Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    1/24

    1

    OS FILHOS DO GRANDE REIFrancisco Cndido Xavier

    DITADO PELO ESPRITO VENERANDA

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    2/24

    2

    NDICE

    Jesus e os Meninos

    CAPTULO 1 = O velho Cipio

    CAPTULO 2 = O incio da histriaCAPTULO 3 = Ouvindo os ConselheirosCAPTULO 4 = A Grande EscolaCAPTULO 5 = No IntervaloCAPTULO 6 = Providncias do ReiCAPTULO 7 = AuxiliaresCAPTULO 8 = ComunicaesCAPTULO 9 = O larCAPTULO 10 = O uniformeCAPTULO 11 = Primeiros temposCAPTULO 12 = Depois de crescidosCAPTULO 13 = Ddivas menosprezadasCAPTULO 14 = Preocupaes do PaiCAPTULO 15 = O primeiro juizCAPTULO 16 = O segundo juizCAPTULO 17 = A Escola SublimeCAPTULO 18 = Os prncipesCAPTULO 19 = Esclarecimentos de CipioCAPTULO 20 = Terminando a histria

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    3/24

    3

    Jesus e os Meninos

    O Divino Mestre ama as crianas com especial carinho.Ele sabe que os meninos e meninas do presente sero pais e mes do

    futuro. Sabe que todos os pequeninos de hoje sero os administradores,

    ministros, juzes, professores, mdicos, advogados, artistas, escritores,artfices, lavradores e operrios de amanh, e, por isso, simboliza neles aesperana do mundo, onde o reino de Deus ser edificado.

    Jesus reconhece que, se os meninos de agora quiserem, a Terra do porvirser melhor, sbia e mais feliz.

    por essas razes que o Divino Senhor, se aguarda a compreenso e oconcurso dos homens bons, tambm espera a cooperao das crianas fiis.

    Veneranda

    Pedro Leopoldo, 12 de abril de1946.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    4/24

    4

    1O velho Cipio

    QUANDO a crianada pediu ao velho Cipio lhe falasse do amor que

    Jesus dedicava aos meninos, o ancio de cabelos nevados contemploulongamente o cu, como quem procurava recordaes distantes, e informou: Oh! sim! O Cristo, Nosso Senhor, amava os pequeninos com todo o

    corao e costumava acolh-los no prprio regao...A observao inicial do velhinho realizara o milagre do silncio. Todas as

    crianas aguaram ouvidos, atentas. At os meninos maiores, que estimavama brincadeira barulhenta, aproximaram-se dele, respeitosos, escuta.

    Satisfeito com a ateno geral, o narrador fez uma pausa comprida, sorriue continuou:

    Os apstolos, de quando em quando, repreendiam a petizada, mas oMestre chamava novamente os pequenos, acariciando-os, cheio de amor...

    Nesse ponto, Dolores, a menorzinha do grupo, interrompeu a narrativa,perguntando: Vov Cipio, Jesus contava histrias aos meninos? Oh! Como no! exclamou o bondoso velho. Contava muitas ... O senhor sabe alguma, vov? tornou a pequenina curiosa.Cipio, trmulo, amparou-se no antigo cajado para melhor acomodar-se

    sob a copada rvore da praa grande, ergueu de novo os olhos embaciadospara o cu muito azul da tarde brilhante, e respondeu:

    Sim, eu sei uma histria que o Mestre contou aos meninos galileus ... Conte! conte!...

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    5/24

    5

    2O incio da histria

    A SOLICITAO vinha de todos os lados. Dolores achava-se to

    ansiosa que se acercou ainda mais, debruando-se nos joelhos do velhoCipio.O ancio, como todas as pessoas bem educadas, gostava das crianas

    de boas maneiras e, reconhecendo o respeitoso interesse de todas, comeou,sem embarao, ante a curiosidade geral:

    Prestem muita ateno!A pequenada fez absoluto silncio.E o velhinho prosseguiu: O rei de todos os reis, bom e altssimo Senhor, que possui vastos im-

    prios resplandecentes e a cuja autoridade se submetem todos os seres ecoisas da Criao, reparou que alguns dos seus filhos, meninos e meninas, ne-

    cessitavam de maior sabedoria, a fim de entrarem na posse da herana,constituda de infinitas riquezas que lhes reservava. Os jovens tinham a inteli-gncia muito verde ainda e, por isso, eram ignorantes, indecisos... Fazia-senecessrio, portanto, criar trabalho atravs do qual os herdeiros felizes pu-dessem adquirir, no somente o amor para com os semelhantes, mas tambma cincia do Universo. O rei magnnimo e sbio, ocupado em governar osextensos domnios do seu reino sem fim, no podia mant-los ao p de si, umavez que no desejava conserv-los como bonequinhos de enfeite e, sim, comofilhos fortes e bem orientados, trabalhadores e leais. Para isso, os jovensprecisavam de elevao prpria e experincia da vida.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    6/24

    6

    3Ouvindo os Conselheiros

    O NARRADOR fez pequeno intervalo e prosseguiu:

    Foi ento que o poderoso Senhor convocou a presena dos filhosmais velhos, sbios e bons, transformados em cooperadores e conselheiros desuas imensas obras, a fim de ouvi-los sobre o futuro destino dos principezinhosignorantes.

    Exposto o assunto pelo soberano, os colaboradores comearam a opinarcom alegria:

    No seria interessante criar um paraso repleto de belezas absolutas? Disse um deles.Outro, porm, considerou: No seria melhor um jardim cheio de flores, onde os jovens crescessem

    tranqilamente?

    No poderamos construir um templo coroado de eterna luz e de eternaharmonia para abrig-los? perguntou ainda outro.Iniciou-se extenso movimento de comentrios, em torno das trs opinies

    recebidas, e, quando os conselheiros levaram os pareceres ao grande rei, eleesclareceu paternalmente

    Aproveitaremos as trs sugestes a um s tempo. Considerando que osprncipes necessitam crescer, adquirindo valor prprio, edificaremos para elesuma grande escola, que tenha a beleza dum paraso, a delicadeza dum jardime a sublimidade dum templo, na qual encontrem recursos para o aprendizado epara o trabalho, conquistando, por si mesmos, a sabedoria e a glorificao.

    Os conselheiros sentiram-se muito felizes com a determinao e retiraram-

    se satisfeitos.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    7/24

    7

    4A Grande Escola

    O REI ordenou a edificao de um mundo maravilhoso, num dos recantos

    do seu imprio infinito. Seria esse mundo a grande escola dos pequenosprncipes necessitados de educao.Turmas enormes de obreiros atacaram os servios.Atendendo aos seus conselheiros esclarecidos e benevolentes, o sobera-

    no autorizou a organizao de mares e florestas, cheios de beleza e perfume, maneira de lagos divinos e jardins de perptua formosura; recomendou quemuitas luzes gloriosas dos seus altos domnios permanecessem mostra eque doces harmonias vibrassem nos ares, de modo que os filhos se sentissem,na escola, to jubilosos e felizes como se vivessem num paraso ou numtemplo.

    Entretanto, para que os jovens no se esquecessem da necessidade de

    servio e estudo, mandou que muitas flores tivessem espinhos; que a tempes-tade retivesse permisso para lavar, de vez em quando, os horizontes azuis;que as guas nem sempre se mantivessem tranqilas. E para que os filhosnunca perdessem de vista o caminho de retorno ao seu augusto amor, deu-lhes a luz dos olhos e do raciocnio como inseparvel companheira derealizao.

    Foi ento criada a enorme escola, sob as vistas do grande rei, com a co-operao ativa de inmeros servidores. Organizadas, porm, as bases da vo-lumosa edificao, era necessrio examinar os pormenores do trabalho, deacordo com as necessidades do aprendizado.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    8/24

    8

    5No Intervalo

    NESSE ponto da histria, o narrador comeou a tossir.

    Cipio parecia to cansado!... Os meninos sabiam que ele fazia longasperegrinaes. O velhinho, porm, era forte e, embora os achaques da idade,nunca perdia o sorriso bom.

    Observando que a interrupo se tornava mais longa, Ninita, uma dasmeninas maiores do grupo, aproximou-se dele e perguntou, carinhosa:

    O senhor tem fome, vov? No, minha filha disse o velho, confortado. Tem sede? Tambm no.Os meninos, contudo, no mostravam maneiras to distintas.Um deles ergueu a voz e indagou, menos respeitoso:

    E essa escola existiu de fato? Como no? volveu o narrador, benevolente e ainda existe.Diante da afirmao do velhinho, o interlocutor interrogou, deslumbrado: Poderemos v-la? Perfeitamente respondeu Cipio, sem titubear.A crianada ia entrar em ruidosos comentrios. Acendera-se forte curio-

    sidade em todos os rostos. As perguntas choveram de todos os lados, masCipio, sorridente, observou:

    Deixem-me continuar.Calaram-se as crianas, de sbito, e, de novo, reinou o silncio.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    9/24

    9

    6Providncias do Rei

    ENTO, o bondoso Cipio pigarreou mais uma vez e prosseguiu:

    Depois de organizados os mares e florestas, o Grande Senhor passoua tratar de vrios departamentos da escola. A situao dos principezinhospreocupava-lhe o amor paternal e, valendo-se dos conselheiros e trabalha-dores de seu reino, procurou garantir-lhes a sade e a alegria, o trabalho e oestudo. Construda a escola, em pleno cu, mandou o soberano que, ao ladodos mares enormes e das matas imensas, fossem colocadas montanhas e va-les, longas plancies e picos prodigiosos, repletos de riqueza e verdura.

    Para que no faltasse claridade viva ao educandrio, ordenou o rei quetoda a construo se efetuasse sob vigoroso foco de luz criadora, cujos raiosfizessem o dia, proporcionando vida e calor em abundncia; e, para que a noiteno escurecesse a escola, totalmente, recomendou a instalao de lmpada

    suave e enorme, reconfortando a regio com abenoado luar.O soberano, cheio de sabedoria e carinho, em todas as providncias sem-pre revelou a maior ateno, relativamente ao problema da luz, para que osseus filhos, ainda jovens, nunca se mergulhassem nas trevas do entendimento.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    10/24

    10

    7Auxiliares

    OBSERVANDO que os servios bsicos da escola estavam prontos, o

    grande senhor chamou os conselheiros e lhes falou com bondade: Desejo confiar aos meus filhos alguns vegetais preciosos dos meus ce-leiros, a fim de que suavizem a luta do ganha-po nos dias do futuro.

    E, em breve, as rvores frutferas eram cultivadas nos grandes patrim-nios do educandrio, junto dos legumes tenros e substanciosos. Troncosrobustos estenderam traos verdes, carregados de flores e frutos; arbustos de-licados derramaram gros preciosos, e ervas frgeis ofereceram saborosas fo-lhas. Para que produzissem harmoniosamente, determinou o rei que as chuvasfossem divididas e controladas.

    Quando se misturavam, viosos e triunfantes, os jardins e os pomares, osoberano convocou novamente os cooperadores e disse-lhes:

    Pretendo entregar aos meus filhinhos auxiliares amigos que os aju-dem, gratuitamente, no aprendizado. Para isso, confiaremos escola algunsseres ainda fracos de inteligncia, que possam auxili-los, recebendo deles, aomesmo tempo, carinho e educao.

    Desde essa hora, numerosos animais foram trazidos ao educandriomaravilhoso. Aves formosas e amigas povoaram os ares, louvando o GrandeSenhor e purificando a atmosfera. Bois, ces, muares e ovelhas, ao lado demuitas outras criaturas teis, passaram a cooperar, em favor dos pequenosprncipes, para que as lutas lhes fossem menos speras.

    Esboando largo sorriso decontentamento, o velhinho calou-se e passeouo olhar pelo bando lacre...

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    11/24

    11

    8Comunicaes

    DEPOIS de pequena pausa de repouso, ante os meninos atentos.

    Cipio continuou: A escola era um verdadeiro paraso, repleta de flores e luzes,harmonias e encantos naturais, quando o Soberano, sempre interessado nobem-estar dos filhos, chamou os colaboradores e explicou-lhes:

    Em meu cuidado paternal, receio que os meus herdeiros menorescresam absolutamente isolados uns dos outros. Se progredirem separados,em definitivo, na conquista da Cincia, talvez inventem conflitos e choques semrazo de ser. Edifiquemos para eles todas as comunicaes possveis, todosos recursos de intercmbio, para que cultivem a fraternidade e o entendimentojusto.

    Os colaboradores cumpriram-lhe as ordens, imediatamente.

    Orientando extensas turmas de trabalhadores, dirigiram-Se para asmontanhas, em cujo interior havia volumosos depsitos de gua fresca, eorganizaram fontes numerosas, atravs de pequenas aberturas, formandoassim rios maiores e menores, facilmente transformVeis em valiosas vias decomunicao. Alm disso, estradas enormes foram rasgadas, naturalmente, aolongo de colinas e plancies, para que os prncipes no encontrassem motivode insulamento prejudicial, aprendendo, com todas as instalaes indis-pensveis ao seu desenvolvimento, os princpios de solidariedade fraterna.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    12/24

    12

    9O lar

    NO contente em aplainar as dificuldades do incio, tornando os

    prncipes e as princesinhas to ricos de ddivas, o Grande Senhor fez mais.Sabendo que os filhos se caracterizavam por gostos diferentes, o Amo-roso Pai concedeu-lhes a bno do lar, facilitando-lhes os trabalhos e realiza-es.

    Certas meninas apreciavam as flores, acima de tudo; outras encontravamnos livros a maior alegria, outras ainda se sentiam mais felizes no serviomanual. Acontecia o mesmo com os rapazinhos. Alguns davam tudo para queos deixassem nos trabalhos de agricultura, outros preferiam a arte ou a cincia.Observando nessa diversidade um estmulo vigoroso ao progresso geral, o ReiPoderoso e Bom determinou aos colaboradores a edificao do santuriodomstico, de modo que os filhinhos se reunissem, segundo as afinidades

    pessoais.Foi ento organizado o lar nos imensos territrios da grande escola, comoverdadeiro ninho de vida e amor. Esse ninho possua lugares apropriados paraas refeies e palestras, para o trabalho e descanso. Findas as ocupaes eestudos do dia, os jovens poderiam reunir-se a, noite, como num templo decarinho e compreenso fraternal, de acordo com as preferncias sentimentaisde cada grupo, trocando idias e experincias teis e cultivando a paz e aorao, a caminho da maioridade.

    Desde essa ordem paterna, foi construdo o lar, na abenoada escoladestinada ao entendimento e aos jbilos da famlia.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    13/24

    13

    10O uniforme

    O ANCIO fez mais longa pausa diante dos meninos surpreendidos.

    Aproveitando o silncio, a pequena Dolores indagou timidamente: Vov Cipio, e Jesus contou se os prncipes foram para a escola? Sim respondeu o velhinho sorridente , todos eles obedeceram s

    determinaes paternais. Como? tornou a perguntar a pequenina curiosa. Muito zeloso da fraternidade que deveria reinar entre os filhos, o

    Devotado Pai recomendou o uso de um s uniforme para o educandrio, con-cedendo-o, com grande riqueza, aos prncipes queridos. Todos, sem exceo,deveriam enverg-lo nos estudos e experincias, embora se diferenassem,entre si, nas tendncias, pensamentos e aspiraes.

    Fazendo gracioso gesto com as mos enrugadas, o ancio prosseguiu:

    Os prncipes chegaram muito pequeninos escola, porque a confec-o do vesturio concedido pelo Rei, para as lies e estudos de cada dia, su-bordinar-se-ia a certas leis do educandrio maravilhoso, edificado em plenocu... Meninos e meninas chegaram em bando, atravs dos vales e dos mon-tes, para o curso de crescimento e perfeio, todos vestindo o mesmo unifor-me, igual na formao e nos caractersticos, apenas variando quanto cor,pois os uniformes eram brancos, avermelhados, bronzeados, amarelos, pardose negros. A diversidade das cores, contudo, no implicava separao, porqueos prncipes eram filhos e herdeiros do mesmo Senhor.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    14/24

    14

    11Primeiros tempos

    Os primeiros tempos de recepo dos prncipes assinalaram-se por

    grandes e dilatados trabalhos de toda ordem.Muitos no se adaptavam aos uniformes e voltavam da escola, medrosose envergonhados.

    Outros acovardavam-se diante da extenso das guas e das florestas eno se animavam a atacar o trabalho, abandonando o vesturio,precipitadamente. Outros, ainda, declaravam-se doentes, depois dos primeirosdias de lies e servios.

    O Poderoso Rei, todavia, no se zangou, nem se aborreceu. Cuidandodos pequenos herdeiros com extrema ternura, determinou que os abnegadoscooperadores de sua obra solucionassem as dificuldades do educandrio. E osmensageiros do Grande Senhor vieram em nmero elevado, a fim de estudar

    os problemas e resolv-los.Com enorme dedicao, melhoraram a atmosfera, para que o ar fossemais agradvel aos meninos; organizaram mais perfeito escoamento para asguas; ajudaram os principezinhos a descobrir os frutos mais doces e sa-borosos; ensinaram-lhes a trazer o uniforme bem limpo; deram-lhes lies va-liosas no trato com os animais; prestaram-lhes esclarecimentos sobre o fogo ea gua; aproximaram-nos, uns dos outros, para que aprendessem a cultivar afraternidade e a proteo mtua; puseram-lhes a prece no corao e noslbios, e auxiliaram-nos a olhar o alto, cheios de confiana no Poder do PaiAmoroso e Supremo Governador.

    Desde ento, com o socorro eficiente dos emissrios generosos, os pe-

    quenos herdeiros passaram a desenvolver-se com tranqilidade e segurana.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    15/24

    15

    12Depois de crescidos

    QUANDO chegou a este ponto da histria, Cipio mostrou indisfarvel

    tristeza nos olhos e parou de falar por alguns minutos, como se estivesselembrando alguma coisa muito importante.Nenhum dos ouvintes lhe interrompeu os pensamentos.Finda a grande pausa, continuou: Mas os prncipes, para quem o Poderoso Rei criou to formoso reino

    escolar, depois de crescidos sentiram-se seguros em seus uniformes e emseus lares e, desviando a inteligncia, esqueceram o Pai Compassivo ecriaram perigosos monstros, dentro de si mesmos, com os quais passaram ase aconselhar. Os colaboradores diretos do Grande Rei continuaram ensinandoo bem e a verdade, a paz e o equilbrio. Entretanto, os aprendizes noquiseram ouvi-los por mais tempo. Os monstros que eles prprios haviam

    criado envenenaram-lhes o corao, dizendo-lhes que a escola era absolutapropriedade deles, que deveriam dominar em torno de suas residncias comoverdadeiros e nicos senhores.

    Em breve, os filhos do Grande Rei, esquecendo os deveres que lhescabiam desempenhar, comearam a humilhar, derrubar e perseguir.Destruram rvores venerveis sem plantar outras que as substitussem;organizaram caadas aos animais pacficos, matando-os sem necessidade;aprisionaram os pssaros e passaram a fazer o que mais doloroso combateram-se uns aos outros, em guerras de sangue, deixando misrias erunas atrs de seus passos. Para adquirirem supremacia e poder, honras eautoridade, assassinaram mulheres e crianas, velhos e doentes incapazes de

    fazer mal.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    16/24

    16

    13Ddivas menosprezadas

    O GRANDE Rei, a princpio, no levou em considerao tamanhos

    desatinos. Os filhos eram ainda muito jovens afirmava ele aos cooperadoresfiis.

    E, interessado em auxiliar os pequenos prncipes com todos os recursosao seu alcance, mandou que os mensageiros lhes trouxessem embarcaespara incentivarem as relaes amigas uns com os outros; maquinaria com querevolvessem o solo, facilitando os servios da lavoura; carros para auxilia-losnos transportes e teares para a confeco de tecidos diversos. Preocupado,ainda, em tornar a vida mais agradvel na grande escola, o Pai Amorosodeterminou aos colaboradores que ensinassem aos prncipes o alfabeto comque pudessem fixar os pensamentos, a arte para embelezarem o santurio do-

    mstico e a indstria e o comrcio a fim de desenvolverem a fraternidade e oesprito de servio.Os filhos do Grande Rei, todavia, longe de se aproveitarem de tantos

    bens para serem mais sbios e compassivos, utilizaram os recursos divinospara fomentar a discrdia e a destruio, chegando alguns deles a sustentar osecreto desejo de serem mais poderosos que o prprio Pai, aniquilando-o,talvez.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    17/24

    17

    14Preocupaes do Pai

    O SOBERANO, embora fosse to ofendido, no se revoltou nem se

    magoou, porque todo pai tem reservas infinitas de amor.Observando, porm, que os filhos lhe desobedeciam s ordens,perturbando a harmonia da escola e destruindo os prprios bens, convocounova reunio dos colaboradores, de modo a ouvi-los sobre as providncias quelhe competia tomar.

    Reconhecendo as justas preocupaes do Rei, os conselheiros passaramao movimento de opinio.

    Um deles considerou que seria melhor destruir o educandrio e comearoutra experincia educativa.

    Outro consultou o Soberano quanto possibilidade da aplicao depesados castigos aos prncipes rebeldes e ingratos.

    O Poderoso Senhor, no entanto, dedicava muito carinho escola e muitoamor aos filhos queridos.Ambas as propostas estavam em estudo, quando outro cooperador per-

    guntou se no seria mais razovel tratar a questo pela justia. No seria justotentar medidas de muito carinho, porque os prncipes se mostravam en-durecidos, mas tambm no convinha corrigi-los com excessivo rigor, em vistade serem jovens com reduzida experincia da vida.

    O Rei Sbio e Generoso considerou a idia excelente e, com aprovaogeral, deliberou aplic-la.

    Finda a reunio, enviou dois juizes para acompanharempermanentemente os prncipes; o primeiro encarregar-se-ia de fazer as

    retificaes possveis e o segundo estaria incumbido de reconduzi-los presena paternal, para julgamento necessrio, em momento oportuno.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    18/24

    18

    15O primeiro juiz

    OBEDECENDO s ordens do Pai Amoroso e Justo, o primeiro juiz

    aproximou-se dos prncipes, efetuando as corrigendas possveis.Os descuidados herdeiros do Grande Rei no lhe observaram a chegadade modo direto, mas sentiram-lhe a presena nas atividades comuns. Reti-ficando os caminhos dos aprendizes, o primeiro juiz era obrigado a fazer muitascoisas desagradveis, como o pedreiro amigo e cuidadoso que, para tornar apedra til, forado, muitas vezes, a espanc-la com o martelo.

    Numerosos prncipes e princesas comearam ento a reconhecer queandavam em caminho errado. Muitos concluam que fazer inimigos no repre-sentava prazer; que, afinal de contas, havia um poder muito mais alto que odeles, governando o Universo. Grande parte modificou a vida.

    Em verdade no viam com os olhos do corpo o emissrio que o Soberano

    lhes mandara.Entrementes, o primeiro juiz trabalhava sem cessar, acordando-lhes aconscincia adormecida.

    Obrigou-os a meditar nas origens divinas da Escola; estimulou-lhes acuriosidade, a fim de reconhecerem que se encontravam de passagem noeducandrio maravilhoso, e f-los olhar a luz celeste em que se banham osimprios resplandecentes do Poderoso Senhor, para que se sentissem menosvaidosos e mais aplicados ao estudo e ao trabalho cotidiano.

    Desde ento, os prncipes encontraram no primeiro juiz um educador deprimeira ordem e um companheiro admirvel para a jornada de retorno s leisdo Amoroso Pai.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    19/24

    19

    16O segundo juiz

    O TRABALHO do segundo juiz era mais difcil, mais doloroso. A misso do

    primeiro julgador perdurava at ao instante em que os prncipes eramobrigados a deixar o uniforme envelhecido ou roto. A ento comeava oservio do segundo. Ele devia mostrar aos filhos ingratos o erro em que se ha-viam comprometido, com toda a franqueza, depois de encerrada a oportuni-dade de servio e estudo.

    Os herdeiros do Grande Rei, todavia, quando foram entregues ao segundo julgador, a fim de receberem a verdade e a luz para tornarem aos braospaternos, estavam com os olhos cheios de treva e as mos tintas de sangue,os ps revestidos de lodo e o corao cercado de espinhos, mormente todosaqules que haviam fugido ao auxlio do primeiro juiz retificador.

    Estavam cegos e tontos. No sabiam que rumo escolher. A conscincia

    parecia-lhes uma casa incendiada. Os prncipes to ricos e to desventuradoS,agora s sabiam chorar.O segundo juiz revelou-lhes o abismo em que se haviam precipitado.Dedicado e bom, como sempre, o Poderoso Pai veio ver os filhos

    sofredores; entretanto, os prncipes no o viram, nem lhe ouviram a voz peloestado lastimvel em que se achavam.

    Compadecendo-se dos jovens, o Rei Sbio e Bondoso desculpou-os e,chamando os conselheiros, determinou que os filhos amados voltassem grande escola, guardados de perto pelos dois juzes, recomeando oaprendizado da sabedoria e do amor para a redeno.

    De novo, o velho narrador fez longa pausa, para concluir:

    Desde ento, os aprendizes regressam ao educandrio, utilizando osmesmos uniformes para adquirirem a virtude e a elevao.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    20/24

    20

    17A Escola Sublime

    CIPIO interrompeu-Se, como se houvesse terminado a narrativa.

    Contemplou o cu azul onde vagueavam avermelhadas nuvens do crepsculo.O vento leve da tarde acariciava-lhe os cabelos brancos...As crianas conservaram-se em profundo silncio, aguardando-lhe os

    comentrios.Decorridos alguns instantes, o velhinho amparou-se no cajado, buscando

    talvez energias novas, e informou em tom diferente: Esta, meus bons amiguinhos, a histria que eu soube haver Jesus

    contado, um dia, aos pequenos de Cafarnaum. Em torno dele, acotovelavam-se filhos dos mais diversos lares.

    Eram as crianas descendentes de judeus e romanos, gregos e etopesque o escutavam. Meninos que vinham de todos os credos e de todas as

    casas, sequiosos de seu carinho e ensinamento.E, aps nova pausa, fixou nos ouvintes o olhar doce e calmo, prosse-guindo:

    Fui informado, ainda, de que Jesus, atendendo s solicitaes dascrianas que Lhe ouviam a narrativa, esclareceu que a grande escola aTerra, o mundo maravilhoso em que vivemos, cheia de flores perfumadas e deluminosos horizontes, e que Ele, nosso Divino Mestre, vinha ao encontro dosprncipes, em nome do Poderoso Pai, a fim de ajudar a todos na restauraoda concrdia e do trabalho, da alegria e do entendimento.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    21/24

    21

    18Os prncipes

    O ANCIO ia continuar, quando o pequeno Joo Veloso, que seguira

    toda a histria, atentamente, ansioso por explicaes, interrogou com intensacuriosidade: Vov, quem so os prncipes, filhos do Grande Rei? So os homens respondeu o ancio, sem hesitar. , os homens e

    as mulheres do mundo, donos de sublimes riquezas que no sabem aproveitar.Cipio pensou um momento e continuou: Para sermos mais claros, devemos proclamar que os prncipes somos

    todos ns, que viemos a esta grande e abenoada escola, que a Terra,obedecendo s ordens da Providncia Divina... Aqui encontramos a bno dodia e da noite, do trabalho e do repouso, com mil oportunidades de conquistar asabedoria e a luz, a elevao e a santidade... Desde o primeiro dia de luta,

    recebemos a carinhosa assistncia de nossos pais. Crescemos entre ddivassublimes da Natureza, com todas as facilidades que o Poderoso Senhor nosconcedeu. Apesar disso, porm, embora a beleza e a glria do educandrio aque fomos conduzidos pela Bondade Celestial, por algum tempo, a fim de quepossamos adquirir conhecimento e virtude, perdemos quase todo o tempo napreguia e, orgulhosos, acreditamo-nos senhores da Criao... Quase semprecomeamos em pequeninos a fugir de nossos deveres, a desprezar o trabalho,a esquecer os estudos que nos tornaro mais sbios e melhores, a oprimir aNatureza, a olvidar os direitos do prximo e, por isso, esbarramos na cegueirada descrena, nas feridas do mal, no frio do desnimo ou nas destruies daguerra...

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    22/24

    22

    19Esclarecimentos de Cipio

    O BONDOSO velhinho parecia haver terminado, mas Dolores, a pequena

    estudiosa, cravou nele os olhinhos brilhantes, segurou-lhe nervosamente asmos, e tornou a perguntar: Vov, no possvel explicar tudo? Jesus no teria falado mais al-

    guma coisa? quais eram os monstros que enganaram os prncipes? quais soos juizes que vieram da parte do Grande Senhor?

    O narrador sorriu, visivelmente satisfeito com a interrogao, e comentou: No cheguei a saber se o Divino Mestre prestou esclarecimentos

    finais s criancinhas de Cafarnaum; mas, de acordo com informaes querecebi, farei a interpretao para vocs.

    E, com voz pausada e firme, explicou: O Rei de todos os reis, bom e altssimo Senhor, Deus, Nosso Pai de

    Infinita Bondade.Os imprios resplandecentes so os sis numerosos e os numerososmundos que se equilibram na imensidade, dos quais podemos fazer ligeiraidia, contemplando o firmamento iluminado.

    Os prncipes, necessitados de sabedoria e amor, so os homens e asmulheres da Terra, herdeiros divinos da Criao.

    Os conselheiros e cooperadores do Poderoso Senhor so os EspritosSbios e Benevolentes que nos auxiliam, em nome dEle, em todos oscaminhos da vida humana.

    A bendita escola construda para a educao dos prncipes a Terra emque habitamos.

    O vigoroso foco de luz, junto do qual foi edificado o nosso educandrio, o Sol que nos sustenta a vida fsica.A lmpada suave e enorme a Lua. As rvores e as ervas, as flores e

    os frutos, bem como os animais de variadas espcies, so os auxiliares dosherdeiros felizes.

    Os rios e estradas constituem as comunicaes que o Pai nos concedeu afim de aproximar-nos uns dos outros.

    O lar confortvel a casa acolhedora que nos abriga no mundo.O uniforme ou roupa dos prncipes o corpo carnal que varia de cor na

    Europa, na Amrica, na sia e na frica.Os conselheiros monstruosos que os aprendizes criaram para si mesmos

    chamam-se orgulho e vaidade, egosmo e ambio, cime e discrdia.A rebeldia comum dos herdeiros, na escola terrestre, revela-se no

    propsito de dominar os semelhantes, atravs da maldade e da guerra, em quetodos os poderes da inteligncia so utilizados.

    O primeiro juiz enviado por Deus o sofrimento, que procura despertar aconscincia adormecida; o segundo a morte, que reconduz a alma s reali-dades do Grande Senhor.

    A cegueira, que impediu o retorno dos filhos aos braos amorosos do So-berano Pai, a treva do mal que se apodera do homem, destruindo-lhe a visoe o entendimento.

    O regresso aos uniformes to caridosamente autorizado pelo ReiPoderoso e Bom, a fim de que os prncipes recomecem o aprendizado, a leidivina da reencarnao, com a qual aprendemos, em contacto com o

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    23/24

    23

    sofrimento e com a morte, os sagrados princpios da fraternidade, da justia, doamor, da concrdia, da paz e do perdo.

  • 8/9/2019 Os Filhos Do Grande Rei de Chico Xavier

    24/24

    24

    20Terminando a histria

    O VELHINHO calou-se, contemplando as crianas, que se mostravam

    risonhas e satisfeitas. A histria fazia-lhes sentir a grandeza da vida eapontava-lhes o glorioso porvir.O Sol j se despedira do vasto horizonte azul e o vento frio comeava a

    soprar fortemente.Cipio amparou-se no cajado velho, levantou-se devagarinho e, olhando a

    crianada com um sorriso bom, terminou a narrativa, aconselhando:- Tenhamos todos muito cuidado em evitar o mal e muita alegria em pra-

    ticar o bem ... Todos ns, meus filhos, somos prncipes necessitados de educa-o na escola da Terra. Alguns, como eu, vestem uniforme mais velho, masvocs esto comeando as lies, vestindo roupa nova, forte e bonita...

    Todos os meninos sorriram contentes e o ancio concluiu:

    Espero que vocs todos, de hoje em diante, saibam viver neste mundocomo verdadeiros filhinhos de Deus.

    Fim