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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · trilogia Jogos Vorazes, Stephenie Meyer da saga Crepúsculo, a série Assassin's Creed , inspirados nos jogos de vídeo game, todos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

LEITURAS CONTEMPORÂNEAS DE MACHADO DE ASSIS

Jandira Lucia Kohl Carneiro 1

Everton Grein 2

Resumo: O presente artigo PDE corresponde ao Projeto de Intervenção Pedagógica aplicado na

segunda série do Ensino Médio do Colégio Estadual José de Anchieta, União da Vitória PR. O

objetivo deste foi focalizar a questão da leitura da literatura machadiana na escola com o auxílio de

tecnologias. em virtude da resistência do educando em ler e compreender uma obra clássica,

principalmente quando se trata de uma literatura mais refinada como o caso de Machado de Assis.

Este projeto visou buscar modos inovadores de se trabalhar a leitura a fim de despertar o interesse

e facilitar a compreensão destas obras no Ensino Médio. A preferência pelo autor é devido a

profundidade de sua obra, sua linguagem pensante, sua temática, e a introspecção psicológica de

seus personagens.A metodologia contempla foi leitura de textos curtos, recortes de romances de

Machado de Assis, trabalhados junto com trechos de filmes, para a análise e exercícios. Leitura de

contos do mesmo e apresentação destes por parte dos alunos com o auxílio de recursos

tecnológicos. Produção de textos e criação de um blog para a sua postagem.

Palavras-Chave: Paraná. Artigo Final. Professor PDE.

1. Introdução

O que fazer para despertar o interesse e facilitar a compreensão da literatura

clássica brasileira no Ensino Médio?

É muito comum ouvir comentários da maioria dos professores de Língua e

Literatura Brasileira de que, quando se é solicitado aos alunos a leitura de uma

obra clássica como no caso de Machado de Assis, a resposta deles é sempre a

mesma: " É difícil, não entendi, a linguagem é complicada" e assim vai. Boa parte

desses educandos podem até possuir o hábito de ler revistas, best sellers, ou

algum texto midiático. Porém, quando se propõe a leitura de um clássico, que por

definição, é aquele livro que representa um período em que foi escrito e que

atravessa gerações sem perder seu valor, existe uma grande resistência por parte

dos adolescentes para esse tipo de leitura, até mesmo por aqueles que já são

leitores assíduos, pois, consideram o ato de ler essas obras um esforço penoso.

________________________________________________________________________________________ 1Professor da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná. E-mail de contato [email protected]

2 Orientador PDE da Universidade UNESPAR. E-mail de contato: [email protected]

No Ensino Médio, quando se é solicitado a leitura da literatura clássica, o

que ocorre é que a maioria dos alunos busca o resumo desta pela internet e

aquela minoria que o lê, faz isso por mera obrigação, para poder se livrar daquela

atividade, sem se preocupar em entender a sua essência.

O fato é que o adolescente não tem maturidade suficiente para entender

certas obras literárias trabalhadas na escola, pois, para isto precisa ter um

conhecimento prévio de mundo para uma melhor compreensão daquele texto.

Quando se têm previamente outras informações entende-se melhor uma

leitura, porém, certos conceitos de vida e de ser humano, só se adquirem com a

experiência vivida e é o que falta para este aluno. Desta forma, esse tipo de

leitura torna-se um trabalho lento, cansativo e enfadonho, o que acaba por levar o

leitor a desistir de fazê-la.

Ninguém nega o fato do quanto é necessário a aquisição da habilidade do

domínio da leitura e entendimento de textos de um modo geral, sendo isto também

um pré-requisito para a aquisição de outros conhecimentos. Portanto, a

aprendizagem da leitura é uma atividade contínua e necessária e é preciso que

sempre se busquem modos inovadores de entendê-la e trabalhá-la.

Nesse sentido, a literatura é um meio eficaz para o desenvolvimento desta

habilidade, principalmente quando se trata de uma leitura mais refinada como é o

caso de Machado de Assis. Por isso, é necessário que se faça com que esta seja

melhor compreendida por parte dos alunos. Envolvê-los na linguagem pensante do

autor, sua temática, a análise e introspecção psicológica dos personagens, o herói

problemático, cheio de fraquezas, manias e incertezas, seus conflitos,

pensamentos, anseios, reflexões, desejos. Perceber a ironia e crítica na sua visão

a respeito do ser humano. Buscar na personagem aquilo que é universal, isto é,

comum a cada um de nós e que define a nossa condição humana. Perceber o

mundo existente nos universos mentais das pessoas, as mazelas do caráter dos

indivíduos que se deixam iludir por sentimentos mesquinhos e egoístas.

Cientes da importância de ensinar aquilo que é clássico e que de acordo com

(Calvino 1993) são " aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os

tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva

a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições de apreciá-los" sendo

que estas obras "exercem uma influência particular quando se impõem como

inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-

se como inconsciente coletivo ou individual".

No entanto, hoje vivemos a era digital que acaba se tornando um dilema em

relação ao quê e como ensinar. O tempo atual exige um repensar quanto à

educação. No mundo moderno, as mudanças ocorrem muito rápidas e temos que

reinventar nossos métodos de ensino. As novas tecnologias favorecem para que

os professores assumam uma postura mais atual de facilitador do processo de

aprendizagem. É uma grande oportunidade para refazer e alterar os mecanismos

que afetam a educação. Além do conceito de qualidade, o melhoramento associa-

se ao conceito de inovação. A utilização de novas tecnologias nas aulas de

literatura, implica em pesquisas fundamentadas em novas concepções de

ensinar e aprender.

O presente trabalho de PDE desenvolvido, teve como proposta criar

mecanismos a partir da associação da leitura literária clássica inserida à tecnologia

moderna como um meio eficiente e agradável de levar o aluno a apreciar a

leitura de Machado de Assis no mundo contemporâneo, que é, de acordo com os

críticos literários, um dos autores mais respeitados do mundo, um dos maiores

que a humanidade já produziu, por envolver os grandes temas da vida humana que

se tecem em sua ficção.

Para tanto, foi necessário que se realizasse uma pesquisa no sentido de

promover um trabalho pedagógico em busca de resultados significativos. Com o

auxílio de tecnologias, trabalhou-se novos métodos para a compreensão da leitura

e a análise da obra machadiana, para uma geração que nasceu e cresceu na era

da imagem, habituou-se a viver num mundo de concretização e de imediatismo e

encontra cada vez mais dificuldades nos processos mentais relacionados com a

lógica, a análise e a abstração. Colocou-se a tecnologia à disposição dos

estudantes a fim de desenvolver o seu aprendizado e suas possibilidades

individuais, tanto cognitivas como estéticas, através das suas múltiplas utilizações.

Segundo o que prevê as DCEs (2008), o ensino das teorias literárias

"buscam formar um leitor capaz de sentir e de expressar o que sentiu, com

condições de reconhecer, nas aulas de literatura, um envolvimento de

subjetividades que se expressam pela tríade obra/autor/leitor" (p.58). Neste

sentido, visou-se a elaboração de um trabalho a fim de que o aluno possa efetuar

leituras compreensivas e críticas, bem como questionar essas leituras em relação

ao seu próprio horizonte cultural. Procurou-se atrair o educando para a beleza e a

riqueza presentes nas obras de Machado de Assis, através da criação de

metodologias e estratégias próprias para que o adolescente pudesse compreendê-

la.

2.Desenvolvimento

Existe um conceito generalizado de que o brasileiro lê pouco ou que não gosta

de ler, como também é comum atribuir ao educando esse mesmo conceito.Porém

se isso for verdade é paradoxal o aumento significativo na venda de livros a cada

ano nas grandes feiras do país como a Bienal SP, ou mesmo nas livrarias, que

segundo pesquisas recentes do Jornal G1 (07/10/14), em 2013, as vendas de

livros cresceram 11,7% no primeiro semestre, em relação ao mesmo período de 2012.

Sem se falar que de acordo com a Agência Brasil (05/09/13) o mercado de livros

digitais cresceu mais de 350% de 2011 para 2012. Mesmo nas escolas, é comum

perceber a procura frequente de best sellers por parte de alunos sem que estes

tenham sido solicitados pelos professores. Autores como Suzanne Collins da

trilogia Jogos Vorazes, Stephenie Meyer da saga Crepúsculo, a série Assassin's

Creed, inspirados nos jogos de vídeo game, todos os livros de John Green, e

outros como Jim Davis, Rick Riordan, J.R.R. Tolkien, Tim Collins, são

praticamente uma febre entre os adolescentes. O que leva a crer então, que

existe sim um aumento de leitores e leitura de livros, mesmo no contexto atual,

onde as tecnologias estão por toda a parte.

Então, o porquê das queixas dos professores de Língua Portuguesa de um

modo geral quanto a dificuldade que encontram no sentido de incentivar o aluno a

ler? Independente da obra, a leitura em si é um fato positivo, porém, a escola

deve ir além da literatura de consumo. Com a oferta é cada vez maior desse tipo de

livro, ocorre também maior resistência por parte do educando para a leitura da

literatura clássica, que apresenta uma linguagem mais complexa e erudita, escrita

numa outra época, num outro contexto social. Porém é indispensável que a escola

pública oportunize o aluno o acesso ao conhecimento das obras canônicas.

De acordo com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (Brasília - 2008),

é necessário que se haja um equilíbrio no ensino da literatura, em que se deve

valorizar a cultura popular, sem abrir mão do trabalho com autores

indiscutivelmente canônicos como no caso de Machado de Assis.

Em nossa sociedade há fruição segundo as classes na medida em que

um homem do povo está praticamente privado da possibilidade de

conhecer e aproveitar a leitura de Machado de Assis ou Mário de

Andrade. Para ele, ficam a literatura de massa, o folclore, a sabedoria

espontânea, a canção popular, o provérbio. Estas modalidades são

importantes e nobres, mas é grave considerá-las como suficientes para a

grande maioria que, devido à pobreza e à ignorância é impedida de

chegar às obras eruditas. (Cândido, 1995, pp. 256-257).

Ao longo dos anos tem-se observado a ineficácia de se trabalhar um autor

tão complexo como Machado de Assis, adotando uma estratégia comum que é

pedir para se ler um título específico e depois aplicar uma ficha de leitura ou um

teste. Os poucos alunos que realmente o lêem, acabam fazendo de maneira

forçada, somente para fazer a avaliação, o que acaba despertando o horror dos

estudantes para esse tipo de leitura.

A partir disso percebe-se que é necessário muito mais do que

simplesmente mandar o educando ler um livro. Se o desejo do professor seja de

que o leitor perceba a essência e a reflexão em relação à alma humana presente

neste tipo de obra, e se quer que o aluno aprenda a gostar deste tipo de leitura e

adquira o interesse em ler mais, é preciso trabalhar de modo diferente. Mas para

que isso aconteça, em primeiro lugar o professor deve conhecer bem esta obra,

se necessário, relê-la, mesmo que já a tenha lido, falar dela com entusiasmo e

paixão, ler com eles trechos que chamaram a atenção e com as quais possam se

identificar. Nesse sentido Machado (2008) Revista Nova Escola p. 48, diz que

"como aquelas pessoas estão em outro contexto e são fictícias, nos permitem um

distanciamento e acabam nos ajudando a entender melhor o sentido de nossas

próprias experiências".

Outro fator importante para se adquirir o gosto pela leitura é que a escolha

dos títulos seja adequada à fase de desenvolvimento do aluno, que estão na faixa

etária entre quinze e dezesseis anos.

O professor apresenta textos que sejam próximos ao conhecimento de

mundo e às experiências de leitura dos alunos. Para isso, é fundamental

que sejam selecionadas obras que tenham um senso estético aguçado,

percebendo que a diversidade de leituras pode suscitar a busca de

autores consagrados da literatura, de obras clássicas.( DCEs PR 2008,

p.75).

Auxiliar o aluno a tornar-se um leitor autônomo é um compromisso de

trabalho dos professores de Língua Portuguesa. Porém, o grande desafio, é saber

como trabalhar. Ramos (2008), oficineira de leitura do projeto de Letras de Luz, da

Fundação Vitor Civita, diz que "o ideal é utilizar meios que ajudem a seduzir os

alunos".

A aula quando é constantemente expositiva torna-se uma das piores

situações de ensino. A participação do aluno nos trabalhos dinamiza as aulas,

portanto, é oportuno apropriar-se dos conhecimentos desta que é conhecida como

"geração virtual", do domínio tecnológico que possui e solicitar que o

adolescente, a partir de leitura da contos produza seus próprios vídeos e

apresente-os aos demais colegas. Que escreva seus textos e publique-os em

blogs.

Quando se tem o domínio da palavra lida, adquire-se maior habilidade

com palavra escrita. Não se deve entender que o aprendizado da leitura e da

literatura seja simplesmente para que se possa prestar uma prova do Exame

Nacional do Ensino Médio (ENEM) ou um vestibular ao concluir o Ensino Médio,

mas esse fim também não pode ser ignorado. A leitura dos clássicos irá auxiliar o

aluno como um forte instrumento para essas avaliações.

A partir do momento em que se lê um texto mais complexo, vai-se

desenvolver no aluno a capacidade de leitura também de outros textos. Nesse

sentido, Ceccatini , da Unesp (2008) Revista Nova Escola p. 50, afirma que " é

saudável haver um certo estranhamento e até um descontentamento

com as leituras, pois um pouco de dificuldade ajuda a formar a capacidade leitora".

Por ser universal a temática de Machado de Assis, que é o ciúme, o culto

a aparência, a hipocrisia, a cobiça, o adultério, a inveja, o aluno pode facilmente se

identificar com algum personagem. Esses temas são tão atuais, que se pode

explorá-los facilmente em sala de aula. Nesta faixa etária é comum o

adolescente estar vivenciando suas primeiras experiências amorosas,

provavelmente ele também esteja passando por uma fase de desconfiança, de

incerteza, ciúme, sentimento de posse, ou até mesmo traição. É um período de

vida em que as emoções bem como a sensualidade estão mais afloradas, sendo

assim oportuno refletir a respeito desses temas, já que os estão vivendo com

intensidade. O culto à aparência, o parecer se sobrepondo ao ser, a paixão pelo

status social, a hipocrisia e a inveja, também estão presentes na vida dos

adolescentes. É uma constante nos dias atuais a “falência” do real, do universo do

ser, e a instauração de um mundo feito de aparências, de simulacros. Pode-se

observar isso em lugares de diversão, por exemplo, em que a preocupação em

se tirar fotos para postar em redes sociais é maior que o divertimento propriamente

dito. Um tema muito atual também, é a superficialidade das relações humanas, em

que os contatos virtuais são mais frequentes que os pessoais, a moda, os

padrões de comportamento influenciados por celebridades, calcados nas

aparências. É oportuno que se trabalhe esses temas tão presentes nas obras de

Machado de Assis quanto na vida dos jovens atuais. O estudo da fase de transição

do Romantismo para o Realismo também é necessário, visto que o adolescente

também está passando por uma fase de transição em sua vida, talvez ainda veja a

vida de modo romântico e sonhador e aos poucos vai despertando para a realidade

e desse modo perceba mais o Realismo aguçado de Machado de Assis.

De acordo com as DCEs PR (2008), quando se trabalha a leitura literária,

[...] acontece a ruptura do horizonte de expectativas. É o momento de

mostrar ao leitor que nem sempre determinada leitura é o que ele espera,

suas certezas podem ser abaladas. Para que haja o rompimento,é

importante o professor trabalhar com obras que, partindo das

experiências de leitura dos alunos aprofundem seus conhecimentos,

fazendo com que eles se distanciem do senso comum em que se

encontravam e tenham seu horizonte de expectativa ampliado

consequentemente, o entendimento estético. Nesse momento o leitor

tenta encaixar o texto literário dentro de seu horizonte de valores. (Paraná,

2008, p.75)

Quando se lê algum conto de Machado de Assis em o protagonista

tem uma atitude surpreendente no final, não agindo como se espera do herói

tradicional ,e sim em favor dos seus próprios interesses, percebe-se indignação

por parte dos alunos em relação a este personagem. Existe no pensamento das

pessoas, a ideia do herói perfeito, bom, cheio de atitudes altruístas e quando se

conhece esse herói problemático, este vem quebrar uma expectativa por parte do

leitor. A partir do momento em que se reflete melhor, percebe-se que essas

atitudes são comuns, vividas por todos, porém ocultadas dos demais, pois, como

observou o próprio Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas,"

quando, à força de embaçar os outros, embaça-se a si mesmo, porque em tal caso

poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício

hediondo".

O grande desafio da literatura é possibilitar ao aluno o acesso à ficção

de qualidade de forma prazerosa. A satisfação de se deixar transportar para outro

tempo e outro espaço, de viver uma vida com experiências diferentes do cotidiano.

Encontrar personagens com os quais o leitor se identifica é também uma das

características dos clássicos, portanto, é necessário que haja na escola uma

motivação à leitura desses livros, com atividades que tenham para os jovens uma

finalidade imediata e não necessariamente escolar, por exemplo, que o aluno se

reconheça como leitor, ou que veja nisso prazer, que encontre espaço para

compartilhar sua impressões de leitura com os colegas e com os professores. Tais

atividades evitariam que o jovem lesse unicamente porque a escola pede , o que

é com frequência visto como obrigação.

Desta forma trabalhar textos curtos, ou recortes de romances,

utilizando a multimídia torna-se um meio eficaz de despertar a atenção e interesse

do aluno referente a determinada obra, de acordo com o previsto nas Orientações

Curriculares para o Ensino Médio, (apud. in: Cândido, 1993) salienta que,

Textos curtos, com densidade poética, são instrumentos poderosos para

sensibilizar o aluno.[...] Contos e crônicas também devem ser

cuidadosamente selecionados para não se desperdiçar o tempo precioso

a eles dedicado em sala de aula. Por serem mais curtos que novelas e

romances, devem motivar o leitor pelo modo como apresentam o assunto

[...]. São gêneros propícios a uma sensibilização inicial do aluno. (Brasília,

2008,p.78)

É de suma importância, uma escolha criteriosa e bem elaborada de

textos por parte do docente. A necessidade do domínio do conteúdo e

conhecimento da obra. Que este se abra para às potencialidades da literatura e

faça um esforço para se livrar dos preconceitos didáticos que obrigam a cobrir um

conteúdo, como são as escolas literárias.

A escola não precisa cobrir todos os estilos literários. O professor pode,

por exemplo, recortar na história autores e obras que ou responderam com

mestria à convenção ou estabeleceram rupturas. ambas podem oferecer

um conhecimento das mentalidades e das questões da época, assim

como propiciar prazer estético. A partir desse recorte, ele pode planejar

atividades de estudo das obras que devem ser conduzidas segundo os

seus recursos críticos-teóricos, amparado pelo instrumental que acumulou

ao longo de sua formação e também pelas leituras que segue fazendo

a título de formação contínua. (Brasília, 2008, p.79).

O que ocorre, na maioria das vezes é que o professor não dispõe de tempo

para o preparo desse conteúdo. Desta forma o curso PDE oferecido pelo governo

estadual do Paraná, veio de encontro com essa necessidade de formação e

elaboração de materiais necessários para levar ao aluno melhores condições de

aprendizagem.

[...] "chama-se a atenção para a necessidade de formação literária dos

professores de Português, sobretudo no âmbito da proximidade com a

pesquisa e, consequentemente, do vínculo com a universidade em

percurso de mão dupla, já que essa não pode jamais esquecer seu

compromisso com a educação básica." ( Brasília. 2008, p.75).

É necessário que o professor selecione textos que ampliem os horizontes

culturais e de conhecimento dos alunos. Para isso, é fundamental que sejam

selecionadas obras que pode suscitar a busca de autores consagrados da

literatura brasileira e das obras clássicas.

Machado de Assis, é um dos autores mais estudados na literatura brasileira

e de acordo com os críticos literários, um dos mais respeitados do mundo.

Coutinho (2003), diz que este escritor, foi o primeiro e o mais bem acabado

modelo do homem de letras autêntico. A sua importância, na vida intelectual

brasileira, não encontra paralelo, pela qualidade e abundância da obra e pelo

caráter inconfundível do escritor, possui um estilo composto de técnicas precisas e

eficazes, e uma galeria de tipos absolutamente realizados e convincentes. O que

faz de Machado de Assis esse escritor tão singular, é o fato deste aproveitar a

experiência de todos os dias no trabalho paciente e constante e modelá-la em

formas mentais, cada vez mais acabadas e perfeitas. Provoca no leitor aquela

suspensão admirativa e essa espécie de sabor particular que o espírito encontra

nas obras do espírito.

Segundo Veríssimo (1954), Machado de Assis, escritor desde os seus

princípios consciente e reflexivo que não se preocupa senão da alma humana.

Entre os nossos escritores, apenas ele vai além e mais fundo, procurando, sob as

aparências de fácil contemplação e igualmente fácil relato, descobrir a mesma

essência das coisas.

Do conto foi ele, se não o iniciador, um dos primeiros cultores e, porventura,

o primacial escritor da língua portuguesa.

Efetivamente ninguém jamais nesta contou com tão leve graça tão fino

espírito, tamanha naturalidade, tão fértil e graciosa imaginação, psicologia

tão arguta, maneira tão interessante e expressão tão cabal, historietas,

casos, anedotas de pura fantasia ou de perfeita verossimilhança, tudo

recoberto e realçado de emoção muito particular que varia entre amarga e

prazenteiro, mas infalivelmente discreta. (Veríssimo,1954 pp.427,428)

Portanto, é bastante oportuno no contexto atual, levar ao aluno os

romances e contos de Machado de Assis e auxiliá-lo à compreensão e reflexão de

seus de seus temas, pois, “o clássico”, como diria Italo Calvino, “não

necessariamente nos ensina algo que não sabíamos; às vezes descobrimos nele

algo que sempre soubéramos (ou acreditávamos saber) mas desconhecíamos que

ele o dissera primeiro".

Inserção das tecnologias como instrumentos no ensino aprendizagem

Assim, tem-se como desafio a proposta PDE em tornar o estudo deste

conceituado autor de modo mais avançado, mais moderno e que tenha mais a ver

com os dias atuais e a realidade de nossos estudantes. Para que o aluno chegue a

uma melhor análise e compreensão da literatura de Machado de Assis, de acordo

com as DCes Língua Portuguesa, este é um momento que requer o envolvimento

direto dos professores na construção de novas alternativas em relação às práticas

de ensino. Para alcançar tal objetivo, é importante pensar sobre a metodologia.

Que meios se devem utilizar para que o educando se aproprie do conhecimento no

mundo moderno. Sancho (2001 p.73), afirma que "o método é de grande relevância

para a compreensão dos fenômenos associados aos processos de ensino,

principalmente quando envolvidos nestes são encontrados meios tão complexos

como as atuais tecnologias de informação".

Pode-se afirmar que as situações de ensino-aprendizagem são abordadas

com procedimentos favorecidos por algum tipo de concepção metodológica, na

medida em que se adota uma forma de ordenar e conduzir os acontecimentos que

configuram tal situação.

De acordo com Sancho (2001), devemos considerar como ideal um ensino

usando diversos meios, um ensino no qual todos os meios deveriam ter oportunida

de, desde os mais modestos até os mais elaborados: desde o quadro, os mapas e

as transparências de retroprojetores até as antenas para os satélites de televisão.

Ali deveriam ter oportunidade também todas as linguagens: desde a palavra falada

e escrita até as imagens e sons. Tudo em função dos conteúdos .

A educação com multimeios tem algumas vantagens suplementares,

permite, então , adaptar-se às capacidades perceptivas e mentais dos diversos

alunos, compensando os déficits derivados da aprendizagem com outros meios

expressivos. Além disso, a abordagem de uma mesma realidade a partir de

perspectivas diferentes e complementares enriquece o processo de aprendizagem.

Hoje ocorre na escola uma exigência da comunicação audiovisual. Para

que o processo comunicativo seja eficaz, é fundamental adequar os meios

às linguagens não somente aos conteúdos que devem ser transmitidos, mas também ao tipo de destinatário. E o destinatário do processo de

ensino-aprendizagem tem sido profundamente transformado pelo

contexto social no qual nasceu e cresceu, um contexto no qual a

comunicação audiovisual é hegemônica.(Sancho, 2001,p.136)

Essas mudanças obrigam a fazer alterações no ambiente da escola. O

ensino é, em grande parte, um processo de comunicação e não haverá

comunicação sem sintonia. Para Sancho (2001 p.138), "dentro do modelo de uma

pedagogia que usa meios diversos, devemos ser capazes de tirar vantagem

daquilo que cada meio é capaz de oferecer, sempre de acordo com as

necessidades dos alunos e com as exigências dos conteúdos curriculares".

Quanto à informática educativa, Weiss e Cruz (2001), afirmam que o uso

do computador só funciona efetivamente, como instrumento no processo de

ensino-aprendizagem, se for inserido num contexto de atividades que desafiem os

alunos a crescerem, construindo seu conhecimento na relação com o outro, o

professor e os colegas, além de utilizar a máquina.

O novo trabalho requer inovação, só atingimos a inovação com pesquisa,

precisamos estar sempre aprendendo.

Pensando nisso, decidiu-se elaborar o Projeto de Intervenção Pedagógica

Leituras Contemporâneas de Machado de Assis, que foi aplicado no Colégio

Estadual José de Anchieta, região central da cidade de União da Vitória - PR, na

segunda série do Ensino médio matutino.

Foram utilizados recortes de dois filmes: Memórias Póstumas de Brás

Cubas, Roteiro: André Klotzel, baseado em livro de Machado de Assis, 1985, e

trechos da série Capitu, produzida pela Rede Globo,2008, Video documentário da

biografia de Machado de Assis: TV Escola. Junto a esses recortes de filmes,

optou-se em fazer um diálogo com as obras de Machado de Assis dos romances:

Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e Quincas Borba, através da

leitura de alguns capítulos dos livros acompanhados de vídeos referente a estes.

Também foram escolhidos contos de Machado de Assis a fim de que fossem

lidos em grupos e que se produzissem vídeos a respeito destes para

apresentarem aos demais colegas de turma: O Espelho, O Caso da Vara, Pai

contra mãe, A Cartomante, A Carteira, Capítulo XXI de Memórias Póstumas de

Brás Cubas, O Almocreve. Pelo fato de se formarem mais grupos que o previsto

no projeto, acrescentou-se também o Conto de Escola e Teoria do Medalhão.

Os contos foram distribuídos para grupos de quatro a cinco alunos, para que

escolhessem um, lessem e apresentassem aos demais colegas, com abordagens a

respeito do título, ambiente, personagens e suas características psicológicas,

enredo e o tema abordado a partir daquele enredo.

Feita a leitura e análise dos contos, os grupos apresentaram, utilizando

métodos audiovisuais, (slides, video clip, produção de filmes) aos demais colegas

as histórias lidas e as reflexões feitas nos grupos referente a leitura.

Nesta parte do trabalho, os alunos puderam observar recursos bastante

utilizados por Machado de Assis em sua obra: a ironia, a análise psicológica das

personagens bem como a temática pessimista em relação ao comportamento

humano presentes em suas obras. Tornou-se bastante oportuno a associação do

tema dos contos em estudo a fatos dos dias atuais. Houve citações de exemplos

extraídos no dia a dia das pessoas no mundo contemporâneo num diálogo com os

textos estudados. .

Após a apresentação dos grupos, realizou-se a leitura dramatizada do

conto Um Apólogo e alguns exercícios referente a este. A avaliação desta

atividade aconteceu a partir de uma produção de texto. Antes, porém, da leitura

e produção, estudou-se o que seria esse gênero textual, (apólogo), para depois

em duplas, os alunos escreverem um apólogo sendo que a moral fosse adaptada

a uma situação atual dentro do contexto social e político em que vivemos. Todos os

textos atenderam ao tema solicitado e foram publicados num blog criado para a

turma.

Nesta atividade, foram abordados temas como a corrupção, que foi

mencionado nos textos "A Ladra Raposa e o Cão Policial Corrupto" e também em

"O Formigueiro". A questão dos interesses egoístas das pessoas dentro da

sociedade, levantou-se nos textos "A Bicicleta e a Bomba de Ar" e "Sem Erros".

Abordou-se também o tema do culto à aparência, padrões de beleza impostos pela

sociedade, contrapondo a aquisição da cultura e conhecimento, no conto "O

Espelho e o Livro", este tema do culto à aparência no mundo atual, também foi

abordado em "O Abajur Convencido". Houve um texto que fez referência às

relações pessoais e a era digital, fazendo uma crítica ao excesso de contatos em

redes sociais e falta de diálogo pessoal em "A Anta Tecnológica". Duas alunas

também analisaram e refletiram no texto que produziram a respeito da literatura de

consumo e a literatura clássica, no apólogo "Livro Clássico Versus Livro de

Consumo", Outro assunto analisado foi o da arrogância dos valores incutidos pela

sociedade no que se refere à profissão e à posição social. Esse tema foi muito

abordado pelos alunos, apresentado nos seguintes textos: "Um Apólogo Artístico",

"A TV e o Controle" , "Preconceito" e "A Copa dos Capacetes". Como esta

atividade foi realizada um pouco antes do acontecimento da Copa do Mundo no

Brasil e o assunto na mídia e entre as pessoas era esse, entre discussões e

polêmicas, surgiu também o apólogo "A Bola, o Livro e a Seringa", em que se

questionava os investimentos aplicados no país durante a Copa do mundo e a sua

real necessidade.

Quando a aplicação do Projeto estava na metade, depois de os alunos viram

alguns vídeos relacionados aos textos lidos, distribuiu-se seis contos, para serem

trabalhados em grupos de até cinco elementos: O Espelho, O Caso da Vara, Pai

Contra Mãe, A Cartomante, A Carteira, Capítulo XXI de Memórias Póstumas de

Brás Cubas - O Almocreve. Pelo fato de formarem-se mais grupos que o previsto

no projeto, acrescentou-se também o Conto de Escola e Teoria do Medalhão. Os

grupos leram, fizeram juntos a análise dos contos, como o porquê do título, o

enredo, personagens e suas características psicológicas, ambiente e a temática

abordada a partir daquele enredo. Foi dado um tempo de um mês para os grupos,

fora da sala de aula, organizar um modo através de métodos audiovisuais a fim de

apresentar esse conto para os demais colegas de turma. Foi marcado o dia da

apresentação e os grupos expuseram seus vídeos no data show para toda a turma

assistir.

Nesta atividade, a maior parte dos grupos atenderam à proposta solicitada.

Sendo que um grupo compreendeu a obra, porém, não conseguiu expressá-la bem

aos colegas para que estes viessem a compreendê-la. Conto pai contra mãe,

Conto de Escola, Teoria do Medalhão, A cartomante, foram muito bem

apresentados, tanto na compreensão dos grupos, na explicação para a turma,

quanto no vídeo apresentado.

A carteira, o grupo que realizou o trabalho compreendeu bem, porém na

apresentação dos vídeos faltaram alguns dados para a compreensão da turma,

como por exemplo do momento em que Honório descobre de que a carteira

encontrada na rua era do seu melhor amigo. Porém, ficou extremamente criativa a

ideia de apresentar a luta de Honório entre ficar com a carteira e saldar suas

dívidas ou devolver a carteira e fazer o que era correto. Nessa passagem foi

apresentado um anjo e um diabinho para representar a consciência do bem e do

mal falando com o personagem.

O Caso da Vara o grupo demonstrou grande interesse e empenho em

organizar o vídeo, que aliás, ficou muito bem produzido, porém, no final não ficou

muito clara a temática refletida por Machado de Assis, que era, ao ceder à

autoridade de Sinhá Rita, Damião mostra a fragilidade dos bons propósitos diante

dos interesses pessoais. Esperava-se que o grupo refletisse esse tema, de que,

embora tenhamos bons propósitos, nossos interesses pessoais, mesmo que muitas

vezes negamos, sempre vêm primeiro. Nesta apresentação, a turma fixou-se

somente no enredo apresentado pelo vídeo e mesmo na fala do grupo,

mencionou-se a história e não a temática.

O Espelho, foi muito bem apresentado, inclusive na compreensão do tema,

em que o grupo explicou para os colegas, porém o vídeo apresentado, os textos

nele escritos, ficaram muito extensos, dificultando a leitura na hora de apresentar.

O Almocreve, a explicação ficou clara, porém o vídeo foi muito breve e faltou

clareza para a compreensão.

O conto Pai contra mãe, foi um dos contos mais comentados, em que Machado de

Assis reflete a estranha tolerância da consciência humana em face do mal em que

se reflete nas atitudes de Cândido Neves e percebeu-se, ao contrário do que se

esperava, o não julgamento dos alunos em relação à personagem que entrega uma

escrava grávida para salvar o seu próprio filho. Salvar o filho, segundo alguns,

estava acima de tudo e justificava aquele ato.

No conto Teoria do Medalhão, depois de feita a análise da temática, que

era os disfarces da sociedade, o mostrar o que é bonito, impressionar os outros

pela aparência, a reflexão de os pais de certa forma querem se projetar nos filhos,

o pai não consegue ser medalhão no passado e projeta no filho o seu sonho de

quando era jovem. Nesse ponto, um aluno citou o filme O Grande Gatsby, e

comentou que este tratava da mesma temática trabalhada por Machado de

Assis. Neste caso atingiu-se o objetivo da atividade, refletir o tema e associá-lo ao

mundo atual.

3-Considerações finais

“Ler os clássicos não é um dever, é um direito”,( diz a presidente da Academia Brasileira de Letras, 2112-2013, Ana Maria Machado). “É uma parcela do Patrimônio da

Humanidade.”

No mundo atual as coisas mudam muito rápido, o que é top hoje poderá

tornar-se obsoleto amanhã. Estamos educando os adolescentes do século XXl, da

era tecnológica, acostumados a resultados imediatos e todo tipo de materiais

eletrônicos e ao mesmo tempo precisamos conscientizá-los da importância da

leitura e de quanto o domínio desta é imprescindível para a vida hoje.

Quem lê bem, geralmente escreve bem, tem mais recursos linguísticos, é

mais criativo, desenvolve o senso crítico e rapidez no raciocínio, mas para isso, o

acesso a bons livros é fundamental.

A literatura moderna, com seus grandes fenômenos de vendas, propicia ao

jovem uma leitura fácil e atraente, com uma incrível rapidez de ação,

incomparável com os clássicos. Sem se falar na linguagem, simples, direta e sem

grandes recursos estilísticos.

Diante disso, percebemos que a leitura da literatura clássica está em

desvantagem em relação à moderna. Portanto o diferencial estará na abordagem

que a escola dará a esta, já que tanto as pesquisas quanto as vendas indicam que

os jovens têm lido mais.

As obras canônicas, aquelas que são consideradas genuínas, escritas por

autores consagrados, são complexas para os estudantes pois lhes falta

maturidade para entendê-las, porém, com estratégias adequadas é possível levá-

los à sedução dessa leitura.

Machado de Assis é um autor importantíssimo e mesmo que tenha escrito

no século XIX seus temas são atuais e muitas vezes a compreensão destes

passam despercebidos pelo estudante de Ensino Médio.

Este autor integra o conjunto daqueles que precisam ser lidos e relidos e a

cada releitura seus textos ganham outro sentido. Entretanto desenvolver o

pensamento reflexivo depende de disciplina, muita leitura e concentração em

atividades que exigem esforço mental. Como não é considerado fácil e demanda

tempo o estudante tende a desistir. Por isso, exige-se do professor muita

criatividade e persistência. Neste caso é necessário fazer uso de recursos

metodológicos que transponham o quadro de giz e o discurso.

A proposta inicial do Projeto PDE Leituras Contemporâneas de Machado de

Assis partiu da perspectiva de que as armas de estímulo à leitura precisam ser

modernizadas, ou seja, a partir da leitura de textos curtos dos um romances

desse autor e a exposição de vídeos referentes a estes, se pudesse mexer com

a curiosidade do aluno, para a partir daí, estimular o interesse pelas obras, quer

seja na leitura do romance na íntegra, ou na leitura de contos para a partir deles

se produzirem vídeos, filmes, fotomontagens ou fotonovelas, mantendo sempre o

foco na compreensão dos temas abordados, pois apesar do tempo ter se

passado, a humanidade continua a vivenciar as mesmas dificuldades, as mesmas

questões existenciais, ou seja, Machado de Assis hoje ainda está em voga nas

dificuldades, batalhas e questionamentos da sociedade do século XXI.

Pensando nisso a aplicação do projeto PDE comprometeu-se com a

formação de leitores, através de uma cuidadosa seleção títulos e textos que

extrapolasse o universo de expectativas em relação à literatura clássica, sendo

apresentada com uma nova roupagem para os alunos de hoje.

O que se levou em conta também, foi uma escolha metodológica adequada, a

fim de que se pudesse proporcionar aos jovens a utilização dos múltiplos meios

em relação à tecnologia que se utilizam nos dias de hoje. .

Através das leituras dos textos de Machado de Assis e produção dos

trabalhos, os alunos puderam discutir e opinar sobre pequenas e grandes

coisas em que acreditam o que levou a uma certa "briga" entre o que é certo e o

que é errado, como exemplo, as acusações de Bentinho a Capitu, as atitudes de

Brás Cubas, as ideias de Quincas Borba, a infidelidade de Rita e as superticões

de Camilo em A Cartomante, os interesses pessoais que vêm em primeiro plano

em O Caso da Vara, o culto às aparências em Teoria do Medalhão, a corrupção e

delação em Conto de Escola, a luta pela sobrevivência em Pai Contra Mãe, a

consciência crítica ao sistema e a reflexão das próprias atitudes no estudo do

conto Um Apólogo.

Sobre o projeto em questão, foi pertinente trabalhar a crítica que Machado

de Assis fazia à sociedade da época, bem como traçar um paralelo sobre as

relações interpessoais da atualidade, com assuntos que estão em voga nos dias

atuais.

Pode-se ainda, elencar outras questões de grande relevância como o fato de

se trabalhar com textos curtos, recortes, uso de multimídia, leituras com temas

próximos das necessidades emocionais dos estudantes e ter aproveitado todas as

oportunidades didáticas dos recursos audiovisuais que estimulou o pensamento e

a criatividade do aluno.

A leitura dos contos de Machado de Assis realizada e refletida em grupos,

trouxe a possibilidade do aluno se ver nos diversos eventos e ou situações da vida,

além do amor, o ciúme, a traição, a sedução, o sexo, a saúde, a morte, os

relacionamentos saudáveis e doentios, a tristeza, a saudade, a amizade, entre

tantos outros temas, com suas implicações e reflexões expostas pelo autor em

interação com o leitor . Essas leituras geraram no aluno uma significação real, um

encontro do que eles estão vivendo emocionalmente e por fazer parte do contexto

pessoal, intelectual e emocional, a informação tornou-se verdadeiramente

significativa.

Partindo deste trabalho, entende-se que é necessário que a Educação e/ou a

Escola, realmente pense, desenvolva, experiencie, utilize e socialize novos

métodos para se trabalhar a leitura e particularmente a Literatura, para esta

geração que nasceu e cresceu na era da imagem. A multimídia apresenta-se

como meio eficaz para despertar a atenção e interesse do aluno, evitando-se ao

máximo as aulas somente expositivas, pois é na participação do aluno que a aula

se efetiva.

O uso dos recursos tecnológicos, foi de grande relevância para a fixação e

compreensão do conhecimento proposto e é totalmente aplicável na escola.

. A ideia mais produtiva no projeto é que esta atividade, a de se ler trechos de

obras clássicas juntamente com a exposição de vídeos, pode ser desenvolvido na

escola em todas as séries, tanto no Ensino Fundamental como no Médio pois

propicia um ambiente que incita os alunos, a partir da leitura de pequenas partes

de um texto literário ter vontade de prossegui-la através da obra inteira. A mesma

atividade pode ser feita com outros autores, outros períodos e gêneros literários.

Assim os alunos percebem que são capazes de ir além daquilo que foi

inicialmente proposto pelo professor, tornando-se leitores críticos e capazes de

criar o seu próprio saber, expor sua própria compreensão, pois a técnica utilizada e

os textos lhes permite.

Dessa forma, a tecnologia hoje, se bem aproveitada, é um recurso

extremamente eficaz para o alcance de resultados favoráveis ao aprendizado dos

estudantes, em especial no que tange à leitura, compreensão e contextualização

das obras clássicas de nossa Literatura.

A inclusão de recursos tecnológicos atuais deixou de ser uma opção e

passou a ser uma necessidade para os educadores que tem como meta incluir e

levar à discussão algo que os tire do lugar comum, fazendo as críticas e reflexões

necessárias para o desenvolvimento da construção da personalidade do indivíduo

e da sociedade como um todo.

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