64
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO UFPE CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CCJ FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE FDR OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015: PRINCIPAIS IMPACTOS E MUDANÇAS. A BUSCA PELA EFETIVAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL THAÍS ALVES CANINDÉ DE BRITO RECIFE 2018

OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ

FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE – FDR

OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL DE 2015: PRINCIPAIS IMPACTOS E

MUDANÇAS. A BUSCA PELA EFETIVAÇÃO DA TUTELA

JURISDICIONAL

THAÍS ALVES CANINDÉ DE BRITO

RECIFE

2018

Page 2: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE

OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL DE 2015: PRINCIPAIS IMPACTOS E

MUDANÇAS. A BUSCA PELA EFETIVAÇÃO DA TUTELA

JURISDICIONAL

Monografia-final de curso apresentada à banca examinadora

da Faculdade de Direito do Recife, Universidade Federal de

Pernambuco, como exigência parcial para obtenção do grau

de Bacharela em Direito.

Orientanda: Thaís Alves Canindé de Brito

Orientador: Sérgio Torres Teixeira

RECIFE

2018

Page 3: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

THAÍS ALVES CANINDÉ DE BRITO

OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL DE 2015: PRINCIPAIS IMPACTOS E

MUDANÇAS. A BUSCA PELA EFETIVAÇÃO DA TUTELA

JURISDICIONAL

DEFESA PÚBLICA em:

Recife, _____de __________de 2018

BANCA EXAMINADORA:

Presidente: Orientador: Professor Sérgio Torres Teixeira

________________________________________________________

1º Examinador: Prof.

________________________________________________________

2º Examinador: Prof.

________________________________________________________

RECIFE

2018

Page 4: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

CF - Constituição Federal

CPC – Código de Processo Civil

FONAJE – Fórum Nacional de Juizados

Especiais

Page 5: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

RESUMO

A autora aborda os assuntos de efetivação de provimentos judiciais e tutelas jurisdicionais

no contexto da Lei 9.099/95, diante das alterações sobrevindas com as normas subsequentes e

com o advento da Lei 13.105/2015, isto é, o novo CPC. Ainda, procura fazer uma explanação a

respeito da aplicação subsidiária da legislação processual civil comum no âmbito dos juizados

especiais cíveis, visando aperfeiçoar os instrumentos processuais, a otimização e eficácia do

processo judicial, bem como o acesso à atividade jurisdicional por parte da população.

PALAVRAS-CHAVE

Juizados especiais; novo CPC; Lei 9.099/95; juizados especiais cíveis; aplicação subsidiária.

Page 6: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

All that is gold does not glitter,

Not all those who wander are lost;

The old that is strong does not wither,

Deep roots are not reached by the frost.

From the ashes a fire shall be woken,

A light from the shadows shall spring;

Renewed shall be blade that was broken,

The crownless again shall be king.

— J.R.R. Tolkien, The Fellowship of the Ring

Page 7: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

AGRADECIMENTOS

À Deus, pela vida e por tudo até hoje conquistado, por guiar meus passos em todos os

momentos, mesmo quando não tinha muita certeza sobre qual caminho seguir e o que fazer.

Aos meus pais, Luiz e Betania, por todo o amor, carinho, ensinamentos e abnegação.

Sem vocês minha formação pessoal e acadêmica não seria possível. Obrigada por tudo. Às

minhas irmãs, de sangue e de coração, Iliana e Alexandra.

À minha avó Nêda, aquela que me criou e a quem eu devo tanto. Ao meu avô Edilson,

a quem não conheci e só ouvi histórias, aquele que sentiu a fome e a pobreza que assolam a

população hipossuficiente no Brasil, que lutou até o fim da vida contra injustiças e valorizou a

educação acima de tudo. À minha avó Livete, uma das mulheres mais guerreiras que tenho a

honra de conhecer. Se um dia eu tiver metade da sua vontade de viver, estarei satisfeita. Aos

demais familiares, que, cada qual a seu modo, estiveram ao meu lado em todos os passos do

meu caminho.

Ao professor e orientador Sérgio Torres por aceitar o presente projeto de conclusão de

curso, pela paciência e pelos conhecimentos partilhados para a realização do estudo. E, por

fim, pela inspiração para, futuramente, seguir a carreira acadêmica.

Aos meus amigos pelo apoio e por todos os momentos compartilhados, pela ajuda

imensurável durante todo o processo de criação deste projeto.

Por fim, dedico este projeto à todos que lutam pela garantia do acesso à justiça e

respeito pelas instituições democráticas nesse país. Que a luta daqueles que morreram para

que tivéssemos direitos básicos não tenha sigo em vão.

Page 8: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 9

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ............................ 11

2. MODELO COOPERATIVO DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E OS JUIZADOS

ESPECIAIS CÍVEIS ...................................................................................................... 17

3. MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO NO CPC DE 2015 E OS JUIZADOS ESPECIAIS

CÍVEIS ........................................................................................................................ ...20

4. APLICAÇÃO SUBSIÁRIA DAS NORMAS DO CPC AOS JUIZADOS ESPECIAIS

....................................................................................................................................... .29

5. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NOS JUIZADOS

ESPECIAIS .................................................................................................................... 34

6. PRAZOS PROCESSUAIS NOS JUIZADOS

ESPECIAIS.....................................................................................................................40

7. INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS E SUA

APLICAÇÃO NOS

JUIZADOS…..................................................................................................................46

CONSIDERAÇÕES

FINAIS.........................................................................................................................................54

REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................................................56

Page 9: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

9

INTRODUÇÃO

Sabe-se que a obtenção de uma providência jurisdicional efetiva mediante um

processo justo, acessível e realizado em tempo razoável é, na contemporaneidade, o

principalmente foco da processualística civil moderna1. A garantia de acesso à justiça

acarretou a instituição de programas de assistência judiciária disponíveis para muitos

dos que não podiam custear os serviços de advogado, tornando, cada vez mais, os que

foram por muito tempo deixados ao desabrigo conscientes de seus direitos. Aí está o

derradeiro momento do acesso à justiça, que diz com a “representação legal e com a

efetividade de direitos de indivíduos e grupos que, durante muito tempo, estiveram

privados dos benefícios da justiça igualitária"2.

Nesse sentido, o Código de Processo Civil de 2015 veio solidificar e ampliar os

debates envolvendo a aplicabilidade dos mecanismos de execução do acesso à justiça.

Inicialmente, será objeto de destaque deste trabalho abordar a sistemática de

provimentos judiciais e tutelas jurisdicionais no contexto da lei 9.099/95 (lei dos

juizados especiais), deve-se destacá-la sob a ótica das alterações sobrevindas com

normas subsequentes e com a Lei 13.105/15, o Código de Processo Civil de 2015, pois

leva-se em conta a aplicação subsidiária da nova legislação processual cível comum no

âmbito dos juizados especiais cíveis, visando ao aperfeiçoamento dos instrumentos já

existentes, buscando a otimização do processo judicial, conforme preconiza a Carta

Magna de 1988. Para tanto, faremos uma breve análise histórica do surgimento dos

Juizados Especiais Cíveis, destacando seus princípios próprios e inerentes, tais quais os

princípios da oralidade, simplicidade, economia processual e celeridade, previstos no

artigo 2º da Lei n.º 9.099/95 e imprescindíveis para a sua real efetivação.

Na sequência, discorreremos sobre a aplicação das normas do processo civil aos

juizados especiais estaduais, enfatizando o modelo cooperativo do Código de Processo

Civil de 2015 e destacando a questão da aplicação subsidiária dos dispositivos de direito

processual civil à sistemática elencada pela lei 9.099/1995, através da análise dos

principais impactos do CPC/2015 sobre o processo nos Juizados Especiais. Tal análise

será feita a partir do foco no Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica, a

1 DINAMARCO, Cândido. A reforma da reforma. São Paulo: Malheiros, 2003

2 GOMES NETO. José Mário Wanderley. O acesso à Justiça em Mauro Cappelletti: análise teórica

desta concepção como "movimento" de transformação das estruturas do processo civil brasileiro.

Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2005, p.92.

Page 10: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

10

Conciliação e a Mediação, a Nova contagem dos prazos processuais e o Incidente de

Resolução de Demandas Repetitivas.

Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de

acesso à jurisdição, de forma rápida, fácil e eficaz, sem os entraves do processo comum.

Deste modo, o presente trabalho intenta discutir os principais impactos trazidos pela

legislação processual civil de 2015 ao Sistema dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais,

enfatizando seus elementos e detalhes. Assim, debateremos o papel desempenhado

pelos Juizados Especiais para a materialização do acesso à justiça e de que maneira a

disposição processual civil de 2015 influencia nesse patamar.

Page 11: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

11

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

O esboço da sistemática dos Juizados Especiais começou a ser traçado ainda nos

anos 70, a partir do entendimento dos magistrados de que o acesso à justiça é um direito

essencial, devendo, pois, ser célere, ágil e desburocratizada. Dessa maneira, através de

experiências com conciliação e arbitragem, o Congresso Nacional chegou ao

anteprojeto que culminou na Lei dos Juizados de Pequenas Causas (Lei nº 7.244/82)3.

Ora, o anteprojeto enviado ao Congresso Nacional baseou-se no instituto americano

das chamadas Small Claim Courts, buscando implementar tal ideia ao modelo nacional,

com o fim de promover a facilitação do acesso à justiça4. Foi com o advento da

Constituição Federal de 1988 que deu-se início à atual formulação da Lei dos Juizados

Especiais, o que significou o prenúncio de uma nova mentalidade que se vem

implantando aos poucos5.

A Lei dos Juizados Especiais (Lei n.º 9.099/95) é fruto dos projetos de Lei n.º 1.489-

B, 1.480-C e 1.480-D editados em 1989, com vistas a cumprir a obrigação elencada no

artigo 98, inciso I, da Constituição Federal6. Diz tal artigo que cabe a União e os

Estados criar os Juizados Especiais, os quais serão compostos por juízes togados ou

togados e leigos, competentes para a conciliação, julgamento e execução de causas

cíveis de menor grau de complexidade e infrações penais de menos potencial ofensivo,

mediante procedimentos oral e sumaríssimo previstos em lei7. Ainda, a competência

para legislar sobre os Juizados Especiais é concorrente, cabendo tanto aos Estados

quanto aos Distritos tal incumbência8. Importante destacar que a lei 9.099/1995 não

3 ANDRIGHI, Fátima Nancy. O novo CPC e sua aplicação nos Juizados Especiais. In: Juizados

Especiais Cíveis e o Novo CPC. Coord. LINHARES, Erick. Curitiba, Juruá, 2015 4 Idem

5 BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p.1369

6 TOURINHIO NETO, Fernando da Costa. FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados Especiais Cíveis e

Criminais: comentários á Lei 9.099/1995. 7 ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011,

p. 67 7 “Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais,

providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a

execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,

mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e

o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;” BRASIL. Constituição Federal. De 05

de Outubro de 1988. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm >.Acesso em: 20 de

outubro de 2018. 8 “ Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) X -

criação, funcionamento E processo do juizado de pequenas causas. BRASIL. Constituição Federal. De 05

de Outubro de 1988. Disponível em: <

Page 12: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

12

pode ser tratada como uma simples norma procedimental, uma vez que além de possuir

natureza primordialmente processual e constitucional, volta-se a criação de uma nova

justiça, segura, ágil e efetiva9.

De fato, a própria lei dos juizados especiais surgiu com a finalidade de atender uma

demanda reprimida e minorar os efeitos gerados pelo que se chamou de litigiosidade

contida, visando facilitar ao cidadão comum o acesso rápido e fácil à jurisdição, sem

necessidade de advogado (em certos casos) e agilizar a resolução de lides de pequena

complexidade. O principal objetivo, nos dizeres de Teotônio Negrão, “é para que o povo

tenha confiança no Direito e na Justiça, é preciso que seja onipresente; que as pequenas

violações de direito, tanto quanto as grandes, possam ser reparadas”10

.

O Juizado Especial Cível nasceu em 1995, com a Lei n. 9.099, de 26.09.95, a

partir da experiência bem sucedida do Tribunal de Pequenas Causas. Para as

causas mais simples e de menor valor, propostas por pessoas físicas, a lei

desde 1984 já instituía um procedimento informal, que privilegiava o acordo

entre as partes e o contato direto delas com o juiz, sem a necessidade de

contratação de um advogado. O processo se tornava ágil e rápido, mas sem

perder a segurança, o que fez do "Pequenas Causas" um verdadeiro

instrumento do exercício da cidadania. A lei de 1995 veio aprimorar o

sistema, ampliando a competência do Juizado tanto com relação à matéria,

quanto em relação ao valor. Desse modo, o cidadão comum encontrou o foro

no qual procurava resolver suas pendências cotidianas, aquelas que antes

ficavam longe da apreciação da Justiça, causando um sentimento de

impunidade. O caráter didático da atuação do Juizado hoje pode ser medido

na atitude da pessoa comum que, diante de uma injustiça, não deixa de

procurar seus direitos11

.

O legislador procurou criar uma via alternativa de acesso à jurisdição, sem o

formalismo e os trâmite burocráticos do processo comum. Dessa maneira, não se

considera verídica a afirmação de que a finalidade dos juizados é de simplesmente dar

maior agilidade aos processos. Como bem pontua Marinoni que

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm >.Acesso em: 20 de

outubro de 2018. 9 TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias Figueira. Op. Cit., p.71

10 NEGRÃO, Theotonio. Juizados Especiais de pequenas causas - Lei 7244/84. Curitiba: Editora

Revista dos Tribunais, 1985 11

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias Figueira. Op. Cit.

Page 13: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

13

a agilização da distribuição da justiça não pode constituir a razão de ser dos juizados. A

filosofia dos juizados é tocada pelo tema da demora do processo apenas porque o

hipossuficiente é aquele que mais sofre com o retardo na entrega da prestação jurisdicional.

Assim, é necessário deixar claro, para que não ocorram distorções, que a finalidade dos

juizados não é simplesmente propiciar uma justiça mais célere, mais sim garantir maior e

mais efetivo acesso à justiça12

.

A lei 9.099 buscou em seu cerne trazer à tona um modelo que desafogasse a

Justiça Comum e sua quantidade de excessivas demandas. De fato,

a partir do Juizados de Pequenas Causas não mais se impuseram a renúncia

ao direito ou a procura por soluções encontradas à margem da ordem jurídica,

como tem ocorrido em algumas comunidades brasileiras, onde prospera a

anomia (ausência de lei ou regra). Ao trabalhador humilde e desprovido de

capacidade econômica abriu-se caminho para impor sua condição de

cidadão13

.

Uma das principais marcas do Código de Processo Civil de 2015 é a ênfase

atribuída à participação dos interessados no processo. Além de reforçar o contraditório

como poder de influência e de não ser surpreendido por novos argumentos presentes na

decisão judicial, o CPC/2015 trabalha o processo como um ambiente de trabalho, co-

participativo e colaborativo, e trata as partes como agentes capazes de compreender e

resolver os próprios conflitos14

. Com isso, distancia-se do autoritário viés

heterocompositivo que estava sendo enfatizado até então e rompe com a imagem do

processo como jogo15

ou guerra16

entre as partes.

12

MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2008, p.80

13 BACELLAR, Roberto Portugal. Juizados Especiais: a nova mediação processual. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2013, p. 33 14

THEODORO JÚNIOR, Humberto (Coord.). Processo civil brasileiro: novos rumos a partir do

CPC/2015. Belo Horizonte: Del Rey Editora, 2016, p.91 15

CALAMANDREI, Piero. Il processo come giuoco. Rivista di diritto processuale, anno V, n.1, Padova,

1950, p.3-31 16

GOLDSCHMIDT, James. Teoría general del processo. Barcelona: Editorial Labor, 1936. Colección

Labor, Sécción VIII, Ciencias Juridicas, n.386

Page 14: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

14

Ora, o principal ponto dos Juizados Especiais é justamente a busca pela

autocomposição por resultados positivos aos litigantes compositores dos polos da

relação jurídico-processual, a fim de assegurar-lhes o maior grau de satisfação,

efetividade e menor onerosidade para o conflito jurídico17

. Ainda, é importante que a

Lei dos Juizados não cuida apenas da institucionalização de um novo procedimento, vai

além do que está disposto na Constituição Federal, uma vez que prevê um novo

processo e rito18

, vê-se:

Estamos diante de um novo microssistema apresentado ao mundo jurídico.

Esta lei representa muito mais do que isso, visto que significa o

revigoramento da legitimação do Poder Judiciário perante o povo brasileiro e

a reestruturação (ou verdadeira revolução) da nossa cultura jurídica,

porquanto saímos de um mecanismo (entravado em seu funcionamento mais

elementar e desacreditado pelo cidadão) de soluções autoritárias dos conflitos

intersubjetivos para adentrar a órbita da prestigiosa composição amigável,

como forma alternativa de prestação da tutela pelo Estado-Juiz19

.

De acordo com a Lei 9.099/1995, excluem-se da competência do Juizado

Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, bem como as relativas a acidente

de trabalho, a resíduos e ao estado e à capacidade das pessoas. Mesmo que possuam

pequeno valor, tais causas não podem ser processadas no âmbito dos Juizados Especiais

Cíveis. Pode-se afirmar que essas são pequenas causas de grande complexidade. Com

efeito, ao afastar tais demandas da competência dos Juizados Especiais Cíveis, o

legislador atribuiu-lhes a característica de causas de maior complexidade. Ao ser

editada, a Lei 9.099/1995 excluiu, expressamente, do âmbito dos Juizados Especiais

Cíveis as causas fiscais e de interesse da Fazenda Pública. Isso quer dizer que, num

primeiro momento, as causas em que havia interesse jurídico da Fazenda Pública, ou em

que esta figurasse como parte, não deveriam ser processadas nem julgadas nos Juizados

Especiais Cíveis.

Acontece, todavia, que a instituição de Juizados Especiais demonstrou ser possível

ter resultados mais ágeis para questões mais simples ou de menor expressão econômica.

Inspirada no princípio da efetividade e da facilitação do acesso à justiça, a criação dos

17

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias Figueira. Op. Cit., p.7. 18

Ibidem, p.47 19

Idem, ibidem

Page 15: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

15

Juizados Especiais Cíveis vem causando uma gradativa eliminação da chamada

litigiosidade contida: quem não se socorria da atividade jurisdicional passou a fazê-lo, o

que acarretou uma maior conscientização de muitos pela busca do reconhecimento

judicial de direitos20

. Logo, fica claro que os juizados foram criados para o julgamento

das causas cíveis de menor complexidade, visando facilitar ao cidadão o acesso à

jurisdição, com rápido e eficaz acesso à tutela jurisdicional. Deve-se deixar claro,

também, que já é pacificado na doutrina e na jurisprudência que o acesso aos juizados é

facultativo, sob o argumento de que haveria inegável cerceamento de defesa deixar de

garantir ao cidadão a amplitude da defesa de seus direitos, vide art.5º, LV, da

Constituição Federal de 1988. Seguindo essa linha de pensamento, Nery Jr afirma que a

finalidade dos juizados é de ofertar ao jurisdicionado mais uma alternativa para que

possa acessar uma ordem jurídica justa, podendo o autor direcionar sua pretensão tanto

ao juizado especial (procedimento concentrado), quando ao juizado comum (com ampla

defesa)21

. Afinal, um comportamento diverso contraria a própria finalidade do juízo

constitucional de direito de ação.

Fica claro que a principal pretensão ao se criar os Juizados Especiais foi introduzir

um microssistema através do qual fosse possível a resolução de conflitos de interesses,

de forma simples e rápida, sem formalismos, dotado de baixa onerosidade e com

máxima eficiência, ou seja:

É preciso repensar o processo em seu todo, como instrumento que serve a realização das

pretensões resistidas ou insatisfeitas de direito material, sem se deixar de considerar que,

agora, e mais do que nunca, a procura pelo Judiciário será sensivelmente acrescida, à

medida em que o novo sistema dá azo a liberação da chamada litigiosidade contida, dado

que ampliada não somente a via de acesso aos tribunais , como também o escoamento

muito mais fluente das demandas ajuizadas em virtude da tramitação sumária ancorada num

procedimento mais enxuto, o qual atende basicamente os critérios da oralidade,

simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade22

.

20

CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p.769-

770

21 NERY JR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado e legislação

constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. P.466

22 TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias Figueira. Op. Cit., p. 47

Page 16: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

16

Logo, o microssistema dos Juizados Especiais surgiu para corresponder às

exigências e aos anseios da sociedade, visando o alcance rápido e eficaz da tutela

jurisdicional.

Page 17: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

17

2. MODELO COOPERATIVO DO NOVO CPC E OS JUIZADOS

ESPECIAIS CÍVEIS

O CPC adota um modelo cooperativo de processo, com equilíbrio nas funções

dos sujeitos processuais e necessidade de cumprimento de deveres pelas partes e pelo

juiz. Devido a isso, a atividade jurisdicional deve basear-se num sistema dialógico, de

modo a exigir que o juiz exerça a jurisdição com o auxílio das partes, proferindo decisão

legítima, aprimorada e justa. De fato, em razão do princípio da cooperação, a sentença

e, de resto, as decisões judicias, passam a ser fruto de uma conjunta, em que impõe ao

tribunal o dever de consulta de dar às partes a oportunidade de se manifestar sobre

questões de fato ou de direito.

O Código de Processo Civil de 2015 possui como uma de suas diretrizes

fundamentais situar o processo num plano rente ao da sociedade, sua

verdadeira destinatária, mediante a criação de mecanismos facilitadores do

alcance de solução negociada para o conflito subjacente ao processo, além da

criação de regras destinadas a evitar, o quanto possível, que a solução da

questão de direito prevaleça em cada caso concreto levado ao poder

judiciário, o que se fez com a sensível redução das hipóteses em que o

processo seria extinto sem julgamento de mérito, em razão de defeitos

formais23

.

Nesse sentido, esse modelo deve ser aplicado, irrestritivamente, aos juizados

Especiais, pois decorre de imposição constitucional, isto é, é corolário do Estado

Democrático de Direito, da necessidade de um contraditório substancial e do devido

processo legal. O juiz do Juizado, antes de proferir qualquer decisão que contenha

fundamento não discutido previamente, deve consultar as partes, evitando decisões-

surpresa. Dessa maneira, o juiz se impõe o dever de fundamentação reforçada, como

disposto no parágrafo 1º, do art 489 do CPC24

. Tal dispositivo, que consagra o princípio

23

WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Tereza Arruda Alvim (Coord.). Temas essenciais do novo

cpc. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p.43 24

“Art. 489 § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,

sentença ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem

explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos indeterminados,

sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a

justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes

de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V - se limitar a invocar precedente ou enunciado

Page 18: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

18

da fundamentação das decisões judicias é aplicável no âmbito dos Juizados Especiais,

como bem afirma o Enunciado 309 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "O

disposto no âmbito do parágrafo 1º do art. 489 do CPC é aplicável no âmbito dos

Juizados”25

. O art. 98, inciso I, da CF/8826

previu a competência dos Juizados Especiais

para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de pequena

complexidade (e infrações penais de menor potencial ofensivo). Vale dizer, ainda, que

o legislador adotou um duplo critério para delimitar a competência nos juizados

especiais, o quantitativo e o qualitativo (o primeiro dizendo respeito à matéria objeto da

lide, e o segundo, ao valor da controvérsia).

Assim, como previamente destacado, excluem-se da competência do juizado as

causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública e

aquelas relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das

pessoas, ainda que de cunho patrimonial. A doutrina aponta que tal assertiva é apenas

taxativa – e não meramente exemplificativa --, não podendo ser ampliada por analogia

ou interpretação extensiva.

Cabe mencionar, ainda, que apesar do novo CPC ter eliminado o procedimento

sumário, os juizados especiais cíveis estaduais continuam competentes para o

processamento e julgamento das causas previstas no art. 275 da lei 5869/73, até que se

modifique a lei especial por norma específica, devido à ultratividade da norma

de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se

ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente

invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do

entendimento.” BRASIL. Código de Processo Civil. De 16 de março de 2015. Disponível em:<

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm >.Acesso em: 20 de outubro

de 2018. 25

Disponível em: < https://alice.jusbrasil.com.br/noticias/241278799/enunciados-do-forum-permanente-

de-processualistas-civis-carta-de-vitoria>. Acesso em 20 de outubro de 2018. 26 “Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais,

providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a

execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,

mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o

julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau”. BRASIL. Constituição Federal de 1988. 5

de outubro de 1988. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em 20 de outubro

de 2018.

Page 19: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

19

revogada, conforme previsão do art.106327

. Do mesmo modo, as ações sujeitas ao

procedimento especial, independentemente do valor atribuído à causa fogem da

competência do JEC. De fato, diz o enunciado 8 do Fonaje: “as ações cíveis sujeitas aos

procedimentos especiais não são admissíveis nos Juizados Especiais”28

. Nesse aspecto,

sobre o caso da ação monitória, mantida no novo CPC, existem posicionamentos

jurisprudenciais que admitem sua admissão no âmbito dos Juizados, tese com a qual

discorda Cláudio Antônio de Carvalho Xavier29

. Segundo ele, tal sistema não se

coaduna com a Lei processual do sistema dos juizados, diante da incompatibilidade do

rito.

A questionável utilidade da ação monitória ao tempo em que vigoravam as

regras do CPC/1973, sobretudo em razão da previsão de efeito suspensivo à

apelação interposta contra sentença proferida nos embargos ao mandado que

em muito reduzia a celeridade do procedimento, fez com que se defendesse a

sua supressão do ordenamento processual. Depois de muita discussão,

decidiu-se por não só manter a ação monitória, entre os procedimentos

especiais, no NCPC, mas, em boa hora, aperfeiçoou-se o respectivo

procedimento, ampliando-se as hipóteses de cabimento e criando-se regras

que o tornaram mais efetivo e mais condizente com sua finalidade, qual seja,

a de acelerar a obtenção do título executivo judicial30

.

27

“Art. 1.063. Até a edição de lei específica, os juizados especiais cíveis previstos na Lei no 9.099, de 26

de setembro de 1995, continuam competentes para o processamento e julgamento das causas previstas

no art. 275, inciso II, da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.”. BRASIL. Código de Processo CIVIL.

13 de março de 2015. Disponível em; < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-

2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em 20 de outubro de 2018. 28

Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/corregedoriacnj/redescobrindo-os-juizados-

especiais/enunciados-fonaje/enunciados-civeis> . Acesso em 20 de outubro de 2018. 29

XAVIER, Cláudio Antônio de Carvalho. Revista CEJ, Brasília, Ano XX, n. 70, p. 7-22, set./dez. 2016 30

WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Tereza Arruda Alvim (Coord.). Temas essenciais do novo

cpc. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p.330

Page 20: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

20

3. MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS E O

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL de 2015

Pois bem. A resolução dos conflitos por meio da negociação, mediação,

arbitragem e outros métodos é defendida como boa alternativa por ser capaz de alijar os

tribunais da excessiva carga que lhes é imposta, tornando-se uma estratégia

governamental para garantir que as disputas sejam resolvidas de modo mais justo,

rápido e eficiente, sem a necessidade de submissão às etapas de um processo judicial31

.

A mediação, particularmente, é essencialmente um mecanismo extrajudicial

para resolver conflitos. Deve ser buscada espontaneamente pelas partes que

se encontram envolvidas em um problema e que não conseguem, por esforço

próprio, resolvê-lo. Mediante técnicas que têm como objetivo a pacificação

dos indivíduos, o mediador facilitará a abertura dos caminhos dialógicos para

que os próprios protagonistas envolvidos no conflito envidem esforços para

encontrar solução para o impasse, consensualmente, contribuindo assim para

a preservação de relacionamentos que precisam ser mantidos, compondo a

matriz de uma justiça coexistencial32

.

Ato contínuo, a edificação de uma nova legislação processual civil veio com

diversas inovações, rompendo com o aspecto tradicionalista, valorizando a

autocomposição, privilegiando-se o diálogo do juiz com as partes, visando ao

aprimoramento das técnicas processuais. Diante disso, emerge o conceito de

contraditório diferido, presente no art. 933

do CPC/2015, segundo o qual não se proferirá

decisão contra umas das partes, sem que ela seja previamente ouvida, evitando a

extinção abrupta do processo. Logo, percebe-se que a influência da lei 9.099/95 sobre o

Novo CPC é notória, pois é encontrada em diversos pontos: a reunião de princípios

processuais em capítulos específicos; ênfase na audiência de conciliação e de mediação;

a contestação deve concentrar toda a matéria de defesa, inclusive a arguição de

incompetência relativa; produção de prova técnica simplificada, quando o ponto

31

ALMEIDA, Diogo Assumpção Rezende de; PANTOJA, Fernanda Medina PELAJO, Samantha. A

mediação no novo código de processo civil. Forense: Rio de Janeiro, 2016, p.1 32

ALMEIDA, Diogo Assumpção Rezende de; PANTOJA, Fernanda Medina PELAJO, Samantha. Ops,ct.

P.2 33

“Art. 9o : Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.”

BRASIL. Código de Processo Civil. 13 de março de 2015. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em 22 de outubro

de 2018.

Page 21: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

21

controvertido for de menor complexidade; audiência concentrada, entre outros. Exceto

nos casos em que a lei 9099/95 for omissa, poderá haver a aplicação subsidiária do novo

CPC. Nesse sentido, o próprio novo CPC veio a estabelecer a duração razoável do

processo em seu art.4º34

.

O procedimento destacado na lei dos Juizados Especiais – lei 9.099/95 – é

chamado sumaríssimo e possui peculiaridades próprias. A lei dos JEC está estruturada e

fundamentada em certos princípios, sendo eles: oralidade, simplicidade, informalidade,

economia processual e celeridade. Assim, os critérios instituídos pela lei visam a

desburocratização, racionalização e simplificação dos procedimentos e possuem elevado

valor para a tônica do processo, principalmente quando não há previsão legal expressa.

Segundo Nery Jr, a lei optou pela positivação dos princípios fundamentais e o CPC

atual passou a agrupar em capítulo própria os atos processuais. Ainda, esclarece o autor

que a doutrina identifica alguns princípios fundamentais que, apesar de terem aplicação

ao processo civil, nem sempre se encontram expressos no texto do Código. A lei 9099,

por outro lado, adotando orientação diversa, resolveu positivar expressamente os

critérios ou princípios informativos adotados nos juizados especiais para não permitir

dúvidas sobre a sua aplicação irrestrita35

. Nesse sentido, a evolução do sistema

extrajurisdicional para a resolução de conflitos tem adquirido notoriedade pela

adequação para resolver conflitos intersubjetivos a partir de técnicas mais consensuais,

formuladas na esteira da justice de proximité francesa, voltada a uma percepção

coexistencial e cooperativa baseada, sobretudo, no conciliar, que caminha ao encontro

de uma nova concepção de jurisdição, não mais compreendida a partir do monopólio do

Estado, mas concebida como uma entre as várias formas de solucionar as disputas

surgidas na sociedade36

.

A adoção de critérios informativos possui relevância no sistema de juizados

especiais na medida em que servem de fontes „direcionadoras‟ da atividade das partes,

do juiz, do Ministério Público, dos auxiliares de justiça, do processo e do procedimento,

34

“Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a

atividade satisfativa.”. BRASIL. Código de Processo Civil. 13 de março de 2016. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em 22 de outubro

de 2018. 35

NERY JR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado e legislação

constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. P.1219 36

ALMEIDA, Diogo Assumpção Rezende de; PANTOJA, Fernanda Medina PELAJO, Samantha. Ops,ct.

p.3

Page 22: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

22

impondo ao juiz a busca por uma melhor solução para o litígio. De fato, o princípio da

imediação ou da oralidade inunda toda a sistemática procedimental dos juizados, desde

a postulação até a apreciação final do pedido, dando-lhe mais simplicidade e maior

celeridade, ao passo em que se prioriza a colheita da prova em uma única audiência,

sem a necessidade de reduzir-se a termo a prova oral, devendo a sentença, por sua vez,

referir no essencial, os informes trazidos nos depoimentos (art.36 da lei 9099/95)37

.

Por tal motivo a mediação se mostra de suma importância, seja de conciliação,

seja de transação. Para atingir seu objetivo, a lei exige a presença pessoal das partes,

tanto à audiência de conciliação quanto à de instrução, com o fim de facilitar a

mediação das partes envolvidas no conflito e possibilitar a concretização de um acordo.

É válido ressaltar que a Lei não exige que as partes sejam representadas por um

advogado, mas sim a assistência de advogado nas audiências.

É importante salientar que a tentativa de conciliação é o principal objetivo dos

juizados especiais, almejando alcançar a solução amigável no litígio. O Código de

Processo Civil traz diversos dispositivos relacionados com os chamados "meios

alternativos de resolução de disputas". Ao mesmo tempo que incentiva, o Código

institucionaliza os meios alternativos de resolução de disputa, disciplinando-os, em

verdade, não como meios "alternativos" de resolução de disputas, mas como meios

"integrados"38

. Ora, ao tratar da mediação e da conciliação, o CPC prevê sua realização

no processo judicial, sem, todavia, eliminar sua independência e flexibilidade. De fato,

deve-se rememorar que apesar das qualidades, a mediação não é a panaceia para

solucionar qualquer conflito e para resolver a crise do Judiciário39

.

37

“Art. 36. A prova oral não será reduzida a escrito, devendo a sentença referir, no essencial, os informes

trazidos nos depoimentos.”. BRASIL. 26 de setembro de 1995. Disponível em: <

https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11308056/artigo-36-da-lei-n-9099-de-26-de-setembro-de-1995>.

Acesso em 22 de outubro de 2018

38CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p.772

39 PAUMGARTTEN, Michele; PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A institucionalização da

mediação é a panaceia para a crise do acesso à justiça? In: COUTO, Monica Bonetti; MEIRELLES,

Delton Ricardo Soares; MATOS, Eneas de Oliveira (Org). Acesso à justiça. Florianópolis: Funjab, 2012,

p.370-396

Page 23: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

23

A Lei 9.099/1995, que trata dos Juizados Especiais Cíveis, estimula a

autocomposição, estabelecendo, em seu art. 2°, que o processo deve buscar, sempre que

possível, a conciliação ou a transação40

. Além disso, seu art. 3° dispõe que o Juizado

Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas

cíveis de menor complexidade, mencionando, no seu art. 7°, a presença do conciliador

como auxiliar do juiz41

. Seus arts. 2142

e 2243

tratam da conciliação.

Por sua vez, adverte Montenegro Filho que o não comparecimento do autor às

audiências de tentativa de conciliação ou mediação acarreta a extinção do processo sem

a resolução de mérito, no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis44

. Cabe deixar nítido, no

entanto, que a conciliação é princípio norteador dos juizados especiais, e não um

procedimento ou momento processual, uma vez que integra o próprio processo. Assim

sendo, o procedimento sumaríssimo dos juizados especiais não comporta a opção do

autor pela realização da conciliação ou da mediação, nos moldes estabelecidos no art.

40

“Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia

processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.”. BRASIL. 26 de

setembro de 1995. Disponível em: < https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11308056/artigo-36-da-lei-n-

9099-de-26-de-setembro-de-1995>. Acesso em 22 de outubro de 2018

41

“Art. 7º Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros,

preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os segundos, entre advogados com mais de cinco anos

de experiência.” BRASIL. Lei 9.099/1995. 26 de setembro de 1995. Disponível em:

https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11310080/artigo-7-da-lei-n-9099-de-26-de-setembro-de-1995.

Acesso em 22 de outubro de 2018.

42 “Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclarecerá as partes presentes sobre as vantagens da

conciliação, mostrando-lhes os riscos e as conseqüências do litígio, especialmente quanto ao disposto no

§ 3º do art. 3º desta Lei.” BRASIL. Lei 9.099/1995. 26 de setembro de 1995. Disponível em:<

https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11308740/artigo-21-da-lei-n-9099-de-26-de-setembro-de-1995>.

Acesso em 22 de outubro de 2018.

43 “Art. 22. A conciliação será conduzida pelo Juiz togado ou leigo ou por conciliador sob sua orientação.

Parágrafo único. Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada pelo Juiz togado,

mediante sentença com eficácia de título executivo.” BRASIL. Lei 9.099/1995. 26 de setembro de 1995.

Disponível em:< https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11308708/artigo-22-da-lei-n-9099-de-26-de-

setembro-de-1995>. Acesso em 22 de outubro de 2018.

44 MONTENEGRO FILHO, Misael. Novo código de processo civil: modificações substanciais. São

Paulo: Atlas, 2015, p.34

Page 24: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

24

319, VII45

do CPC, por ser um direito irrenunciável. Logo, não poderá o autor, na

petição inicial, ou réu, por petição, manifestar desinteresse na composição amigável do

litígio. O comparecimento das partes na audiência é obrigatório. O foco da

autocomposição na lei 9.099/95 é justamente a efetiva solução do conflito. Os

argumentos delineados favoravelmente às ferramentas extrajudiciais focam na qualidade

da resolução do conflito, pois as técnicas possibilitam maior envolvimento das partes no

desenvolvimento do processo de dissecamento do problema, proporcionando maior

efetividade à solução46

.

É válido, nesse aspecto, trazer à tona o que diz o jurista Leonardo da Cunha:

A mediação e a conciliação não devem ser encaradas como medidas destinadas a desafogar

o Poder Judiciário. Há disputas que são melhor e mais adequadamente resolvidas pela

mediação, enquanto há outras que se resolvem mais apropriadamente pela conciliação,

sendo certo que há outras ainda que só se resolvem mais adequadamente pelo julgamento

realizado por um juiz. A mediação e a conciliação não devem ser encaradas como

alternativas a quem não foi bafejado com as melhores condições de aguardar um desfecho

demorado de um processo judicial. Constituem, na realidade, medidas aptas e adequadas a

resolver conflitos em determinados casos. Há, efetivamente, casos que são mais bem

resolvidos por esses meios. A conciliação e a mediação constituem técnicas que se

destinam a viabilizar a autocomposição de disputas ou litígios. Nelas, um terceiro intervém,

contribuindo para que as partes componham por si mesmas a disputa que há entre elas47

.

A conciliação e a mediação devem ser organizadas com a finalidade não de

solucionar a crise de morosidade da Justiça, mas como um método para dar tratamento

mais adequado aos conflitos de interesses que ocorrem na sociedade48

. O CPC prevê,

45

“Art. 319. A petição inicial indicará: VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de

conciliação ou de mediação.”. BRASIL. 13 de março de 2015. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em 23 de outubro

de 2018.

46 ALMEIDA, Diogo Assumpção Rezende de; PANTOJA, Fernanda Medina PELAJO, Samantha. Ops,ct.

p.3 47

Op.,cit, p.773

48 WATANABE, Kazuo. Política judiciária nacional de tratamento adequado dos conflitos de

interesses: utilização dos meios alternativos de resolução de controvérsias. O processo em

perspectiva: jornadas brasileiras de direito processual. São Paulo: RT, 2013. p. 243.

Page 25: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

25

em seu art. 16649

, que “a conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da

independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade. da

oralidade, da informalidade e da decisão informada”.

Segundo Humberto Theodoro,

desde que a consciência jurídica proclamou a necessidade de mudar os rumos

da ciência processual para endereça-los à problemática do acesso à justiça

houve sempre quem advertisse sobre o risco de uma simplificação exagerada

do processo judicial produzir o estímulo excessivo à litigiosidade, o que não

corresponde ao anseio de convivência pacífica em sociedade. A proliferação

de demandas por questões de somenos representa, sem dúvida, um

complicador indesejado. Quando o recurso à justiça oficial representa algum

ônus para o litigante, as soluções conciliatórias e as acomodações voluntárias

de interesses opostos acontecem em grande número de situações, a bem da

paz social. Se, porém, a parte tem a seu alcance um tribunal de fácil acesso e

de custo praticamente nulo, muitas hipóteses de autocomposição serão

trocadas por litigiosidade em juízo. É preciso, por isso mesmo, assegurar o

acesso à justiça, mas não vulgariza-lo, a ponto de incentivar os espíritos

belicosos à prática do “demandismo” caprichoso e desnecessário50

.

A lei 9.099/95 admite o jus postulandi nos juizados especiais, permitindo que a

parte apresente sua reclamação e realize pessoalmente os atos processuais, podendo

postular nos autos eletrônicos ou não, sem a assistência de profissional habilitado. Essa

foi uma das formas que o legislador encontrou para que as pessoas das camadas menos

favorecidas tivessem amplo acesso à jurisdição, sem os entraves burocráticos do

processo. De fato, o acesso à justiça como direito fundamental é fenômeno de recente.

Segundo Capelletti e Garth

49

“Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da

imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da

decisão informada.” BRASIL. Código de Processo Civil. 13 de março de 2015. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em 22 de outubro

de 2018.

50 THEODORO Junior, Humberto. Celeridade e efetividade da prestação jurisdicional. Insuficiência da

reforma das leis processuais. Revista síntese de direito civil e processual civil, n.36, p.33, jul.-ago. 2005.

Page 26: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

26

de fato, o direito ao acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido

como sendo de importância capital entre os novos direitos sociais e

individuais, uma vez que a titularidade de direitos é destituída de sentido, na

ausência de mecanismos para sua efetiva reivindicação. O acesso à justiça

pode, portanto, ser encarado como requisito fundamental – o mais básico dos

direitos humanos – de um sistema jurídico moderno e igualitário que

pretenda garantir, e não apenas proclamar o direito de todos51

.

Ainda,

unidos pelo conflito, os litigantes esperam por um terceiro que o solucione.

Espera-se pelo judiciário para que diga quem tem mais direitos, mais razão

ou quem é o vencedor da contenda. Trata-se de uma transferência de uma

prerrogativa que, ao criar muros normativos, engessa a solução da lide em

prol da segurança, ignorando que a reinvenção cotidiana e a abertura de

novos caminhos são inerentes a um tratamento democrático52

.

E diz Álvares e Cunha que

o objetivo é fazer com que os próprios envolvidos entrem em

acordo em relação aos seus litígios, reconhecendo a parte de

cada um e evitando brigas desnecessárias [...] a ideia é que a

justiça seja efetivada não por uma decisão de terceiro não

participante no assunto, mas pelas próprias partes53

.

Deve ficar claro, porém, que a intenção não é a defesa do fim da jurisdição como

forma de resolver controvérsias, tampouco imaginar que demais mecanismos serão a

solução definitiva para a crise do Estado-juiz, mas sim conscientizar o poder judiciário

de que o cumprimento de seu papel constitucional garantidor de uma atividade

51

CAPELETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto

Alegre: Fabris, 1988, p.11-15

52 SPENGLER, Fabiana Marion; SPENGLER NETO, Theobaldo. Mediação enquanto política pública: a

teoria, a prática e o projeto de lei. Santa Cruz do Sul, Edunisc, 2010, p.23. Disponível em: <

http://ead.tjrs.jus.br/navi_tjrs/agenda/pdf.php?%20COD_ARQUIVO=4309>. Acesso em 22 de outubro

de 2018.

53 Álvares, Diovani Vandrei; CUNHA, Juliana Fre. A democratização do acesso à justiça: uma

perspectiva a partir dos estudos realizados pelo Anexo do Juizado Especial Cível da Unestp.Franca:

UNESP FCHS, 2011, p.159-160

Page 27: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

27

jurisdicional efetiva não consiste necessariamente na intervenção em todo e qualquer

conflito54

, mas intervir quando necessário, como ultima ratio. A ideia, esposada por

Mancuso, é dessacralizar o acesso à justiça, para realisticamente reduzí-lo a uma

cláusula de reserva, a uma oferta residual operante num renovado ambiente judiciário55

.

Kazuo Watanabe chega até mesmo a afirmar ser um direito do consumidor uma justiça

inserida e comprometida com a realidade social do seu país, que por sua vez é exercida

por juízes igualmente inseridos e comprometidos com essa realidade social56

.

O novo CPC, apostando nos métodos alternativos de resolução de conflitos,

erigiu a conciliação como mecanismo eficaz de composição de litígios,

prevendo a realização de audiência obrigatória de conciliação e mediação

antes da apresentação de contestação pelo réu. Desse modo, a audiência não

será realizada somente se ambas as partes manifestarem, expressamente,

desinteresse na composição consensual ou se não for admitida

autocomposição (art. 334, § 4º)57

.

Objetivando principalmente conferir maior celeridade processual, a Lei 9.099/95

proíbe qualquer forma de intervenção de terceiro (chamamento ao processo,

denunciação da lide etc.), inclusive a assistência, admitindo apenas o litisconsórcio, no

polo ativo ou passivo da demanda. Nesse particular, cumpre observar que a nomeação à

autoria não é mais prevista no novo CPC de 2015, como modalidade de intervenção de

terceiro, submetendo-se à sistemática estabelecida pelos arts. 338 e 339. Nesse sentido,

afirma-se que a sistemática implantada pela norma em comento se aplica até mesmo aos

procedimentos especiais e inclusive nos juizados especiais, justamente por tratar-se de

técnica saneadora que visa corrigir vícios para tutelar de forma efetiva o direito

material58

.

54

JÚPITER, Herme; OST, François. Tres modelos de Juez. Doxa, n.14, p.169-194, 1993. Disponível

em:< http://www.cervantesvirtual.com>. Acesso em: 20 de setembro de 2018.

55 MANCUSO, Rodolfo de Carmargo. A resolução dos conflitos e a função judicial no contemporâneo

Estado de Direito. São Paulo: RT, 2009, p.58

56 WATANABE, Kazuo. Acesso à justiça e sociedade moderna. In: Grinnover, Ada Pellegrini (Coord.)

et. al. Participação e processo. São Paulo: RT, 1988, p.134.

57 XAVIER, Cláudio Antônio de Carvalho. Revista CEJ, Brasília, Ano XX, n. 70, p. 14, set./dez. 2016

58 AURELLI, Arlete Inês. Comentários aos arts. 335 ao 342. In: STRECK, Lenio Luiz; CUNHA,

Leonardo Carneiro da; NUNES, Dierle; FREIRE, Alexandre (Org.). Comentários ao código de processo

civil. São Paulo: Saraiva, 2016, p.464

Page 28: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

28

Se o processo é o instrumento pelo qual o Estado vai se valer para

restabelecer a situação anterior ao conflito e, por essa razão, deve ser

interpretado à luz dos preceitos e anseios da Constituição e do próprio Estado

no qual se insere, também o juiz enquanto representante da função

jurisdicional – uma das funções do próprio Estado Democrático de Direito –

e condutor da marcha processual deverá ter o mesmo tratamento, ou seja, o

juiz deve buscar o interesse primário, o interesse maior que é a correta e

exata aplicação da lei no caso concreto59

.

Lembrando que o juiz pode determinar, a qualquer fase do processo, a realização

de audiência de conciliação e mediação.

A missão do processo é de servir de instrumento de realização do direito

objetivo, ao passo que a sua missão social é a de contribuir para a pacificação social e

composição das lides60

. Note-se que o processo é eleito como instrumento de

transformação social. O conceito teórico de acesso à justiça evolui de uma perspectiva

privatista, no qual o direito de ação é identificado como acessório - decorrente do

próprio direito subjetivo material-, para outra, publicista, no sentido de um serviço

público prestado pelo Estado61

.

59

LENZA, Pedro. Teoria geral da ação civil pública. 3ª edição. São Paulo: Revista dos tribunais, 2008,

p.304

60 BEZERRA, Paulo Cesar Santos. Acesso à justiça: um problema ético social no plano da realização do

direito. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p.136

61 REBOUÇAS, Gabriela Maia (2010) apud NUNES, Dierle; TEIXEIRA, Ludmina. Acesso à justiça

democrático. Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. p. 29

Page 29: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

29

4. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DAS NORMAS PROCESSUAIS DO

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL AOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

Um aspecto de extrema importância e que ainda não está plenamente pacificado

na jurisprudência e, principalmente, na doutrina, diz respeito à aplicação subsidiária das

normas processuais estatuídas no Código de Processo Civil. De maneira geral, a

doutrina vem admitindo a aplicação supletiva do macrossistema do CPC fora das

hipóteses e situações elencadas na própria Lei (arts. 30, 51, caput, 52 e 53) sempre que

houver omissão legislativa. A respeito deste tema, a melhor orientação doutrinária

posiciona-se no sentido de que a subsidiariedade do CPC só pode ser aplicada naquilo

que for compatível com a sistemática e os princípios informadores dos juizados

especiais cíveis. Corroborando esse entendimento, o Enunciado 161 do Fonaje afirma

que: “considerado o princípio da especialidade, o CPC/2015 somente terá aplicação ao

Sistema dos Juizados Especiais nos casos de expressa e específica remissão ou na

hipótese de compatibilidade com os critérios previstos no art. 2º da Lei 9.099/95”62

.

Excetuando-se os casos excepcionais previstos nas própria lei, o Código de

Processo Civil, em regra, é inaplicável ao procedimento especial dos juizados,

porquanto a Lei 9.099/95 contém regras próprias, admitindo-se, porém, a aplicação

supletiva nos casos omissos. Isto porque nem todas as situações estão previstas na lei,

em função da dinâmica própria do processo. Não quer dizer que se deva aplicar,

indistintamente, a todos os casos o regime do CPC, sobretudo quando houver

disposições específicas na Lei 9.099/95. Do contrário, poderia se gerar dúvidas ou

interpretações equívocas63

.

Há autores, como Figueira Junior, cujo entendimento diz que a aplicação

supletiva do CPC tem lugar apenas quando verificar-se lacuna ou obscuridade na Lei

dos Juizados e ainda assim deve-se buscar primeiramente no processo tradicional a

62

Corroborando esse entendimento, dispõe o Enunciado 161 do Fonaje: Considerado o princípio da

especialidade, o CPC/2015 somente terá aplicação ao Sistema dos Juizados Especiais nos casos de

expressa e específica remissão ou na hipótese de compatibilidade com os critérios previstos no art. 2º da

Lei 9.099/95. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/corregedoriacnj/redescobrindo-os-juizados-

especiais/enunciados-fonaje/enunciados-civeis>. Acesso em 23 de outubro de 2018.

63 XAVIER, Cláudio Antônio de Carvalho. Revista CEJ, Brasília, Ano XX, n. 70, p. 16, set./dez. 2016

Page 30: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

30

solução ao problema e somente se persistir a lacuna normativa deve o juiz se pautar na

analogia, nos costumes e nos princípios gerais de direito (art. 4º LICC)6465

. Por outro

lado, posicionamento de Montenegro Filho cabe examinar a possibilidade de aplicação

subsidiária das disposições do CPC às ações que tramitam pelo procedimento

sumaríssimo, não em face de omissão legislativa, mas em vista da aplicação dos

princípios que habitam o art. 2º da Lei 9.099/95, bem assim o que consta do inc.

LXXVIII do art. 5º da CF (princípio da razoável duração do processo)6667

.

Seguindo tal posicionamento, conclui-se que a Lei 9.099/95 permite a incidência

das novas regras processuais na dinâmica dos juizados especiais cíveis. Mesmo assim,

ainda que haja lacuna ou omissão na lei especializada, deve-se interpretar a norma à luz

dos princípios reitores do Sistema dos Juizados Especiais Cíveis, sem desvirtuar seu

conteúdo, não tendo incidência as normas gerais do CPC, quando atentar contra os seus

princípios axiológicos.

Parece-nos, todavia, que a transposição ou aplicação da normativa processual

civil deve ser realizada com extrema cautela e somente quando guardar

coerência e forem compatíveis com os princípios vetores dos juizados

especiais, pois, do contrário, em vez de imprimir-se celeridade ao processo,

corre-se o risco de criarem-se maiores entraves ao regular andamento

processual68

.

A partir daí já foi afirmado, à vista do novo paradigma trazido pelo CPC/15, que

não há espaço para a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil aos Juizados

Especiais, porque os Juizados Especiais, por determinação idealizada do Legislador,

64

Idem, ibidim

65 “Art. 4

o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os

princípios gerais de direito.” BRASIL. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. 4 de setembro

de 1942, Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657.htm>. Acesso em 23

de outubro de 2018.

66 MONTENEGRO FILHO, op.cit, p.442

67 “LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo

e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.” BRASIL. Constituição Federal. 5 de outubro de

1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.

23 de outubro de 2018.

68 XAVIER, Cláudio Antônio de Carvalho. Ops.,cit

Page 31: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

31

instituiu soluções próprias para as hipóteses não abarcadas expressamente pela Lei

9.099/9569

. Ora, em que pesem tais considerações, vários institutos da Lei Adjetiva

Processual Civil, criados com as diversas e sucessivas alterações e modificações ao

CPC revogado, foram transpostos para o microssistema dos juizados, objetivando

precipuamente o aprimoramento dos instrumentos já existentes, em prol da otimização

do processo judicial70

.

Os Juizados Especiais possuem características e peculiaridades próprias. É

um sistema autônomo e não deve ser subsidiado ao processo civil tradicional,

uma vez que cada sistema possui sua própria lógica, devendo o juiz atuante

perante os Juizados Especiais, ao lado dos critérios de oralidade,

simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, guiar o

andamento do processo71

.

Segundo Joel Dias Figueira Júnior, essa nova forma de prestar jurisdição,

significou um avanço legislativo de origem eminentemente constitucional, pois esse

microssistema vem atender principalmente aos anseios da população menos favorecida

no que concerne, principalmente, a uma justiça rápida, eficiente, menos burocrática, de

mais fácil acesso, celeridade e segurança; além de acabar por proporcionar um

“desafogamento” da justiça comum72

.

É sabido que o juiz deve atuar de maneira imparcial e com neutralidade,

pautando-se pela busca da verdade real, o que não significa dizer que não possa

determinar de ofício a realização de provas indispensáveis ao deslinde da causa.

Diversos doutrinadores partilham da ideia de que a Lei 9.099/95, no que concerne à

produção probatória, apresenta um sistema mais aberto, pois confere ao magistrado

mais discricionariedade e ampla liberdade na atividade probatória, possibilitando a

perquirição da verdade material por todos os meios de prova moralmente legítimos,

69 ANDRIGHI, Fátima Nancy. O novo CPC e sua aplicação nos juizados especiais. In: LINHARES, Erick

(Coord.). Juizados especiais cíveis e o novo CPC. Curitiba: Juruá, 2015, p.15

70 XAVIER, Cláudio Antônio de Carvalho. Ops.,cit

71 ANDRIGHI, Fátima Nancy. Ops.,cit, p.18

72 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Manual dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. São

Paulo:RT, 2006. p. 23.

Page 32: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

32

ainda que não especificados em lei (art. 3273

). Pode o juiz determinar a realização das

provas que serão produzidas oralmente, buscando o esclarecimento dos fatos probandos

durante a instrução probatória e sem a necessidade de maiores formalidades, podendo

limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias (art. 3374

).

Apesar do permissivo legal, a Lei 9.099/95 delimita os meios probatórios, visto

que não admite a prova de maior complexidade. A parte, nesse caso, deve arcar com o

ônus de, não havendo demonstração do prejuízo experimentado pela vítima, ter a

pretensão meritória indeferida. Aqui há um novo paradigma jurídico, cuja ênfase é posta

no papel proativo do juiz na condução do processo, conferindo-lhe ampla liberdade na

verificação dos fatos relevantes para a solução do litígio.

Nesse sentido, dispõe o art. 575

º da Lei que o juiz dirigirá o processo com

liberdade para determinar as provas a serem produzidas, para apreciá-las e para dar

especial valor às regras de experiência comum ou técnica, buscando sempre a efetivação

do direito material. Poderá ainda o juiz, ao tomar decisões, aplicar as regras de

experiência comum ou técnica, a fim de buscar solução do litígio de uma forma mais

justa e efetiva, orientado exclusivamente pelos critérios definidos na lei.

De fato, as regras de experiência comum, segundo Rodrigues,

73

“Art. 32. Todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda que não especificados em lei, são

hábeis para provar a veracidade dos fatos alegados pelas partes.” BRASIL. Lei 9.099. 26 de setembro de

1995. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11308235/artigo-32-da-lei-n-9099-de-26-de-

setembro-de-1995>. Acesso em 23 de outubro de 2018.

74 “Art. 33. Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, ainda que não

requeridas previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou

protelatórias.” BRASIL. Lei 9.099. 26 de setembro de 1995. Disponível em: <

https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11308200/artigo-33-da-lei-n-9099-de-26-de-setembro-de-1995>.

Acesso em 23 de outubro de 2018.

75 “Art. 5º O Juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar as provas a serem produzidas, para

apreciá-las e para dar especial valor às regras de experiência comum ou técnica.”. BRASIIL. Lei 9099. 26

de setembro de 1995. Disponível em: < https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11310142/artigo-5-da-lei-n-

9099-de-26-de-setembro-de-1995>. Acesso em 24 de outubro de 2018.

Page 33: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

33

são aquelas que se desenvolvem e se adquirem pela aglutinação do senso comum, da

observação daquilo que ordinariamente acontece. [...] não são objeto de prova, mas fazem

parte da persuasão racional do juiz na formação do seu livre convencimento motivado76

.

Sob outro prisma, o juiz, na condição de destinatário das provas, possui

liberdade de interpretação para identificar o sentido e o alcance da norma jurídica

devendo valer-se das técnicas de hermenêutica jurídica para chegar a um resultado

comum, quando a resposta não puder ser encontrada na própria norma77

.

É importante, ainda, destacar que

o microssistema dos juizados admite ainda o julgamento por critérios de

justiça e equanimidade, consoante preconiza o art. 6º, podendo o juiz adotar,

em cada caso, a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos

fins sociais da lei e às exigências do bem comum. Isso significa que o juiz

poderá buscar a solução mais justa e adequada às peculiaridades do caso

concreto. Nesse particular, a Lei 9.099/95 afasta-se dos parâmetros do

processo civil, permitindo que o juiz do processo possa adotar a decisão que

reputar mais justa e equânime, realizando a interpretação teleológica com

mais liberdade, sem estar preso a critérios de legalidade estrita, a exemplo do

que ocorre nos procedimentos de jurisdição voluntária, conforme o disposto

no art. 723, parágrafo único, do novo CPC78

.

Atribui-se ao juiz a possibilidade de, fundamentadamente, adotar a decisão que

reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e as exigências do bem

comum. O novo CPC incorpora esse princípio, ainda que timidamente, no seu art. 8º:

Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às

exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da

pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a

legalidade, a publicidade e a eficiência79

.

76

RODRIGUES, Marcelo Abelha. Elementos de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2003. v. 1., p.329

77 XAVIER, Cláudio Antônio de Carvalho. Ops.cit, p.17

78 XAVIER, Cláudio Antônio de Carvalho. Revista CEJ, Brasília, Ano XX, n. 70, p. 7-22, set./dez. 2016

79 “Art. 8

o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem

comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a

razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.” BRASIL. Código de Processo Civil. 16 de

Page 34: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

34

5. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NOS

JUIZADOS ESPECIAIS

Pois bem. O CPC/15 promoveu alterações pontuais na Lei 9.099/95, cabendo

destacar, dentre elas, as seguintes: a) aplicação do incidente de resolução de demandas

repetitivas aos processos em tramitação nos juizados especiais e respectivas turmas

recursais (art. 985, I); b) modificação redacional de artigos que tratam dos embargos

declaratórios; c) preservação da competência dos juizados especiais cíveis para as

causas referidas no art. 275, II, do CPC/73; d) previsão expressa acerca da possibilidade

de aplicação do incidente de desconsideração da personalidade jurídica.

A respeito da desconsideração da personalidade jurídica nos juizados especiais

cíveis trata-se de instituto novo na sistemática processual, em que pese seu objeto – a

desconsideração do ente jurídico – ser conhecido pelos tribunais nacionais. De fato, para

Tereza Alvim trata-se de um equívoco, talvez decorrente do fato de o direito positivo

brasileiro já ter previsto, em diversos textos legislativos, as hipóteses em que a

autonomia e independência da personalidade devem ser desconsiderados.

O incidente de desconsideração da personalidade jurídica é procedimento

próprio, trazido ao ordenamento jurídico pátrio pelo novo Código de Processo Civil,

estando disciplinado nos arts. 133 a 137 do mencionado diploma legal, conforme bem

salientado por Ribeiro80

.

Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será

instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber

intervir no processo.

§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os

pressupostos previstos em lei.

março de 2015. Disponível: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-

2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em 24 de outubro de 2018.

80 RIBEIRO, Sérgio Luiz de Almeida. Hipóteses de cabimento do incidente de desconsideração da

personalidade jurídica nos juizados especiais cíveis. In: REDONDO, Bruno Garcia et al. (Coord.).

Coleção Repercussões do novo CPC. Juizados Especiais. Salvador: JusPodivm, v. 7, cap. 8, p. 133, 2015.

Page 35: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

35

§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração

inversa da personalidade jurídica.

Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do

processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução

fundada em título executivo extrajudicial.

§ 1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao

distribuidor para as anotações devidas.

§ 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da

personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que

será citado o sócio ou a pessoa jurídica.

§ 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do

§ 2º.

§ 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos

legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica.

Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado

para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze)

dias.

Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido

por decisão interlocutória.

Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo

interno.

Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração

de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao

requerente.

Esse instituto é amplamente aplicado na Lei 9.099/95, notavelmente nas

relações consumeristas, que constituem a maior parcela da competência dessas

Page 36: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

36

unidades judiciais. Os princípios norteadores desta Lei, quais sejam a oralidade,

simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade (art. 2º) não são

feridos de maneira alguma com a instauração do incidente de desconsideração da

personalidade jurídica, mesmo a Lei dos juizados sendo expressa em dizer que é

descabida a intervenção de terceiro, salvo o litisconsórcio.

Por sua vez, afirma Leonardo Carneiro da Cunha que a desconsideração da

personalidade jurídica depende da presença dos pressupostos previstos na legislação de

direito material. Assim, somente poderá haver desconsideração se reunidos os

pressupostos previstos no art. 5081

do Código Civil, no art. 13582

do Código Tributário

Nacional, no art. 2883

do Código de Defesa do Consumidor ou em qualquer outro

81

“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela

confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe

couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam

estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.” BRASIL. Código de

Direito Civil. 10 de janeiro de 2002. Disponível em: < http://www.avecstore.com.br/kimaera-dois-

mundos>. Acesso em 26 de outubro de 2018.

82 “Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias

resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos:

I - as pessoas referidas no artigo anterior;

II - os mandatários, prepostos e empregados;

III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.” BRASIL. Código

Tributário Nacional. 25 de outubro de 1966. Disponível em: <

https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10573354/artigo-135-da-lei-n-5172-de-25-de-outubro-de-1966>.

Acesso em 26 de outubro de 2018.

83 “Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do

consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos

estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de

insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

§ 1° (Vetado).

§ 2º As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são subsidiariamente

responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.

§ 3º As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste

código.

§ 4º As sociedades coligadas só responderão por culpa.

§ 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma

forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.”. BRASIL. Código de Defesa

do Consumidor. 11 de setembro de 1990. Disponível em: <

https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603962/artigo-28-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990>.

Acesso em 26 de outubro de 2018.

Page 37: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

37

dispositivo que assim preveja. O CPC não prevê pressuposto para desconsideração;

disciplina apenas o seu procedimento.

Logo, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica pode ser

instaurado nos processos dos Juizados Especiais. Tal incidente é uma intervenção de

terceiros.

A primeira questão que se põe é saber se com a possibilidade de instauração

do incidente haveria agressão aos critérios enumerados no art.2º da Lei

9.099/95, quais sejam oralidade, simplicidade, informalidade, economia

processual e celeridade. É certo que, em função de tais valores, não se

verifica, no âmbito dos juizados especiais, o apego demasiado à forma, sob

pena de se comprometer o acesso à justiça. Porém, a despeito de estarmos

diante de um procedimento de menor complexidade, não é possível concluir

pela desatenção do regramento relativo ao procedimento constante do CPC,

ainda que se admita existir certo conflito entre esse procedimento e os

critérios norteadores nos juizados especiais. Assim, se a parte deduzir pedido

de instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, ela

não está isenta da demonstração dos pressupostos legais, ainda que a Lei

9099 lhe permita formular um pedido simples e em linguagem acessível84

.

Embora o art. 10 da Lei 9.099/1995 proíba a intervenção de terceiros nos

Juizados, o incidente pode ser lá instaurado, processado e julgado, em razão do disposto

no art, 1.062 do CPC, segundo o qual "o incidente de desconsideração da personalidade

jurídica aplica-se ao processo de competência dos juizados especiais"85

.

Entretanto, historicamente a doutrina da desconsideração da personalidade

jurídica é adotada nos juizados especiais. E, o que é de assustar, normalmente

sem qualquer incidente formal prévio, nem prévia citação/intimação da

pessoa que deve sofrer a constrição, normalmente quando o processo chega à

fase da execução, bastando uma simples petição para requerê-la86

.

Ainda, afirma Ribeiro:

84

MACIEL, Stella Economides. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica e sua aplicação

no âmbito dos juizados especiais cíveis. Há incompatibilidade entre as disposições legais do CPC e da lei

n. 9.099/95?. In: VÁRIOS AUTORES. Novo código de processo civil: impactos na legislação

extravagante e interdisciplinar, vol.1. São Paulo: Saraiva, 2016. Arquivo Kindle.

85 CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p.778

86 MORAES, Heleno Oliveira. Os impactos do novo CPC nos juizados especiais cíveis na realidade de

São Luís – MA. Revista da ESMAM, São Luís, v.11, n.11, p. 70, jan/jun. 2017

Page 38: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

38

No âmbito do sistema dos juizados especiais, a desconsideração da

personalidade jurídica nos processos de conhecimento somente é possível se

requerida na petição inicial, pois, naquele sistema não se admite quaisquer

hipóteses de intervenção de terceiro, tampouco, incidentes que suspendam o

trâmite dos processos de sua competência. Já nas execuções de título

extrajudicial, a desconsideração pode ser requerida incidentalmente87

.

Por sua vez, afirma Steinberg que

A instauração de incidente apartado, com autonomia procedimental e/ou

ritual, não se aplica aos juizados especiais. Essas novas regras do incidente de

desconsideração devem ser aplicadas nos próprios autos já existentes. Como

acontece com os embargos à execução, que se veiculam por simples petição,

nos próprios autos88

.

Nesse aspecto, deve-se deixar claro que não cabe intervenção de terceiro nos

juizados, com exceção do incidente de desconsideração da personalidade jurídica.

Assim, por meio do disposto no já mencionado art. 1.062 do CPC89

, referido incidente

também pode ser aplicado nos JECs, o que acaba por gerar razoável polêmica. Tal

controvérsia reside no fato de que, no CPC, mencionado incidente tem natureza jurídica

de intervenção de terceiros, o que, por sua vez, não é permitido nos juizados, por força

do art. 10 da Lei nº 9.099/1995.

Aplicam-se, portanto, ao procedimento dos Juizados Especiais as regras do

CPC relativas ao incidente de desconsideração da personalidade jurídica.

Desse modo, não deve a desconsideração ser determinada de ofício pelo juiz.

É preciso que haja requerimento da parte ou do Ministério Público. No

âmbito dos Juizados, não é comum haver intervenção do Ministério Público.

Mas, se houver, este poderá requerer a instauração do incidente de

desconsideração da personalidade jurídica. A previsão do incidente tem por

87

RIBEIRO, Sérgio Luiz de Almeida. Hipóteses de cabimento de desconsideração da personalidade

jurídica nos juizados especiais cíveis. In: DIDIER JR, Freddie (Coord. Geral). Coleção Repercussões do

novo CPC. Vol. 7. Juizados Especiais. Salvador: Juspodium, 2015, p.133-135

88 MORAES, Heleno Oliveira. Ops., cit. p.70-71

89 “Art. 1.062. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de

competência dos juizados especiais.” BRASIL. Código de Processo Civil. 16 de março de 2015.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso

em 26 de outubro de 2018.

Page 39: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

39

finalidade a observância do contraditório, permitindo que o terceiro, antes de

passar a integrar o processo ou a responder pela dívida reconhecida na

decisão executada, possa exercer seu direito de influência e defender-se

perante o Julgador90

.

Portanto, considerando os princípios que regem os juizados especiais cíveis, em

especial o da simplicidade, e levando em conta que o instituto da desconsideração da

personalidade jurídica já vem sendo adotado nos juizados há muito tempo; e levando-se

em conta também a proibição contida no art. 1091

da Lei 9.099/1995, concluímos que a

desconsideração da personalidade jurídica deve continuar a ser adotada nos juizados

especiais cíveis, mormente quando se tratar de ações de relações de consumo. O

incidente previsto no novo Código de Processo Civil não deve ser adotado nos juizados

por não se coadunar com os princípios e com a regra específica de intervenção de

terceiros nos juizados especiais92

.

A regra atual encontra-se em consonância com o entendimento assente nos

juizados, verbalizada no Enunciado 60: É cabível a aplicação da desconsideração da

personalidade jurídica, inclusive na fase de execução93

.

90

CUNHA, Leonardo Carneiro da. Ops.cit, p.778-779

91 “Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência.

Admitir-se-á o litisconsórcio.‟ BRASIL. Código de Processo Civil. 16 de março de 2015. Disponível em:

< https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11309655/artigo-10-da-lei-n-9099-de-26-de-setembro-de-1995>.

Acesso em 26 de outubro de 2018.

92 MORAES, Heleno Oliveira. Ops., cit. p.71

93 “ENUNCIADO 60 – É cabível a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, inclusive na

fase de execução. (nova redação – XIII Encontro – Campo Grande/MS)”. Disponível em: <

http://www.cnj.jus.br/corregedoriacnj/redescobrindo-os-juizados-especiais/enunciados-

fonaje/enunciados-civeis>. Acesso em 26 de outubro de 2018.

Page 40: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

40

6. PRAZOS PROCESSUAIS NOS JUIZADOS ESPECIAIS

Partindo das premissas lançadas acima, sobretudo em relação a tese da aplicação

automática e analógica ou não das disposições do novo Código de Processo Civil ao

microssistema dos Juizados Especiais, surgem então discussões sobre os pontos de

divergência em relação a tais instrumentos. É possível visualizar diversos casos em que,

por conta da possibilidade de aplicação analógica das disposições do novo Código de

Processo Civil, tenha se despertado a discussão a respeito do afronte ao princípio da

celeridade processual previsto pela lei dos Juizados Especiais em relação a tal aplicação.

Consagrado na Constituição Federal como um dos direitos fundamentais,

instituído pela Emenda Constitucional n. 45 de 2004, a celeridade processual (artigo 5º

LXXVIII), apresenta-se como um princípio fundamental ou geral. Esse princípio, não

obstante, também observado em outras leis do nosso ordenamento, foi consagrado de

forma efetiva pela lei dos Juizados Especiais Cíveis (Lei n. 9099/95)94

. Como já

mencionado, a referida lei faz referência expressa a esse princípio em seu artigo 2º,

juntamente com os princípios da oralidade, simplicidade, informalidade e economia

processual.

Existe grande discussão sobre a aplicação e o real risco de se aplicar a regra

contida no artigo acima mencionado aos Juizados Especiais Cíveis, sob pena de que este

microssistema perca a sua essência e se desvirtue ao fim pelo qual foi criado, sobretudo,

em relação aos princípios que o regem, em especial, a simplicidade, celeridade e

eficiência.

E, a respeito dos prazos processuais nos juizados especiais, na contagem do

prazo em dias computam-se apenas os dias úteis (CPC, art. 219). Tal regra, que se

aplica apenas aos prazos processuais incide no procedimentos dos Juizados Especiais.

Nesse sentido, o enunciado 415 do Fórum Permanente de Processualistas Civis:

"Os prazos processuais no sistema dos Juizados Especiais são contados em dias úteis".

De igual modo, o enunciado 416 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "A

contagem do prazo processual em dias úteis prevista no art 219 aplica-se aos Juizados

Especiais Cíveis, Federais e da Fazenda Pública”95

.

94

BASTOS, Celso Ribeiro; TAVARES, André Ramos. As Tendências do Direito Público no limiar de

um novo milênio. São Paulo: Saraiva 2000. p. 97-98.

95CUNHA, Leonardo Carneiro da. Ops.cit

Page 41: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

41

Nesse aspecto, Daniel Amorim Assumpção Neves debate a crítica de que a

referida previsão legal ofende o princípio da celeridade processual destoa muito da

realidade forense e que a culpa da demora no processo se dá em razão do tempo de

espera entre os atos processuais, não havendo qualquer empecilho para que a contagem

ocorra em dias úteis96

.

Por sua vez,

A respeito do tema a ministra Nancy Andrighi já se posicionou dizendo que a

adoção da nova regra de contagem dos prazos prevista pelo novo CPC

caminha em sentido contrário a celeridade e economia processual,

corroborando com sua corrente de não aplicação subsidiária do Código de

Processo Civil aos Juizados Especiais Cíveis.

Ainda, anteriormente a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil, o

Fórum Nacional dos Juizados Especiais (Fonaje) emitiu nota técnica externando a

inaplicabilidade do artigo 219 do CPC/2015 aos Juizados Especiais, nos seguintes

termos:

O legislador de 1995, ao conceber os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e

discipliná-los por via da Lei 9.099, alinhou, em seu artigo 2º, os critérios

informadores sob os quais deverá se orientar o processo neste especial ramo

de jurisdição, quais sejam o da oralidade, simplicidade, informalidade,

economia processual e, destacadamente ao que interessa à presente Nota

Técnica, o da celeridade. Desde sua entrada em vigor, a Lei 9.099 veio

convivendo com o CPC de 1.973 sem que o procedimento nela estatuído

sofresse influências da lei processual comum codificada, posto sustentar-se

esta em princípios absolutamente inconciliáveis com os aludidos critérios

informadores. Estabeleceu-se, assim, a convicção de que as disposições

codificadas não se aplicam ao rito dos processos que tramitem em sede de

Juizados Especiais Cíveis em sua fase de conhecimento, mas tão só - e no

que couber - à fase de execução (cumprimento) de sentença, assim como,

subsidiariamente, à execução de título extrajudicial.

Consabidamente, não há prazos legais previstos pela Lei 9.099 para a fase de

conhecimento, de modo que todos os prazos são judiciais. A única exceção é

relativa ao Recurso Inominado, para o qual prevê o prazo de 10 dias. E todos

esses prazos sempre foram contados em dias corridos, mesmo porque, até

96

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil Comentado. 1 ed. Salvador:

JusPodivm, 2016, p. 348.

Page 42: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

42

2015, não se conhecia no ordenamento jurídico brasileiro nenhuma outra lei

adjetiva que contemplasse algum método diverso de cômputo. Com o

advento do Novo Código de Processo Civil (CPC de 2015), por força do

artigo 219, a justiça cível dita comum passa a conviver com a contagem de

prazos legais e judiciais em dias úteis, em inexplicável distanciamento e

indisfarçável subversão ao princípio constitucional da razoável duração do

processo. Todavia, forçoso é concluir que a contagem ali prevista não se

aplica ao rito dos Juizados Especiais, primeiramente pela incompatibilidade

com o critério informador da celeridade, convindo ter em mente que a Lei

9.099 conserva íntegro o seu caráter de lei especial frente ao Novo CPC,

desimportando, por óbvio, a superveniência deste em relação àquela97

.

Tal nota técnica tomou como base que a contagem dos prazos processuais em

dias úteis atentaria contra os princípios norteadores do microssistema dos Juizados

Especiais, destacando, entre eles, o princípio da celeridade. Ressaltou-se, com exceção

do prazo para interposição de recurso inominado, a inexistência de prazos legais

previstos pela Lei n.º 9.099/95, tão somente a existência de prazos judiciais; pelo que

sua aplicação sempre se deu em dias corridos até mesmo pelo fato de não existir até

então qualquer disposição no ordenamento jurídico brasileiro sobre a possibilidade de se

adotar o cômputo em dias úteis98

.

Assim, ao que parece, melhor seria a continuidade da contagem dos prazos

em dias corridos, a fim de garantir a especialidade da norma dos Juizados

Especiais sobre o novo Código de Processo Civil, bem como a celeridade do

rito desenvolvido neste microssistema. Considerar a contagem de prazos tão

somente em dias úteis implicaria em postergar todos os atos processuais que,

teriam início com um ato praticado pelo advogado, mas refletiram nos atos

subsequentes que, por sua vez, implicariam numa maior morosidade do

processo. É de se ressaltar também que da somatória dos atos processuais

com prazos contados em dias úteis pode se ter um aumento razoável no

97

FORUM NACIONAL DE JUIZADOS ESPECIAIS – FONAJE - NOTA TÉCNICA N. 01/2016, Ref.:

Artigo 219 do Código de Processo Civil de 2015, que trata da contagem de prazos processuais em dias

úteis. Disponível em: < www.fonaje.org.br>. Acesso em: 20 de outubro de 2018.

98 BERTOL, Tairine Bertila. A mitigação do princípio da celeridade processual no microssistema dos

juizados especiais à luz da aplicação do novo código de processo civil. Disponível em:

http://www.emap.com.br/conteudo/biblioteca/monografias/Tairine%20Bertila%20Bertol.pdf. Acesso em:

22 de outubro de 2018.

Page 43: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

43

tempo de duração do processo o que esta intimamente ligada a celeridade

informada pelo artigo 2º da Lei n.º 9.099/9599

.

Seguindo outro posicionamento, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal,

através da Turma de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais, decidiu,

em 28.03.2016, que os prazos em dias úteis se aplicam aos Juizados Especiais:

Súmula 4: Nos Juizados Especiais Cíveis e de Fazenda Pública, na contagem

de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-seão somente os

dias úteis, nos termos do art. 219, do Código de Processo Civil (Lei nº

13.105/15)100

.

Ainda, os Juizados Especiais Federais pacificaram entendimento, através da

Resolução CJF-RES n.º 2016/000393 que os prazos também se darão em dias úteis101

.

No 39º Fórum Nacional dos Juizados Especiais restou consolidado pelos

magistrados presentes que todos os prazos nos Juizados Especiais Cíveis serão contados

de forma contínua: “ENUNCIADO 165 - Nos Juizados Especiais Cíveis, todos os

prazos serão contados de forma contínua (XXXIX Encontro - Maceió-AL).102

Tais entendimentos demonstram o ponto de vista dos magistrados e revelam o

claro intuito de uniformizar a jurisprudência. Por outro lado, há de se trazer a tona que a

Turma Recursal do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe que, por unanimidade,

denegou a ordem em mandado de segurança com pedido de liminar impetrado em face

de ato do juiz de primeiro grau que aplicou multa ao impetrante por entender que o

pagamento integral do débito da condenação ocorreu de forma intempestiva, uma vez

que deveria ter sido contabilizado em dias corridos de acordo com a própria lógica dos

Juizados Especiais.

99

Idem, ibidem,

100 Consulta 2016002006866-5, Turma de Uniformização, Publicado no DJE: 31/03/2016. p.

521.Disponível em: < http://www.tjdft.jus.br/institucional/jurisprudencia/sumulas-do-juizado-especial >.

Acesso em: 22 de outubro de 2018.

101 Disponível em: < http://www.cjf.jus.br/cjf/noticias/2016-1/maio/publicada-resolucao-que-altera-

dispositivos-no-regimento-interno-da-tnu/resolucao-n-393-2016.pdf/view>. Acesso de 25 de outubro de

2018.

102 Disponível em: < http://www.amb.com.br/fonaje/?p=32>. Acesso em 25 de outubro de 2018.

Page 44: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

44

Segundo o juiz relator,

Embora o CPC não tenha estendido a aplicação do retro citado dispositivo

legal aos processos em trâmite nos Juizados Especiais, várias e respeitadas

vozes apontaram a necessidade de mudança na contagem dos prazos, no

âmbito dos Juizados, em função da inovação legislativa operada pelo NCPC,

sob o argumento de que a lei nº 9.099/95 é omissa em relação a este tema e

que não há dispositivo legal estabelecendo que nos Juizados a contagem dos

prazos deve ser em dias corridos. Com todas as vênias às opiniões contrárias,

não consigo alcançar esta interpretação, na medida em que se pretende

inverter a ordem natural das coisas e dos fenômenos jurídicos103

.

Ainda, afirma que no nosso ordenamento jurídico os prazos sempre foram

contados de forma simultânea e que a contagem dos prazos em dias úteis se constituiria

uma “ficção jurídica”:

Assim foi que o NCPC, querendo alterar a forma de contagem dos prazos em

todos os processos do rito ordinário (o rito sumário foi extinto pelo NCPC),

estabeleceu, por pura ficção e escolha do legislador, o parâmetro dos "dias

úteis", sem fazer qualquer espécie de extensão de sua incidência a outros

processos de outros ritos. Ora, o mundo não é o CPC, o que acontece nele

não se reflete em outros procedimentos de forma automática, sem que haja

qualquer determinação expressa nesse sentido, principalmente quando se

observa que o legislador, quando pretendeu estender determinada situação ao

rito dos Juizados, o fez de forma expressa e contundente, como por exemplo,

no caso do incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR) previsto

no art. 976 do NCPC. A ficção da contagem do prazo em "dia útil" é isolada,

não tem semelhante aplicação em outra norma vigente em nosso

ordenamento jurídico, devendo assim, ter a sua aplicação e vigência limitada

ao seu alcance real, no caso, aos processos de rito ordinário. São inúmeros os

exemplos e os textos normativos que tratam de prazos processuais e, em

103

BRASIL. Turma Recursal do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe. Mandado de Segurança n.º

201601005480. Relator: Aldo de Albuquerque Mello. Pesquisa de Jurisprudência, Acórdão n.º

4486/2016, 26 de julho de 2016. Disponível em: <

http://www.tjse.jus.br/pgrau/consultas/recursal/impIntegra.wsp?numProcesso=201601005480&codMo

vimento=371&dtMovimento=2016-07-26&seqMovimento=1 >. Acesso em: 23 de outubro de 2018.

Page 45: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

45

nenhum deles, NENHUM, existe a informação de que a contagem dos dias é

contínua ou que os dias são corridos104

.

Assim, ele conclui que, na ausência de norma em sentido contrário, no âmbito

dos Juizados Especiais, todos os prazos são contados da mesma forma que todo o

ordenamento jurídico nacional vigente, com exceção dos processos civis de rito

ordinário, tendo em vista a previsão do art. 219 do NCPC105

. Fica claro que existem

divergências entre os Tribunais de Justiça em relação à forma de contagem dos prazos e,

em alguns Tribunais a forma de contagem foi definida provisoriamente até que haja

unificação do entendimento; o que certamente é causa de insegurança jurídica.

É necessário deixar claro, porém, que toda a celeuma jurídica advinda do

conflito sobre a aplicação de prazos nos Juizados Especiais Cíveis foi superada diante

da Lei n. 13.728/2018, publicada no dia 1/11/2018. De acordo com a nova legislação,

que alterou a Lei n.9099/95,

Art. 1º A Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, passa a vigorar

acrescida do seguinte art. 12 A:"Art. 12-A. Na contagem de prazo em dias,

estabelecido por lei ou pelo juiz, para a prática de qualquer ato processual,

inclusive para a interposição de recursos, computar-se-ão somente os dias

úteis.106

"

Logo, fica claro que a contagem dos prazos será feita em dias úteis, o que veio

para pacificar os conflitos existentes a respeito do tema.

104

Idem 105

Idem 106

BRASIL. Lei 13.728. 1 de novembro de 2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-nov-

01/publicada-lei-estabelece-prazo-dias-uteis-juizado-

especial?utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook. Acesso em 4 de novembro de 2018.

Page 46: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

46

7. INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS E OS

JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

Sabe-se que o poder judiciário sofre com o volume extenso de demandas que,

atualmente, transbordam as secretarias de inúmeras comarcas no ordenamento jurídico

brasileiro107

.

Porém, boa parte das demandas existentes se relacionam com conflitos que

possuem similitude na causa de pedir, gerando, inegavelmente, lides envoltas em

questões ora denominadas repetitivas.

Diz Ada Pellegrini Grinover que:

grande massa de processo que aflige aos tribunais, elevando

sobremaneira o número de demandas e atravancando a administração da

justiça, é constituída em grande parte por causas em que se discutem e se

reavivam questões de direito repetitivas108

.

Ainda, o incidente de resolução de demandas repetitivas se destina a reunir e

selecionar uma ou algumas causas de natureza repetitiva, para que sirva de parâmetro

para o julgamento das demais, que ficam suspensas. Essa técnica, oriunda do direito

alemão e conhecida como „caso piloto‟ ou „julgamento por amostragem‟, e se aplicará

quase que exclusivamente a demandas individuais.

A definição da natureza do incidente é tarefa complexa, porque a lei não é

clara a respeito de um aspecto essencial para determina-la: saber se o

incidente compreenderá julgamento da “causa”, ou seja, do conflito subjetivo

que levou à sua instauração, ou se apenas haverá resolução pontual da

107

LEMKE, Gisele. O congestionamento do Poder Judiciário: um breve estudo sob o ponto de vista

da demanda dos serviços judiciais. Disponível em: <

http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/index.htm?http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao

058/Gisele_Lemke.html>. Acesso em: 06 outubro de 2018.

108 GRINVER, Ada Pellegrini. O tratamento dos processos repetitivos. In: FARIA, Juliana Cordeiro de;

JAYME, Fernando Gonzaga; LAUAR, Maira Terra (coords.). Processo civil: novas tendências.

Estudos em homenagem ao Prof. Humberto Theodoro Júnior. Belo Horizonte: Del Rey: 2008. p. 1.

Page 47: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

47

questão de direito, em abstrato, fixando-se a tese jurídica sem a resolução de

conflitos subjetivos109

.

Ainda,

Trata-se de instituto totalmente novo no processo civil brasileiro,

representando um dos maiores avanços do NCPC em prol da uniformidade

das decisões judiciais. Em síntese, tem por função dar ensejo a uma única

decisão de Tribunal que resolva uma mesma questão de direito objeto de

julgamento em múltiplas ações. É uma das técnicas de julgamento de casos

repetitivos previstas pelo NCPC, ao lado do julgamento de recursos

especiais e extraordinários repetitivos (art. 928, I e II), sendo eficaz

instrumento de consagração dos princípios da isonomia e segurança

jurídica.

Seu acórdão possui caráter vinculante para todos os órgãos do judiciário

atrelados ao Tribunal que houver julgado o incidente, sendo de aplicação

obrigatória para todas as ações em curso, como também para ações que

vierem a ser eventualmente propostas após seu julgamento110

.

Dito isto, nota-se, de muito, uma variedade de julgados com comandos

discrepantes sobre uma mesma situação de direito, fortalecendo o sentimento de

insegurança jurídica, realçado em sua face subjetiva, ou seja, na confiança legítima de

cidadãos quanto à calculabilidade e previsibilidade dos atos dos Poderes Públicos,

contrariando assim o próprio e verdadeiro escopo da visão democrática a que o

processo, como instrumento de liberdade, deva "encarnar" e incansavelmente

perquirir: o empenho à igualdade de todos perante o direito, como bem leciona

Antônio Pereira Gaio Junior111

.

O artigo 976 do CPC indica as situações em que será cabível o Incidente de

Resolução de Demandas Repetitivas:

109

TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demanda Repetitivas, Salvador, Ed. Juspodivm, 2016, p.

65/66.

110 SPADONI, Joaquim Felipe. Incidente de resolução de demandas repetitias. In: WAMBIER, Luiz

Rodrigues; WAMBIER, Tereza Arruda Alvim. Temas essenciais do novo cpc: análise das principais

alterações do sistema processual civil brasileiro. São Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2016, p.497

111 GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas no Projeto do

Novo CPC. IN: Revista de Processo, v. 199. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 248-249

Page 48: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

48

Art. 976. É cabível a instauração do incidente de resolução

de demandas repetitivas quando houver, simultaneamente:

I - efetiva repetição de processos que contenham

controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito;

II - risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

Portanto, não será cabível o incidente quando envolto apenas em questões de

fato, sendo necessário repousar sobre questão de direito. Ainda, podem suscitar o

presente incidente o magistrado, de ofício, às partes, o Ministério Público ou a

Defensoria Pública, conforme dispõe o artigo 977 do Novo Código de Processo Civil.

Nesse diapasão, Antônio Pereira Gaio Júnior enumera três requisitos iniciais para a

admissibilidade do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas: A identificação de

controvérsia com potencial de gerar relevante multiplicação de processos fundados em

idêntica questão de direito e de causar grave insegurança jurídica decorrente do risco de

coexistência de decisões conflitantes, a legitimidade para o pedido de instauração do

incidente; e instrução com os documentos necessários à demonstração da necessidade

de instauração do incidente112

.

Julgado o incidente, "a tese jurídica será aplicada a todos os processos que

versem idêntica questão de direito, inclusive àqueles que tramitem nos juizados

especiais do respectivo Estado", conforme dispõe o artigo 985, inciso I, do Código de

Processo Civil. Através do texto legal citado é possível entender que uma vez julgado o

incidente, sua tese jurídica será aplicada a todos os processos que versarem sobre a

mesma questão, inclusive aos processos que já estiverem tramitando nos Juizados

Especiais.

A principal questão a ser levantada é a possibilidade de o Incidente de

Resolução de Demandas Repetitivas ser suscitado em um processo que esteja em

curso no próprio Juizado Especial Cível. Trata-se o presente instituto, a bem da

verdade, de ampliação da vinculação das decisões judiciais aos casos repetitivos

112

Idem, p.252

Page 49: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

49

como instrumento de estabilização da jurisprudência e de diminuição do número de

recursos e do tempo de duração dos processos.113

De fato, o Enunciado 21 da Escola de Formação e Aperfeiçoamento da

Magistratura determina que "O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas pode

ser suscitado com base em demandas repetitivas em curso nos Juizados Especiais."

Diante disso, deve-se dizer que Segundo Mendes e Rodrigues, a instituição do IRDR

busca efetivar os “princípios da segurança jurídica, da isonomia, da economia

processual e da duração razoável do processo”, além da “uniformização nos

julgamentos”, bem como “a construção de um sistema jurisdicional mais racional e

harmônico”114

.

Para Marinoni, a falta de coerência dos julgados, “além de desesperar os

jurisdicionados, que ficam sem saber como se comportar, impede a advocacia de [...]

orientar o comportamento dos seus clientes”, acabando por estimular a

litigiosidade115

. Por essa razão, o CPC/2015 procura reestruturar o “quadro de alta

instabilidade decisória que acabou tornando inviável a promoção do uso adequado

dos precedentes no Brasil”116

.

Nesse sentido, em relação às principais peculiaridades do microssistema

dos juizados, deve-se saber até que ponto as disposições do IRDR aplicam-se a eles.

Ora, os juizados especiais surgiram no Brasil como uma consequência das ondas

113

ARAÚJO, José Henrique Mouta. O Incidente de Resolução das Causas Repetitivas no Novo CPC e

o Devido Processo Legal. IN: DIDIER JÚNIOR, Fredie (coord.). Processo nos Tribunais e Meios de

Impugnação às Decisões Judiciais, v. 6. Salvador: Juspodivm, 2015. p. 322.

114 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro; RODRIGUES, Roberto de Aragão Ribeiro. Reflexões sobre

o incidente de resolução de demandas repetitivas previsto no Projeto de novo Código de Processo Civil.

Revista de Processo, São Paulo, v. 37, n. 211, p. 191-208, set. 2012, p.194

115 MARINONI, Luiz Guilherme. Uma nova realidade diante do projeto de CPC. Revista dos Tribunais,

São Paulo, v.101, n. 918, p. 351-414, abr. 2012, p.352

116 NUNES, Dierle; PATRUS, Rafael Dilly. Uma breve notícia sobre o procedimento-modelo alemão e

sobre as tendências brasileiras de padronização decisória: um contributo para o estudo do incidente de

resolução de demandas repetitivas brasileiro. In: FREIRE, Alexandre (Coord.). Novas tendências do

processo civil: estudos sobre o projeto do novo Código de Processo Civil. Salvador: Juspodivm, 2013. p.

471-483.

Page 50: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

50

renovatórias que visavam à ampliação do acesso à Justiça pela transformação do

processo em algo mais informal, menos custoso e, principalmente, rápido para

resolver os problemas do cidadão117

. Diante disso, os juizados posuem como

princípios orientadores de seu procedimento a oralidade, a simplicidade, a

informalidade, a economia processual e a celeridade.

Segundo Bollmann, “a ideia de simplicidade e oralidade conduz à

necessidade de decisões que, num modelo ideal, deveriam ser curtas e irem direto ao

ponto, em linguagem clara e acessível ao cidadão comum”118

.

Diante da diferenciação constitucionalmente criada para os juizados e pela

regra da especialidade para resolução de aparentes antinomias, o novo CPC,

por ser um sistema geral não aplicável a casos especiais, só altera a legislação

daqueles quando [a] expressamente determina sua aplicação ou [b] quando

regula instituto jurídico essencial ou necessário para dispositivos daquelas

leis. Em ambos os casos, por óbvio, desde que observadas as regras

constitucionais de estruturação dos juizados, sob pena de invalidade119

.

Quanto às regras gerais do CPC/2015, é possível, segundo Bollmann,

argumentar a aplicabilidade aos juizados. Entretanto, adverte que, quando o

legislador quis a aplicação aos juizados, ele previu expressamente, como é o caso do

art. 985, I, do CPC/2015, que trata da aplicação da tese jurídica firmada em IRDR,

inclusive aos processos que tramitam nos juizados especiais. Afirma o autor que

as disposições do novo diploma são aplicáveis se e somente se houver lacuna

nas leis específicas deles [...] e desde que sejam compatíveis com os critérios

do art. 98, I, da Constituição e com os princípios da celeridade, informalidade

e simplicidade do rito dos juizados especiais120

.

No que se refere ao IRDR, segundo Bollmann, a aplicação do incidente aos

Juizados Especiais Cíveis colide com o previsto no art. 98, I, da CF/88, de acordo

117

BOLLMANN, Vilian. Aplicar novo CPC a Juizados Especiais Federais passa por condições.

Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-mai-31/aplicar-cpc-juizados-especiais-federais-passa-

condicoes>. Acesso em: 3 out. 2018 (a). 118

idem 119

Idem

120 Idem

Page 51: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

51

com o qual “os julgamentos de recursos serão feitos por turmas de juízes de primeiro

grau”, ao invés dos tribunais de justiça, a fim de tornar o procedimento informal e

rápido121

. Considera o autor que o IRDR não deve ser aplicado nem pelos tribunais

para vincular os juizados especiais estaduais dentro dos limites de sua jurisdição122

.

Por sua vez, para Koehler, não há como excluir os juizados especiais “da

aplicação do IRDR, uma vez que é nesse microssistema que surge a imensa maioria

dos casos repetitivos”123

. De fato, pesquisas demonstram que “os juizados especiais

têm servido para processar e julgar basicamente demandas de consumo e, neste

espectro, „conflitos de massa‟ e „demandas repetitivas‟124

.

Afirma Koehler ser necessário (e urgente) que haja uma regulamentação

específica da aplicação do incidente no sistema dos juizados a fim de promover tal

compatibilização, pois algumas disposições criam verdadeira incongruência sistêmica.

Algumas disposições do IRDR são de difícil aplicação aos juizados, em razão das

peculiaridades do microssistema, principalmente, a existência de sistema recursal

diverso, consistente nas turmas recursais (art. 98, I, da CF/88). O IRDR será instaurado

perante os TJs e TRFs e uma vez admitido, ocasionará a suspensão dos processos que

tramitam no Estado ou região (art. 982, I), inclusive nos juizados125

.

Entendimento que foi exposto no enunciado n. 93 do Fórum Permanente de

Processualistas Civis:

Admitido o incidente de resolução de demandas repetitivas, também devem

ficar suspensos os processos que versem sobre a mesma questão objeto do

121

BOLLMANN, VIllian. Os embargos de declaração nos Juizados Especiais e novo CPC. Disponível

em: <http://www.conjur.com.br/2015-jun-21/vilian-bollmann-embargos-declaracao-juizados-especiais-

luz-cpc>. Acesso em: 3 out. 2018

122 Idem

123 KOEHLER, Frederico Augusto Leopoldino. O incidente de resolução de demandas repetitivas e os

juizados especiais. Revista de Processo, São Paulo, v. 39, n. 237, p.500, nov. 2014. 124

SILVA, Paulo Eduardo Alves da et al. (Coord.). Perfil do acesso à justiça nos juizados especiais

cíveis. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2015, p.10

125 DRESCH, Silvane. A APLICABILIDADE DO INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE

DEMANDAS REPETITIVAS AOS JUIZADOS ESPECIAIS. Revista do CEJUR/TJSC: Prestação

Jurisdicional, v. IV, n. 01, p. 201-223, dez. 2016

Page 52: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

52

incidente e que tramitem perante os juizados especiais no mesmo estado ou

região (Grupo: Recursos Extraordinários e Incidente de Resolução de

Demandas Repetitivas).

Como explica Koehler, “o perigo subjacente nessa previsão é de que haja a

subversão de todo o microssistema dos juizados, em que não há a participação dos

TJs e TRFs”. Por essa razão, “o IRDR deveria ser interposto perante algum órgão

que componha o microssistema, como a TRU ou a TNU”126

. De acordo com o

enunciado n. 44 “admite-se o IRDR nos juizados especiais, que deverá ser julgado

por órgão colegiado de uniformização do próprio sistema”.

Outro ponto a ser considerado é que inexistência de previsão nos juizados

de recurso ao STJ, um dos tribunais responsáveis pelo julgamento do IRDR quando

a questão infraconstitucional suscitada for de abrangência nacional. Esse

entendimento foi consolidado no verbete da Súmula n. 203 do STJ, o qual dispõe

que: “não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau

dos Juizados Especiais”.

Não se desconhece que tanto a Lei n. 10.259/2011 (art. 14, § 4º) quanto a Lei

n. 12.153/2009 (art. 18, § 3º) trazem previsões quanto à possibilidade de

manifestação do STJ quando a orientação acolhida pela turma de

uniformização contrariar súmula ou jurisprudência dominante naquele

tribunal. Nem se ignora a previsão constante na Resolução n. 12/2009, que

admite reclamação ao STJ quando as decisões das turmas recursais dos

Juizados Especiais Estaduais contrariarem orientação do STJ.

Entretanto, tais dispositivos são de constitucionalidade duvidosa, uma vez

que criam, “sem previsão na Constituição Federal, recurso cujo julgamento

foi atribuído aos STJ, indo de encontro ao princípio da tipicidade de

competências” (KOEHLER, 2014, p. 501), visto que inexistente tal previsão

no art. 105 da CF/88.

Ademais, considerando que as partes, o Ministério Público e a Defensoria

Pública (art. 977, II e III) poderão requerer ao STF e ao STJ a suspensão

dos processos “em curso no território nacional que versem sobre a questão

objeto do incidente já instaurado” (art. 982, § 3º), questiona-se se haverá

126

KOEHLER, Frederico Augusto Leopoldino. Ops, cit.

Page 53: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

53

extensão aos juizados da possibilidade de pleitear ao STJ, mas somente nos

processos abrangidos pelo incidente127

.

Diante do exposto, especialmente os enunciados n. 21 e 44 do ENFAM, parece

inegável a aplicação do IRDR aos juizados, não apenas no que diz respeito à tese

jurídica fixada, mas também quanto à suspensão dos processos e pedido de

instauração; embora, como visto, seja necessária regulamentação específica para evitar

incongruências128

.

127

DRESCH, Silvane. Ops., cit 128

Idem

Page 54: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

54

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das demandas judiciais recorrentes na realidade processual, a elaboração

do prsente estudo contribuiu para pontuar que criados para o julgamento das causas

cíveis de menor complexidade, o microssistema dos juizados veio ampliar o acesso do

cidadão à Justiça, visando à obtenção rápida e eficaz da tutela jurisdicional. A despeito

das celeumas geradas em torno dos principais aspectos e, mesmo, das posições

doutrinárias que deram origem a interpretações controvertidas e em desacordo com a

real vontade do legislador (mens legislatoris), o certo é que a Lei 9.099/95 sofreu

poucas alterações desde que foi sancionada e vem cumprindo o papel que ensejou sua

criação no Brasil.

O objetivo da pesquisa consistiu em debater alguns pontos de extrema

importância no estudo dos Juizados Especiais cíveis, principalmente no que concerne à

busca pela efetivação da tutela jurisdicional. De fato, a Lei foi aclamada em todo o País

por introduzir no cenário jurídico mecanismos mais eficientes e eficazes que

possibilitam o acesso rápido à Justiça. Ora, o acesso à justiça possui como pressupostos

a) descentralizar a justiça, para que ficasse mais próxima da população em geral; b) privilegiar

a conciliação extrajudicial como meio de resolução de conflitos; c) ser o palco de resolução de

conflitos de pequena monta, que praticamente não eram levados à Justiça tradicional; d)

incentivar a participação da população na administração da Justiça, através da contribuição de

pessoas do próprio bairro na resolução de conflitos; e) ser gratuita, rápida, desburocratizada,

informal e efetiva; f) desafogar a Justiça tradicional129

.

NCPC vem ao encontro das novas tendências do moderno processo civil, de modo a torná-

lo mais ágil. Não podemos esquecer, em razão do advento da Lei 13.105/15, que o rito

procedimental dos juizados especiais cíveis possui um sistema próprio e uma dinâmica

bastante peculiar, inconciliável com o formalismo exacerbado ou com atos e procedimentos

incompatíveis com o espírito da Lei 9.099/95, que visa, acima de tudo, ao melhoramento e

à entrega da prestação jurisdicional em tempo razoável e de modo eficaz130

.

129

CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Acesso à Justiça: juizados especiais cíveis e ação civil pública:

uma nova sistematização da teoria geral do processo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. P. 52.

130 XAVIER, Cláudio Antonio de Carvalho. Revista CEJ, Brasília, Ano XX, n. 70, p. 7-22, set./dez. 2016

Page 55: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

55

De extrema relevância apresentaram-se os pontos de vista de doutrinadores e

entendimentos dos Tribunais Superiores, no sentido de mostrar a inovação que são os

Juizados Especiais na luta pelo alcance do acesso à justiça, o qual se constitui um

direito fundamental diante dos óbices que o próprio ordenamento jurídico traz. É válido

destacar a opinião de Cláudio Antônio de Carvalho Xavier, o qual diz que embora

houvesse a expectativa de que traria maior celeridade, a lei dos Juizados Especiais

acabou não surtindo o efeito desejado, que seria amenizar a recarga dos feitos em

trâmite das unidades cíveis devido ao crescimento das ações judiciais nas últimas

décadas. A lei teria sucumbido, com o passar dos anos, à cultura do litígio ou

judicialização de demandas e provocado diversos entraves. Adicionando seu ponto de

vista, o autor Figueira Jr afirma que a lei dos juizados é satisfatória e corresponde às

exigências e aos anseios da sociedade, embora contenha algumas imperfeições que

poderão ser aprimoradas pelas orientações doutrinárias e jurisprudenciais131

.

Diante disso, percebe-se que, de fato, o novo CPC terá ampla aplicação em

relação aos procedimentos sob a égide da Lei nº 9.099/1995, tanto de forma expressa

quanto subsidiária. Como foi destacado, a maior parte das aplicações expressas do novo

CPC ao sistema dos Juizados Especiais é bem recepcionada pela doutrina, como o

incidente de desconsideração de personalidade jurídica, apesar de não estar de livre de

críticas e controvérsias. Ainda, tem havido resistência por parte da magistratura em

aplicar as repercussões do NCPC aos institutos processuais dos Juizados Especiais.

Todavia, o Fórum Permanente de Processualistas Civis, bem como a Ordem dos

Advogados do Brasil, tem entendido pela aplicação de diversos dispositivos do novo

CPC aos Juizados Especiais, em posição diametralmente oposta ao posicionamento

adotado, por exemplo, pela Ministra Nancy Andrighi.

Assim, a justiça deve procurar conciliar rapidamente os dois sistemas

processuais, tendo em vista que seja realizada a prestação jurisdicional de forma rápida

e eficaz.

131

Idem

Page 56: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Diogo Assumpção Rezende de; PANTOJA, Fernanda Medina PELAJO,

Samantha. A mediação no novo código de processo civil. Forense: Rio de Janeiro, 2016

ALMEIDA, Diogo Assumpção Rezende de. Das convenções processuais no processo

civil. Rio de Janeiro: Tese de Doutorado defendida na VERJ, 2014

Álvares, Diovani Vandrei; CUNHA, Juliana Fre. A democratização do acesso à justiça:

uma perspectiva a partir dos estudos realizados pelo Anexo do Juizado Especial Cível

da Unestp.Franca: UNESP FCHS, 2011

ANDRIGHI, Fátima Nancy. O novo CPC e sua aplicação nos Juizados Especiais. In:

Juizados Especiais Cíveis e o Novo CPC. Coord. LINHARES, Erick. Curitiba, Juruá,

2015

ARAÚJO, José Henrique Mouta. O Incidente de Resolução das Causas Repetitivas no

Novo CPC e o Devido Processo Legal. IN: DIDIER JÚNIOR, Fredie (coord.).

Processo nos Tribunais e Meios de Impugnação às Decisões Judiciais, v. 6. Salvador:

Juspodivm, 2015

AURELLI, Arlete Inês. Comentários aos arts. 335 ao 342. In: STRECK, Lenio Luiz;

CUNHA, Leonardo Carneiro da; NUNES, Dierle; FREIRE, Alexandre (Org.).

Comentários ao código de processo civil. São Paulo: Saraiva, 2016

BACELLAR, Roberto Portugal. Juizados Especiais: a nova mediação processual. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2013

BASTOS, Celso Ribeiro; TAVARES, André Ramos. As Tendências do Direito Público

no limiar de um novo milênio. São Paulo: Saraiva 2000.

BERTOL, Tairine Bertila. A mitigação do princípio da celeridade processual no

microssistema dos juizados especiais à luz da aplicação do novo código de processo

Page 57: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

57

civil. Disponível em:

http://www.emap.com.br/conteudo/biblioteca/monografias/Tairine%20Bertila%20Berto

l.pdf. Acesso em: 22 de outubro de 2018.

BEZERRA, Paulo Cesar Santos. Acesso à justiça: um problema ético social no plano da

realização do direito. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.

BOLLMANN, Vilian. Aplicar novo CPC a Juizados Especiais Federais passa por

condições. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-mai-31/aplicar-cpc-

juizados-especiais-federais-passa-condicoes>. Acesso em: 3 out. 2018

BOLLMANN, VIllian. Os embargos de declaração nos Juizados Especiais e novo CPC.

Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-jun-21/vilian-bollmann-embargos-

declaracao-juizados-especiais-luz-cpc>. Acesso em: 3 out. 2018

BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. 11 de setembro de 1990. Disponível em: <

https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603962/artigo-28-da-lei-n-8078-de-11-de-

setembro-de-1990>. Acesso em 26 de outubro de 2018

BRASIL. Código de Direito Civil. 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <

http://www.avecstore.com.br/kimaera-dois-mundos>. Acesso em 26 de outubro de

2018.

BRASIL. Código de Processo Civil. De 16 de março de 2015. Disponível em:<

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>.Acesso

em: 20 de outubro de 2018

BRASIL. Código Tributário Nacional. 25 de outubro de 1966. Disponível em: <

https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10573354/artigo-135-da-lei-n-5172-de-25-de-

outubro-de-1966>. Acesso em 26 de outubro de 2018.

Page 58: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

58

BRASIL. Constituição Federal. 05 de Outubro de 1988. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm >.Acesso

em: 20 de outubro de 2018.

BRASIL. Enunciado FONAJE. Disponível em: <

http://www.cnj.jus.br/corregedoriacnj/redescobrindo-os-juizados-especiais/enunciados-

fonaje/enunciados-civeis> . Acesso em 20 de outubro de 2018.

BRASIL. Enunciado fórum permanente de processualistas civis. Disponível em: <

https://alice.jusbrasil.com.br/noticias/241278799/enunciados-do-forum-permanente-de-

processualistas-civis-carta-de-vitoria>. Acesso em 20 de outubro de 2018.

BRASIL. Fonaje. Disponível em: < http://www.amb.com.br/fonaje/?p=32>. Acesso em

25 de outubro de 2018.

BRASIL. FORUM NACIONAL DE JUIZADOS ESPECIAIS – FONAJE - NOTA

TÉCNICA N. 01/2016, Ref.: Artigo 219 do Código de Processo Civil de 2015, que trata

da contagem de prazos processuais em dias úteis. Disponível em: <

www.fonaje.org.br>. Acesso em: 20 de outubro de 2018.

BRASIL. Lei 9099. 26 de setembro de 1995. Disponível em: <

https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11308056/artigo-36-da-lei-n-9099-de-26-de-

setembro-de-1995>. Acesso em 22 de outubro de 2018

BRASIL. Lei 13.728. 1 de novembro de 2018. Disponível em:

<https://www.conjur.com.br/2018-nov-01/publicada-lei-estabelece-prazo-dias-uteis-

juizado-especial?utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook>. Acesso em 4 de

novembro de 2018.

BRASIL. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. 4 de setembro de 1942,

Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657.htm>.

Acesso em 23 de outubro de 2018.

BRASIL. Resolução número 393 de 2016. Disponível em: <

http://www.cjf.jus.br/cjf/noticias/2016-1/maio/publicada-resolucao-que-altera-

Page 59: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

59

dispositivos-no-regimento-interno-da-tnu/resolucao-n-393-2016.pdf/view>. Acesso de

25 de outubro de 2018.

BRASIL. Turma Recursal do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe. Mandado de

Segurança n.º 201601005480. Relator: Aldo de Albuquerque Mello. Pesquisa de

Jurisprudência, Acórdão n.º 4486/2016, 26 de julho de 2016. Disponível em: <

http://www.tjse.jus.br/pgrau/consultas/recursal/impIntegra.wsp?numProcesso=2016010

05480&codMo vimento=371&dtMovimento=2016-07-26&seqMovimento=1 >. Acesso

em: 23 de outubro de 2018.

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva,

2011, p.1369

CALAMANDREI, Piero. Il processo come giuoco. Rivista di diritto processuale, anno

V, n.1, Padova, 1950

CAPELETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie

Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988

CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Acesso à Justiça: juizados especiais cíveis e ação

civil pública: uma nova sistematização da teoria geral do processo. 2. ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2003.

CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. Rio de Janeiro: Forense,

2016

Consulta 2016002006866-5, Turma de Uniformização, Publicado no DJE: 31/03/2016.

p. 521.Disponível em: < http://www.tjdft.jus.br/institucional/jurisprudencia/sumulas-do-

juizado-especial >. Acesso em: 22 de outubro de 2018.

DRESCH, Silvane. A APLICABILIDADE DO INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE

DEMANDAS REPETITIVAS AOS JUIZADOS ESPECIAIS. Revista do

CEJUR/TJSC: Prestação Jurisdicional, v. IV, n. 01, p. 201-223, dez. 2016

Page 60: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

60

FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Manual dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e

Federais. São Paulo:RT, 2006

GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas no

Projeto do Novo CPC. IN: Revista de Processo, v. 199. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2011.

GOLDSCHMIDT, James. Teoría general del processo. Barcelona: Editorial Labor,

1936. Colección Labor, Sécción VIII, Ciencias Juridicas, n.386

GOMES NETO. José Mário Wanderley. O acesso à Justiça em Mauro Cappelletti:

análise teórica desta concepção como "movimento" de transformação das estruturas do

processo civil brasileiro. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2005

GRINOVER, Ada Pellegrini. O tratamento dos processos repetitivos. In: FARIA,

Juliana Cordeiro de; JAYME, Fernando Gonzaga; LAUAR, Maira Terra (coords.).

Processo civil: novas tendências. Estudos em homenagem ao Prof. Humberto

Theodoro Júnior. Belo Horizonte: Del Rey: 2008.

JÚPITER, Herme; OST, François. Tres modelos de Juez. Doxa, n.14, p.169-194, 1993.

Disponível em:< http://www.cervantesvirtual.com>. Acesso em: 20 de setembro de

2018.

1 MANCUSO, Rodolfo de Carmargo. A resolução dos conflitos e a função judicial no

contemporâneo Estado de Direito. São Paulo: RT, 2009

KOEHLER, Frederico Augusto Leopoldino. O incidente de resolução de demandas

repetitivas e os juizados especiais. Revista de Processo, São Paulo, v. 39, n. 237, p.500,

nov. 2014.

LEMKE, Gisele. O congestionamento do Poder Judiciário: um breve estudo sob o ponto

de vista da demanda dos serviços judiciais. Disponível em: <

Page 61: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

61

http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/index.htm?http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/

artigos/edicao 058/Gisele_Lemke.html>. Acesso em: 06 outubro de 2018.

LENZA, Pedro. Teoria geral da ação civil pública. 3ª edição. São Paulo: Revista dos

tribunais, 2008

MANCUSO, Rodolfo de Carmargo. A resolução dos conflitos e a função judicial no

contemporâneo Estado de Direito. São Paulo: RT, 2009

MACIEL, Stella Economides. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica

e sua aplicação no âmbito dos juizados especiais cíveis. Há incompatibilidade entre as

disposições legais do CPC e da lei n. 9.099/95?. In: VÁRIOS AUTORES. Novo código

de processo civil: impactos na legislação extravagante e interdisciplinar, vol.1. São

Paulo: Saraiva, 2016. Arquivo Kindle.

MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2008

MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro; RODRIGUES, Roberto de Aragão Ribeiro.

Reflexões sobre o incidente de resolução de demandas repetitivas previsto no Projeto de

novo Código de Processo Civil. Revista de Processo, São Paulo, v. 37, n. 211, p. 191-

208, set. 2012

MONTENEGRO FILHO, Misael. Novo código de processo civil: modificações

substanciais. São Paulo: Atlas, 2015

MORAIS, Heleno Oliveira. Os impactos do novo CPC nos juizados especiais cíveis na

realidade de São Luís – MA. Revista da ESMAM, São Luís, v.11, n.11, p. 70, jan/jun.

2017

NEGRÃO, Theotonio. Juizados Especiais de pequenas causas - Lei 7244/84. Curitiba:

Editora Revista dos Tribunais, 1985

Page 62: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

62

NERY JR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil

comentado e legislação constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. P.466

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil Comentado. 1 ed.

Salvador: JusPodivm, 2016

NUNES, Dierle; PATRUS, Rafael Dilly. Uma breve notícia sobre o procedimento-

modelo alemão e sobre as tendências brasileiras de padronização decisória: um

contributo para o estudo do incidente de resolução de demandas repetitivas brasileiro.

In: FREIRE, Alexandre (Coord.). Novas tendências do processo civil: estudos sobre o

projeto do novo Código de Processo Civil. Salvador: Juspodivm, 2013.

PAUMGARTTEN, Michele; PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A

institucionalização da mediação é a panaceia para a crise do acesso à justiça? In:

COUTO, Monica Bonetti; MEIRELLES, Delton Ricardo Soares; MATOS, Eneas de

Oliveira (Org). Acesso à justiça. Florianópolis: Funjab, 2012

REBOUÇAS, Gabriela Maia (2010) apud NUNES, Dierle; TEIXEIRA, Ludmina.

Acesso à justiça democrático. Brasília: Gazeta Jurídica, 2013

RIBEIRO, Sérgio Luiz de Almeida. Hipóteses de cabimento de desconsideração da

personalidade jurídica nos juizados especiais cíveis. In: DIDIER JR, Freddie (Coord.

Geral). Coleção Repercussões do novo CPC. Vol. 7. Juizados Especiais. Salvador:

Juspodium, 2015

RODRIGUES, Marcelo Abelha. Elementos de direito processual civil. 3. ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2003. v. 1.

SILVA, Paulo Eduardo Alves da et al. (Coord.). Perfil do acesso à justiça nos juizados

especiais cíveis. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2015

SPADONI, Joaquim Felipe. Incidente de resolução de demandas repetitias. In:

WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Tereza Arruda Alvim. Temas essenciais do

Page 63: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

63

novo cpc: análise das principais alterações do sistema processual civil brasileiro. São

Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2016

SPENGLER, Fabiana Marion; SPENGLER NETO, Theobaldo. Mediação enquanto

política pública: a teoria, a prática e o projeto de lei. Santa Cruz do Sul, Edunisc, 2010,

p.23. Disponível em: <

http://ead.tjrs.jus.br/navi_tjrs/agenda/pdf.php?%20COD_ARQUIVO=4309>. Acesso

em 22 de outubro de 2018.

TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demanda Repetitivas, Salvador, Ed.

Juspodivm, 2016

THEODORO Junior, Humberto. Celeridade e efetividade da prestação jurisdicional.

Insuficiência da reforma das leis processuais. Revista síntese de direito civil e

processual civil, n.36, p.33, jul.-ago. 2005

THEODORO JÚNIOR, Humberto (Coord.). Processo civil brasileiro: novos rumos a

partir do CPC/2015. Belo Horizonte: Del Rey Editora, 2016, p.91

TOURINHIO NETO, Fernando da Costa. FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados

Especiais Cíveis e Criminais: comentários á Lei 9.099/1995. 7 ed. rev. atual e ampl. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2011

WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Tereza Arruda Alvim (Coord.). Temas

essenciais do novo cpc. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016

XAVIER, Cláudio Antônio de Carvalho. Revista CEJ, Brasília, Ano XX, n. 70, p. 7-22,

set./dez. 2016

WATANABE, Kazuo. Acesso à justiça e sociedade moderna. In: Grinnover, Ada

Pellegrini (Coord.) et. al. Participação e processo. São Paulo: RT, 1988

WATANABE, Kazuo. Política judiciária nacional de tratamento adequado dos conflitos

de interesses: utilização dos meios alternativos de resolução de controvérsias. O

Page 64: OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE … · 2019. 10. 25. · Tem-se que os Juizados Especiais surgiram com o escopo de atender a demanda de acesso à jurisdição,

64

processo em perspectiva: jornadas brasileiras de direito processual. São Paulo: RT,

2013