto agente de discussão pode promover o diálogo
democrático com o poder público fortalecendo a comunidade, o que implica em
maiores possibilidades de a escola responder aos anseios da comunidade local e
alcançar seus objetivos.
De acordo com Regimento Escolar (PARANÁ, s/d), o diretor da escola é
instituído como presidente do Conselho Escolar e apesar de parecer caminhar
contra os princípios democráticos, tal contradição implica na decisão pelo consenso
de ideias para que os obstáculos sejam transpostos, garantindo o ganho de causa
da coletividade.
Os demais integrantes do Conselho Escolar são representantes da equipe
pedagógica, dos docentes, dos discentes, dos agentes educacionais e da
comunidade conforme estatuto elaborado em cada estabelecimento de ensino. É de
extrema importância que o conselho, como um todo, avalie constantemente a escola
e suas atividades, bem como realize autocrítica dos próprios momentos de atuação
os quais devem ser mais transparentes e próximos da realidade local possível.
Conforme Hora (1994) quanto mais participativa, solidária e democrática for a
gestão da escola, maiores serão as possibilidades de que se torne relevante para os
alunos e comunidade, justificando e promovendo a qualidade necessária.
Movimento estudantil e Grêmio: considerações históricas
A partir de um levantamento sobre o tema Grêmio Estudantil nas produções
realizadas pelos professores da rede pública estadual no programa PDE (Programa
de Desenvolvimento Educacional), encontramos a afirmação de Bianco (2008) para
dar início a esta fundamentação:
O Grêmio é o espaço apropriado para a aprendizagem do por que,para quê, como e com quem na participação social, sendo o local dedesenvolvimento da consciência crítica que permite refletir sobre oserros e acertos nas relações sociais, políticas, educacionais e depoder que se estabelecem dentro das escolas, é experimentando ouso da voz e da vez e a respeitar os outros que se efetiva aparticipação condição necessária ao processo de democracia (p. 17).
Os adolescentes e jovens quando valorizam a escola que frequentam, estão
mais propensos à participação, tornando-se efetivamente componentes desse lugar,
visto que
A associação por sentimento e pertencimento agrega a possibilidadede ação e intervenção, pressupostos de uma interação por meio dediálogo e discussão. A valorização da instituição não pressupõe ainexistência de problemas, de questionamentos e disputas em tornode interesses, que, por vezes, se apresentam distintos. (MARTINS,2010, p. 148)
Carlos (2006) afirma que a organização estudantil pode desempenhar um
papel relevante na formação do aluno, já que a formação política que esse tipo de
atividade pressupõe deveria fazer parte da experiência formativa em qualquer
instituição escolar pertencente a uma sociedade democrática. As normatizações e
organização da escola podem ser discutidas com os alunos ainda nas séries iniciais,
promovendo desde então uma visão ampla de direitos e deveres levando a
formação democrática e participativa.
No cenário político nacional o Movimento Estudantil tornou-se mais
expressivo a partir da década de 1960, uma vez que ampliou-se a oferta de vagas
nas universidades. Isso gerou uma mobilização social para criação de organizações
representativas dos estudantes, tanto nos níveis nacional, regional e local, que
atuavam em consonância com outros movimentos sociais, principalmente de
trabalhadores que através de greves operárias por maiores salários e condições de
trabalho, fizeram frente a contestação do Regime Militar.
Moraes Freire (2008) indica o ano de 1968 como marco revelador do
potencial do Movimento Estudantil na época, pois mostrava a capacidade de
questionamento e organização dos estudantes, influenciando o cenário político
nacional. Através da UNE (União Nacional dos Estudantes) criada em 1937, atuando
na coordenação e direção do Movimento Estudantil em âmbito nacional, os
estudantes tiveram papel de destaque nas lutas pela democratização do país:
“Desde o Golpe Militar de 1964 os estudantes formavam uma resistência contra o
regime, expressando-se por meio de jornais clandestinos, músicas e manifestações,
apesar da intensa repressão” (p.140).
As entidades estudantis foram reativadas a partir de 1979 e o Movimento
Estudantil ampliou suas forças e lutas pela redemocratização do país (MORAES
FREIRE, 2008).
A mobilização dos estudantes universitários serviu de exemplo para que os
estudantes secundaristas, também, organizassem suas entidades representativas
tendo por base os Grêmios Estudantis. A pauta de reivindicações dos estudantes
secundaristas em suas manifestações era de ordem mais concreta: exigia redução
das mensalidades e melhoria da qualidade do ensino, fim das restrições à atuação e
à exigência dos seus grêmios, meia passagem nos ônibus, reformas nas escolas e
professores nas salas de aula (SCHMITT apud POERNER, 2004).
O final da década de 1970 e o início da década de 1980 foi marcada por
ações de redemocratização do país, período que trouxe mudanças e contribuições
importantes no cenário político brasileiro, destacando a campanha pelas eleições
diretas para presidente da República. Pela Lei Federal 7.398/85 foi assegurado aos
estudantes do ensino fundamental e médio, a organização de grêmios como
entidades autônomas e representativas com finalidades educacionais, culturais,
cívicas, desportivas e sociais.
Nesse contexto de redemocratização do país, a Gestão Democrática foi
institucionalizada como um dos princípios orientadores da Educação no Brasil
afirmado pela Constituição Federal de 1988.
No que se refere às ações democráticas no ambiente escolar Deola (2010)
apresenta a seguinte consideração
Desta forma, a democracia na escola não se implanta por decreto,portarias ou resoluções, mas é resultado de um fazer coletivo, deveser construída num processo de participação, baseado em relaçõesde cooperação, trabalho coletivo e no partilhamento do poder. Nestesentido, precisamos exercitar a pedagogia do diálogo, do respeito àsdiferenças, garantindo a liberdade de expressão, a vivência deprocessos de convivência democrática. Exercitar no interior da
escola essa paciência em buscar respostas, e por isso precisamoscontar com a participação dos alunos que são os principais atingidospelo fazer escolar (p. 7).
Posteriormente com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
n°. 9394/96 este princípio foi reafirmado, obrigando as escolas públicas a
implantarem Colegiados de Gestão. A partir daí cada instituição precisou organizar
seu Conselho Escolar.
Art.14 Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:I) participação dos profissionais da educação na elaboração do
projeto pedagógico da escola;II) participação das comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes.
A LDB 9394/96 também determina que a direção da escola deve criar
condições para que os alunos se organizem no Grêmio Estudantil, participando do
Conselho Escolar e Conselho de Classe através de seus representantes.
A Lei estadual n°. 11.057/95 assegura a livre organização de Grêmio
Estudantil nas escolas, que ofertam Educação Básica, a fim de representar os
interesses e opiniões dos alunos, reconhecendo entidades estudantis organizadas
nos níveis municipal, regional e federal.
Pode-se afirmar que no Brasil, com o surgimento dos grandesestabelecimentos de Ensino Secundário, nasceram também osGrêmios Estudantis, que cumpriram sempre um importante papel naformação e no desenvolvimento educacional, cultural e esportivo danossa juventude, organizando debates, apresentações teatrais,festivais de música, torneios esportivos e outras festividades. Asatividades dos Grêmios Estudantis representam para muitos jovensos primeiros passos na vida social, cultural e política. Assim, osGrêmios contribuem, decisivamente para a formação e oenriquecimento educacional de grande parcela da nossa juventude(PARANÁ: s/d).
Martins (s/d, s/p.) destaca que “A afirmação de que o Grêmio Estudantil se
constitui como efetiva possibilidade dos primeiros passos na vida social, cultural e
política de muitos jovens, demonstra a relevância deste colegiado nos
estabelecimentos de ensino.”
Na cartilha do Instituto Sou da Paz (s/d, s/p) consta o processo de formação
do Grêmio Estudantil quando os alunos são inicialmente desafiados a se
organizarem para a fundação do Grêmio, mobilizando os demais alunos e
negociando com professores, equipe diretiva e pedagógica da escola. Com o
Grêmio estabelecido encaminha-se para a eleição da diretoria, organizando chapas,
fazendo campanha, promovendo debates e organizando a votação. Apurados os
votos de todos os alunos, aos eleitos fica o compromisso de cumprir com as
propostas de campanha e aos demais alunos cabe o papel de fiscalizar e contribuir
nas ações da chapa eleita em prol de toda a escola.
Participando do processo de formação e consolidação do Grêmio Estudantil
“os jovens vivenciam uma experiência política completa, exercendo sua cidadania
por meio da proposição, discussão, discordância e negociação de seus projetos de
forma democrática e, portanto, pacífica.” (SOU DA PAZ, s/d, s/p).
Especialmente num momento em que a participação política e a luta pelos
interesses individuais e coletivos voltaram na pauta dos noticiários nacionais, uma
vez que, no mês de junho de 2013, uma crescente onda de protestos foi
presenciada por moradores de diversas cidades brasileiras em suas principais
avenidas. O motivo foi o aumento nas tarifas do transporte coletivo que
desencadeou manifestações de trabalhadores, estudantes e integrantes de
movimentos sociais, sendo um deles o Movimento Passe Livre.
Em nenhum outro momento na história desse país as manifestações
populares foram tão expressivas e, se no início o motivo era o aumento das tarifas
de transporte, na sequência a pauta de reivindicações ampliou-se para luta contra a
corrupção, contra os investimentos em eventos esportivos e a violenta repressão
policial, bem como para a melhoria nos sistemas públicos de saúde, educação e
segurança.
Na sequência e com o fortalecimento das manifestações surgiu uma onda de
nacionalismo, com ampla divulgação pelas redes sociais, de um novo momento de
participação política da população brasileira. Entre eles os adolescentes e jovens,
como relata Barreto (2013),
Uma pesquisa realizada pelo Ibope em Brasília e nas capitais de seteestados indicou que 63% dos manifestantes que foram às ruas têmentre 14 e 29 anos. Segundo o último Censo do IBGE, a faixa etáriade 15 a 29 anos corresponde a apenas 26% da população brasileira.
O uso das redes sociais mostrou-se uma poderosa ferramenta de articulação
e mobilização e um elemento fundamental para motivar a participação desse número
expressivo de adolescentes e jovens, pois, tanto no Brasil quanto no mundo, eles
sempre foram os principais protagonistas nas lutas por mudanças políticas e sociais.
A ação do pedagogo e a participação na gestão democrática dos jovens e
adolescentes: um desafio
Toda essa efervescência juvenil pode ser canalizada através de medidas
tomadas pelo pedagogo no ambiente escolar, que partindo de sua formação, tem
condições favoráveis para auxiliar a organização do Grêmio Estudantil pois
conta com fundamentação teórica mais consistente para organizartambém, a formação continuada dos profissionais da escola, visandoa formação dos alunos para o cumprimento para o cumprimento dafunção social da escola: domínio dos conhecimentos científicos,humanização e democratização da escola (MARTINS, s/d, s/p).
No ano de 2004 a SEED/PR anunciou um concurso inédito na rede estadual
para contratação do professor pedagogo, profissional que passou a atuar como
“articulador e organizador do fazer pedagógico da educação na escola” (GNOATTO,
2009, p. 44). Os profissionais que até então atuavam nas escolas eram contratados
como supervisores ou orientadores escolares, essa mudança enfatizou a
importância de alterações de medidas profissionais com caráter democrático.
Citando documento elaborado pela CADEP (Coordenadoria de Apoio à
Direção e Equipe Pedagógica da SEED – PR), Gnoatto (2009, p. 43) indica o
pedagogo como “um profissional que pensa o papel da escola historicamente e que
media as relações pedagógicas: professor, aluno, currículo, metodologia, processo
de avaliação, processo de ensino aprendizagem e organização curricular.”
Dentre esses aspectos, a ação do pedagogo em relação ao Grêmio Estudantil
encontra-se em atribuições acerca da Relação Escola e Comunidade, entre elas a
de mobilização da comunidade escolar, desenvolvimento de projetos de interação
escola-comunidade e incentivo a participação dos alunos nos diversos momentos e
em órgãos colegiados da escola, visando que as medidas de contenção e
melhoramento didático atinjam o anseio dos alunos.
Portanto, ao orientar a comunidade escolar na construção de um processo
pedagógico, em uma perspectiva democrática, o pedagogo pode propiciar o
desenvolvimento da representatividade dos alunos e de sua participação nos
diversos momentos e órgãos colegiados da escola através de ações específicas de
orientação e acompanhamento ao Grêmio Estudantil.
Como subsídio, as escolas da Rede Estadual de Ensino do Paraná, contam
com um manual que apresenta a legislação pertinente e também modelos de
documentos necessários para implementação do Grêmio Estudantil. No site do
portal da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED) há também
informações aos alunos sobre a política, expansão, criação e reativação dos grêmios
no sentido de contribuir para a organização dos mesmos e para tornar o Grêmio
Estudantil uma realidade atuante na escola pública.
Lembrando que
O ponto de partida para as ações do Grêmio são as concepções quesustentam o Projeto Político-Pedagógico da escola. Apropriando-sedelas, é necessário conhecimento dos aspectos contextuais quecercam o cotidiano escolar. É de fundamental importância acoerência das ações do Grêmio com o PPP, bem como, os possíveisâmbitos de sua atuação, sem perder de vista o seu papel e semcompetir ou secundarizar o papel das outras instâncias Colegiadas,dos educadores ou mesmo do Estado (MARTINS, s/d, s/p)
Outro aspecto bastante relevante diz respeito à ação de cada professor, pois
é necessário buscar meios de trazer os alunos para junto daorganização escolar resgatando sua capacidade de mobilizar equestionar, preparando-os para a tomada de decisões e participaçãocoletiva. Cabe ao professor durante seu trabalho pedagógicocotidiano, mostrar aos alunos os caminhos a serem trilhados para aconquista da democracia e é dever da escola, que é por excelência oespaço responsável, em proporcionar essa formação. Dessa forma,poderemos assegurar a construção de uma sociedade ideal e dizerque a escola cumpriu o papel de dimensão política da educação.(BIANCO, 2008, p. 18)
Considerando nesse sentido, que “o pedagogo responde pela mediação,
organização, integração e articulação do trabalho pedagógico, garantindo a Gestão
Democrática como princípio” (Martins, s/d, s/p), o Grêmio Estudantil é um espaço
pedagógico de formação e exercício de cidadania, e, que as ações planejadas e
organizadas pelos próprios alunos estão relacionadas à melhoria da vida escolar, do
rendimento escolar, da vida política e econômica na sociedade.
Implementação e Grupo de Trabalho em Rede
Na implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica, buscamos refletir
sobre a atuação do Grêmio Estudantil no Colégio Estadual Wilson Joffre – EFMNP,
resgatando a participação dos alunos na Gestão Democrática da Escola Pública,
envolvendo o corpo discente em discussões sobre representatividade e a atuação
do Grêmio Estudantil na escola, refletindo sobre a participação do mesmo enquanto
Instância Colegiada, orientando e acompanhando a elaboração do Plano de Ação do
Grêmio Estudantil.
Para tanto, utilizamos a pesquisa bibliográfica e documental tendo como fonte
de consultas: livros; teses; dissertações e artigos dos seguintes autores: BIANCO
(2008), CARLOS (2006), MARTINS (2010), PARO (2001), entre outros. Também
tomamos como fundamentação o Projeto Político Pedagógico do Colégio, o Estatuto
do Grêmio Estudantil e Portal Dia a Dia Educação da Secretaria Estadual de
Educação.
Na Produção Didático-pedagógica foram planejadas quatro unidades
didáticas sendo: Unidade I: MOBILIZAÇÃO: Reunião com equipe diretiva e
Conselho Escolar para apresentação das ações previstas nesta Produção Didático-
pedagógica. Apresentação à comunidade escolar na semana pedagógica e
participação na Assembleia de Pais; Unidade II: PREPARAÇÃO: Reunião com a
equipe pedagógica, eleição dos Alunos Representantes de Turma3 e formação do
conselho dos Alunos Representantes de turmas; Unidade III: ELEIÇÃO:
Intermediação junto à comissão eleitoral para organização da eleição do Grêmio
Estudantil, bem como orientação sobre composição das chapas e elaboração do
Plano de Ação; Unidade IV: FORMAÇÃO: Organização de oficinas e grupos de
estudos com a diretoria eleita do Grêmio Estudantil, colaboradores e alunos
representantes de turma e acompanhamento das ações a serem desenvolvidas no
primeiro semestre de 2015.
Das ações previstas não foram realizadas as descritas na unidade 3 da
Produção Didático-pedagógica, relativas à eleição do Grêmio Estudantil, pois a
diretoria foi eleita no final do ano letivo de 2014, com duração do mandato de um
ano.
A reunião com a diretoria do Grêmio Estudantil foi o primeiro contato com os
estudantes e neste momento foi apresentado o Projeto, seus objetivos, as ações
previstas e também discutiu-se sobre as possibilidades de auxílio e orientação no
decorrer da gestão.
A oficina Direitos, Democracia e Participação, bem como a ação relativa a
escolha do Representante de Turma, foi realizada nas quatro turmas de nono ano do
período vespertino, que ficaram sob responsabilidade de orientação e
acompanhamento da professora PDE. Devido ao interesse apresentado pelos
3Os Alunos Representantes de turma são eleitos no início do ano letivo com auxílio do professor pedagogo e professor representante de turma
alunos, notado pela postura de compromisso adotada pela grande maioria o trabalho
foi de caráter gratificante durante o decorrer do seu ano letivo.
Na reunião com a equipe pedagógica, apresentou-se às colegas pedagogas
do período, o material elaborado, entretanto devido ao atropelo do início do ano
letivo, o trabalho não foi realizado conforme a proposta. O material também foi
disponibilizado por e-mail para as demais integrantes da equipe pedagógica do
colégio.
A oficina Plano de Ação contou a participação de alguns integrantes do
Grêmio Estudantil e colaboradores, após as orientações quanto aos elementos e
prioridades do plano de ação, os estudantes colocaram no papel, de forma
organizada, algumas ações que já haviam sido realizadas e outras que seriam
realizadas de acordo com as propostas de campanha.
Nas reuniões para organização do Conselho dos Alunos Representantes de
Turma dos turnos matutino e vespertino, junto com o Grêmio Estudantil, enfatizou-se
o papel dos representantes e a importância da comunicação entre os estudantes e
os seus representantes na resolução de conflitos e busca de melhorias para a
categoria, para que através do debate e interação constante do representante com
os demais estudantes as problemáticas do respectivo grupo pudessem ser
solucionadas com maior eficácia.
Na Assembleia de Pais, houve um pequeno número de participantes, porém
as ações do projeto foram apresentadas aos responsáveis que por sua vez puderam
compreender a importância do incentivo aos filhos quanto a participação nas
instâncias de representatividade escolar.
Na sequência, o trabalho de capacitação com a diretoria do Grêmio Estudantil
e colaboradores ocorreu através dos grupos de estudos. A participação foi parcial,
visto que alguns integrantes do Grêmio Estudantil são alunos do curso de Formação
de Docentes e trabalham ou participam de outros movimentos. Quanto aos
representantes de turma, quando as atividades eram realizadas no período de aula,
ocorria participação, porém quando a atividade foi programada em horário
extraclasse houve decréscimo na presença, devido à distância das residências dos
alunos e dificuldade de comparecimento em horário fora da rotina.
A maior dificuldade encontrada durante a implementação foi a de conciliar as
atividades referentes à formação do Grêmio Estudantil e representantes com as
demais atividades que os estudantes já mantêm em sua rotina. Outra situação ainda
diz respeito à comunicação, que apesar dos vários recursos disponíveis na
atualidade (e-mail, telefone, redes sociais...), nem todos os estudantes incorporam o
hábito de utilizá-los em seus compromissos.
Os estudantes que tiveram a possibilidade de participar das oficinas e grupos
de estudos manifestaram entusiasmo durante as atividades realizadas. Um fato
interessante a ser destacado quando se trata de representatividade estudantil é a
dificuldade de superar o estereótipo do “líder da turma” como aquele aluno
disciplinado, bem comportado e com bom rendimento escolar. Mesmo com a
orientação, os próprios alunos ainda elegem o colega mais diligente, influenciados
pelos professores que sugerem que os representantes sejam indicados e não
eleitos, que muitas vezes sequer se manifesta diante da turma, o que dificulta a
comunicação entre o representante e alunos.
Como atividade de caráter obrigatório na realização do PDE, o Grupo de
Trabalho em Rede (GTR), é um curso em ambiente on-line, cujo objetivo é a
socialização do material elaborado na primeira etapa do programa e dos resultados
obtidos na Implementação, visando, através de troca de informações com demais
profissionais da área, o enriquecimento do trabalho por meio de discussões
fundamentadas em referenciais teóricos e as contribuições por meio de fóruns de
debates para o redimensionamento da prática pedagógica.
Considerações finais Só se participa de forma representativa e eficaz desde que se reconheça a
importância dessa atuação na escola e se oportunize ações que envolvam
efetivamente a participação em todo o processo pedagógico da escola, uma vez que
“As Instâncias Colegiadas na escola pública são espaços de representação da
comunidade escolar ao mesmo tempo em que, também servem de oportunidade
para exercício da cidadania e da democracia, por meio da participação coletiva.”
(MARTINS, s/d, s/p).
Reconhecer a responsabilidade sobre seu papel junto ao colegiado é uma
forma de efetivar essa representatividade.
O ato de participar não se dá facilmente, eles têm de se esforçar, seadaptar, de abrir mão de espaços e de tempos. Eles optam porparticipar e isso envolve perdas e ganhos. Essa é uma oportunidadede escolha, e mais do que isso, de se responsabilizar pelas escolhas.(MARTINS; DAYRELL, 2013, p. 1280).
Representantes de turma e Grêmio Estudantil são as formas que os alunos
podem vivenciar na prática o exercício da democracia participando de um processo
eleitoral, reivindicando seus direitos e contribuindo para desencadear as mudanças
tão esperadas no cenário político atual.
Mais do que ter um Grêmio ativo é preciso que seja efetivamente
representativo e, para isso é muito importante estabelecer canais/meios de
comunicação entre os estudantes, representantes de turma, grêmio, equipe
pedagógica e direção.
O Grêmio é o espaço apropriado para a aprendizagem do por que,para quê, como e com quem na participação social, sendo o local dedesenvolvimento da consciência crítica que permite refletir sobre oserros e acertos nas relações sociais, políticas, educacionais e depoder que se estabelecem dentro das escolas é experimentando ouso da voz e da vez e a respeitar os outros, que se efetiva aparticipação, sendo condição necessária ao processo de democracia.(BIANCO, 2009, p.42).
Após a eleição e a posse da nova diretoria do Grêmio Estudantil é o momento
de colocar em prática as propostas elaboradas, planejando e organizando as
atividades sem perder de vista a representatividade dos diferentes grupos de alunos
na escola.
Para isso os integrantes da diretoria devem estar entrosados com as
diferentes realidades do âmbito escolar e dispostos a dar continuidade a euforia que
estava presente durante a campanha. Neste momento a orientação e o
acompanhamento de um pedagogo ou professor serão fundamentais para que as
propostas não caiam no esquecimento e ocasione a desmobilização do Grêmio.
O diálogo com a direção e equipe pedagógica da escola precisa ser
constante, pois as ações previstas devem estar de acordo com o PPP e Regimento
Escolar e colocadas a apreciação do Conselho Escolar para aprovação.
Em seguida, ao colocar em prática as propostas, torna-se fundamental a
ampla divulgação das mesmas e o constante contato com o Conselho dos
Representantes de Turma, lembrando que todos os alunos fazem parte do Grêmio.
É relevante que a diretoria defina em seu plano de ação quais serão os recursos de
comunicação que manterão durante sua gestão (mural, página em rede social,
jornal, web rádio ou rádio escolar, informativos impressos).
É necessário também levar em consideração que as atividadesadministrativas desempenhadas pelos alunos ajudam na formaçãoeducacional, pois permitem a eles o exercício do compromisso,
quando estabelecem uma proposta a ser executada. Possibilitandoainda o exercício da ética durante a gestão e o exercício daresponsabilidade ao prestar contas de ordens administrativas,pedagógicas e financeiras ao final da gestão. (BIANCO, 2008, p. 44).
A atuação no Grêmio Estudantil proporciona aos alunos o desempenho de
funções diferenciadas garantindo o aprendizado sócio-político, por meio de outros
pontos de vista, a pesquisa em áreas diversas com realidades distintas, o exercício
da iniciativa e suas limitações visando a implicação na realidade das classes, além
do desenvolvimento da capacidade de organização e o respeito à hierarquia.
Diante de todo o percurso até aqui percebe-se e torna-se necessário orientar
e fornecer subsídios teóricos para que a ação do Grêmio Estudantil seja
efetivamente representativa pois “a construção da cidadania na escola não pode ser
vista como uma promessa futura, uma abstração, pois cidadania é conquista, é
construção e exercício permanente” (ARAUJO, 2009,p. 259).
Referências
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