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Os materiais, as formas e os espaços na Casa de Alcanena de Eduardo Souto Moura
Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura
Joana Inês Ribeiro de Brito
Orientação por: Professor Carlos Manuel Castro Cabral Machado
Ano lectivo 2011/2012
2
3
Índice
Introdução 5
Análise da obra – A Casa de Alcanena 9
Arquitectura popular e arquitectura romana romana 26
Mies van Der Rohe 38
Le Corbusier 72
Interpretação da obra – A Casa de Alcanena 100
Conclusão 127
Bibliografia 128
4
5
Introdução
Pretendi com esta dissertação desenvolver uma investigação sobre o papel dos
materiais no projecto arquitectónico. Vivemos num contexto em que o mercado da
construção disponibiliza um leque de materiais ilimitado, perante o qual, a
arquitectura contemporânea parece perder as referências no momento da
materialização das formas. Face à necessidade de reflectir sobre este assunto, tentei
clarificar quais as possíveis motivações que orientam o projecto quanto à escolha dos
materiais. Identifiquei e procurei compreender algumas estratégias projectuais nas
quais a escolha dos materiais vem contribuir significativamente para a harmonia da
arquitectura.
Dada a já longa investigação desenvolvida pelo arquitecto Eduardo Souto de
Moura quanto aos materiais e à forma singular como estes surgem na sua obra, esta
constituiu o objecto de estudo para a aproximação a este tema. A partir da análise de
uma das suas obras, a Casa de Alcanena, levantaram-se questões mais abrangentes e
ligações a outras obras procurando esclarecer o modo como o arquitecto Souto de
Moura trabalha os materiais. Rapidamente percebi que a questão dos materiais não
poderia ser separada das formas e espaços que se criam, tornando-se fundamental a
compreensão dessa relação que, no fundo, está na base de uma aplicação lógica dos
materiais. O objectivo passou por entender como a definição dos materiais e o
significado que o arquitecto lhes dá concorrem para a coerência da sua obra,
entendendo, assim, qual a estratégia ou linha condutora que sustenta o seu modo
singular de conceber e entender os materiais na arquitectura.
Após uma análise detalhada da Casa de Alcanena, constata-se que para a sua
compreensão são essenciais as referências à arquitectura romana, à arquitectura
popular e à arquitectura do movimento moderno.
As referências à arquitectura romana e à arquitectura popular relacionam-se
fortemente pois torna-se clara derivação da segunda da primeira como será
posteriormente demonstrado. Esta influência diz respeito principalmente à
implantação e tipologia da casa. No entanto, a arquitectura construída no sul
português poderá ter constituído uma constante referências para outras opções do
6
projecto, dada a relação próxima da casa de Alcanena com todo o tipo de
condicionantes do lugar.
Apesar do claro interesse em aprofundar estes temas, a abrangência deste
trabalho permitirá apenas uma abordagem mais profunda à arquitectura do
movimento moderno enquanto referência fundamental para a compreensão da
arquitectura e do papel dos materiais nesta casa.
As obras de Mies van der Rohe e Le Corbusier estabelecem claras relações com a
obra de Eduardo Souto Moura, passando a sua influência, tanto pelo processo de
abstracção da forma, como pelos modos de concepção do espaço e de utilização dos
materiais que propõem. A partir da compreensão destes materiais, formas e espaços
do movimento moderno pretendeu-se interpretar os mesmos no projecto da Casa de
Alcanena.
Não tive, com este trabalho, a pretensão de acrescentar à investigação
arquitectónica um assunto original. Arrisquei assim, abordar mais uma vez Eduardo
Souto de Moura e o movimento moderno pois entendo que um contributo à evolução
da arquitectura depende em grande parte de um melhor entendimento da
arquitectura do presente. Entendi que seria útil um trabalho que reformulasse um
tema essencial para o meu futuro profissional, pelo que, apostei na reflexão sobre uma
das questões fundamentais da arquitectura que penso que tinha necessidade de
compreender mais profundamente.
7
1. Alçado poente-sul da Casa de Alcanena
8
2. Alçado nascente-norte da Casa de Alcanena
9
Análise da obra – A Casa de Alcanena
10
6. Terreno de inserção da Casa de Alcanena
7. Planta de inserção da Casa de Alcanena
3. Localização da Casa de Alcanena no país
5. Transição entre montanha e planície
4. Localização da freguesia de Zibreira
11
A “Casa em Alcanena” de Eduardo Souto de Moura localiza-se na freguesia de
Zibreira, conselho de Torres Novas. Alcanena e Torres Novas são municípios vizinhos
que pertencem ao distrito de Santarém ou seja, à antiga província do Ribatejo. A
paisagem da região distingue-se pela presença das Serras de Aire e Candeeiros, que
actualmente constituem um Parque Natural, a norte, e pelas planícies e pequenas
colinas a sul, entre as quais, se encaixam as Bacias Hidrográficas do Rio Alviela e do Rio
Almonda que desaguam mais a sul no Tejo. Como é bem observado na descrição da
Zona 4 da obra “Arquitectura Popular em Portugal”, nesta zona:
“O Norte, húmido e verde, funde-se com o Sul, mais seco e ralo de viço. (…)
Espécies florestais de uma e de outra encontram aqui os seus limites – o carvalho e o
pinheiro marítimo dão lugar ao sobreiro e ao pinheiro manso, personagem de primeiro
plano na paisagem do mediterrâneo”1.
A casa implanta-se sobre uma dessas pequenas elevações de um território
praticamente plano. O terreno é ocupado por uma vinha, inserindo-se esta numa
paisagem relativamente árida, de azinheiras e onde se elevam alguns ciprestes. A
pequena elevação, onde a construção se encaixa, localiza-se praticamente no centro
do terreno do proprietário, tornando-se um local favorável à sua implantação não só
pela sua centralidade, mas principalmente pela relação de visibilidade que esta
localização permite estabelecer com a envolvente. Da casa é possível ter um panorama
extenso da paisagem, sendo esta, por sua vez, dominada pela presença do edifício que
constitui uma referência importante no local.
Uma sucessão de caminhos de acesso às fiadas de vinha cria uma grelha na qual
se insere o acesso à casa. Este, numa solução clara e lógica, acrescenta um percurso a
esta grelha ligando o topo da colina à estrada nacional – limite norte do terreno -
através de um caminho paralelo às fiadas de vinha.
Na aproximação à casa, através do único acesso existente, a sua imagem surge
como uma sucessão de muros com a qual se poderá relacionar o aspecto de uma
1 Arquitectos Nuno Teotónio Pereira, António Pinto de Freitas e Francisco da Silva Dias, “Zona 4 – Estremadura”, “Arquitectura Popular em Portugal”, Alfredo da Mara Antunes...[et.al], Lisboa, 1998, (1ª Edição 1961), 2º Volume, Pág. 123
12
8. Ruinas romanas de Conimbriga
9. Vista norte da Casa de Alcanena
13
ruína, apesar da forma destes muros serem planos rectangulares perfeitos. Trata-se da
imagem de muros entre os quais há espaço exterior. Esta leitura deve-se não só à
ocultação da cobertura mas também à existência de vários pátios, limitados por
muros, e ao prolongamento destes muros no espaço exterior. A leitura do edifício não
é a de um volume no qual se abrem vãos, mas sim de uma trama irregular de muros
ortogonais entre os quais se desenvolvem espaços exteriores e interiores apenas
separados por vidro. A casa surge assim como uma composição irregular de formas
radicalmente geométricas e abstractas. Os eixos de referência destes muros
ortogonais correspondiam inicialmente às linhas de composição do terreno (N-S e E-
O), no entanto, a determinada altura, rodam 45o “fixando-se melhor na paisagem”2, o
que os tornou oblíquos ás fileiras de vinha e ao percurso de acesso. Estes muros
parecem ser cravados no terreno e terminar aleatoriamente, como se pudessem
prolongar-se infinitamente. Esta leitura da casa remete-nos directamente para a
referência neoplástica tanto na decomposição do edifício em muros, como na
aparente ausência de uma ordem clara que os fixe.
Estes muros que se encaixam na colina não são todos do mesmo material:
“Entre muros brancos, de pedra e em tijolo, fixámos vidros espelhados. Entre
muros brancos, de pedra e em tijolo, a paisagem subia suavemente em simetria.”3
Estas palavras explicam o significado da construção naquele lugar. A variação de
materiais dá-se principalmente nas paredes exteriores. A leitura a partir do percurso
de acesso, ou seja, de norte, é a de uma fachada em pedra por traz da qual se vêem
muros rebocados e com a aproximação se distinguem paredes em vidro e uma face em
tijolo. Esta percepção da casa foi outra das motivações que levou a não posicionar a
casa ortogonalmente ao percurso:
“Penso que a rotação dê maior força à ideia da fachada em pedra. Se a entrada tivesse
sido axial todos teriam pensado numa casa em pedra, e teriam tido uma falsa
2 Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena”, in Eduardo Souto Moura, ed. Luiz Trigueiros, pag.104 3 Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena”, in Eduardo Souto Moura, ed. Luiz Trigueiros, pag.104
14
10. Vista sul da Casa de Alcanena
11. Vista nascente da Casa de Alcanena
15
impressão; efectuando a rotação, mostro o reboco, denuncio a fachada de pedra mas
deixo perceber que a casa não é de pedra.”4
De outros pontos de vista do terreno a casa apresenta diferentes materialidades
sendo possível ver desde uma casa apenas em reboco branco, a uma casa em reboco,
pedra e tijolo. O aspecto da casa muda de acordo com o ponto de vista do observador.
A paisagem muda de acordo, não só com o posicionamento do observador, pois
diferentes espécies de vegetação ocupam vastas parcelas de terreno, mas também
com as alterações dessa vegetação ao longo do ano. A casa adquire este carácter
mutável que, juntamente com a transformação dos grandes planos da paisagem
natural possibilitam interessantes quadros de texturas que se modificam no espaço e
no tempo. O carácter mutável e plástico da paisagem é assim transportado para a
arquitectura criando-se uma forma única de relação com o lugar. O resultado plástico
que o lugar oferece, fruto da necessária manipulação da paisagem para utilização
agrícola, é assim potenciado por uma composição de cores e texturas através do uso
de diferentes materiais de construção.
Ao contrário da abstracção da casa de muros brancos que contrasta com a
paisagem, visível a nascente, a variação de cor, a estereotomia e a textura dos
revestimentos de tijolo e pedra aproximam o edifício às cores e texturas da paisagem e
simultaneamente imprimem um carácter mais concreto à casa, podendo estes
materiais constituir até uma referência para a percepção da dimensão do edifício que
o reboco não possibilita, tanto pelo decomposição da casa em partes que possibilitam,
como pela escala introduzida, por exemplo pelos tijolos.
“A casa […] é enorme, decididamente são três casas unidas por um pátio”5.
O pátio é quadrado, no seu interior algumas árvores e um tanque em pedra
pontuam os limites e um círculo desenhado pelo pavimento reforça a sua centralidade.
4 Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena e casa 1 em Miramar”, in Eduardo Souto de Moura, António Esposito, pag.143 5 Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena e casa 1 em Miramar”, in Eduardo Souto de Moura, António Esposito, pag.143
16
13. Casa de Alcanena – Planta da Cave
12. Casa de Alcanena – Planta do piso térreo
17
Trata-se, por um lado, do espaço de recepção às diferentes “casas” que se
desenvolvem à sua volta, e por outro, do remate do longo caminho de acesso à
habitação. Esta leitura da casa é óbvia na sua planta que revela uma clara ordem na
composição, apesar da aparente aleatoriedade compositiva da leitura distante da casa.
A fachada, um muro cego que constitui o primeiro plano a partir do acesso à
casa, constitui o lado nascente-norte do quadrado, protegendo de certa forma a casa,
que se desenvolve em forma de U por traz desta. Este U é composto pelos três corpos;
os quartos a nascente-sul que se abrem nesta direcção; as salas a poente-sul, abrindo-
se porém na face a poente-norte evitando a excessiva exposição solar; e os serviços
que, sendo também visíveis do caminho de acesso, se fecham relativamente ao
exterior, fazendo-se a iluminação através dos pequenos pátios quase encerrados.
Todas “as casas” se unem através da galeria que se desenvolve em torno do
pátio central. A entrada principal localiza-se junto à esquina da zona das salas, perto da
piscina, existindo ainda uma entrada secundária directamente para o volume dos
serviços.
Estes corpos não se lêem como volumes como já a visão global da casa
anunciara. O espaço interior resulta da aproximação de planos que não se tocam e se
prolongam para além dos limites desse espaço interior. Nas esquinas, acontecimentos
como uma porta, uma escada, um pequeno pátio ou o prolongamento de um dos
planos, permitem que as paredes se individualizem. Existem três pequenos pátios em
esquinas cujas “paredes não se tocam entre elas e deixam entrever porções da
paisagem.”6, estabelecendo, uma transição gradual do interior para o exterior: um no
remate do corredor dos quartos, onde surge um segundo tanque em pedra, e que se
abre misteriosamente para o pátio central, um junto à cozinha, onde existe um forno
tradicional, e outro por traz da garagem para o qual se vira um quarto de serviço. Estes
pátios relacionam-se com a paisagem através do estreito intervalo entre paredes ou de
pequenas janelas que a enquadram.
A leitura de “planos” e não de “volumes” é ainda provocada pelo facto de, por
vezes, entre os longos muros paralelos, apenas grandes planos de vidro separarem o
6 Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena e casa 1 em Miramar”, in Eduardo Souto de Moura, António Esposito, pag.143
18
14. Casa de Alcanena – Corte pelo pático
15. Casa de Alcanena - Cortes e alçados
19
17. Casa de Alcanena – Axonometria do
projecto realizado
18. Casa de Alcanena - Pormenor de caixilharia
16. Casa de Alcanena – Maquete do ante-projecto
20
19. Vista do volume dos quartos
20. Vista da fachada e volume dos quartos
21
interior do exterior deixando, neste caso, ver a paisagem em grandes “porções”. Tal
acontece no volume das salas e dos quartos onde os muros se prolongam para além do
limite de vidro que separa interior e exterior. Assim, apesar da casa se desenvolver em
torno de um pátio, esta abre-se completamente ao exterior, sendo o pátio um espaço
de chegada descoberto com pouco contacto com os espaços interiores da casa, e não
um espaço de relação visual entre estes, como muitas vezes acontece quando se utiliza
o pátio em habitação.
A continuidade e opacidade dos muros, que permite a leitura contínua entre
exterior e interior e uma imagem abstracta da casa, são apenas excepcionalmente
quebradas por pequenas janelas ocasionais e pelo forno que se destaca no exterior.
Estes parecem surgir como o uso do tijolo e da pedra, como pequenos elementos de
ligação da forma ao programa, contribuindo para a identificação destes “muros” com
uma “casa”.
“Três volumes, três materiais: a fachada principal é em pedra, para os quartos
utilizei uns tijolos comprados numa demolição em Lisboa (era uma fábrica de vidro e os
tijolos tinham uns fragmentos), o resto está em reboco branco.” 7
Sendo o sistema construtivo da casa baseado em paredes portantes, a aplicação
dos materiais de que Eduardo Souto Moura fala, diz respeito ao revestimento dos
muros. Estes muros são por vezes diferentes nas suas duas faces. Nestes casos, ambos
os materiais são assumidos nos topos onde surgem lado a lado. Alguns planos tornam-
se, assim, ainda mais independentes, relacionando-se a sua caracterização material
com o seu significado. Todas as paredes da casa são rebocadas a branco com excepção
da fachada principal que é revestida a pedra e das três paredes revestidas a tijolo –
uma no pátio de entrada e duas limitando o espaço da piscina. No entanto, estes
revestimentos excepcionais dizem respeito apenas a uma das faces da parede, aquela
que está voltada para a paisagem.
7 Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena e casa 1 em Miramar”, in Eduardo Souto de Moura, António Esposito, pag.143
22
21. Vista do pátio para sul
22. Vista do Pátio para norte
23
24. Pátio central a partir do pátio de remate do corredor dos quartos
23. Pátio de remate do corredor dos quartos
24
25. Zona de entrada na galeria 26. Zona de entrada
27. Sala de estar 28. Salas de jantar e estar
25
A fachada voltada para o percurso de chegada é em pedra por ser a superfície
mais visível da casa, como é tradicional na arquitectura portuguesa, sendo este
material mais nobre que os restantes. Das paredes revestidas a tijolo, a do pátio
central, marca a porta principal da casa, enquanto as presentes junto à piscina, visíveis
da porta de entrada, parecem distinguir uma área social exterior e talvez
simplesmente criar uma composição favorável no que respeita às texturas e cor dos
planos da casa ao definir um momento de maior proximidade com o lugar, oposto ao
contraste estabelecido pelos muros brancos. Por sua vez, tais planos em reboco branco
conformam espaços neutros e permitem dar destaque à paisagem que enquadram.
Os muros brancos contrastam ainda com os grandes envidraçados, com
caixilharias em ferro por vezes pintado de vermelho, com a calçada em calcário, com
os pavimentos em madeira e cerâmica e com as madeiras do mobiliário. Na transição
do interior para o exterior, que o vidro define, os pavimentos mudam, no entanto os
planos verticais parecem alheios a esse limite pois a sua textura não muda,
prolongando-se para o exterior. Sendo os vidros espelhados, esta continuidade é clara
a partir do interior, no entanto, quando vistos de fora, os elementos exteriores
adquirem continuidade e infinitude através do seu reflexo no espelho, o que preserva
a privacidade do espaço interior.
26
29. Villa romana de Torres Novas, Monte alentejano e Casa de Alcanena
27
A arquitectura popular e a arquitectura romana
28
30. Esquisso da Casa de Alcanena
31. Monte Branco da Serra – Arredores de Moura
29
A influência da arquitectura romana e da arquitectura popular está claramente
presente em várias etapas do projecto da Casa de Alcanena tornando-se essencial para
a compreensão das suas formas, tipologia e implantação.
O posicionamento no território e a horizontalidade da Casa de Alcanena
assemelham-se aos das construções agrícolas do sul do país. Tanto os “montes”
alentejanos como as “villas” romanas situam-se normalmente num cabeço.
A analogia com a arquitectura popular portuguesa não se limita à implantação.
Eduardo Souto Moura absorve desta arquitectura a tipologia que se encontra na base
do projecto:
“A ideia da tipologia lembra a casa agrícola do sul, com um pátio central sobre o
qual se vira a casa dos patrões, a dos operários e os abrigos para as máquinas”8.
Esta relação pode ser comprovada na comparação com alguns exemplos de
“montes” documentados no Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal. Nestes,
verifica-se a ideia de pátio como espaço de distribuição para os diferentes volumes,
com diferentes funções, mas pertencentes a um mesmo conjunto. Nestas construções
rurais, o interior também não estabelece relação apenas com pátio, abrindo-se, na
maioria dos casos estudados, directamente ao exterior. Em algumas situações existem
até duas entradas principais: uma directamente para a habitação, normalmente o
elemento principal do conjunto, e outra para o pátio. No entanto, para além destes
exemplos terem por vezes um carácter mais fechado ao exterior devido ao seu
isolamento e às circunstâncias da sua construção, o pátio parece ser aqui um espaço
não só de distribuição mas também um espaço aglutinador, de relação entre as várias
partes que o limitam, o que não acontece na Casa de Alcanena.
A referência à arquitectura popular poderá ser alargada às villas romanas
construídas no mesmo território em cuja tipologia as construções já se desenvolviam à
volta de um pátio, e da qual, a arquitectura popular será certamente herança:
8 Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena e casa 1 em Miramar”, in Eduardo Souto de Moura, António Esposito, pag.143
30
32. Monte da Diabrória – Arredores de Beja
31
33. Monte da Serra da Gata – Arredores de Moura
32
36. Vista poente-sul da Casa de Alcanena
35. Construção em Moita
34. Planta da villa romana de Torres Novas, Segundo Afonso do Paço
33
“(…) legiões de homens e mulheres, quando o tempo está de feição, se dirigem
para os campos onde de longe em longe se recortam os “montes”, cabeças de
herdades como as velhas “villas” romanas, marcos dos grandes latifúndios.”9
Duas frases de Eduardo Souto Moura transportam-nos ainda para a referência à
arquitectura romana:
“Só no fim do projecto vi, lá perto, uma quinta romana com a mesma tipologia, e
talvez isso signifique que a casa agrícola portuguesa do sul deriva dos Romanos.”10
“Os primeiros esquiços do projecto apontam para uma vila romana, que visitei,
nos arredores. Ao longo do projecto, as imagens foram perdendo essa ligação,
permanecendo o essencial – os elementos físicos que compõem a construção.”11.
Talvez a quinta a que Eduardo Souto Moura se refere seja a Vila Cardílio, uma
grande propriedade rústica do Portugal romano. Estas villas romanas encontram-se
sobretudo no Alentejo e Algarve, onde ainda hoje se localizam os latifúndios, sendo
comum a organização das construções em torno de pátios. Na vila Cardílio as principais
salas dispõe-se em torno de um pátio de forma quadrada para o qual abrem o único
acesso. Apesar da planta existente ser uma interpretação das ruínas, parece também
aqui claro, o papel do pátio enquanto elemento unificador dos espaços à sua volta.
A referência à arquitectura popular do sul do país poderá ainda associar-se a
outras características desta obra. O uso do muro cego e continuo, apenas rasgado por
pequenas janelas pode ser uma delas. Este é comum na arquitectura tradicional do sul
onde o clima e os materiais de construção disponíveis não propiciam grandes vãos. A
caracterização feita, na obra “Arquitectura Popular em Portugal”, neste caso às
construções das zonas do Ribatejo e Estremadura, comprovam esta realidade:
9 Arquitectos Frederico George, António Azevedo Gomes e Alfredo da Mata Antunes, “Zona 5 – Alentejo”, “Arquitectura Popular em Portugal”, 3ºVolume, Pág.3 10 Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena e casa 1 em Miramar”, in Eduardo Souto de Moura, António Esposito, pag.143 11 Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena”, in Eduardo Souto Moura, ed. Luiz Trigueiros, pag.104
34
37. Imagem de habitação em Fernão Ferro
38. Desenhos de habitação na península de Setúbal
39. Habitação nos arredores de Leiria
35
“O adobe e a taipa (…) emprestam cunho à construção – obrigam ao
fortalecimento das paredes e ao emprego de gigantes, ao mesmo tempo que impõem
um pé direito justo. A casa, simples, prende-se ao chão, integra-se na paisagem.”12
O revestimento em reboco e pintado de branco pode também ter alguma
relação coma arquitectura do lugar. Este revestimento corresponde na arquitectura
tradicional do sul ao uso da cal como revestimento comum a quase toda a construção.
A presença e a forma como o forno tradicional surge assemelham-se ainda à forma
com este e outros anexos surgem na casa ribatejana, nomeadamente, nas habitações
na orla do Pinhal de Leiria:
“As edificações têm notável profundidade e recorte caprichoso que lhes advém
do adoçamento de sucessivas dependências complementares da habitação – forno,
telheiro, estábulo ou arrecadação. (…) A ampliação da habitação faz-se
organicamente, pela adição de novas dependências, no piso térreo.” 13
Parece ser esta forma de construir “orgânica” que Eduardo Souto Moura parece
querer evocar quando desenha o forno saliente no muro e talvez até quanto
fragmenta a casa em diferentes “casas” como se esta pudesse ser fruto de sucessivas
ampliações.
12 Arquitectos Nuno Teotónio Pereira, António Pinto de Freitas e Francisco da Silva Dias, “Zona 4 – Estremadura”, “Arquitectura Popular em Portugal”, Pág.180 13 Arquitectos Nuno Teotónio Pereira, António Pinto de Freitas e Francisco da Silva Dias, “Zona 4 – Estremadura”, “Arquitectura Popular em Portugal”, Pág.217
36
40. Casa de Alcanena de Eduardo Souto Moura, de 1987 e Casa de Tijolo de Mies van der Rohe, de 1923
37
Mies Van der Rohe
38
33. Casa Mosler, 1924-26
41. Casa Mosler, 1924-26
43. Arranha-céus em vidro, 1922 42. Arranha-céus em vidro, 1921
39
A importância do movimento moderno para o entendimento da obra de Eduardo
Souto de Moura relaciona-se com o facto da obra de Mies Van der Rohe ser
provavelmente a que mais influencia a sua.
Parece haver, nos projectos de praticamente toda a obra de Mies, uma atenção
muito especial à questão dos materiais e à forma como estes são utilizados. Talvez a
aproximação e manuseamento precoce dos materiais proporcionada pela profissão de
pedreiro desenvolvida pelo seu pai, tenham tido influência neste facto. A imagem da
sua obra rapidamente se associa a uma construção requintada com materiais
duradouros e expressivos. Numa análise mais detalhada do seu trabalho, podemos
perceber, tanto um prazer na utilização do material enquanto sistema estrutural, como
um claro gosto pela textura dos materiais, podendo constituir-se assim duas formas de
entendimento dos materiais em quase constante contraponto na sua arquitectura. A
estas, poderá juntar-se uma ocasional vontade de anular a materialidade através de
uma “arquitectura branca” também presente em algumas obras.
A forma como os materiais surgiriam na obra de Mies estabelece uma clara
relação com a linguagem e com os conceitos espaciais desenvolvidos na sua
arquitectura. Na obra de Mies, poderá identificar-se um primeira fase, correspondente
ás primeiras obras, em que Mies desenvolve com Peter Behrens uma arquitectura que
podemos considerar neoclássica, baseada na tradição dos discípulos de Schinkel. Após
a sua participação na 1ª Guerra Mundial, a obra de Mies parece entrar gradualmente
numa nova fase. Mies aproxima-se dos movimentos de revitalização das artes e da
arquitectura que surgiam um pouco por toda a europa central e que o levariam à
procura de uma arquitectura mais adaptada à nova realidade, que se traduz numa
linguagem claramente abstracta, identificada na depuração ornamental e
geometrização volumétrica dos seus edifícios.
Estas duas linguagem (neoclássica e abstracta) sobrepõem-se entre 1919 e 1926, como
é identificável na dissonância entre, por exemplo, a Casa Mosler dos anos 1924 a 1926,
ainda no modo anterior à guerra, e os projectos de edifícios de escritórios para a
Estação Friedrichstrasse, em Berlim, ainda de 1921 e 1922 - arranha-céus revestidos a
vidro, de formas onduladas e recortadas, claramente abstractas. Esta capacidade de
projectar simultaneamente em dois modos tão distintos indicia que Mies terá
40
44. Projecto para um edifício de escritórios em betão, 1923
45. Projecto para em casa de campo em betão, 1923
41
preferido a transformação paulatina, sólida e ponderada da sua arquitectura à rápida
experimentação de novas imagens cuja arquitectura ainda não dominava totalmente.
Nesta nova fase da sua obra e no que diz respeito ao espaços e composições que
Mies cria, torna-se indispensável distinguir os dois conceitos espaciais entre os quais
iria no futuro oscilar. Trata-se dos princípios dos dois grandes movimentos em debate
no chamado “período heróico” da arquitectura moderna: purismo e neoplasticismo.
Richard Padovan associa o purismo ao classicismo, ou ao “tipo-clássico”14, o que
poderá ajudar a esclarecer o conceito espacial com o qual se relaciona o movimento
purista. Este “tipo-clássico” caracteriza-se pela aproximação à criação de espaço
interior em oposição ao exterior, à tendência centrípeta do espaço, e à estruturação
ordenada e proporcional do edifício. Em oposição, o neoplasticismo poderá
caracterizar-se pela continuidade e tendência centrífuga do espaço e pela livre
associação de elementos contrastantes.15 Os projectos para um “edifício de
escritórios” e uma “casa de campo”, ambos em betão, desenvolvidos em 1923 podem
ser exemplos claros destas duas tendências. O volume único, a estrutura regrada e a
centralidade da entrada do edifício de escritórios opõe-se à fragmentação volumétrica,
liberdade compositiva e assimetria da casa de campo. O conflito entre o clássico e não-
clássico, que se poderá, segundo Richard Padovam, identificar em vários outros
momentos da história, de forma quase cíclica, parece ser essencial para a manutenção
e evolução da arquitectura. Face às contínuas cisões, cria novas soluções de
reconciliação. É da conciliação das faces opostas do conflito entre purismo e
neoplasticismo que surge, em 1929, o Pavilhão de Barcelona de Mies, como será
explicado mais à frente, constituindo uma obra fundamental no processo evolutivo da
arquitectura.
A forma como os materiais surgiriam na obra de Mies, principalmente após a 1ª
Guerra mundial, estabelece uma clara relação com a linguagem e com estes conceitos
14 Richard Padovan, “Mies van der Rohe Reinterpreted”, International Architect Magazine, S.D. (1984), Pág.39: “This classical type, to which all architecture must conform to a greater or lesser degree if i tis to “be” architecture, arises from the representational function and construtive nature of building.” 15 Richard Padovan, “Mies van der Rohe Reinterpreted”, International Architect Magazine, S.D. (1984) Pág.39
42
46. Bolsa de Amesterdão, Berlage, 1898 - 1903
45. Palatine Chapel, em Aachen, onde Mies
cresceu, 796-805
43
espaciais (“clássico” ou neoplástico) que, por sua vez, estabelecem uma clara relação
com o tipo de programa ao qual os edifícios respondem.
O uso dos materiais na obra de Mies enquanto elementos estruturais relaciona-
se com a ideia de clareza estrutural que parece constituir um princípio vital da sua
arquitectura. Mies absorve este princípio de Berlage para quem os edifícios deviam
revelar claramente a sua construção, sem dissimulações. A forma, derivada do
processo construtivo, seria sempre o resultado, nunca um objectivo. Na Bolsa de
Amesterdão, Berlage expõe a pedra, o tijolo e o ferro com que constrói o edifício pois
para si, como para Mies:
“A construção é o que causa uma impressão mais forte (…) o uso do tijolo, a
honestidade dos materiais (…)”16
A cada material corresponderia uma forma de construir. Assim, o domínio do
“disciplinar caminho dos materiais”17 torna-se fundamental para a criação de uma
arquitectura em que a ordem, o rigor e a clareza estejam presentes. No seu discurso
inaugural como director da secção de arquitectura do “Armour Institute os Tecnology”
em 1938, Mies reservaria a cada material – madeira, pedra, tijolo, aço e betão – uma
breve descrição das suas qualidades enquanto fundamento de um sistema estrutural
que nos ensina a construir:
“Reconhecemos que não se consegue nada pelo material, mas apenas pelo uso
correcto do material.”18.
Esta sua atitude, de profundo rigor e verdade construtiva na utilização dos
materiais verifica-se desde a fase inicial da sua carreira. De entre esses primeiros
16 Mies Van der Rohe, citado por Jean-Louis Cohen, “The Kröller-Müller Project”, Ludwig Mies Van der Rohe, 2007, Pág.22 17 Mies Van der Rohe, “Discurso Inaugural como Director de la Seccíon de Arquitectura del Armour Institute of Techonology”, 1938, Escritos, diálogos y discursos, 2003, Pág.45 18 Mies Van der Rohe, “Discurso Inaugural como Director de la Seccíon de Arquitectura del Armour Institute of Techonology”,1938, Escritos, diálogos y discursos, 2003, Pág. 46
44
47. Monumento a Bismarch, 1910
49. Casa Mosler, 1924-26
48. Casa Kroller-Muller, 1912
45
trabalhos, os projectos para o Monumento a Bismarch, de 1910, e a Casa Kroller-
Muller, de 1912, revelam o gosto pela monumentalidade associada à construção em
pedra, enquanto na Casa Mosler (1924-26) em tijolo, a influência de Berlage se torna
clara. Já na sua fase abstracta, a clareza estrutural dos edifícios é reforçada. As
estruturas em esqueleto constituem o tema central das composições, tanto nos
Arranha-céus em Vidro de 1921 e 1922, que a através da seu total revestimento em
vidro, como no seu projecto para o “Edifício de escritórios em betão” de 1923, em que
deixa este material construtivo à vista.
Este uso dos materiais enquanto sistema construtivo seria ainda aplicado nas
primeiras explorações de Mies do espaço neoplástico. No projecto para a Casa de
Campo de Tijolo, (1923) este surge pela primeira vez enquanto espaço contínuo
assimetricamente definido por planos livremente colocados. Esta pesquisa prolonga-
se, no mesmo ano, na Casa de Campo em Betão, anteriormente referida, e em 1925-
27, na Casa Wolf, principalmente através de uma complexificação volumétrica que
permite definir diferentes funções num mesmo espaço contínuo. Nestas obras, Mies
continua a expor os materiais estruturais à vista. Na última, única das três que foi
concretizada, paredes, muros, escadas e pavimentos exteriores, são cuidadosamente
construídos em tijolo adquirindo, cada elemento construtivo, o tipo de assentamento
mais conveniente. Dos volumes geométricos de tijolo apenas se destacam as palas
rebocadas de branco que se projectam para o exterior e que, estando suspensas, não
poderiam ser de tijolo.
Ainda na década de 20, Mies explora em duas obras a anulação da materialidade,
como era proposto pelo movimento purista: através do revestimento com reboco
pintado de uma cor apenas. O uso deste material e o monocromatismo, normalmente
de cor branca, permitem uniformizar todo o edifício, anulando a diferença entre o que
é estrutural e o que é enchimento. Esta materialidade surge na exposição da
Weissenhofsiedlung em Estugarda como uma linguagem comum a arquitectos
modernos dos vários países, que responderia à vontade difundida de criar uma
arquitectura colectiva e acessível a todos. Uma universalização que diria respeito tanto
a uma questão prática de necessidade de normalização e industrialização da
construção para que todos pudessem usufruir de uma habitação digna, como a uma
linguagem transmissível a todos, por ser capaz de emocionar pela própria forma – o
46
50. Projecto para Casa de Campo de Tijolo, 1923
47
51. Casa Wolf, 1925-27
48
53. Casas Afrikanischestrasse, 1926-27
52. Casas Afrikanischestrasse, 1926-27
49
volume puro e abstracto - e com a qual o homem moderno se identificaria pela sua
natureza discreta.
Esta forma de usar os materiais surgiria, nos anos 20, nas Casas de
Afrikanischestrasse, de 1926-27 e no Bloco de Apartamentos para a
Weissenhofsiedlung, em Estugarda, de 1927, associando-se aos programas de
habitação plurifamiliar em grande desenvolvimento nestes anos e aos princípios
compositivos “clássicos”, como é de certa forma lógico dada a repetição modular que
estes propiciam. Para além destas obras, apenas os edifícios para a Fábrica (1930-31) e
para a Sede (1937-38) da Vereinigte Seidenwebereien AG, em Krefeld adoptariam, no
futuro, esta homogeneidade material.
Todos estes projectos revelam uma relação com a composição clássica pois
constituem volumes únicos, cúbicos e nos quais a relação com o exterior é feita
através de uma fenestração regular que revela uma organização tripartida e com
recurso a simetrias, percebendo-se claramente uma modulação da estrutura.
Nas casas em Afrikanischestrasse, apesar de alguns traços próprios da linguagem
neoclássica como as simetrias e desenho tripartido dos alçados e a presença do tijolo à
vista no embasamento e nas pilastras decorativas que reforçam as entradas, Mies
revela a sua aproximação progressiva a esta “arquitectura branca” modernista. O uso
da cor bege, a textura irregular do reboco e a marcação das varandas a branco são
também características, que revelam uma certa tendência de Mies para fugir à
expressão totalmente neutra, que caracterizaria os edifícios da Weissenhofsiedlung.
Mas em Estugarda, apesar da liberdade e variedade no desenho dos fogos e da
utilização de materiais texturados no interior, o bloco branco e regularmente
estruturado afirma de forma clara a normalização e anonimato da habitação moderna.
Um uso dos materiais associado ao gosto pelas suas texturas, cores e
estereotomia tinha sido já anunciado, por exemplo, no modo a forma dos Arranha-
céus de 1921 e 1922 é condicionada pela exploração do carácter reflector do vidro:
“estas curvas (…) estão determinadas por três factores: iluminação suficiente para o
interior, a massa do edifício vista da rua e, finalmente, o jogo de reflexos.”19. É, no
entanto, no Pavilhão de Barcelona, de 1929, que esta atenção às características
19 Mies Van der Rohe, “Proyecto de Rascacielos para la Estación Friedrichstrasse en Berlín”, 1922, Escritos, diálogos y discursos, 2003, Pág.23
50
54. Pavilhão de Barcelona, 1929
51
plásticas dos materiais surge mais claramente. Esta obra introduz, como foi referido
anteriormente, uma nova espacialidade na história da arquitectura que conjuga a
composição e espacialidade puristas e neoplásticas, devendo-se, de certa forma, a essa
conquista espacial, a oportunidade de introduzir o novo modo de usar os materiais,
enquanto elementos não estruturais.
A grelha estrutural remete-nos para a ordem e clareza estrutural “clássicas” e a
sua planta revela a criação de um espaço interior, que as paredes perimetrais abraçam
e dentro do qual, no entanto, cria um espaço contínuo definido por planos verticais
deslizantes. A continuidade e liberdade compositivas são ainda acentuadas pela
cobertura que, do exterior do recinto, parece pousar aleatoriamente sobre os muros.
As 8 colunas em metal cromado simetricamente dispostas suportam a cobertura,
libertando os finos planos em mármore e vidro de um papel estrutural. Estes planos
apenas separam os espaços, como se pudessem mover-se, opondo-se à estaticidade
da parede de tijolo ou betão em que o papel estrutural é denunciado pelo material. O
muro, enquanto elemento arquitectónico, perde assim o seu carácter estrutural e as
opções materiais parecem acompanhar o seu novo carácter, transformando-o em
elemento de uma composição plástica de texturas. As 4 variedades de pedra - dois
mármores verdes, travertino e Ónix “doré” – e vidro colorido - verde, cinza, branco e
transparente – presentes compõem um espaço contínuo em que, os padrões, reflexos
e transparências dos materiais se sucedem e misturam num jogo complexo. Estes
planos surgem rigorosamente dispostos para direccionar o visitante parecendo poder
mover-se horizontalmente. As diferentes cores e texturas dos muros permitem ainda
que estes se individualizem, perdendo-se a sensação de limite que uma
homogeneidade material causaria.
Mies levaria, a partir daqui, a exploração de texturas a uma dimensão
essencialmente plástica ao usar, ao longo da sua obra, materiais de texturas muito
expressivas, à vista, quer tivessem um papel estrutural, de revestimento, ou de divisão
de espaços. As três formas de usar e compreender os materiais que caracterizarão a
sua obra são assim identificáveis até 1929, com a construção do Pavilhão de Barcelona.
A sua aplicação nunca será porém repetitiva ou monótona, pois surgiria no futuro em
obras muito diferentes, propondo em cada uma, uma nova possibilidade de pensar o
material, a linguagem e o espaço.
52
55. Casa Tugendhat, 1928-30
53
Na casa Tugendhat, de 1928-30, por exemplo, o espaço neoplástico e a
materialidade rica em texturas explorados no interior e principalmente no piso
inferior, estão associados a um volume de formas cúbicas e revestimento exterior
branco, acentuando a fusão da linguagem anónima purista à expressividade dos
materiais texturados, como se ambas se compensassem mutuamente. Poderá
levantar-se a hipótese da preferência de Mies pelas texturas dos materiais naturais
como a madeira e o mármore, cujos padrões se caracterizam pela ausência da linha
recta ou de homogeneidade, se dever à sua capacidade de enriquecer ou compensar a
artificialidade e abstracção das formas puras. As texturas que Mies utiliza, perecem
assim, surgir como substituição da decoração, de certa forma naturalista, já que, com a
abstracção, esta deixou de se expressar através das formas.
Uma diferente abordagem é a “Casa para um casal sem filhos”, de 1931, em que
Mies voltaria à desmaterialização do volume em vários planos, entre os quais, porém,
texturas complexas se misturam com planos brancos rebocados que permitem uma
valorização das texturas pelo contraponto estabelecido, como viria a ser explorado
mais tarde na casa Farnsworth.
Como novo modo de explorar a espacialidade e composição clássica e uma
expressão dos materiais estruturais destaca-se o projecto para o Reichsbank, de 1933,
um edifício cuja fachada resulta da composição de elementos construtivos numa
malha regular. Neste caso, uma parede-cortina é composta por panos alternados de
vidro e tijolo que constroem um ritmo regular e uniforme em todo o edifício. Esta
linguagem viria a ser profundamente explorada por Mies nas fachadas dos edifícios da
sua obra na América.
Torna-se ainda fundamental a forma como a espacialidade “clássica” e
“neoplástica” é resolvida nos projectos de casas-pátio, que Mies desenvolve em 1934 e
1935, nos quais muros delimitam um espaço, dentro do qual, exterior e interior são
contínuos, interrompidos apenas por planos que parecem deslizar. Nestes estudos, a
relação entre o espaço e a materialidade torna-se clara. Os materiais parecem aqui
expressar claramente o seu papel no conjunto. Enquanto o muro envolvente de tijolo é
estrutural, imóvel - o limite do espaço -, os planos, que entre este parecem deslocar-se
arbitrariamente criando diferentes momentos num espaço contínuo, adquirem um
carácter plástico através das texturas, transparências e padrões abstractos.
54
56. “Casa para um casal sem filhos”, 1931
57. Reichsbank, 1933
55
58. Hubbe House Project, 1934-35
59. Projecto de casa com três pátios, 1934
56
60. Plano final do IIT 1942-46
57
Em 1938 Mies emigra para a América iniciando uma nova fase da sua obra. Nesta
fase, explora uma linguagem baseada na expressão de sistemas construtivos que
consistem principalmente em estruturas porticadas de perfis metálicos. Esta
linguagem relaciona-se com a crença de Mies em que “tecnologia e arquitectura estão
estreitamente ligadas”20 e devem crescer juntas para que a arquitectura seja “símbolo
verdadeiro do nosso tempo”21. Segundo Richard Padovan, esta linguagem sofre ainda
uma influência importante da arquitectura vernacular industrial. Os grandes pavilhões
construídos pela indústria permitiam, através de estruturas metálicas optimizadas e
ritmadas, cobrir um grande espaço sem obstáculos. Assim, a exploração deste sistema
construtivo constituiu, na obra de Mies, uma nova forma de conciliar a unidade,
regularidade e proporção clássicas e o espaço contínuo e composição livre
neoplásticos, que se exploraria sob essas estruturas.
Esta linguagem é explorada por Mies em duas variantes principais: os pavilhões
que se libertam gradualmente da estrutura no seu interior; e as torres em que a
estrutura se torna o tema de composição das fachadas e o espaço do piso térreo se
abre ao exterior.
Quanto aos princípios de composição “clássicos” e neoplásticos em que Mies
baseia a sua arquitectura surge ainda, nesta fase, uma transposição destes princípios à
escala da cidade que se torna fundamental para a compreensão das suas obras.
No IIT, em cuja construção Mies participa de 1938 a 1958, é possível comprovar
esta transposição. O conjunto divide-se, segundo um eixo central, em duas partes
simétricas. Porém, a disposição dos edifícios e da arborização, em cada uma das
partes, parece não obedecer a qualquer regra que fixe o seu lugar. Volumes
horizontais, sem alinhamentos comuns a não ser as alturas por vezes próximas,
parecem poder deslizar livremente ou prolongar-se indefinidamente, e definem, na
continuidade espacial, momentos de compressão e descompressão entre si,
orientando as pessoas ao longo do campus sem repetição ou monotonia. A influência
neoplástica é aqui clara.
20 Mies Van der Rohe, “Mensaje al Illinois Institute of Tecnology”,1950, Escritos, diálogos y discursos, 2003, Pág. 54 21 Mies Van der Rohe, “Mensaje al Illinois Institute of Tecnology”,1950, Escritos, diálogos y discursos, 2003, Pág. 54
58
61. Crown Hall, 1952-56
63. Villa Rotunda, Palladio, 1591 62. Altes Museum, Friedrich Schinkel, 1923-30
59
Simultaneamente, a regularidade, axialidade, clareza estrutural,
monumentalidade, unidade e proporção clássicas tornam-se os argumentos principais
da linguagem e forma dos edifícios. No plano, uma grelha sobrepõe-se à planta
rectangular do campus. Os edifícios surgem como extrusões desta grelha pois a sua
estrutura, cuja métrica tem por base o módulo da grelha do campus, é assumida nas
fachadas, sendo os planos entre a trama metálica preenchidos de diferentes formas
por vidro ou tijolo. A concretização desta ideia dá origem a diferentes pavilhões no
interior dos quais, quando o programa permite, Mies retoma a espacialidade
centrífuga e contínua do neoplasticismo. O Crown Hall, de 1952-56, é, como refere
Colin Rowe, exemplo desta sobreposição:
“(…)ao contrário da composição característica de Palladio, [o Crown Hall] não é
uma organização hierarquicamente ordenada que projecta o seu tema centralizado de
maneira vertical em forma de cobertura piramidal ou cúpula. Ao contrário da Vila
Rotunda, mas como tantas outras composições dos anos vinte, o Crown Hall não possui
nenhuma verdadeira zona central da qual o observador possa situar-se e abarcar a
totalidade do edifício. (…) uma vez dentro, o edifício, mais do que um clímax espacial,
oferece um sólido central, que não é afirmado energicamente, é certo, mas que resulta
como um centro isolado à volta do qual o espaço circula lateralmente seguindo as
janelas limítrofes. A horizontalidade potencia ainda uma certa tensão para o exterior e,
por esta razão, apesar do efeito centralizador da zona de entrada, o espaço mantém,
embora de um modo muito mais simplificado, aquela organização rotativa e periférica
dos anos vinte, e não a composição predominantemente centralizada da planta
verdadeiramente palladiana ou clássica.”22
É na estrutura regular visível nos pavilhões do IIT que a influência da tradição
construtiva alemã se torna mais clara. Ao contrário do que acontece nos edifícios
industriais americanos - esqueletos estruturais metálicos revestidos por fachadas livres
opacas e envidraçadas, na versão final do IIT, as colunas surgem integradas no muro, à
semelhança das construções alemãs – esqueletos estruturais em madeira ou metal
22 Colin Rowe,”Neo-«classicismo» y arquitectura moderna II”, 1956-57,Manierismo y arquitectura
moderna y outros ensayos, 1999,Pág. 145
60
64. Minerals and Metals Research Building, 1943
61
entre os quais se construíam os planos de parede. Esta ostentação do mecanismo
técnico que suporta o edifício parece ter um importante valor simbólico e formal.
Assim, em alguns dos seus projectos para o IIT, a estrutura do edifício é realmente
visível na fachada, como por exemplo nos topos do Minerals and Metals Research
Building, de 1943, no Commons Building, de 1952-53; em outros, não sendo possível
expor os perfis metálicos pela obrigatoriedade de os revestir a betão para melhor
resistência ao fogo, os perfis metálicos visíveis do exterior constituem uma segunda
estrutura, na qual se apoiam as paredes de tijolo e a caixilharia dos planos de vidro,
mas que se fixa à estrutura principal que fica atrás da fachada como acontece, por
exemplo, no Alumni Memorial Hall, de 1945.
Este parece ter sido, como constata Keneth Frampton, o ponto de partida para a
construção da “fachada articulada” que surge nos edifícios em altura 860/880 Lake
Shore Drive23 e que combina a estrutura do edifício, a estrutura do muro e o vidro
numa cadência perfeita:
“o muro molda-se neste caso (…) como uma malha tecida: uma subtil integração
da estrutura com as janelas que exibe a mesma capacidade da alvenaria portante para
delimitar qualquer extensão de espaço”.24
Esta solução revela que a expressividade dos elementos construtivos se
sobrepõe aqui à verdade construtiva. Alguns perfis metálicos utilizados são uma
espécie de fingimento. Eles contribuem para construção de uma composição, de uma
imagem do edifício, não têm qualquer papel estrutural. Na fachada do 860/880 Lake
Shore Drive, a fixação do pano de vidro, que no Alumni Memorial Hall era feita na face
exterior do perfil metálico, é feita na face interior do mesmo - permitindo que os perfis
ganhem expressão na fachada projectando-se para o exterior. No entanto, de quatro
em quatro perfis, estes coincidem com a coluna estrutural do edifício à qual o vidro,
23 Kenneth Frampton, “Mies van der Rohe y la monumentalización de la técnica, 1933-1967”, “História crítica de la arquitectura moderna”, 4ª edição revista e ampliada, Barcelona, 2009 (versão original 2007) Pág. 237 24 Kenneth Frampton, “Mies van der Rohe y la monumentalización de la técnica, 1933-1967”, “História crítica de la arquitectura moderna”, 4ª edição revista e ampliada, Barcelona, 2009 (versão original 2007) Pág. 237
62
65. Alumni Memorial Hall, 1945
63
66. Commons Building, de 1952-53;
64
67. Torres de Apartamentos 860 Lake Shore Drive, 1948-51
65
nestes casos, se fixa directamente. Para que a sucessão de perfis não seja interrompida
são soldados perfis metálicos directamente às colunas. (estes perfis não têm qualquer
papel estrutural). A regularidade, continuidade e projecção dos finos e contínuos perfis
contribui para o carácter abstracto dos edifícios, pois permite uma certa
homogeneidade da fachada, apesar de, neste caso específico, devido à proximidade
entre encerramento e estrutura, haver uma percepção simultânea da verdadeira
estrutura que subdivide a fachada em módulos maiores e se torna clara no piso térreo,
onde prevalece isolada.
Esta solução, assim como a omissão de alguns suportes estruturais no Pavilhão
de Barcelona25, vêm demonstrar como, na obra de Mies, a sinceridade construtiva
parece ser, mais do que um princípio moral, uma estratégia compositiva. A percepção
dos elementos estruturais da arquitectura permite a redução da sua forma à
essencialidade e depuração dos esquemas construtivos, parecendo ser a construção
dessas composições depuradas e sintéticas o seu objectivo principal.
A fachada do 860/880 Lake Shore Drive seria a primeira de várias outras fachadas
semelhantes que, no seu conjunto, constituíram uma linguagem característica das
torres de Mies na América. Poderá notar-se uma intencionalidade na composição das
suas fachadas que se aproxima, de certa forma, à composição de texturas. Estas
fachadas surgem como tramas cuidadosamente elaboradas onde as formas e cores dos
perfis metálicos, a cor dos vidros e até das cortinas são importantes para a concepção
das superfícies que se tornam identitárias dos seus diferentes prismas.
Ao carácter modular, simétrico e centralizado do volume e esquema organizador
dos pisos do 860/880 Lake Shore Drive, surgem ainda associados os princípios
neoplásticos patentes, tanto na implantação dos volumes que parecem girar sobre um
eixo, como no interior dos fogos: espaços amplos e francamente abertos ao exterior,
que Mies organiza principalmente através de finos planos e do posicionamento do
mobiliário. No piso de entrada destas e de outras torres, Mies tende também, a
contrariar toda a verticalidade destas formas através da horizontalidade desse piso de
entrada, desenhado em continuidade com o espaço público. O edifício parece flutuar
25 “As oito colunas cruciformes foram suplementadas por outros cinco suportes escondidos na cavidade das paredes exteriores que consistem em duas folhas de mármore.” Sandra Honey, “Who and what inspired Mies van der Rohe in Germany”, Architectural Design, volume 49, nº ¾, 1979, Pág.102
66
68. Promontory Apartments, 1946-49
69. 860-880 Lake Shore Drive, 1948-51
70. 900-910 Lake Shore Drive, 1953-56
71. Edifício Seagram, 1959-64
72. Federal Center, 1959-64
67
sobre o espaço contínuo do piso térreo. Mies retoma aqui, por vezes, o uso de texturas
expressivas, como acontece no edifício 900-910 Lake Shore Drive, de 1952-56, e no
Edifício que alberga a Sede regional da IBM, de 1966-69, para enriquecer os amplos
espaços de recepção do piso térreo.
Os conceitos explorados nos primeiros pavilhões do campus do IIT evoluem
ainda para outros pavilhões que iriam desde a pequena casa Farnsworth, de 1951, ao
enorme Convention Hall, de 1953, tendendo sempre a permitir a cobertura de um
espaço amplo e livre de elementos estruturais. A este, surge novamente associado, o
uso de materiais de texturas complexas, com um papel quase pictórico, de que são
exemplo os planos deslizantes que surgem no piso térreo no projecto para o Teatro
Nacional de Mannheim, de 1952-53.
Na Casa Farnsworth, estrutura metálica, caixilharia, cortinas, tecto e tapeçaria
são brancas, tendo o chão em travertino uma cor clara que se funde com o branco dos
elementos anteriores. As formas do edifício tornam-se assim claramente legíveis no
contexto de densa vegetação em que se encontra, destacando-se ainda do mobiliário
que organiza o espaço interior. A escolha das cores e texturas dos diferentes
elementos desta obra torna possível a leitura do que Mies parece querer mostrar: o
abrigo mínimo do homem. Dois planos horizontais – piso e cobertura –, elevados do
solo por elegantes perfis, e os planos verticais das leves cortinas deslocáveis, que
definem continuidade ou descontinuidade entre exterior e interior, são os elementos
base deste espaço. Em contraste com estes, os planos texturados dos móveis e
divisórias em madeira e as peças de mobiliário isoladas, parecem surgir como
prolongamento das texturas naturais do exterior, acentuando a continuidade com
este. Esta casa demonstra assim, o uso de uma materialidade monocromática
diferente da “arquitectura branca” dos anos 20, mas de certa forma derivado desta.
Aqui, a uniformização através da cor branca permite unificar o pano de fundo sobre o
qual diferentes texturas ou cores ganham protagonismo, ou, segundo o mesmo
princípio, destacar e facilitar a leitura do edifício num contexto rico em texturas e
cores.
O projecto da Nova Galeria Nacional de Berlim de 1962-68 surge, de certa forma,
como uma diferente resposta à procura de conciliação entre a espacialidade clássica e
neoplástica. Aqui, Mies põe em paralelo: o espaço horizontal e centrífugo, sob uma
68
74.Sede regional da IBM, 1966-69 73. 900-910 Lake Shore Drive, 1952-56
75. Casa Farnsworth, 1951
69
76. Convention Hall, 1953
77. Teatro Nacional de Mannheim, 1952-53
70
78. Nova Galeria Nacional de Berlim, 1962-68
71
imponente cobertura plana (e do interior do qual se tem uma relação visual com a
cidade circundante) e o espaço centralizado de um pátio circunscrito, que se abre
verticalmente permitindo ver apenas o céu.
Concluindo, poderá constatar-se, no processo projectual de Mies, por uma lado,
uma certa regularidade de algumas opções compositivas, seja quanto aos materiais,
formas ou espaços, e simultaneamente, uma constante reinvenção e problematização
dessas opções em cada obra. Os materiais surgem fundamentalmente enquanto
sistema construtivo que exprimem, ou pelo valor plástico ou decorativo das suas
texturas e cores. No entanto, o modo como surgem adapta-se sempre a uma coerência
global do espaço alterando-se gradualmente ao longo da obra de Mies. Esta constante
mas sólida e coerente reinvenção permite que a obra de Mies seja uma rica
inesgotável fonte de novas leituras sempre diferentes. Eduardo Souto Moura parece
ser um dos vários arquitectos contemporâneos que bebe de Mies uma significativa
influência, construindo a partir desta uma nova arquitectura, claramente diferente da
de Mies e de outros seus herdeiros.
72
79. Casa Citrohan de Le Corbusier, 1927, Casa de Alcanena de Eduardo Souto Moura, 1987 e Casa
Mathes de Le Corbusier, 1935
73
Le Corbusier
74
75
Uma parte significativa da arquitectura do movimento moderno e da
arquitectura contemporânea, inclusivamente a de Eduardo Souto Moura, parece ter
como importante referência a obra de Le Corbusier. Tanto as formas geométricas
simples, despojadas de ornamento e muitas vezes rebocadas e pintadas de branco,
como o uso à vista de materiais de texturas e cores mais complexas como a pedra, a
madeira ou o betão comprovam essa relação. Estas duas materialidades constituem
duas tendências identificáveis na obra de Le Corbusier e que não são compreensíveis
sem os espaços, formas e intenções que as acompanham.
A primeira fase da obra de Le Corbusier resulta de um processo de abstracção
que tende a anular tudo o que possa perturbar a leitura da forma pura,
nomeadamente a textura e a variação cromática e formal dos materiais e elementos
construtivos. Este processo dá origem a edifícios e elementos arquitectónicos, cuja
imagem exterior se aproxima o mais possível de sólidos geométricos puros, através da
uniformização que o revestimento com reboco liso e pintado de branco permite. No
início dos anos 30, a obra de Le Corbusier vai transformar-se. Começa aqui a
desenvolver uma arquitectura mais relacionada com as circunstâncias particulares de
cada obra, cujo processo construtivo é por vezes rudimentar e onde predominam os
elementos construtivos à vista. Trata-se acima de tudo de uma maior relação com a
realidade presente no local, em oposição à abstracção e universalidade da
“arquitectura branca”. Estes dois modos diferentes de usar os materiais que em Le
Corbusier parecem ser diferentes momentos da sua obra ou respostas diferentes a
problemas diversos, na obra de Eduardo Souto de Moura, surgem por vezes no mesmo
edifício. Os elementos que utiliza são abstracções puras e geométricas, mas também,
ligações directas ao lugar e aos processos construtivos artesanais. O significado das
formas e materiais que surgem na Casa de Alcanena podem ser em parte
compreendidos através destes dois modos de projectar de Le Corbusier.
A chamada “arquitectura branca” tem origem numa procura, transversal a
quase toda a Europa central após a 1ª Guerra, de uma resposta arquitectónica e
plástica à nova sociedade. Esta alimenta em Le Corbusier o desejo de normalizar para
universalizar, tanto a nível plástico como técnico, a pintura e a arquitectura. Surge
assim, na obra de Le Corbusier, uma arquitectura mais racional, através da qual
procura representar o mundo e o programa da forma mais clara e transmissível
76
81. Pintura purista “Le bol blanc”, 1919, Le Corbusier
80. Ilustrações de formas puras do texto “Sobre a
plástica”
77
possível, baseando-se nas formas puras enquanto palavras-chave, pois acreditava que
tais formas constituiam uma linguagem comum a todos os homens.
Segundo Kenneth Frampton24, em 1920, o círculo da vanguarda parisiense de
pós-guerra que publicava a purista L’Esprit Nouveau, ou seja, o poeta protodadaísta
Paul Dermée e os pintores puristas Amédée Ozenfant e Charles-Edouard Jeanneret (Le
Corbusier), reimprimem a versão francesa de 1913 de “Ornamento e Delito” de Adolf
Loos. A influência de Loos, cuja arquitectura inicia um processo de recusa dos
ornamentos e de aproximação à vida do homem do seu tempo, torna-se assim decisiva
para a constituição da linguagem purista de Le Corbusier.
O purismo seria um movimento essencialmente pictórico. No entanto, parece
haver no percurso de Le Corbusier uma intercepção entre pintura e arquitectura,
sendo claro que a pesquisa feita no âmbito do movimento purista encontra fortes
relações com a depuração na sua obra arquitectónica.
A visão da obra de arte deste grupo baseava-se fundamentalmente na condição
de que a “sensação plástica” só se processa através de elementos primários: o
quadrado, o círculo e o triângulo “transportam consigo todas as propriedades emotivas
individuais, e transmitem uma sensação directa de algo definido, um efeito de clareza,
imediato e constante, que causa bem-estar, uma sensação verdadeiramente
plástica.”25. Este processo ocorreria de forma constante em todos os homens, pelo
que, as formas primárias constituiriam uma linguagem universalmente transmissível. A
esta condição acrescentavam a necessidade de uma ordenação precisa e clara – um
traçado regulador - e uma simultânea ligação à realidade, a um tema ou objecto
concreto, a partir do qual se processaria a síntese.
A casa “Citrohan”, de 1920, a Villa em Vaucresson e a Casa do Pintor Ozenfant,
ambas de 1922, altura em que eram escritos os principais textos do movimento
Purista, são obras nas quais o rigor, a síntese, a pureza e a busca do protótipo são
transferidos para a arquitectura. Nestas obras, surge clara a tradução destes princípios
numa “arquitectura branca”.
24 Kenneth Frampton, “Adolf Loos y la crisis de la cultura, 1896-1931”, 4ª edição, Barcelona, 2009 ,Pág. 96 25 A. Ozenfant e Ch. E. Jeanneret, “Sobre a plástica”, 1ª Edição: Revista “L’Esprit Nouveau nº1”, 1920, Publicação “Acerca do purismo – Escritos 1918-1926”, Edição Antonio Pizza, 1994, Pág.59
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82. Estrutura da Casa Dominó, 1915
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83. Casa Dominó, 1915
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84. Casa Citrohan, 1920
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85. Casa em Vaucresson, 1922
86. Casa do Pintor Ozenfant, 1922
82
83
Na sua obra “Por uma arquitectura”, publicada pela primeira vez em 1923, Le
Corbusier clarifica a sua visão da realidade social, artística e arquitectónica da nova
era, expondo a aplicação das ideias puristas à arquitectura. Lembrando a
essencialidade das formas puras - “Os nossos olhos são feitos para ver formas sob a
luz. As formas primárias são belas porque se lêem claramente”26 – Le Corbusier apela a
uma simplificação e racionalização, com base na geometria, que incida na obra
arquitectónica desde o volume ao desenho das plantas. Estas formas e um método
capaz de reinventar uma arquitectura com base no conceito de economia, que tão
bem teria guiado a estética do engenheiro até ao momento, seriam os meios pelos
quais os arquitectos conseguiriam responder ao dever da arquitectura de, por um lado,
“operar a revisão dos valores, a revisão dos elementos construtivos da casa”27 e por
outro, de emocionar, de alimentar o espírito: “A arquitectura é assunto de plástica.”28.
Esta dualidade entre o aspecto funcional e estético da arquitectura deveria constituir
uma constante em toda a obra arquitectónica, sendo as formas puras os elementos
que permitiriam esse duplo objectivo.
Como refere Frampton29, Le Corbusier inicia a sua investigação em busca de um
processo construtivo racional com a criação do Casa Dominó em 1915. Este protótipo
podia ser facilmente repetido em agrupamentos graças ao seu sistema estrutural
normalizado – uma trama de finos pilares que sustentam as lajes – que seria usado nas
casas posteriores. A procura da casa-tipo cuja forma fosse depurada ao máximo para
responder às necessidades do habitar - “a “Casa Máquina”, a casa produzida em série,
saudável (inclusivamente no aspecto moral) e bela tal como são os instrumentos e
ferramentas de trabalho que acompanham a nossa existência”30 – daria também
origem, em 1920, à Maison Citrohan. Este tipo é assim chamado pela sua analogia à
26 Le Corbusier, “Três Lembretes aos Senhores Arquitectos 1. Volume”, “Por uma arquitectura”, 1923, Pág. 11 27 Le Corbusier, “Casas em série”, “Por uma arquitectura”, Pág. 159 28 Le Corbusier, “Arquitectura 1. A Lição de Roma”, “Por uma arquitectura”, Pág. 103 29 Kenneth Frampton, “Le Corbusier y el Esprit Nouveau, 1907-1931”, “História crítica de la arquitectura moderna”, 4ª edição, Barcelona, 2009 Pág.153 30 Le Corbusier, “Casas em série”, “Por uma arquitectura”, Pág. 166
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87. Casa Citrohan, 1927
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estandardização do automóvel, sendo pensado para ser construído tanto isoladamente
como multiplicado e associado em conjuntos. Trata-se de uma “caixa” aberta nos dois
extremos. As paredes longitudinais, onde se localiza a estrutura, limitam os três pisos
que, na metade frontal da casa se transformam em apenas um espaço de pé direito
duplo e um terraço. Este espaço abre-se em direcção à fachada principal totalmente
em vidro iluminando-se a partir desta quase toda a casa. A normalização do espaço e
dos elementos que o definem decorre do desejo de Le Corbusier encontrar a casa
essencial, a síntese do habitar na sua forma mais simples e lógica. Esta pesquisa dá
origem a uma série de variações desta casa pelo que, Segundo Kenneth Frampton, “a
versão mais autêntica do tipo Citrohan não se realizaria antes de 1927, na exposição
da Weissenhofsiedlung em Estugarda”31. Juntamente com a Casa Dominó, esta seria a
contribuição de Le Corbusier nesta exposição. Ambas as obras surgem como volumes
brancos e uniformes graças ao revestimento de reboco pintado de branco, pelo que se
torna claro que estas seriam a cor e materialidade que melhor permitiriam a leitura
clara das “formas sob a luz” que Le Corbusier proclamara em “Por uma arquitectura”.
Na Weissenhofsiedlung em Estugarda, encontrar-se-iam num mesmo espaço as
experiências dos grandes nomes da arquitectura mundial, tornando-se claro a
consolidação desta “arquitectura branca” enquanto linguagem comum entre os
arquitectos modernos.
Esta arquitectura, apesar do desejo de uma nova forma, teria sempre uma
ligação muito clara com o passado, principalmente com a arquitectura clássica, tanto
na adesão às formas puras, como numa concepção de claros princípios ordenadores e
proporções baseadas na geometria. Seria à história da arquitectura e às necessidades a
que se propunha responder que o arquitecto “purista” iria buscar o que na pintura
seriam “os elementos primários de ressonância secundária”32, ou seja, a relação com
um tema ou objecto real, que deveria ser o mais universal possível.
Esta fase da obra de Le Corbusier seria fundamental para o desenvolvimento
das formas, espaços e princípios do movimento moderno, ficando esta arquitectura,
31 Kenneth Frampton, “Le Corbusier y el Esprit Nouveau, 1907-1931”, “História crítica de la arquitectura moderna”, 4ª edição, Barcelona, 2009 pág. 155 32 A. Ozenfant e Ch. E. Jeanneret, “O Purismo”, 1ª Edição: Revista “L’Esprit Nouveau nº4”, 1921, Publicação “Acerca do purismo – Escritos 1918-1926”, Edição Antonio Pizza, 1994, Pág. 71
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88. Edifício de apartamentos em Porte Molitor, 1933
87
em que o reboco branco constituiria, de certa forma, um meio de atingir a máxima
clareza e simplicidade formal, associada até aos nossos dias a uma arquitectura
adequada ao homem moderno.
Segundo Kenneth Frampton, na obra pictórica de Le Corbusier surge, a partir
de 1926, uma tendência para a substituição da abstracção por composições
figurativas.33 Esta tendência é acompanhada na sua obra arquitectónica por tipos de
edificação mais pragmáticos e de formas menos idealizadas. Trata-se de uma nova
atitude baseada num novo conceito de cidade ilimitada. A sua planificação poder-se-ia
reduzir a uma parte representativa e por isso monumental, desenvolvendo-se a
restante construção urbana de forma dinâmica e linear. Nesta fase, Le Corbusier
investe na produção de habitação cada vez mais adaptada à industrialização e alimenta
a sua admiração pela estética da máquina primorosamente desenvolvida pelos
engenheiros, o que justificaria a substituição da linguagem purista das casas dos anos
vinte de betão e rebocadas a branco pela fachada modular em aço e vidro de que é
exemplo o edifício de apartamentos na Porte Molitor de 1933.34
No entanto, segundo Frampton “esta apoteose da Estética do Engenheiro
ocorre paradoxalmente no preciso momento em que Le Corbusier começava a perder a
sua fé no triunfo inevitável da época da máquina. Pouco depois de 1933, começou a
reagir contra a produção racionalizada da “machine à habiter”, ainda que seja difícil
determinar se foi por desilusão em relação à técnica moderna em si ou por desespero
perante um mundo transtornado pela depressão económica e reacção política.”35 Le
Corbusier demonstraria ter, por um lado, fé na capacidade da sociedade industrial de
produzir ordem, mas por outro, medo das consequências de uma possível perversão
dessa sociedade industrial. Esta desilusão perante a realidade industrial é
acompanhada pela influência crescente do pintor brutalista Fernand Léger que a sua
pintura já antecipara. Neste contexto, a sua obra desenvolve-se em dois sentidos
33 Kenneth Frampton, “Le Corbusier y la Ville Radieuse, 1928-1946”, “História crítica de la arquitectura moderna”, 4ª Edição, Pág.160 34 Kenneth Frampton, “Le Corbusier y la Ville Radieuse, 1928-1946”, “História crítica de la arquitectura moderna”, 4ª Edição, Pág 180 a 185 35 Kenneth Frampton, “Le Corbusier y la Ville Radieuse, 1928-1946”, “História crítica de la arquitectura moderna”, 4ª Edição, Pág.185
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89. Casa de Fim de Semana, 1934
89
distintos. Por um lado, e principalmente nos programas públicos, adquire uma
monumentalidade e simbolismo característicos da arquitectura clássica;
simultaneamente, e principalmente na habitação, começam a surgir na sua obra
materiais, formas e técnicas de construção primitivas e vernáculas36 por vezes
misturados com tecnologias avançadas, parecendo ser tais obras, segundo Frampton
“metáforas sofisticadas para um futuro menos doutrinário em que os homens
misturariam livremente técnicas primitivas e avançadas segundo as suas necessidades
e recursos.”37. Esta descrição parece encaixar claramente na obra de Eduardo Souto
Moura, tornando-se possível compreender a referência de Le Corbusier como um
contributo fundamental para a definição da sua linguagem coerente e fundamentada.
Le Corbusier substitui a caixa branca purista por uma arquitectura em que os
elementos arquitectónicos ganham expressividade constituindo temas
arquitectónicos38, como se identifica nas abóbadas da Casa de Fim de Semana, de
1934, nos arredores de Paris, ou na cobertura inclinada sobre muros de pedra
estruturais da Casa Mathes, ambas de 1935. O uso de materiais diferentes e
contrastantes surge assim, não só como uma opção expressiva, mas também
construtiva.
As Casas Mandrot, de 1931, e Mathes, de 1935, constituem dois exemplos de
obras em que Le Corbusier aplica essa nova forma de pensar a arquitectura, menos
“doutrinária”, desvinculada da produção industrial e onde o carácter universal é de
certa forma substituído pelo carácter individual de cada projecto.
A Casa Mandrot é construída em Pradet, sul de França. Localizado no topo de
um pequeno promontório que domina a planície, o edifício estabelece uma relação
muito estreita com a paisagem. O lugar torna-se o mote para a orientação e definição
dos espaços da casa. Apesar de manter uma volumetria geométrica, a casa abandona o
volume único, enraizando-se no terreno através de uma maior variedade
36 Kenneth Frampton, “Le Corbusier y la monumentalizacíon de lo vernáculo, 1930-1960”, “História crítica de la arquitectura moderna”, 4ª Edição, Pág.226 37 Kenneth Frampton, “Le Corbusier y la Ville Radieuse, 1928-1946”, “História crítica de la arquitectura moderna”, 4ª Edição, Pág. 186 38 Kenneth Frampton, “Le Corbusier y la monumentalizacíon de lo vernáculo, 1930-1960”, “História crítica de la arquitectura moderna”, 4ª Edição, Pág.227
90
90. Casa Mandrot, 1931
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formal: uma plataforma elevada do terreno e de planta aproximadamente quadrada,
cujos lados são orientados em direcção aos pontos cardeais, unifica o volume em
forma de L da casa e o pavilhão cúbico para os amigos. Forma-se assim um átrio
exterior conformado, a norte e nascente, respectivamente, pelo braço maior e menor
do L, e a poente, por um muro e pelo volume cubico posicionado no seu vértice a
poente-sul. O pátio apenas se abre totalmente a sul, elevando-se sobre a paisagem. É
no entanto a norte que esta paisagem revela maior vastidão, reservando-se a
contemplação dessa vista, ao momento em que uma pequena porta, na sala de estar,
dá acesso ao exterior através de uma estreita escada orientada em direcção às
montanhas, que uma escultura de Lipchitz, estrategicamente colocada, torna ainda
mais simbólicas.
Esta relação espacial da casa com o lugar parece ser uma característica
transversal à obra de Le Corbusier. Mesmo as casas-tipo rebocadas a branco eram
implantadas e posicionadas com uma grande intencionalidade, parecendo ser
projectadas para um lugar imaginado com o qual a sua implantação real se teria de
identificar.
O volume puro da “arquitectura branca” dá lugar à exploração das texturas
das superfícies que o compõem. O sistema construtivo da casa são muros portantes
em pedra cujo aparelho é chamado “opus incertum” pois a pedra é aplicada sem ser
trabalhada, tendo diferentes formas e dimensões. Tratando-se a alvenaria em pedra
de uma técnica tradicional, executada por empreiteiros locais e usando material do
local, o seu uso adapta-se no entanto a uma concepção completamente “moderna”.
Os muros de suporte de pedra à vista expõem o sistema estrutural a que pertencem,
ocupando-se os grandes vãos, que se abrem entre estes e de laje a laje, por planos
opacos ou de vidro. O interior revela ainda o auxílio de pilares, recuados em relação à
fachada, no suporte das lajes de betão e uma clara diferenciação entre paredes
estruturais e apenas divisórias. O muro de pedra torna-se um elemento arquitectónico
central do edifício. A casa afirma-se no território mais pela forma e dimensão, do que
pelo contraste dos seus materiais. A expressividade da sua textura vem enriquecer a
abstracção das formas geométricas e estabelecer uma fusão com o contexto, de onde
provém, permitindo ainda destacar a única parede branca e lisa que parece surgir
simbolicamente na fachada norte. Trata-se de um momento em que se retoma o
92
91. Casa Mandrot, 1931
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92. Casa Mandrot, 1931
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93. Casa Mathes, 1935
95
contraste com a natureza usual nas casas-máquina rebocadas a branco, pelo que se
destaca claramente da composição e da paisagem.
Em 1935, Le Corbusier projectou outra casa em que usa materiais e técnicas
tradicionais. Uma condicionante decisiva no projecto da Casa Mathes foram os
escassos recursos disponíveis. O projecto foi por isso feito totalmente à distância. A
construção foi organizada em etapas sucessivas, completamente separadas e
executadas por empreiteiros locais. Nesta casa de férias, Le Corbusier encontra assim
uma oportunidade para retornar a um certo primitivismo, não deixando de ser
moderno. Perto do mar, mas em plena floresta, implanta um único paralelepípedo de
dois pisos e não modifica nada para além dos seus limites. Mantendo uma clara
vontade de unidade e de síntese, mais do que o volume puro e uniforme importa aqui
a percepção clara dos elementos arquitectónicos que o definem. Muros de pedra à
vista e em “opus incertum”, como na Villa Mandrot, e uma estrutura em madeira
sustentam o pavimento do piso superior, também em madeira, e a cobertura de duas
águas ondulada de cimento-amianto. Esta, escoa para uma grande caleira longitudinal
colocada na área central do edifício, não se destacando nas fachadas principais, o que
permite a aparência de um paralelepípedo. Para além dos muros de pedra, apenas
grandes planos de vidro e cimento-amianto separam o interior do exterior. Os
elementos construtivos não são revestidos por qualquer acabamento, sendo claro o
papel estrutural dos muros e barrotes.
O eixo longitudinal da casa é aproximadamente direccionado no sentido norte-
sul. Os muros de pedra desenham em planta um S assimétrico que conforma a norte,
uma área interior e virada a nascente, em direcção ao mar, e a sul, uma pequena área
exterior e aberta a poente, para a floresta. Sob a grande caleira, que tem também um
papel estrutural pois transfere o peso da cobertura para os pilares, estes, em madeira,
distribuem-se regularmente, modulando o espaço. É a nascente deste alinhamento
que se desenvolve uma galeria exterior em ambos os pisos. Este espaço de circulação é
a única forma de comunicação entre os espaços interiores que, de acordo com a
modulação das vigas, se distribuem a poente dos pilares. A escada, única forma de
acesso ao piso superior e à pequena cave existente sob os alpendres, encosta-se a sul
do muro que os divide da zona interior da casa, sendo também exterior. O carácter
exterior de todos os espaços de transição permite uma clareza construtiva que é aqui
96
94. Casa Mathes, 1935
97
95. Casa Mathes, 1935
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99
explorada de forma extremamente plástica. Os elementos construtivos são
individualizados, possibilitando que os muros de pedra se afirmem no exterior como
planos independentes aos quais os restantes elementos se associam.
Nestas casas, a arquitectura, além de reduzida à essência dos seus elementos
fundamentais, exibe o carácter desses elementos, tornando-se facilmente perceptível
na sua integridade. Reconhece-se ainda, a relação intrínseca do homem com a
natureza, e a economia presente no uso directo dos recursos naturais e da mão-de-
obra local, pondo-se nesta obra, de certa forma em causa a universalização do
processo industrial. Logo, o modo como Le Corbusier constrói nestas obras poderá
sintetizar-se em duas questões fundamentais: a clareza estrutural e a relação com o
contexto que inclui uma abertura ao processo construtivo e aos materiais e mão-de-
obra próximos.
100
96. Esquisso da Casa de Alcanena
101
Interpretação da obra – A Casa de Alcanena
102
103
Podemos considerar que a arquitectura de Eduardo Souto de Moura surge
fundamentalmente de um processo de abstracção que constitui um dos contributos
fundamentais do movimento moderno na Casa de Alcanena e na sua restante obra.
Apesar deste processo de abstracção estar presentes ao longo de toda a
história da arquitectura, nunca tinha sido levado tão longe como no século XX. No
início deste século, um período de grande evolução tecnológica, renovação social e
cultural coincidem com uma revolução nas artes. Deste contexto surge uma vontade
de estandardizar o processo construtivo, relacionar a arquitectura com a vida e o
homem modernos e reduzir as formas da arquitectura à sua essência – formas
geométricas puras. Estas tornam-se assim, em grande medida devido ao movimento
purista e neoplástico, os elementos mínimos aos quais um processo de depuração
deveria dar origem. Este processo de abstracção pressupõe por isso uma recusa da
figuração e decoração presentes na arquitectura até então. Mas esta vontade de
depuração, de redução da arquitectura ao essencial, não parece verificar-se apenas a
nível formal, constituindo toda uma nova forma de interpretar e construir o mundo
que se pode reflectir também na estrutura, no espaço e até nos materiais.
Considerando a abstracção um processo comum a uma parte considerável da
arquitectura moderna e contemporânea, podemos concluir que esta se desenvolve de
variadíssimas modos dando origem às arquitecturas mais distintas. O processo
projectual de Eduardo Souto Moura parece basear-se numa abstracção relativa à
realidade, tanto física como cultural, compreendendo em si o presente e o passado:
“Uma cidade/museu [em que podermos ler] um passado que é sempre
também presente, materialmente presente, resultado de acumulações sucessivas que
transportam, se não a presença material das formas e dos espaços, pelo menos os
indícios ou a sua memória como parte da cidade tal como hoje se nos apresenta.”39
A sua arquitectura, apesar de nova e única no modo como formula as soluções,
não corta radicalmente com o existente ou com a história. O processo de abstracção
parece ter como referência princípios antigos, que sofrem uma reinterpretação
39 Carlos Machado, “A presença do passado”, Eduardo Souto Moura Concursos 1979-2010, Pág. 37
104
105
baseada na eliminação de tudo o que não é essencial: “uma adesão ao passado que
passa necessariamente pela abstracção como um modo de pensar”40.
Esta relação com a realidade parece surgir já na formulação purista da
abstracção. O purismo – movimento fundamental para a arquitectura moderna, como
foi anteriormente exposto - elabora uma série de princípios que fundamentariam a
abstracção e nos quais, está presente uma relação necessária com um tema ou
objecto:
“Uma arte que só se baseie em sensações primárias, mediante o simples uso de
elementos primários, não seria mais do que uma arte primária, rica, é verdade, em
aspectos geométricos, mas privada da ressonância humana necessária: é arte
ornamental. (…) A sensação superior de ordem matemática só pode nascer da eleição
de elementos primários de ressonância secundária. (…) pensamos que pintar é criar
construções, organizações formais e coloridas, que procedem de temas-objectos
portadores de propriedades elementares ricas em desencadeamentos subjectivos.”41
No método projectual de Eduardo Souto Moura, este processo de abstracção
parece ser ele próprio, em parte, uma herança da realidade – na qual está incluída a
arquitectura moderna – que é absorvida e transformada numa forma pessoal de
projectar. As obras de Le Corbusier e Mies van der Rohe, nas quais um processo de
abstracção resulta em linguagens muito diferentes, parecem constituir referências
importantes para o desenvolvimento do modo de projectar de Eduardo Souto Moura.
Tanto Le Corbusier como Mies van der Rohe projectam, como vimos, tendo
muitas vezes como referência exemplos da arquitectura clássica, dos quais absorvem,
não só algumas principios espaciais, como traçados reguladores e proporções. Esta
transposição é no entanto, feita através de diferentes processos de abstracção, dando
origem a formas e linguagens distintas.
40 Carlos Machado, “A presença do passado”, Eduardo Souto Moura Concursos 1979-2010, Pág. 37 41 A. Ozenfant e Ch. E. Jeanneret, “O Purismo”, 1ª Edição: Revista “L’Esprit Nouveau nº4”, 1921, Publicação “Acerca do purismo – Escritos 1918-1926”, Edição Antonio Pizza, 1994, Pág. 71 e 72
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97. Casa de Alcanena
107
Talvez possamos considerar que é deste processo de abstracção, enquanto
“modo de pensar”, que decorre, desde já, a forma como Souto Moura relaciona a Casa
de Alcanena com o lugar. A casa de Alcanena integra-se no lugar sem necessitar de
transferir directamente as características formais da arquitectura desse lugar ou
fundir-se directamente com a paisagem. A relação com a cultura arquitectónica e as
características físicas e sociais do sítio existe, como vimos, mas faz-se através de um
processo de compreensão, depuração e crítica destes elementos, integrando-os nas
raízes do projecto. O sítio, como outros pressupostos do projecto, intervém na obra,
mas esta é, como o próprio afirma, fundamentalmente invenção do arquitecto:
“O sítio é um instrumento. É impossível fazer casas sem ter um lápis, e ter casas
sem ter um sítio. E o sítio é aquilo que se quer que ele seja. Tentou-se “vender” o sítio
como entidade objectiva, com frases como: “A solução está no sítio” A solução está na
cabeça das pessoas. (…) Portanto, o sítio é tão importante quanto as outras coisas que
intervêm no projecto.”42
Assim, Souto Moura percebe a relação entre o clima do lugar, a vida, a
continuidade e homogeneidade particulares daquele território e as características da
arquitectura existente, tendo estes factores, clara influência no edifício,
principalmente, como foi observado anteriormente, na sua implantação, tipologia e
volumetria. No entanto, o resultado deste processo permite perceber que o contexto
específico da casa de Alcanena exigiu trabalhar com poucas referências, o que o
contexto do norte Português, por exemplo, não propicia: “No Porto é impossível não
ter uma referência (o deserto físico não existe), existe sempre um muro, uma árvore,
um penedo. (…) quando estive em Alcanena, só havia uma vinha…”43
Coadunando-se com a horizontalidade e fixação ao solo dos muros tradicionais,
a formalização da casa, através de uma trama ortogonal parece relacionar-se com essa
vontade de abstracção das formas. Nos muros geométricos, ou parte deles, pequenas
janelas, dois antigos tanques em pedra e um forno
42 Eduardo Souto Moura, “A ambição à obra anónima – numa conversa com Eduardo Souto Moura”, Entrevista por Paulo Pais, Lisboa, Outubro 1993; Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena”, in Eduardo Souto Moura, ed. Luiz Trigueiros, pág.30 43 Eduardo Souto Moura, “A ambição à obra anónima – numa conversa com Eduardo Souto Moura”, Entrevista por Paulo Pais, Lisboa, Outubro 1993; Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena”, in Eduardo Souto Moura, ed. Luiz Trigueiros, pág.30
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98. Vista do muro virado a nascente-sul da Casa de Alcanena
99. Vista do pátio de entrada da Casa de Alcanena
109
tradicional estabelecem uma nova ligação das formas abstractas à imagem de uma
“casa”: “como um vai-vem entre realidade e abstracção, como uma abstracção realista
ou um realismo abstracto”44.
Esta imagem de muros e a aparente falta de regra nos seus comprimentos e
nos afastamentos entre si parecem ter, no entanto, como principal referência a
espacialidade neoplasticista, absorvida de Mies. A possibilidade de viver o espaço
exterior, que o clima deste lugar propicia, parece, de certa forma sugerir, a referência
à continuidade espacial entre interior e exterior, própria do espaço neoplástico. Souto
Moura parece levar ainda mais longe do que Mies essa continuidade espacial ao
sugerir, de certa forma, um prolongamento vertical dos planos quando oculta a
cobertura. Nas obras neoplásticas de Mies o plano horizontal da cobertura ganha
independência pousando sobre os planos verticais e definindo de certa forma o seu
limite superior. O próprio Eduardo Souto Moura refere, numa aula acerca de Mies, a
relação desta sua obra com a Casa de Campo em Tijolo de Mies, de 1923, sendo esta
obra emblemática por constituir a primeira obra em que Mies explora a espacialidade
neoplástica.
O movimento neoplástico, procurando a continuidade espacial através de uma
arquitectura abstracta e sintética, desenvolve, com este intuito, uma fragmentação do
edifício nos seus elementos fundamentais, promovendo a redução desses fragmentos
à forma geométrica pura. Na Casa de Alcanena, a síntese com base no fragmento – o
muro – é óbvia, transportando-nos simultaneamente para a ideia de ruína cujo
encanto parece dever-se precisamente a esta redução da arquitectura aos seus
elementos estruturantes.
Ao transpormos o plano da fachada, surge a relação com o espaço clássico,
como foi anteriormente explicado com base em Padovan45. O pátio quadrado, limitado
por todos os lados e abrindo-se apenas ao céu constitui um espaço centrípeto,
acentuado pelo desenho da circunferência no piso. Em torno deste, desenvolve-se o
espaço centrífugo da casa, que se abre em grandes envidraçados ao exterior, enquanto
44 Carlos Machado, “A presença do passado”, Eduardo Souto Moura Concursos 1979-2010, Pág. 37 45 “Este “tipo-clássico” caracteriza-se pela aproximação à criação de espaço interior em oposição ao exterior, à tendência centrípeta do espaço, e à estruturação ordenada e proporcional do edifício. Em oposição, o neoplasticismo poderá caracterizar-se pela continuidade e tendência centrífuga do espaço e pela livre associação de elementos contrastantes.” Citado da pág.41 desta dissertação
110
100. Projecto para Casa de Campo de Tijolo, Mies van
der Rohe, 1923
101. Planta da Casa de Alcanena, Eduardo Souto de
Moura, 1987
102. Planta da villa Rotunda, Palladio, 1591
111
o pátio principal, os três pequenos pátios e algumas divisões secundárias além da luz
zenital contactam com o exterior através de pequenas frestas ou janelas. Verifica-se
assim, como se comprovou na obra de Mies, uma procura da presença simultânea de
ambas as espacialidades. A relação com a arquitectura clássica ocorre ainda no sentido
ordenador, que se torna claro na planta, desde a proporção entre as três partes da
casa, à regularidade na compartimentação do espaço interior.
A materialidade da casa vem, fundamentalmente e como refere o arquitecto,
estabelecer uma relação com a paisagem. Acrescentaria que, para além desta
integração, a casa funciona como catalisador de um olhar mais atento sobre esta
paisagem, sugerindo uma interpretação baseada no sentido pictórico das suas cores e
texturas. Esta sugestão decorre da variação cromática e textural dos planos e do
intencional posicionamento das texturas excepcionais.
Os muros homogéneos e brancos, além de característicos da arquitectura
tradicional do sul português, surgem como imagem de uma “arquitectura branca”, que
deve grande parte da sua origem a Le Corbuiser e que também viria a surgir na obra de
Mies. Esta materialidade parece ser a expressão da abstracção máxima pois, através
do revestimento oculta-se a percepção das formas, texturas e cores dos materiais
estruturais. Quando aplicada à totalidade do edifício, a materialidade associada à
“arquitectura branca” traduz, juntamente com a sua unidade formal, a vontade de
sintetizar o todo num sólido geométrico puro, a caixa branca, que responderia ao
lembrete de Le Corbusier: “Nossos olhos são feitos para ver formas sob a luz.” 46 Em
Alcanena, esta homogeneidade permite estabelecer um claro contraste com as cores e
texturas dos padrões mais complexos, nomeadamente os da natureza. Parece ser esta
pureza, geometria e depuração, a intencionalidade subjacente aos seus muros brancos
que adquirem naquele lugar, uma clareza reforçada pelas texturas e cores naturais do
contexto e dos muros de tijolo e pedra (ver imagem 10).
Este sólido geométrico puro não seria, no entanto, apenas concretizável
através desta linguagem. A vontade de abstracção aliada, na obra de Mies, à sua
vontade de expressão dos elementos construtivos, daria origem às torres do final da
46 Le Corbusier, “Três Lembretes aos Senhores Arquitectos 1. Volume”, “Por uma arquitectura”, 1923, Pág. 11
112
103. Casa Esters, Mies van der Rohe, 1929 104. Casa em Vaucresson, Le Corbusier, 1922
105. Federal Center, Mies van der Rohe; Casa 2 em Bom Jesus e torre “Burgo”, Eduardo Souto de Moura
113
sua carreira. Nestas, Mies cria homogeneidade e pureza formal através da construção
de um padrão regular com os elementos construtivos do edifício. Esta fusão entre
pureza volumétrica e clareza estrutural parece ser já preconizada nas casas em tijolo
do início da sua carreira. Nos seus volumes geométricos, apesar de mais complexos, e
completamente revestidos a tijolo, a continuidade do material permite, à semelhança
das caixas brancas de Le Corbusier, uma fácil percepção das formas. Se comparadas
imagens distantes dos edifícios, apesar da distinta coloração, ambos traduzem essa
depuração formal de tudo o que é acessório revelando a exactidão das formas puras.
Em outras obras de Eduardo Souto Moura, como na torre “Burgo” no Porto ou a Casa
2, no lugar do Outeiro, em Bom Jesus, em Braga é possível identificar esta composição
de uma homogeneidade através dos elementos construtivos. A opção, na casa de
Alcanena, relativa aos muros brancos rebocados relacionar-se, por um lado, com a
tradição construtiva do sul do país, e por outro, com o facto do contraste estabelecido
por esta cor e textura com a natureza, permitir uma leitura dos volumes mais clara do
que qualquer outra cor ou textura.
No que diz respeito aos muros de mármore e tijolo que nela surgem, estes
estabelecem sem dúvida uma relação com a realidade a vários níveis, podendo aqui,
identificar-se, não só uma relação com a arquitectura tradicional, mas também a
influência do movimento moderno. Apesar de, em 1927, tanto Le Corbusier como Mies
estarem a construir “arquitectura branca”, dois anos depois, ambos expunham à vista
os materiais estruturais dos seus edifícios.
A relação com a natureza é desde logo estabelecida no carácter mutável da
casa, só possível pela presença e localização das suas diferentes materialidades (ver
imagem 11). A policromia da paisagem terá, de certa forma, contribuído para a
referência à policromia da arquitectura neoplástica de Mies. A influência de Mies é
clara no que se refere a uma utilização dos materiais pela expressividade da sua
textura. Como vimos, Mies, desenvolve um processo
114
106. Fachada poente-sul da Casa de Alcanena
107. Casa Citrohan, Le Corbusier, 1927 108. Pavilhão de Barcelona, Mies van der
Rohe, 1929
115
de abstracção do espaço arquitectónico, decompondo-o nos seus elementos essenciais
– piso, cobertura, colunas e planos verticais – conferindo aos últimos, para além de um
papel organizador do espaço, uma espécie de carácter pictórico ou decorativo através
das fascinantes texturas e cores dos seus materiais. Souto Moura parece proceder de
forma semelhante quando, dos muros, aos quais praticamente reduziu a casa, elege
um pequeno número dessas formas geométricas puras e lhes confere, através da
textura e cor do seu material, uma dimensão plástica e, de certa forma, decorativa. As
cores e texturas dos muros de tijolo e pedra aproximam-se ainda ás da natureza e
contrapõem-se aos elementos brancos, uma relação, também claramente perceptível
na casa Farnsworth de Mies. É de notar porém que, ao contrário de Mies, que aplica os
seus finos planos texturados como elementos de divisão do espaço interior, a Souto
Moura interessou que a sua visibilidade fosse principalmente exterior, transpondo a
composição pictórica, que Mies elabora nos seus grandes espaços cobertos, para o
espaço do território, relacionando-a com a paisagem.
O que se torna mais fascinante é que a individualização de elementos do
edifício e a valorização plástica dos seus materiais – características da arquitectura
neoplástica de Mies - estavam também presentes na tradição arquitectónica
portuguesa de construir apenas a fachada num material mais nobre. Trata-se neste
caso, como no espaço neoplástico, da valorização da percepção do observador no
local, em detrimento da integridade construtiva do todo, impossível de visualizar pelo
homem no espaço. Assim, esta forma de perceber o espaço e a arquitectura tem
referência tanto na arquitectura tradicional, como na arquitectura moderna de Mies.
Estas texturas não são as grandes pedras de mármore que parecem deslizar no
Pavilhão de Barcelona, mas texturas resultantes de processos construtivos que, pela
forma como surgem na obra, nos remetem para uma expressão do muro enquanto
elemento estrutural, como surge na Casa de Tijolo de Mies, de 1923; para a expressão
da tradição construtiva local (portuguesa) – no que diz respeito ao mármore da
fachada -; e simultaneamente, para um retorno aos processos construtivos antigos,
estabelecendo ainda, principalmente o tijolo, uma relação importante com a dimensão
do muro, o que nos permite perceber melhor a escala da casa.
Esta relação com o lugar, inerente ao uso destes processos construtivos, é
reconhecida por Eduardo Souto Moura, parecendo ser entendida como comum na
116
109. Porta de entrada da Casa de Alcanena, 1987
110. Casa Mandrot, 1931
117
arquitectura moderna. Numa entrevista publicada pela editora Blau o arquitecto
explica:
“ (…)penso que [o regionalismo] não existe no sentido em que, por exemplo, se
formos ver o Movimento Moderno está cheio de “Regionalismos”. Basta ler a Carta de
Atenas e depois ver a Vila Mandrot.”47
No que diz respeito a esta referência às técnicas tradicionais de construção,
constata-se que, a relação da arquitectura a evolução tecnologia, tanto moderna como
tradicional, terá sempre, de certa forma, uma carga simbólica. A construção dos muros
de tijolo e da fachada em pedra na Casa de Alcanena parecem ter, para além do efeito
plástico e espacial, um simbolismo que advém das memórias, imagens, histórias e
problemas que esses elementos suscitam. Nas palavras de Souto Moura:
“O que significa um muro de pedra em relação a um alemão ou a um francês?
(…) Penso que, quando me pedem para publicar um projecto numa revista na Suiça ou
na Holanda, não é por ser um arquitecto esquisito, que faça obras esquisitas,
desajustadas do tempo, mas pelos problemas que esse muro de pedra transporta.”48
No entanto, não parece verificar-se em Mies a mesma recusa tecnológica
constatada em obras de Le Corbusier. Da casa Wolf, de 1925-27, às torres de
Apartamentos 860 Lake Shore Drive, de 1948-51, esta intencionalidade de exprimir
claramente o sistema construtivo está presente. A mudança de sistemas estruturais
nestas obras, da parede de tijolo, à fachada articulada em perfis de aço, relaciona-se
precisamente com o objectivo de desenvolver uma arquitectura do seu tempo, ou seja,
que caminha paralelamente à evolução tecnológica. Nesta perspectiva, além de haver,
sem dúvida, uma atenta integração no contexto, não deixa de haver, de certa forma,
47 Eduardo Souto Moura, “A ambição à obra anónima – numa conversa com Eduardo Souto Moura”, Entrevista por Paulo Pais, Lisboa, Outubro 1993; Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena”, in Eduardo Souto Moura, ed. Luiz Trigueiros, pág.29 48 Eduardo Souto Moura, “A ambição à obra anónima – numa conversa com Eduardo Souto Moura”, Entrevista por Paulo Pais, Lisboa, Outubro 1993; Eduardo Souto Moura, “Casa em Alcanena”, in Eduardo Souto Moura, ed. Luiz Trigueiros, pág.33
118
119
uma relação com as tradições construtivas sendo estas, no entanto, de carácter mais
universal. Trata-se, no quer diz respeito aos materiais, de uma relação com o passado
que parece surgir de um pressuposto de continuidade paralela à evolução técnica,
podendo verificar-se, por exemplo, quando Mies explora, nas fachadas dos primeiros
edifícios do IIT, o sistema construtivo da arquitectura tradicional alemã.
Ao contrário de Mies, que acredita na técnica (a arquitectura deveria
acompanhar sempre a sua evolução), Le Corbusier, ao projectar obras como as casas
Mandrot de 1931 e Mathes de 1935, revela uma certa descrença na sociedade
industrial, expondo nestas obras, não só o seu sistema construtivo de forma clara, mas
também um sistema construtivo rudimentar que, na casa Mathes, dispensa
praticamente a aplicação das tecnologias modernas.
Na villa Mandrot, como em outras obras, este retorno aos sistemas tradicionais
traduz-se numa mistura destes com os sistemas avançados. Paredes, pilares e lajes em
betão são apenas excepções numa obra essencialmente em muros de pedra
construídos com a mão-de-obra e materiais do lugar. Esta mistura, entre processos
tradicionais e avançados, revela uma posição perante os processos construtivos à qual
parece assemelhar-se a de Souto Moura:
“(...) [uma] permanente avaliação, caso a caso, obra a obra, do que se ganha e
do que se perde com os meios modernos, com a linguagem depurada, com a estrutura
em esqueleto, etc., ensaiando, nalguns casos de um modo muito directo, o regresso
aos sistemas antigos (…)”49
Ao contrário de Le Corbusier, Souto Moura, parece na Casa de Alcanena, não
considerar possível um verdadeiro uso das técnicas antigas, como anuncia ao usar
estas técnicas apenas como revestimento, como uma espécie de evocação dessa
tradição, e não como muros estruturais como é sua natureza.
Eduardo Souto Moura parece então, absorver as referências de Le Corbusier e
Mies criando, no entanto, a sua própria forma de as concretizar. Nos muros texturados
da Casa de Alcanena, usa os materiais: pelo seu valor plástico, como Mies; pela
expressão de um processo construtivo como ambos; e enquanto retorno aos sistemas 49 Carlos Machado, “A presença do passado”, Eduardo Souto Moura Concursos 1979-2010, Pág. 38
120
121
antigos, como Le Corbusier, apesar de aplicados não em todo o edifício e como
material estrutural, mas, em tom de alusão, como revestimento e apenas em três dos
muros da casa.
Por último, o uso do vidro nesta obra funciona, de certa forma, como material
ausente. O tipo de vidro usado permite, a reflexão do exterior, e a transparência a
partir do interior, tornando-se, oportunamente, uma barreira principalmente física
que, quando vista de fora, permite o prolongamento ilusório da parte exterior dos
muros no reflexo e, quando vista de dentro, permite a visibilidade do prolongamento
real dos muros no exterior.
Se considerarmos que, de alguma modo, os muros brancos constituem um
meio de exprimir a abstracção, enquanto, os muros de tijolo e pedra nos remetem
para as cores, texturas e a beleza construtiva dos sistemas mais antigos, a forma como
Eduardo Souto Moura usa os materiais, nesta obra, demonstra como o seu processo
de abstracção se formula na oscilação entre abstracto e concreto, como foi já
verificado em relação à forma da casa. Esta dualidade é intencionalmente assumida e
evidenciada na percepção da casa a partir do único acesso, em que surge como casa
em pedra e reboco branco; e ainda, nos topos dos muros, em que o tijolo ou da pedra
surgem paralelamente ao reboco branco. Esta expressão do contraponto entre os
meios antigos e modernos, talvez queira, de certa forma, levantar uma questão de
necessidade de solidez nas transformações. Uma ideia talvez herdada de Mies, mas
que se pode encontrar também em Álvaro Siza de que as transformações significativas
se processam reflectida e paulatinamente, o que em tudo se opõe à sede do novo e
diferente que abunda nos nossos dias. Enquanto Richard Padovan refere que as obras
de Mies dos anos 20 “são distintas dos seus contemporâneos (…) pela seu carácter
anti-moda, a sua qualidade sem data e o seu grande sentido de materialidade e
rigor”50, Álvaro Siza diz a respeito da sua obra no Chiado:
“O trabalho do Chiado, exercício de grande exigência e reflexão, confirmou
designadamente a ideia que tenho acerca da obsessão pela modernidade, pela
afirmação pessoal, pela autoria. O Chiado, como a arquitectura em geral, não deve
50 Richard Padovan, “Mies van der Rohe Reinterpreted”, International Architect Magazine, S.D.(1984), Pág.39
122
123
obedecer a obsessões: modernismo, conservadorismo, etc. O importante é manter o
sentido das proporções, mostrar comedimento, dialéctica.”51
Será ainda importante reflectir acerca da autenticidade do que é a leitura da
casa. Para Mies, a arquitectura é “uma questão de verdade” 52. Para Souto Moura o
que parece importar é o que pode ser lido nas imagens que cria na sua arquitectura.
Mais do que a verdade, importará a construção de uma verdade cujo significado seja o
pretendido.
A Casa de Alcanena parece ser sobretudo, não “a verdade”, mas antes uma
cuidada “construção da verdade”. O tijolo e mármore, normalmente usados como
material estrutural, são revestimentos: o mármore surge em lajeado e o tijolo num
assentamento sempre paralelo ao sentido do muro, como é usado enquanto
revestimento. Desta aparência dos muros, aliada à ausência de cobertura, resulta que
os muros pareçam não suportar nada para além de si mesmos. Esta parece ser a ideia
a construir: não existe cobertura, apenas muros que se prolongam desordenadamente
num espaço contínuo. No entanto, há cobertura e os muros são estruturais,
suportando uma cobertura escondida, por traz desses muros e do vidro. Os muros
apesar de revestidos a reboco branco, em tijolo ou com placagem de mármore, são na
verdade de betão. Esta manipulação da verdade é de tal forma intencional que os
muros, revestidos a mármore e tijolo, que poderiam simular ser feitos destes
materiais, não o são, tendo diferentes revestimentos nas suas duas faces e mostrando
os dois nos topos - imagem que sintetiza a fundamental oscilação entre abstracto e
concreto que caracteriza a arquitectura de Souto Moura.
Assim, ao contrário dos planos de mármore deslizantes de Mies, associados a
uma grelha de colunas estruturais que suporta a cobertura, os muros da Casa de
Alcanena são estruturais e enterram-se no solo de forma a parecerem fixos. Esta
verdade construída opõe-se ainda à robustez e clareza estrutural dos muros de pedra
das casas Mandrot e Mathes de Le Corbusier. Em Mathes, este arquitecto aplica a
mão-de-obra e material locais numa construção rudimentar completamente à vista.
Souto Moura, em mais uma sobreposição de novos e antigos processos construtivos,
51 Álvaro Siza Vieira, “Uma questão de medida”, Entrevistado por Dominique Machabert, 1991, “Álvaro Siza – Uma questão de medida”, Pág.63 52 Mies van de Rohe, citado por Peter Carter, “Mies van der Rohe – Na appreciation on the occasion, this month, on his 75th birthday”, Architectural Design nº3, volume XXXI, Março de 1961
124
125
aplica o mármore da fachada numa placagem geométrica e rigorosa. Este rigor,
patente em toda a obra, aproxima-se mais da precisão de Mies, presente, por
exemplo, na forma como geometriza as grandes pedras de mármore no Pavilhão de
Barcelona demonstrando uma vontade de perfeição de certa forma relacionada com o
processo industrial.
Apesar do discurso contrário de Mies, esta “construção da verdade” pode ser,
como demonstrado anteriormente, também encontrada na forma como resolve a
fachada do edifício 860 Lake Shore Drive. Souto Moura, ao contrário de Mies, não
tenta evitar este método, assumindo-o como seu:
“A autenticidade? Não. Preocupa-me mais criar um sistema que pareça
autêntico. Eu procuro alcançar uma coerência que possa ser construída; a
representação de uma autenticidade, não a autenticidade mesmo.”53
53 Eduardo Souto Moura, “La Naturalidad de las Cosas” entrevistado por Luis Rojo de Castro, 2005, El Croquis nº124, pág. 9
126
127
Conclusão
Sendo a questão principal que levou ao desenvolvimento deste trabalho, o papel
dos materiais no projecto arquitectónico, poderá concluir-se neste ponto da
investigação, que a utilização dos materiais pode ter, como acontece na Casa de
Alcanena de Eduardo Souto Moura, uma grande intencionalidade.
A análise desta casa e de obras de arquitectura tradicional, romana e do
movimento moderno, permitiram perceber como, para além das condicionantes
funcionais, várias intenções podem estar por traz das opções projectuais, relativas aos
materiais, mas nunca independentes das formas e espaços que estes criam.
Ao pensar no material está-se simultaneamente a pensar na técnica construtiva à
qual está associado. A escolha dos materiais e a forma como são aplicados podem
relacionar-se com a percepção geral do edifício, podendo criar-se, desde uma leitura
clara e unitária do volume, a uma percepção dos diferentes elemento em que o
edifício pode ser decomposto. A composição plástica, resultante das cores e texturas
dos materiais, constitui outra perspectiva fundamental nesta questão que terá sempre
que se relacionar com as características plásticas do lugar. A arquitectura transporta
ainda uma componente simbólica que, também nos materiais e técnicas construtivas
se torna bastante importante. Este significado prende-se com a história e evolução da
arquitectura e simultaneamente com as evoluções técnica, social e artística, paralelas
a esta. A arquitectura, nomeadamente os materiais e a forma como são usados, nunca
poderão assim, ser destituídos de significado, de uma mensagem, cabendo ao
arquitecto definir essa mensagem. A respeito deste carácter comunicante da
arquitectura, inclusivamente dos materiais e técnicas construtivas, levanta-se ainda a
questão da “sinceridade” enquanto caminho ideal para o processo arquitectónico. O
que a arquitectura “diz” pode tornar-se mais importante do que o que a arquitectura
“é”, sendo a construção de um discurso coerente, “a construção da autenticidade” de
que Eduardo Souto Moura fala, um meio, se não ideal de projecto, que garante
certamente uma atenção ao que se “diz”.
Os materiais e a técnica construtiva surgem assim, como componentes essenciais
do projecto, e a sua utilização, como oportunidade de, à semelhança de Eduardo Souto
Moura na Casa de Alcanena, de compor, reflectir e questionar, ou seja, de provocar
um novo olhar sobre a realidade.
128
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arquitectos, 1998 (1ª edição 1961) 3º Volume Pág. 114
32. Arquitectura Popular em Portugal, ANTUNES, Alfredo da Mara...[et.al], Lisboa, 3ª edição, Ordem dos
arquitectos, 1998 (1ª edição 1961) 3º Volume Pág. 108 e 109
33. Arquitectura Popular em Portugal, ANTUNES, Alfredo da Mara...[et.al], Lisboa, 3ª edição, Ordem dos
arquitectos, 1998 (1ª edição 1961) 3º Volume Pág. 117
34. ALARCÃO, Jorge de, Portugal romano - 4ª ed. rev.. - [Lisboa] : Verbo, [imp.1987], Pág. 125
134
35. Arquitectura Popular em Portugal, ANTUNES, Alfredo da Mara...[et.al], Lisboa, 3ª edição, Ordem dos
arquitectos, 1998 (1ª edição 1961) Pág. 114
36. httpwww.domusweb.itenfrom-the-archivesouto-de-moura-house-in-alcanena (20.08.2012 - 15.51)
37. Arquitectura Popular em Portugal, ANTUNES, Alfredo da Mara...[et.al], Lisboa, 3ª edição, Ordem dos
arquitectos, 1998 (1ª edição 1961) Pág. 223
38. Arquitectura Popular em Portugal, ANTUNES, Alfredo da Mara...[et.al], Lisboa, 3ª edição, Ordem dos
arquitectos, 1998 (1ª edição 1961) Pág. 222
39. Arquitectura Popular em Portugal, ANTUNES, Alfredo da Mara...[et.al], Lisboa, 3ª edição, Ordem dos
arquitectos, 1998 (1ª edição 1961),Pág. 216
40. Da superior para a inferior:
1.httpwww.miesarch.comindex2.phpoption=com_content&view=article&id=10&Itemid=16&obraid=1111
2. RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New York,
The Museum of Modern Art, 2002, Pág. 195
41. 2G, Nº 48/49 “Mies van der Rohe – Casas”, Editora Gustavo Gili, Barcelona, 2009, Pág.66
42. COHEN, Jean-Louis, Ludwig Mies Van der Rohe, 2ª ed. Actualizada, Basel, Birkhäuser, 2007 (1ª edição 1994),
Pág.32
43. RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New York, The
Museum of Modern Art, 2002, Pág. 187
44. RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New York, The
Museum of Modern Art, 2002, Pág. 183
45. COHEN, Jean-Louis, Ludwig Mies Van der Rohe, 2ª ed. Actualizada, Basel, Birkhäuser, 2007 (1ª edição 1994),
Pág.12
46. COHEN, Jean-Louis, Ludwig Mies Van der Rohe, 2ª ed. Actualizada, Basel, Birkhäuser, 2007 (1ª edição 1994),
Pág.23
47. RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New York, The
Museum of Modern Art, 2002, Pág. 159 e 161
48. RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New York, The
Museum of Modern Art, 2002, Pág.167
49. 2G, Nº 48/49 “Mies van der Rohe – Casas”, Editora Gustavo Gili, Barcelona, 2009, Pág.65
50. Da superior para a inferior:
1.BLASER, Werner, Mies van der Rohe; trad. Nuria Nussbaum, Sérgio Pereira, Cunha Garcia. - 5ª ed. -
Barcelona : Gustavo Gili, 1982, Pág.21
2.RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New York,
The Museum of Modern Art, 2002, Pág. 195
51. 2G, Nº 48/49 “Mies van der Rohe – Casas”, Editora Gustavo Gili, Barcelona, 2009, Pág.72,73 e 76
52. Imagens superior direita e inferior esquerda:
RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New York, The
Museum of Modern Art, 2002, Pág. 207 e 208
Imagens superior esquerda e inferior direita:
135
COHEN, Jean-Louis, Ludwig Mies Van der Rohe, 2ª ed. Actualizada, Basel, Birkhäuser, 2007 (1ª edição 1994), Pág.
49 e 50
53. Da superior para a inferior e da esquerda para a direita:
1. Joldicke, Jurgen, Weissenhafsiedlung stuttgart - 2 anf.. - Stuttgard : Karl Kramer, [cop.1990], Pág.57
2. RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New
York, The Museum of Modern Art, 2002, Pág. 214
3. SAFRAN, E. Yehuda, ies van der Rohe – 1ª ed: Blau, 2000, Pág.33
4. RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New
York, The Museum of Modern Art, 2002, Pág. 215
54. Da superior para a inferior e da esquerda para a direita:
1. SOLÁ-MORALES, Ignacio de, Mies van der Rohe : el Pabellón de Barcelona / Ignacio de Solà-Morales i Rubio,
Cristian Ciri, Fernando Ramos. - Barcelona : GG, [cop.1993], Pág.29
2. COHEN, Jean-Louis, Ludwig Mies Van der Rohe, 2ª ed. Actualizada, Basel, Birkhäuser, 2007 (1ª edição 1994),
Pág. 65
3. SOLÁ-MORALES, Ignacio de, Mies van der Rohe : el Pabellón de Barcelona / Ignacio de Solà-Morales i Rubio,
Cristian Ciri, Fernando Ramos. - Barcelona : GG, [cop.1993], Pág.64
4 e 5. RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New
York, The Museum of Modern Art, 2002, Pág. 241
55. Da superior para a inferior e da esquerda para a direita:
1 e 2 . 2G, Nº 48/49 “Mies van der Rohe – Casas”, Editora Gustavo Gili, Barcelona, 2009, Pág.124
3 e 4. COHEN, Jean-Louis, Ludwig Mies Van der Rohe, 2ª ed. Actualizada, Basel, Birkhäuser, 2007 (1ª edição 1994),
Pág.73 e 74
5 e 6. 2G, Nº 48/49 “Mies van der Rohe – Casas”, Editora Gustavo Gili, Barcelona, 2009, Pág.134 e 141
56. 2G, Nº 48/49 “Mies van der Rohe – Casas”, Editora Gustavo Gili, Barcelona, 2009, Pág.148,150 e 155
57. RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New York, The
Museum of Modern Art, 2002, Pág. 277, 278 e 279
58. RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New York, The
Museum of Modern Art, 2002, Pág. 290 e 291
59. CARTER, Peter, Mies van der Rohe at work - 1ª ed. –London: Phaidon, 1999, Pág.28
60. Da superior para a inferior:
1 e 2. Mies in America / ed. by Phylis Lambert ; phot. by Guido Guidi and Richard Pare. - Montréal : CCM, cop.
2001, Pág. 269 e 174
3. CARTER, Peter, Mies van der Rohe at work - 1ª ed. –London: Phaidon, 1999, Pág. 117
61. Da superior para a inferior e da esquerda para a direita:
1 e 2. COHEN, Jean-Louis, Ludwig Mies Van der Rohe, 2ª ed. Actualizada, Basel, Birkhäuser, 2007 (1ª edição 1994),
Pág.119 e 123
3. CARTER, Peter, Mies van der Rohe at work - 1ª ed. –London: Phaidon, 1999, Pág.91
62. www.greatbuildings.com/cgi-bin/gbc-drawing.cgi/Altes_Museum.html/Altes_Plan_2.html
63. Andrea Palladio : 1508-1580 : un architecte entre la renaissance et le baroque / Manfred Wundram, Thomas
136
Pape ; photographie Paolo Marton ; trad. Françoise Laugier. - Koln : Benedikt Taschen, 1989, Pág. 187
64. Mies in America / ed. by Phylis Lambert ; phot. by Guido Guidi and Richard Pare. - Montréal : CCM, cop. 2001, Pág.
286,282,289 e 523
65. Da superior para a inferior e da esquerda para a direita:
1.CARTER, Peter, Mies van der Rohe at work - 1ª ed. –London: Phaidon, 1999, Pág.70
2, 3 e 4. Mies in America / ed. by Phylis Lambert ; phot. by Guido Guidi and Richard Pare. - Montréal : CCM, cop.
2001, Pág. 306 e 313
5.CARTER, Peter, Mies van der Rohe at work - 1ª ed. –London: Phaidon, 1999, Pág.71
66. Da superior para a inferior e da esquerda para a direita:
1.Mies van der Rohe : IIT campus : Illinois Institut of Techonologiy=Technisches Institut Illinois / Werner Blaser. -
Basel : Birkhäuser, 2002, Pág.68
2 e 3. CARTER, Peter, Mies van der Rohe at work - 1ª ed. –London: Phaidon, 1999, Pág.74 e 75
4. Mies van der Rohe : IIT campus : Illinois Institut of Techonologiy=Technisches Institut Illinois / Werner Blaser. -
Basel : Birkhäuser, 2002, Pág.71
67. Da superior para a inferior e da esquerda para a direita:
1.Mies in America / ed. by Phylis Lambert ; phot. by Guido Guidi and Richard Pare. - Montréal : CCM, cop. 2001,
Pág.180
2.CARTER, Peter, Mies van der Rohe at work - 1ª ed. –London: Phaidon, 1999, Pág.50
3.Mies van der Rohe : IIT campus : Illinois Institut of Techonologiy=Technisches Institut Illinois / Werner Blaser. -
Basel : Birkhäuser, 2002, Pág.33
4 e 5 . Mies van der Rohe : IIT campus : Illinois Institut of Techonologiy=Technisches Institut Illinois / Werner
Blaser. - Basel : Birkhäuser, 2002, Pág. 46 e 76
68. Da esquerda para a direita:
1.COHEN, Jean-Louis, Ludwig Mies Van der Rohe, 2ª ed. Actualizada, Basel, Birkhäuser, 2007 (1ª edição 1994),
Pág.126
2.Mies in America / ed. by Phylis Lambert ; phot. by Guido Guidi and Richard Pare. - Montréal : CCM, cop. 2001,
Pág. 285
69. Da esquerda para a direita:
SAFRAN, E. Yehuda, Mies van der Rohe – 1ª ed: Blau, 2000, Pág. 110
2.Mies in America / ed. by Phylis Lambert ; phot. by Guido Guidi and Richard Pare. - Montréal : CCM, cop. 2001,
Pág. 286
70. Da esquerda para a direita:
SAFRAN, E. Yehuda, Mies van der Rohe – 1ª ed: Blau, 2000, Pág129
2.Mies in America / ed. by Phylis Lambert ; phot. by Guido Guidi and Richard Pare. - Montréal : CCM, cop. 2001,
Pág. 287
71. Da esquerda para a direita:
SAFRAN, E. Yehuda, ies van der Rohe – 1ª ed: Blau, 2000, Pág115
2.Mies in America / ed. by Phylis Lambert ; phot. by Guido Guidi and Richard Pare. - Montréal : CCM, cop. 2001,
Pág. 288
137
72. Da esquerda para a direita:
COHEN, Jean-Louis, Ludwig Mies Van der Rohe, 2ª ed. Actualizada, Basel, Birkhäuser, 2007 (1ª edição 1994),
Pág.147
2.Mies in America / ed. by Phylis Lambert ; phot. by Guido Guidi and Richard Pare. - Montréal : CCM, cop. 2001,
Pág. 289
73. SAFRAN, E. Yehuda, Mies van der Rohe – 1ª ed: Blau, 2000, Pág. 174
74. CARTER, Peter, Mies van der Rohe at work - 1ª ed. –London: Phaidon, 1999, Pág. 92 e 93
75. Da superior para a inferior e da esquerda para a direita:
1.CARTER, Peter, Mies van der Rohe at work - 1ª ed. –London: Phaidon, 1999, Pág.83
2.SAFRAN, E. Yehuda, ies van der Rohe – 1ª ed: Blau, 2000, Pág. 82
3.http://asifpeoplemattered.wordpress.com/2011/02/22/buildings-farnsworth-house/farnsworth-house-
exterior/#main
76. Da superior para a inferior:
1.COHEN, Jean-Louis, Ludwig Mies Van der Rohe, 2ª ed. Actualizada, Basel, Birkhäuser, 2007 (1ª edição 1994),
Pág.123
2. www.aadip9.net/carlos/2010/10/mies-universal-space.html
77. SAFRAN, E. Yehuda, Mies van der Rohe – 1ª ed: Blau, 2000, Pág. 117
78. Da superior para a inferior e da esquerda para a direita:
1 e 2. SAFRAN, E. Yehuda, ies van der Rohe – 1ª ed: Blau, 2000, Pág. 161 e 162
3.http://germanhistorydocs.ghi-dc.org/sub_image.cfm?image_id=2364
4.http://khfarber.wordpress.com/2011/09/10/contemplation_and_aloofness/
5 e 6. SAFRAN, E. Yehuda, ies van der Rohe – 1ª ed: Blau, 2000, Pág. 161
79. Da esquerda para a direita:
1.http://4.bp.blogspot.com/_LDV-LP0otec/SoSICoWfLkI/AAAAAAAAAIA/muaYg8XZJfY/s1600-
h/Maisons+Citrohan.jpg
2. httpwww.domusweb.itenfrom-the-archivesouto-de-moura-house-in-alcanena
3.http://www.archphoto.it/2011/01/25/tim-benton_le-corbusier-and-the-vernacular-plain/
80. OZENFANT, A., JEANNERET, Charles Edouard, Acerca del purismo : escritos 1918-1926 - Madrid : El Croquis, 1994,
Pág.58 e 64
81. Le Corbusier: peintre / Réd. Reinhold Hohl – Bâle : Beyeler, [cop.1971], Pág.14
82. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 1º Volume, Pág.23
83. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 1º Volume, Pág.24 e 25
84. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 1º Volume, Pág.31
85. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 1º Volume, Pág.49
86. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
138
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 1º Volume, Pág.57
87. JOLDICKE, Jurgen, Weissenhafsiedlung stuttgart / Jùrgen Joedicke. - 2 anf.. - Stuttgard : Karl Kramer, [cop.1990],
Pág.52 e 53
88. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 2º Volume, Pág.147
89. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 3º Volume, Pág.124 e 126
90. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 2º Volume, Pág.59, 60 e 62
91. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 2º Volume, Pág.58 e 61
92. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 2º Volume, Pág.59 e 62
93. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 3º Volume, Pág.135, 136 e 137
94. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 3º Volume, Pág. 134, 135 e 139
95. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 3º Volume, Pág. 138
96. httpwww.domusweb.itenfrom-the-archivesouto-de-moura-house-in-alcanena (20.08.2012 - 15.51)
97. SILVA, Helena Sofia, SANTOS, André, Souto de Moura, fot. Luís Ferreira Alves. - Vila do Conde: Quidnovi, 2011,
Pág.
98. Souto de Moura / introducciones Wilfried Wang, Álvaro Siza ; trad. Alfredo Barbosa, Santiago Castán, Graham
Thomson. - Barcelona : Gustavo Gili, 1990, Pág. 110
99. Souto de Moura / introducciones Wilfried Wang, Álvaro Siza ; trad. Alfredo Barbosa, Santiago Castán, Graham
Thomson. - Barcelona : Gustavo Gili, 1990, Pág. 108
100. BLASER, Werner, Mies van der Rohe; trad. Nuria Nussbaum, Sérgio Pereira, Cunha Garcia. - 5ª ed. -
Barcelona : Gustavo Gili, 1982, Pág.21
101. MOURA, Eduardo Souto de, Vinte e duas casas : VI bienal internacional de arquitectura de São Paulo=twenty two
houses : VI international architecture biennal, São Paulo, Brazil / Eduardo Souto de Moura ; ed. Ana Vaz Milheiro,
João Afonso, Jorge Nunes. - Lisboa : Ordem dos Arquitectos, 2006, pág.38
102. Andrea Palladio : 1508-1580 : un architecte entre la renaissance et le baroque / Manfred Wundram, Thomas
Pape ; photographie Paolo Marton ; trad. Françoise Laugier. - Koln : Benedikt Taschen, 1989, Pág. 187
103. RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New York, The
Museum of Modern Art, 2002, Pág. 226
104. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 1º Volume, Pág.49
105. Da esquerda para a direita:
1.COHEN, Jean-Louis, Ludwig Mies Van der Rohe, 2ª ed. Actualizada, Basel, Birkhäuser, 2007 (1ª edição 1994),
139
Pág.147
2.http://d-arco.blogspot.pt/2009/07/eduardo-souto-de-mouracasa-no-bom-jesus.html
3. http://oportocool.wordpress.com/2008/05/12/torre-do-burgo/
106. httpwww.domusweb.itenfrom-the-archivesouto-de-moura-house-in-alcanena (20.08.2012 - 15.51)
107. JOLDICKE, Jurgen, Weissenhafsiedlung stuttgart / Jùrgen Joedicke. - 2 anf.. - Stuttgard : Karl Kramer, [cop.1990],
Pág.52
108. RILEY, Terence; BERGDOLL, Barry, Mies in Berlin, essays by Vittorio Magnago Lampugnani... [et al.]. New York, The
Museum of Modern Art, 2002, Pág. 241
109. httpwww.miesarch.comindex2.phpoption=com_content&view=article&id=10&Itemid=16&obraid=1111
110. Le corbusier et Pierre Jeanneret : complete works in 8 volumes ; publiée par W.Boesiger et O. Stonorov ; introd. et
textes par Le Corbusier. - 14éme ed. - Zurich : Les Ed.d'Architecture, 1995, 2º Volume, Pág. 61