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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO ... · ascende ao poder no ano de 1848, devido à crise do sistema feudal, a educação, tinha um papel de tornar o camponês

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) E OS

ELEMENTOS ARTICULADORES NA EDUCAÇÃO FÍSICA: Possibilidades

Pedagógicas Críticas.

Autor: Sérgio Corrêa de Melo11

Orientador: Prof. Dr. Carlos Henrique Ferreira Magalhães2

RESUMO

Este artigo pretende analisar, discutir o processo de apropriação dos conhecimentos historicamente produzidos pela sociedade referentes aos Elementos Articuladores contido nas Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Física (DCE 2008), por meio das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) bem como avançar rumo a melhorar da prática docente realizada pelos professores de Educação Física na abordagem dos referidos conhecimentos. Para nortear as discussões, optou-se pela concepção histórico crítica, devido a mesma ser a cerne que serviu de aporte teórico das teorias críticas da Educação Física, como a Crítico Emancipatória e Crítico Superadora, que são os aportes teóricos contidos nas DCE 2008. Após a realização da intervenção, por meio das discussões constatou-se que os professores de Educação Física apresentam conhecimentos básicos de como utilizarem das TIC e são sabedores da necessidade da abordagem dos Elementos Articuladores de forma crítica, pois por meio dos elementos, é possível propiciar aos alunos a condição de analisar e compreender criticamente como as práticas corporais são influenciadas.

Palavras-chaves: Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC); Elementos Articuladores;

Introdução: justificativa, problematização e objeto de estudo.

1 Professor de Educação Física, Colégio Estadual Prefeito Antônio Teodoro – Campo Mourão.

2 Professor Doutor do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá.

Esse estudo, ocorrido no âmbito do Programa de Desenvolvimento

Educacional - PDE, mantido pela Secretaria Estadual de Educação do Estado do

Paraná – SEED/PR, busca analisar como os professores de Educação Física

abordam os Elementos Articuladores propostos nas Diretrizes Orientadora da

Educação Física (DCE) e propor possibilidades de encaminhamentos metodológicos

que, possam realmente, efetivar a realização dos referidos elementos de uma forma

crítica.

Quando nós, professores, damos ênfase nas aulas às atividades práticas,

possibilitamos vivencias corporais que são de grande relevância à aprendizagem e

ao desenvolvimento motor, entre outros benefícios. Mas, a análise, e a compreensão

que são necessárias aos alunos para o enfrentamento visando à transformação

social, política e econômica, são abordadas em qual momento, e de que forma?

Esse tema torna-se importante para a disciplina de Educação Física, que visa

à efetivação de uma práxis3, que fomente aos alunos uma compreensão dos fatores

e determinantes sociais que estão inseridos intrinsecamente nos conteúdos

desenvolvidos durante as aulas.

A práxis marxista, nesse contexto, pode ser definida como “[...] atividade

material do homem que transforma o mundo natural e social para fazer dele um

mundo humano” (VÁZQUEZ, 1977, p.3). Em um nível mais elevado, “[...] a

revolução, ou a crítica radical que, correspondendo a necessidades radicais,

humanas, passa do plano teórico ao prático” (VÁZQUEZ, 1977, p. 128), Ou ainda, é

a “[...] atividade concreta pela qual os sujeitos humanos se afirmam no mundo,

modificando a realidade objetiva e, para poderem alterá-la, transformam-se a si

mesmos. É a ação que [...] precisa da reflexão, da teoria; e é a teoria que remete à

ação” (KONDER,1992, p. 115).

3 Nesse contexto, a práxis será compreendida dentro da teoria materialista dialética do conhecimento

que põe a prática (práxis) em primeiro lugar, sustentando que o conhecimento humano não pode estar, em nenhum grau, desligado da prática, e rejeitando todas as teorias erradas que negam a importância da prática e desligam o conhecimento da prática [...] é o seu caráter prático: sublinha o fato de a teoria depender da prática, de a teoria basear-se na prática e, por sua vez, servir a prática. A verdade de um conhecimento ou de uma teoria é determinada não por uma apreciação subjetiva, mas sim pelos resultados da prática social (práxis) objetiva. O critério da verdade não pode ser outro senão a prática social. O ponto de vista da prática é o ponto de vista primordial, fundamental, da teoria materialista-dialética do conhecimento (TSE-TUNG, 2001, p. 15, grifos meus).

As Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Física (2008) propõem

que a utilização dos elementos Articuladores4 não como um apêndice dos

conteúdos, ou conteúdos paralelos, mas sim devem ser entendidos como conteúdos

que quando fizer necessário irão dialogar dialeticamente durante as aulas.

Ao atuar como Coordenador Pedagógico da disciplina de Educação Física no

Núcleo Regional de Educação de Campo Mourão (NRE) e tendo contato direto com

os professores de Educação Física, tive a possibilidade de verificar que os

elementos articuladores são pouco abordados durante as aulas.

A Educação Física inserida no contexto escolar reproduz, como as demais

disciplinas que compõem o currículo escolar, concepções que expressam alguns

dos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, porém, não

articulam com os processos sociais, políticos e históricos que fazem parte desta

construção.

Quando analisa-se a história da Educação Física no Brasil, é necessário

compreender que “ela surge de necessidades sociais concretas que, identificadas

em diferentes momentos históricos, dão origem a diferentes entendimentos do que

dela conhecemos” (Coletivo de Autores, 1992, p. 50), por isso, em todo o movimento

da Educação Física ela atendeu as necessidades, interesses e anseios da

sociedade capitalista, independente de qual prática pedagógica e,

consequentemente, as instituições de ensino superiores existentes no Brasil

reproduziram essa ideologia em seus cursos de graduação.

Nesse sentido, entende que a educação física sofre ao longo de sua trajetória histórica influências externas das instituições militar, médica e desportiva, ou seja, a educação física serviu sempre aos intentos do poder hegemônico, sendo conformada de acordo com as determinações/mudanças que o contexto lhe imprimia, mas sempre servido ao ideário dominante (CAPARROZ, 2005, p. 05).

4 Por Elementos Articuladores entende-se como conteúdos que irão contextualizar e refletir as pratica

dos Conteúdos Estruturantes estão sistematizados como: Cultura Corporal e Corpo, Cultura Corporal e Ludicidade, Cultura Corporal e Saúde, Cultura Corporal Mundo do Trabalho, Cultura Corporal Desportivização, Cultura Corporal Técnica e Tática, Cultura Corporal e Lazer, Cultura Corporal e Diversidade e Cultura Corporal e Mídia. (PARANA, 2008).

Dessa maneira, historicamente os professores de Educação Física acabam

incorporando os objetivos das práticas pedagógicas5 da época e as reproduz no

ambiente escolar.

Por meio do contato próximo com os professores de Educação Física,

constatou-se que a abordagem de qualquer um dos conteúdos estruturantes são

sustentados pela pedagogia tradicional e tecnicista, ou seja, aquela que possibilita

apenas vivencias corporais.

Defino como encaminhamentos metodológicos tradicionais, pois constatou-se

nas aulas o que esta exposto nas DCE (Paraná 2008, p. 47) como sendo “enfoque

exclusivamente no desenvolvimento das aptidões físicas, de aspectos psicomotores

e na prática esportiva”, ou seja:

[...] que o mero exercício físico deveria dar lugar a uma formação humana do aluno em amplas dimensões. O reflexo desse contexto para a Educação Física configurou-se em um projeto escolar que possibilitasse a tomada de consciência dos educandos sobre seus próprios corpos, não no sentido biológico, mas especialmente em relação ao meio social em que vivem. (PARANA, 2008, p. 46).

Essas constatações sobre os encaminhamentos metodológicos dos

professores de Educação Física dos quais tive a possibilidade de trabalhar e

acompanhar aproximam-se das Teorias Não Críticas:

Quanto às Teorias Não Críticas é possível constar que:

[...] encaram a educação como autônoma e buscam compreendê-la a partir dela mesma. (p. 05). [...] manter a expansão da escola em limites suportáveis pelos interesses dominantes e desenvolver um tipo de ensino adequado a esses interesses. É a esse fenômeno que denominei de "mecanismo de recomposição da hegemonia da classe dominante”. (p. 11).

Como já assinalei, o primeiro grupo de teorias concebe a marginalidade como um desvio, tendo a educação por função a correção desse desvio. A marginalidade é vista como um problema social e a educação, que dispõe de autonomia em relação à sociedade, estaria, por esta razão, capacitada a intervir eficazmente na sociedade, transformando-a, tornando-a melhor, corrigindo as injustiças; em suma, promovendo a equalização social. Essas teorias consideram, pois, apenas a ação da educação sobre a sociedade.

5 Estou mantendo essa terminologia, pois os autores consultados Caparroz e Coletivos de Autores

utilizam-se do mesmo. No do projeto utilizar-se-à o termo práxis pedagógica.

Porque desconhecem as determinações sociais do fenômeno educativo eu as denominei de "teorias não críticas". (SAVIANI, 2009, p. 17).

Ao abordar a escola é necessário analisá-la em todo o seu contexto, não

pode-se analisar a escola como um segmento da sociedade autônomo e isolado que

não sofre influência de um sistema econômico. Para isso, necessita-se de uma

abordagem histórica e social para melhor compreensão da função da escola nos

dias atuais.

A Escola pública no Brasil, nos últimos séculos, vem passando por vários

embates em relação às concepções e questões pedagógicas alteram

consequentemente, o seu papel dentro da sociedade. Se quando a burguesia

ascende ao poder no ano de 1848, devido à crise do sistema feudal, a educação,

tinha um papel de tornar o camponês um “ser humano” por meio da educação

tirando-o do abismo da ignorância, tornando os servos em cidadãos por meio da

aquisição do conhecimento intelectual, como o objetivo de que os homens

pudessem evoluir e consequentemente passar de um sistema feudal para um novo

sistema, sistema que emergia o “Capitalismo”,

Atualmente Educação e consequentemente a escola, dentro do modo

capitalista tem a função de reforçar a ideologia da classe dominante, a classe

burguesa, sobre uma classe dominada, a classe dos proletariados.

As duas classes citadas anteriormente, de acordo com Saviani (2009, p.04)

são “essencialmente marcada pela divisão entre grupos ou classes antagônicos que

se relacionam à base da força, a qual se manifesta fundamentalmente nas

condições de produção da vida material”.

Sendo assim, a classe dominante ou burguesa necessita e utiliza-se da

educação para perpetuar as ideias e conceitos que atendem aos seus interesses de

um pequeno grupo.

Nesse contexto, a educação é entendida como inteiramente dependente da estrutura social geradora de marginalidade, cumprindo aí a função de reforçar a dominação e legitimar a marginalização. Nesse sentido, a educação, longe de ser um instrumento de superação da marginalidade, se converte num fator de marginalização já que sua forma específica de reproduzir a marginalidade social é a produção da marginalidade cultural e, especificamente, escolar. (SAVIANI, 2009, p. 05).

Mészáros (2008) em sua obra “Educação para além do Capital”, também

ratifica que a classe dominante utiliza-se da educação para benefício próprio, cujo

objetivo, obviamente, é manter o proletariado no seu lugar:

A educação institucionalizada, especialmente nos últimos 150 anos, serviu – no seu todo – ao propósito de não só fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à máquina produtiva em expansão do sistema do capital, como também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes [...] (MÉSZÁROS, 2008, p. 35).

Oposto a isso, encontra-se a classe dos dominados que,

inconsequentemente, acaba internalizando a ideologia e concepção dos dominantes,

sendo marginalizados. Pode–se afirmar que são marginalizados socialmente

“porque não possuem força material (capital econômico) e marginalizados

culturalmente porque não possuem força simbólica (capital cultural)”. (Saviani, 1984,

p. 20).

Ao Analisar a relação entre as classes antagônicas, constata-se que a

educação, apesar de possibilitar a transferência de conhecimentos historicamente

produzidos pela sociedade possui uma dimensão política, desta forma o modo de

produção capitalista, pautado nos meios de produção e nas relações de produção,

interfere efetivamente na escola, que é utilizada como forma de inculcar a ideologia

da classe dominante pois necessita da exploração do trabalhado do assalariado

para manter-se no poder.

Como consequência, a disciplina de Educação Física também será afetada,

pois para Teixeira e Magalhães (2011):

No intuito de perpetuar a sua dominação, os capitalistas não abrem mão do controle sobre os trabalhadores, tentando impedir a todo custo à organização e o desenvolvimento da consciência de classe dos trabalhadores, e nesse esforço utiliza-se também das práticas corporais (p. 09).

A partir dessas colocações, constata-se que a disciplina de Educação Física

esta afetada. Para superar os encaminhamentos metodológicos que normalmente

foram e são usados nas aulas expositivas e pesquisas bibliográficas que abordam

os Elementos Articuladores de forma inócua e não crítica, surge à ideia de aplicar as

Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC)6 numa abordagem histórico crítica.

A concepção histórico-crítica 7pretende compreender a educação dentro de

um processo de movimento histórico analisando as contradições da sociedade

capitalista. A mesma visa não ser um elemento de reprodução da ideologia

burguesa, mas sim, uma proposta pedagógica que impulsionasse a transformação

da sociedade superando assim, a corrente crítico-reprodutivista. (Saviani, 2012).

Saviani em seu livro “Pedagogia Histórico-Crítica” expõe que:

Expressão histórico-crítica é o empenho em compreender a questão educacional com base no desenvolvimento histórico objetivo. Portanto, a concepção pressuposta nesta visão da pedagogia histórico-crítica é o materialismo histórico, ou seja, a compreensão da história a partir do desenvolvimento material, da determinação das condições materiais da existência humana (p.76).

Em suma, a passagem da visão crítico-mecanicista, crítico-a-histórica para uma visão crítico-dialética, portanto histórico-crítica, da educação, é o quero traduzir com a expressão pedagogia histórico-crítica. [...] Seus pressupostos, portanto, são os da concepção dialética da história. Isso envolve a possibilidade de se compreender a educação escolar tal como ela se manifesta no presente, mas entendida essa manifestação presente como um resultado de um longo processo de transformação histórica. (SAVIANI, 2012, p.80).

Para a utilização das TIC nos encaminhamentos metodológicos na de uma

concepção histórico-crítica é de grande valia entender seu processo dentro do

sistema capitalista.

De acordo com Kenski (2007) as tecnologias estão em todo lugar, encontram-

se tão próximas e presentes que já fazem parte de nossa vida e nem nos damos

conta disso, o lápis, os cadernos, as canetas, lousas, giz e outros equipamentos e

processos planejados e construídos para que possamos ler, escrever, ensinar e

aprender, ou seja, “ao conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se

6 Quando se uni estas três palavras se faz referência ao conjunto de avanços tecnológicos que

proporcionam a informática, as telecomunicações e as tecnologias audiovisuais que compreendem o desenvolvimento relacionados com os computadores, a internet, a telefonia, os “mass media”, as aplicações multimídia e a realidade virtual. Estas tecnologias basicamente proporcionam informação, ferramentas para seu processo e canais de comunicação. SEBRIAM (2009, p. 27) 7 No projeto optou-se por utilizar-se da concepção histórico crítica, devido a mesma ser a cerne que

serviu de aporte teórico das teorias críticas da Educação Física, como a Crítico Emancipatória e Crítico Superadora.

aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um

determinado tipo de atividade, chamada de „tecnologia‟.” (Kenski, 2007, p.24).

Analisando a citação da autora, pode-se concluir que qualquer instrumento

criado pelo homem, no qual ele utiliza-se de conhecimento científico para facilitar ou

satisfazer suas necessidades, pode ser definido como tecnologia. Porém, para o

surgimento de tecnologia, uma relação muito importante deve ocorrer, a relação

homem e natureza ocasionado pelo trabalho.

Nesta relação de troca, portanto, homem e natureza vão se constituindo como elos de uma mesma corrente da vida, embora com suas constituições particulares. Mas nada disso seria possível, nada disso teria acontecido sem o elemento determinante, aquilo que na ontologia do ser social é conhecido como protoforma do gênero humana: o trabalho. (SILVA, 2009, p. 32).

Lessa e Tonet (2008, p. 17) afirmam que “o único pressuposto do

pensamento de Marx é o fato de que os homens, para poderem existir, devem

transformar constantemente a natureza”, ou seja, essa transformação ocorre pelo

ato do trabalho.

Os homens, ao transformarem a natureza, eles próprios são transformados,

pois durante este processo, assimilam novos conhecimentos e habilidades que

poderão ser aplicados futuramente.

É importante ressaltar que o trabalho no sistema capitalista apresenta

relações complexas e contraditórias entre os meios de produção e as relações de

produção e que se confrontam quando se produz qualquer mercadoria e que nesse

estudo, refiro-me as tecnologias.

Esse ato ocorre conforme as necessidades humanas e que no modo de

produção capitalista é utilizado para disseminar sua ideologia. Assim, durante a sua

aplicação no ambiente escolar é necessário superar a condição de que as

Tecnologias serão usadas para disseminar a ideologia dominante.

Na escola pública é onde estão os alunos oriundos das classes assalariadas,

que devem ter acesso ao conhecimento historicamente produzido pela humanidade

e “[...] que têm nela uma oportunidade, algumas vezes a única, de acesso ao mundo

letrado, do conhecimento científico, da reflexão filosófica e do contato com a arte”

(2008, p. 14), onde pretende-se a construção de uma sociedade justa e com

oportunidades iguais para todos (PARANA, 2008).

Se não situarmos as técnicas e as tecnologias de informações e comunicação no interior desta relação metabólica do capital, na unidade dialética entre estrutura e superestrutura, produziremos mediações que mesmo carregada de um arsenal crítico, de intencionalidades emancipatórias, ser transformarão em modelos ideológicos a serviço do sistema capital. (SILVA, 2008, p.40).

Para evitar que os “modelos ideológicos a serviço do sistema capital” cumpra

sua função é necessário que a educação e a escola ao apropriarem-se das TIC, a

façam de uma maneira crítica, analisando e compreendendo todos os elementos

(social, econômico e histórico) que estão inseridos nesse processo.

Ao analisar todo o contexto anteriormente exposto e tendo o conhecimento

que nos últimos 12 anos todos os Estabelecimentos de Ensino da rede Estadual do

Estado do Paraná receberam laboratórios de informática com computadores e

acesso à internet, pode-se verificar que na maioria do tempo ficam ociosos ou com

alguns alunos realizando pesquisas de conteúdos que foram discutidos em sala de

aula, sem um encaminhamento pedagógico adequado.

Visando possibilitar a superação de encaminhamentos metodológicos que

apenas reproduzem as práticas tradicionais de ensino, utilizar-se-à de uma pergunta

de partida, na qual “o investigador tenta exprimir o mais exatamente possível aquilo

que procura saber, elucidar e compreender melhor”. Quivy e Campenhoudt (1992, p.

41).

Essa pergunta será o fio condutor para a seguinte questão: Quais as relações

entre Elementos Articuladores da Educação Física, Pedagogia Histórico-Crítica e as

TIC nos estabelecimentos de ensino do Núcleo Regional de Educação de Campo

Mourão?

Essa questão central produziu outras questões desdobradas que são:

Quais as possibilidades pedagógicas dos elementos articuladores e das

Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC)?

Como ocorre a aplicação dos Elementos Articuladores nas aulas dos professores

de Educação Física?

Quais as relações entre Educação Física Escolar e Pedagogia Histórico-Crítica?

Para poder responder a essas inquietações, faz-se necessário a utilização de

uma metodologia que analise as complexas e contraditórias relações sociais e

históricas entre Educação/Educação Física, elementos articuladores,

encaminhamentos metodológicos e sociedade capitalista, ou seja, uma análise

concreta da sociedade, dessa maneira optou-se Materialismo Histórico e Dialético

ou Marxismo.

O Materialismo Histórico e Dialético tem sua fundamentação construída em

Marx e Engels que pretendiam analisar e compreender a totalidade das relações

sociais atuais por meio do movimento histórico e por meio das contradições entre as

classes sociais e as relações existentes na sociedade.

O Materialismo Histórico é a ciência do marxismo que analisa a estrutura

sócio-econômica, os modos de produção, força e relação de produção, classes

sociais, ideologia da classe burguesa, o movimento histórico das classes e,

principalmente, a prática social dos homens no decorrer da sociedade capitalista.

O Materialismo Dialético é compreendido com a base filosófica do marxismo

que busca explicações referentes aos fenômenos de forma racional e lógica,

analisando a conexão, interdependência, interação e a contradição durante o

processo de entendimento dos fenômenos.

Dessa maneira, o materialismo histórico e dialético, apresenta características

que os diferem das demais ciências de análise, principalmente em relação à teoria e

ao método. Para Marx:

Para ele, a teoria não se reduz ao exame sistemático das formas dadas de um objeto, com o pesquisador descrevendo-o detalhadamente e construindo modelos explicativos para dar conta – à base de hipóteses que apontam para relações de causa/efeito [...] E não é, também, a construção de enunciados discursivos sobre os quais a chamada comunidade científica pode ou não estabelecer consensos [...] (LYOTARD, 2008; SANTOS, 2000, apud NETTO, 2011, p. 20).

A teoria é uma modalidade diferenciada de conhecimento que se difere por

suas especificidades: o conhecimento teórico que é o conhecimento do objeto na

sua estrutura e dinâmica- tal como ele em si mesmo, e na sua existência

independente da vontade do pesquisador, e a reprodução ideal do movimento real

pelo sujeito que pesquisa: onde o sujeito reproduz em seu pensamento a

interpretação real do objeto. (NETTO, 2011).

O materialismo histórico e dialético é entendido por Guimarães (1999, p. 11)

como sendo método que “[...] não nos apresenta um conjunto de operações lógicas,

de regras para construção de um objeto, mais sim os passos fundamentais no

esforço de captação da lógica do objeto e de sua tradução na mente”.

Outro ponto importante que deve-se ressaltar, são as constatações que:

O método de pesquisa que propicia o conhecimento teórico, partindo da aparência, visa alcançar a essência do objeto8. Alcançando a essência do objeto isto é: capturando a sua estrutura e dinâmica, por meio de procedimentos analíticos e operando a sua síntese, o pesquisador a reproduz no plano do pensamento; mediante a pesquisa, viabilizada pelo método, o pesquisador a reproduz no plano ideal, a essência do objeto que investigou. (NETTO, 2011, p. 22).

Ao investigar o objeto partindo da aparência visando chegar à essência, e

que, consequentemente, chega-se ao conhecimento, o pesquisador não será um

agente externo a todo o processo, pelo contrário ele estará implicado ao objeto.

Devido as colocações realizadas e baseadas em autores que abordam o

materialismo histórico e dialético, e compreendendo que essa concepção é a mesma

matriz teórica que norteia as Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação no

Estado do Paraná, conclui-se que essa concepção é a que melhor atende aos

objetivos do projeto.

Assim sendo, visando desenvolver os objetivos do projeto expostos

anteriormente, pretende-se desenvolver um curso com 08 encontros de 04 horas

cada, cujo material didático será elaborado e aplicado por intermédio de uma

sequência didática, com conteúdos ministrados para 20 (vinte) professores de

Educação Física da Educação Básica da Rede Pública Estadual do Núcleo Regional

de Campo Mourão/PR.

O Núcleo Regional (NRE) de Campo Mourão é composto por 62

estabelecimentos de ensino que ofertam o ensino fundamental séries finais e ensino

médio, distribuídos por 16 municípios e conta com aproximadamente 150

professores de Educação Física do Quadro Próprio do Magistério (QPM) e contratos

pelo Processo Seletivo Simplificado (PSS).

Para a formação do grupo de professores que irão participar da proposta,

serão encaminhados convites para todos e não serão estabelecidos critérios de

seleção.

8 Para Marx, como todos os pensadores dialéticos, a distinção entre aparência e essência é

primordial; com efeito, “toda ciência seria supérflua se a forma de manifestação [aparência] e a essência das coisas coincidissem imediatamente (Marx, 1974b, p.939 apud Netto 2011, p. 22).

Para efetivação do referido projeto serão realizadas as seguintes fases:

a) Reunião com a Chefia do Núcleo Regional de Educação de Campo Mourão

para apresentação dos objetivos e solicitação de autorização para

desenvolver o projeto de intervenção;

b) Levantamento do número de computadores com acesso a internet disponível

nos Estabelecimentos de Ensino Rede Pública Estadual do Núcleo Regional

de Campo Mourão/PR;

c) Divulgação do projeto para todos os professores de Educação Física da

Educação Básica da Rede Pública Estadual do Núcleo Regional de Campo

Mourão/PR e selecionar os interessados em participar da proposta;

d) Elaboração do material didático na forma de um curso para uma turma

contendo 08 encontros de 04 horas cada;

1 - No primeiro encontro será aplicado o método de ZOPP (Planejamento de

Projeto Orientado por Objetivos) que de acordo com Cordioli (2001, p. 34) “é

desenvolvido segundo os princípios e elementos de um Enfoque Participativo de

trabalho. Normalmente, sua aplicação metodológica é baseada em passos

previamente estabelecidos e sequencias, tendo como referência o Marco Lógico

ou Lógica Framenwork”. A aplicação desse método será de grande valia para os

encaminhamentos futuros, pois nesse momento, será definido qual o primeiro

conteúdo a ser abordado com os professores.

2 – No segundo ao e sétimo encontro, será abordado o Elemento Articulador

Cultura Corporal e Saúde, conforme a sequência:

Problematização

Apresentação das TIC

Estudos Aprofundados

Elaboração das proposições pedagógicas

3 No oitavo encontro, será realizada uma avalição com os professores

participantes para análise dos encaminhamentos metodológicos aplicados,

para considerar os pontos positivos e negativos e compreender a importância

dos Elementos Articuladores nas aulas de Educação Física.

Breves Considerações

Após a realização das ações previstas na intervenção pedagógica, que teve

como objetivo apresentar possíveis articulações pedagógicas utilizando as TIC como

recurso didático na abordagem dos Elementos Articuladores durante as aulas de

educação física, é de suma importância, socializar os resultados, dificuldades e

considerações encontradas durante a intervenção pedagógica. Compreende-se que

a intervenção pedagógica foi um processo complexo, não podendo ser analisado

apenas pelo prisma de resultados, ou seja, se os professores participantes

aprenderam a utilizar as TIC‟s de forma crítica na abordagem dos elementos

articuladores, mas é mister, compreender todos os fatores que interferiram

diretamente no processo.

Devido às normas acadêmicas organizadas pela SEED para a estruturação,

do artigo final, as quais estabelece-se que o artigo deva possuir no máximo 18

laudas, foi necessário escolher um dos conteúdos abordados nos 08 encontros, e

apresentar as considerações apenas deste encontro, para atender as normas.

Ressalta-se, que as informações, sugestões e análises dos outros 07 encontros não

serão apresentadas neste artigo, devido ao motivo exposto anteriormente.

Posto isto, inicialmente, quando estruturou-se a intervenção pedagógica, a

ideia era desenvolver com aproximadamente de 10 a 15 professores, porém, este

número não foi alcançado, sendo que a mesma foi realizada com 05 professores

que interessaram pela temática, mesmos os encontros sendo realizados durantes os

sábados no período matutino, para não atrapalhar a carga de trabalho dos

professores.

Esta intervenção pedagógica optou-se em aplicar o Enfoque Participativo

proposto por Cordioli (2001), sendo que esta metodologia permite extrair muitas

informações durante as discussões e as atividades.

Após expor o pano de fundo da construção do artigo, inicia-se a apresentação

das considerações dos professores referentes ao 03 encontro, o qual abordou a

temática saúde e esporte de rendimento. A escolha por este encontro foi motivado

pelo fato das relações entre esporte, megaeventos e elementos articuladores,

principalmente que no ano de 2014, onde o Brasil sediou a Copa do Mundo FIFA, os

quais produziram discussões riquíssimas.

Neste encontro, evidenciou-se que os professores possuem conhecimentos

referentes aos temas propostos, sendo que as discussões partiram dos

conhecimentos empíricos e científicos dos professores participantes.

Na abordagem do tema esporte na escola constatou-se que os professores

reconhecem a necessidade de trabalhar o esporte nas aulas de educação física,

mas que este (esporte) é trabalhado, conforme o excerto a seguir:

Nossos alunos devem praticar o basquetebol, futsal e voleibol entre outros, devem aprender os fundamentos básicos, mas não estamos aqui para formar atletas, pois nem temos como fazer isso com apenas 2 aulas semanais. (Professora 01)

Levo meus alunos para quadra, até porque acredito que isto é necessário nos dias de hoje, pois tenho uma turma de segundo ano do médio, que se deixar não fazem nada [...] ensino os esportes, mas como recreação, não para serem atletas. (Professora 02)

Ao analisar os discursos dos professores 01 e 04, constata-se que esporte dentro

do ambiente escolar, é compreendido como uma prática corporal, que segue as

base DCE‟s de Educação Física, e a escola não tem a função de formar atletas,

constatando que os professores entendem que:

A negação do esporte não vai no sentido de aboli-lo ou fazê-lo desaparecer ou então, negá-lo como conteúdo das aulas de EF. Ao contrário, se pretendemos modificá-lo é preciso exatamente o oposto, é preciso tratá-lo pedagógicamente. É claro que, quando se adota uma perspectiva pedagógica crítica, este "tratá-lo pedagógicamente" será diferente do trato pedagógico dado ao esporte a partir de uma perspectiva conservadora de educação. (BRACHT, 2001, p. 16)

O tema megaeventos provocou discussões que apresentaram senso crítico

elevado, os professores afirmaram que os conteúdos e os vídeos trabalhados

durante as discussões, deveriam ser apresentados aos alunos, para que os mesmos

pudessem ter consciência dos interesses políticos, sociais e econômicos que

estavam por de trás do evento.

Eu acredito que as novas tecnologias, podem ajudar na abordagem do esporte de rendimento, que sabemos que não saudável, e sobre a Copa do Mundo, podem apresentar algo que a televisão não mostra. (Professor 05)

O investimento que esta sendo feito na Copa do Mundo é gigantesco. Poderíamos investir em saúde e educação. O duro que seremos nós que pagaremos a conta, e tem muita gente que nem sabe disso. (Professor 04)

Nas colocações dos Professores 04 e 05, pode-se constatar que as TIC são

recursos que podem fornecer informações para a compreensão da totalidade do

fenômeno esportivo, neste caso a Copa do Mundo.

Para a análise dos megaeventos ou do esporte de alto rendimento, concorda-

se com Kenski (2007, p.45) que as TIC “quando bem utilizadas, provocam a

alteração dos comportamentos de professores e aluno, levando-os ao melhor

conhecimento e maior aprofundamento do conteúdo estudado”.

Masseto (2000, p. 152), corrobora ao expor que as tecnologias podem

“dinamizar nossas aulas, tornando-os mais vivos, interessantes, participantes e mais

vinculados com a nova realidade de estudo, de pesquisa e de contato com os

conhecimentos produzidos”.

Ressalta-se, que para poder compreender a totalidade da complexidade dos

megaeventos, é necessário considerar os fatores sociais, políticos e principalmente

os econômicos.

Com o acesso a estas informações, os professores acreditam que os alunos

teriam a possibilidade de definirem “os seus conceitos, valores e convicções” (DCE,

2008, p.18), possibilitando desta maneira, posicionar-se a favor ou contra o evento.

As breves considerações relatadas possibilitaram algumas reflexões sobre a

intervenção pedagógica. Inicialmente, acredita-se que esta intervenção, é o primeiro

passo para poder fomentar a utilização das tecnologias nas aulas de educação física

de forma crítica, possibilitando discussões de temas e conteúdos que são poucos

abordados durante as aulas.

Entende-se que as TIC são recursos didáticos que podem auxiliar no

processo de ensino e aprendizagem nas aulas de educação física, mas antes é

primordial que os professores ampliem seus conhecimentos básicos de como aplicar

as tecnologias como recurso didático que possibilite a abordagem dos Elementos

Articuladores de maneira crítica.

Assim, para que as TIC sejam utilizadas efetivamente como recurso no

processo de ensino, existe um longo caminho a ser percorrido. Formação

continuada de professores deve ser ofertada pela SEED, são algumas ações que

auxiliar na superação do quadro atual.

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