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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
CARTOGRAFIA SOCIAL: POR QUÊ? PARA QUEM?
Autora: Juliana Carla Muterlle1
Orientadora: Drª Ângela Massumi Katuta 2
Resumo: Este artigo trata da discussão referente ao projeto: O uso da cartografia social no ensino da geografia no curso de formação docente, implementado na disciplina de Metodologia de Ensino da Geografia, nos 4º anos, do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental do Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto. Os objetivos do trabalho estavam voltados ao desenvolvimento de atividades a partir da cartografia social, a fim de entender os arranjos espaciais locais, onde os estudantes estão inseridos e a sociabilização dos conhecimentos construídos por meio de várias linguagens e atividades. Para atingir os objetivos propostos buscaram-se subsídios na pesquisa-ação, considerando que os sujeitos que nela se envolvem compõem um grupo com objetivos e metas comuns, interessados em um problema que emerge num dado contexto no qual atuam desempenhando seu papel. Nesse processo, foi fundamental o diálogo com os professores da rede pública de ensino, através do Grupo de Trabalho em Rede, para a análise e debate da proposta tendo como pano de fundo suas experiências em sala de aula. Em relação às atividades desenvolvidas pelas alunas
3,
constatou-se que ampliaram seu entendimento sobre o lugar onde estão inseridas bem como sobre a relação deste com outros lugares de sua convivência, assim, compreenderam o significado e importância da cartografia social no entendimento e ensino de conhecimentos da geografia. Palavras-Chave: Cartografia Social; Ensino de Geografia; Séries Iniciais do Ensino Fundamental.
Introdução
Este artigo discute a cartografia social, a partir da implementação do projeto PDE
intitulado “O uso da cartografia social no ensino da geografia no curso de formação
docente” no 4º ano do Curso de Formação de Docentes, do Instituto de Educação do
Paraná Professor Erasmo Pilotto, na disciplina Metodologia de Ensino da Geografia.
Considerando que a base para a construção dos conhecimentos geográficos
escolares ocorre na educação infantil e nos anos iniciais da educação fundamental, torna-
se importante trabalhar os conteúdos básicos de geografia e a construção de
metodologias adequadas visando o aprendizado dos estudantes. Portanto, fortalecer a
formação inicial de docentes contribui na organização do trabalho com esses estudantes
fortalecendo o ensino e a aprendizagem dos saberes geográficos. Rever o trabalho
docente na escola é fundamental, considerando a atual sociedade onde essa instituição
está inserida e a necessidade de um ensino que considere os saberes estudantes.
Portanto, nos propusemos repensar o ensino da Geografia de forma que este processo
1 Mestrado em Gestão do Território, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, especialização em
Administração, pelo Centro Universitário Franciscano do Paraná - FAE, licenciatura em Geografia, pela Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões. Atualmente é professora no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto em Curitiba/PR. 2 Doutorado em Geografia pela Universidade de São Paulo, mestrado em Desenvolvimento Regional e
Planejamento Ambiental pela Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho - UNESP, licenciatura e bacharelado em Geografia pela UNESP, São Paulo. Atualmente é professora titular da Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral. 3 Fiz a opção por intitular aluna ou alunas, pois no universo de oitenta e seis sujeitos tenho três alunos.
colabore para que eles compreendam os arranjos espaciais de sua vivência podendo
transformá-los.
A fundamentação metodológica está embasada na pesquisa-ação, pois trata-se,
em nosso entendimento, de uma metodologia que contribui no processo de formação de
docentes de forma diferenciada e que nos permitiu pensar e implementar aspectos da
cartografia social para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Para Pimenta (2005, p.
523):
A pesquisa-ação tem por pressuposto que os sujeitos que nela se envolvem compõem um grupo com objetivos e metas comuns, interessados em um problema que emerge num dado contexto no qual atuam desempenhando papéis diversos: pesquisadores universitários e pesquisadores (professores no caso escolar).
Assim, a pesquisa-ação corresponde a uma pesquisa social que surge a partir
das necessidades de grupos. No caso da escola, os professores participam dessa
pesquisa colaborando para que os objetivos sejam atingidos. O diálogo entre esses
sujeitos contribui na identificação e resolução de desafios por meio de seus
conhecimentos construídos no chão da escola.
Para Gamboa (2012), nesse tipo de pesquisa é importante articular o diagnóstico
com a intervenção, para que a última seja concretizada na escola. O grupo de professores
deve apresentar poder político de decisão e de atuação. Assim, “[...] a principal vocação
da pesquisa-ação é principalmente investigativa, dentro de um processo de interação
entre pesquisadores e população interessada, para gerar possíveis soluções aos
problemas detectados.” (SILVA; THIOLLENT, 2007, p. 94).
Para atingir os objetivos deste trabalho e entender a organização do Curso de
Formação de Docentes na referida escola, buscou-se a análise dos documentos
elaborados pela mesma - Projeto Político Pedagógico e a Proposta Pedagógica
Curricular. Em seguida, confrontamos estes documentos com os disponibilizados pela
Secretaria de Estado da Educação/PR, quais sejam: Proposta Pedagógica Curricular do
Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, em Nível Médio, na Modalidade Normal (2006), e os Fundamentos
Teóricos-Metodológicos das Disciplinas da Proposta Pedagógica Curricular, do Curso de
Formação de Docentes – Normal, em Nível Médio (2006).
Considerando que os estudantes do Curso de Formação de Docentes fazem seus
estágios também nos anos iniciais do Ensino Fundamental, torna-se importante o
levantamento dos conteúdos geográficos a serem neles trabalhados. Para tanto, foram
analisados as Diretrizes Curriculares para a Educação Municipal de Curitiba (2006), o
Currículo para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental do município de Cascavel e alguns
livros didáticos. Devido à diversidade de material disponibilizado no mercado, optou- se
pelos Livros Didáticos melhor avaliados pelo Programa Nacional do Livro didático (PNLD)
2010 do Ministério de Educação (MEC).
Neste artigo relatamos as atividades de formação, a implementação do projeto
PDE; bem como abordamos o conceito da Cartografia Social e a possibilidade de seu uso
no Curso de Formação docente; a importância da Cartografia nos anos iniciais; o
processo de elaboração e implementação do material didático, bem como a formação que
realizamos no Grupo de Trabalho em Rede.
A implementação do material didático
Inicialmente acreditava que uma oficina para a aplicação do projeto seria mais
interessante para obter uma maior aproximação das alunas com a temática proposta, mas
devido à estrutura do Curso e às inúmeras oficinas obrigatórias que as mesmas
participam foi necessário repensar a implementação. Assim, o material foi aplicado em
quatro turmas do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do
Ensino Fundamental em Nível Médio, sendo que três delas foram na modalidade normal-
integrado e uma na modalidade normal- aproveitamento de estudos.
Observou-se o interesse na temática e, ao mesmo tempo, algumas dificuldades
no domínio de determinados conteúdos da geografia, pois ao questionarmos o que
lembravam dos conteúdos dessa matéria, as respostas dadas indicavam lembranças de
temas estanques como: relevo, globalização, mapas, bacias hidrográficas, nomenclatura
dos estados, vegetação, capitalismo, clima, coordenadas geográficas, urbanização e
regiões. Foi significativo o número de alunas que disseram não lembrar de nenhum
conteúdo, o que é bastante preocupante tendo em vista que, em tese, as mesmas irão
trabalhar os temas da geografia com os seus educandos.
A construção dos mapas (Figuras 1, 2, 3 e 4) relacionados ao bairro foi realizada
de maneira tranquila e os trabalhos das alunas ficaram muito bons, demonstraram
também conhecimento dos elementos que compõem esses lugares e suas relações com
outros.
Figura 1: Meu Bairro Autora: Maira, 2014
Figura 2: Mapeando o Bairro Autora: Bruna, 2014
Figura 3: Caximba/ Campo do Santana Autora: Lais, 2014
Figura 4: Capão Raso Autora: Eloane, 2014
Essa atividade intitulada de Cartografando o seu lugar..., desenvolvida pelas
alunas, teve como objetivos que as mesmas representassem os bairros onde moram para
depois analisarem os elementos presentes em suas representações. Na Figura 1,
percebe-se que a Maira detalhou os elementos que compõem esse lugar, mas não
indicou o nome das ruas. Na Figura 2, a Bruna detalhou alguns elementos de seu
interesse, indicando também o nome das ruas onde cada elemento está localizado.
Verifica-se por meio da Figura 3 que a Laís, ao representar seu bairro, conseguiu detalhar
muito mais os elementos próximos à sua casa, tais como as moradias dos vizinhos, dos
familiares e as várias empresas de cerâmica instaladas no lugar. Na Figura 4, percebe-se
que a Eloane mapeou poucos elementos, representou sua casa e a de sua avó, o que
para ela são fundamentais.
A partir desta atividade, percebemos que algumas alunas tem maior
conhecimento dos elementos existentes no lugar onde moram, sendo as representações
elaboradas pelas mesmas mais detalhadas em comparação com aquelas que colocaram
um número menor de detalhes em suas representações, indicando possivelmente que os
elementos que compõem os lugares passam desapercebidos.
Depois de mapearem o lugar onde moram, as alunas foram desafiadas a produzir
mapas com os lugares essenciais e importantes para suas vidas (Figuras 5, 6, 7 e 8).
Para tanto, tivemos que romper com o conceito de escala e com algumas regras da
cartografia temática. A atividade recebeu como título Espaços importantes na minha
vida... O fato de desprenderem-se do que está metricamente próximo e serem desafiadas
a representarem lugares distantes gerou certo desconforto e muitas dúvidas, pois
problematizaram como iriam representar em uma folha de papel A4 distâncias tão
grandes, o que pode indicar certo domínio da noção de escala, daí o incômodo de romper
com a mesma. No final, a maioria das produções corresponderam ao objetivo proposto.
Figura 5: Lugares de minha preferência Autora: Maira
Figura 6: Lugares preferidos que eu frequento Autora: Cybele
Figura 7: Essenciais Autora: Beatriz
Figura 8: Meus Lugares Autora: Tatiana
Cada mapa feito pelas alunas mostra seus lugares de interesse. Na Figura 5, da
Maira e na 6, da Cybele, é possível identificar a ligação da capital do estado com a faixa
litorânea. A Figura 7 da Beatriz indica ligações estabelecidas entre o interior do Paraná e
a faixa litorânea do estado. Na Figura 8 observa-se que a aluna Tatiana apresenta um
número maior de localidades e que também são mais distantes, ou seja, seus lugares
essenciais ultrapassam as fronteiras do Paraná. Ainda que representar lugares
desconsiderando a escala cartográfica tenha sido algo complicado, verifica-se que a aluna
atingiu os objetivos propostos para a atividade. Atualmente, com a intensificação das
possibilidades de conectividades com outros lugares as relações estabelecidas pelas
pessoas ultrapassam as fronteiras dos lugares onde moram, podemos inferir isso pelas
representações das alunas.
A proposta do material didático foi possibilitar as alunas do Curso de Formação
Docente o pensar sobre: Como é o lugar onde moram? Quais as relações desse lugar
com outros? Que relações possuem com outros lugares? Assim, depois de refletirem e
mapearem esses lugares, as alunas foram a campo para fazer esses mesmos
questionamentos às crianças que estão no 5º ano do Ensino Fundamental. Esse
levantamento possibilitou reflexões sobre os conhecimentos dessas crianças acerca dos
espaços em que vivem. Eis algumas observações escritas das estudantes:
Conclui-se que mesmo crianças eles sabem identificar [...] seus lugares preferidos é bastante importante trabalhar desde cedo, fazendo-os com que desenvolvam cada vez mais sua noção de espaço. (Daniele, Dayane, Bruna e Aline, 2014) [...] As crianças já tem noção de espaço, isso nota-se ao observar o desenho das janelas das casas, onde estão localizadas, quantas são, as ruas que vira para a direita e depois para a esquerda, que nesta devida quadra fica aquela casa de cor amarela... que eles sabem escolher lugares importantes em que preferem estar com mais frequência, como eles observam cada detalhe fazendo o trajeto até a escola, etc, cada detalhe dos desenhos é muito importante. (Bruna Karolyne, Eloane. Gabriele, Paloma, 2014) [...] temos que dar importância ao universo da criança e assim montarmos aulas em que elas se sintam interessadas, pois faz parte da tua vivência e faz parte de seu cotidiano, assim a criança se interessa e aprende a aperfeiçoar suas noções de localização e espaço. (Damaris, Jessica, Laís, Vanessa, 2014) [...] Devemos considerar o conhecimento das crianças para elaborarmos as aulas de geografia [...] sem o contexto social dos alunos a geografia será mais uma matéria que tende a ser aprendida por aprender e não para ser usada [...]. (Dâmaris, José e Tatiana, 2014) Conclui com os desenhos de cada criança que pouco sabem relatar bem onde moram e vivem, não sabem identificar e relatar os lugares onde moram. (Letícia, 2014)
Esse contato das alunas com as crianças foi importante para que tivessem
consciência do conhecimento das mesmas em relação ao lugar onde moram e também
para que conseguissem estabelecer a relação desse conhecimento com o currículo oficial.
Após as discussões, atividades e pesquisa realizaram a aula de campo intitulada
Percurso Urbano (Figura 9), na região central de Curitiba. Iniciamos pela Praça Rui
Barbosa, seguindo para a Santa Casa de Misericórdia, Praça Osório, Boca Maldita, Av.
Luiz Xavier, Av. XV de Novembro, Praça Tiradentes, Pelourinho, Paço da Liberdade,
Praça Generoso Marques, Praça Zacarias, finalizando o percurso no Instituto de
Educação. Veja a seguir o trajeto realizado.
Figura 9: Percurso Urbano
Autora: Muterlle (2014) Nota: Imagem trabalhada no Google Earth
Durante o percurso as atenções voltaram-se para as características dos locais
como a distribuição e organização do comércio, os elementos históricos, geográficos e
naturais da paisagem, os grupos sociais que transitam nesses locais. Um dos aspectos
paisagísticos que chamou a atenção foi os sem-teto que estavam em número bem
significativo, principalmente na Praça Rui Barbosa. O grupo de alunas foi abordado várias
vezes por pessoas a ele pertencentes. Questionamos as alunas o motivo que levam
essas pessoas a morarem na rua, várias respostas foram dadas desde aquelas que
indicavam posicionamentos mais moralistas, como outras que demonstravam
preocupação, passando pelas de cunho econômico. Enfim, abriu-se uma discussão
calorosa sobre a situação dessas pessoas. Outras questões que saltaram aos olhos
foram: a infestação de pombos, a enorme quantidade de lixo na rua (principalmente
durante a noite), o encontro de grupos de haitianos na Praça Tiradentes, o batalhão de
garis limpando as ruas no período noturno.
Cada percurso realizado teve os seus encantos, as belezas arquitetônicas, as
pessoas interessadas na aula que acompanhavam silenciosamente o grupo ou
perguntavam o que estávamos fazendo. Na Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora
da Luz, um dos grupos foi recebido pelo Gabriel que tocou um pouquinho do órgão de
tubos e contou a história da Igreja e da cidade de Curitiba.
Houve espanto das alunas ao se aproximarem do local onde havia o Pelourinho
(Figura 10) e a história da Maria Lata d’ Água4 (Figura 11). A aula de campo foi
interessante, todo o percurso foi realizado a pé, contamos com a colaboração dos
professores que liberaram as alunas, a professora Edinalva da área de Biologia também
acompanhou parte do percurso, enriquecendo o processo com os saberes de sua área,
principalmente na Praça Rui Barbosa.
Figura 10: Pelourinho Autora: Muterlle, 2013
Figura 11: Maria Lata d’ Água Autora: Muterlle, 2013
A atividade de finalização da implementação do material didático com as alunas
foi a análise dos Mapas participativos (Cartografia social) desenvolvidos pelas
comunidades tradicionais: Quilombolas, benzedeiras, pescadores. Os objetivos desse
momento foi o de reconhecer a importância da cartografia social para as comunidades
tradicionais e como podemos relacionar o ensino da geografia com a mesma. As alunas
tiveram um pouco de dificuldade, pois, cada comunidade cria sua legenda e apresenta
seu entendimento muito particular do lugar. Essa última atividade levou-as a
compreenderem um pouco do significado da Cartografia Social, como é realizada e
porque é realizada.
A partir das atividades e debates realizados verificamos que a Cartografia Social
pode auxiliar as alunas do Curso de Formação Docente no entendimento dos arranjos
espaciais onde vivem. A experiência em construir um mapa do lugar onde residem,
destacando os elementos mais importantes para sua sobrevivência poder ser relevante
4 Localizada na Praça Generoso Marques a escultura “Água pro Moro” do paranaense Erbo Stenzel, 1944,
esta instalada na fonte “Maria Lata d’Água. Essa escultura está voltada para o local onde foi levantado o Pelourinho da Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, em 1668.
para as mesmas durante o processo de aprendizagem ligado ao tema da linguagem
cartográfica.
Mas por que falar de Cartografia Social? O que ela significa? Qual é sua
importância? Com esses e outros questionamentos as alunas tiveram a oportunidade de
compreender um pouco mais sobre essa forma de se fazer cartografia.
A Cartografia Social
A cartografia social é considerada um ramo do conhecimento cartográfico que
está voltada às questões sociais, proporcionando aos povos tradicionais auxílio na
demarcação de seus territórios, reafirmando seus sentimentos de pertencimento e os
instrumentalizando na luta pelos direitos sobre eles. Nesse processo de “mapeamento
participativo” em determinados momentos ocorre a participação de pesquisadores e o uso
das técnicas cartográficas para a construção desses mapas.
Essa questão é reforçada na apresentação da obra Cartografia Social e Território
por Aurélio Vianna (2008) que enfatiza a importância da produção acadêmica contribuindo
com a sociedade em seus movimentos sociais nos processos de “mapeamento
participativo” para o reconhecimento de novas territorialidades em terras quilombolas,
reservas de desenvolvimento sustentável, terras indígenas, reservas extrativistas e em
áreas de assentamento. Assim, “[....] o Brasil apresenta-se como um caso exemplar de
transformação de demandas sociais em políticas publicas.” (VIANNA, 2008, p. 7). Assim,
ao
[...] considerar o andamento do debate contemporâneo sobre cartografias sociais e mapeamentos participativos, tais iniciativas poderão ser vistas ora como esforços de resistência às dinâmicas da globalização, ora como instrumento de apoio à efetivação mesma destas dinâmicas. O modo como cada experiência interage com os processos geoestratégicos mais gerais poderá revelar, dentro do subcampo da cartografia participativa, diferentes linhas de aglutinação: algumas delas, constituindo práticas visando 'integrar' territórios – inclusive através da fixação harmônica de limites e fronteiras. (ACSELRAD, 2008, p.10)
É possível considerar que a confecção de mapas com a participação da
comunidade, venha proporcionar ao leitor e aos demais sujeitos uma visão diferenciada
da área mapeada, pois neles estará materializada a visão do grupo que desenvolveu esse
trabalho, assim como os significados e a importância dados para cada elemento presente
nestas representações.
Mesmo que o mapa seja “[...] hoje, ao mesmo tempo, supervalorizado e
largamente ignorado. O mundo do mapa continua a ser um domínio à parte que traz uma
série de efeitos específicos de linguagem, muito além de sua mensagem explícita.”
(LÉVY, 2008, p. 154). A linguagem presente nos mapas é imprescindível ao ensino da
Geografia, sem eles teríamos uma disciplina estéril e sem vida.
A cartografia é um saber a ser considerado no ensino da geografia? Qual é a
importância da cartografia neste contexto?
A importância da Cartografia nos anos iniciais
A Geografia vai muito além da mera descrição da Terra, pois acompanha o
movimento da sociedade. Portanto, é importante “[...] tomar a geografia como a ciência de
análise das formas espaciais que transformam as relações homem-meio e homem-
homem numa dada formação econômico-social.” (MOREIRA, 2007, p. 66). Assim, a
geografia estuda a organização do espaço geográfico produzido pela sociedade humana
em diferentes escalas de análise.
Considerando a definição transcrita, há três questões importantes dentro da
Geografia escolar que a complementam: “Onde? Por que aqui e não noutro lugar? Como
é esse lugar?” (FILIZOLA, 2006, p. 148).
Essas questões podem auxiliar no processo de investigação de um problema
geográfico e na formação de uma consciência espacial. Não há dúvida que o ensino da
Geografia na educação infantil e nos anos iniciais proporciona a base da formação dessa
consciência espacial. Através das
[...] brincadeiras, os jogos, as cantigas dentre outras linguagens possibilitam tanto
um conhecimento, uma consciência de seus movimentos e de seus próprios corpos quanto dos espaços que elas, crianças, vivenciam. Saltar, pular, se arrastar, escorregar, encostar e muitas outras ações envolvem o espaço e o seu entendimento. Não há como desconsiderar o papel da pré-escola para que as crianças se apropriem do espaço. (FILIZOLA, 2006, p. 148)
Também se aprende brincando e a geografia pode colaborar nesse aprendizado.
Assim, o processo de alfabetização, concebido de uma forma ampla, pode ocorrer com a
participação de todas as disciplinas, inclusive com a geografia que pode, como as outras,
auxiliar na compreensão de mundo. Dessa forma, elencamos alguns conteúdos para os
anos iniciais do Ensino Fundamental, tendo como base os documentos anteriormente
citados, a fim de auxiliar na elaboração de metodologias voltadas ao ensino da Geografia:
Ano Conteúdo
2 º Representação do seu corpo; Configuração do grupo social ao qual pertence sua família; Abordagem dos espaços próximos ao aluno: casa e escola; Localização e representação: casa e escola.
3º Lugares: Casa, rua, bairro, escola, envolvendo a localização, identidade, paisagem;
Estudo das paisagens: urbano, rural; Linguagem cartográfica; Orientação: pontos cardeais, corpos celestes; Instrumentos convencionais de orientação.
4º O ser humano e a natureza; Problemas ambientais; Interdependência cidade-campo; O trabalho e a tecnologia nas paisagens; Componentes de uma paisagem.
5º Conhecendo o Brasil: paisagens, regionalização, urbanização; Localização geográfica do estado do Paraná; Paisagens: urbano e rural; Arranjos geográficos trabalhados com o auxilio da linguagem gráfica e linguagem cartográfica; Município.
Para que ocorra a compreensão o espaço geográfico em diferentes níveis
escalares torna-se importante o entendimento dos arranjos espaciais que estão
associados a um conjunto de ações materializadas no meio, consequência do trabalho
humano produzido ao longo da história. De acordo com seus interesses e necessidades,
a sociedade altera suas condições de vida, deixando as marcas de suas ações
estampadas nesse meio.
Para ampliar o entendimento dos arranjos espaciais torna-se importante
compreender a relação existente entre a Sociedade e a Natureza, assim como os
elementos que fazem parte de sua composição. Dessa forma, os estudantes poderão
adquirir mais subsídios para a realização de uma leitura crítica da organização espacial
local e global. Considerando ainda que as diferentes linguagens auxiliam o estudante
nessa leitura crítica do mundo, a linguagem cartográfica pode ser considerada
fundamental nessa tarefa.
Mas, de que forma a Cartografia Social colaboraria no entendimento dos arranjos
espaciais onde os estudantes estão inseridos?
Cartografia Social no Curso de Formação de Docentes
Contribuir para a aprendizagem do conhecimento geográfico nas séries iniciais do
ensino fundamental requer professores preparados e com uma boa formação inicial. As
Diretrizes de Formação de Docentes especificam a importância do encaminhamento dos
jovens para a profissão de educadores, para tanto, propõem um currículo voltado aos
fundamentos das diferentes ciências e artes, em especial nas ciências da educação. O
currículo deve apresentar a ligação entre o “fazer e o saber fazer”, relacionando os
saberes disciplinares entre si, fugindo de um currículo dicotomizado (PARANÁ, 2006). Na
formação inicial ou continuada de professores é necessário entender que o
[...] objeto de trabalho do professor não são coisas, são pessoas (alunos), é o outro, é seu semelhante, e não um objeto sobre o qual o professor plasma sua subjetividade, mas trata-se sobretudo de outro ser humano. Por sua vez, os meios de trabalho também são diferenciados: o meio de trabalho é o próprio professor e a relação social, num processo de trabalho complexo e diferente do processo de produção material, porque se inicia e se completa em uma relação estritamente social, permeada e carregada de história, de afeto e de contradições, características próprias das relações entre os seres humanos. (PARANÁ, 2006, p. 24).
Dessa forma, o professor pode colaborar no processo de transformação social,
através do seu trabalho. Contribuindo na emancipação intelectual dos alunos, por meio da
construção de uma visão mais crítica do mundo em que vivem. Portanto, é necessária
uma formação adequada do professor que pretende atuar com as crianças em processo
de alfabetização, dominando os conhecimentos psicológicos, filosóficos, sócio-
antropológicos, psicolinguísticos, entre outros. (PARANÁ, 2006)
Ao relacionar os objetivos pedagógicos e educacionais a ação docente volta-se
ao desenvolvimento dos conteúdos em salas de aula. A prática docente pode contribuir
para a transformação conceitual dos estudantes, na perspectiva da construção do
conhecimento. O professor torna-se um colaborador para que os estudantes
compreendam os arranjos espaciais que vivenciam, formulando um melhor entendimento
do mundo para quem sabe nele intervir.
Pensando na formação docente, de que forma sua atuação poderá fazer
diferença na construção do conhecimento geográfico de seus alunos?
Para Kaercher (2007, p. 4), “[...] ao mesmo tempo que a razão é limitada em seu
poder de educar e de seduzir, ela pode melhorar minha capacidade de educar e de
seduzir. Em outras palavras o educador não é nada nem tudo, mas um algo não
desprezível.”
Para Lopes (2010, p. 28):
O conhecimento do professor ou 'saber docente' é aquele adquirido pela reflexão na e sobre a experiência profissional e pessoal e compõe, em jogo dialético, com conhecimentos formalizados cientificamente – seja no campo da ciência de referência, seja no campo das ciências da educação – e adquiridos em outros âmbitos, o 'conhecimento profissional do professor'. (grifo do autor)
Portanto, o professor da educação básica é um mediador do processo de ensino-
aprendizagem, não é simplesmente repassador do conteúdo, mas é colaborador na
construção do conhecimento.
A elaboração do material didático
A elaboração do material didático foi um grande desafio. Muitas questões
precisavam ser pensadas: O que fazer? Como fazer? De que forma deixá-lo interessante
aos olhos de professores e alunos? Como a Cartografia Social poderia contribuir na
disciplina de Metodologia de Ensino da Geografia no Curso de Formação de Docentes,
para o entendimento dos arranjos espaciais locais? O desafio estava posto e deveria ser
vencido.
Pensando no que fazer parte-se do princípio de valorização do conhecimento
prévio dos alunos construídos na sua realidade. Dessa forma, cabe a geografia abordar
de forma reflexiva o papel dos atores sociais na organização do seu espaço, entendendo
o conjunto de objetos e ações que o formam. (FERNANDES; GEBRAN, 2010).
Assim,
[...] é necessário abordar uma Geografia reflexiva, capaz de considerar o papel dos atores sociais no seu espaço cotidiano, a fim de que professores e alunos possam compreender a importância dos conteúdos geográficos na sua vida. (FERNANDES; GEBRAN, 2010, p. 257)
Usamos como base a abordagem desses autores para pensar a aplicabilidade do
material didático no curso de Formação de Docentes, pois a mesma permite estabelecer
relações entre as realidades das alunas que frequentam o curso com aquelas vivenciadas
pelos alunos do 5º ano do ensino fundamental.
Iniciou-se o material didático com uma imagem “Mapa Invertido” de Joaquin
Garcia-Torres (1935), justamente para chamar a atenção de nossas alunas. O artista
Uruguaio ao apresentar o mapa da América do Sul "invertido" (com o sul na parte
superior), provoca a pensar na necessidade da busca por um caminho próprio pelos
habitantes deste continente. Assim, usa uma representação cartográfica para chamar a
atenção sobre as questões políticas e sociais da America do Sul.
No material produzido colocamos em destaque algumas citações com o objetivo
de chamar a atenção das alunas quanto ao pensamento de alguns pesquisadores como:
Gebran (1990), Katuta (2000, 2004), Lacoste (1998), Smielli (2007) e Straforini (2008). As
citações serviram para a fundamentação teórica sobre a temática proposta no material,
assim, procuramos estabelecer relação entre teoria e prática.
O material foi pensado para que as estudantes compreendessem o conteúdo e
também para que pudessem desenvolvê-lo com os educandos da educação infantil e
séries iniciais. Assim, no final do mesmo foi acrescentado um manual para cada uma das
unidades, indicando os seus objetivos, a sugestão de duração e as expectativas de
aprendizado.
Antes mesmo desse material ser utilizado pelas alunas ele foi disponibilizado para
os professores da rede, através do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), para analisarem e
opinarem sobre sua relevância para o público a que ele se destina.
A formação em rede
Concomitante ao período de desenvolvimento do Projeto de Intervenção
Pedagógica também ocorreu o Grupo de Trabalho em Rede, que compõe uma das
atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). O GTR constitui-se na
interação virtual entre o professor PDE e os demais da Rede Pública Estadual, e tem
como finalidade proporcionar formação continuada aos mesmos. Esse ambiente
oportuniza aos professores uma discussão sobre o trabalho na sala de aula, promovendo
o aprofundamento teórico-metodológico, inicialmente a partir da socialização do Projeto
de Intervenção Pedagógico na Escola, que possibilita a troca de ideias e experiências
sobre temáticas ligadas ao mesmo. As atividades desenvolvidas no GTR permitiram a
interação dos participantes, a troca de conhecimentos e experiências entre os
profissionais.
Inicialmente foi apresentado aos professores o Projeto de Intervenção
Pedagógica na Escola, possibilitando a discussão, assim como a fundamentação teórica
relacionada à temática proposta. Os professores analisaram a relevância do projeto,
considerando a problemática, a justificativa do projeto, os objetivos, a articulação entre a
teoria e a prática do tema proposto, assim como as contribuições desse estudo para a
Educação fundamental.
Nas linhas que seguem, transcrevemos diversas observações e apontamentos
dos professores que participaram do GTR acerca da importância do trabalho com a
Cartografia Social no ensino de geografia. A professora K. R. afirmou:
"A cartografia social é importante para todo o ensino, especialmente nas séries iniciais, onde os alunos recebem a base, os primeiros encaminhamentos para que, posteriormente, possam aprofundar esse conhecimento tão importante para a compreensão dos arranjos e da consciência espacial, compreendendo melhor o mundo em que vivem."
A analise realizada pela professora J. L. G. M., destaca que a
[...] A experiência em construir um mapa do lugar onde residem, destacando os elementos mais importantes para sua sobrevivência pode ser uma experiência importante, para os estudantes durante o processo de aprendizagem relacionado é linguagem cartográfica. [...]
A professora C. T. K. enfatiza que o projeto: "[...] tende a contribuir para a contextualização dos conteúdos abordados no espaço escolar, fazendo uso da cartografia sendo que a mesma configura-se em um sistema de comunicação, como material de apoio para que o educando adquira o conhecimento e possa interagir no meio social em que vive. Por meio dessa linguagem cartográfica o professor tem condições de facilitar a aprendizagem, fazendo a interpretação do mundo real, codificando informações, abordando o cotidiano e trabalhando com a realidade social existente tornando-se o mediador entre o conhecimento científico e o saber popular. [...]"
A professora M. J. D. L. destaca a importância da alfabetização nos anos iniciais
do ensino fundamental, ou seja,
"[...] que o aluno seja alfabetizado não somente na escrita, mas também cartograficamente, isso ajuda o educando a conseguir compreender as dinâmicas espaciais. O professor deve desenvolver nos alunos a capacidade de observar, analisar e interpretar de forma crítica o espaço geográfico e as sua modificações, e também estabelecer que o aluno tenha uma consciência afetiva e social dos elementos que compõem o espaço geográfico [...]"
O professor M. A. Q. apesar de entender que o projeto apresenta-se de forma
coesa, levanta inúmeros questionamentos sobre as questões conceituais do projeto:
"[...] acredito que o termo arranjos espaciais seja interessante embora me pareça que seja um termo criado pela corrente de pensamento da Geografia quantitativa, mas creio que Ruy Moreira também escreve sobre os arranjos espaciais. Acredito que o tema é necessário no sentido de se trabalhar com as questões locais, ou seja, a partir da contextualização da Geografia local, o estudante vai perceber como a Geografia é necessária para o seu dia-a-dia. [...] Acredito que a cartografia Social seja de inspiração fenomenológica, porém, as Diretrizes Curriculares apresentam-se inspiradas nos pressupostos da geografia Crítica e fundamentada epistemologicamente no materialismo histórico-dialético. Assim, como deveríamos trabalhar essa temática nas escolas e colégios da rede pública de ensino? A relação escalar também é necessária visto que nos anos inicias também se trabalha com o Brasil e com a América do Sul. Então, como fazer uma relação da cartografia Social com o Brasil, a América do Sul ou qualquer conteúdo que lecionamos na disciplina de Geografia? Essas indagações são necessárias para se pensar as relações escalares necessárias para o pleno aprendizado de uma Geografia necessária a vida de nossos estudantes." (grifo meu)
As contribuições e questionamentos dos professores em relação ao projeto foram
vários, porém, pelo exposto, é possível perceber que a maioria concorda que a linguagem
cartografia é importante para o Ensino da Geografia e que deveria ter início no 1º ano do
ensino fundamental e ser trabalhada ao longo de todo processo de escolarização. Dessa
forma, os alunos seriam alfabetizados cartograficamente. Lembrando que primeiramente
devem ser mapeadores para posteriormente serem leitores de mapas, ou seja, a criança
primeiro percebe o espaço, o vivencia para depois ter condições de representá-lo.
A cartografia social pode ser considerada como uma metodologia de trabalho,
sendo uma variação da cartografia, ela é organizada a partir do levantamento e
mapeamento dos territórios fundamentais à existência dos sujeitos, bem como descreve
os lugares onde os mesmos coabitam. Dessa forma, entendemos que não é possível
taxá-la de fenomenológica ou compreender que está fundamentada na geografia da
percepção, trata-se de uma forma simplista e equivocada de compreendê-la.
Na Temática II do GTR apresentamos a Produção Didático-pedagógica e foi
debatida sua viabilidade e, em seguida, foi analisado o referencial teórico-metodológico.
Para o professor V. D. S.:
"[...] observa-se a importância do ensino da Cartografia Social na formação de docentes e na preparação de profissionais que venham a dar mais importância no trabalho da cartografia no ensino de Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. A utilização da Cartografia Social está associada ao processo de produção e construção de mapas a partir da leitura e observação do espaço que está sendo analisado, contribuindo para a representação da superfície terrestre, das relações sociais e culturais e ainda para o melhor conhecimento do ambiente, aumento significativo de iniciativas pela busca de soluções para melhor gerenciamento do território, pois leva em consideração a vivência, as memórias e a forma de delimitar o espaço utilizando os signos que subsidiam a compreensão da organização espacial e como determinados grupos e sociedades se inserem no ambiente, considerando as manifestações culturais, políticas, religiosas e o saber tradicional. A partir disto levando em consideração uma Geografia reflexiva é de grande relevância o desenvolvimento deste trabalho com a elaboração de mapas partindo da realidade de cada indivíduo participante do projeto."
A professora K. R., também defende a importância da cartografia no ensino da
Geografia e sua importância nos anos iniciais do Ensino Fundamental, dessa forma:
"A Produção Didático-pedagógica certamente ampliará as discussões sobre a importância da cartografia no ensino da Geografia nas séries iniciais, será também um importante facilitador para que os alunos do magistério entendam os arranjos locais onde estão inseridos para que, possam repassar esse entendimento e conhecimento a seus futuros educandos. [...] O material proposto está bem completo, pois as atividades iniciam-se no espaço mais conhecido do aluno, a sua casa. Depois parte para a escola, o bairro onde mora, o entorno da escola. Essas atividades representam o dia a dia do aluno, facilitando seu entendimento, além disso, são bem variadas, trabalhadas através do lúdico e complementadas com a metodologia adequada para o ensino da Geografia (música, mapas, produção de croqui, imagens, fotos). Nesse sentido, o material proposto está adequado para se trabalhar com as séries iniciais e respondendo ao seu questionamento, uma sugestão que dou (não sei se caberia no contexto) seria iniciar algo sobre legendas, uso de símbolos."
A professora L. M. acrescenta que:
"Ao analisar a proposta, verifiquei que é possível ser trabalhada na escola pública e que a metodologia usada proporciona uma aprendizagem para as/os alunas/os do Curso de Formação de Docentes, futuras alfabetizadoras, que poderão pôr em pratica a experiência vivida/aprendida ou adaptar para sua realidade, pois todas as atividades apresentadas são acessíveis e de fácil aplicabilidade para os alunos, o que também proporciona o objetivo de ampliar as discussões no ensino da geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Aprendendo assim, a pensar o espaço. [...] não basta saber ler o espaço. É importante também saber representá-lo, o que exige determinadas regras, tais como, para fazer um mapa, por mais simples que ele seja, a criança poderá realizar atividades de observação e de representação. Ao fazer um desenho de um lugar que lhe seja conhecido ou mesmo muito familiar, ela estará fazendo escolhas e tornando mais rigorosa a sua observação. [...]"
A professora M. J. L. considera que
"[...] cartografia nas séries iniciais é muito importante, é neste momento que devemos alfabetizar cartograficamente as crianças, desta forma quando eles estiverem no ensino fundamental fase II eles terão boa noção cartográfica. O seu projeto é bem interessante, se o professor tiver uma boa formação, trabalhará a disciplina de geografia de forma que desperte o interesse do aluno. Geralmente os cursos de formação de professores dão mais importância às disciplinas de português e matemática. A forma que o seu projeto trabalha a cartografia social de forma lúdica, partindo de elementos que fazem parte da vida do aluno com significados afetivos, como elaboração de mapas do caminho que o aluno percorre de sua casa até a escola, utilizando o Google Earth e outras ferramentas das TICs, com certeza os alunos terão mais interesse em aprender cartografia."
Para o professor M. A. Q. sendo a cartografia social um encaminhamento
metodológico para entender os arranjos espaciais locais, torna-se importante
"[...] compreender esse espaço e a relação sociedade-natureza, através de atividades lúdico-pedagógicas é de extrema importância. No entanto, creio que a fundamentação teórica também é necessária para que se entenda a dinâmica que existe no espaço geográfico, neste caso específico a cidade de Curitiba. [...] É necessário a contextualização como uma estratégia para que os conteúdos, no nosso caso geográficos, sejam ressignificados e vivificados pelos nossos estudantes, assim teremos uma Geografia Viva, significativa para a tão propalada mudança de paradigma, na qual estamos inseridos. A unidade didática bem como a oficina, é bem vinda em um momento onde precisamos pensar um currículo diferenciado, onde o estudante também seja um dos principais atores na construção de novos encaminhamentos e conteúdos específicos, tornando a aprendizagem mais interessante para aqueles que dela a necessitam.
Nas discussões relacionadas à Temática II, os professores participantes acharam
relevante a proposta do material apresentado, pois a base para a construção dos
conhecimentos geográficos escolares inicia na educação infantil e nos anos iniciais da
Ensino Fundamental. Daí a importância de elencar os conteúdos básicos de geografia e a
construção de metodologias adequadas, assim como para o processo de alfabetização
cartográfica desses alunos.
A proposta para a Temática III, consistiu em apresentar as ações de
implementação do projeto, avaliar a aplicabilidade de nossa proposta, discutir os
encaminhamentos metodológicos.
Nessa parte do GRT os professores enfatizaram que:
"Ao analisar o seu Projeto de Intervenção Pedagógica, observei que o mesmo está muito bem elaborado e apresenta uma metodologia de fácil aplicabilidade, o que favorece a aprendizagem, e após ler o relato de sua aula de campo, ficou evidente a acessibilidade do seu projeto e a riqueza de conhecimento que o mesmo proporciona para os alunos por meio do uso da cartografia social. Eu sempre começo as aulas dos 6º anos com a turma dividida em dois grupos para uma caminhada no entorno da escola, e após relato oral, elaboro painel de ideias e confecção de desenhos demonstrando o espaço observado, dando início ao conceito de lugar, paisagem, etc., com certeza irei ampliar minha pratica observando o seu projeto.” (Professora L. M., 2014) "Achei incrível o projeto Juliana, realmente é muito amplo e importante, pois durante algum tempo a cartografia foi deixada de lado ou trabalhada de forma sem importância, com pouca validade, acredito que seu projeto traz a tona o verdadeiro trabalho com a cartografia. Quanto as dificuldades dos alunos na confecção de mapas com lugares mais distantes, acredito que a prática pode mudar essa realidade, o problema é que temos pouco tempo para trabalhar a cartografia "prática",ou seja, aquela que realmente o aluno constrói." (Professora M. A. O., 2014) "Tanto o Projeto de Intervenção quanto a Unidade Didática apresenta conteúdo essencial ao ensino da Geografia, foram muito bem elaborados e contemplam uma diversidade de atividades bem interessantes para se trabalhar com os alunos das séries iniciais. Certamente é relevante para a discussão e encaminhamentos metodológicos aos alunos do curso de formação de docentes, pois apresenta de forma clara como o professor deve trabalhar ou iniciar o conteúdo da cartografia social na escola. As atividades podem ser utilizadas não apenas nas séries iniciais, mas em todas, lembrando de adaptá-las conforme a série e conteúdo que será aplicada. Com certeza é um material em que podemos utilizar também em nossas aulas. (Professora K. R., 2014)
Considerando toda a discussão proposta na alfabetização cartográfica para as
distintas séries do Ensino Fundamental é necessário pensar a abordagem dada pelo
professor na utilização dos mapas no cotidiano escolar. Esta deve estar associada ao
conhecimento do aluno na sua caminhada escolar. O trabalho com conteúdos geográficos
que utilizem ferramentas fornecidas pela linguagem cartográfica, é o que Katuta (1997)
chama de “leiturização cartográfica”. O conhecimento dos elementos que compõem um
mapa são fundamentais para a sua leitura, mas a garantia de uma abordagem geográfica
ocorre com a leitura do fenômeno representado cartograficamente e com a elaboração de
respostas à pergunta: por que aí?
Considerações finais
Mas para que serve a geografia no curso de formação de docentes? O que
ensinar para os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental? Nos anos iniciais, as
disciplinas mais importantes deveriam ser Matemática e Português? A Geografia poderia
ficar fora do currículo nos anos iniciais? São muitos os questionamentos relacionados a
essa área do conhecimento que impulsionaram a construção do Projeto O uso da
cartografia social no ensino da geografia no curso de formação docente e sua
implementação.
Durante o processo de implementação foi possível identificar as alunas que
observavam o seu entorno e as que não o faziam. A agitação do dia a dia, os
compromissos, o estar conectada mais ao celular com todos os aplicativos disponíveis,
possibilita que os elementos do entorno passem desapercebidos. Assim, o momento de
voltar-se para as imagens mentais de seu lugar, lembrar-se dos elementos que o
compõem para depois representá-los no papel foi um processo difícil para muitas delas.
Outro momento importante foi o Percurso Urbano que realizamos. Parar para
observar os elementos que compõem a paisagem, a arquitetura dos prédios, o passar do
tempo estampado no espaço, as questões sociais presentes a cada passo dado, foi um
processo repleto de descobertas, questionamentos, o que, ao nosso ver amplia a
possibilidade de transformações.
O fato de levar as alunas a serem mapeadoras e codificadores de seu espaço de
vivência, para posteriormente ampliarem seu conhecimento no momento de decodificar as
representações cartográficas foi de grande valia. A inserção em todo esse processo levou-
as a um maior entendimento da importância da cartografia na alfabetização das crianças.
Assim como a alfabetização para a linguagem escrita é fundamental, a alfabetização
cartográfica também é.
Mas afinal, onde entra a Cartografia Social nessa discussão?
A Cartografia Social é considerada um ramo do conhecimento cartográfico que
está voltado às questões sociais, proporcionando aos povos em situação de risco um
instrumento que auxilia na demarcação de seus territórios, reafirmando seus direitos
sobre eles. Dessa forma, a construção de mapas com a participação da comunidade,
proporciona aos elaboradores e aos demais sujeitos que com eles entram em contato
uma visão diferenciada da área mapeada, pois neles estão materializados as geografias e
a visão de mundo do grupo que desenvolveu esse trabalho. Considerando ainda a
importância da construção dos mapas participativos pela comunidade, dentro dessa
lógica, a Cartografia Social pode auxiliar também as alunas do Curso de Formação
Docente no entendimento dos arranjos espaciais onde vivem. Esse processo foi
concretizado durante a construção do mapa do lugar onde residem, destacando os
elementos mais importantes para sua sobrevivência. Assim, finalizamos este processo
refletindo sobre o quanto a Cartografia contribui e é fundamental ao ensino da geografia
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