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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
1
Educação Física Escolar: A Superação dos Estereótipos de Gênero na Prática
de Esportes
Autor: Ivete Marina Kurowski1
Orientador: Prof. Dr. Valdomiro de Oliveira2
Resumo
Este artigo origina-se de pesquisa vinculada ao Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE e vem apresentar as contribuições
conseguidas com o desenvolvimento de um projeto de intervenção pedagógica na
escola com o conteúdo Esporte Coletivo. Como a Educação Física é uma disciplina
que trabalha diretamente com o corpo, ela muitas vezes se torna alvo de conflitos.
Alguns desses conflitos são originários de preconceitos e discriminações de gênero,
que são reproduzidos culturalmente através dos tempos. O Projeto de Intervenção
Pedagógica teve como principal objetivo investigar e elaborar estratégias para
auxiliar na desconstrução dos estereótipos de gênero presentes na prática
pedagógica dos Esportes Coletivos Futebol/Futsal. Os resultados mostraram que a
igualdade de gênero ainda é uma utopia, visto que as diferenças entre homens e
mulheres sempre existiram e encontram-se enraizadas em todas as esferas da
sociedade. Conclui-se que o professor de Educação Física deve direcionar melhor a
organização das aulas, não esquecendo que elas devem promover a socialização e
não a segregação e devem assegurar a participação de todos e todas e não a
exclusão por qualquer tipo de diferenças existentes entre os alunos e alunas.
1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná e participante do Programa de
Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná. Atuando no Colégio Estadual São Sebastião no município de Curitiba, Paraná. Especialista em Educação Especial e Licenciado em Educação Física pela UNC – Universidade do Contestado – Mafra/SC. 2 Professor adjunto da Universidade Federal do Paraná – Curitiba – PR. Doutor e Mestre em
Ciências Pedagógicas do Desporto pela UNICAMP – 2002 e 2007. Aperfeiçoamento em Ciências Pedagógicas do Desporto de Formação e Alto Rendimento – Moscou – Rússia – 2010. Graduado em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (1996). Especialista em Treinamento Desportivo pela UNOPAR – Londrina (1997). Atuou anteriormente como professor nos cursos de licenciatura e bacharelado da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, UEM, UEL e FAFIPA. Tese de Doutorado e Mestrado em Pedagogia do ensino-treinamento do esporte. Foi professor de Educação Física em escola pública e privada. Atleta de basquetebol de alto nível no país. Atua em cursos de Pedagogia do Esporte; iniciação esportiva na escola e no clube e treinamento desportivo na infância, na adolescência e no alto rendimento. Possui livros na área e publicações de artigos científicos no Brasil e no exterior.
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Palavras-chave: Educação Física- esporte- preconceito- gênero
1.INTRODUÇÃO
Muitas vezes a prática diária do professor de Educação Física, se depara com
certas fragilidades no processo de ensino-aprendizagem. Como exemplo desta
fragilidade podemos citar o trabalho com o Conteúdo Esportes Coletivos
Futebol/Futsal. Este conteúdo não possui um trato pedagógico que envolva todos os
alunos e muitas vezes as meninas acabam ficando separadas dos meninos na hora
dos jogos ou, acabam até mesmo, excluídas das aulas.
Percebendo tal fragilidade no processo de ensino-aprendizagem do Conteúdo
Esportes Coletivos, mais especificamente nas modalidades de Futebol/Futsal, surge
o projeto de intervenção pedagógica intitulado: Educação Física Escolar: A
Superação dos Estereótipos de Gênero na Prática de Esportes.
Este trabalho visa mostrar os resultados desse estudo, bem como analisar e
discutir os dados levantados na pesquisa-ação.
2.REVISÃO DE LITERATURA
Conflitos nas aulas de Educação Física Escolar
É comum dentro da Disciplina de Educação Física, em aulas com o conteúdo
Esporte, dividir meninas para um lado e meninos para o outro. Talvez, num primeiro
momento, pareça que isso seja apenas uma forma de organização, mas esta
distribuição de alunos e alunas pode ser considerada uma forma de discriminação.
Para Abreu (1990), tanto na prática tecnicista quanto na prática humanista do
profissional de Educação Física, existem discriminações. Isso acontece muitas
vezes de forma disfarçada, como a simples separação das turmas em grupos
feminino e masculino. Segundo ela:
Convém observar que quando falo em discriminação não é só em relação às meninas; mas também de uma atitude discriminatória a ambos os sexos, uma vez que se espera do menino atitudes pré estabelecidas. [...] Tanto meninos quanto as meninas irão preferir esta divisão, pois já estão impregnados de valores discriminatórios advindos de condicionantes sociais (ABREU, 1990, p. 13-14).
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Para muitos professores(as) a principal justificativa para separar os meninos
das meninas durante as aulas de Educação Física seria o propósito do rendimento.
“A razão principal desta constatação é que há uniformidade de interesses,
habilidades e valências físicas [na separação entre meninos e meninas]” (Louzada,
2006, p. 54-55). Portanto promover a divisão de uma turma em grupos de meninos
e meninas apenas visando uma suposta equivalência motora pode ser uma
justificativa pouco coerente, pois esta suposta homogeneidade física, desconsidera
elementos importantes como idade, força e habilidade.
No trabalho realizado com turmas mistas, apesar de que várias escolas e
professores/as venham trabalhando em regime de coeducação, a Educação Física
parece ser a área onde as resistências ao trabalho integrado persistem, ou melhor,
onde as resistências provavelmente se renovam, a partir de outras argumentações
ou de novas teorizações. Pereira (2004), aponta para o domínio dos espaços
esportivos pelos meninos e também para as agressões verbais dos meninos contra
as meninas, dificultando o trabalho misto.
Devido a uma ideologia machista que impera no mundo esportivo
masculinizado torna-se difícil implementar ações com turmas mistas nas aulas de
Educação Física, principalmente quando o conteúdo é o esporte: “Os meninos não
querem jogar com as meninas nem com os menos habilidosos (Pereira, 2004).
Romero (1992), sugere que o (a) professor (a) de Educação Física deve preocupar-
se em amenizar as questões conflituosas acerca de comportamentos sexuais
culturalmente estereotipados.
Pelo fato de os meninos serem mais desenvolvidos nos aspectos físico-motor,
durante as aulas de Educação Física eles passam a ter mais oportunidades e
geralmente recebem mais atenção por parte dos professores. Por isso, quando as
aulas se referem a conteúdos esportivos, muitas vezes elas tendem a favorecer os
meninos. “Quando a aula é jogo, geralmente os meninos vão para o futebol, e as
meninas, para o queimado” (Romero, 1992).
Com sua pesquisa de dissertação de mestrado, Altman (1998) observou que
em uma escola de turmas mistas, os meninos iam para o futebol, e as meninas, para
o voleibol. Quando meninas jogavam futebol, alguns meninos na arquibancada
chamavam-nas de “Maria-homem”. A autora também verificou que a professora
alterava as regras para aumentar a participação feminina no jogo. Essa alteração
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quebrava a dinâmica do jogo, e a responsabilidade era imputada às meninas, pois
a professora havia mudado as regras por causa delas.
Muitas vezes a simples separação dos meninos das meninas durante as
aulas de Educação Física sobre tudo no trabalho com o conteúdo esportes coletivos,
ao invés de acabar, pode acentuar ainda mais os conflitos entre os gêneros, gerando
um clima de competição e até mesmo de insatisfação entre os alunos(as). Segundo
DORNELLES (2006), essa separação pode ser um ‘ponto’ de conflito entre os
gêneros, o corpo e tantos outros saberes que constituem a Educação Física Escolar.
Mas afinal, o que fazer para acabar ou ao menos amenizar com as situações
de conflito provenientes de questões de gênero, que surgem durante as aulas de
Educação Física, sejam elas mistas ou separadas? Verbena (2001) sugere ser
necessária a atuação docente no sentido de: romper com a ideologia sexista que
reina na sociedade, desenvolvendo o respeito entre meninos e meninas e
combatendo a discriminação e os preconceitos, principalmente em relação às
meninas.
E isso será possível se a ação pedagógica da Educação Física considerar
que os conflitos de gênero devem ser superados, pois segundo Louro (1997) é
necessário desconstruir essa dominação sexual e propor uma relação onde homens
e mulheres sejam tratados igualmente, sendo respeitados as suas diferenças, porém
essas diferenças não podem ser tratadas como fator determinante para a
subordinação de um sexo ao outro.
As Relações de Gênero nas aulas de Educação Física
A presença das mulheres no esporte é conquista de um longo processo
histórico, e é algo ainda mais complexo quando se pensa no futebol. Se sua prática
é hoje mais aceita, talvez seja vítima de um outro tipo de preconceito, do que aquele
comumente relacionado a sua suposta menor habilidade técnica. Refiro-me aqui à
discussão sobre sua feminilidade, por vezes posta em prova nas atividades
esportivas, pois para muitos homens e até mesmo para algumas mulheres,
qualidades como ser macho, forte, vigoroso são naturalmente explicitadas e
confirmadas pelo esporte.
Rial (1998) mostra como o rúgbi e o judô são práticas que aceleram, do ponto
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de vista de gênero, a confirmação de características tidas como eminentemente
masculinas, como a resistência à dor e o reconhecimento da virilidade pelos pares
homens e pelas mulheres. Mas afinal, existe o Esporte ideal para o homem e para a
mulher? Para Faria Junior (apud CUNHA JUNIOR, 1996a, p. 1), “a distinção entre
os termos masculino e feminino é fundamental para a Educação Física já que muitas
divisões e diferenças entre homens e mulheres, meninos e meninas são comumente
consideradas como resultado do dimorfismo sexual”.
Ainda sobre a distinção entre gêneros, Faria Junior apud Cunha
Junior, acrescenta:
A conscientização de que muitas diferenças observadas devem-se a uma construção social de gênero e não a diferenças de natureza biológica, permitirá uma compreensão mais criticamente adequada das desigualdades no desporto e na Educação Física, levando o debate para a questão das estruturas de poder na sociedade. Se os corpos assumem a organização social, a política, as normas religiosas e culturais, também é
por seu intermédio que se expressam as estruturas sociais. (FARIA JUNIOR apud CUNHA JUNIOR,1996a, p. 2).
Deste modo, há uma estreita e contínua imbricação entre o social e o
biológico, um jeito de ser masculino e um jeito de ser feminino, com atitudes e
movimentos corporais socialmente entendidos como naturais de cada sexo
(CONNEL, 1990 apud SOUSA; ALTMANN, 1999, p.54).
Segundo Sousa e Altman (1999, p.57), a sociedade buscou manter a
simbologia da mulher como um ser dotado de fragilidade e emoções, e do homem
como força e razão, por meio das normas, dos objetos, do espaço físico e das
técnicas do corpo e dos conteúdos de ensino, fossem eles a ginástica, os jogos
e/ou, sobretudo os esportes. Para Verbena (2001), existe uma distinção entre o que
se espera de meninos e de meninas. Delas espera-se coordenação motora fina,
reforçando as características de harmonia e delicadeza. Deles, o incentivo à prática
de atividades físicas que desenvolvam a coordenação ampla, num ambiente em que
e não é permitido chorar, numa forma de treinamento para a vida no trabalho.
Sobre a problemática específica da categoria gênero, Cunha Junior (1996),
revelou que os(as) alunos(as) expressam conceitos/opiniões estereotipados e
preconceituosos, tais como: "Menino não chora!”; “Futebol é coisa para homem!”; “O
esporte de menina é o queimado!”; “Primeiro as damas, depois os cavalheiros.";
"Mulher não pode brigar!". Além disso, são comuns atitudes discriminatórias, como a
frequente recusa dos meninos em realizar atividades físicas coletivas com as
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meninas e vice versa: "Eu não fico em grupo com meninas."; "Não acredito que vou
ficar no grupo delas!".
Em relação às características comportamentais, as meninas eram vistas
como grupo frágil, submisso e desprovido de qualidade nas habilidades motoras, e
os meninos como fortes, hábeis, resistentes e valentes. Sousa e Altman (1999)
colocam que como a ideia de gênero está fundada nas diferenças biológicas entre
os sexos, ela aponta para o caráter implicitamente relacional do feminino e do
masculino. Deste modo, gênero é uma categoria relacional porque leva em conta o
outro sexo, em presença ou ausência. Além disso, relaciona-se com outras
categorias,
Pois não somos vistos(as) de acordo apenas com nosso sexo ou com o que a cultura fez dele, mas de uma maneira muito mais ampla: somos classificados(as) de acordo com nossa idade, raça, etnia, classe social, altura e peso corporal, habilidades motoras, dentre muitas outras. Isso ocorre nos diversos espaços sociais, incluindo a escola e as aulas de Educação Física, sejam ministradas para turmas do mesmo sexo ou não. (SOUSA; ALTMANN, 1999, p.55).
Elaine Romero (1995), acredita ser necessária uma diminuição das
desigualdades entre os sexos, sendo importante uma reflexão sobre a Educação
Física como um meio de desenvolvimento integral do aluno. Para Daolio (1994) o
problema é que os professores de Educação Física sentem dificuldade em propor
uma prática que propicie as mesmas oportunidades a todos os alunos, meninas e
meninos, e que respeite as diferenças e interesses de cada um. Segundo Daolio “os
professores de educação física sentem dificuldades em se libertar de determinados
preconceitos e propor uma prática que propicie as mesmas oportunidades a todos
os alunos, meninos e meninas, respeitando as diferenças e os interesses de cada
um” (DAOLIO, 2003, p.115). Essa dificuldade é devida a concepção biológica tanto
sobre o corpo quanto sobre a própria área que atuam de forma implícita na sua ação
profissional, por se tratar de representações sociais que dão suporte e orientam sua
prática, muitas vezes até inconscientes. A esse respeito Cardoso (1994) comenta
que:
“A ação do professor de Educação Física, por mais progressista que seja ainda não conseguiu se libertar da dicotomia criada culturalmente entre o masculino e o feminino, prosseguindo a atual ação pedagógica a limiar o pleno desenvolvimento motor dos indivíduos, norteada pelos atributos aceitos socialmente para cada sexo” (CARDOSO, 1994, p.267).
Abreu (1990) constata que a partir do momento em que as meninas começam
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a demonstrar boas habilidades na execução de uma determinada tarefa, a rejeição
por parte dos meninos em realizar as atividades conjuntamente, começa a diminuir,
tornando o traço sexual quase que irrelevante. Porém, observa que o grupo de
meninas que consegue este destaque é pequeno, já que condicionantes
socioculturais fazem com que elas não possuam a mesma história de experiências
motoras que os meninos.
Cunha Junior (1996) aponta para tentativa de colaborar com a construção de
uma pedagogia e de uma escola que não produza e/ou reproduza as desigualdades
baseadas no critério sexual, enfim, na construção de uma pedagogia/escola não
sexista. Como primeiro passo para a realização de tal objetivo devemos, enquanto
educadores(as), problematizar nossas práticas diárias, nossa linguagem, nossas
estratégias escolares e nossos referenciais teóricos. E para que não se reproduza
as desigualdades, precisamos conhecer de que maneira elas se configuram em
nossa sociedade.
Com o aumento dos estudos sobre sexo e sexualidade, “gênero” tornou-se
uma palavra particularmente útil, pois oferece um meio de distinguir a prática sexual
dos papéis sexuais atribuídos às mulheres e aos homens (Scott, 1995, p. 75). Na
definição de Scott (1995), gênero é um elemento constitutivo das relações sociais
fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos e também um modo
primordial de dar significado às relações de poder e para ela, essas duas
proposições estão intrinsecamente relacionadas.
Corsino e Auad também contribuem à respeito do gênero ser produzido
socialmente e a partir das relações de poder.
Antes mesmo de seu nascimento, os corpos de crianças são produzidos através dos discursos que se fazem sobre eles, e a categoria gênero se insere nesse movimento, que não é fixo e imutável. Assim, um corpo masculino ou um corpo feminino, e tal polaridade é também uma construção, são resultantes de um complexo sistema de relações de poder, das quais emergem meninas, meninos, homens e mulheres. (CORSINO; AUAD, 2012, p.91)
Portanto não podemos considerar apenas os dados biológicos, como os
únicos determinantes da condição imposta aos meninos e as meninas em relação ao
seu desempenho na prática esportiva, pois já que "os corpos de alunas e alunos
são constituídos e apresentam profundas marcas estabelecidas e produzidas pelas
relações de gênero vigentes em nossa sociedade" (CORSINO; AUAD, 2012), muitos
gestos, formas de agir , gostos e habilidades, são adquiridos através dos discursos
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estabelecidos por tais relações e desta maneira , impressões e estereótipos de
preconceito contra meninos e meninas devem ser repensados.
Esporte Escolar
O esporte é tradicionalmente uma atividade considerada positiva na educação
de crianças e jovens e sua presença nos estabelecimentos formais de ensino, assim
como em projetos que procuram a inclusão social, é bastante conhecida e pouco
questionada. Solidariedade, disciplina e aprendizado com as derrotas são valores
sempre lembrados para destacar a importância das práticas esportivas na formação
de crianças e jovens. Um dos espaços privilegiados de realização do esporte são as
aulas de Educação Física.
Parte dos programas e currículos escolares formais, as aulas dessa disciplina
encontram no esporte, via de regra, sua realização mais frequente, mesmo que
sejam elas, muitas vezes, uma caricatura do esporte formal, dadas as condições
materiais precárias de muitas escolas. Um outro modelo da presença do esporte nos
ambientes escolares é o Esporte Escolar, oferecido a crianças e jovens por meio de
aprendizagem e treinamento sistemáticos de uma ou mais modalidades esportivas,
inclusive com a pretensão de desempenho em competições.
Trata-se de projeto em correspondência e/ou concorrência com a Educação
Física Escolar, conforme as dimensões que a disciplina encontra na escola e de
acordo com a carga simbólica que o esporte carrega – frequentemente ele é, na
cultura escolar, considerado mais organizado e atraente, destinado aos “melhores” e
“mais talentosos” alunos (Massami; Torre; Vaz, 2003).
Considerado elemento educador e civilizador do corpo nos ambientes
educacionais, o esporte tem na escola importância destacada porque se apresenta,
como poucos outros fenômenos, como definidor de sucesso, de superação, de
beleza e, segundo alguns, como Welsch (2001), até mesmo como expressão de
arte. Contudo a exacerbação e a ênfase na competição, na técnica, no desempenho
máximo e nas comparações absolutas e objetivas faz do Esporte na escola uma
prática potencialmente excludente (PARANÁ, 2008.p 63), pois desta maneira só os
melhores é que conseguem vivenciá-lo plenamente apropriando-se de seus
benefícios.
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Portanto, um dos grandes desafios da Educação Física é superar tal
concepção de que o Esporte Escolar não é para todos. Através do
redimensionamento do trato com o conteúdo esporte na escola espera-se oferecer
aos estudantes múltiplas experiências e o desenvolvimento de uma atitude crítica
sobre o mesmo.
Segundo As Diretrizes Curriculares da Educação Básica/Educação Física, o
ensino do esporte deve proporcionar ao aluno:
Uma leitura de sua complexidade social, histórica e política. Busca-se um entendimento crítico das manifestações esportivas, as quais devem ser tratadas de forma ampla, isto é, desde sua condição técnica, tática, seus elementos básicos, até da competição esportiva, a expressão social e histórica e seu significado cultural como fenômeno de massa. (PARANÁ, 2008, p.64).
Assim sendo, o esporte nas aulas de Educação Física deve contemplar o
aprendizado de técnicas, táticas e regras básicas das modalidades esportivas, mas
não deve se limitar a isso. O plano de trabalho docente do professor de Educação
Física deve apresentar também estratégias que possibilitem a análise crítica das
inúmeras modalidades esportivas e também do fenômeno esportivo, que é bastante
presente em nossa sociedade.
As aulas de Educação Física, devem desta maneira, privilegiar o esporte da
escola e não somente o esporte na escola, pressupondo-se que as aulas de
Educação Física sejam espaços de produção de outra cultura esportiva, de
ressignificação daquilo que Bracht (2005) denominou de "esporte moderno", isto é, a
expressão hegemônica atual do esporte competitivo de alto rendimento,
espetacularizado e profissionalizado.
O Esporte na Escola para meninos e meninas
O esporte começou a se profissionalizar no final da década de 1930 e, não
por acaso passou a ser um dos principais conteúdos trabalhados na Educação
Física. Com o intuito de promover políticas nacionalistas, houve um incentivo às
práticas desportivas como a criação de grandes centros esportivos, a importação de
especialistas que dominavam as técnicas de algumas modalidades esportivas
(PARANA, 2008).
A introdução do esporte moderno como conteúdo da Educação Física escolar
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no Brasil e com o predomínio da prática pelos homens, a mulher manteve-se
“perdedora” porque era um corpo frágil diante do homem. Todavia, era por natureza”
a vencedora nas danças e nas artes (SOUSA; ALTMANN, 1998).
Práticas esportivas privilegiam discussões e reflexões sobre as categorias
corpo, gênero e sexualidade, pois sua história sempre esteve vinculada a
determinismos biológicos e de gênero, estabelecendo práticas corporais peculiares a
homens ou a mulheres, a partir de suas características físicas, afetivas e cognitivas,
como também baseadas em expectativas de comportamento.
Isto acaba por reafirmar os papéis de gênero, pois, como nos esclarece Silva
(2008) (apud ARAUJO; CALSA, 2011), “estes papéis representam os
comportamentos aprendidos numa determinada sociedade, que fazem com que os
seus membros percepcionem certas atividades como pertencentes a homens ou a
mulheres, valorizando-os de forma diferente”.
As questões acerca de gêneros que ocorrem nas aulas de Educação
Física Escolar, ainda hoje preocupam os professores, visto que embora nas outras
disciplinas os alunos formem um grupo homogêneo, nas aulas de Educação Física,
mesmo com o passar do tempo, as meninas ainda são vistas pelos meninos, muitas
vezes, com falta de habilidade motora, lentidão ou descoordenação ao realizar
exercícios físicos (FORTUNA, 2008).
Os professores buscam minimizar esses conflitos utilizando-se das
mais variadas atividades e dentre essas atividades estão os desportos, onde
infelizmente, na maioria das vezes, ao invés de minimizar esse conflito, acabam por
exacerbá-lo, explorando e evidenciando as qualidades físicas, fazendo com que os
menos habilidosos e algumas meninas, sintam-se excluídos (FORTUNA, 2008).
A exacerbação e a ênfase na competição, na técnica, no desempenho
máximo e nas comparações absolutas e objetivas faz do esporte na escola uma
prática potencialmente excludente, pois, desta maneira, só os fortes, hábeis e ágeis
conseguem viver o lúdico e sentir prazer na vivência e no aprendizado desse
conteúdo (PARANA, 2008).
Na contra mão desta ideologia, muitos profissionais entendendo a
influência e a magnitude do esporte no sistema escolar, promove não mais o esporte
NA escola, mas o esporte DA escola (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Considerando, portanto, os determinantes histórico-sociais responsáveis pela
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constituição do esporte ao longo dos anos e possibilitando a recriação dessa prática
corporal (PARANA, 2009).
Para o Coletivo de Autores (1992), quando se apresenta o programa de
esporte na escola, a exigência é de “desmistificá-lo” através da oferta de
conhecimentos que permitam aos alunos e alunas critica-lo dentro de um
determinado contexto sócio-econômico-político-cultural. Esse conhecimento deve
promover também, a compreensão de que a prática esportiva deve ter o significado
de valores e normas que assegurem o direito a pratica do esporte.
Nesse sentido, o (a) professor (a) de Educação Física ao se apropriar de uma
abordagem histórico crítica, possibilita a reflexão e a dedetização do esporte. O seu
ensino deve propiciar ao (a) aluno (a) uma leitura de sua complexidade social,
histórica e política, contextualizando assim, a competitividade, o individualismo, o
esporte profissional, as lesões, os anabolizantes e os preconceitos acerca das
construções sócio históricas (COLETIVO DE AUTORES, 1992; PARANÁ, 2008).
Outro ponto que se deve levar em consideração, são as formas de expressão
corporal dos (das) alunos (as) que refletem os condicionantes impostos pelas
relações de poder com as classes dominantes no âmbito de sua vida particular, de
seu trabalho e de seu lazer e que estas questões possam contribuir para uma
reflexão no agir com criticidade diante de sua realidade (COLETIVO DE AUTORES,
1992).
Sissi Pereira (2004), ainda sugere que, como a motivação é um fator
importante no processo ensino-aprendizagem, os professores podem aproveitar a
tendência de meninos e meninas de fazerem atividades separadas por sexo para
desenvolverem suas aulas, ora mistas, ora separadas. Para a autora, a separação
entre meninos e meninas se origina na sociedade e é perpetuada pela escola. Mas
será que separar meninos e meninas na prática esportiva escolar é o melhor a
fazer?
Afinal qual é a melhor forma de trabalho na Educação Física, turmas mistas
ou separadas por sexo? Helena Altman (1998), admite que o ensino de Educação
Física para turmas mistas apresenta vantagens e desvantagens. Após estudos, ela
concluiu que as formas de organização dos alunos por sexo na Educação Física
podem variar de acordo com as circunstâncias e atividades realizadas. Admite ainda
a possibilidade de variar as formas de distribuição dos alunos por sexo. Afirma
12
também, serem bem aceitas tanto as turmas mistas quanto as divididas
homogeneamente.
Sobre as aulas mistas, as autoras, Paula Gomes (2000), Maria do Carmo
Saraiva (2005) na área da Educação Física e Daniela Auad (2004), da Educação,
trazem uma importante contribuição. Apesar de serem consideradas sinônimos,
aulas mistas e aulas em regime de coeducação apresentam significados bem
distintos, pois de acordo com as concepções levantadas por essas autoras, as aulas
mistas envolveriam apenas questões de organização e distribuição de meninos e
meninas de forma conjunta no espaço escolar, isto é, apenas a mistura de meninos
e meninas.
Porém o ideal de coeducação visa problematizar as relações de gênero
promovendo uma compreensão da construção cultural das diferentes posições de
poder ocupadas pelo feminino em relação ao masculino e vice-versa na nossa
sociedade, tentando reverter ou minimizar algum tipo de hierarquia entre esses
polos. Considerando essa diferenciação de termos percebe-se que a escola mista
é essencial para o trabalho em regime de coeducação, afinal é necessário o
agrupamento de meninos e meninas; entretanto, nem todo trabalho misto segue um
viés coeducativo.
De acordo com o apresentado cabe ao(à) professor(a) equalizar com a
proposta da coeducação, as relações de poder entre meninos e meninas em aulas
mistas de Educação Física. Também oportunizar atividades com grau de dificuldades
que atenda as diferenças de habilidades entre estudantes juntos ou separados por
sexo, em favor do processo ensino aprendizagem. Ao professor(a) também cabe a
função de promover a reflexão acerca dos conflitos entre os sexos que ocorrem
durante suas aulas para motivar uma mudança de comportamento dentro da escola
e na vida cotidiana dos(as) seus (suas) alunos(as).
O Futebol e o Futsal na Escola
Sabe-se que o futebol e o futsal são esportes muito praticados em nosso país.
De execução motora simples e regras fáceis, crianças, jovens e adultos praticam
estes esportes em momentos de lazer ou de maneira profissional. Por serem
esportes tão apreciados pelo povo brasileiro é comum a cada dia aparecerem mais
13
jovens querendo ser um jogador profissional, sendo cada vez mais precoce o início
desses no esporte de rendimento através de clubes e escolinhas. Segundo
O futebol profissional é sem dúvida um mercado muito atrativo. Ser ídolo, jogar na Europa e vestir a camisa de sua seleção, é sonho de qualquer garoto que pratica esse esporte. Segundo Valentin e Coelho1, seja pela competição racionalizada ou impregnada pelo sentimento lúdico, utilizado pelo Estado ou até atuando na coesão social, o futebol é um esporte que desempenha um papel central na nossa cultura. (ASSIS, 2013).
As aulas de Educação Física oportunizam a pratica de diversos esportes
coletivos, e o futebol é um deles. Mas muitos professores apenas reproduzem o que
é apresentado pela mídia, tornando sua aula, uma espécie de “escolinha” em que,
promover o alcance dos objetivos do esporte de alto desempenho e resultados é o
principal objetivo. Isso muitas vezes torna-se um processo excludente, onde
meninas são excluídas por não terem oportunidade perante os meninos, os garotos
menos habilidosos são deixados de lado, atitudes essas inadequadas e
inapropriadas para ambiente escolar.
O futebol ensinado de forma competitiva, considerando apenas o
rendimento, está muito longe dos objetivos da disciplina de Educação Física e da
expectativa da maioria dos alunos. Nesse sentido, o ensino do futebol na escola,
assim como o de qualquer outro esporte, deve ser guiado por um sistema estrutural
que promova ao aluno o aprendizado do que lhe é oferecido. Não apenas a prática
por si só, sem uma relação com a teoria, mas requer uma pedagogia que seja
sistematizada com os seus métodos, objetivos, e formas de ensino objetivando que
o esporte seja bem trabalhado em seu processo educacional.
Segundo João Batista Freire (2003), o futebol ensinado na escola regular ou
na escola específica, deve contribuir para que a pessoa que o aprenda usufrua dele
na sua vida cotidiana. Dessa forma, no ambiente escolar, a pedagogia do esporte se
volta não para a formação de atletas de performance, mas para que o futebol seja
vivenciado e trabalhado de forma que todos possam ter acesso às habilidades e
gestos motores de acordo com o seu desenvolvimento biológico, psicológico e social
dentre outros conhecimentos, por exemplo, os conteúdos atitudinais e conceituais.
Nas escolas um dos esportes mais desenvolvidos é o futsal, sendo
praticado como alternativa do futebol. Ele representa grande parte da prática
esportiva nas escolas do Brasil. Este esporte não deixa de ser uma forma adaptada
do futebol, já que suas regras e a execução dos fundamentos são muito similares. O
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futebol assim como o futsal na escola deve ter uma formação básica, desenvolvendo
as habilidades físico-mentais: consciência corporal, coordenação, flexibilidade, ritmo,
agilidade, equilíbrio, percepção espaço-temporal em uma atmosfera de
descontração, dinamismo e ludicidade. (SILVA,2008).
Para Scaglia, o ensinar no futebol, não é uma simples transmissão de
conhecimento ou imitações de gestos, onde o aluno seja apenas um receptor
passivo, acrítico, inocente e indefeso de seus fundamentos técnicos. Ensinar futebol
é uma prática pedagógica, desenvolvida dentro de um processo de ensino-
aprendizagem, que leve em conta o sujeito aluno, criando possibilidades para
construir esse conhecimento, inserindo e fazendo interagir o que o aluno já sabe,
com o novo, ampliando-se assim, sua bagagem cultural e motora.
Assim como João Batista Freire, acredito que qualquer pessoa pode aprender
a jogar futebol, para tanto é necessário o desenvolvimento de algumas habilidades
motoras. As habilidades são capacidades próprias do organismo para dar base às
ações humanas, como a resistência, a velocidade de movimentação, a agilidade e a
flexibilidade. Essas habilidades são inespecíficas para o futebol, porque
correspondem às habilidades gerais para a prática de qualquer esporte.
Já a combinação dessas habilidades gerais com habilidades específicas do
futebol como: Finalização, Passe, Controle de Bola, Condução, Desarme,
Lançamento, Cruzamento, Cabeceio e no caso dos goleiros, Defesa e Saltos é que
vai resultar no sucesso do aprendizado do esporte mais amado do Brasil.
3. METODOLOGIA
3.1. O contexto da pesquisa
Buscando investigar e analisar estratégias que possibilitem criar contribuições
para auxiliar na desconstrução dos estereótipos de preconceito de gênero presentes
na prática pedagógica dos Esportes Coletivos Futebol/Futsal, o presente estudo
contou com a aplicação de um projeto de intervenção pedagógica na escola,
intitulado “Educação Física Escolar: A Superação dos Estereótipos de Gênero na
Prática de Esportes”.
15
3.2. Local e sujeitos da pesquisa
O local de realização da pesquisa foi o Colégio Estadual São Sebastião –
Ensino Fundamental e Médio – Cidade de Curitiba, Paraná. O estudo contou com a
colaboração da direção e da equipe pedagógica do colégio e teve como público-
alvo, uma turma de 18 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do período da
manhã.
3.3. Procedimentos
O Projeto foi elaborado durante o primeiro semestre de 2014, a partir dele, no
segundo semestre do corrente ano, foi criado um Caderno Pedagógico. Ambos,
requisitos do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, foram
disponibilizados no segundo semestre de 2015 aos professores da Rede Estadual
de Ensino do Paraná participantes do Grupo de Trabalho em Rede – GTR
A pesquisa foi conduzida dentro das orientações metodológicas da “pesquisa-
ação”, face à estreita associação com uma ação ou com a resolução de um
problema. Segundo Thiollent (2003), pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social
com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma
ação ou com a resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e
participantes representativos do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou
participativo.
O estudo compreendeu sete (7) etapas, sendo elas: 1) Apresentação do
estudo e proposta de intervenção aos professores, direção e equipe pedagógica da
escola. Ocorreu na semana pedagógica (período que antecedeu o início das
aulas/2015); 2) Apresentação da proposta de trabalho ao público–alvo (1 turma do
9ºano do Ens. Fund.); 3) Aplicação de um questionário prévio para investigar o
conhecimento e julgamento de ações teórico-práticas sobre as relações de gênero e
sobre os esportes coletivos: Futebol/Futsal, dos alunos nas aulas de Educação
Física; 4) 5 encontros, perfazendo um total de 15 horas/aula, com o
desenvolvimento de atividades teóricas, buscando aprofundar o estudo sobre as
relações de gênero na sociedade e nas aulas de Educação Física; 5) 6 encontros,
perfazendo um total de 18 horas/aula, com a realização de atividades práticas (jogos
cooperativos e jogos modificados de futebol/futsal), procurando aproximar meninos e
meninas nas práticas esportivas, sob a perspectiva de coeducação. 6) Aplicação de
16
um questionário posterior visando verificar o novo conhecimento e julgamento de
ações teórico-práticas sobre as relações de gênero e sobre os esportes coletivos:
futebol/futsal, dos alunos e alunas nas aulas de Educação Física Escolar; 7)
Mensuração e análise dos resultados.
3.4.Instrumento de medida
Os instrumentos de coleta e análise de dados foram: Questionários semi-
estruturados, aplicados aos participantes de forma direta, contendo 10 perguntas
abertas (APÊNDICE 1) relacionadas aos aspectos psicossociais, com o intuito de
levantar informações prévias e posteriores ao estudo, visando verificar o
conhecimento e julgamento de ações teórico-práticas sobre as relações de gênero e
sobre os esportes coletivos: futebol/futsal, dos alunos e alunas nas aulas de
Educação Física Escolar.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Visando organizar a descrição, análise e discussão dos resultados da
pesquisa, optou-se por analisar os dados de forma mista, ou seja, qualitativa e
quantitativamente, seguidos de discussão, para uma melhor compreensão. Na
primeira parte apresentam-se os dados referentes ao questionário anterior a
aplicação do projeto e na segunda parte os dados coletados após a aplicação do
projeto.
Os dados coletados foram apresentados sob a forma de sentenças, onde se
reproduziu na íntegra a fala dos pesquisados, em alguns casos foram tabulados em
quadros e gráficos para melhor visualização e, posteriormente, os dados foram
analisados coletivamente.
Para a apresentação e discussão dos dados, foram apresentadas as
questões temáticas em forma de categorias a saber: a) Conhecimento e julgamento
de ações teórico-práticas sobre relações de gênero na sociedade; b) Questões
específicas sobre as relações de gênero nas aulas Educação Física, com o
conteúdo Esporte Coletivo. A respeito da descrição das sentenças, entenda-se que
“A” se refere a aluno e neste trabalho, a sequência vai de A1 até A18,
correspondendo a amostra da pesquisa que soma o total de 18 alunos.
17
4.1. Conhecimento e julgamento de ações teórico-práticas sobre as relações
de gênero na sociedade
Nessa categoria, os alunos postularam suas opiniões sobre questões de
gênero na sociedade em geral.
4.1.1. Existência de atividades exclusivamente masculinas e femininas em
nossa sociedade –
1ª Parte (anterior a aplicação do projeto).
Perfil das respostas a respeito de existirem atividades exclusivamente
masculinas e femininas em nossa sociedade.
A1: “Sim. Porque nem sempre as atividades mudam.” A 2: “Sim, existe para os homens, como: basquete e aquele que jogam com um taco correndo no gelo atrás da fichinha mas hoje em dia, cada um escolhe o seu esporte.” A 3:” Sim, futebol hoje é só para “homens” existe um preconceito.” A 4: “Sim. MULHER: Boneca, vôlei, casinha. HOMEM Carrinho, futebol, soltar raia.” A 5: “Sim, futebol é mais para homem.” A 6: “Atividade masculina devia ser trabalhar firme e as femininas trabalhar em casa serviço fraco.” A 7: “Não, pois hoje as mulheres também podem fazer o que os homens fazem.” A 8: “Não pois todas atividades podem ser de mulher ou de homem.” A 9: “Acho que sim. Acho que cada atividade tem que seguir um jeito diferente, como por exemplo para o homem tem que ser mais rígido, e para mulher mais “mansinho”, mas mulher também tem capacidade de fazer o que o homem faz.” A 10: “Sim, tem algumas atividades que são só para mulher, e umas que são só para os homens.” A 11: “Sim. Pois as atividades feministas são mais vôlei e masculina futebol.” A 12: ‘Não por que tanto masculina ou femininas gostam dos mesmos físicos.” A 13: “Sim o futsal.” A 14: “Sim. Porque tem mulheres que jogam futebol e homem que limpa a casa.” Sujeito 15: “Sim. Tem algumas atividades que o homem e a mulher separam, mas nem sempre pois as mulheres tão evoluindo e fazendo atividades masculinas e homens femininas.” A 16: “Sim muitos dizem é pra homem e vôlei é para mulher pois os meninos jogam melhor que algumas meninas.” A 17: “Não que seja exclusivamente para homens ou exclusivamente para as mulheres, mas existem profissões quem mantêm um “padrão” de gêneros.” A 18:” Não, porém tem atividades que se os ambos fizerem junto, a mulher pode se machucar por conta de ser mais frágil.”
2ª Parte (posterior a aplicação do projeto).
Perfil das respostas a respeito de existirem atividades exclusivamente
masculinas e femininas em nossa sociedade.
A 1: “Sim.” A 2: “Não, todas as atividades podem ser praticadas pelos dois gêneros.” A 3: “Não, igualdade é o essencial para os dois sexos!” A 4: “Em alguns pontos sim, mas há certas coisas que os dois gostam de fazer.” A 5: “Sim. Tem preconceito em muitas atividades.” A 6: “As atividades masculinas são os trabalhos mais forçados ao emprego fixo. O trabalho feminino seria arrumar a casa.” A 7: “Sim, como diarista (F) e piloto de corrida (M).” A 8: “Não as atividades podem ser dividida entre os dois sexos masculino feminino. Somente
18
dirigir carro que é para os homens.” A 9: “Não. Todos conseguem fazer atividades masculinas (no caso as meninas). E hoje, acho que existe uma dificuldade p/ os meninos fazerem coisas de menina, como ballet.” A 10: “Tem atividades que sim, mas isso tem que mudar, homem e mulher tem que fazer as mesmas atividades.” A 11: “Olha no período do colégio, acho que a gente aprendeu a se “se misturar” A 12: “Hoje em dia as mulheres tão pegando serviço pesado por isso que não tem mais atividades diferente para mulher ou para homem.” A 13: “Sim o vôlei e o futebol dá para as meninas e meninos.” A 14: “Depende a atividade, no meu ver futebol não é só para meninos algumas meninas não gostam.” A 15: “Especificamente não podemos dividir todas as atividades, mas tem pessoas que acham totalmente diferente cada um faz a sua atividade.” A 16: “Não todos podem fazer atividade juntos tanto doméstica quanto esportiva.” A 17: “Não. Muitas atividades são mais “cara” de meninos, mas não são exclusiva deles! As meninas têm muita capacidade para realizá-las, basta querer! A 18: “Não, mais tem atividades que um tem mais facilidade que o outro, dos ambos sexos.”
No questionário anterior à realização do estudo, a opinião da maioria dos
alunos, postula que ainda nos dias de hoje, a sociedade apresenta atividades que
são exclusivamente masculinas e femininas. A prática do futebol é citada como
sendo uma atividade exclusivamente masculina e limpar a casa, foi citada como
atividade para o gênero feminino. Exemplificando está constatação, temos a
seguinte citação:” Atividade masculina devia ser trabalhar firme e as femininas
trabalhar em casa serviço fraco” (A 6).
Já no questionário posterior (após a realização do estudo), dos 18 (dezoito)
pesquisados, cerca de 10 (dez), responderam que não existem atividades
exclusivamente femininas ou masculinas, mas que em alguns casos, um gênero tem
mais facilidade do que o outro. Exemplificando a maioria das respostas, temos a fala
de um pesquisado: “Hoje em dia as mulheres tão pegando serviço pesado por isso
que não tem mais atividades diferente para mulher ou para homem” (A 12).
A esse respeito Romero (1996), diz que “as diferentes culturas esperam que homens
e mulheres tenham papéis e comportamentos distintos na sociedade”. Hoje essa
visão está de certo ponto mudada, mas dizer que tanto o homem quanto a mulher
podem fazer o que quiser, não é algo coerente. Ainda existe muito preconceito na
sociedade, principalmente em relação ao gênero feminino, que tem uma luta árdua a
respeito de ocupar cargos de liderança e principalmente em ter direitos iguais em
relação a salário.
[...] a inserção da mulher no mundo do trabalho vem sendo acompanhada, ao longo desses anos, por elevado grau de discriminação, não só no que tange à qualidade das ocupações que têm sido criadas tanto no setor formal como no informal do mercado de trabalho, mas principalmente no que se refere à desigualdade salarial entre homens e mulheres. (PROBST, 2003, p.2).
19
Portanto, isso implica em afirmar, que a igualdade de gênero ainda é uma utopia, visto que as diferenças entre homens e mulheres sempre existiram e encontram-se enraizadas em todas as esferas da sociedade.
4.1.2. Em relação as tarefas domésticas
Quando investigados a respeito das tarefas domésticas serem realizadas por
homens ou por mulheres, no questionário prévio, a maioria dos pesquisados, ou seja
11 (onze), responderam que elas devem ser realizadas por ambos, para um ajudar o
outro. Mas, 7 (sete) acreditam que, apesar dos homens ajudarem, essas tarefas
ainda são consideradas atividades para o gênero feminino. Ninguém considerou as
atividades domésticas como sendo uma prática masculina. Sobre isso, MELLO E
ROMERO (2000) pontuam que os comportamentos moldados de acordo com o
sexo, desconsideram particularidades anatômicas e individuais, levando em
consideração os condicionamentos culturais, nos quais os indivíduos serão forçados
e submetidos no seu desenvolvimento.
Observando as respostas do questionário posterior, percebe-se que, o
número de pesquisados que consideram as tarefas domésticas como sendo
atividade para ambos os gêneros, aumentou. Um total de 16 (dezesseis)
entrevistados, afirmam que tanto o homem, quanto a mulher devem ocupar-se das
atividades domésticas. Dois, continuam a afirmar que elas são tarefas
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Homens Mulheres Ambos
Questionário Pré
Questionário Pós
20
exclusivamente femininas e ninguém considera que elas são atividades masculinas.
Isso remete a ideia de que atualmente, apesar de, alguns ainda acreditem
que as tarefas domésticas sejam funções predominantemente femininas, devido aos
condicionamentos culturais, muitos homens realizam atividades domésticas, seja por
necessidade ou por querer contribuir na divisão de tarefas.
4.1.3. Em relação a frase popularmente conhecida: “Mulher no volante, perigo
constante”.
Perfil das respostas – 1ª Parte (anterior a aplicação do projeto)
A1: “Porque os homens acham que são melhores que as mulheres mais não.” A 2: “Por que os homens falam que andar de carro é mais masculino, aí eles fizeram essa brincadeira, essa frase.” A 3: “Que mulher não é tão boa quanto o homem.” A 4: “Porque os homens acha que o carro é para homens, e é perigoso para as mulheres.” A 5: “Depende a mulher é barbeira, sei lá.” A 6: “Eu acho que muitas mulheres conseguem dirigir bem. Só porque é mulher não consegue dirigir certo que o homem é bem melhor.” A 7: “É que a maioria das mulheres que dirigem ou começaram a dirigir sentem medo.” A 8: “Entendo nada, pois as mulheres sabem dirigir melhor que os homens.” A 9: “Ou quer dizer que a mulher chama atenção e causa acidentes pela sua beleza, ou que ela não sabe dirigir direito.” A 10: “Essa frase foi feita por causa que o homem acredita que a mulher dirige mal. Mas para mim tem mulher que dirige melhor que homem.” A 11: “Que os homens acham que as mulheres não tem tanta capacidade de aprender a dirigir que volante não é lugar para mulher.” A 12: “Eu acho por que as mulheres são muito desesperada na minha opinião.” A 13: “Que muitas pessoas falam que homem dirige melhor que mulher.” A 14: “Porque as mulheres chamam a atenção.” A 15: “A maioria dos homens falam essa frase mas é por que se acham melhores no volante mas mulheres tem suas qualidades também atrás de um volante.” A 16: “Por que as mulheres tem fama de dirigir mal, pois causam colisões inexplicáveis.” A 17: “Na minha interpretação os homens querem dizer que são melhores no volante que as mulheres. Mas claro que existem mulheres que dirigem muito bem.” A 18: “Preconceito com mulheres ao volante.”
Perfil das respostas – 2ª Parte (posterior a aplicação do projeto)
A 1: “Uma mulher pode dirigir melhor que os homens. Está certo que os homens desde criança aprendem a dirigir. Mais algumas mulheres podem dirigir melhor que todos os outros homens.” A 2: “É um comentário machista, que se refere ao fato que as mulheres dirigem pior, o que não é verdade. Se mulheres tiverem os mesmos conhecimentos sobre “como dirigir” que os homens, podem dirigir igual ou até melhor.” A 3: “Acho errada essa frase, porque hoje em dia tem mulheres dirigindo melhor que alguns homens.” A 4: “Nada a ver, acontece vário acidentes com homens e mulheres ao mesmo tempo.” A 5: “Tem muita mulher barbeira mesmo, mais algumas não são tanto.” A 6: “Eu não acho que as mulheres são um perigo no volante tem mulher que é bem melhor que os homens no volante.” A 7: “Que acham que a mulher não consegue guiar corretamente, mas não é verdade.” A 8: “Nada vê mulheres também podem dirigir. Tem mulher que dirige melhor do que homem.” A 9: “Acho que mulher pode ser sim boa no volante.” A 10: “Mulher dirige bem, tem mulher que dirige melhor que o homem. Pois homem bebe e
21
bate o carro.” A 11: “Que geralmente os homens acham que são melhores, por talvez de nascido com o dizer “carro é coisa de homem”. Mas a mulher tem capacidade sim no volante.” A 12: “Isso acho tudo mesma coisa porque a maioria das mulheres da minha família pega no volante.” A 13: “Que só porque a gente é mulher dirige mal, mais não é isso porque tem mulher que dirige melhor que homem.” A 14: “Algumas mulheres dirigem bem, mais tem homes que é um perigo no volante. E homem também faz cagada.” A 15: “Eu acho que tem mulher com muita capacidade e inteligência suficiente para controlar um volante para não acontecer um acidente. Podemos ser boas motoristas.” A 16: “Que a mulher dirige mal.” A 17: “No meu ponto de vista, isso é “machismo”, pois a mulher em si, no trânsito é mais cuidadosa.” A 18: “Assim como tem muitas mulheres ruim também existem muitos homens ruins, e assim como tem homens bons também tem algumas mulheres boas.”
Sobre a interpretação da frase: “Mulher no volante, perigo constante”, os dois
questionários pontuam comentários que se refere ao fato das mulheres não dirigirem
bem, que esta seria uma atividade mais masculina que feminina. De acordo com o
pensamento da maioria, tanto no questionário prévio, quanto no questionário
posterior, este seria um comentário preconceituoso e machista.
Sobre isso, NUNAN (2003), afirma que o preconceito é visto como uma forma
de construção do outro, a partir da própria neutralização desse outro. Implica a
negação do indivíduo diferente e, no mesmo movimento, a afirmação da própria
identidade como superior/dominante.
Sintetizando, o preconceito contra as mulheres que dirigem, seria uma forma
de demonstrar a dominação masculina na sociedade.
4.1.4. Em relação a frase: “Homem que é homem não chora”.
Perfil das respostas – 1ª Parte (questionário anterior ao projeto)
A 1: SEM RESPOSTA. A 2: “Isso é uma frase muito conhecida entre os homens, eles falam que homem não chora.” A 3: “Porque homem tem que ser durão.” A 4: “Obvio que chora, homens também tem sentimentos e não conseguem segurar o choro.” A 5: “De um chute no saco bem dado para ver se não chora.” A 6: “Todos os homens querem mostrar que são machos mas eles tem sentimentos.” A 7: “Homem não deve mostrar fraqueza ou sentimento.” A 8: “O homem pode chorar por raiva, angustia ou tristeza se tiver.” A 9: “Que homem tem que ser forte, homem suficiente para encarar as coisas. Mas, homem chora sim.” A 10: ‘Homem que é homem, chora sim, e não fica guardando os sentimentos, e homem não pode ser tão machista.” A 11: “Que homem não pode interpretar fraqueza.” A 12: “Eu não acho verdade por que todo homem tem uma fraqueza.” A 13: “Que homem não chora de vergonha que as pessoas riem dele.” A 14: “As pessoas falam que homem que chora é lixo mais nada a ver.” A 15: “Cada homem tem um tipo de sentimento uns são mais doce outros acham que nunca
22
chorou mais mentira todos choramos.” A 16: “Por que homem deve demonstrar sua masculinidade e chorando ele deixa de mostrar sua masculinidade.” A 17: “Os homens tentam não serem “sentimentais”, é mais uma questão de honra e “machismo”.” A 18: “Machismo, pois todos os seres humanos sentem dor e tem sentimentos.”
Perfil das respostas – 2ª Parte (questionário posterior).
A 1: Homem pode chorar. Se chorar por algum motivo pode ser. Se um homem chorar não quer dizer que ele é veado, ou boiola e sim um homem que é humilde. Quando não cabe no coração escorre pelos olhos. Deus fez a lágrima para que todos possam chorar.” A 2: “Acham que homem de verdade, tem que ser forte, não chorar. Porém, acho que homem tem sentimentos e emoções, por isso, podem sim chorar, independente do que o “machismo” acredita.” A 3: “Homem que chora não é gay e sim sentimental e isso é raro.” A 4: “Errado. Muito idiota essa frase, há algo que não tem como não chorar.” A 5: “Claro que chora.” A 6: “Homem chora sim porque ele tem sentimentos.” A 7: “O homem tem que ser duro e mandar em tudo. Mas também é mentira.” A 8: “Mentira se homem não pudesse chorar ele não teria lágrimas, até nosso rei Jesus chora de ver tantos pecados.” A 9: “Homem não vai deixar de ser quem ele é, se chorar todos tem sentimentos.” A 10: “Isto é machismo, mas homem que é homem chora sim, pois todos nós temos sentimentos.” A 11: “Homem chora sim, não são lágrimas que vão fazer ele “menos homem”.” A 12: “Eu acho que não existe isso porque não tem homem que nunca chorou na vida.” A 13: “Todo homem chora só porque homem chora não é homem.” A 14: “Homem que chora não é gay todo mundo passa por momentos tristes da vida.” A 15: “Cada homem tem um sentimento uns são sensíveis e choram outros não porque são mais machistas.” A 16: “Descordo pois todos temos sentimento e todos choram inclusive homens.” A 17: “Vejo isso como orgulho, é claro que homem também chora, somos feitos de sentimentos.” A 18: “Todos tem sentimento, todos sentem dor, todos são iguais.”
Sobre a interpretação da frase: “homem que é homem não chora”, fica
evidente nas respostas dos pesquisados, que se trata, de um discurso machista, que
foi produzido e reproduzido culturalmente.
Representações sobre a relação corpo-gênero-sexualidade são amplamente
divulgadas nos discursos culturais e podem auxiliar no enquadramento social de
homens e mulheres em suas masculinidades, feminilidades, hetero ou
homossexualidades (RIBEIRO, SILVA, MAGALHÃES, QUADRADO, 2008).
Assim são criadas posições distintas e opostas que permeiam o processo de
construção das relações sociais, hora agrupando, hora segregando os sujeitos.
Afinal, o processo distintivo muitas vezes passa a ser justificado pela natureza
biológica, que por intermédio de seus vários discursos científicos, tentam
condicionar as pessoas a determinadas práticas.
23
4.1.5. Em relação a existência de preconceitos de gênero em nossa
sociedade atual
Quanto à existência de preconceito de gênero em nossa sociedade, as
respostas foram quase inânimes, pois dos 18 (dezoito) entrevistados, no
questionário anterior ao projeto, 17 (dezessete) responderam que sim, existe
preconceito e apenas 1 (um) respondeu não. Já no questionário posterior, dos 18
(dezoito) entrevistados, 16 (dezesseis) responderam que sim e 2 (dois) responderam
que não.
Assim, percebemos que há uma diferença nas oportunidades e tratamento
dado aos homens e às mulheres e que ambos apresentam diferenças que são
determinantes no papel que assumem na sociedade e, segundo Louro, estão
fundamentados na ideia das diferenças de sexo e de gênero. Para a autora,
...diferenças de sexo são aquelas diferenças biológicas que se apresentam
desde o nosso nascimento e que determinam “o ser macho” ou “o ser
fêmea”. Diferenças de gênero são aquelas diferenças que se constroem na
sociedade e na cultura, indicando os papéis adequados aos homens e às
mulheres, delineando, portanto, representações de masculinidade e
feminilidade (2003, p.82-83).
A esse respeito convém ainda comentar, que é percebido em nossa
sociedade a existência de preconceito de gênero. Ele existe tanto para o gênero
feminino como para o gênero masculino. Na comparação dos dados, confrontando
questionário anterior com questionário posterior, evidencia-se que houve uma única
mudança de pensamento, pois apenas um dos pesquisados acreditava que não
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Sim Não
Questionário prévio
Questionário posterior
24
havia preconceito e posteriormente, provavelmente influenciado pelas atividades do
projeto, dois acabaram por concluir que não existe preconceito em nossa sociedade
atual.
4.2. Questões específicas sobre a Educação Física – Futebol/Futsal:
Nessa categoria, os alunos postularam suas opiniões sobre questões de
gênero relacionadas as aulas de Educação Física.
4.2.1. Em relação à prática esportiva por ambos os gêneros
Perfil das respostas do 1ª parte (questionário anterior) sobre meninos e meninas
praticarem os mesmos esportes
A 1: “Sim. Porque nem sempre as atividades mudam e todo mundo pode praticar qualquer esporte.” A 2: “Sim. Cada um com sua preferência.” A 3: “Sim, temos direitos iguais afinal todos somos humanos.” A 4: “Sim, cada um tem o seu esporte favorito.” A 5: “Não. Porque menina estorva.” A 6: “Não só porque os garotos são melhores que as meninas.” A 7: “Sim, para provar que menina não é melhor que menino.” A 8: “Sim. Porque não existe nenhuma lei disso.” A 9: “Acho que sim. Todos tem capacidade para fazer alguma coisa.” A10: “Sim, todas as meninas podem praticar qualquer esporte, sem racismo nenhum.” A 11: “Não, pois na sociedade é meio dividido tem próprio esporte pra menina e próprio esporte pra menino, e muitas vezes os meninos no futebol por exemplo são meio agressivos com as meninas.” A 12: “Sim se eles ou elas gostar.” A 13: “Sim porque ninguém é melhor que ninguém no jogo.” A 14: “Sim, pois tem umas que gostam e outras nem ligam.” A 15: “Sim. Algumas meninas são mais desenvolvidas que os meninos e todos podem praticar juntos pois o esporte foi feito pra todos.” A 16: “Sim, mas tem coisas que são muito fortes ou os meninos não sabem jogar com as meninas.” A 17: “Sim. Mas é claro que existem alguns tipos de preconceitos de ambas as partes.” A 18: “Não, tem esportes que só mulheres ou só homens conseguem praticar.”
Perfil das respostas – 2ª Parte (questionário posterior).
A 1: “Sim. Porque alguns esportes podem ser praticados por meninos e meninas. A 2: “Sim. Porque cada um pratica o que gosta”. A 3: “Sim, desde que a pessoa queira e goste do esporte”. A 4: “Sim. Cada um tem que fazer aquilo que gosta”. A 5: “Não. Porque não”. A 6: “Sim. Mas acho que as meninas não deveriam praticar futebol porque o trabalho é forçado. Os meninos aguentam mais um chute, correr, etc.”. A 7: “Sim, porque cada um tem o direito de praticar esporte”. A 8: “Sim porque o esporte foi feito para se praticar entre a sociedade e não existe lei que proíba as mulheres”. A 9: “Sim. Todos conseguem. Mas, mesmo assim, acho que o homem tem um pouco de dificuldade em fazer ballet, mas mesmo assim alguns fazem”. A 10: “Sim, pois todos os esportes tem que ser praticados tanto por meninas quanto por meninos”. A 11: “Sim, pois não é o esporte que vai definir você menos menina ou menos menino”.
25
A 12: “Sim. Porque hoje em dia não tem mais diferença de esporte para menina, menino”. A 13: “Sim porque o vôlei e o futebol dá para menino e menina jogar”. A 14: “Sim, pois o esporte não define o que a pessoa é por dentro”. A 15: “Sim. Porque fica mais divertido”. A 16: “Sim, todos adquirem esta técnica desde pequeno tanto menino, quanto menina”. A 17: “Sim com certeza! Somos todos iguais...” A 18: “Sim, todos tem direito”.
Comparando as respostas dos pesquisados no questionário anterior e as
respostas do questionário posterior, percebe-se que houve uma pequena mudança
de opinião em relação a prática de qualquer esporte por ambos os gêneros.
Enquanto na pesquisa anterior, dos 18 entrevistados, 14 responderam que sim e 4
responderam que não. No questionário posterior, dos 18 alunos, 17 responderam
que sim e apenas 1 respondeu que não. Quanto ao motivo que o entrevistado deu
para explicar sobre a prática de esportes diferenciados para o gênero feminino e
masculino, não foi muito esclarecedor pois o mesmo respondeu apenas: “Não.
Porque não”.
Referindo-se à prática de esportes por ambos os gêneros, ainda percebe-se
que ocorre preconceito sobre algumas práticas tanto para o gênero masculino,
quanto para o gênero feminino. Sobre o preconceito sofrido por atletas do gênero
feminino, PAIN e STREY (2006), citam que as mulheres são vítimas de prejuízos no
contexto esportivo devido a alguns fatores como o não reconhecimento do ser
mulher atleta, ou seja, não ser reconhecida pelo seu desempenho dentro das
quadras, mas pelo seu belo corpo; as relações sociais no esporte serem construídas
em cima de valores sexistas, e a mulher atleta não poder viver dignamente através
de seu trabalho no contexto esportivo.
4.2.2. Em relação ao menino ser diferente pelo fato de não gostar e não saber
jogar futebol
Questionário Anterior
Sim Não
3 15
Questionário Posterior
Sim Não
3 15
26
Quando questionados a respeito do menino que não gosta e não sabe jogar
futebol, nas duas investigações, tanto antes, quanto depois da realização do estudo,
as respostas mantiveram o mesmo padrão. Sendo que nos dois casos, dos 18
(dezoito) pesquisados, 15 (quinze) responderam que o menino que não gosta e não
sabe jogar futebol “não” é diferente; e, 3 (três) responderam que é diferente.
Exemplificando a maioria das respostas temos as seguintes citações: “Não. Porque
cada um com sua preferência talvez ele não goste de futebol, e goste de outros
esportes” (A 2). “Não. Se ele não gosta de futebol é porque algo diferente ele coloca
no lugar não por isso ele é diferente” (A 15). “Não, nós somos livres para escolher”
(A 18).
Analisando as respostas, percebe-se que apesar da generalização de que o
futebol é um esporte masculino, o fato de não gostar do esporte, não deve ser
motivo de preconceito e discriminação para com o mesmo. A respeito dessa análise,
Miller & Kasanawa (2007), discorrem sobre o perigo na aplicação das
generalizações estatísticas a casos individuais, que podem ou não ser exceções. O
único problema com estereótipos e generalizações empíricas é que eles nem
sempre são verdadeiros para todos os casos individuais. Sempre existem exceções
individuais para estereótipos. Existem muitos pais dedicados e mulheres criminosas,
mesmo que as generalizações ainda sejam verdadeiras. As generalizações sobre
um sexo sempre serão falsas para muitos indivíduos (Pinker, 2004).
Ou seja, apesar das generalizações, de que os meninos (gênero masculino),
têm uma tendência a gostar e saber jogar futebol, alguns (exceções), podem não
gostar e não saber jogar. Isso não deve ser motivo de preconceito e de
discriminação, mas sim motivo de respeito e aceitação, pois vivemos numa
sociedade que constrói o comportamento “ideal” para o masculino e para o feminino.
4.2.3 Em relação a menina ser diferente por gostar e por saber jogar futebol
Questionário Anterior
Sim Não
8 10
27
Quando questionados sobre o fato da menina que gosta e sabe jogar futebol
ser diferente, percebe-se que houve uma mudança de opinião em relação ao
questionário anterior ao estudo. Dos 18 (dezoito) alunos pesquisados, no
questionário anterior, 8 (oito) disseram que a menina que gosta e que sabe jogar
futebol é diferente. Já no questionário posterior, o número que considera a menina
que pratica futebol como diferente caiu para 4. Dentre as respostas que
exemplificam esta constatação temos: “Sim é diferente. Porque é difícil menina
gostar e jogar bem futebol. Mais acho muito legal menina que joga” (A 2). “É
diferente porque é estranho uma menina jogar melhor quem um pia” (A 13). “Sim.
Pois espera-se para as meninas um comportamento mais amoroso, delicado, e no
futebol quem destaca-se são os meninos” (A 17).
Em relação ao número de pesquisados que consideram que a menina que
gosta e sabe jogar futebol “não” é diferente, no questionário anterior eram 10 (dez) e
no questionário posterior ao estudo, aumentou para 14 (quatorze). Isso quer dizer
que a visão preconceituosa que alguns pesquisados tinham à respeito da prática do
futebol pelo gênero feminino, decaiu, após a realização do estudo. Segundo alguns
alunos, a menina que gosta e sabe jogar futebol não é diferente porque: “Não.
Porque ela pode ter o dom de jogar futebol” (A 8). “Não. Ela apenas gosta de
coisas(futebol), que outras meninas podem não gostar, por achar que o
esporte é só para meninos” (A 9). “Não. Pois todos temos a capacidade de
conseguir atingir os mesmos objetivos” (A 10). “Não. Jamais” (A 11). “Não.
Porque tenho primas que fazem escolinha” (A 12).
Sobre o fato da menina (gênero feminino) jogar futebol, considerada
culturalmente no Brasil como sendo uma prática para homens (gênero masculino),
Goellner (2005), afirma que a pouca visibilidade conferida às mulheres no futebol,
provém da masculinização da mulher e naturalização de uma representação de
feminilidade que promove uma relação linear e imperativa entre mulher, feminilidade
e beleza. Estes argumentos, por estarem profundamente ligados, acabam por
reforçar alguns discursos direcionados para a privação das mulheres em algumas
modalidades esportivas como é o exemplo do futebol.
Questionário Posterior
Sim Não
4 14
28
4.2.4. Em relação as aulas de Educação Física serem mistas ou separadas por
sexo
Perfil das respostas à respeito de como devem ser organizadas as aulas de
Educação Física, se devem ser mistas, divididas por sexo ou revezar os dois tipos.
56%33%
11%
QUESTIONÁRIO ANTERIOR
Mistas Separadas por sexo Revezar os dois tipos
67%
22%
11%
QUESTIONÁRIO POSTERIOR
Mistas Separadas por sexo Revezar os dois tipos
29
Observando os gráficos, pode-se constatar que houve uma mudança de
opinião à respeito de como as aulas de Educação Física devem ser organizadas. No
questionário anterior ao estudo, 56% dos entrevistados responderam que as aulas
de Educação Física deveriam ser mistas, já no questionário posterior ao estudo,
67% dos pesquisados julgam que as aulas mistas, meninos e meninas praticando as
mesmas atividades, é a melhor forma de organização na disciplina Educação Física.
O número dos que acham que as aulas devem ser separadas por sexo, teve uma
pequena redução. Enquanto no questionário anterior ao estudo, 33% dos
pesquisados julgavam que a divisão por sexo é a forma de organização adequada
para as aulas de Educação Física, no questionário posterior, são 22% os que têm
essa opinião. Em relação às respostas dos que preferem que as aulas sejam
organizadas em forma de revezamento, ou seja, ora mistas, ora separadas por sexo,
o índice permaneceu o mesmo. Do total de pesquisados, apenas 11% tiveram essa
opinião.
Sobre a forma de organização que a maioria julga ser a melhor, a seguinte
citação é uma boa ilustração: “Devem ser mistas, para ambos dividirem
“experiências” (A 17).
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física/ Secretaria
de Educação Fundamental. As aulas mistas de Educação Física podem dar
oportunidade para que meninos e meninas convivam, observem-se, descubram-se e
possam aprender a ser tolerantes, a não discriminar e a compreender as diferenças,
de forma a não reproduzir, de forma estereotipada, relações sociais autoritárias
(BRASIL, 1998, p. 42). Desta forma cabe ao professor de Educação Física
direcionar a melhor forma de organização das aulas, não esquecendo que elas
devem promover a socialização e não a segregação, devem assegurar a
participação e não a exclusão.
4.2.5. Em relação às atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física
serem as mesmas para meninos e meninas
Perfil das respostas – 1ª Parte – Questionário Anterior A 1: “Sim. Porque ninguém é bom o suficiente.” A 2: “Sim, para a turma aprender, sem diferenças.” A 3: “Obvio, meninas e meninos juntos.” A 4: “Sim. Porque seria provável que os meninos iriam jogar futebol, e não daria. Porque muitas meninas gostam de futebol.”
30
A 5: “Não sei.” A 6: “As atividades de educação física deviam ser diferentes para meninos e para meninas Os meninos deviam jogar bola e as meninas jogar vôlei.” A 7: “Talvez, porque meninos e meninas tem gostos e vontades diferentes.” A 8: “Não porque se não elas se machucam.” A 9: “Algumas vezes sim. Em alguns casos, meninas não sabem jogar o que meninos jogam e vice versa. E cada um joga o que sabe, e se quiser saber de outros esportes, tem que correr atrás disso.” A 10: “Não. Pois tem algumas que exigem mais esforço.” A 11: “Sim, porque eu acho que meninas e meninos tem que ter direitos iguais.” A 12: “Sim, se os dois grupos gostarem.” A 13: “Não por tem pia que é muito forte e machuca as meninas praticamente no futebol.” A 14: “Sim, pois não perde tempo.” A 15: “Sim. Porque todos queremos fazer atividades iguais e aprender jutos.” A 16: “Sim pois os dois se desenvolve ao mesmo tempo.” A 17: “Sim, pois todos tem capacidade. Tanto garotos como garotas... Basta terem vontade!” A 18: “Mesmas, seria legal a sala inteira participando das mesmas atividades.”
Perfil das respostas – 2ª Parte – Questionário Posterior A 1: “Sim. Porque ninguém é diferente de ninguém”. A 2: “Sim. Todos devem ter as mesmas oportunidades”. A 3: “Sim para juntarem seus dons”. A 4: “Sim. Igual para todos”. A 5: “Sim”. A 6: “Não. Os meninos fazem uma atividade e as meninas outras atividades”. A 7: “Sim para não haver diferenças e preconceito entre os gêneros”. A 8: “Sim. Porque para os dois aprenderem as aulas”. A 9: “Sim. Assim, um pode ajudar o outro a jogar algo que não sabe”. A 10: “Sim. Precisamos aprender a mesma atividade dos meninos. E os meninos aprender as atividades das meninas”. A 11: “Sim, pois assim praticamos a mesma coisa sem exceção”. A 12: “Sim. Porque será melhor a participação, os dois juntos”. A 13: “Sim porque meninos e meninas devem jogar o mesmo jogo”. A 14: “Sim. Porque tem algumas meninas que gostam de futebol e outras gostam de vôlei”. A 15: “Sim. Porque mesmo alguns meninos não gostando podemos acertar as coisas e se divertir todos juntos”. A 16: “Sim, pois não há diferença e todos os esportes podem ser praticados por mulher e por homem”. A 17: “Sim. Somos todos iguais” A 18: “Sim esporte não tem dono”.
Comparando os dois questionários pode-se observar que tanto no
questionário anterior, quanto no questionário posterior ao estudo, a maioria dos
pesquisados considera que as atividades desenvolvidas devem ser as mesmas para
meninos e meninas. Porém houve um aumento significativo no número dos
pesquisados que mudou de opinião após a realização do estudo. Enquanto no
questionário anterior, 11 (onze) alunos consideravam que as atividades
desenvolvidas nas aulas de Educação Física deveriam ser as mesmas para meninos
e meninas, no questionário posterior ao estudo, 17 (dezessete) alunos passaram a
considerar tal opção.
31
Sobre a prática de atividades corporais na Educação Física serem as
mesmas para meninos e meninas, Neira (2006), diz que é preciso desde cedo que
meninos e meninas aprendam a compartilhar atividades e a conviver juntos sem
discriminações estereotipadas para que todos possam ter acesso a um
desenvolvimento adequado. Nuns (2003) complementa que o professor de
Educação Física, assim como todos os outros tem uma tarefa importante nesse
processo e seu trabalho deve estar atento às questões de gênero, pois sua
abordagem sobre esse aspecto pode contribuir para minimizar a distância entre os
sexos ou pode reafirmar valores sendo “um elogio às diferenças”. Portanto o
trabalho do professor (ou a ausência dele) contribui de maneira significativa para
que os alunos interiorizem conceitos aceitando como normais ou não as diferenças
de gênero.
Ainda, segundo Neira (2006), devemos educar os alunos para viver em uma
sociedade justa, sendo assim, deixar que preconceitos sejam fortalecidos dentro do
ambiente escolar é ir contra a função da escola quando se objetiva uma formação
cidadã.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizando os estudos relativos ao Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação –PR, pode-se afirmar que
se trata de um programa muito importante para a formação dos profissionais da
Educação.
Através da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica no Colégio
Estadual São Sebastião, no município de Curitiba-PR, buscou-se investigar e
elaborar estratégias que procuraram auxiliar na desconstrução dos estereótipos de
gênero presentes na prática pedagógica dos esportes coletivos, especificamente nas
modalidades de Futebol/Futsal, tendo como público-alvo da pesquisa-ação, uma
turma do 9º (nono) ano do Ensino Fundamental, do período matutino.
Referindo-se ao conhecimento e julgamento de ações teórico-práticas sobre
as relações de gênero na sociedade, pontuou-se que a igualdade de gênero ainda é
uma utopia, visto que as diferenças entre homens e mulheres sempre existiram e
encontram-se enraizadas em todas as esferas da sociedade. Assim são criadas
32
posições distintas e opostas que permeiam o processo de construção das relações
sociais, ora agrupando, ora segregando os sujeitos. Afinal, o processo distintivo
muitas vezes passa a ser justificado pela natureza biológica, que por intermédio de
seus vários discursos científicos, tentam condicionar as pessoas a determinadas
práticas, ou seja, que existem “coisas” específicas para o homem e “coisas”
específicas para a mulher.
Percebe-se a existência de preconceito tanto para o gênero masculino,
quanto para o gênero feminino, no entanto, as mulheres (gênero feminino), ainda
são as mais discriminadas, tanto no mercado de trabalho quanto no contexto
esportivo. Sobre as questões de gênero relacionadas as aulas de Educação Física,
percebe-se que ocorre preconceito sobre algumas práticas tanto para o gênero
masculino, quanto para o gênero feminino. As relações sociais no esporte são
construídas em cima de valores sexistas, e a mulher atleta muitas vezes, não
consegue viver dignamente através de seu trabalho no contexto esportivo.
Apesar das generalizações, de que os meninos (gênero masculino), têm uma
tendência a gostar e saber jogar futebol, alguns (exceções), podem não gostar e não
saber jogar. Isso não deve ser motivo de preconceito e de discriminação, mas sim
motivo de respeito e aceitação, pois vivemos numa sociedade que constrói o
comportamento “ideal” para o masculino e para o feminino.
Argumentos como feminilidade, fragilidade, delicadeza e beleza, por estarem
profundamente ligados, acabam por reforçar alguns discursos direcionados para a
privação das mulheres em algumas modalidades esportivas como é o exemplo do
futebol. Mas isso não quer dizer que elas não sabem e não devem praticar o
esporte, afinal, todos têm a capacidade de “conseguir atingir os seus objetivos” e
não são as concepções sociais/culturais ou biológicas que devem dar condições, ou
impedir que isso aconteça.
Referindo-se a organização das aulas de Educação Física, prima-se por aulas
mistas, buscando oportunizar uma maior unidade, tanto para meninos, quanto para
meninas para que “convivam, observem-se, descubram-se e possam aprender a ser
tolerantes, a não discriminar e a compreender as diferenças, de forma a não
reproduzir, de forma estereotipada, relações sociais autoritárias (BRASIL, 1998, p.
42).
Sobre a prática de atividades corporais na Educação Física serem as
33
mesmas para o gênero feminino e para o gênero masculino, afirma-se que “Sim”,
pois apesar de haver diferença, não pode haver discriminação e todos os esportes
podem ser praticados tanto por mulher quanto por homem.
Verificou-se que a aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica
proporcionou uma reflexão sobre as relações de gênero, mudando alguns
pensamentos e/ou comportamentos pré-estabelecidos e mantendo outros. Porém
para que isso acontecesse, foi imprescindível a atuação mediadora do professor.
Corroborando com isso, temos as reflexões dos Professores Estaduais de
Educação Física, que através do Grupo de Trabalho em Rede – GTR,
proporcionaram uma valorosíssima discussão sobre a importância do docente (aqui
em específico o professor de Educação Física), na intervenção à questões
conflitantes na escola.
Segundo comentou-se, questões como as referentes ao preconceito de
gênero, devem ser devidamente trabalhadas e não devem ser deixadas de lado
durante as aulas. Muitas vezes o professor só se preocupa com a prática, com a
mecanização, esportivização..., deixando de lado questões que influenciam
diretamente o processo-ensino-aprendizagem. Vale a pena parar, questionar,
pesquisar, confrontar e, provavelmente, o problema será amenizado ou até mesmo
deixará de existir.
Assim sendo, cabe ao professor de Educação Física direcionar a melhor
forma de organização das aulas, não esquecendo que elas devem promover a
socialização e não a segregação buscando assegurar a participação e não a
exclusão. Afinal é preciso que desde cedo meninos e meninas aprendam a
compartilhar atividades e a conviver juntos sem discriminações estereotipadas para
que todos possam ter acesso a um desenvolvimento adequado.
Portanto o trabalho do professor (ou a ausência dele) contribui de maneira
significativa para que os alunos interiorizem conceitos, aceitando como normais ou
não, as diferenças de gênero.
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7. APÊNDICE (1)
QUESTIONÁRIO PRÉVIO E POSTERIOR
Roteiro de questões sobre conhecimento e julgamento de ações teórico-
práticas sobre relações de gênero e sobre os esportes coletivos: futebol/futsal,
dos alunos nas aulas de Educação Física Escolar.
a)Questões gerais: 1- Observando nossa sociedade, você acha que existem atividades que são exclusivamente masculinas ou femininas? Comente sua resposta. R: 2- As tarefas domésticas como: lavar roupa, fazer comida, limpar a casa, são tarefas para o homem ou para a mulher? Por quê? R: 3- Que interpretação você daria para esta frase conhecida popularmente: “Mulher no volante, perigo constante”? R: 4- E para esta: “Homem que é homem não chora”? R: 5- Será que existem preconceitos de gênero em nossa sociedade atual? Explique. R: b) Questões específicas sobre a Educação Física – Futebol/Futsal: 6- Em sua opinião, qualquer menino e qualquer menina pode praticar qualquer esporte? Por quê? R: 7- Será que um menino que não gosta e não sabe jogar futebol é diferente? Por quê? R: 8- Será que uma menina que gosta, e joga futebol muito bem nas aulas de Educação Física, é diferente? Por quê? R: 9- Em sua opinião, as aulas de Educação Física devem ser mistas (meninos junto com meninas) ou separadas? Justifique. R: 10- As atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física, devem ser as mesmas para meninos e meninas? Por quê? R: