Os Meios de Comunicação de Massa

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A televisão e a sua linguaguem e os usos alternativos da televisão.

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  • CAPTULO 5

    roli!"ee~um-co'"

  • Captulo 5 - Os meios de comunicao de massa __

    -= -,ncia desses meios. Ele vai escola, ao-::nalho, encontra amigos, vai igreja, aocar, ao cinema; enfim, est exposto a umasrie de situaes que fazem com que eleno seja um receptor completamente passi-vo, algum que simplesmente recebe tudoo que lhe do sem realizar nenhuma elabo-rao pessoal, sem fazer nenhuma sntese.Para os psiclogos modernos, quando umapessoa percebe uma inconsistncia muitogrande entre a informao recebida e a ex-pectativa construda com base em suavivncia, observao e conhecimento ante-rior, sua tendncia de reinterpretar os ele-

    Primeira parte - A televiso

    -:

    Entre os meios de comunicao demassa, o que tem maior pblico a televi-so. Se olharmos o panorama das cidadesde qualquer tamanho, no centro ou na peri-feria, veremos uma quantidade impressio-nante de antenas nos telhados.

    Em preto-e-branco ou em cores, ela pre-sena obrigatria em todos os lares. Traz in-formao e diverso acessveis a todos. amada por muitos e odiada por outros tantos.

    1. A linguagem da televisoo que caracteriza a televiso como ve-

    culo de comunicao e estrutura sua lingua-gem especfica, distinguindo-a do cinema, a possibilidade de transmisso direta, nomomento em que as coisas acontecem.Essa a fora da televiso: sua atualidade,a instantaneidade entre o acontecimento esua apresentao.

    Essa caracterstica leva os espectado-res a confundir realidade e representao,fazendo-os acreditar que a televiso umveculo "transparente", objetivo e no--deformador da realidade.

    Ora, preciso lembrar que cada ima-gem fruto de uma escolha em termos deenquadramento (que elementos sero mos-trados e quais sero descartados; quais

    mentos dissonantes, a fim de diminuir a dis-tncia entre todos os fatos. Desse modo, seuequilbrio psicolgico restabelecido.

    O que vem se tornando cada vez maisevidente que a construo do sentido doque apresentado pelos meios de comuni-cao de massa, especialmente a televiso, feita tambm pela discusso entre pessoasque integram um mesmo grupo social e quese utilizam da sua experincia de vida e dosenso comum para decifrar o que Ihes trans-mitido. Como diz Martn-Barbero, filsofo co-lombiano, "( ... ) contando a telenovela unsaos outros que se constri o seu sentido".

    aparecero em primeiro plano, portantomaiores e mais visveis, quais em ltimo pIa-no; e assim por diante); de sequncia (quecena vir em primeiro, segundo, terceiro ...at em ltimo lugar); de durao de cadacena; de texto ou de msica que acompa-nhar a imagem. Alm disso, quem escolheas imagens que vo ao ar o diretor do pro-grama, que, at certo ponto, interpreta os fa-tos. Entretanto, na medida em que tem dedar consistncia ao material no momentomesmo em que as tomadas esto sendo fei-tas, sem condies de ver previamente osresultados antes que eles cheguem aotelespectador, deixa marcas do trabalhocomo: erros, desconexes, solues apres-sadas, o imprevisvel etc Embora o que apa-rece em nosso aparelho de televiso sejaapenas um relato, uma representao da rea-lidade, e no a prpria realidade, percebe-mos que impossvel, nessas condies,estabelecer nexos com um nico sentido ouuma coerncia estrutural predeterminada.

    Essa primeira caracterstica da linguagemda televiso d origem esttica televisiva: onaturalismo. Todos os outros programas queno so transmitidos ao vivo imitam essastransmisses. Os cenrios cuidadosamentepreparados no estdio do a impresso dasala de visitas da casa de algum, da cozi-

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  • -Gnero: esse termo vem do latim genus/generis, que significa "famlia", "espcie". a "( ... ) fora aglutinadora e estabilizadoradentro de uma determinada linguagem, umcerto modo de organizar as ideias, meios erecursos expressivos, suficientementeestratificado na cultura, de modo a garantira comunicabilidade dos produtos e a conti-nuidade dessa forma junto s comunidadesfuturas". (MACHADO, Arlindo. A televiso le-vada a srio. So Paulo: Senac, 2003. p. 68.)

    Arlindo Machado destaca, entre os g-neros televisivos: as formas fundadas so-bre o dilogo, as narrativas seriadas, o tele-jornal, a transmisso ao vivo, o videoclipe eoutras formas musicais.

    As formas fundadas no dilogo compreen-dem os debates, as entrevistas, as mesas--redondas, os talk-shows, os programas deauditrio, os reality shows etc.

    Nelas, percebemos o quanto a televi-so, apesar do uso da imagem, baseadana linguagem verbal. Essas so, tambm,as formas mais baratas em termos de pro-duo, j que no exigem cenriosdispendiosos, figurinos, ensaios etc. E aqualidade do programa vai depender dequem participa do dilogo.

    As narrativas seriadas envolvem as no-velas, os "enlatados", as minissries, tudo oque tem o enredo segmentado em captulosou em episdios, sendo que estes, sem ex-ceo, sempre terminam com um gancho detenso que levar o espectador a assistir aocaptulo seguinte. H trs tipos bsicos denarrativas seriadas A teleolgica', fundamentada em um con-flito bsico que estabelece o dese-quilbrio estrutural e a evoluo consisteem tentativas de restabelecer o equilbrioperdido, que s ser alcanado no finalda srie. A histria se desenvolve demaneira linear, havendo uma ordem na

    apresentao dos captulos ou episdios.O melhor exemplo a telenovela.

    A histria completa e autnoma, em ques a personagem principal e a situaonarrativa, ao redor da qual se constri va-riantes, mantm-se estveis. Por isso, osepisdios podem ser apresentados emqualquer ordem, porque um nocondiciona o outro. As sries brasileirasou estrangeiras so o melhor exemplodesse tipo de narrativa.

    A narrativa temtica, em que o nico as-pecto preservado o tema ou o espritogeral das histrias. Cada episdio traz umanova histria, com novas personagens, ou-tros cenrios e, s vezes, diferentes dire-tores. Dois bons exemplos so a Comdiada vida privada e Os normeis", com seusepisdios unitrios.Ainda segundo Arlindo Machado, a

    serializao segue um modelo industrial daproduo em srie, uma vez que a televi-so necessita de uma programaoininterrupta 24 horas por dia. As sries somais baratas de produzir, porque usam osmesmos atores, cenrios e figurinos e umamesma situao dramtica.

    O telejomal, por sua vez, uma media-o simblica entre os acontecimentos di-rios e o pblico, por meio de reprteres,porta-vozes, testemunhas oculares e umamultido de sujeitos falantes, como redato-res, editorialistas, os que escolhem a pautado dia, especialistas no assunto, acadmi-cos etc., considerados competentes paraconstruir verses do que acontece fora datela. Todas essas vozes tm um nome, indi-vidualizando o relato e, algumas vezes, tam-bm a funo do falante e o lugar de ondefala so indicados. Essa localizao nos dpistas quanto confiabilidade da informa-o, principalmente quando so discursosoficiais, em locais onde os meios de comu-nicao so censurados em virtude de guer-ra ou de um governo ditatorial.

    1 Teleolgica, no contexto, significa que as aes convergem para um fim, no qual os conflitos sero resolvidos.

    2 Comdia da vida privada (1995 a 1997), srie baseada na obra homnima de Luis Fernando Verissimo; Os normais(2001 e 2002), srie criada por Alexandre Machado e Fernanda Young; ambas exibidas pela Rede Globo.

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  • o telejornal o gnero mais rigidamen-te codificado.

    Do ponto de vista tcnico, "(. .) otelejornal composto de uma mistura dedistintas fontes de imagens e som: grava-es em fita, material de arquivo, fotogra-fia, grficos, mapas, textos, locuo, msi-ca e rudos'", tomadas em primeiro planoenfocando pessoas que falam diretamentepara a crnera.

    H dois tipos bsicos de telejornal. Po/ifnico: aquele em que o apresentadorl as notcias e amarra as vrias falas deoutros protagonistas, mas no tece co-mentrio nem elabora concluses. A res-ponsabilidade pela conduo do relato de toda a equipe e o apresentador sum condutor que abre passagem paraoutras vozes - que so mais ou menosautnomas -, sem a necessidade da ela-borao de uma sntese global, Este omodelo padro de telejornalismo. Otelespectador considerado capaz de ti-rar suas prprias concluses,

    Opinativo: aquele no qual h um ncoraonisciente, onipresente, que faz coment-rios de tipo editorial ao que est sendo re-latado. A sua atitude e os seus coment-rios dirigem a leitura dos acontecimentose exercem uma maior influncia sobre opblico, uma vez que se baseia em meca-nismos de identificao entre apresenta-dor e audincia, criando uma relao deconfiana com o que ser apresentado,A funo do telejornal no trabalhar

    com a verdade, mas com as interpretaesde cada porta-voz sobre o evento, Nessesentido, nenhuma voz inteiramente con-vincente nem totalmente desprezvel, Noso neutros, objetivos ou imparciais, masdeixam sempre uma brecha para que p-blico confronte as vozes ouvidas (s vezescontraditrias) com suas outras fontes deinformao e suas experincias pessoais.

    As transmisses ao vivo compreendemos espetculos esportivos, incluindo asOlimpadas e os campeonatos; os espet-

    culos culturais, principalmente ao ar livre, acobertura de eventos polticos, de festas po-pulares, de catstrofes, de violncia e detudo o que for inesperado, Como j disse-mos ao analisar a linguagem da televiso,este gnero d margem ao improviso e amuitas interpretaes diferentes, uma vezque o nexo causal que liga as tomadas nemsempre ser unvoco, pois o diretor no tera viso do conjunto do evento antes das to-madas. Como exemplo, lembramos o corte-jo at o Palcio da Alvorada na posse do pre-sidente Lus Incio Lula da Silva, durante oqual, vrias vezes, o pblico invadiu a pistae se comprimiu contra o carro, chegandoalgumas pessoas at a tocar o presidente,para desespero dos seguranas. Em virtu-de disso, o cortejo mudou de itinerrio, obri-gando os canais televisivos a improvisar astomadas,

    As formas musicais compreendem atransmisso de msica por meio de concer-tos ou shows especialmente criados para alinguagem televisiva, bem como dosvideoclipes. Vamos nos deter mais na an-lise do videoclipe, no s por sua associa-o com a msica pop, mas tambm porser uma forma que vem se modificando nosltimos anos, subvertendo a prpria lingua-gem da televiso,

    De incio, na dcada de 1980, o video-clipe surgiu como pea promocional de umlanamento fonogrfico, em virtude de seuformato enxuto, da sua curta durao, seubaixo custo e amplo potencial de distribui-o, chegando ao pblico de massa, Ex-plorava a imagem glamourosa dos astros edas bandas pop, cantando ou executandoas msicas que seriam o carro-chefe dacomercializao dos discos,

    Hoje, essas imagens foram abandona-das, em favor de paisagens vagas, imagensdistorcidas ou abstratas. A figura do intr-prete foi minimizada, abrindo lugar para aliberdade criadora. O videoclipe encara-do como uma forma autnoma, ideal paraa prtica de experimentaes estticas.

    3 MACHADO, Arlindo. A televiso levada a srio, cit, p. 103-104.

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  • Captulo 5 - Os meios de comunicao de massa __

    Do ponto de vista da linguagem, ovideoclipe se ope televiso, na medidaem que no narrativo nem linear. Por ou-tro lado, usa tambm do recurso descontinuidade. Ao contrrio da televiso,entretanto, abandonou as regras do "bemfazer", ou seja, as regras de qualidade, her-dadas da publicidade e do cinema, dandoprioridade energia e fora desconstrutivaque dissolve as formas bem definidas, tra-zendo tona o potencial potico naquilo quea rotina produtiva considera erro, defeito,imperfeio ou amadorisrno".

    3. Televiso e pblicoComo j dissemos no incio, dentre to-

    dos os meios de comunicao de massa, ateleviso o que detm o pblico mais vastoe indiferenciado: acessvel a todas as clas-ses sociais, a todas as idades e a todos osnveis de cultura, dos analfabetos aos inte-lectuais.

    Ligar a televiso um hbito j estabe-lecido em nosso cotidiano. Podemos assisti-Ia sozinhos, com a famlia ou com os ami-gos, em uma sala clara ou escura, no quartoe at mesmo na cozinha, enquanto a vidacontinua ao nosso redor, interferindo no modode nos relacionarmos com a televiso.

    Como o prprio texto televisivo entre-cortado por anncios, ele nos d a pausa para

    MAIS UM PROGRAMAEXALTANDO A PAZ E O AMOR

    E INTERROMPIDO A CADA SETEMINUTOS POR COMERCIAISEXALTANDO O CONSUMO E

    A GANNCIA.

    o caf, o lanche, o copo d'gua, o telefonema,o dedo de conversa. Mesmo durante o pro-grama que nos interessa, podemos estar, tam-bm, fazendo outra coisa, "com um olho c,outro l".

    Essas condies da recepo da pro-gramao televisiva ajudam a "naturaliz--Ia", isto , a fazer com que passemos a con-siderar natural tudo o que apresentadopela televiso, uma vez que est dentro donosso mundo habitual. E do mesmo modocomo aceitamos o nosso cotidiano, aceita-mos o que ela nos oferece, passivamente,sem maiores discusses ou crticas.

    Por que no desligamos o aparelhoquando o programa no nos agrada? Porque temos o hbito de ligar sempre em ummesmo canal, em vez de procurar progra-mas mais interessantes em outros?

    Talvez a tenso, gerada pelo trabalhofragmentado, pelas dificuldades da vida ede realizao pessoal, resulte no compor-tamento do telespectador passivo, que seentrega quilo que o grupo produtor da pro-gramao quer oferecer.

    A questo da recepo passiva e, comela, a da alienao - como fuga da pr-pria realidade, que parece insuportvel, pormeio do espetculo superficial e atraenteoferecido pela telinha - perfeitamente ex-plicvel no contexto brasileiro, se pensar-mos no nmero de analfabetos, de alfabeti-

    ESTOU APRENDENDO QUEPRECISO TER MINHA PRPRIATV PRA EU PODER ASSISTIREM ALGUM OUTRO

    LUGAR. r------,~"IJ1.

    Bill Watterson, Calvin. o pai de Calvin tem um discurso crtico sobre a TV, masno se dispe a assistir ao programa com o filho para poderem discuti-Io.

    4 Logicamente, o videoclipe inovador est ligado a bandas que tambm so transgressivas em relao s regrasda indstria fonogrfica ou da msica pop de mercado, como bem salienta Arlindo Machado.

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  • zados que abandonaram a escola semtermin-Ia, nos que trabalham desde os 14anos, na pobreza crescente que obriga ocidado a trabalhar cada vez mais e tercada vez menos tempo livre.

    Para uma recepo no atenta e distra-da, necessrio que a linguagem se tornerecorrente, circular, repetindo ideias e situa-es j conhecidas, que fazem parte do re-pertrio do receptor, com apenas algumasvariantes e alguns elementos novos.

    preciso, no entanto, formar um pblicoque esteja melhor preparado para assistir televiso de modo mais crtico, percebendoos valores que esto sendo veiculados, dis-cutindo com outras pessoas - na prpriaescola, por exemplo -, por que eles sopropostos e se servem para ns, para nossarealidade. Formar pessoas que assistam televiso com um certo olhar de desconfian-a, que analisem o universo de significadosde cada canal e sejam capazes de compa-rar os universos propostos. Pessoas, enfim,que sejam capazes de problematizar, isto ,de pensar filosoficamente aquilo que dadocomo indiscutvel ou como modelo nico.

    Outro tema candente que diz respeitoao pblico de televiso o da apresenta-o de cenas de violncia - inclusive naprogramao infantil -, de erotismo ouclaramente sexuais, de desrespeito pes-soa humana, como tantas vezes aconteceem programas de auditrio, com explora-o da imagem de crianas e jovens, depessoas humildes em situaes constran-gedoras em nome do espetculo.

    Essa realidade reacendeu a polmicasobre a necessidade de o poder pblicocensurar os programas, pelo menos at umdeterminado horrio, a fim de que crianase jovens no fiquem expostos a temas egneros inadequados faixa etria e queno possam ser compreendidos sem a de-vida contextualizao.

    H os que defendem essa prtica e hos que radicalmente se opem a ela, tendoem vista a triste histria de censura aosmeios de comunicao durante o perodo

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    da ditadura militar. Os grupos menos radi-cais propem a classificao de cada pro-grama por idade, cabendo famlia a pala-vra final do que cada um vai assistir.

    De qualquer modo, o pblico no podeagir como se fosse totalmente impotente emrelao a essas questes, porque no .Basta pensar em como fazer presso nos sobre as emissoras, mas tambm sobreos anunciantes, protestando contra certosabusos no uso de um bem que, afinal, pblico e s pode ser explorado comercial-mente por meio de uma concesso do Es-tado, como veremos mais adiante.

    4. Usos alternativosda televisoMesmo vivendo em uma sociedade em

    que a televiso uma presena permanen-te, possvel usar esse meio de comunica-o para construir a "nossa" programaoa partir do que oferecido nos vrios ca-nais e em horrios nem sempre acessveis,por estarmos trabalhando ou dormindo.

    O modo mais simples de fazermos isso por meio do zapping, ou seja, da mudan-a contnua de canal que nos permite pro-curar atraes mais interessantes do que aque estam os acostumados a ver em deter-minado horrio. A inveno do controle re-moto possibilitou o zapping, que, a princ-pio, feito nos intervalos comerciais, apro-veitado-se o tempo para "xeretar" a progra-mao de outras emissoras. Com isso, dei-xamos de ver um s canal e, descobrindooutras apresentaes interessantes, pode-mos selecionar programas mais variados e,talvez, com pontos de vista diferentes.

    O uso do vdeo para gravar programasexibidos em horrios no compatveis comnossas atividades dirias outro meio efi-caz de adequar a programao televisivas nossas necessidades. Uma vez feita agravao, podemos assistir ao que nos in-teressa no horrio que nos for mais conve-niente, sem sermos obrigados a ver o queos canais oferecem naquele momento.

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  • A maneira mais sofisticada e radical defugir da programao usual de televiso o que se poderia chamar de TV comunit-ria: um grupo de pessoas da comunidadeprepara vdeos de assuntos que sejam deinteresse de todos e os exibe em centroscomunitrios, escolas, clubes, praas p-blicas, a fim de propiciar um momento dereflexo e discusso de problemas comunsem relao aos quais os participantes de-vem se posicionar. Nesse caso, usamos oaparelho de TV, mas no mais a programa-o dos diversos canais. um modo deassistir televiso que verdadeiramentepossibilita o exerccio do dilogo dentro dacomunidade e conduz cidadania plena.

    5. Televiso: meu bem,meu malH inmeras discusses sobre se a te-

    leviso um bem ou um mal. De um lado,coloca-se o seu carter de democratizaoda cultura, uma vez que acessvel a to-dos, indistintamente. De outro, discute-se oseu papel de formao da opinio pblicae sua funo alienadora e manipuladora,por se aproveitar da natureza emocional,intuitiva e irreflexiva da comunicao porimagens. Barthes (1915-1980), em seu li-vro A cmara clara, j afirmava que a foto-grafia s adquire sentido em funo da le-genda, ou seja, da palavra. De outro modo,ela totalmente ambgua. EduardoCoutinho, cineasta responsvel pelo progra-ma Globo reprter na segunda metade dadcada de 1970, acrescenta: "( ... ) nenhu-ma imagem no jornalismo pode entrar pura,sem o comentrio que a explique, sem amsica que lhe d sentido. Uma imagemmuda perigosa porque a busca de seusentido fica livre, o mundo pleno de signifi-cado oscila em sua base:".

    Na verdade, a televiso, como meio decomunicao, no boa nem m, apesar de,

    5 COUTINHO, Eduardo. "A astcia". In: NOVAES, Adauto (org.). Rede imaginria: televiso e democracia. SoPaulo: Companhia das Letras/Secretaria Municipal de Cultura, 1991. p. 281.

    por ser parte da indstria cultural, vir marcadapela ideologia da classe dominante.

    sua utilizao que deve ser analisa-da, pois ento que comeam os proble-mas; tal utilizao se d em uma determi-nada sociedade, historicamente situada ecomposta por sujeitos com caractersticasespecficas.

    Nessa perspectiva, portanto, a discus-so no deve girar em torno de se devemosou no assistir televiso nem se esta umbem ou um mal, pois ela uma realidade donosso mundo; deve-se discutir sobre comover televiso criticamente, contextualizandoos programas e as informaes.

    Para tanto, precisamos levantar os ele-mentos que compem a linguagem televisiva,bem como seu uso na sociedade brasileira.

    Antes de mais nada, vamos lembrarque no Brasil, como na maior parte dospases, a indstria cultural est nas mosde poucos grupos: grandes empresas decomunicao possuem redes de televisoe de rdio; o mesmo se d com as redesde jornais e de revistas; e poucas edito-ras dominam igualmente o mercado edi-torial. Alm disso, em nosso pas: o canal de televiso concesso do Es-tado, que pode ser suspensa a qualquermomento - por essa razo, s tm canalde televiso os grupos que interessam aoEstado, que no faro oposio contnuanem defendero um tipo diferente de ideo-logia.

    a televiso um empreendimento comer-cial privado e, como tal, visa ao lucro.

    a televiso sustentada pelos anuncian-tes, que, antes de gastarem sua verba depublicidade, verificam o ndice de au-dincia de cada programa.O contedo da programao sofre, por-

    tanto, vrios tipos de influncia e de "cen-sura": do Estado e dos grupos econmicosque compram o espao publicitrio, ou seja,dos poderes poltico e econmico do pas.

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  • A televiso oferece entretenimento, di-verso. Grande parte da programao repetitiva e s refora o status quo, aquiloque j sabemos. Mas h uma pequenaparcela de programas que nos fazem pen-sar, que oferecem informaes s quaisno teramos acesso de outro modo.Documentrios, programas sobre outrospases e outros costumes, entrevistas, me-sas-redondas e os prprios seriados de fic-o nos mostram valores que permeiam avida cotidiana sem que deles tenhamosconscincia. At mesmo algumas sriesmuito ruins, sobre vida em famlia, nasquais a competio entre me e pai ouentre estes e os filhos sempre valoriza-da. Isso faz-nos refletir sobre os valores quequeremos cultivar em uma relao fami-liar: a competio ou a cooperao, oegocentrismo ou a generosidade, o amore a amizade ou a rivalidade, o engano oua sinceridade, e assim por diante.

    Desse ponto de vista, tambm a televi-so um bem, pois oferece ocasio para a

    reflexo sobre o que ela apresenta, de modoa que cada um de ns possa propor alter-nativas para sua vida e para a vida em co-munidade.

    ConclusoA televiso o meio de comunicao

    de massa que maior penetrao tem, don-de a importncia de compreendermoscomo ela funciona. Para isso, examinamosa linguagem usada, os gneros dos pro-gramas televisivos, pois sabemos que elesinfluenciam o que apresentado na TV Seassistida criticamente, ela pode ser ummeio de diverso ao alcance de todos, paraos momentos em que precisamos relaxare "descansar a cabea", e uma ocasiode identificar e refletir sobre valores danossa sociedade e da sociedade global.Ela se presta tambm para usos alternati-vos, que venham ao encontro de nossasnecessidades, podendo at ser um fatorde integrao de comunidades.

    Questes gerais1. Faa o fichamento das caractersticas da linguagem televisiva.2. Indique as condies que ajudam a naturalizar a televiso.3. Por que o exerccio da reflexo crtica importante para a recepo da programa-

    o televsva?4. Discuta a afirmao: A televiso impe, "com a fora da imagem, padres de compor-

    tamento, de identificao, dejuzo e at mesmo um novo padro esttico".5. Quais programas voc gosta de ver na televiso? Escolha um e analise-o a partir

    das caractersticas da linguagem televisiva e dos gneros.6. Comente a seguinte afirmao: "(...) a atrao da televiso muito grande j que

    ela vende a si prpria no como veculo de vendas mas como conexo entre nsmesmos e o real, seja um real esportivo, seja jornalstco, culinrio, o que for".(Incio Arajo)

    Pesquisa7. Faa uma pesquisa relacionando o projeto da ditadura militar e o desenvolvimento

    da Rede Globo de televiso nos seguintes aspectos:a) Qual o projeto dos militares dos pontos de vista econmico e cultural?b) Qual o papel da Rede Globo nesse projeto?c) O que significa "o padro Globo de qualidade" dentro desse projeto?

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  • Dissertao8. "Hoje, com os dados acumulados em mais de 30 anos de pesquisas semanais

    sobre os hbitos e costumes da populao brasileira, a televiso produz uma pro-gramao rigorosamente ajustada s classes sociais, faixas etrias, nveis de ren-da e de escolarizao da populao." (AlcioneArajo)

    Sugestes de leituras BERNARDET,Jean Claude. que cinema. So Paulo: Brasiliense 1981. MACHADO,Arlindo. A televiso levada a srio. So Paulo: Senac, 2003. 245 p . MARCONDESFilho, Ciro. Televiso: a vida pelo vdeo. So Paulo: Moderna, 1988.(Col. Polmica). 119 p.

    NOVAES,Adauto (org.).Rede imaginria. Televiso e democracia. So Paulo: Compa-nhia das Letras, 1991. 315 p.

    ORTIZ,Renato. A moderna tradio brasileira. Cultura brasileira e indstria cultural.So Paulo: Brasiliense, 1988. 222 p.

    TEIXEIRA,Francisco Elinaldo (org.). Documentrio no Brasil- tradio e transfor-mao. So Paulo: Summus, 2004.

    Sugestes de filmes Quiz show - A verdade dos bastidores (Estados Unidos, 1994), Robert Redford. Muito alm doJardim (Estados Unidos, 1979), Hal Ashby .

    .Consulte a "Filmografia" no final do livro.

    Leitura complementar(Teorias sobre televiso)

    "Numa rpida retrospectiva histrica, podemos distinguir duas maneiras prin-cipais de tratar a televiso. Esquematicamente, vamos denomin-Ias o modelo deAdorno e o modelo de McLuhan [...]. Adorno examina panoramicamente alguns te-mas supostamente televisuais e deixa escapar, em alguns momentos, que est tra-balhando com uma 'arnostragem', chegando mesmo a referir-se, quase ao final doartigo, a 'textos de comdias colocados sua disposio'. Imagino que, sendo umpensador sofisticado, Adorno preferiu no 'sujar as mos' (ou os olhos) vendo tele-viso e, nesse sentido, pediu para algum recolher 'amostras' de programas paraque ele as pudesse analisar. Comonaquela poca (1954) ainda no havia videoteipe,muito menos videocassete, o que lhe colocaram disposio no foram exatamentecpias dos programas, mas 'textos' escritos, provavelmente roteiros ou resumos deargumentos. Ou seja: Adorno examina a televiso no a partir de uma observaosistemtica do que esse meio efetivamente exibe [...], mas a partir de uma'amostragem' escrita e, o que pior, uma 'amostragem' nitidamente tendenciosa,pois o objetivo indisfarvel era demonstrar que a televiso era um 'mau' objeto. Emsintese, Adorno dispara um ataque implacvel televiso sem de fato conhecer ateleviso, sem dedicar uma pesquisa mais extensiva ao conjunto de propostas quea televiso estava apresentando naquele momento. No h nada de espantvel nis-so, pois se no ano 2000 ainda existem intelectuais que no veem televiso, issodevia ser uma norma em 1954, ainda mais nos circulos severssimos da Escola de

    6 ADORNO, Theodor W. "Television and the Mass Culture Patterns". In: Quarter/y of Fi/m, Radio and Te/evision.University 01 Calilornia, v. 8, 1954. p. 213-235.

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  • TFrankfurt. No entanto, j no mesmo ano da redao do referido artigo, o grandepianista Glenn Gould iniciava suas apresentaes musicais [...], que se multiplica-riam depois, ao longo das duas dcadas seguintes, em cerca de quarenta diferentesprogramas de televiso dedicados mais sofisticada anlise musical [...]. Ou seja, jhavia na televiso uma diversidade de experincias muito maior do que aquela queAdorno foi capaz de detectar com sua mirada panormica e superficial.

    O caso McLuhan no muito diferente, s que pelo avesso. Se para Adorno ateleviso congenitamente 'm', no importando o que ela efetivamente veicula, paraMcLuhan a televiso congenitamente 'boa' nas mesmas condies. Porque a ima-gem de televiso granulosa, 'mosacada', porque a sua tela pequena e de baixadefinio favorece uma mensagem incompleta e 'fria', porque as suas condies deproduo pressupem processos fragmentrios abertos e, ao mesmo tempo, umarecepo intensa e participante, por razes dessa espcie, a televiso nos proporcionauma experincia profunda, que em nenhum outro meio se pode obter da mesmamaneira." Bom, nada a discordar quanto a isso. Mas com a mesma imagem granulosa,com a mesma tela de baixa defno, com a mesma estrutura fragmentria e dispersiva,pode-se obter coisas to fulminantemente diferentes quanto Dekalog e I Love Lucy, damesma forma que, com uma folha de papel e as 23 letras do alfabeto portugus, pode--se escrever tanto o Grande serto: veredas quanto uma prova de histria numaescola de primeiro grau. Se McLuhan, ao contrrio de Adorno, no pode ser acusadode no conhecer o seu objeto de anlise, o resultado que ambos obtm no planoterico se equivale, pois nos dois casos a televiso vista como estrutura abstrata,modelo genrico de produo e recepo (afinal, 'o meio a mensagem'), sem conse-quncias significativas no nvel dos programas e, pior ainda, sem nenhuma brechapara a ocorrncia da diversidade e da contradio no mbito da prtica efetiva.

    Em resumo, para o grupo adorniano, a televiso por natureza 'm', mesmo quetodos os trabalhos mostrados em suas telas fossem da melhor qualidade, enquantopara o grupo mcluhaniano a televiso por natureza 'boa', mesmo se s existisseporcaria em suas telas. Isso quer dizer que os adornianos atacam a televiso pelasmesmas razes que os mcluhanianos a defendem: por sua estrutura tecnolgca emercadolgca ou por seu modelo abstrato genrico, coincidindo ambos na defesa dopostulado bsico de que a televiso no lugar para produtos 'srios', que mereamser considerados em sua singularidade. Creio que j tempo de pensar a televisofora desse manquesrno do modelo ou da estrutura 'boa' ou 'm' em si. Quero dizer: preciso (tambm) pensar a televiso como o conjunto dos trabalhos audiovisuais (va-riados, desiguais, contraditrios) que a constituem, assim como cinema o conjuntode todos os filmes produzidos e literatura o conjunto de todas as obras literriasescritas ou oralizadas, mas, sobretudo, daquelas obras que a discusso pblica qua-lificada destacou para fora da massa amorfa da trivialidade. O contexto, a estruturaexterna, a base tecnolgca tambm contam, claro, mas eles no explicam nada seno estiverem referidos quilo que mobiliza tanto produtores quanto telespectadores:as imagens e os sons que constituem a 'mensagem' televisual."

    MACHADO,Arlindo. A teLeviso Levada a srio.3. ed. So Paulo: Senac, 2003. p. 17-19.

    Questes

    1. Compare o modelo de Adorno ao modelo de McLuhan.2. Qual a crtica que Arlindo Machado faz a esses dois modelos?3. Liste bons programas de televiso, tanto da TV aberta quanto da TV a cabo, justi-

    ficando cada uma de suas escolhas.4. Faa exatamente o mesmo com os programas ruins da TV.

    7 McLUHAN, Marshall. Os meios de comunicao como extenses do homem. So Paulo: Cultrix, 1971. p. 346-379.

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