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Página1 VII Simpósio Nacional de História Cultural HISTÓRIA CULTURAL: ESCRITAS, CIRCULAÇÃO, LEITURAS E RECEPÇÕES Universidade de São Paulo – USP São Paulo – SP 10 e 14 de Novembro de 2014 OS MAPAS ESQUECIDOSDA CIDADE DE PORTO ALEGRE Daniela Marzola Fialho * Nas relações entre a história urbana e suas representações gráficas, o passado da cidade pode ser lido através de múltiplas representações. Neste trabalho privilegia-se a leitura da história da cidade em seus mapas. Os mapas históricos de uma cidade mostram bem as suas múltiplas espacialidades e temporalidades. Neste sentido trabalha-se com as relações entre a história urbana e a cartografia considerando a cartografia enquanto produção histórica da cidade. Como representação da cidade, o mapa é uma construção imaginária (da realidade) mas que tem o poder não só de orientar o olhar e a percepção (do real) como também de criar a paisagem urbana que representa. Os mapas são vistos, aqui, como discursos que produzem os objetos de que falam. Trata-se, então de perseguir as identidades e as mudanças urbanas que as plantas da cidade mostram ao longo do tempo, no seu contexto histórico, geográfico e paisagístico. Ora, pelo fato de que essa abordagem que relaciona história e cartografia permitir ir muito além da questão da representação da cidade pelo mapa, numa linguagem concreta de dominação, conhecimento e governo do território, os mapas inexistentes, desaparecidos, “esquecidos” também contam uma história. Tomada como “imagem * Graduada em Arquitetura (FA/UFRGS), Mestre em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR/UFRGS) e Doutorado em História (PPGHIST/UFRGS). Professora Adjunta 3 no Departamento de Arquitetura e no Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR 2013/2015) E-mail: [email protected]

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VII Simpósio Nacional de História Cultural

HISTÓRIA CULTURAL: ESCRITAS, CIRCULAÇÃO,

LEITURAS E RECEPÇÕES

Universidade de São Paulo – USP

São Paulo – SP

10 e 14 de Novembro de 2014

OS MAPAS “ESQUECIDOS” DA CIDADE DE PORTO ALEGRE

Daniela Marzola Fialho*

Nas relações entre a história urbana e suas representações gráficas, o passado da

cidade pode ser lido através de múltiplas representações. Neste trabalho privilegia-se a

leitura da história da cidade em seus mapas. Os mapas históricos de uma cidade mostram

bem as suas múltiplas espacialidades e temporalidades. Neste sentido trabalha-se com as

relações entre a história urbana e a cartografia considerando a cartografia enquanto

produção histórica da cidade. Como representação da cidade, o mapa é uma construção

imaginária (da realidade) mas que tem o poder não só de orientar o olhar e a percepção

(do real) como também de criar a paisagem urbana que representa. Os mapas são vistos,

aqui, como discursos que produzem os objetos de que falam. Trata-se, então de perseguir

as identidades e as mudanças urbanas que as plantas da cidade mostram ao longo do

tempo, no seu contexto histórico, geográfico e paisagístico.

Ora, pelo fato de que essa abordagem que relaciona história e cartografia permitir

ir muito além da questão da representação da cidade pelo mapa, numa linguagem concreta

de dominação, conhecimento e governo do território, os mapas inexistentes,

desaparecidos, “esquecidos” também contam uma história. Tomada como “imagem

* Graduada em Arquitetura (FA/UFRGS), Mestre em Planejamento Urbano e Regional

(PROPUR/UFRGS) e Doutorado em História (PPGHIST/UFRGS). Professora Adjunta 3 no

Departamento de Arquitetura e no Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional

(PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Atualmente Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional

(PROPUR – 2013/2015) E-mail: [email protected]

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locacional”, a cartografia da cidade relaciona-se com a paisagem urbana dirigida não só

para a descrição das realidades físicas e humanas da cidade, mas também para a

construção de um imaginário do “lugar”, ou seja, do território das idealidades coletivas.

Neste sentido, o mapa sendo uma imagem da cidade produz também a memória da

mesma. Os mapas inexistentes, “esquecidos” podem ser percebidos segundo Ricoeur

(2000, p.532) “como um atentado contra a fiabilidade da memória. Um golpe, uma

debilidade. A memória, a este respeito, se define, ao menos em primeira instância, como

luta contra o esquecimento”. Estes mapas “esquecidos”, inexistentes podem, portanto, ter

a ver com a manipulação da memória da cidade.

O MAPA DE 1772

Porto Alegre foi oficialmente fundada em 26 de março de 1772. Essa data foi

decidida por marcar a criação da Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais,

tornando-a independente de Viamão. Como bem coloca Oliveira (1993, p. 53):

Os atos subseqüentes: desapropriação e demarcação (12/07/1772) da

fazenda de Inácio Francisco, para construção de moradias e Igreja

Matriz; criação da paróquia (1772); mudança de orago, em 18/01/1773,

para Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre; elevação a Capital

a 25/07/1773; primeira sessão da Câmara, a 06/09/1773, foram

complementares do processo de autonomia e organização iniciado com

a criação da Freguesia.

Um personagem, importante nessa história, foi o Coronel José Marcelino de

Figueiredo (ou Manoel Jorge Gomes Sepúlveda) que enxergou no Porto de Viamão (ou

dos Casais) um local de importância estratégica para se tornar a Capital da então Capitania

de São Pedro, da qual foi o Governador de 1769 a 1780. José Marcelino embarcou

para o Rio de Janeiro em 25 de outubro de 1771, ficando para substituí-

lo o Tenente Coronel Antonio da Veiga Andrade, com instruções de pôr

em prática os planos já estabelecidos, caso conseguisse junto ao Vice

Rei, desmembrar o Porto do Casais da Freguesia de Viamão.

Os planos estabelecidos diziam respeito a desapropriação e a demarcação da

região da Freguesia. A prova que se tem dessa primeira demarcação é um documento de

12 de julho de 1772, do Arquivo Histórico do Estado do Rio Grande do Sul, no qual o

Capitão Montanha é convocado para demarcar as meias datas para os casais moradores

do Porto de Viamão, e no qual também lhe é demandado que deixe suficiente terreno para

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a nova freguesia (OLIVEIRA, p.51). A ordem dada pelo governador substituto Antonio

da Veiga Andrade, em relação a Porto Alegre, foi expedida nos seguintes termos:

“O Capitão de Infantaria, com exercício de engenheiro, Alexandre José

Montanha, passe sem perda de tempo, ao Porto chamado dos Casais e

hoje de São Francisco e, nas terras da Estância de Inácio Francisco, faça

a divisão de sessenta meias datas para outro igual numero de casais, os

quais já se acham moradores do dito Porto de São Francisco, sendo a

meia data que compreender as casas da Estância com seu pomar, para

Passais do Vigário da Freguesia, tendo-se também atenção aos

Marinheiros que se tem empregado no serviço de Sua Majestade para

serem acomodados, deixando-se suficiente terreno para logradouro da

Vila, e lhe nomeio para seu ajudante o Cabo de Esquadra dos

Escolhidos Ventura de Carvalho e Souza, e que o dito Capitão executara

por ser conforme a ordem do Ilmo. E Excelentíssimo Senhor Marques

e Vice Rei do Estado sobre esta Matéria. Viamão, 12 de Julho de 1772”

(OLIVEIRA, 1993, p.50).

Esse traçado inicial de Porto Alegre feito, em 1772, pelo Capitão Alexandre José

Montanha1, na região desapropriada da Sesmaria de Santana (pertencente inicialmente a

Jerônimo de Ornelas)2, encontra-se desaparecido. Em 1940, o historiador Paranhos

Antunes, publicou nos Anais do III Congresso Sul-Riograndense de Historia e Geografia,

de 1940, um esboço do que teria sido (Fig. 1).

Fig. 1 – Esboço de Paranhos Antunes (1940). Fonte:ANTUNES, 1940. v. 3. p. 1069.

Sabe-se que o Capitão Montanha fez, entre 1771 e 1772 duas outras plantas uma

de Taquari (Tibiquary) e outra de Santo Amaro:

1 Alexandre José Montanha nasceu em Lisboa, Portugal, em 28/03/1730, e morreu em Lisboa em

11/11/1800. Serviu no Brasil de 25/10/1765 a 30/07/1791. Capitão de Infantaria em 23 de julho de 1765,

com exercício de engenheiro foi servir no Brasil pelo prazo de seis anos na Capitania do Rio Grande de

São Pedro onde ficou durante 15 anos. Por volta de 1780, teria se retirado para o Rio de Janeiro, ficando

no Brasil até 1791.

2 Antes de ser desapropriada, ela foi vendida para Inácio Francisco de Melo.

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1) PLANO DO TERRENO QUE MOSTRA A DEVIZÃO DAS DATTAS DOS

CASAIS QUE FORMÃO A VILLA DO SR. SÃO JOZÉ DE TIBIQUARY; em Abril de

1771.

2) PLANO DE DEVIZÃO DAS DATTAS DOS PRIM"' VINTE CAZAES QUE

FORMÃO A POVOAÇÃO DE STO. AMARO, em 15 de Abril de 1771.

Alguns historiadores discutem se a planta de Porto Alegre do Capitão Montanha

existiu ou não. Abeillard Barreto (1973, p.945) afirma, na biografia do Capitão Alexandre

José Montanha, que em 1772 este teria traçado o “primeiro mapa de Porto Alegre, hoje

considerado perdido, que deverá ter tido um título semelhante, em virtude da ordem que

passou em Viamão, a 12-7-1772, o governador interino do Rio Grande do Sul, Antonio

da Veiga Andrade, ao Capitão Montanha”. Barreto supõe que o título do mapa deveria

ser “um trecho do que está determinado na dita ordem”. Para ele, o fato de haver ordens

semelhantes para a execução das plantas de Taquari e Santo Amaro, indica que o nome

do mapa da cidade de Porto Alegre seria também semelhante aos dados às plantas dessas

cidades, provavelmente teria sido intitulado: “Plano da devizão de sessenta meias dattas

nas terras da Estancia de Inacio Francisco para os Cazais que já se axão moradores no

Porto de São Francisco”.

Já para Günter Weimer (1999), no entanto, o autor de um plano “acadêmico” –

referindo-se ao plano para a cidade de Santo Amaro de Montanha – não poderia ser o

autor de um “projeto de cunho tão popular”, como o traçado de Porto Alegre. Neves &

Martins (2006-2007, p.87) vão ainda mais longe: “O chamado mapa do capitão Montanha

é invenção cuja crítica nunca foi seriamente realizada nos últimos 60 anos”.

Acredita-se, seguindo a concepção de Barreto, que Montanha tenha executado

de fato o traçado de Porto Alegre, em 1772, ainda que a prova material tenha se perdido

ou sido destruída. Explicitando melhor o argumento de Barreto, sabe-se que a ordem dada

pelo Governador José Marcelino de Figueiredo ao Capitão Montanha para executar o

Plano de Taquari foi a seguinte:

“Ordeno ao capitão engenheiro Alexandre José Montanha passe aos

campos de Tebiquary que se acham determinados para acomodação dos

casais e ali messa e reparta e entregue quatro legoas e meia de terra

repartidas em quartos em forma das ordens de Sua Magestade a cada

um dos sessenta casais que ali se acham passando-lhes certidões para

requererem seu Titulo justo, deixando meia legoa, para o logradouro da

Povoação cujas datas andeser as mais imediatas da Povoação, tudo na

mesma forma que de ordem minha praticou o dito capitão na povoação

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que mandei formar Villa Real de Santanna e me dará parte do que

ocorrer e o aver assim executado, e se denominará a dita povoação São

José de Tebiquary, Viamão 25 de setembro de 1770 – Osório – etc.”

(BALEM, 1952, P.35)3.

Essa ordem é bastante similar a ordem dada para a divisão das datas de Porto

Alegre e de Santo Amaro. Ainda segundo Barreto, os originais das plantas de Taquari e

Santo Amaro teriam estado guardados no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, onde não

mais se encontram. O plano de Taquari foi reproduzido pelo Monsenhor João Maria

Balem no livro ‘A Paróquia de S. José de Taquari’ por volta de 1952 (fig. 2).

Já em relação a planta de Santo Amaro, Weimer (1999) afirma que:

“sabemos que Montanha foi encarregado de fazer o acompanhamento

do assentamento da vila de Santo Amaro. Em razão disso, fez o traçado

do plano urbano daquela vila. Trata-se, neste caso, de um plano

plenamente de acordo com o que se chamava então de mestres

clássicos, isto é, de um traçado de ruas ortogonais que se espraiam por

sobre um terreno levemente inclinado”.

Fig. 2 – Plano do terreno ... da Villa do Sr. São Jozé de Tibiquary. Fonte: BALEM, 1952, p.36.

Havendo, então, ordens semelhantes e existindo concretamente os planos de

Taquari e Santo Amaro, Afinal, por que razão Montanha não teria executado a ordem de

fazer o traçado de Porto Alegre? Portanto, nesse período, o Capitão Montanha demarcou

3 Conforme o autor, esta ordem pode ser encontrada no Arquivo Público de Porto Alegre no Livro 3 de

Registros e Provisões (1765-1774), à pagina 232.

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e fez a divisão das datas de três cidades no Rio Grande do Sul: Taquari, Santo Amaro e

Porto Alegre.

Ainda mais, segundo Oliveira (1993, p.50) “no dia 1º de agosto desse mesmo

ano o Capitão Montanha começava a distribuir a cada família um certificado individual

no qual dava posse da respectiva ‘data’”. Esses certificados teriam tido a seguinte

redação:

Alexandre José Montanha, Capitão de Infantaria, com exercício de

Engenheiro. Certifico que, em virtude da Ordem do Ilustríssimo e

Excelentíssimo Senhor Marquês do Lavradio, expedida pelo senhor

Tenente Coronel Governador deste Continente, Antônio da Veiga

Andrade, de 12 de junho passado – passei ao terreno místico do Porto

de São Francisco dos Casais e nele medi, demarquei e entreguei a (.......)

uma área superficial de duzentas e oitenta e um mil e duzentas e

cinqüenta braças quadradas compreendidas em figura de retângulo que

tem o comprimento de norte a sul mil braças, e para constar lhe passei

o presente por mim assinado em 1º de agosto, Quartel de Viamão.

Nesse caso cabe a pergunta se ele demarcou as datas de diversas pessoas, porque

não teria demarcado as primeiras ruas do lugar da nova freguesia e traçado a planta. O

que se pode afirmar de concreto é que essa planta não existe fisicamente hoje em dia.

O MAPA DE 1805

De acordo com Barreto (p.315) no verbete sobre José Pedro César, “o primeiro

plano de Porto Alegre de que temos noticia concreta, apesar de não o havermos

encontrado, é a “Planta da Villa de Porto Alegre pelo brigadeiro Roscio”4, anterior a 1805,

ano da morte do autor naquela mesma capital”.

Nos doze anos passados no Brasil (1767-1779), Francisco João Roscio conheceu

bastante bem o território brasileiro e, em particular, o do Rio Grande do Sul. Em função

disso é convidado a retornar, em 1781, como Comissário das demarcações do Sul para a

província de São Pedro. Devido aos seus serviços na Comissão de Demarcação, foi

promovido a Coronel logo a seguir. Em 1801, com o falecimento do Governador do

4 Francisco João Roscio nasceu na Ilha da Madeira, Portugal, por volta de 1740. Faleceu em Porto Alegre

em 10/10/1805. Formou-se na Academia Militar de Lisboa e, com a conclusão de seus estudos, foi

nomeado ajudante de Infantaria com exercício de engenheiro em 23/07/1762. Trabalhou durante algum

tempo no interior de Portugal, nomeadamente Elvas e Almeida, onde passou a trabalhar com o Coronel

Jacques Funk. Tendo sido nomeado para comandar uma nova comissão de engenheiros no Brasil, Funk

escolheu Roscio para acompanhá-lo, sendo por este motivo promovido a Capitão, em 1767. Ficou no

Brasil até junho de 1779, quando obteve licença para voltar a Portugal.

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Estado de S. Pedro do Sul foi nomeado governador interino, permanecendo no cargo até

1803. Executou diversos trabalhos cartográficos referentes principalmente ao Rio Grande

do Sul, e é de sua autoria uma Planta da Cidade do Rio de Janeiro de 1769. Faleceu em

Porto Alegre em 10/10/1805.

Mas, em relação à “Planta da Villa de Porto Alegre pelo Brigadeiro Roscio”,

referida apenas por Barreto em um outro verbete que não o dedicado a Francisco João

Roscio, nenhuma outra referência foi encontrada no material pesquisado. As provas de

sua existência são, portanto, ainda mais escassas que as referentes à planta do capitão

Montanha e, portanto, acredita-se que ela não tenha existido realmente.

O MAPA DE 1820

Logo após a independência do Brasil em 1822, uma carta Imperial datada de 14

de novembro do mesmo ano, eleva Porto Alegre à categoria de cidade. Em 1825, tem-se

notícia de uma planta topográfica para o ordenamento de sua ocupação feita por José

Pedro César (fig.3). Segundo Macedo (1993, p.51), “a planta foi entregue à câmara em

29 de outubro de 1825 para controlar a ocupação dos terrenos de marinha e para fornecer

os alinhamentos”. Dessa planta também não se conhece o original.

José Pedro César (fig.3), que teria sido o seu autor, nasceu em Leiria, Portugal,

por volta de 1780, e faleceu em Porto Alegre em 27/04/1831(segundo BARRETO, 1973,

p. 310). Veio para o Brasil antes de 1803, para a Capitania do Piauí. Esteve um período

no Rio de Janeiro e depois foi designado para o serviço público na Capitania de S. Pedro,

onde em 1816 foi encarregado do balizamento dos canais interiores da Lagoa dos Patos e

da sua respectiva planta. Em 1817, foi nomeado administrador geral dos Correios entre

S. Pedro do Rio Grande e S. Paulo. A partir daí, elaborou vários mapas na capitania, entre

eles um Plano da Ilha Pintada (1821) e vários outros endereçados ao governador João

Carlos de Saldanha, com pareceres referentes a questões de servidões e ressarcimento de

expropriação. Um “Mappa da Província de San Pedro” feito por ele, levantado sob a

direção do Ilmo. Sr. Visconde de São Leopoldo, foi publicado em 1839 por Th.

Duvotenay (geógrafo), com gravação de Alexis Orgiazzi, em Paris, acompanhando os

Annaes da Província de S. Pedro.

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Fig. 3 – Assinatura de José Pedro César. Fonte: Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés

Vellinho.

Em relação a Planta de Porto Alegre as primeiras notícias datam de 08 de julho

de 1825 quando José Pedro César dirige à Câmara o seguinte ofício em resposta à

solicitação dos vereadores de uma planta de Porto Alegre:

Fui entregue do oficio que Vas. Sas. se servirão dirigir-me em 06 do

corrente, e em resposta ao mesmo, cumpre dizer a Vas. Sas. que já vou

passar a limpo o esboço que tenho do Plano desta cidade, por mim

levantado no anno de 1820, devendo mostrar agora alguma diferença,

por se terem erigido neste período bastantes propriedades, em não me

achar authorizado para as examinar: logo porém que o tenha concluído,

farei com que seja apresentado a Vas. Sãs (PORTO ALEGRE d,

08/07/1825).

O cartógrafo propõe-se, portanto, a fazer uma atualização de um Plano da cidade

levantado por ele, anteriormente, em 1820. E é este mapa que, em ofício datado de 12 de

agosto de 1825, ele entrega à Câmara:

Remeto a Vas. Sas. o Plano desta Cidade que por ordem do Ex. Govor.

desta Província Conde da Figueira levantei no anno de 1820: ele não

poderá servir mais do que para esclarecimento das dimensões das ruas

e quadras pois que para aclarar as infinitas questões que diariamente se

necessitão sobre a divisão de fundos dos terrenos seria preciso fazer-se

em ponto maior, o que se pode remediar formando-se um caderno com

todas as quadras em ponto grande enumerando-as: eu poderia fazer se

Vas. Sas. julgarem necessário. Já disse a Vas. Sas. que no decurso de 5

annos que tem decorrido depois que este Plano foi levantado, se tem

edificado grande numero de moradas de casas, as quais para melhor

clareza se podem medir e descrever no mesmo. Estimarei que com este

pequeno trabalho se poupe a Vas. Sas. mendigarem informações que

muitas vezes só servem de [...]5 os negócios. Porto Alegre 12 de agosto

de 1825. José Pedro César (PORTO ALEGRE d, 08/07/1825).

Em 13 de agosto, a Câmara registra que “recebe-se officio do Coronel José Pedro

César com a remessa do Plano desta Cidade, ao qual se resolve responder na vereação

5 [...] – Ilegível.

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seguinte” (PORTO ALEGRE a, Fl. 9 fte.). Quatro dias depois, em 17 de agosto, “officiou-

se ao Coronel José Pedro César em resposta ao officio que ele dirigiu a esta Câmara com

a remessa do Plano da Cidade por ele levantado e offerecido para esclarecimento desta

mesma Câmara” (PORTO ALEGRE a, Fl. 9 verso).

Em 14 de setembro de 1825, José Pedro César comunica à Câmara o envio de

novos desenhos:

Remeto a Vas. Sas. as quadras que formam todas as ruas desta Cidade,

em ponto grande, conforme lembrei a Vas. Sas. no meu oficio de 12 do

mês pretérito. Envio igualmente a Vas. Sas.o Plano das Praças do Peixe,

e Paraíso que em tempo do Exmo Govor. Conde de Rio Pardo se

projetou fazer por julgar que Vas. Sas. não terão, e que pode acontecer

venha a servir para o futuro. Estimarei que Vas. Sas. aprovem este meu

trabalho e que apesar do meu diminuto préstimo, não me poupem,

sempre que o julgarem a bem do público (PORTO ALEGRE d,

14/09/1825).

Trata-se do desenho das quadras em escala maior, para dirimir as questões da

definição de lotes nas quadras, que ele havia se proposto fazer quando da entrega do Plano

da Cidade. Um destes desenhos consta entre os documentos do Arquivo Histórico Moysés

Vellinho (fig.4).

Nessa mesma data (14/09/1825), a Câmara acusa o recebimento e anota que

“recebeu-se officio do Coronel José Pedro César com data de hoje, e remessa das quadras

que formão todas as ruas desta cidade e hum plano da Praça Paraizo” (PORTO ALEGRE

a, Fl. 13 verso).

Fig. 4 – Desenho de quadras de J. P. César, 1825. Fonte: Arq. Histórico de Porto Alegre

Moysés Vellinho

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Na sessão da Câmara de 26 de outubro de 1825, Francisco de Paula e Souza

apresenta o mapa da Cidade, fazendo com que de imediato a Câmara se dirija ao

Presidente da Província “exigindo a aprovação do mesmo Exmo. Presidente ao dito

Mappa pela necessidade que delle tem para se poder regolar” (PORTO ALEGRE a, Fl

20, fte.). Contudo, em 29 de outubro de 1825, o Presidente da Província José Feliciano

Fernandes Pinheiro se exime da aprovação ao declarar o seguinte: “Devolvo a referida

planta guardando-me de interpor juizo em matéria que não he de minha profissão e

inteligência” (PORTO ALEGRE e, 29/10/1825). Na ata da sessão da Câmara de 05 de

novembro, os vereadores registraram o recebimento da resposta do Presidente da

Província (PORTO ALEGRE a, Fl. 21 fte.). Em seguida, a 12 de novembro de 1825,

enviam Representação “a sua Majestade Imperial, pedindo a aprovação da Planta da

Cidade, que offereceo a esta Câmara o Coronel José Pedro César pelos motivos que

exarou na mesma representaçao” (PORTO ALEGRE a, Fl. 23 fte.). E, no dia 16 de

novembro, os vereadores resolvem dirigir “ao Coronel José Pedro César officio de

agradecimento pela offerta da Planta desta cidade” (PORTO ALEGRE a, Fl. 24 fte.).

Apesar da existência desse conjunto de documentos que referenciam

explicitamente a Planta de José Pedro Cesar, Barreto (p.315) contesta, em sua análise dos

registros da Câmara Municipal de Porto Alegre, que ela tenha de fato existido. Segundo

ele:

“Com base num registro constante da ata de 14-9-1825, da Câmara

Municipal de Porto Alegre, o ‘Boletim Municipal’, Porto Alegre, jan. a

abril de 1940, vol. III. ano II. N° 4, pg. 88, declara que a primeira planta

da capital data daquele ano foi feita por José Pedro César: ‘Recebeu-se

oficio do Coronel José Pedro César com data de hoje e remessa das

quadras que formam todas as ruas desta cidade e um plano da Praça do

Paraíso’. No mesmo número (pg. 151) o ‘Boletim Municipal’ pede

‘com especial empenho, cópia de uma planta feita em 1825 pelo coronel

José Pedro César’. Não se infere, porém, do texto transcrito, que tenha

existido essa planta, pois é provável que as ‘quadras remetidas’ não o

tenham sido sob essa forma, senão descritivamente apenas. Tanto mais

que ali mesmo, ao referir-se a documente iconográfico, a ata consigna

‘... e um plano da Praça do Paraíso’, afastando, portanto, a interpretação

de que as ‘quadras’ estivessem representadas em plano ou planos”.

De fato, a conclusão de Barreto se baseia na análise de arquivos que realmente

não dizem respeito à Planta da Cidade e, sim, a outros desenhos que o Coronel José Pedro

César forneceu à Câmara. Além disso, os documentos pesquisados dão conta da sua

existência. E como um dos últimos registros da época se refere a um pedido de aprovação

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da Planta por parte de Sua Majestade Imperial, no Rio de Janeiro, pode-se pensar que a

planta talvez tivesse ficado por lá. Mas outros registros sobre essa planta, datados de 1872,

podem provar que a planta feita pelo Coronel José Pedro César estava na Província pelo

menos até este ano.

Em 23 de outubro de 1872, o então Presidente da Província José Fernandes da

Costa Pereira Jr., comunica à Câmara que mandou “o Engenheiro Director Geral das

Obras Públicas tirar cópia da planta pertencente à Câmara Municipal (...) organizada em

1820 pelo Coronel de Engenheiros José Pedro César” (PORTO ALEGRE f, 23/10/1872).

Em 09 de dezembro de 1872, a Câmara se diz “inteirada (...) de haver S. Excia. mandado

tirar copia da planta pertencente à mesma Câmara, e organizada em 1820 pelo Coronel

de Engenheiros José Pedro César” (PORTO ALEGRE b, Fl. 05, verso).

É inegável, portanto, que a planta da cidade de Porto Alegre de 1820 encontrava-

se nos arquivos da Câmara Municipal ainda em 1872. Sua existência é tão fora de dúvidas

que para Macedo (1993, p.59), ao se referir a planta de Porto Alegre de 1838 como “a

primeira planta de Porto Alegre que conhecemos6”, afirma que a mesma “parece ter sido

calcada sobre o original de José Pedro César”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os primeiros traçados e plantas da cidade (1772-1820) visavam especificamente

à demarcação de lotes, quadras e o alinhamento urbano. Tinham por objetivo, portanto,

estabelecer os limites das propriedades e obedeciam, assim, a interesses bem específicos,

ou seja, dos proprietários. Talvez por isso mesmo deles só restem vestígios documentais,

tais como ordens de execução, ofícios de encaminhamento de plantas, tudo muito oficial,

muito cartorial e claramente com fins de legitimação. Daí serem os cartógrafos, a quem

os mapas foram encomendados e ordenados, funcionários do governo (oficiais do

exército, superintendentes). No entanto, as provas materiais – os mapas e plantas

propriamente ditos – sumiram, desapareceram ou, na melhor das hipóteses, se perderam

nos arquivos e cartórios. Justamente esses mapas e não outros, mais imperfeitos e

perigosos, como o que Zambeccari desenhou em 1833, às vésperas da Revolução

Farroupilha. Como é possível, então, que esses mapas, cuja existência foi tão bem

6 No momento da escrita do livro de Macedo, não se tinha conhecimento da Planta de Porto Alegre de

1833 de Lívio Zambeccari cujo original se encontra no Museo Del Risorgimento em Bolonha, Itália.

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levantada pelos historiadores, tenham simplesmente desaparecido, a ponto de se supor,

inclusive, que eles poderiam não ter existido de fato? Penso que a discussão sobre a sua

existência ou não existência nos leva a um grande impasse. Talvez fosse interessante,

então, mudar o foco da questão e se perguntar como esses mapas desapareceram, o que

os teria feito sumir: conflito de interesses? Lutas entre proprietários pelo direito ao solo?

Novas orientações governamentais?

Vários historiadores, como apontado, discorrem sobre essas três plantas (1772,

1805 e 1820) terem ou não existido. Pelas argumentos aqui colocados este trabalho

inclina-se a afirmar que as plantas de 1772 e de 1820 existiram e a de 1805 não.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Paranhos. Porto Alegre no século XVIII. In: CONGRESSO SUL-

RIOGRANDENSE DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA, 3., 1940, Porto Alegre. Anais...

Porto Alegre: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, 1940. v. 3.

BALEM, Mons. Dr. João Maria. A Paróquia de São José de Taquari. Porto Alegre:

Tipografia do Centro, 1952.

BARRETO, Abeillard. Bibliografia Sul-Riograndense: a contribuição portuguesa e

estrangeira para o conhecimento e a integração do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro:

Conselho Federal de Cultura, 1973. 2 vol. p. 310.

MACEDO, Francisco Riopardense de. História de Porto Alegre. Porto Alegre: Editora

da Universidade/UFRGS, 1993.

NEVES, Gervásio R. & MARTINS, Liana Bach. Duas questões de geografia histórica da

cidade de Porto Alegre. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do

Sul, Porto Alegre, ano 86, n. 141, 2006-2007.

OLIVEIRA, Clóvis Silveira de. Porto Alegre: a cidade e a sua formação. 2; Ed. Porto

Alegre: Metrópole, 1993.

PORTO ALEGRE a. Câmara de Vereadores. Atas de Vereança. Porto Alegre, 1825-1829.

Manuscrito. Não Publicado. Disponível em: Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés

Vellinho.

PORTO ALEGRE b. Câmara de Vereadores. Atas de Vereança. Porto Alegre, 1872-1877.

Manuscrito. Não Publicado. Disponível em: Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés

Vellinho.

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PORTO ALEGRE c. Câmara de Vereadores. Correspondência Passiva da Câmara de

Porto Alegre. Porto Alegre, 1824 a 1826. Manuscrito. Não publicado. Disponível em:

Arquivo Histórico de Porto Alegre Moyses Vellinho.

PORTO ALEGRE d. Câmara de Vereadores. Construção e Melhoramentos do

Município. Porto Alegre, 1783 a 1850. Manuscrito. Não publicado. Disponível em:

Arquivo Histórico de Porto Alegre Moyses Vellinho.

PORTO ALEGRE e. Câmara de Vereadores. Correspondência Passiva da Câmara de

Porto Alegre. Porto Alegre, 1824 a 1826. Manuscrito. Não publicado. Disponível em:

Arquivo Histórico de Porto Alegre Moyses Vellinho.

PORTO ALEGRE f. Câmara de Vereadores. Correspondência Passiva da Câmara de

Vereadores de Porto Alegre. Porto Alegre, 1871-1872. Manuscrito. Não publicado.

Disponível em: Arquivo Histórico de Porto Alegre Moyses Vellinho.

RICOEUR, Paul. La memoria, la historia, el olvido. Buenos Aires: Fondo de Cultura

Econômica, 2000.

WEIMER, Günter. A origem do Traçado de Porto Alegre. [S.l.]: Ache Tudo e Região,

1999. Disponível em:

<http://www.achetudoeregiao.com.br/RS/porto_alegre/A_origem_do_tra%C3%A7ado.

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