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8/6/2019 Os mesmos consumidores, porm diferentes
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Momentum
Os mesmos consumidores, porm diferentes
Marcos Gouva de Souza ([email protected]), diretor-geral
da G&MD Gouva de Souza
Os consumidores que passam por perodos de recesso
econmica e turbulncia no mercado retomam muitos dos hbitos
anteriores quando o cenrio se torna mais estvel, porm
incorporam comportamentos adquiridos no perodo de
dificuldades, como parte de um processo de amadurecimento e
desenvolvimento.
E o que est acontecendo nos Estados Unidos neste momento
um excelente exemplo de como esse processo se manifesta.
O consumidor mdio norte-americano do perodo pr-crise
imobiliria, econmica e financeira, emergente da crise anterior,
do estouro da bolha da internet e da Nasdaq de 2000, teve at
2007 um novo perodo de euforia consumista, com alguns
eventuais sobressaltos.
Ao ser atingido em cheio pela mais grave das crises recentes, que
se iniciou com o tsunami no mercado imobilirio em 2007, com
reflexos em todas as atividades econmicas e financeiras, mudou
dramaticamente hbitos de compras e consumo.Afetado no curto prazo pela violenta queda do emprego;
pressionado pelo pagamento de seus investimentos imobilirios;
assustado pela perda de valor de seus programas de
aposentadoria; e com uma dramtica perspectiva de curto mdio
e longo prazo, assumiu novos comportamentos, regidos por um
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pragmatismo exacerbado na anlise do que, quanto e onde
comprar.
Marcas e lojas ligadas ao segmento luxo foram banidas do elenco
de alternativas e carregar uma sacola de uma loja tida como
sofisticada passou a ser um comportamento poltico e
socialmente incorreto. A esposa do presidente Obama se tornou
um smbolo da nova atitude, ao mesclar algumas peas de grife
com roupas vendidas pelas redes massificadas.
Foram reduzidas dramaticamente as visitas s lojas tidas como
mais caras e as redes orientadas para valor, como
hipermercados, supercenters, lojas de descontos, centros de
outlet e, principalmente, clubes de compra (como Costco, SamsClub e BJs), passaram a receber clientes que no eram
habitualmente seus frequentadores.
Os supermercados se beneficiaram pelo retorno de clientes que
estavam se acostumando a comer mais em restaurantes, o que
havia feito com que a participao da alimentao fora do lar
chegasse a mais de 50% de todo o consumo de alimentos no pas.
Porm, nesse seu retorno, os clientes no voltaram ao antigo
hbito de comprar para preparar em casa, mas passaram a
comprar, em maior participao, alimentos prontos ou pr-
preparados, para serem consumidos em casa ou no trabalho, em
vez de voltarem diretamente para os restaurantes e outros
formatos de alimentao fora de casa.
O resultado disso um expressivo crescimento da rea de
alimentos prontos ou pr-preparados nos super e hipermercados
e nos prprios clubes de compra, com uma oferta cada vez maiorem quantidade, variedade e qualidade. Alm de um redesenho do
ambiente, da iluminao e da comunicao visual e pessoal para
atender nova demanda.
Seguramente o formato de varejo que melhor se apropriou dos
benefcios dos novos hbitos foram os clubes de compra, que
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passaram a receber um cliente muito mais focado em valor, em
compras de maior quantidade de unidades e com menor nmero
de visitas s lojas. Um cliente especialmente sensibilizado pelo
aumento do custo do combustvel. O tquete mdio de uma visita
a um clube de compras gira em torno dos US$ 100 e so feitasduas visitas por ms. O consumidor norte-americano, no seu
exponenciado pragmatismo de compras, leva ao extremo essas
mudanas.
Por conta disso, o crescimento desse formato est dentre os
maiores dos Estados Unidos, s superado pela expanso das
vendas atravs da internet, outro canal fortemente beneficiado
pela mudana de hbitos, pelo que oferece de oportunidade de
comparao direta de preos, convenincia e menos visitas s
lojas.
Da mesma forma se acelerou o processo de mudanas
envolvendo as redes de farmcias (drugstores), que expandiram
de forma marcante sua rea de alimentos, sade, beleza e
convenincia e reduziram os setores de medicamentos, por conta
dos novos hbitos. As novas lojas, redesenhadas, de uma Duane
Reade, Walgreens ou CVS esto muito mais prximas dosmodelos consagrados na Boots inglesa, com oferta de
sanduches, bebidas, snacks, etc e, l no fundo, os remdios e
produtos que foram a origem do formato.
Mas a recuperao da economia, a melhoria do emprego e um
clima mais leve que j se manifesta nos negcios no traro os
antigos hbitos pr-crise, pois no processo de amadurecimento os
consumidores incorporaro percepes que modificaro para
sempre seu comportamento, a partir da realizao de que, emalguns aspectos, o mundo mudou e no existem razes para
retornar ao passado.
Dentre muitas mudanas que se incorporam, talvez dentre as
mais significativas estejam todas aquelas que envolvem o varejo
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digital, com compras, informao e comparao de produtos e
preos, atravs da internet e do celular. Da mesma forma como a
frequncia aos clubes de compra; o aumento da participao dos
alimentos prontos ou pr-prontos nas compras em super e
hipermercados; ou o uso das drugstores como lojas deconvenincia.
A identificao de alguns desses hbitos que se incorporam e de
seus reflexos no conjunto de mudanas que envolvem a evoluo
dos formatos, dos negcios, dos canais e das marcas um dos
elementos mais fascinantes do processo de transformao
estrutural e estratgica da distribuio. E oferece grandes
oportunidades para quem faz a leitura correta e antecipada
desses movimentos.