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Os Filhos Da Scarlatti - John Mcnally

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muit bom

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  • DADOS DE COPYRIGHT

    Sobre a obra:

    A presente obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com oobjetivo de oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudos acadmicos, bem comoo simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura.

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    Sobre ns:

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    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando pordinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel."

  • Sumrio

    Capa

    Sumrio

    Folha de Rosto

    Folha de Crditos

    Dedicatria

    ARQUIVO ULTRASSEGURO NO DEIXAR REGISTRO

    Epgrafe

    Primeira ParteUMDOISTRSQUATROCINCOSEISSETEOITONOVEDEZ

    Segunda ParteONZEDOZETREZEQUATORZEQUINZEDEZESSEISDEZESSETE

  • DEZOITODEZENOVEVINTEVINTE E UM

    Terceira ParteVINTE E DOISVINTE E TRSVINTE E QUATROVINTE E CINCOVINTE E SEISVINTE E SETEVINTE E OITOVINTE E NOVETRINTATRINTA E UMTRINTA E DOIS

    Quarta ParteTRINTA E TRSTRINTA E QUATROTRINTA E CINCOTRINTA E SEISTRINTA E SETETRINTA E OITOTRINTA E NOVEQUARENTAQUARENTA E UMQUARENTA E DOISQUARENTA E TRSQUARENTA E QUATROQUARENTA E CINCO

  • QUARENTA E SEISQUARENTA E SETEQUARENTA E OITO

    NOTAS

  • TraduoPaulo Polnozoff Jr.

  • Ttulo original: Infinity Drake The sons of ScarlattiCopyright John McNally 2014

    Copyright 2014 Editora Novo ConceitoTodos os direitos reservados.

    Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer meio, eletrnico oumecnico, incluindo fotocpia, ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmisso de informao sem

    autorizao por escrito da Editora.

    Esta uma obra de fico. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos so produto da imaginao do autor.Qualquer semelhana com nomes, datas e acontecimentos reais mera coincidncia.

    Verso digital 2014

    Produo editorial:Equipe Novo Conceito

    Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Lngua Portuguesa.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    McNally, JohnInfinity Drake - Os filhos de Scarlatti / John McNally ; traduo Paulo Polzonoff Junior. -- Ribeiro Preto, SP : NovoConceito Editora, 2014.

    Ttulo original: The sons of Scarlatti.ISBN 978-85-8163-509-5

    1. Fico norte-americana I. Ttulo.

    14-03514 | CDD-813

    ndices para catlogo sistemtico:1. Fico : Literatura norte-americana 813

    Rua Dr. Hugo Fortes, 1.885 Parque Industrial Lagoinha

    14095-260 Ribeiro Preto SP

    www.grupoeditorialnovoconceito.com.br

  • Para meus filhos, Rose, Huw e Conrad, com amor eterno e um tero de participao nosmeus direitos autorais*.

    * dependendo das condies

  • ARQUIVO N: GNTRC 9437549 CC/ DRAKE

    ULTRASSECRETO CONFIDENCIAL RESTRIO ULT9

    RESUMO DO ARQUIVO: (.1) NARRATIVA EM PONTOS DE VISTA MLTIPLOS DA OPERAO

    SCARLATTI COM BASE EM ANLISES E ENTREVISTAS COM TODOS OSPARTICIPANTES. ENTREVISTAS CONDUZIDAS E EDITADAS POR nn.

    DADOS TCNICOS DE APOIO DAS FONTES GNTRC

    RELATOS INCLUEM: DETALHES OPERACIONAIS COMPLETOS, TOMADAS DE DECISES. n CONTEXTO PSICOLGICO/EMOCIONAL COMPLETO.

    ATUALIZAO

    ATUALIZAO DO ARQUIVO (.2) PARA REFLETIR O TESTEMUNHO EINTERROGATRIO DE

    ACESSO RESTRITO: PRIMEIRO-MINISTRO/ SECRETRIO DE GABINETE/ SECRETRIO DE DEFESADO ESTADO/ CHEFE DO ESTADO-MAIOR/ PRESIDENTE GNTRC.

    ACESSO RESTRITO PARA SEMPRE: A. ALLENBY/ DRAKE.

    ACESSO DE ESTUDO RESTRITO (VERSO REDIGIDA: NVEL DE LIDERANA E COMANDO TTICOULT).

    ARQUIVO ULTRASSEGURO NO DEIXAR REGISTRO

  • Porque, se no deixares ir o meu povo, eis que enviarei enxames de moscas sobre ti, esobre os teus servos, e sobre o teu povo, e s tuas casas; e as casas dos egpcios se encherodesses enxames, e tambm a terra em que eles estiverem.

    xodo, 8:21

    Considere-se com sorte. At aqui.

    Soldados de seis pernas usando insetos como armas de guerra, Jeffrey A. Lockwood,OUP, 2008

  • Primeira Parte

  • UM

    Isso exatamente o que aconteceu a Liz e Lionel quando Kismet desapareceu em seu anosabtico...

    A av de Finn ficou diante do porto de embarque, irritada.

    Vov! Ele est no prdio. Ele estar aqui a qualquer momento disse Finn.

    Estavam esperando que o tio Al aparecesse. Ele deveria assumir o lugar da vov enquantoela tirava uma folga merecida voando para Oslo para um cruzeiro de tric ao redor daEscandinvia com mais cem entusiastas grisalhas dessa arte.

    Al prometera aparecer na casa da vov na noite anterior.

    Depois Al prometera encontr-los no aeroporto, sem falta.

    Depois Al prometera agora mesmo, pelo telefone encontr-los no porto deembarque.

    Mas Al... bem, Al era Al, e nada era certo, e o jeito de a vov lidar com a irritao que seufilho lhe causava, desde quando era beb at agora, trinta e dois anos mais tarde, era encher aatmosfera com uma torrente incansvel de palavras ansiosas.

    ... Kismet o mais velho com as tatuagens eles tiveram de voar para Kinshasa custandocinco mil libras coitadinha ela perdeu o telefone era no saber se ela estava morta ou vivavoc no pode imaginar o que isso faz a um pai onde est ele? eu cuidei dos gatos delesmesmo problema de bexiga de um tigre...

    ltima chamada, passageira Violet Allenby, voo 103 para Oslo, por favor, sigaimediatamente para o porto 15, anunciou a voz no sistema de alto-falantes.

    ... John muito solcito me levou at o jovem veterintio Woking da Nova Zelndiaadorvel menina comida mida com tratamento homeoptico...

    Vov! Por favor!

    Posso pegar o prximo voo...

  • No, vov! Finn deu meia-volta, frustrado.

    Infinity! gritou ela. No vou sair daqui.

    (Infinity. Tudo o que Finn sabia sobre seu pai tudo o que ele precisava saber era o seuprprio nome. Quem batizaria o filho numa referncia a um conceito matemtico? Exatamenteo tipo de homem que se era de imaginar diria a me de Finn, se divertindo, dizendo que foio que ela conseguiu fazer para impedir que ele fosse batizado de E=mc2).

    Al est aqui! Vou ficar bem!

    No est! Uma coisa da qual se pode ter certeza que nunca se pode contar com Al. Elediz que est no prdio, mas isso pode no significar nada. Pode significar um edifcioimaginrio, pode significar um edifcio noutro continente ou planeta...

    Vov, pegue seu voo!

    Tenho minhas responsabilidades. Voc uma criana...

    Sou quase um adolescente.

    ... e se voc acha mesmo, se ele acha que vou abandon-lo num aeroporto cheio degermes, fugitivos e terroristas internacionais...

    E ento, graas a Deus, ali perto, parecendo que tinha acabado de cair da cama, surgiu Al.

    Um metro e oitenta e sete e magro como um graveto, parte msculo e parte ossos, partearame, jaqueta de camura e uma cala de veludo to gasta que quase se desfazia, cabelosescuros, olhos ainda mais escuros, culos de marca grudados com uma fita adesiva, o braoerguido num cumprimento surpreso, como se estivesse apenas passando e tivesse nos visto poracaso.

    Alan! Onde que voc estava?

    Ah? Estava no meio de uma coisa. Ele achava que isso bastaria. Por que vocainda est aqui?

    Au!

    Numa coleira ao lado de Al estava um vira-lata alegre e alto (uma espcie de cruzamentoentre um canguru hiperativo e um spaniel, Finn sempre pensava).

    O que voc est fazendo com o Yo-yo? No se pode entrar com cachorros aqui!

    Eu o vi preso do lado de fora. Ele estava chorando.

    Os policiais do outro lado do salo j comeavam a notar.

    Maravilhoso! Agora vamos ser todos presos... disse a vov.

    Temos de tir-la daqui disse Finn para Al.

    Com isso, Al pegou a vov no colo como se ela fosse um beb, deu-lhe um beijo no rosto ea colocou no cho de novo, apontando na direo certa.

  • Pelo amor de Deus, tenho sessenta e trs anos!

    Finn lhe entregou a mala de rodinhas e, junto com Al, ele a acompanhou pelo porto deembarque como um relutante animal de fazenda.

    Voc falou com a Senhorita Jennings? Ela concordou em levar e trazer Finn da escola.

    A Senhorita Jennings e eu nos falamos o tempo todo confirmou Al.

    V, vov.

    Voc est mentindo! reclamou ela. Todas as refeies esto no freezer, marcadas...

    Todas as refeies esto no freezer, todas as facas e garfos esto nas gavetas, h portas ejanelas que permitem acesso ao espao... interrompeu Al.

    As chaves!

    ... as chaves que esto no bolso de Finn, bolsos que so um apndice de tecido costuradono alto da sua cala. Vamos l, mame! Eu consigo aquecer lasanha e faz-lo se comportar poruma semana!

    Duvido muito!

    Agora ela estava sendo incentivada a prosseguir por um funcionrio de rosto avermelhadodo aeroporto.

    Amo voc, vov, divirta-se!

    Voc tambm, querido, mas tome cuidado. Al? Alan?

    Prometo que ele ficar bem. V!

    Enquanto a vov finalmente desaparecia no setor de imigrao, Finn se ajoelhou de alvio,Yo-yo lambendo seu rosto.

    Al olhou para Finn, intrigado, e disse:

    Ela mencionou escola?

    Quinze minutos mais tarde, vov estava no ar e Finn e Al saam de Heathrow e entravam naM25 no De Tomaso Mangusta 1969 cinza prateado de Al, o carro mais extraordinrioconstrudo artesanalmente na Itlia, barulhento e baixo, um cup V8 monstruoso com 221cavalos de potncia. Yo-yo uivava e amava. Finn adorava o carro. A vov achava que era umcarro ridculo e mais um bom exemplo da irresponsabilidade financeira de Al.

    Cansei de roupas caras e no consigo pensar em nada melhor pra gastar meu dinheiro Al lhe dizia, algo que Finn sabia ser apenas em parte verdade, porque mais de uma vez eleencontrara cheques de Al na bolsa da vov, e eles pareciam enormes. Por mais estranho que

  • fosse o comportamento de Al, as pessoas ainda assim queriam uma parte dele empresasprecisando de conselhos tcnicos, indstrias farmacuticas procurando reconstituir molculas,governos sem saber como solucionar o problema do lixo nuclear. Todos procuravam Al.

    Ele administrava um pequeno laboratrio no centro de Londres e era um tipo de cientista:um qumico atmico com uma mente criativa que considerava difcil se adequar a uma scategoria na cincia e na vida.

    Ele era a nica pessoa, pelo menos era o que dizia, a ter sido demitida da Universidade deCambridge, Inglaterra, e Cambridge, Massachusetts, no mesmo semestre (por questionar oModelo Padro da fsica nuclear por meio do Paradoxo do Neutrino do Tau e por derrubarpeixe quente num economista de direita durante um jantar, respectivamente).

    Al via isso como prova de sua fibra moral. A vov via isso como prova de insanidade erezava para que no fosse uma praga de famlia. Depois de criar duas crianas totalmenteindomveis, ela resolvera proteger seu nico neto em dezesseis tons de l de algodo.

    Finn j tinha o mesmo fsico magro e descoordenado de Al, mas tinha cabelos loiros quecresciam em vrias direes ao mesmo tempo (do seu pai), e olhos profundamente azuis(da sua me), e agora a vov temia que ele tivesse herdado uma tendncia a ter suasprprias ideias sobre as coisas tambm (rejeitando todas as comidas amarelas, excetotortas, mencionando o comportamento belicoso de uma professora numa recente reunio depais e citando seus problemas com a religio com um vigrio, durante um funeral).

    No que Finn quisesse irritar algum. Ele estava apenas tentando estar um passo frente dotdio, o que significava como ele afirmou no seu perfil no Facebook no estar nomesmo planeta que a escola. Ele adorava a vov e se esforava ao mximo para no lhecausar qualquer sofrimento desnecessrio evitando esportes perigosos, conflitos noparquinho e passatempos potencialmente letais (e ao mesmo tempo mantendo seu direito autodefesa, claro. E quem podia resistir ideia de fabricar fogos de artifcio em casa? Ouandar de skate na piscina do vizinho ou praticar saltos mortais no concreto ou...).

    Quando Finn estava com Al, no havia regras.

    Os tios das outras pessoas jogavam golfe. Os tios das outras pessoas podiam lhes dar dezlibras no Natal. Al ficava feliz em ver cada momento como uma oportunidade de descoberta eentretenimento e nunca dizia no. At mesmo Finn percebia que isso podia ser uma loucura,mas estar com ele era realmente muito empolgante.

    Eu o estou treinando dizia Al sempre que a vov reclamava.

    Para qu? perguntava ela, aterrorizada (porque sabia que ele s vezes vivia nummundo secreto). Para a vida, achava Finn, confiando completamente no treinamento de Al, jque, se a cabea de seu tio estava sempre nas nuvens, seu corao estava sempre no lugarcerto. Sim, ele era instvel e irresponsvel, sim, ele podia ter uma relao difcil com ascoisas (o que inclua estacionar, perder coisas e uma inabilidade com a limpeza), mas elepreenchia a lacuna entre a vida cotidiana e a vida como ela deveria ser impulsiva einstrutiva e cheia de coisas que explodiam.

  • Ele aparecia a cada duas semanas, s vezes ficando por uma semana durante o perodo defestas ou durante todo o vero, depois que a mame morreu.

    Voc arrumou a mala? Al perguntou de repente.

    Sim!

    Pegou seu passaporte, viu a data de validade?

    Sim.

    Au!, acrescentou Yo-yo.

    Preparou todas as coisas?

    Na garagem, todas enfileiradas.

    Armas? Voc sabe que eles ainda tm lobos?

    M60 com lanador de granada.

    Ah! Isto no um jogo de Xbox, vida ou morte. Protetor solar?

    Protetor solar, culos de sol, barraca, roupas, instrumentos prova dgua, canivetesuo, barra de chocolate, tocha, isqueiro, GPS de mo. Tenho at mesmo um travesseiroexplosivo.

    Confie em si mesmo era uma das Trs Grandes Regras da Mame. Voc nem semprepode confiar nas outras pessoas.

    As coisas de Finn pesavam 6,5 quilos numa elegante mochila.

    Ele estava preparado para qualquer situao.

    Aposto que voc s se lembrou de que iramos esta manh! Aposto que voc nem tomoubanho! Finn provocou Al.

    Al se fingiu de ultrajado.

    Ei! Tenho cartes de crdito, um guia de restaurantes e meio tubo de Pringles. Agoravamos carregar e ir em frente.

    Dia 1, 7h33 (horrio de vero). Hook Hall, Surrey, Reino Unido

    Seis carros em um comboio estacionaram silenciosamente do lado de fora do Hook Hall.

    Eles eram esperados. Pouco se disse.

    Num dos veculos estava o Comandante James Clayton-King (Harrow, Oxford, MarinhaReal, Ministrio da Defesa, Servio de Inteligncia, Presidente do G&A), chamadosimplesmente de Rei. No o Rei alegre das canes de ninar, e sim o rei cruel e poderoso.Pele clara, queixo proeminente, inteligncia profunda. Ele no era to ameaador quanto seusolhos ocultos sugeriam, mas gostava de parecer assim.

  • Dois oficiais do Servio de Segurana saram do carro, um manteve a porta aberta. Doscarros atrs, mais importantes personagens surgiram da mesma forma, incluindo o GeneralMount do Estado-Maior, trs ajudantes o acompanhando.

    Eles foram levados pelo complexo at chegarem Cmara de Anlise do Campo Central(CACC), um armazm gigantesco de concreto onde os pesquisadores podiam recriar econtrolar qualquer clima ou ambiente imaginvel, dos desertos lunares at a floresta tropical,e golpear ou explodir ou envenenar as coisas s para ver o que acontecia. Em essncia, era umgigantesco tubo de ensaio e apenas um dos centros de pesquisa assim existentes no mundo[1].

    Eles subiram na ponte de ao at uma galeria de vidro reforado e concreto que margeava oespao. Outros j estavam l: uma mistura ecltica de soldados, cientistas, engenheiros epensadores.

    Um grupo de especialistas de culos de um instituto de pesquisa em Salisbury Plain estavatimidamente reunido. Pareciam homens que no haviam dormido.

    Houve apertos de mo e meneios de cabea, mas nenhuma empolgao. Ofereceu-se ch ecaf, tudo recusado. Uma seleo de biscoitos permanecia intocada.

    O Comit Global No Governamental de Resposta a Ameaas (popularmente conhecidoapenas como G&A) foi formado em outubro de 2002 para responder a ameaasextraordinrias segurana mundial e ao tecido que compe a civilizao ocidental. Elecontinha quatorze membros especialistas e um ncleo de tomada de decises de cincopessoas, incluindo o Comandante King como presidente. Haviam sido obrigados a seencontrar apenas trs vezes na ltima dcada[2], e sabiam que, qualquer que fosse o motivopara estarem aqui, era algo srio.

    Mortalmente srio.

    Um tcnico disse:

    Pronto quando o senhor estiver.

    Bom. Feche a sala disse o Comandante King.

    Ele esperou que as portas e cortinas fossem fechadas.

    Agora... Vocs devem estar se perguntando por que foram chamados.

    Sua voz era grossa e habituada a dar ordens controlada, direta e, ainda assim, bastanteteatral.

    Bem, um dos nossos cientistas est desaparecido. E parece que ele lanou... isto...

    O tcnico acionou uma chave e, na tela, numa escala enorme, apareceu uma imagem

    DIA UM, 7h41 (horrio de vero). Willards Copse, Berkshire, Reino Unido

    Matar matar matar matar matar matar matar matar matar...

  • DOIS

    Lmpada anti-insetos? disse Al.

    Certo disse Finn.

    Redes?

    Certo.

    Armadilhas?

    Certo.

    Pinos?

    Certo.

    Potes?

    Au!

    Cachorro idiota.

    Eles estavam de volta velha casa da vov, repassando as coisas que Finn reunira para aviagem.

    Acetato etlico?

    O Agente da Morte? brincou Finn. Certo.

    Cartes e spray fixador?

    Certo! Est tudo aqui, vamos!

    Au!, concordou Yo-yo (particularmente alegre, j que vamos significava correr para foracom Yo-yo), saltando em Finn to empolgado que o fez derrubar uma caixa de sapatos cheiade soldados de plstico da estante, espalhando-os pelo cho da garagem.

    Ah, legal disse Finn, tendo de recolh-los um a um.

    Deveria haver molinetes de pesca por aqui... disse Al, procurando em meio a uma

  • dcada de tralhas acumuladas nos fundos da garagem.

    Finn participou de uma procura semelhante em seu primeiro vero na casa da vov, quandodescobriu os instrumentos da coleo de insetos da infncia de Al atrs de um defunto Mini.Ele e Al montaram a lmpada anti-inseto, um aparato brilhante, no quintal dos fundos, eficaram l durante boa parte da noite coletando e catalogando vrios insetos atrados pela luz.

    A vov no viu aquilo como a maneira mais adequada de sofrer a morte de uma me, umairm e uma filha. Mas eles eram homens, e homens eram diferentes quando se tratava deemoes, principalmente emoes fortes, e, se organizar insetos mortos os ajudava, que fosse.Ela tambm sabia que sua filha, onde quer que estivesse, estaria aprovando o fato de os doisformarem uma unio to estranha e inquebrvel.

    A segunda das Trs Grandes Regras da Mame para Finn era: Seja voc mesmo.

    Finn nunca soube ao certo o que isso significava, mas terminou com 108 espcies diferentesde insetos nativos em vrios estados de conservao grudados em dois cartes A3 sobre alareira do seu quarto.

    Bombus lucorum, Bombus terrestris, Bombus lapidarius (mamangavas de nomes tocuriosos que faziam sua boca se divertir); formigas cortadeiras, mineradoras e carpinteiras;besouro-de-igreja, bicho-da-farinha e besouros comuns; carochas grandes e pequenas;joaninhas; snfitos (voc deveria ver as asas deles), moscas; incrveis liblulas e donzelinhas(algumas irritadas); traas e mais traas quase todos os tipos de vespas; e borboletassuficientes para uma galeria de arte borboleta-de-concha-de-tartaruga e borboleta-vermelha e Camberwell, borboleta-zebra e borboletas-brancas.

    A escrita nas etiquetas era infantil, e alguns dos alfinetes e tachinhas faltavam, mas asamostras em si ainda estavam timas. Ele sabia tudo sobre os insetos; ele lera todos os livrose artigos. Ele podia recitar todos os seus nomes e caractersticas.

    Finn se perguntava se seu interesse era apenas natural ou algo que ele estava forando paracriar uma conexo com seus pais, que tinham sido cientistas, os dois (logo depois de nascer,ele perdera seu pai, Ethan, num acidente de laboratrio, e a me mais recentemente, para umcncer). De qualquer forma, era bom. E, quando Al lhe perguntou o que ele gostaria de fazerem sua folga da vov, Finn imediatamente soube que queria aumentar sua coleo deinsetos.

    tima ideia. Que tal os insetos cegos dos Pirineus? perguntou Al. EsquisitosUngeheuer sem olhos encontrados nas mais profundas cavernas nas montanhas, insetos queevoluram durante vinte milhes de anos em total escurido!

    Pirineus?

    uma cadeia de montanhas entre a Frana e a Espanha.

    Sei onde , mas a vov...

    Nunca conte nada para a vov; isso s a deixa preocupada e depois voc no consegue

  • cal-la.

    Antes que Finn percebesse, a viagem estava acertada.

    Vamos pegar a estrada disse Al, reaparecendo dos fundos da garagem com doismolinetes e dois potes velhos de tabaco. Temos de chegar balsa at as trs.

    Finn estalou os dedos e Yo-yo correu feliz para a parte de trs do Mangusta, porque tudo odeixava feliz. Hora do banho. Ficar preso do lado de fora na chuva. Ouvir bronca. E, agoramesmo, sendo levado para um termo de encarceramento no canil.

    No caminho, Al ligou para a secretria da escola de Finn, Srta. Jennings, dizendo, com umacara totalmente sria, que ele era o dermatologista Dr. Xaphod Schmitten, com X-A-P-H...,e que estava levando Infinity Drake para sua clnica particular por causa de um caso srio dedermatite seborreica.

    absolutamente necessrio dar incio esfoliao.

    Se tudo corresse bem, o menino teria alta em uma semana continuou Al , apesar de elepoder ficar completamente careca, e, neste caso, qual era a poltica da escola sobre usar umvu ou peruca por razes mdicas? A secretria, alarmada, o deixou na espera paraconsultar uma autoridade maior e depois voltou ao telefone para perguntar se ele poderia citarseu nome de novo. Claro disse Al , Herr Doktor Xaphod Schmitten, com X-A-P... e da fingiu que a ligao caiu por falta de sinal.

    Isso tem que dar certo.

    Ele freou bruscamente diante do canil.

    Solte o co. Vamos.

    Finn respirou fundo.

    Vamos, Yo-yo.

    O cachorro saiu do banco de trs e seguiu Finn at o canil, empolgado com os barulhos echeiros dos outros cachorros. Depois de preso em sua gaiola, porm, Yo-yo se sentou ecomeou a uivar.

    A mame o comprara para Finn assim que percebeu que estava doente. Era obviamente umaterapia, e deu certo.

    Finn tocou seu peito. Arranhou a pedra. Apesar de no compreender totalmente o conceitode alma da sua me, ele havia muito tempo decidira que, se havia uma coisa assim, ento aalma vivia na pedra que pendia de um colar de couro em volta de seu pescoo. Parecia algotolo, mas, na verdade, era uma pedra que se chamava esfalerita que sua me sempre usava.Quando voc a arranha com sua unha ou qualquer coisa , ela brilha. Triboluminescncia,chamava-se esse fenmeno, mas nem a cincia sabia ao certo como funcionava ou por qu. Emparte era por isso que Finn adorava a pedra. Era misteriosa e cientfica e era da sua me etinha um nome legal. Se um dia ele tivesse uma filha, ela ia se chamar Esfalerita

  • Triboluminescncia.

    Finn se aproximou e fez uma ltima carcia no pescoo de Yo-yo.

    Yo-yo achou que o cruel jogo do tranque-seu-cachorro tinha acabado e se deitou decostas, oferecendo a barriga para ser coada.

    Que idiota.

    Era em momentos como esse que Finn se lembrava da terceira e ltima Grande Regra dasua me, dita nos seus ltimos dias de vida, quando no parecia que ela estava morrendo, eela lhe dava muito afeto e instrues.

    Se voc estiver em dvida, faa o que seu corao mandar, e, o que quer que acontea...siga em frente.

    Al observou, pasmo, enquanto no minuto seguinte Finn saiu do canil seguido por Yo-yo.

    O que...?

    Au!

    Finn entrou na frente, Yo-yo se sentou atrs.

    Mame... Finn comeou a dizer. E Al sabia o que viria em seguida: A mame noo deixaria assim.

    Por que voc...?

    Era uma regra emotiva e completamente absurda entre eles, nunca explcita, a de que, seFinn ou Al invocasse a me dele, o outro tinha de obedecer. A regra era estrita e sujeita aoabuso (Minha irm o teria amado por me preparar outra xcara de ch, Minha meteria adorado o FIFA 14 no PSP), mas era uma regra que Finn no tinha nenhuma intenode cancelar. Seria preciso que Al bancasse o adulto e quebrasse o encanto para colocar fim loucura, mas Al no era nem um pouco assim.

    Com isso, seis minutos mais tarde eles estavam do lado de fora da igreja.

    Christabel Coles, vigria da Igreja de So Tiago e So Joo na vila de Langmere, Bucks,gostou de Finn desde que em meio ao funeral da sua me, com onze anos ele estendeu amo para parar o culto e exigiu saber o que exatamente era uma alma e, se a alma existe,ento exatamente onde estava sua me agora? Christabel fez uma pausa e disse:

    Boa pergunta.

    E se sentou com suas vestes, ignorando a congregao reunida, para discutir o assunto comFinn. Foi interessante, esclarecedor e inconclusivo, mas ajudou os dois a atravessarem o dia,e eles se tornaram grandes amigos e se permitiram vrias conversas como essa desde ento,sempre na companhia desse... abenoado co, que Christabel no teve coragem de contar aFinn, mas considerava uma das criaturas mais difceis criadas por Deus.

    Finn disse que no podia mais deixar Yo-yo preso em canis.

  • ... tanto quanto voc deixaria um rico passar pelo olho de um camelo ou coisa assim.Sabe de uma coisa, Christabel? Voc pode cuidar dele? Virei igreja na semana que vem, deverdade

    Ela aceitou.

    Farei o meu melhor.

    Maravilhoso! Comida mida pela manh, seca noite, e s lhe d um cobertor para sedeitar. Ah, e o leve para passear sempre que puder, mas isso fcil, s o deixe caminhar vontade.

    E no o mate acrescentou Al.

    Mas vou ter de contar isso sua av!

    No se preocupe, Al far isso. Ele j est encrencado mesmo.

    Ela ficou olhando Finn dar meia-volta ao lado de seu tio incrivelmente belo e deixouescapar um suspirinho.

    Al acelerou, e o Mangusta saiu apressadamente, Yo-yo perseguindo-os pela rua.

    Confie em si mesmo.

    Seja voc mesmo.

    Siga em frente.

    No era exatamente um legado, mas era tudo o que ele tinha.

    Podemos sair de frias agora? perguntou Finn.

    Podemos sair de frias agora respondeu Al.

    O sol estava brilhando e eles corriam pelo interior da Inglaterra num carro esportivoitaliano, indo at o continente num dia de aula com vrios equipamentos cientficos, umabarraca, dois molinetes, meio tubo de Pringles e nada com o que se importar.

    Nada poderia ser mais perfeito...

    O monstro atacou a lateral do texugo vrias vezes.

    Foi um ataque to enfurecido, veneno pingava da barriga do monstro, respingando noesconderijo do animal.

    Os efeitos do armazm frio e da anestesia o deixaram tonto por boa parte da manh,mas, assim que ele prendeu sua mandbula na carne do texugo, o sangue tomou conta dossentidos do monstro e uma nica coisa se apoderou de seu sistema nervoso louco...

    Matar matar matar matar matar matar

    Trs Tyros[3] observavam.

  • Dois ficaram para trs usando coletes a prova de bala. Totalmente mascarados.

    O mais velho, que no tinha nem dezesseis anos, ficou mais perto, usando apenas umcasaco e cala jeans.

    Foi ele quem posicionou o texugo, ferido mas vivo, no lado norte do bosque. Um animalde fazenda teria servido, mas, diante da remota possibilidade de algum encontrar ocorpo, uma vaca morta poderia gerar preocupao e telefonemas para um fazendeiro,enquanto um animal selvagem morto era apenas... a natureza.

    Ele segurou o monstro que acordava. Ele o tocara: o monstro sentiria o cheiro dele,mas no atacaria.

    Ele o soltara cuidadosamente, diretamente ao lado do texugo. Agora ele observavaenquanto o monstro se fartava.

    Depois de oito minutos, o monstro abriu sua mandbula. A fmea de texugo estavainconsciente. Em poucos minutos ela estaria morta.

    O monstro, gordo e apalermado pelo sangue, sentiu uma vontade instintiva enquantosua barriga se enrijecia e as clulas se dividiam e se estendiam numa corrida para setornarem ovos completos e viveis.

    Os Tyros recuaram, como planejado, e se separaram sem dizer nada.

    No sobrou nada da operao de soltura, a no ser um olho eletrnico escondido numarvore prxima.

  • TRS

    Ajude-me, Srta. Murphy venha me ajudar!Voc vai tirar o pino da minha granada do amor!

    Digo boom digo exploso digo quem digo ns!

    Eu escrevi isso. Eu estava numa banda. Voc entende? No. Porque lhe falta experincia devida para apreciar a grandeza de...

    V aquele helicptero? interrompeu Finn, olhando pelo vidro de trs do Mangusta.

    O qu?

    Al acreditava nos prs e contras de vigorosos debates em longas viagens, por isso ele eFinn passaram boa parte da manh discutindo sobre turbinas elicas, futebol, se o Concordepodia ser ressuscitado e adaptado para voar no espao, se a neve era melhor do que avies ese, no caso de os nazistas terem ganhado a guerra, quais dos amigos da vov teriam se tornadocolaboradores.

    Eles haviam acabado de comear a discutir a afirmao de Al de que rock ruim para osjovens quando Finn notou o helicptero pela primeira vez.

    Ele esticou o pescoo para dar uma boa olhada para trs, na estrada. Al tentou localiz-lopelos espelhos.

    A estrada era sinuosa, e as rvores cobriam boa parte do cu quando eles se aproximaramda Floresta Nova, mas, inegavelmente, menos de algumas centenas de metros atrs e acimadeles, um helicptero ia para a frente e para trs, seguindo a forma da estrada, descendo cadavez mais.

    Est descendo muito disse Finn. O que voc acha que eles esto fazendo?

    Espero que no seja o inspetor da sua escola... disse Al, deixando a piada no arporque estava preocupado.

    O helicptero estava se aproximando mais rpido agora, quase tocando na copa dasrvores. Dois carros atrs deles diminuram a velocidade e encostaram.

  • Al continuou afinal, o helicptero no tinha o smbolo da polcia , mas, medida queeles passavam por uma colina at o campo aberto, o helicptero se aproximou, grande ebarulhento, colocando-se bem acima do Mangusta.

    O que eles esto fazendo? disse Al.

    Depois uma voz ecoou pelo alto-falante na barriga do helicptero.

    DOUTOR ALLENBY, PARE O CARRO.

    Eles conhecem voc? gritou Finn, impressionado.

    Al parou bruscamente. O helicptero quase pousou na estrada frente.

    O que isso? O que est acontecendo? disse Finn.

    Al parou por um instante.

    No sei ao certo, mas sem dvida so maus modos.

    E repentinamente acelerou. O carro saiu em disparada. Depois Al deu um barulhento cavalode pau, fazendo com que eles voltassem pelo mesmo lugar de onde tinham vindo. O motor V8roncou, e Finn se sentiu pressionado contra o assento de couro com a acelerao no haviadvida alguma, esses carros foram feitos para correr.

    Por que voc no est parando? gritou Finn.

    Podem ser agentes de outro pas Pode ser uma velha namorada tentando me matarMas, no se preocupe, podemos despist-lo na floresta aqui perto.

    Ele estava brincando? Ele s podia estar brincando. Ento Finn notou que os ns dos dedosde Al estavam todos brancos onde ele segurava o volante. Finn se encolheu todo no assento, ocorao batendo forte.

    Mais rpido, Al.

    Certo.

    Eles estavam se aproximando das rvores, mas o helicptero estava quase em cima deles.

    De novo ouviu-se a voz do alto-falante do helicptero:

    ENCOSTE, DOUTOR ALLENBY, POR ORDEM DO COMANDANTE KING.

    Al xingou, pisou no freio e parou o Mangusta bruscamente de novo, bem perto das rvores.O helicptero pousou lentamente num descampado ao lado deles.

    Finn estava paralisado.

    Al? ele comeou a perguntar, mas seu tio, furioso demais, simplesmente cruzou osbraos e esperou.

    Mais frente na estrada, dois quatro por quatro da polcia se aproximavam. Dois homensdo Servio Secreto desceram do helicptero e caminharam at o motor desligado do carro.

  • O senhor tem que vir...

    Agradea ao comandante interrompeu Al , mas diga-lhe que estou de frias, digaque estou na estrada e que ele vai ter de entrar em contato comigo na semana que vem e queele no precisa se dar a este trabalho todo, estou no meu e-mail, Facebook ou at mesmo aotelefone. Ah, e no se esquea de lhe dizer que ele vai ter que se arrastar at mim enquanto...

    Senhor, fui instrudo a inform-lo que o assunto diz respeito ao Projeto Boldklub.

    Projeto Boldklub? Finn riu. Que nome bizarro.

    Quem ? Algum viking? Ele olhou para Al.

    A expresso de Al de repente ficou sria.

    DIA UM, 12h38 (horrio de vero). Sibria, Rssia

    A raposa do rtico o confundiu com um lemingue a princpio, mas o cheiro logo se tornoumais exuberante e doce.

    A temperatura era de 2C. Vero. Brejos e poas caracterizavam a superfcie nessa pocado ano, a iluso do degelo. medida que a raposa se aproximou do cheiro, os tons doces esalgados se acentuaram, tornaram-se irresistveis, deixando seu sistema nervoso louco.

    E ento viu algo que no compreendia.

    Um homem.

    O homem ergueu um brao. Disparou. Depois continuou a comer seu cachorro-quente.

    O impacto jogou a raposa numa vala. Enquanto o sangue encharcava seu pelo branco,ela sentiu um ltimo instinto de sobrevivncia e se contorceu e levou a boca ferida.

    Um disco de sangue congelado se formou na superfcie da tundra. Insetos e micro-organismos, adaptados ao ambiente extremo, se aproximaram para se fartar do sangue.

    Quatorze metros abaixo, num abrigo com isolamento trmico e um ambiente tropicalsimulado, David Anthony Pytor Kaparis acionou seu pulmo de ao[4] e esperou.

    O pulmo se expandiu. O pulmo se contraiu.

    Aquilo o envolvia como um caixo, deixando apenas sua cabea exposta, e ele estavacercado por espelhos automatizados e aparelhos pticos que permitiam que ele olhasselivremente sem perturbar seus msculos no pescoo arruinado. Esses espelhos e lentes seagitavam o tempo todo, entortando e distorcendo os reflexos do seu rosto de modo que eleparecesse apenas um monte de pontos e um observador jamais pudesse ter certeza de ondeaqueles olhos se deteriam em seguida. Olhos de gelo preto, azedos e sepultados.

    Acima dele, uma tela panormica exibia vrios dados, notcias e relatrios deinteligncia. O comando ptico significava que ele era capaz de manipular tudo com oolhar navegar pela Internet, analisar dados, planejar uma ideia, visitar qualquer lugar

  • na Terra e at mesmo (se olhares matassem...) ordenar um ataque com um drone.

    A reunio no CACC no Hook Hall foi transmitida para ele em tempo real por meio de umacmera digital de 816 mcrons escondida nos culos do seu agente. Ela transmitia imagensprimeiro para um microprocessador preso ao couro cabeludo do agente por um circuitoeltrico e depois por meio de minsculos pulsos de dados adaptados entre lmpadas debaixa energia instaladas no complexo de Hook Hall e de l via o satlite ScimitarIntelcomms 8648 at a Sibria. Atraso de transmisso at Kaparis: 0,44 segundo.

    Era um sistema engenhoso.

    Seus nveis de serotonina deveriam ser satisfatrios. Mas Kaparis estava intensamenteirritado. As imagens da reunio tremiam porque o agente constantemente colocava osculos para cima e para baixo. Apesar dos dezoito meses de esforos e planejamentodetalhado gastos nessa operao complicada, ningum pensou em lhe dar culos de grau.

    1. Fazer apenas seu trabalho era assim to difcil?

    2. Seria ele a nica pessoa a se importar com detalhes?

    3. Como ser uma pessoa comum?

    Heywood? disse Kaparis, chamando seu mordomo com um forte sotaque ingls.

    Senhor?

    Descubra quem deu as lentes incorretas para os culos.

    Sim, senhor.

    Depois arranque os culos deles. E os salgue.

    Sim, senhor.

    Matar seria demais. Era importante manter um senso de proporo.

    Na tela, um helicptero apareceu. A imagem tremeu novamente, provocando suapacincia.

    Heywood?

    Senhor?

    Grave os gritos.

  • QUATRO

    DIA UM, 12h51 (horrio de vero). Hook Hall, Surrey

    A primeira viso que Finn teve do Hook Hall foi do alto: uma enorme e velha casa de campocom um jardim formal, cercada por um complexo de prdios ultramodernos. Do lado de forado maior desses prdios, medida que eles pousavam, Finn conseguia ver um grupo deoficiais e cientistas com guarda-ps brancos atrados ao heliponto como formigas atradas porsorvete.

    Al tirou seu capacete quando eles pousaram e indicou que Finn deveria fazer o mesmo.

    Ainda estamos de frias enquanto eu disser que estamos, certo?

    Se o que voc diz! gritou Finn, ainda empolgado com o voo curto e j tendodecidido se deixar levar pelos acontecimentos. Ele saiu do helicptero atrs de Al e avanoutimidamente em meio ao vento do rotor, semissurdo, rumo ao pequeno comit de boas-vindas.

    Um velho baixinho e gordinho foi o primeiro a cumpriment-los, aparentemente surpresopor conhecer...

    Doutor Allenby! Que honra! Professor Channing. Eu revisei seu trabalho sobre cinestesiaanticoncntrica.

    Maravilha. Este o Finn disse Al.

    Oi disse Finn.

    O hotel fica deste lado? perguntou Al.

    Ahn? disse o professor, confuso.

    Enormes contineres cheios de equipamentos estavam enfileirados do lado de fora do maioredifcio esperando passar pelas portas do tamanho de um hangar.

    Que hotel incomum. Tem servio de quarto? perguntou Al.

    Ahn...?

  • O Finn gosta de salgadinho, no , Finn?

    Ou batata frita explicou Finn, sem saber ao certo por que isso era relevante.

    Temos uma cantina... tentou o professor.

    Al viu os caminhes enfileirados.

    Para qu tudo isso? um desfile?

    Agora o Professor Channing estava totalmente confuso.

    No, so... todas as centrfugas, laser e aceleradores magnticos que conseguimos. Istoacabou de chegar de Harwell, parte do novo Acelerador Woolfson, e...

    Ah, meu Deus, acho que vi um velho amigo! disse Al, caminhando pelos contineresenfileirados, o Professor Channing trotando para acompanh-lo.

    O instinto de Finn lhe dizia para ficar longe, mas Al o puxou consigo, determinado a fazerum escndalo, levando todos a acompanh-lo enquanto ele procurava em meio aos caminhescomo um consumidor de fim de semana nos corredores da loja de mveis Ikea.

    Ao entrarem na Cmara de Anlise do Campo Central, Finn sentiu que estavam entrandonum jogo, o nvel fcil de um mate ou morra uma construo industrial em concreto, salasde controle de vidro, armaes em ao e equipamentos cientficos gigantescos: uma visoestranha de um futuro no to distante. A grande diferena aqui que seguranas humanoscarregavam armas de verdade: grandes, pesadas e assustadoras.

    Aha! gritou Al. voc, Gordinho?!

    Al parecia estar se dirigindo para um grande veculo. Mas, ao darem a volta nele, Finn viuo que havia dentro. Enormes partes de um enorme crculo de metal, cada parte do tamanho deuma casa, estavam sendo tiradas do continer por uma empilhadeira gigante, um espelho deao perfeitamente polido do lado de dentro, uma confuso de sistemas hidrulicos e fios dolado de fora, exibindo canos domsticos e fita adesiva uma incrvel pea de engenharia queparecia montada num celeiro: bem coisa do tio Al.

    Finn viu seu reflexo distorcido na superfcie interior impecvel e se lembrou de uma noiteem casa no ano passado quando Al apareceu inesperadamente porta para exigir a salsichaassada com mostarda da vov (prato tradicional da famlia). Ele praguejara e falara alto mesa, dizendo coisas como eles me roubaram e eles tm o Gordinho malandro. No haviamuitos indcios de quem eram eles ou o Gordinho, mas o dio e desconfiana gerais dequalquer pessoa no Comando ficaram evidentes antes que ele bebesse demais e casse de sonodiante do Match of the Day.

    Ah, sim, o Grande Acelerador em Forma de Rosquinha que voc desenvolveu emCambridge! disse o Professor Channing.

    Roubado de mim h um ano no meio da noite! disse Al.

    Ah... foi mesmo?

  • O Comandante King apareceu na ponte sobre eles como um vampiro que se materializara derepente.

    Al fingiu no notar.

    Tirado do meu peito ainda vivo e enviado para os militares por aquele prfido,arrogante, mentiroso, belicoso...

    Dr. Allenby.

    Ah Lord Vader.

    King se permitiu exibir um sorrisinho seco (ningum mais ousou) e desceu lentamente daponte. Finn se escondeu atrs do Professor Channing.

    Pelo que me lembro, encomendamos um estudo preliminar sobre o potencial defensivosomente depois que voc se recusou a cooperar, escondeu os cdigos de sequenciamento e fezo que minha bab costumava chamar de pirraa.

    Porque eu disse NO ao uso blico.

    Mas voc j havia trabalhado com os militares, no mesmo?

    Somente com meus colegas, e ns estvamos nos divertindo. Sua bab nunca o ensinou ase divertir, comandante?

    Claro que no. Ela nos ensinou Limpeza, Religiosidade e a Ignorar Meninos Malvados.

    Ento o que estamos fazendo aqui? Porque eu o alerto: se voc estiver de frias tambm,no vai poder nadar na piscina.

    Precisamos de voc, Doutor Allenby. Ou, ao menos, do seu timo senso de humor.

    Havia uma conexo fria entre os dois, um espectro de respeito mtuo.

    Ento conte tudo disse Al.

    Sem nem olhar para Finn, King disse:

    No na frente das crianas.

    Oh-ou.

    Finn se encolheu ainda mais atrs de Channing.

    Elas so seres humanos perfeitamente normais, s menores e sem cheiro. Diga oi, Finn.Voc est deixando King com medo.

    Finn saiu de trs de seu esconderijo.

    Oi. Senhor. Finn. Quero dizer, eu sou Finn. No o senhor. No o senhor, o senhor osenhor. Sou apenas...

    Oi, Infinity, sinto muito por interromper sua viagem. Temos uma cantina. L tem televisoe algumas revistas. Por que voc no vai com Nigel e ele lhe mostrar...

  • Acho que vou ficar e ver as coisas!

    (Cantina. Televiso. Nigel. Exceto por sua absurda facilidade para a cincia e matemtica,Finn era mediano e perdido na maior parte das outras coisas, mas ele tinha, sim, um GrandeSenso de Temor uma das grandes vantagens de ser rfo. Siga em frente.)

    King, no acostumado a ser interrompido, arqueou a sobrancelha.

    Ele acha que vai ficar e observar confirmou Al, puxando Finn para ser apresentadoformalmente. Conhea o filho da minha irm, meu nico herdeiro, meu DNA. Eu lheprometi uma aventura e prometi minha me que cuidaria dele por uma semana e exatamente isso o que eles tero. Aonde quer que eu v, ele vai tambm.

    Por um instante Finn se sentiu vontade, at orgulhoso, at que Al continuou:

    Ele pode parecer um menino sujo e no muito bem coordenado, de um ponto de vistasimples...

    Ei! uma academia. Tem status de academia.

    ... mas ele se destaca em cincia e matemtica e foi instrudo por mim em fsica terica,mecnica de foguetes e exploso de coisas. Mais importante, ele tem uma alma profunda, umsorriso enorme e de absoluta confiana.

    Finn achou que seu tio podia estar exagerando um pouco, mas no conseguiu deixar decompletar:

    E duas cartas minhas foram publicadas no Amateur Entomologist. uma revistaespecializada.

    Voc me surpreende disse King, secamente, e dando um passo frente, de modo queele e Al estavam olhando um no olho do outro. Esta uma situao extraordinria, umaameaa grave vida humana que exige uma reao mundial por meio da G&A e areconstituio de Boldklub

    Al lhe respondeu com um sussurro:

    Ele j sabe.

    O Comandante King ficou plido, de um branco no conhecido na natureza.

    Um tom assassino.

    Al bateu nas costas de Finn e o fez subir a ponte.

    O que que eu sei? sussurrou Finn.

    Cale a boca e me acompanhe sussurrou Al.

    Na sala de controle, Finn j no sentiu que estava num video game. Aqui era mais como aponte de comando de uma espaonave num filme. Havia computadores e mostradores e umajanela de observao de um lado a outro da sala e que dava para o enorme CACC abaixo.

    Uau!

  • Para alm dos enormes caminhes que transportavam os aceleradores e os instrumentos defsica, Finn podia ver mais caminhes chegando, pintados em cores militares. Ele conseguiadistinguir as formas cobertas por lonas do que achava que eram veculos, e talvez at mesmoum helicptero. Havia sinais por todos os lados que alertavam que o acesso era restrito eestava sujeito a ordens superiores.

    Al se dirigiu diretamente para dois soldados um enorme e outro pequeno e mirrado ,que se levantaram para cumpriment-lo: o primeiro, como um velho amigo e o segundo,resignado.

    Kelly e Stubbs! Meus meninos! O velho time reunido de novo! riu Al.

    O Capito Kelly usava um distintivo do Servio Areo Especial e era como um heri deao de histrias em quadrinhos: um metro e novento e oito e cem quilos de msculo e fora.Ele cutucou o peito de Al num tom zombeteiro de acusao (quase quebrando seu esterno): Eles o deixaram voltar? ... antes de rir e lhe dar um abrao de urso.

    E Major Leonard Stubbs! Senhor! disse Al, depois de se libertar.

    Stubbs riu, e Kelly despenteou seus cabelos.

    Ele est feliz insistiu Kelly. Est balanando o rabinho.

    Com o corpo e o charme de uma tartaruga derrotada, o engenheiro Stubbs estavatecnicamente aposentado e passara da idade de receber penso, mas, como um gnio menor emsistemas mecnicos e de informao, capaz de consertar qualquer coisa, ele havia recebidouma comenda honorria aos sessenta anos e a permisso para permanecer em servio oque, considerando que ele jamais atraiu uma Sra. Stubbs, era uma bno. Nitidamente, noera dado a abraos e emoes, o que, claro, fez com que Al o beijasse no rosto como umfrancs.

    Pelo amor de Deus...

    Al apresentou Finn.

    Meu sobrinho... Infinity Drake.

    Por favor, apenas Finn.

    Estou cuidando dele durante uma semana. Ele uma verso menor de mim, sem aaparncia, crebro ou charme...

    Ele sempre diz isso.

    Stubbs suspirou como se soubesse o que Finn tinha mesmo de suportar.

    Podemos mat-lo para voc. Srio disse Kelly, esmagando os dedos de Finn com seuaperto de mo.

    Ai!

    No oua nada que estes homens dizem disse Al. Ningum sabe como eles

  • chegaram aqui.

    Sentem-se mandou o Comandante King.

    Eles se sentaram. Tcnicos estavam instalando vrios projetores digitais, lidando comcabos e digitando em teclados.

    Enquanto Al se sentava, Finn se sentou ao lado dele e sussurrou:

    Por sinal, Al?

    Sim?

    O que est acontecendo e por que todas estas pessoas acham que voc uma espciede...

    s o que eu fao. s vezes.

    Mas o que voc faz?

    O lado secreto. Tem de ser segredo, Finn, para proteger os inocentes.

    Mas como? Quando? Por que voc no me contou antes?

    Voc com onze anos? O que que isso? Quem contaria a um menino de onze anos umacoisa dessas?

    Isso desconcertou Finn.

    Agora v se esconder disse Al, apontando para uma lacuna entre duas estaes decomputadores, fora do campo de viso.

    Por qu? perguntou Finn.

    Ah, voc vai ver disse Al.

    As telas se acenderam.

    Lderes mundiais comearam a aparecer.

  • CINCO

    Senhor presidente.

    Comandante King.

    Primeiro-ministro.

    King. Senhor presidente.

    Primeiro-ministro.

    Guten Tag, Frau chanceler...

    King cumprimentou a todos.

    Finn pensou: Eu tinha de estar na aula de geografia a esta hora.

    O presidente dos Estados Unidos usava camisa de mangas curtas o Salo Oval era umambiente familiar, se bem que um pouco menos arrumado do que aparece nas suas versestelevisivas. O primeiro-ministro britnico estava numa enorme sala cheia de livros no oprimeiro-ministro tranquilo dos boletins de notcias, e sim um homenzinho alarmado. Achanceler alem estava sentada num banquinho ergonmico de pinheiro, enquanto opresidente da Frana surgiu na tela falando diretamente do belo Palcio lyse.

    Allenby est a? perguntou o presidente dos Estados Unidos.

    Al apareceu em um quadro e acenou para que os lderes do mundo livre pudessem v-lo.

    Caras disse Al.

    Caras?, pensou Finn.

    Ento. O que temos, Comandante King? perguntou Al.

    A sala ficou em silncio. As luzes diminuram.

    Slide ordenou King.

    Uma projeo digital acendeu uma tela gigante e mostrou... nada.

    Ou pelo menos um nada branco com um pontinho preto no meio.

  • King disse:

    Aumente a escala.

    A lente se aproximou do ponto e de repente a criatura apareceu na tela.

    Projetado do tamanho de um ser humano, um monstro preto e amarelo com pontinhosvermelhos, recm-sado de sua ltima troca de pele. Seu exoesqueleto se expandiu; seu traxcomo um punhado de vigas mestras; sua cabea feito uma atrocidade; suas asas pretas eprateadas ainda grudadas ao abdmen que, colorido e distendido, pendia do trax como umaenorme gota de veneno. E, no fim, um grupo feio de trs ferres.

    Finn ficou paralisado, e os pelos de sua nuca se eriaram. Por um instante ele sentiu o gostodo seu prprio medo. O medo da morte que ele s vezes sentia quando pensava em sua me.Uma sensao de algo terrvel, imbatvel e desconhecido. Ele engoliu em seco.

    Um clique de mouse e a prxima imagem apareceu. A parte de trs do inseto, com umaviso melhor dos ferres emergindo do abdmen bulboso.

    Clique. A parte de baixo, como uma armadura preta. Como essa coisa voa?, pensou Finn.

    Clique. Na imagem seguinte, a resposta: asas prateadas e pretas totalmente abertas, longascomo as de uma liblula, porm mais largas.

    Uau.

    Clique. A cabea e a boca, as antenas e a tromba. Finn sentiu seu estmago revirar. Ele noqueria olhar, mas ao mesmo tempo no conseguia tirar os olhos da imagem.

    Clique. A bolsa de ovos e o rgo reprodutor.

    As seis patas.

    O todo preto e amarelo e pontilhado de vermelho, como deve ser uma bala de revlverdisparada... Quem sabe o qu?

    E o som?, pensou Finn. Que zumbido maligno estas asas produzem?

    Al observava, a expresso congelada, e King agradavelmente surpreso ao notar que atmesmo ele se espantara com a viso.

    Conheam Scarlatti disse King. Batizada em homenagem ao compositor italianodo sculo XVIII, conhecido por ter escrito quinhentas e cinquenta e cinco sonatas para piano,porque ela atingiu a pontuao de quinhentos e cinquenta e cinco na escala Porton, empregadapara medir o potencial letal de organismos usados como armas. Uma nica Scarlatti pode,teoricamente, matar quinhentos e cinquenta e cinco seres humanos.

    Sacr bleu[5] disse o presidente francs, sem qualquer ironia.

    Durante a Guerra Fria, todos os lados desenvolveram e produziram armas biolgicas.Um dos principais ramos de estudo do nosso instituto de pesquisa em Porton Down era aentomologia, o estudo dos insetos, e como eles podiam ser adaptados para carregar e

  • transmitir doenas. Em 1983, um geneticista acidentalmente desenvolveu um gentipototalmente novo de inseto expondo o embrio de uma vespa transmissora de um tipo grave devarola, a Vespula cruoris, radiao gama. O resultado foi... Scarlatti.

    Uma velha gravao em vdeo apareceu na tela, mostrando Scarlattis vivas sendo estudadasnum laboratrio.

    A Scarlatti um ser assexuado que se autodivide e que, com o suprimento adequado deprotena o corpo de um mamfero morto, por exemplo, pode depositar at cinquenta ovos. resistente a pesticidas, tem setenta e cinco milmetros de comprimento (do tamanho de umbeija-flor ou de um dedo humano) e praticamente indestrutvel. Ela abriga uma forma fatalde varola nos sacos de veneno do seu abdmen. O desenvolvimento acelerado significa queum nico ovo pode se transformar num inseto capaz de voar em quatro dias. Assim, um nicoinseto pode produzir um enxame de cinquenta indivduos em quatro dias. E elas formamenxames mesmo, por causa da quantidade de protena que tm de consumir durante sua fase deninfa ou hemimetabolismo rpido. Cada enxame produz vrias novas colnias, cada qual sereproduzindo a cada quatro dias e assim por diante, at o infinito. Ou at que o suprimento deprotena acabe.

    Finn podia sentir o gosto de algo doentio.

    Ele quer dizer pessoas quando fala em suprimento de protena. Ele quer dizer... ns.

    Na tela, o vdeo ficou feio. Camundongos brancos foram colocados na cmara de teste esubmetidos s Scarlattis. Elas pareciam preparadas para matar, aferroando as pobres criaturasmesmo depois de elas estarem paralisadas ou mortas.

    O horrvel projeto foi imediatamente interrompido, as ltimas ninfas foram congeladas edepois incineradas ao fim da Guerra Fria, de acordo com a Conveno sobre ArmasBiolgicas. Mas dois espcimes sobreviveram. Um foi enviado para os Estados Unidos, deacordo com o Acordo de Compartilhamento de Tecnologia Hixton-Fardale, e foi supostamentedestrudo. Um segundo espcime foi secretamente congelado e guardado em Porton Down pelogoverno da poca, para o caso de precisarem, ou, como gostamos de dizer maisformalmente, por Razes de Segurana Nacional.

    O Comandante King permitiu que seus olhos se fechassem para evitar os olhares dos outrosmembros do comit. Ento ele respirou fundo.

    Um de nossos colegas pesquisadores de Porton Down, o Doutor Cooper-Hastings,parece que enlouqueceu, e encontrou uma forma de ter acesso rea de armazenamento e...soltou a ltima Scarlatti remanescente.

    Houve quem engasgasse.

    Ele fez o qu? perguntou o presidente dos Estados Unidos.

    King se virou para a tela.

    O Doutor Cooper-Hastings lanou o espcime na atmosfera, senhor.

  • Uma foto tipo trs por quatro de um cientista de meia-idade apareceu na tela. culosgrossos. Olhos vazios.

    Ele ficou at mais tarde trabalhando, tendo sado s dez horas. Uma busca foi iniciadaseis minutos mais tarde, quando um algoritmo descobriu um cdigo de controle de acessoescondido no carto funcional dele. Um cilindro criognico vazio acabou por ser encontradodo lado de fora do seu carro abandonado s 3h32 desta manh perto da vila de Hazelbrook,quase sessenta quilmetros ao norte daqui.

    Um mapa de Hazelbrook apareceu na tela, juntamente com uma foto do carro abandonado.

    A rea em torno do vilarejo foi declarada zona de perigo e evacuada. Estamosrealizando uma investigao completa, e todos os funcionrios de todas as agncias estoenvolvidos na caa a Cooper-Hastings.

    V direto ao ponto. Sobre o que exatamente estamos falando aqui? O pior dos casos? perguntou o presidente dos Estados Unidos.

    King e o Professor Channing trocaram olhares. O professor se levantou para dar as msnotcias.

    Pior cenrio: estimamos que o primeiro enxame causar uma contaminao nacionaldentro de quatro ou seis semanas, uma contaminao continental dentro de trs meses e, nomundo temperado, dentro de seis meses.

    Mundo temperado? repetiu o presidente dos Estados Unidos.

    Quase toda a Europa Ocidental, dois teros da Amrica do Norte, frica, sia e OrienteMdio, boa parte da Amrica do Sul, Austrlia. Somente o ar frio e a altitude propiciamalguma proteo. No total, dois teros da massa terrestre.

    Fez-se uma pausa.

    Quase seis bilhes de pessoas disse King.

    DIA UM, 13h38 (horrio de vero). Canal da Mancha

    O Dr. Miles Cooper-Hastings abriu seus olhos. Eles doam. A escurido e as estrelasdanavam diante dele. Sua garganta estava to seca que ele quase vomitou para produziralguma saliva. No conseguia ver nada, mas podia sentir sua cabea pressionada contraalgo de madeira. Ele estava congelando. Durante um instante de puro terror, ele seperguntou se estava enterrado vivo. Mas, medida que seu corpo repudiava essespensamentos e chutava, a tampa do bu no qual ele estava trancado havia oito horas seabriu o mximo que a tranca permitia e, por um segundo, deixou entrar um raio de sol.

    Chutou novamente. Ele viu a luz de novo. E percebeu que era capaz de sentir o sabor domar congelado.

    Onde estamos? Cooper-Hastings olhou para a escurido, o medo enchendo seus

  • pulmes. O que voc fez?

  • SEIS

    No primeiro dia a Scarlatti pe seus ovos disse King. No segundo dia as ninfas saemdo ovo e crescem. No terceiro dia elas desenvolvem partes distintas do corpo e as asas seseparam, partindo a pele delas vrias vezes. No comeo do quarto dia, depois da muda final,elas voam.

    O perigo foi exposto num grfico que mostrava vrias possibilidades de resultados para ocaso de a Scarlatti localizar uma protena hospedeira da noite para o dia. A linha dodesenvolvimento comeava fina no primeiro dia e, no quarto dia, cobria todo o grfico.

    Quatro dias. J estamos no meio do primeiro dia e no ousaremos correr o risco dechegarmos ao quarto dia disse King.

    Ele se afastou do grfico e se voltou para seus convidados.

    At aqui, nada de bom. O que importa o que vamos fazer agora disse ele.

    Havia um ar de descrena na sala de controle e ao redor do mundo.

    Sentado ao lado do presidente dos Estados Unidos, o General Jackman o presidente doEstado-Maior dos Estados Unidos e o soldado mais poderoso do mundo quebrou osilncio:

    Gere o caos. Encha a rea de agentes qumicos. Solte uma bomba nuclear.

    Obrigado, General Jackman. O problema ... a escala explicou King.

    Num mapa projetado, ele desenhou um semicrculo a leste do vilarejo de Hazelbrook.

    O ar turbulento da noite passada pode ter levado o inseto trinta quilmetros para o nortee para o leste, o que significa uma rea que cobre aproximadamente um tero de Londres.

    Jogar uma bomba nuclear em Londres...? perguntou algum, assustado.

    Ou disse King antes que a confuso se instalasse , de acordo com discusses comcientistas esta manh, pode haver outra forma.

    Com uma olhada rpida para Al, King se voltou para o canto da sala de controle.

  • Entomologistas, podem nos fazer um favor?

    Channing chamou dois entomologistas de Porton Down para as cmeras, parte do grupo queestava ali desde o incio da manh. Um homem grisalho de meia-idade com um colega bemmais jovem e em forma.

    O Professor Lomax e o Doutor Spiro foram colegas do Doutor Cooper-Hastings, dePorton Down.

    Lomax usava um terno sob seu avental, Spiro uma camiseta e uma cala jeans.

    Professor Channing? A hiptese, por favor.

    Finn se lembrou da sua me explicando que hiptese era um termo que os cientistas usavampara descrever uma ideia, para que ela no parecesse to comum.

    Feromnios comeou Channing, ajeitando os culos como se estivesse se dirigindo aum simpsio so minsculos sinais qumicos que todos os seres vivos emitem.

    Do grego phero, que significa transmitir o Professor Lomax explicou , emnio, de hormnio ou...

    O Dr. Spiro os interrompeu com a urgncia que a ocasio exigia.

    Se pudermos localizar os feromnios da Scarlatti, podemos interromper o primeiroenxame. Podemos localizar o inseto, encontrar o ninho e destruir uma rea bem menor.

    Possivelmente disse Lomax, sorrindo. Mas Spiro continuou.

    Os dados de 1983 so categricos. Os feromnios da Scarlatti so bem distintos oresultado de uma mutao atmica, quase com certeza e emitidos em grandes quantidades,com uma sensibilidade receptiva enfatizada por um superinstinto de enxame. Esses insetosfaro qualquer coisa para estar com seus semelhantes. Qualquer coisa.

    Obrigado, Doutor Spiro, eu gerei boa parte dos dados... resmungou Lomax.

    Mas como? Como se localizam feromnios?, Finn queria gritar, livrando-se do seuesconderijo e sem conseguir ficar de boca fechada. King pressentiu-o e lanou um olhar nadireo dele.

    Como? perguntou Al, gentilmente. Como voc vai comear a definir e detectar asmolculas apropriadas, e at mesmo...

    Com outro membro da mesma espcie! anunciou o Professor Channing, marcando umponto para os velhos ao se antecipar ao jovem Dr. Spiro.

    Al olhou para Finn. Ele franziu a testa:

    Plausvel?

    Finn deu de ombros, querendo dizer por que no?

    Non! disse o conselheiro cientfico francs. Vocs teriam de replicar Scarlatti. SeScarlatti uma mutao nuclear randmica, vocs jamais sero capazes de replic-la

  • exactement. Nunca. Cest impossible!

    A no ser, claro, que ainda exista outro exemplar sugeriu o Comandante King,deixando que as palavras cnicas pairassem no ar.

    Ach, o americano? perguntou a chanceler alem. Destrudo, nein?

    Como ns destrumos o nosso? perguntou o primeiro-ministro.

    Todos os olhos se voltaram para o presidente dos Estados Unidos.

    Guardado por questes de segurana nacional, voc disse? perguntou o ComandanteKing, aproveitando o momento. Onde ele estaria, eu me pergunto? No Instituto Fort Detrick,perto de Washington? Algum podia dar uma olhada no armazm nove, corredor oito, seo2S?

    Descubra disse o presidente para algum fora do campo de viso, furioso por Kingpoder revelar com tanta facilidade um segredo dos Estados Unidos. O General Jackman ficoufurioso tambm.

    Esquea. Mesmo que esteja l disse a cientista-chefe dos Estados Unidos, umamulher de cabelos grisalhos do outro lado do presidente voc jamais seria capaz decolocar um aparelho de localizao vivel em algo to pequeno.

    King sorriu. Por dentro.

    Alguma ideia? Doutor Allenby?

    Al se levantou e se aproximou da imagem gigante da Scarlatti, profundamente pensativo.Ele se voltou para Spiro.

    Tem certeza de que elas compreendero os feromnios uma da outra a grandesdistncias?

    A quilmetros, com certeza disse Spiro.

    Mais de dez?

    Uma probabilidade real disse Spiro.

    Mesmo... suspirou Lomax. Mais do que uma possibilidade real a dez quilmetros,improvvel para alm de vinte.

    Podemos colocar um aparelho de localizao no trax?

    Spiro e Lomax pareciam intrigados.

    Al mudou de assunto.

    Teoricamente, se pudermos perfurar ou colar, digamos, neste membro aqui? Eleapontou para uma poro no trax protegido que se tornava mais plana no centro.

    Teoricamente? Sim disse Spiro. Isto celulose, sem terminaes nervosas.

    Ento, teoricamente, voc ter de ser bastante cuidadoso disse Lomax, tentando ser

  • sarcstico. As placas torcicas se movem para permitir maior flexibilidade do que nasoutras espcies de vespas. um ponto fraco, de modo que as junes entre as placas estocheias de terminaes nervosas.

    Al consultou o relgio, um Rolex adaptado por ele para conter um contador Geiger, ummedidor de presso e meia dzia de outros instrumentos minsculos (presente secreto de umanao agradecida), e parou para pensar. Tique tique tique tique tique.

    Bem, Allenby? Voc vai revisitar o projeto Boldklub? perguntou o primeiro-ministro.

    A maioria das pessoas na reunio no tinha a menor ideia do que ele estava falando. Onome Boldklub era obscuro, uma verso reduzida de Akademisk Boldklub, time de futebol noqual Niels Bohr, pai da fsica subatmica, um dia jogou.

    Al olhou para King, desconfiado. King ficou olhando para suas unhas.

    Enfrentamos um Armagedom qumico e dois nucleares no passado recente. No sei porque no seramos capazes de reunir uma equipe para lidar com isso.

    King olhou para Al.

    O mundo parou. Al olhou para Finn.

    Do seu esconderijo, Finn estudou a Scarlatti. As cores, a armadura grotesca, os ferres, asantenas e a tromba... tudo nela exalava um qu de dio e sofrimento. De uma forma perversa,Finn sentiu pena. Mas em poucos meses essa coisa podia matar seis bilhes de pessoas. Todasas pessoas que ele conhecia, as quatro criaturas que ele amava (vov, Al, Yo-yo e s vezesChristabel), alm de todas as pessoas do seu dia a dia, desde as pessoas que ele via nateleviso at aquelas com as quais ele ia para a escola. Todos morreriam. Como sua me.

    Finn estava fascinado e paralisado.

    Ah... vamos em frente, ento disse Al, finalmente.

    O qu? Vamos em frente com o qu? perguntou o General Jackman, dos EstadosUnidos.

    Al pareceu totalmente desperto.

    No temos muito tempo. Acho que melhor eu explicar.

    Ele pegou um iPad conectado a uma lousa interativa e comeou a desenhar.

  • SETE

    Al levantou os olhos como se estivesse se dirigindo a uma turma de crianas.

    Algum sabe o que isto?

    um tomo disse o General Mount, irritado com o tom de voz alegre de Al.

    Isto uma aula de fsica? perguntou o presidente norte-americano.

    Sim. Todo mundo precisa entender isso. mesmo um tomo disse Al. Qual?

    Hidrognio!, quis dizer Finn, com vontade de levantar a mo.

    Hidrognio resmungou a cientista-chefe dos Estados Unidos.

    Muito bom, um tomo de hidrognio, bem simples: um ncleo no centro e um eltron emvolta, com uma relao espacial constante entre o ncleo e o eltron, esta distncia, estadistncia bem aqui. Al desenhou uma linha pontilhada vermelha entre o ponto no centro e oponto externo.

  • Depois ele bateu nos dois pontos de novo, o ncleo e o eltron.

    Estes dois pontos so uma coisa, matria, substncia explicou ele mas isto... ele apontou para todo o restante do crculo ... absolutamente nada. Eu, vocs, tudo aonosso redor somos mais noventa e nove por cento nada, porque todos os tomos com os quaissomos construdos so noventa e nove por cento nada, com apenas uma quantidade minsculade coisa atmica de verdade. Todos entenderam?

    Al olhou para os lderes mundiais e depois para Finn, para se certificar de que todos oacompanhavam ainda; com as testas franzidas e risadinhas, todos o estavam acompanhando.

    Nunca vou entender isso disse o primeiro-ministro britnico.

    H toda uma coisa quntica sobre energia/matria negra que poderamos citar, mas melhor pensar nisso como um belo mistrio. Pense nos tomos como bales e no comotijolos, bales cheios de nada e com um ncleo minsculo.

    Bravo disse o presidente francs. Mas nada disso pega vespas.

    Ainda no. Mas minha Grande Ideia, conhecida por uns poucos como Boldklub, era... ele apontou para a linha pontilhada vermelha indicando a distncia entre o ncleo e o eltron ... ver se conseguiramos criar um campo magntico capaz de reduzir esta distncia e...

    Antes que Al pudesse dizer qualquer coisa, uma sinapse ocorreu velocidade da luz nocrebro de Finn e uma concluso to fantstica lhe ocorreu que acabou com qualquercompulso por ficar em silncio.

    Voc vai ENCOLHER as coisas?

    Todos se viraram. Os olhos de Finn se arregalaram, maravilhados.

    Iluminado pelo brilho do iPad e parecendo noventa e nove por cento um cientista maluco,Al apontou diretamente para Finn.

    Ta-d!

    O QU?

    O que ele disse?

    Encolher coisas?

    Cest impossible!

  • Mein Gott, aquilo era uma criana?

    O Comandante King fechou os olhos num desespero momentneo. Era s o que faltavamesmo.

    Este o meu sobrinho disse Al, todo orgulhoso.

    O jovem Infinity est aqui como condio para a cooperao do Doutor Allenby declarou King. Temos mesmo de seguir adiante...

    Cabeas balanavam, vozes se elevavam em ingls, francs e alemo todas exigindorespostas, todas ofendidas diante da absurda ideia de serem superadas por uma criana.

    Finn no se importou. Ele estava encarando Al boquiaberto.

    Encolher? Foi mesmo isso o que o menino disse?

    Isso completamente impossvel disse a cientista-chefe dos Estados Unidos para opresidente.

    Al ficou s ouvindo.

    No! possvel... insistiu ele, acrescentando um tomo bem menor ao diagrama ...usando uma reao em cadeia em nvel quntico, voc pode criar um tipo novo de campomagntico, uma rea de calor dentro da qual toda matria pode ser reduzida, sugando oeltron para perto do ncleo.

    Isso totalmente absurdo! disse a cientista-chefe norte-americana.

    As vozes imediatamente comearam a se elevar mais uma vez.

    Os entomologistas estavam paralisados.

    A mente de Finn girava. Ele queria fazer milhes de perguntas. Queria entender todos osdetalhes. Queria saber quem, como e por qu. Queria saber tudo e mesmo assim, de algumaforma, era coisa demais para pensar e compreender e ele s estava pensando: Eu Quero Ir.

    Ele se aproximou do seu tio em meio balbrdia, olhou em seus olhos e perguntou,maravilhado e pela segunda vez, s para ter certeza:

    Voc vai encolher as coisas. Vai encolher alguns soldados e pegar essa coisa?

  • Sim, vou disse Al, feliz com Finn, que da se ps a fazer perguntas.

    Se estiver encolhido, voc no vai pesar o mesmo do que pesa normalmente, no ?

    No, porque h um encolhimento proporcional da matria negra...

    Voc vai ficar superdenso e forte?

    Teoricamente, no, apesar de a razo potncia/massa ser diferente e de a gravidade noafet-lo com tanta facilidade...

    Bactrias e doenas vo consumi-lo facilmente, como insetos comedores de carneatacando seu rosto, braos e orelhas e nariz e... Ei! Vai ser possvel sentir odores?

    A regra das interaes em nvel molecular diz que compostos complexos no interagem,apenas tomos e molculas simples interagem, ento voc pode ficar tranquilo quanto acontrair o vrus Ebola...

    Eles tiveram de falar mais alto porque a reunio fugira ao controle, at que a assustadoraintroduo de O Fantasma da pera comeou a tocar na jaqueta de Al.

    Era um toque que identificava um interlocutor bem especial. Pela primeira vez, Al pareceucom medo. Ele consultou a hora novamente quase duas horas e comeou a entrar empnico.

    Xiu! Calem-se! CALEM-SE! gritou ele para a sala.

    A sala aos poucos ficou em silncio enquanto todos olhavam para Al, paralisado de medo.Novamente Finn compreendeu a situao antes dos outros.

    Vov!

    A Grossmutti dele est a tambm? perguntou a chanceler alem.

    Ningum diga uma s palavra insistiu Al.

    Os lderes do mundo livre, juntamente com seus melhores homens e mulheres, acataram asordens e se calaram enquanto Al interrompia O Fantasma da pera e atendia ligao.

    Ei! Mame! Como est Oslo? Sei que prometi, desculpe, perdi a hora... No, no precisaligar para a polcia, estamos bem! Isso ridculo Voc foi transferida para o navio?

    Com o brao esticado, ele indicou que todos podiam relaxar um pouco; ele tinha a situaosob controle.

    Ele est bem, est bem aqui, ele mesmo pode lhe dizer... ah, escola? A escola est fech...cantina! No! A cantina da escola est fechada, eles foram enviados para casa a fim dealmoar... nenhuma comida. Infestao de vespas. Incrvel... No, ele est bem! Aqui... Elecolocou a mo no microfone e entregou o telefone para Finn, sussurrando: Fale! S lhe digaque tudo est bem.

    No posso mentir pra vov Finn tentou insistir. Prometi mame que...

    Ordeno que voc minta para a sua av! disse o primeiro-ministro, sussurrando alto.

  • Al olhou para o primeiro-ministro como se ele no tivesse ideia de onde estava entrando.

    Finn pegou o telefone e, acidentalmente, apertou o boto do viva-voz na tela sensvel aotoque, de modo que todos pudessem ter o privilgio de ouvir a...

    Vov?

    Voc precisa que eu volte? Acabei de desfazer as malas, mas ainda estamos no porto... disse a voz dela.

    No, no, estou bem, tudo est certo.

    Que besteira isso sobre a sua cantina! Diga para seu tio lev-lo de volta para a escolaagora mesmo!

    Estamos indo! Acabamos de entrar no carro.

    Ele vai deix-lo morrer de fome! Negligenciar... Voc comeu legumes?

    O qu...? Sim.

    Os especialistas e lderes mundiais que tinham eles mesmos avs acenavampositivamente para ele.

    Que legumes, exatamente?

    Finn no sabia o que pensar. Fez-se um terrvel e assustador silncio.

    Brcolis? sugeriu baixinho o presidente dos Estados Unidos.

    Brcolis! E... s brcolis. Como est sua comida? Como seu navio?

    A comida ruim, a cabine pequena e eu tenho de compartilhar um banheiro, mas huma mulher adorvel de Godalming no nosso corredor que voc no vai acreditar, elafrequentou a mesma escola que Jennifer, a Jennnifer prima de segundo grau no a Jennifer daHartford Pottery que acho que voc sabe que o neto quer ser advogado bom ter ambiesmas eu lhe disse no um advogado Jennifer no aos doze anos... de qualquer modo, eu...

    Vov, melhor eu ir, se no vou chegar atrasado.

    Ah, certo, querido. Por favor, no confie em Al, ele j ignorou uma ligao minha.

    Sim, vov, amo voc, tchau!

    E cuide-se!

    Finn encerrou a ligao e todos soltaram um enorme suspiro de alvio.

    O primeiro-ministro deu uma ordem para algum fora da tela.

    Contate os noruegueses. D uma cabine melhor para a Senhorita Allenby e faa com queela e a mulher de Godalming que conhece Jennifer comam na mesa do capito. Agora.

    Algum pode me explicar o que que est acontecendo? disse o presidente norte-americano.

  • DIA UM, 14h13 (horrio de vero). Sibria

    Nas profundezas do permafrost siberiano, a quatro mil quilmetros de distncia a leste enordeste, Kaparis assistia cena graas aos culos do seu agente.

    Tudo estava indo de acordo com seu plano. Eles estavam caindo em sua armadilha.

    1. O monstro estava solto.

    2. A hiptese do feromnio fora apresentada com sucesso por seu agente nareunio.

    3. Boldklub foi considerado a nica reao vivel.

    Kaparis estava onde gostava de estar: no controle. E ainda assim... ele estava atordoado.

    O menino.

    Kaparis ficou olhando fixamente para o nada.

    Meu Deus, ele se parece com o pai.

    O pulmo de ferro inspirou. O pulmo expirou. E, por um instante, seu corao se encheude nostalgia enquanto ele era transportado para quase vinte anos atrs, numaUniversidade de Cambridge de vus e bicicletas, palestras e guias, meninas pelas quais seapaixonar e promessas ilimitadas... antes que, inevitavelmente, sua mente fossetransportada para este seu momento de glria.

    Por que a Grama Cresce em Moitas?

    Uma Teoria Geral do Desenvolvimento de Superorganismos

    Uma palestra de D.A.P. Kaparis

    St, Stephens Hall, 4 de maio de 1993, quarta-feira, s 10 horas

    E como isso foi roubado dele.

    Diante de todo mundo.

    Diante dela.

    E, to rpido quanto se encheu, o corao de Kaparis se esvaziou e novamente passou abombear vingana cida.

    Nossa proposta disse King esta: encolher o aparelho de localizao e coloc-lodentro da Scarlatti norte-americana e solt-la para encontrar o clone desaparecido. Dois:encolher um helicptero de ataque e sua tripulao...

    Os olhos se arregalaram no mundo todo.

  • todo o equipamento deles, incluindo todos os aparelhos de localizao, transporte,comunicao e armas...

    Uau! Encolher pessoas! Armas?

    ... na escala de cento e cinquenta para um... continuou King.

    Cento e cinquenta vezes?!

    ... e trs...

    Espere a! Por que no apenas encolher o aparelho de rastreamento e localizar a coisa?Por que encolher as pessoas? perguntou o General Jackman.

    Sem entrar demais em detalhes secretos disse Al , tem a ver com alteraes nasondas quando voc encolhe o espectro eletromagntico. Um nanotransmissor produz umnanossinal que s pode ser captado por um nanorreceptor com um alcance bastante limitado,talvez oitocentos metros, no mximo. No se pode amplificar o sinal normalmente. Por isso que precisaremos de uma nanotripulao de caa tambm. O transporte deles pode serinstalado num minsculo rdio de comunicao em escala total, apesar de tambm teralcance limitado e de no podermos confiar num contato constante.

    Parecia que a cabea do general doa.

    King continuou:

    E trs: a tripulao deve unir a segunda Scarlatti primeira, depois destruir ambos osadultos e quaisquer ovos e ninfas que encontrarem.

    Seja l o que for, este esquema todo loucura! No mnimo no foi testado. Os riscospara quem participar devem ser, com certeza, mortais disse a cientista-chefe dos norte-americanos, balanando a cabea.

    Temos de pesar os riscos contra o que est em jogo e contra a nica alternativa vivel disse King.

    Que ...? perguntou a chanceler alem.

    A bomba atmica. Desalojar milhes de pessoas. Arruinar parte de Londres porgeraes.

    Fez-se uma longa pausa.

    Finn de repente percebeu algo e olhou para o mapa que King havia marcado antes. A reade destruio inclua a vila de Langmere.

    Da vov? perguntou Finn.

    Eu sei disse Al. pessoal.

    O presidente dos Estados Unidos estava incrdulo.

    E quem vai participar desta misso?

  • Por causa dos riscos fisiolgicos desconhecidos, propomos apenas uma equipe de trshomens, liderados pelo Capito Kelly, da nossa tropa militar informal. O Capito Kelly e oengenheiro Stubbs, ambos com nanoexperincia, alm de um piloto.

    Espere! Nanoexperincia? Vocs j fizeram isso antes? perguntou Finn.

    Rode o filme disse Al.

    Na tela apareceu um filme simples, feito com uma cmera digital porttil, de um bode preso auma coleira. Do outro lado da coleira estava Al. Ambos pareciam estar festejando por trsdias seguidos. Um cdigo de tempo avanava na parte de baixo da imagem.

    O capito Kelly entrou no campo de viso e pintou Boa Sorte na lateral do bode.

    A imagem cortou para o Acelerador Rosquinha, que operava com um barulho alto. Oengenheiro Stubbs estava sentado numa mesa cheia de laptops. Al levou o bode para o centroda Rosquinha.

    O tempo saltou alguns minutos at uma imagem mais distante do acelerador. A cmera seaproximou e o bode ficou cada vez mais impaciente. Enrolando-se na coleira, at que... a telade repente ficou totalmente branca.

    A cmera se afastou para revelar a Rosquinha agora contendo uma bola de luz intensa eperfeitamente branca. Ela pareceu tremer e girar por alguns segundos antes de desaparecer,deixando para trs um grupo de observadores e... nenhum bode.

    Al correu para o centro da Rosquinha. De quatro, ele procurava alguma coisa. Kelly eStubbs se juntaram a ele.

    Com todo o cuidado, Al pegou alguma coisa. A cmera aproximou a viso nas mos dele.Tentando focar. Tudo nebuloso, sem foco. Depois finalmente, trmulo , nos sulcos dapele de Al, na linha da vida, estava um confuso e silencioso bode de 4,5 milmetros.

    Agora eu disse Kelly fora da cmera. Sou o prximo!

    Ei! Quem fez todo o trabalho? protestou Stubbs.

    Afaste-se!

    Deu-se incio a uma discusso. O bode no participou. Era demais para ele.

    DIA UM, 14h19 (horrio de vero). Willards Copse, Berkshire

    Botar botar botar botar

    A varola tomou conta do texugo e deixou seu cadver arruinado, mal podendo seridentificado, cheio de pstulas e vazando o pus que a Scarlatti achava to atraente.

    Durante mais quinze horas a Scarlatti continuaria a produzir ovos brancos em seuabdmen, fazendo fora para evacu-los, colocando-os cuidadosamente na carne

  • apodrecida, as entranhas como uma estufa de reproduo.

    Em cada ovo uma ninfa primitiva estava se formando. Em menos de seis horas, essa eraa incrvel taxa de crescimento, as primeiras ninfas comeariam a consumir o restante doovo antes de eclodir para se banquetear do cadver.

    Algum sussurrou algo no ouvido do presidente norte-americano. Ele tomou sua deciso e fezque sim.

    Querem a nossa Scarlatti? Vocs a tero disse ele simplesmente.

    E a capacidade de acelerao do CERN, Monsieur le Prsident? Frau Chancellor?

    Oui.

    Ja.

    O Comandante James Clayton-King adorou quando o plano entrou em ao.

    Ento o presidente norte-americano ergueu um dedo.

    Com uma condio. Ns fornecemos o piloto. Quero um homem a bordo.

    King arqueou a sobrancelha em protesto.

    Houve outro sussurro no ouvido do presidente.

    Que seja uma mulher.

    DIA UM, 15h17 (horrio de vero). Base da Fora Area Andrews, Maryland,EUA

    Um Lockheed Martin F-22 Raptor variante T taxiou para fora do hangar M3.

    Delta Salazar no sabia nada sobre a misso que pediram que ela realizasse, somente queera prioridade mxima: viajar para RAF Northolt, perto de Londres, velocidade mxima,reabastecendo no ar duas vezes sobre o Atlntico. Com as turbinas ao mximo e quasenenhuma carga, sua velocidade de cruzeiro seria bem maior do que a de Mach 2. No coraodo caa de cento e cinquenta milhes de dlares e de quinta gerao, no compartimento vaziode bombas, envolto numa caixa de transporte indestrutvel, havia um nico frascocongelado.

    O controle areo liberou o cu.

    Delta adorava culos estilo aviador, vencer os homens em praticamente tudo e atingir alvoscom seu canho de quarenta e quatro milmetros. Ela tambm ama ama amava voar.

    Na verdade, a nica coisa que ela amava mais era sua irmzinha Carla, mas isso no era otipo de coisa que ela diria em voz alta na (Secreta) Ala M3 da Fora Area dos EstadosUnidos.

  • Livre para decolar disse a sala de controle.

    Com um toque simples, Delta acionou as turbinas-gmeas F119-PW-100, gerando 35 millibras de empuxo que lanaram o avio pela pista e numa subida ngreme.

    A me dela era alcolatra, e ela passara boa parte da infncia negligenciada, encontrandofuga apenas em video games (comeando com Splinter Cell, em 2002). Em 2004, a ForaArea comeou a procurar recrutas com coordenao motora excepcional em meio comunidade de jogos online. Eles notaram a pontuao de Delta e a localizaram num abrigoinfantil na Filadlfia, onde encontraram uma menina de treze anos feroz, suja e magricela, queno confiava em autoridades, tendo sido separada da sua irmzinha quando foi levada para oabrigo. Ela superava as expectativas.

    A Fora Area a ps num programa de treinamento ultrassecreto, conseguiu que Carla fosseadotada com direitos de visitao e deu a Delta uma chance de se destacar. Ela obteve notasmximas em seis diferentes aeronaves e ganhou duas medalhas por servio Fora Area euma medalha de honra. Ela tinha vinte e trs anos ainda que parecesse uma roqueira indiede dezenove.

    A vinte mil ps, ela se afastava do continente norte-americano. Nunca conseguiu seacostumar a essa boa sensao.

    Sinistro... suspirou ela.

    Ouvi isso, Salazar disse a sala de controle.

    Ela riu e saiu em disparada pelo Atlntico.

  • OITO

    DIA DOIS, 2h46 (horrio de vero). Hook Hall, Surrey

    Pouco mais de onze horas mais tarde, no auge do que deve ter sido uma reunio incrvel e emmeio ao caos organizado de tudo o que estava acontecendo dentro e ao redor da CACC, Finnviu a Tenente Salazar finalmente parar de mascar chiclete.

    Os olhos dela ainda estavam ocultos por trs de seus culos aviador (apesar de estarem nomeio da noite), suas botas ainda estavam sobre a mesa e ela ainda carregava um ar jovem deinsubordinao, mas... parara de mascar chiclete. Foi a maior reao que obtiveram deladesde sua chegada.

    Precisamos que voc tome sua deciso dentro de uma hora, tenente. Voc entendeu aproposta? perguntou Al.

    Nada.

    Finn olhou para Al. Ele no est lidando com isso muito bem, pensou ele. A tenenteparecia ter incomodado Al de alguma forma. Ele estava tentando se manter calmo, mas estavaficando nervoso. O silncio foi quebrado.

    Eles vo encolh-la! disse Finn, tentando suavizar os nimos.

    Ainda nada.

    Usando seu polegar e indicador para ilustrar o tamanho real, Kelly tentou traduzir isso emtermos militares.

    Oua! Voc ser encolhida para doze milmetros, colocada num helicptero Apache decento e dez milmetros, depois vai localizar e matar um inseto apocalptico com extremapreciso. Entendeu?

    Entendi... S me deixe pensar um pouco respondeu Delta.

    (Ela podia ter sido mais clara e lhes dito como se sentia: a ideia era to maluca queprovocara uma lacuna temporria no cdigo da sua realidade, tanto que ela precisava baixar

  • um patch[6], mas ela aprendera a nunca discutir seus sentimentos com soldados. Alm disso,onde ela encontraria um patch?)

    Al fechou os olhos. Finn sorriu. Kelly riu.

    Ela vai ficar bem disse Kelly. Vamos em frente.

    Depois das principais reunies informativas, Kelly, Stubbs e Salazar foram entregues a umaequipe mdica que estava louca para estudar os efeitos anteriores e posteriores do colapsoatmico sobre o corpo humano (eles podiam sentir o cheiro do Prmio Nobel).

    Al esperava que eles fossem furados, tocados e que se extrassem vrios fluidos deles, mas,quando foi chamado de volta rea da tripulao, foi informado de que o processo encontraraum obstculo durante a avaliao psiquitrica.

    Cada membro da tripulao teve de construir uma esfera slida com vrios blocos deformatos irregulares. Delta simplesmente ficou sentada l (evidentemente ainda refletindosobre o conceito). Stubbs comeou, mas caiu de sono feito um vov fazendo palavras-cruzadas natalinas, e Kelly deu uma gravata num membro da equipe mdica e o obrigou acomer uma das peas.

    Voc tem uma voluntria muda, um velho sofrendo de depresso e um macho-alfa idiotacom a sofisticao emocional de uma minhoca disse a psicloga-chefe.

    Al disse:

    A jovem apenas seriamente tranquila. Stubbs s precisa de ch e biscoitos e Kellyesteve em Cambridge comigo; ele s parte Neandertal. Eles so perfeitamente normais.

    Doutor Allenby, no tenho como aprovar estas pessoas para a ao.

    Aprovar? riu Al, afastando-se de uma crise na Engenharia de Dados. Eles partemao amanhecer. Simplesmente se certifique de que a piloto aceitar a misso. Faa o que forpreciso.

    Assim que Al e Finn voltaram, a psicloga tinha os membros da tripulao sentados em umcrculo.

    Se vocs pudessem levar um item pessoal com vocs, o que levariam? perguntou apsicloga a Delta. Tenente?

    Delta mascava chiclete.

    Certo. Que tal seguirmos em frente, Leonard? perguntou a psicloga.

    Vou precisar dos meus tablets disse Stubbs.

    A psicloga o encarou.

  • No, Leonard, estamos falando de um item pessoal especial que...

    Finn, depois de ter passado muito tempo com psiclogos especializados em luto, conhecia oprocedimento e decidiu ser til para apressar as coisas.

    Ela est falando de coisas como um ursinho de pelcia ou uma aliana de casamento oucoisa assim.

    Nunca me casei disse Stubbs. Quem iria me querer? Casado com o trabalho. Nadabonito. E no vejo o Teddy desde que o orfanato pegou fogo em 1962.

    Fez-se silncio enquanto o Capito Kelly lutava para abafar o riso, sem conseguir,contaminando Al. Em pouco tempo eles estavam gargalhando. Stubbs olhou e balanou acabea negativamente. No era a primeira vez que Finn se perguntava o que o velhinho estavafazendo numa misso como essa.

    Ignore-os disse Stubbs para a psicloga. Seja superior a isso.

    Capito Kelly! gritou a psicloga, num tom de represso. Quando voc tiverterminado... que item voc gostaria de levar?

    Kelly parou de rir e deu um aperto alegre no joelho de Stubbs, indicando que no haviamgoa.

    Ah!

    Desculpe. Eu s quero meu Minimi[7] e talvez alguns M27[8]. Ele explicou osdetalhes tcnicos das armas, confundindo a psicloga, confuso que piorou quando Stubbscomeou a explicar ao mesmo tempo que ele teria de levar sua oficina mvel (um caminhoPinzgauer adaptado de acordo com suas prprias especificaes), se no, francamente, qualera o sentido de ele se importar em fazer parte da misso?

    Enquanto isso, por trs dos culos escuros, Delta construa seu patch:

    0382*

  • 0388*
  • NOVE

    DIA DOIS, 5h32 (horrio de vero). Hook Hall, Surrey

    Estava quase amanhecendo quando King viu o helicptero Apache completamente armado sercolocado dentro de uma caixa no centro do acelerador.

    Na lacuna de tempo de sua memria, o caos chegara ao mximo por volta das quatro damanh e estava diminuindo rapidamente. A mquina de iamento e as presilhas se afastaram eo novo Grande Acelerador parecia ter estado sempre ali.

    As peas orginais do Acelerador Rosquinha de Al foram reposicionadas e adaptadas paraformar quatro partes equidistantes de um anel muito maior de aceleradores de partculas. Ocampo nanodimensional ou rea quente no centro teria o tamanho aproximado de umasala de aula e requeria tanta potncia que consumiria boa parte da energia das redes do ReinoUnido e Frana.

    Allenby o controlaria de uma sala de controle especialmente construda seu cockpit no andar trreo do CCAC.

    Vrios aparelhos militares estavam enfileirados num sistema de esteiras que percorria todaa extenso do CCAC, com mais suprimentos na rea de carga esperando para seremcarregados suprimentos que deveriam ser colocados na rea quente em trs minutos exatos.

    A velocidade era essencial. Assim que a reduo estivesse completa, a tripulaonanodimensional e seus nanoequipamentos seriam transportados, juntamente com a ScarlattiBeta (a nova Scarlatti norte-americana foi assim chamada para ser diferenciada da originalScarlatti Alfa), para a rea de soltura a cinquenta quilmetros ao norte