18
1 Os efeitos da migração e da segregação socioespacial na modificação do espaço da Região Metropolitana de Campinas, SP, nos anos 2000 José Marcos Pinto da Cunha 1 Alberto Augusto Eichman Jakob 2 I-Introdução Os efeitos da segregação socioespacial sobre as condições de vida das famílias e indivíduos na população em geral tem sido amplamente discutidos na literatura brasileira e internacional. De acordo com Flores (2006), os mecanismos que contribuem para tal efeito são identificados de acordo com diferentes abordagens, cada qual dando ênfase a diferentes aspectos, variando desde questões relacionadas à existência de capital social àquelas que enfatizam diferenças entre os locais em termos de acesso a serviços e outras oportunidades que estão disponíveis em nível regional. Baseado na premissa de que o “espaço importa” (Flores, 2006; Torres, Ferreira e Gomes, 2005) para se compreender as condições de inserção e reprodução social dos indivíduos e famílias, considera-se importante conhecer não apenas a intensidade do fenômeno, mas também as suas principais características em termos dos grupos socioeconômicos envolvidos e suas características demográficas, em especial, no que se refere à condição migratória. Com este panorama em mente, este trabalho tem como objetivo descrever a situação da Região Metropolitana de Campinas, Brasil, em termos de sua dinâmica demográfica e o processo de segregação socioespacial em particular. Em um contexto de declínio do crescimento demográfico, da migração de origem externa e da intensificação do aparecimento de novas formas de ocupação do espaço, esta região metropolitana parece ter modificado significativamente as características da redistribuição espacial da população. Por exemplo, ao contrário do que se observava no passado, os dados do Censo de 2010 mostram que, na década de 2000, os municípios com as melhores condições socioeconômicas passam a apresentar crescimento demográfico mais acelerado configurando-se em novas áreas de desconcentração demográfica, condição antes exercida especialmente pelos municípios ditos periféricos. Ou seja, a consolidação de “novas periferias” parece ter contribuído para modificar o perfil socioespacial da RMC e com ela o padrão de sua segregação, cujos fatores e consequências precisam ser mais bem identificados. Assim, descrever tais mudanças e principalmente conhecer os condicionantes demográficos das mesmas especialmente no que se refere ao papel da migração é uma dos principais metas desse estudo. 1 Demográfico, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e pesquisador do Nepo, ambos da Unicamp e pesquisador do CEM/Cebrap. 2 Demógrafo, pesquisador do Nepo/Unicamp e do CEM/Cebrap. Este estudo conta com o apoio do Centro de Estudos da Metrópole (CEBRAP, USP), processo nº 2013/07616-7, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). As opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas são de responsabilidade do(s) autor(es) e não necessariamente refletem a visão da FAPESP.

Os efeitos da migração e da segregação socioespacial na

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

1

Os efeitos da migração e da segregação socioespacial na modificação do

espaço da Região Metropolitana de Campinas, SP, nos anos 2000

José Marcos Pinto da Cunha1

Alberto Augusto Eichman Jakob2

I-Introdução

Os efeitos da segregação socioespacial sobre as condições de vida das famílias e indivíduos

na população em geral tem sido amplamente discutidos na literatura brasileira e internacional.

De acordo com Flores (2006), os mecanismos que contribuem para tal efeito são identificados

de acordo com diferentes abordagens, cada qual dando ênfase a diferentes aspectos, variando

desde questões relacionadas à existência de capital social àquelas que enfatizam diferenças

entre os locais em termos de acesso a serviços e outras oportunidades que estão disponíveis

em nível regional.

Baseado na premissa de que o “espaço importa” (Flores, 2006; Torres, Ferreira e Gomes,

2005) para se compreender as condições de inserção e reprodução social dos indivíduos e

famílias, considera-se importante conhecer não apenas a intensidade do fenômeno, mas

também as suas principais características em termos dos grupos socioeconômicos envolvidos

e suas características demográficas, em especial, no que se refere à condição migratória.

Com este panorama em mente, este trabalho tem como objetivo descrever a situação da

Região Metropolitana de Campinas, Brasil, em termos de sua dinâmica demográfica e o

processo de segregação socioespacial em particular. Em um contexto de declínio do

crescimento demográfico, da migração de origem externa e da intensificação do aparecimento

de novas formas de ocupação do espaço, esta região metropolitana parece ter modificado

significativamente as características da redistribuição espacial da população. Por exemplo, ao

contrário do que se observava no passado, os dados do Censo de 2010 mostram que, na

década de 2000, os municípios com as melhores condições socioeconômicas passam a

apresentar crescimento demográfico mais acelerado configurando-se em novas áreas de

desconcentração demográfica, condição antes exercida especialmente pelos municípios ditos

periféricos. Ou seja, a consolidação de “novas periferias” parece ter contribuído para

modificar o perfil socioespacial da RMC e com ela o padrão de sua segregação, cujos fatores

e consequências precisam ser mais bem identificados. Assim, descrever tais mudanças e

principalmente conhecer os condicionantes demográficos das mesmas – especialmente no que

se refere ao papel da migração – é uma dos principais metas desse estudo.

1 Demográfico, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e pesquisador do Nepo, ambos da

Unicamp e pesquisador do CEM/Cebrap. 2 Demógrafo, pesquisador do Nepo/Unicamp e do CEM/Cebrap.

Este estudo conta com o apoio do Centro de Estudos da Metrópole (CEBRAP, USP), processo nº 2013/07616-7,

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). As opiniões, hipóteses e conclusões ou

recomendações expressas são de responsabilidade do(s) autor(es) e não necessariamente refletem a visão da

FAPESP.

2

Para tanto serão utilizados os Censos Demográficos de 2000 e 2010 cuja riqueza de

informações e possibilidades de desagregação espacial em nível intramunicipal permite

realizar algumas análises instigantes, sobretudo se apoiadas em técnicas de análise espacial.

II-As transformações do espaço metropolitano pela migração

Com uma população de 2,8 milhão de pessoas em 2010 e com cerca de um terço concentrada

na cidade sede, a Região Metropolitana de Campinas (RMC), assim como a grande maioria

das regiões metropolitanas brasileiras, apresentou significativa redução do seu crescimento

demográfico não apenas em função do declínio da fecundidade, mas principalmente pelo

significativo arrefecimento da migração.

Como se pode observar na Tabela 1, embora a população da RMC tenha crescido mais

rapidamente que a do país e do próprio Estado de São Paulo ao longo das quatro décadas

consideradas, é nítido o fato de que ímpeto desse crescimento reduziu-se significativamente,

especialmente nos anos 2000. Os dados sugerem, no entanto, que mesmo assim, muitos dos

seus municípios componentes ainda crescem de maneira significativa; como se percebe,

descontado o município sede, o ritmo de crescimento populacional na região ainda se situava,

nos anos 2000, acima dos 2% a.a. o que no contexto demográfico nacional e estadual ainda é

um nível significativo.

Tabela 1

Taxas médias geométricas anuais de crescimento populacional. RMC, 1970/2010

Um corolário dessas observações é que, a despeito do fato de que a RMC cresce a cada

década que passa mais lentamente, ainda existe um forte potencial de crescimento interno de

muitos de seus municípios, o que se explicaria tanto pela mobilidade residencial de caráter

intrametropolitano, quanto pela própria migração externa, que mesmo em menor volume

1970/1980 1980/1991 1991/2000 2000/2010

Brasil 2,48 1,93 1,63 1,17

Estado de São Paulo 3,49 2,13 1,78 1,09

RM de Campinas 6,49 3,51 2,54 1,81

Município de Campinas 5,86 2,24 1,5 1,09

Demais municípios da RMC 7,22 4,74 3,34 2,29

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970 a 2010

3

ainda é capaz de afetar o aumento demográfico de vários municípios, em especial os de menor

tamanho.

Figura 1: Taxas médias geométricas anuais de crescimento populacional. Municípios da RM

de Campinas, 2000-2010.

Fonte: IBGE, censos demográficos de 2000 e 2010. Elaboração própria.

Com se nota na Figura 1, nos anos 2000 ainda existia forte heterogeneidade em termos do

ritmo de crescimento demográfico entre os municípios metropolitanos, com destaque para

Paulínia, Jaguariúna e Holambra (com taxas acima de 4% a.a.) que, ao contrário do que

normalmente se observa nas RMs brasileiras, não são necessariamente os municípios mais

pobres da região. É bem verdade que nesse contexto ainda surgem algumas cidades ditas

4

“periféricas” que crescem a ritmos significativos, como é o caso de Monte Mor, no entanto,

chama muito a atenção o fato de baixas taxas de crescimento demográfico observadas em

áreas que até a década anterior se constituíam nos grande “celeiros” de população de baixa

renda como Hortolândia e Sumaré.

Ou seja, além do arrefecimento demográfico dos polos e sub-polos regionais (no caso

Campinas e Americana, respectivamente) tão comum às RMs brasileiras, chama a atenção

que na RMC também as tradicionais “periferias” também passam a crescer mais lentamente

em favor do crescimento mais acentuado do que parecem ser as “novas periferias” desta feita

onde predominaria uma população de melhor poder aquisitivo.

Figura 2: Proporção do crescimento vegetativo e da migração no incremento populacional.

Municípios da RM de Campinas, 2000-2010.

Fonte: IBGE, censos demográficos de 2000 e 2010. Elaboração própria.

5

A Figura 2 deixa claro que a maior parte do crescimento populacional verificado nos

municípios vizinhos a Campinas foi devido à migração, sendo que em algumas cidades o peso

desse componente superou os 70%, como nos casos de Paulínia, Jaguariúna e Engenheiro

Coelho. A única exceção ficou por conta de Campinas, onde o peso da migração não atingiu

sequer um quarto do seu crescimento.

Esses comportamentos podem ser melhor compreendidos do ponto de vista demográfico a

partir da análise dos dados censitários sobre migração. Por exemplo, os dados sobre a

migração intrametropolitana3 do período 2005-2010 mostram que Campinas recebeu apenas

11,4% dos 62.866 migrantes de data fixa do período, contudo enviou 44% deles, sobretudo

para Sumaré, Hortolândia, Valinhos e Paulínia. Isto mostra que boa parte da migração dos

municípios que apresentaram um crescimento populacional intenso nos anos 2000 foi gerada

em outros municípios que não a sede Campinas. A Figura 3, mesmo que apresentando apenas

alguns dos principais fluxos migratórios estabelecidos no interior da RMC, deixa claro o

papel de áreas de “expulsão” de Campinas e que, ainda nos anos 2000, os municípios mais

pobres como Hortolância e Sumaré são grandes receptores dessa migração. No entanto,

chama-se a atenção o surgimento o intensificação dos movimentos em direção a Paulínia e

Valinhos que, como dito, são alguns dos municípios para onde tem se dirigido a população de

mais alta renda.

Figura 3: Principais fluxos migratórios intrametropolitanos. RMC, 1995-2000 e 2005-2010

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (Tabulações especiais Nepo-Unicamp).

3 Na verdade, há uma discussão em torno da adequação desse termo para os movimentos populacionais que

ocorrem dentro das metrópoles. Sobrino (2007) por exemplo os denomina “mobilidade residencial” ao analisar o

caso da RM do México. No entanto, mesmo concordando que a natureza desse tipo de movimento é bem distinta

daqueles de mais longa distância, considera-se essa questão menor, sobretudo porque, do ponto de vista

estritamente demográfico, não se pode tratar esse tipo de deslocamento se não como migração, já que esse

fenômeno interfere sobre o tamanho e composição das populações municipais da mesma forma como fazem os

movimentos de mais longa distância.

6

A Tabela 2, por sua vez, permite obter uma visão resumida do impacto que as diferentes

modalidades têm sobre o crescimento demográfico dos municípios metropolitanos.

Tabela 2

Composição do saldo migratório segundo modalidade da migração.

Municípios da RMC – 2005/2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2010 (Tabulações especiais Nepo-Unicamp).

A partir desses dados fica muito evidente que a migração intrametropolitana não apresenta o

mesmo impacto em todos os municípios, sendo que se percebe alguma relação com as

condições socioeconômicas dos seus residentes. De fato, enquanto ela é mais importante nos

municípios mais pobres como Monte Mor, Santo Antônio de Posse e Hortolândia, o mesmo

não ocorre com áreas que, como se verá, concentram maior proporção de população mais

abastada, como são os casos de Jaguariúna, Vinhedo, Americana, Indaiatuba etc., cidades em

que a migração proveniente do Estado de São Paulo tende a ser mais importante. A migração

proveniente de outros estados tem maior impacto nos maiores municípios (como Campinas e

Americana) e em municípios menores, em geral, mais distantes da sede.

É bem verdade que algumas exceções são observadas, como Valinhos que, como mostram

outros estudos (Cunha e Jimenez, 2006) também concentra importante proporção de

MunicípiosIntrametro

politana

Estado de

São Paulo

Outros

Estados

Saldo

Migratório

Americana -13,9 31,7 82,2 3.043

Artur Nogueira 21,2 31,4 47,4 3.421

Campinas 209,8 6,3 -116,0 -9.767

Cosmópolis 9,1 15,1 75,8 2.485

Engenheiro Coelho 4,8 21,0 74,3 2.681

Holambra 6,5 28,0 65,5 643

Hortolândia 34,8 32,9 32,3 16.128

Indaiatuba 6,3 59,6 34,2 12.810

Itatiba 2,5 62,3 35,2 5.047

Jaguariúna 4,3 51,6 44,1 2.597

Monte Mor 45,5 30,7 23,8 4.573

Nova Odessa 22,2 46,6 31,2 2.404

Paulínia 37,0 23,9 39,1 8.965

Pedreira -13,8 52,0 61,8 937

Santa Bárbara d'Oeste -14,6 52,8 61,8 2.484

Santo Antônio de Posse 52,9 17,8 29,3 644

Sumaré 28,6 29,3 42,1 16.022

Valinhos 42,0 32,6 25,3 6.830

Vinhedo -2,0 67,1 34,9 4.325

7

condomínios fechados e, portanto, população de mais alta renda. No entanto, caso como esses

podem se compreendidos provavelmente por serem áreas contíguas a Campinas que, como

mostram os mesmos dados, é a área de maior perda populacional, sendo que estas se dão

preponderantemente para municípios da própria região. É interessante notar ainda que em

Campinas, não fossem as perdas intrametropolitanas, a migração teria impacto positivo sobre

o seu crescimento.

Enfim, o que os dados sugerem é que a migração com origem dentro da região tem tido

impacto significativo tanto para o crescimento de vários municípios como para o processo de

expansão demográfica observado na região.

III-Diferenciação socioespacial, segregação e migração: alguns nexos

Como dito anteriormente, o Censo 2010 revela algumas transformações no padrão

socioespacial da RMC, sendo que algumas tendências observadas em décadas anteriores

parecem ser reforçadas e outras modificadas de maneira significativa.

Esse é o caso do que em algum momento se chamou de “cordilheiras da pobreza e da riqueza”

(Cunha et al. (2006); Cunha (org), 2006) cuja intenção era qualificar o que se poderia chamar

de “topologia social” (Aldaiza, 1996) da região. Ou seja, em estudos anteriores era possível

identificar claramente que na RMC havia duas regiões claramente definidas de maior

concentração de população de baixa e alta renda.

Como se verá, tais “cordilheiras” passaram para algumas mudanças sendo que, ao que tudo

indica, o caráter elitista das áreas nordeste e leste da região (o que de maneira simplificada

poder-se-ia chamar de “acima” da Rodovia Anhanguera) foi acentuada, enquanto a zona

“abaixo” da Anhanguera (oeste e sudoeste) parece ter se tornado mais heterogênea.

O que se chama a atenção nesse texto é para o fato de que tais mudanças tendem a apresentar

uma relação interessante com o crescimento demográfico dos diferentes zonas da região. Em

outras palavras o que se observa é que, em geral, foram justamente as áreas mais elitizadas as

que apresentaram maior intensidade de crescimento populacional.

Obviamente que esse fenômeno ocorre, não por coincidência, num período em que a RMC

cresce mais lentamente e, como já observado, quando a migração externa perde intensidade.

Ou seja, a expansão regional parece ter privilegiado as áreas mais ricas não necessariamente

por sua importância demográfica em termos de volume, mas por um processo de ocupação e

grande oferta de opções para aqueles que poderiam pagar por localizações (Villaça, 1998)

mais valorizadas.

Tais considerações encontram respaldo quando se observa a evolução da população e de suas

características sócio-demográficas em uma escala mais reduzida. Nesse sentido, esse estudo

optou por analisar os dados censitários ao menor nível de desagregação espacial possível: o

setor censitário.

De fato, as análises apresentadas na seção anterior realizadas a uma escala municipal embora

já permitam algumas conclusões sobre o processo de expansão urbana na região ainda não são

capazes de revelar as especificidades do que está ocorrendo na metrópole.

8

Esse é o caso, por exemplo, das taxas de crescimento demográfico.Neste sentido, a Figura 4

permite uma visão muito mais detalhada do processo de redistribuição da população na região

do que a Figura 1 apresentada na seção anterior.

Figura 4: Taxas médias geométricas anuais de crescimento populacional. Setores censitários

dos municípios da RM de Campinas, 2000-2010.

Fonte: IBGE, censos demográficos de 2000 e 2010. Elaboração própria.

É possível verificar, por meio dessa figura os grandes diferenciais existentes na região e

dentro dos próprios municípios em termos de crescimento demográfico4. O que se percebe

pela observação desse mapa é que mesmo nos municípios apresentados na Figura 1 como os

de maior crescimento populacional, diversos setores perderam população. Ou seja, o

4 Os setores em azul foram os que cresceram abaixo da média da RMC e em vermelho os acima desta média de

1,82% a.a. A primeira categoria da legenda (azul mais escuro) é formada basicamente por setores que perderam

população, ou com um crescimento irrisório.

9

crescimento não é uniforme no município, como era esperado, mas sim concentrado em

determinados locais.

Se os municípios do entorno da sede da RMC cresceram de forma mais significativa nos anos

2000, nesta escala ficam melhor definidos os vetores de expansão demográfica não apenas da

região como um todo, mas também no interior de cada município e, principalmente, as

contiguidades ou rupturas espaciais existentes. Percebe-se, por exemplo, que o crescimento

populacional foi em geral mais significativo no entorno dos centros urbanos dos municípios,

como pode ser facilmente visto em Cosmópolis, Artur Nogueira, Pedreira, Itatiba e

Indaiatuba.

Também é evidente que ainda nos anos 2000, o crescimento de certos sub-espaços da

chamada “cordilheira da pobreza” (oeste e sudoeste) é ainda intenso. No entanto, também

podem ser observados claros indícios de movimentos de população em outras direções,

particularmente para Valinhos, Paulínia e Indaiatuba. No caso do município sede, percebe-se

que são muito poucos os focos (em geral, as áreas mais distantes do centro) de crescimento

demográfico, o que corrobora a ideia do processo de desconcentração regional desde o seu

território.

Ao se observar as características socioeconômicas da população residente nos setores

censitários, principalmente para o ano de 2010, confirma-se a configuração de um zona de

alta concentração da população de melhores condições na região central, oeste e noroeste da

região, no entanto, já não fica tão nítido a maior concentração de população mais pobre na

zona oposta, já que é possível perceber áreas mais heterogêneas.

Tais observações podem ser confirmadas pelas figuras 5 e 6 que mostram a distribuição

espacial dos setores com as rendas médias mensais dos responsáveis por domicílio, em 2000 e

em 2010. É interessante notar que, de modo geral, em 2010, surgem “manchas” mais escuras

(maior concentração de pessoas mais abastadas) justamente nas zonas em que o crescimento

demográfico foi mais intenso, fato que confirma o que se observa empiricamente no território,

ou seja, o enorme crescimento de empreendimentos habitacionais para as classes médias e

altas. Nota-se também que a Rodovia Anhanguera representa um delimitador de setores com

rendas médias mais altas e mais baixas, especialmente nos municípios de Campinas, Valinhos

e Vinhedo. Fica nítida a consolidação da “cordilheira da riqueza” na zona central de

Campinas e nas imediações da Anhanguera nos municípios mencionados.

O que se pode concluir da evolução da distribuição da população por categorias de renda dos

responsáveis pelos domicílios da RMC é que existe uma visível correspondência entre o

processo de redistribuição espacial da população e a acentuação (ou não) do grau de

segregação socioespacial existente na área. É muito instigante o fato de que parte da RMC

tem se tornado mais heterogênea, enquanto as zonas mais elitizadas vão acentuando ainda

mais essas características.

10

Figura 5: Renda média mensal dos responsáveis por domicílio. Setores censitários dos

municípios da RM de Campinas, 2000.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000. Elaboração própria.

Figura 6: Renda média mensal dos responsáveis por domicílio. Setores censitários dos

municípios da RM de Campinas, 2010.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2010. Elaboração própria.

11

Embora não seja o objetivo central desse estudo, não se pode deixar de considerar que o poder

indutor do mercado imobiliário em sua relação como o poder público que, como nos ensina

Villaça (1998), tende a privilegiar as localizações escolhidas pelas elites, torna-se ainda mais

visível no caso da expansão territorial da RMC. Obviamente que as características da região

como polo tecnológico, universitário e econômico ajudam a compreender parte dessa

expansão territorial da elites.

IV-E a migração? Qual o seu papel nesse processo?

A ideia deste tópico é mostrar de que forma e em que medida a migração tem contribuído para

o incremento (ou redução) da segregação socioespacial da população da RMC. Para tanto,

trata-se de analisar não apenas os volumes de fluxos migratórios registrados para os

municípios metropolitanos, como também o grau de seletividade dos mesmos em termos

socioeconômico.

De forma a caracterizar o nível socioeconômico dos residentes (migrantes e não migrantes)

optou-se por considerar a forma de inserção produtiva através do tipo de ocupação manual ou

não manual e o nível educacional destes indivíduos. Muito embora se reconheça que a

classificação ocupacional utilizada é muito genérica para espelhar a diversidade

socioeconômica, acredita-se que ela seria suficiente para os objetivos desse estudo, pois

permite ao menos diferenciar em grandes linhas o trabalhador menos qualificado. Além disso,

o uso também do nível educacional de alguma maneira ajudará a diferenciar a população.

Assim, a Tabela 3 mostra que, em 2000, enquanto perto de ¼ dos não migrantes ocupados da

RMC tinham funções não manuais, este valor era de 21,6% para os migrantes que chegaram

no último quinquênio dos anos 1990, ou seja, de maneira geral, a migração se mostrava

melhor qualificada. Tal tendência acentua-se ainda mais quando são observados dos dados

dos municípios de Vinhedo, Campinas, Valinhos, Americana e Jaguariúna que, sabidamente

são aqueles com melhores condições socioeconômicas da região. Por outro lado, em boa parte

dos demais municípios as diferenças são bem menores, sendo que em alguns casos, como em

Hortolândia e Monte Mor (duas das principais periferias da RM) os migrantes encontram-se,

em média, em situação inferior aos dos não migrantes.

No ano 2010, percebe-se que aumentou a proporção de trabalhadores não migrantes com

ocupações não manuais (de 24,3% para 26,8%), e desta vez mais municípios se encontravam

acima da média, com a inclusão de Americana (29%), Valinhos e Paulínia (28% cada), e

Vinhedo muito próximo (26,2%). Deve-se lembrar que, como comentado anteriormente,

Paulínia é uma das áreas que nos anos 2000 se soma aos outros municípios que se

encontravam na chama “cordilheira da riqueza”. Vale dizer que, de modo geral, todos os

municípios incrementaram seus percentuais de trabalhadores manuais seja entre os migrantes,

seja entre os não-migrantes, fato que reflete uma mudança, ainda que relativa, no perfil da

RM.

No entanto, para efeitos desse estudo, importa muito mais considerar o fato de que houve

visível incremento das condições dos migrantes que passaram de 21,6% de não manuais em

2000 para 28,8% em 2010, invertendo a situação observada em 2000, ou seja, com os

migrantes apresentando melhores condições que os não migrantes.

12

Tabela 3: População ocupada segundo ocupação e condição migratória. Municípios da RM

de Campinas, 2000 e 2010.

Fonte: IBGE, censos demográficos de 2000 e 2010. Elaboração própria.

Estes dados sugerem, portanto, que na RMC a migração se tornou mais seletiva no que se

refere à qualificação. Além disso, considerando os dados por municípios, se percebe que tal

fenômeno foi ainda mais acentuado em alguns deles, como os destacados em 2000 agora

acompanhados de outros dois: Indaiatuba e Paulínia. Este último município, aliás, foi o que

mais apresentou um crescimento entre os migrantes não manuais (de 21,1% para 35,8% entre

2000 e 2010), fato que sabidamente reflete políticas explícitas de atração de população mais

qualificada por parte da prefeitura municipal.

Assim, os dados da Tabela 3 mostram que a migração está se tornando mais qualificada com

o tempo e também que os migrantes qualificados parecem dirigir-se com maior intensidade

para um grupo pequeno de municípios da região. Contudo, deve-se ressaltar que esse

fenômeno, além de refletir, como dito os atrativos da RM e de alguns de seus municípios,

também fica mais visível em função da redução significativa de migração para a área que,

implicaria na redução também do peso dos migrantes de menor qualificação.

Outra característica analisada para observar os padrões de seletividade de migração na RMC

foi a escolaridade que, em geral, tende a apresentar forte correlação com o nível de renda e até

mesmo a qualificação profissional. Para um panorama mais geral deste tema na RMC, foi

elaborada a Tabela 4, que apresenta apenas os níveis extremos da classificação utilizada dessa

variável, ou seja, “primeiro grau incompleto” e “superior completo”.

ManualNão

ManualManual

Não

ManualManual

Não

ManualManual

Não

Manual

Americana 75,6 24,4 76,1 23,9 71,3 28,7 71,0 29,0

Artur Nogueira 86,8 13,2 84,0 16,0 83,0 17,0 81,9 18,1

Campinas 69,6 30,4 68,0 32,0 64,1 35,9 66,9 33,1

Cosmópolis 85,6 14,4 83,8 16,2 80,7 19,3 78,7 21,3

Engenheiro Coelho 85,8 14,2 88,1 11,9 86,5 13,5 86,1 13,9

Holambra 81,0 19,0 83,8 16,2 73,3 26,7 74,6 25,4

Hortolândia 88,4 11,6 87,0 13,0 81,9 18,1 83,0 17,0

Indaiatuba 79,5 20,5 80,5 19,5 68,5 31,5 75,1 24,9

Itatiba 79,0 21,0 81,5 18,5 72,4 27,6 77,0 23,0

Jaguariúna 78,9 21,1 86,7 13,3 73,1 26,9 74,1 25,9

Monte Mor 89,5 10,5 86,2 13,8 85,5 14,5 80,8 19,2

Nova Odessa 79,8 20,2 83,8 16,2 75,2 24,8 76,5 23,5

Paulínia 78,9 21,1 82,8 17,2 64,2 35,8 72,0 28,0

Pedreira 89,3 10,7 81,7 18,3 80,7 19,3 76,5 23,5

Santa Bárbara d'Oeste 86,9 13,1 83,8 16,2 79,7 20,3 80,7 19,3

Santo Antônio de Posse 86,6 13,4 86,9 13,1 88,6 11,4 87,7 12,3

Sumaré 87,0 13,0 87,5 12,5 78,5 21,5 81,6 18,4

Valinhos 72,3 27,7 76,1 23,9 61,5 38,5 72,0 28,0

Vinhedo 65,9 34,1 79,8 20,2 64,8 35,2 73,8 26,2

Região Metropolitana 78,4 21,6 75,7 24,3 71,2 28,8 73,2 26,8

Município

2000 2010

Migrante Não Migrante Migrante Não Migrante

13

Da mesma forma que no caso da ocupação, estes dados apontam para uma sensível melhoria

das condições gerais da população na RMC no período de dez anos. De fato, no período

2000/2010, tanto para os migrantes, quanto para os não migrantes o percentual de pessoas

com primeiro grau incompleto reduziu-se significativamente, sendo que o percentual de

pessoas com superior completo duplicou. Obviamente que tal tendência espelha o que

aconteceu no país como um todo, especialmente no Estado de São Paulo, no entanto chama a

atenção que particularmente para os migrantes essa melhoria tenha sido mais pronunciada.

Tal resultado corrobora o que se vinha observando nesse trabalho sobre o processo de

elitização de algumas zonas e municípios da RMC. Para os migrantes de Paulínia e Valinhos,

por exemplo, registra-se com um aumento de mais de 11 pontos percentuais em 10 anos entre

os migrantes com superior completo o que novamente reforça o impacto de ações no campo

do zoneamento urbano desenvolvidas nesses municípios para atrair migrantes qualificados e

mais escolarizados.

Tabela 4: População de 15 anos ou mais segundo educação e condição migratória.

Municípios da RM de Campinas, 2000 e 2010.

Fonte: IBGE, censos demográficos de 2000 e 2010. Elaboração própria.

Se em 2000, os migrantes pareciam ser relativamente mais escolarizados que os não

migrantes, em 2010 essa tendência parece ter se intensificado, em particular em municípios

como Valinhos, Vinhedo, Paulínia e Campinas. Vale lembrar que, com exceção de Campinas,

por suas características de cidade polo e função redistributiva de população, os demais

encontram-se entre aqueles de maior crescimento demográfico na década de 2000. Isso

significa que parte importante do processo de redistribuição espacial da população na RMC se

deve em boa medida ao processo de elitização de algumas de suas zonas, processo esse

1o grau

incompleto

Superior

completo

1o grau

incompleto

Superior

completo

1o grau

incompleto

Superior

completo

1o grau

incompleto

Superior

completo

Americana 43,7 9,3 47,2 7,2 25,7 14,1 26,4 13,3

Artur Nogueira 59,0 5,8 60,0 3,0 34,5 6,8 38,3 6,8

Campinas 44,3 13,9 40,3 11,8 26,6 20,7 27,6 16,6

Cosmópolis 57,7 3,5 57,1 3,1 32,5 5,1 37,1 6,3

Engenheiro Coelho 55,3 5,1 62,9 3,8 41,8 7,4 50,0 6,1

Holambra 59,7 10,4 59,4 5,6 37,0 18,4 37,8 11,4

Hortolândia 58,1 2,3 56,0 1,4 35,0 5,0 36,9 4,3

Indaiatuba 46,0 8,2 52,4 5,0 24,1 17,6 30,7 10,2

Itatiba 51,6 7,0 53,9 5,4 29,7 15,1 35,3 10,0

Jaguariúna 41,8 9,9 55,6 4,3 28,1 13,1 31,8 10,0

Monte Mor 64,6 2,2 61,3 2,7 44,4 4,9 42,2 6,1

Nova Odessa 49,6 5,8 49,8 3,4 26,6 9,0 30,7 7,7

Paulínia 45,0 6,1 49,8 4,0 25,6 17,8 28,2 11,8

Pedreira 62,9 4,0 60,4 4,1 38,4 5,8 37,3 8,6

Santa Bárbara d'Oeste 51,7 3,5 55,1 3,3 28,5 7,7 33,0 6,9

Santo Antônio de Posse 59,3 2,4 70,1 3,2 53,1 3,4 52,0 4,5

Sumaré 57,3 2,8 55,8 2,1 31,5 9,4 36,0 5,6

Valinhos 44,3 13,6 47,3 5,9 21,9 25,9 28,0 14,7

Vinhedo 37,0 18,1 50,3 5,5 23,1 24,1 29,0 15,1

Região Metropolitana 49,5 8,5 47,4 7,7 28,7 15,1 30,8 12,1

Migrante Não Migrante

2000 2010

Migrante Não MigranteMunicípio

14

possibilitado pelas características regionais como centro universitário e tecnológico e, claro,

pelas ofertas imobiliárias que sugiram no período.

V-Mensurando e identificando a lógica espacial da segregação

Para finalizar, foram criadas análises de autocorrelação espacial para a renda média mensal do

responsável pelo domicílio, para os anos de 2000 e 2010. As categorias de legenda das figuras

7 e 8 representam setores censitários com responsáveis com rendimentos altos ou baixos e

cujos setores vizinhos apresentavam responsáveis com rendimentos também altos ou baixos.

Neste sentido, os setores em azul escuro seriam aqueles com rendas altas cercados por setores

com a mesma característica (alto/alto) e os em azul claro cujos arredores seriam setores com

renda baixa (alto/baixo). Os setores em tons vermelhos seriam o oposto: renda baixa cercado

por renda baixa (baixo/baixo - vermelho) e renda baixa com os arredores de renda alta

(baixo/alto - vermelho rosado).

Figura 7: Categorização da renda média mensal do responsável segundo o indicador de

autocorrelação espacial local de Moran. Setores censitários da RMC, 2000.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000. Elaboração própria.

15

A Figura 7 mostra inicialmente o que já havia sido dito anteriormente: a Rodovia Anhanguera

claramente delimita áreas com setores de baixa ou alta renda, sendo a concentração de setores

“alto/alto” marcadamente em Campinas, Valinhos e Vinhedo, com visível extensão na direção

de Paulina (ao norte). Também é notável a grande concentração de setores com responsáveis

por domicílios com alta renda nas áreas mais centrais destes municípios, ao passo que em

municípios mais “periféricos” aparecem muito mais setores vermelhos (de baixa renda). Os

setores em branco são aqueles em que não houve uma categorização específica, ou seja, existe

uma heterogeneidade interna que não permitiu a classificação em nenhuma categoria. Em

outras palavras a cor branca corresponderia à ausência de segregação espacial na zona com

relação à variável indicada.

Figura 8: Categorização da renda média mensal do responsável segundo o indicador de

autocorrelação espacial local de Moran. Setores censitários da RMC, 2010.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2010. Elaboração própria.

Embora de visualização dificultada pelo grande número e, portanto, menor tamanho dos

setores censitários, pode-se perceber a partir da comparação das figuras 7 e 8 que houve um

aumento dos setores brancos, especialmente a norte/nordeste da Rodovia Anhanguera, fato

que sugere que a zona da “cordilheira de pobreza” mesmo que ainda configurada, apresentou

16

um intenso processo de diversificação socioeconômica, ou seja, de uma redução da

segregação socioespacial nesta área.

Tal situação se reflete no indicador global de concentração espacial (I de Moran Global) que

sofreu redução de 0,47 para 0,38 entre 2000 e 2010. Ou seja, em escala regional houve

redução da segregação. Observando mais atentamente, percebe-se que, em geral, foram os

setores vermelhos (baixa/baixo) em 2000 os que se tornaram brancos (sem correlação espacial

e, portanto, heterogêneos em termos socioeconômicos) em 2010, o que, de certa forma, reflete

a melhoria generalizada da renda ocorrida no país como um todo.

No entanto, ao observar os municípios definidos anteriormente como de recepção de

migrantes mais seletivos (Campinas, Valinhos, Vinhedo, Paulínia), percebe-se que, em 2010,

os setores azuis (alta/alta) são predominantes, sendo que os brancos (heterogêneos) são

minoria. Tal tendência é ainda mais forte na zona próxima à rodovia Anhanguera. Em outras

palavras, mesmo que no plano regional se verifique a redução da segregação socioespacial,

fica muito claro que a “cordilheira da riqueza” parece ter sido reforçada, o que mostra uma

nova face do processo de expansão metropolitano possibilitada pela migração seletiva em

nível intrarregional e externa e, explicada em boa medida pela ampliação de uma “nova”

forma de assentamento (os condomínios fechados) que ganha força na região nos anos 1990.

VI-Considerações finais

O objetivo central desse estudo foi o de investigar a tendência da segregação socioespacial da

população na RMC e, principalmente, o impacto da migração sobre esse processo.

Como se mostrou, a RMC reduziu significativamente o seu crescimento demográfico nas

últimas décadas não apenas em função da queda da fecundidade, mas principalmente pela

redução da migração de origem externa que, no passado, foi a grande responsável pelo

dinamismo apresentado pela região a ponto de se tornar uma das mais importantes

aglomerações urbanas do país.

De fato, em vários municípios da RMC a maior parte do crescimento foi devido ao

crescimento vegetativo, especialmente no município de Campinas. Pode-se dizer que a

redução de migração para a região de alguma maneira ajuda a compreender o por quê do

incremento da seletividade dos migrantes no sentido do incremento de suas qualificações.

Nesse estudo, trata-se de mostrar que, não obstante a redução do seu crescimento

demográfico, a RMC ainda mostrou grande efervescência em termos do seu processo de

redistribuição espacial da população e consequente expansão urbana com um diferencial do

que vinha se observando no passado: o maior peso relativo da população de melhores

condições socioeconômicas ou, em outros termos, as elites.

Os dados analisados não deixam dúvidas que essa parcela da população e, particularmente a

migração desses indivíduos, foram importantes para compreender o crescimento demográfico

de vários municípios muito acima da média regional, como foram os casos de Valinhos,

Vinhedo e Paulínia. Por outro lado, mesmo apresentando algum dinamismo demográfico, as

tradicionais periferias não apenas cresceram em ritmo mais reduzido, mas também parecem

17

ter passado por um processo de redução da homogeneidade social que apresentavam no

passado.

Tal fato implicou na diminuição do grau de segregação socioespacial na região como um

todo, muito embora as análises realizadas tenham mostrado que as “cordilheiras”

caracterizadas por estudos anteriores ainda persistiam. Assim, a figura de uma região

“dividida” pela Rodovia Anhanguera ainda se mantém, contudo, com algumas diferenças

essenciais: a redução da heterogeneidade de “cordilheira da pobreza” e a intensificação do

processo de elitização da “cordilheira da riqueza”.

Nesse estudo ainda de caráter exploratório pode-se deduzir a importância que as

características particulares da RMC quanto à sua estrutura econômica e vocação para

concentração de atividades de alta tecnologia tem sobre as sua dinâmica demográfica e

socioespacial em nível intra-regional, em particular, no que se refere à seletividade de sua

migração em uma situação de forte redução daquela de origem externa. Obviamente que para

se compreender as transformações na forma de ocupação do seu espaço urbano e no processo

de segregação de sua população seria fundamental compreender como vem sendo produzido o

espaço de assentamento na região tendo em vista as tendências e interesses vigentes no

mercado imobiliário. Mas isso é uma questão para estudos mais aprofundados e

interdisciplinares.

Bibliografia

Cunha, J. M. P.; Baeninger, R. (2013), “Internal migration in Brazil: trends at the beginning

of the 21st Century”. Sessão Temática 129: Internal migration and urbanization: are patterns

changing? In: XVII IUSSP International Population Conference. Korea, de 26 a 31 de agosto.

Cunha, J.M.P. et al. (2007), “Social Segregation and Academic Achievement in State-Run

Elementary Schools in the Municipality of Campinas, Brazil”, trabalho apresentado no

Encontro Annual da Population Association of America, New York.

Cunha, J.M.P. e Jiménez, M.A. (2006), “The Process of Cumulative Disadvantage:

Concentration of Poverty and the Quality of Public Education in the Metropolitan Region of

Campinas”, trabalho apresentado na conferência Spatial Differentiation and Governance in

the Americas, Austin, Texas, 17 a 19 de Novembro.

Cunha, J.M.P.; Jakob, A.A.E.; Jiménez, M.A. e Trad, I.L. (2006), “Expansão metropolitana,

mobilidade especial e segregação nos anos 90: o caso da RM de Campinas”, em Cunha,

J.M.P. (org.), Novas metrópoles paulistas: população, vulnerabilidade e segregação,

Campinas: NEPO/UNICAMP.

Flores, C. (2006), “Consequências da segregação residencial: teoria e métodos”, em Cunha,

J.M.P. (org.), Novas metrópoles paulistas: população, vulnerabilidade e segregação,

Campinas: NEPO/UNICAMP.

Galster, G. e Killen, S. (1995), “The geography of metropolitan opportunity: a reconnaissance

and conceptual framework”, em Housing policy debate, v.6, n.1, p.7-43.

18

Kaztman, R. (1999). “Activos y estructura de oportunidades. Estudios sobre las raíces de la

vulnerabilidad social en Uruguay”, Uruguay: PNUD-Uruguay e CEPAL-Oficina de

Montevideo.

Massey, D.S. e Denton, N.A. (1988), “The Dimensions of Racial Segregation”, em Social

Forces, n.67, p.281-315.

Sabatini, F. (2004), “Medición de la segregación residencial: reflexiones metodológicas desde

la ciudad latinoamericana”, em Cáceres, F. e Sabatini, F. (eds), Barrios Cerrados en Santiago

de Chile: Entre la Exclusión y la Integración Residencial, Cambridge, MA: Lincoln Institute

of Land Policy.

_________; Cáceres, G. e Cerda, J. (2004), “Segregação Residencial nas Principais Cidades

Chilenas: tendências das três últimas décadas e possíveis cursos de ação”, em Espaço &

Debates, n.45, p.60-74.

Sobrino, J. (2007), “Patrones de dispersión intrametropolitana en México”, em Estudios

Demográficos y Urbanos, vol. 22, núm. 3 (66), pp. 583-617.

Sposati, A. (coord.) (1996) “Mapa de Exclusão/Inclusão Social de São Paulo”. São Paulo,

EDUC.

Torres, H.G.; Ferreira, M.P. e Gomes, S. (2005), “Educação e Segregação Social: Explorando

o Efeito das Relações de Vizinhança”, em Marques, E. e Torres, H.G. (eds.), São Paulo:

segregação, pobreza e desigualdade, São Paulo: Editora do Senac.