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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE HISTÓRIA – REDEPROF.
HISTÓRIA
MARIA DE LOURDES GONÇALVES GUIMARÃES
OS MORADORES DE FAVOR NOS SERTÕES, SUJEITOS NA
HISTÓRIA: reflexões para o ensino
CRATO
2019
MARIA DE LOURDES GONÇALVES GUIMARÃES
OS MORADORES DE FAVOR NOS SERTÕES, SUJEITOS NA
HISTÓRIA: reflexões para o ensino
Dissertação submetida à Coordenação do Mestrado
Profissional em Ensino de História
REDEPROF.HISTÓRIA da Universidade
Regional do Cariri - URCA, como requisito parcial
para obtenção do grau de Mestre em Ensino de
História.
Área de Concentração: História Social
Orientador: Prof. Dr. Darlan de Oliveira Reis Júnior
CRATO
2019
MARIA DE LOURDES GONÇALVES GUIMARÃES
OS MORADORES DE FAVOR NOS SERTÕES, SUJEITOS NA
HISTÓRIA: reflexões para o ensino
Dissertação submetida à Coordenação do Mestrado
Profissional em Ensino de História
REDEPROF.HISTÓRIA da Universidade
Regional do Cariri - URCA, como requisito parcial
para obtenção do grau de Mestre em Ensino de
História.
Aprovada em 24/07/2019.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________
Prof. Dr.Darlan de Oliveira Reis Júnior – (Orientador)
Universidade Regional do Cariri – URCA
__________________________________________________________
Prof.ª. Dr(a). Ana Isabel R. Parente Cortez – (Examinador interno)
Universidade Regional do Cariri – URCA
__________________________________________________________
Prof.ª. Dr(a). Ana Sara R. Parente Cortez Irffi – (Examinador externo)
Universidade Federal do Ceará – UFC
Crato – CE
Aos meus avós (Manoel e Rosa, Sebastião e Ana).
Aos meus pais (Antônio e Gilza e, por ela, ao Pe.
Cicero Romão Batista e Frei Damião de Bozzano,
ambos - in memoriam).
À minha tia avó (DamiAna)
Aos meus irmãos e irmãs (Antônio de Pádua, Dehon,
Dehane e família, Daniele (tia/mãe dos meus filhos),
João Paulo e Daniel.
Aos meus cunhados Júnior e Aparecida e suas
famílias.
Aos meus sogros (Daõzinho (do coração) e Cícera –
ambos in memoriam).
Ao meu esposo (Marcos Antônio) a quem dedico o
meu amor e agradeço por ter encarado dividir a vida
comigo.
“Os outros eu encontrei por acaso, você eu encontrei por que era preciso.”1
Aos meus filhos (Ana Larissa, Marlon e Danton)
“Vossos filhos não são vossos filhos
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.”2
Aos meus tios e primos e demais familiares dessa
grande família que somos e gostamos de ser
1 Guimarães Rosa 2 Khalil Gibran.
Disponível em: <https://www.pensador.com/frase/NzQxNDU/>acesso 13.04.2019
Aos meus amigos, em especial Uta Bergmann, Côca
(madrinha), Toinha, Eudes, Dalvinha dentre tantos.
Aos meus professores (desde a minha mãe, minha
alfabetizadora e, em especial a Maria do Socorro
Leite de Lima, Maria Euda Albuquerque, Maria de
Lourdes Morais da Cunha e Francisca Zulene de
Figueirêdo Santos - in memorian - aos do
ProfHISTÓRIA).
Aos colegas das Escolas nas quais lecionei com
destaque para O Centro Educacional de Milagres
(representadas pelas professoras Socorro, Fatinha e
Mazé) e, do CEJA Pe. Joaquim Alves.
Aos meus colegas das turmas I (de origem) e a II (que
me acolheu após um tempo necessário de
recolhimento) do ProfHISTÓRIA da URCA.
A todas as pessoas que de alguma forma desde a
minha infância e adolescência me deram estrutura e
apoio para os meus estudos e formação Dero e Irá
(padrinhos), Dária, Edna, Dr. Raildo, Ana e Ana
Régia).
A todas as pessoas que direta ou indiretamente me
apoiaram e acreditaram em mim quando tudo parecia
impossível.
A João Ferreira de Maria in memoriam, um sertanejo
que em tempos de seca em algum momento foi
morador, e em nome dos moradores dos sertões,
tantos, anônimos...
AGRADECIMENTOS
A Deus.
A todos(as) da E.E.M. Dona Antônia Lindalva de Morais na cidade de Milagres - CE
pelo apoio que recebi durante esse processo de formação.
À minha colega Sara Regina Nunes de Almeida que primeiro me apresentou o Programa
de Mestrado e me incentivou a buscá-lo.
Às colegas de trabalho e amigas Ana Maria Nunes da Silva e Maria de Fátima Pereira
de Araújo.
À amiga Lucélia Macêdo Landim por tudo o que fez para me ajudar, e não foi pouco.
Ao professor Carlos César Pereira de Sousa, colega historiador, que deu muito de si para
compensar a minha ausência na escola em que trabalhamos.
À professora de Geografia Maria de Lourdes Belém, pelo incentivo e aos demais colegas
da Área de Ciências Humanas da Escola.
Aos professores de História Lucas, Toninho, colegas com quem pude contar em
momento importante e decisivo da minha trajetória profissional e nesse mesmo momento às
colegas Riva, Raimunda, Sergineide, também ao professore de História Varela, a merendeira
Dona Maria (in memorian) e Edson tempos em que lecionei em Missão Velha - CE.
Ao professor Francisco Ivanildo de Sousa, pessoa singular, pelo seu apoio.
Às minhas primas Ana Paula Leite Bezerra (comadre) pelo apoio e insistência e a Maria
Aniele Leite Bezerra, pela paciência e aos primos Alexsandro Fernandes Ferreira e família,
Francisco Leite Bezerra e Cicera Márcia Leite Bezerra pelo apoio.
A amiga Maria Socorro Buíque da Silva pela sua disponibilidade sempre.
Ao meu amigo Wanderson Leite que com sua paciência budista me acalmou nessas
últimas semanas
Ao sociólogo e compadre José Acleudoman Barbosa Landim (Dr. Mano), com quem
aprendi as primeiras lições de Sociologia na teoria e na prática e a Marta Silvia Leite Bezerra
(prima), que me apresentou esta oportunidade) em nome dos que fizeram a ONG -
FUNDAÇÃO RURAL.
Aos amigos da Associação Comunitária de Milagres - ACOM e Hospital e Maternidade
Madre Rosa Gattorno – HMMRG (Dr. Jânio, Joanacele, Lucy, Bel, Ancelmo, Domingos,
Aurineide, Cicera, Victor, Zilda, Pedro Evangelista, Edna, Jussara Belém, Juliana, Alessandra,
Verônica, Klécio, Vicência, Cida, Bia, Terezinha, Gena, Janilma, (in memorian), Dona Maria
(in memorian) e Pitica (in memorian) em cujo espaço percebi e decidi que o meu lugar era a
Educação.
A professora Francisca Rozimar Alves Belém Morais que me proporcionou a primeira
oportunidade de lecionar.
Aos médicos Drª. Daiany Dantas Varela, Dr. José Adailson Barbosa Landim e Drª.
Francisca Ilânia Malheiro Moraes, e psicólogos Dr. Manoel Ricardo Lucena Cabral, Drª. Maria
Auxiliadora de Lacerda e Drª. Renata de Sousa Alves pelo acompanhamento que me dedicaram.
Aos que fazem a Pastoral Familiar da Paróquia de Nossa Senhora dos Milagres nas
pessoas do casal amigo Gervázio e Cláudia.
Aos professores do Mestrado: Drª. Ana Isabel R. Parente Cortez (compreensão e
incentivo), Dr. Francisco Egberto de Melo, Drª. Paula C. de Lira Santos (compreensão e
incentivo), Drª. Sônia Maria de Meneses Silva e Dr. Titus Benedickt Riedl, além dos
professores convidados Prof. Dr. Itamar Freitas e Prof. Dr. Almir Félix Batista de Oliveira e à
Profª. Mestra Maria de Fátima Morais Pinho, cujas experiências apresentadas nas aulas
ministradas foram muito importantes.
Aos que fazem o Centro de Documentação do Cariri – CEDOCC por toda a
disponibilidade e acolhimento.
E sem palavras suficientes o meu sincero agradecimento ao meu orientador, o Professor
Dr. Darlan de Oliveira Reis Júnior, que me aceitou como orientanda, compreendeu, segurou na
minha mão, me levantou, me encorajou, esperou, exigiu, revisou, sugeriu, enfim, me
instrumentalizou e demonstrou que no gelo que às vezes aparenta a academia pode ser
encontrado o calor humano, e claro, sem comprometer o rigor que é característico desse tipo de
produção científica. A ele, especialmente dedico as palavras do Che, “Hey que endurecerce
pero sim, perder la ternura jámas. ”
Enfim, e com muita consideração, às professoras doutoras Ana Isabel R. Parente Cortez
(Universidade Regional do Cariri - URCA) e Ana Sara R. Parente Cortez Irffi (Universidade
Federal do Ceará - UFC) que aceitaram avaliar esse trabalho e em muito colaboraram e
valorizaram com as devidas orientações. Essa conquista é resultado de batalhas as quais não
lutei sozinha. Enfim a minha gratidão aos que estiveram comigo. Difícil é não cometer injustiça.
-
“Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de
educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira
crítica.”3
3 Paulo Freire
Disponível em:
https://www.pensador.com/paulo_freire_frases_educacao/. Acesso 13.04.2019
RESUMO
Estudo sobre o ‘morador de favor’ nos sertões e o lugar que esta categoria de trabalhadores
ocupa na amplitude do campesinato no Brasil. Investigação da abordagem dada a esses
camponeses em ‘livros didáticos de História do Ensino Médio’, no contexto do mundo rural
brasileiro. Produção sob a perspectiva da História Social, de proposta didática de ‘jornal’ como
fonte para inserção desse sujeito histórico no cotidiano do ensino de História e reforçar o
exercício de análise de fontes, como possibilidade de construção crítica desse tipo de saber.
Palavras-chave: Morador de favor. Ensino de História. Livro didático. Jornal. História Social.
ABSTRACT
Study about the 'resident of favor' – farmers who live in their boss’s land free of charge - in the
Brazilian Drylands and the place this category of workers occupies in the extent of the
agriculturists in Brazil. Investigation of the approach given to these farmers in 'High School
History textbooks' in the context of the Brazilian rural world. Production under the perspective
of Social History, a teaching proposal of the use of newspapers as a source to introduce this
historical subject in the daily teaching of History, and emphasis on the analysis of sources as a
possibility of critical construction of this type of knowledge.
Keywords: Resident of favor. Teaching of History. Textbook and newspaper. Social History.
LISTA DE SIGLAS
URCA Universidade Regional do Cariri
CEDOCC Centro de Documentação do Cariri
PNLD Programa Nacional do Livro Didático
PPP Projeto político pedagógico
MEC Ministério da Educação e Cultura
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Panorama de fatos e produções que marcaram a construção do preconceito contra
Nordeste com base em (ALBUQUERQUE.2012)
Quadro 2 – Coleções de História aprovadas pelo PNLD/2015
Quadro 2 - Ocorrências dos termos morador e moradores independente do significado e (X)
dos termos morador e moradores como sujeito histórico e objeto desta pesquisa.
Quadro 4 - Dados sobre as coleções de livros didáticos de História analisados.
.
LISTA DE IMAGENS
Imagem 1 - Recolhida do livro didático História Geral e do Brasil - vol. 3 página 23 Fonte:
VICENTINO, 2013
Imagem 2 - Recolhida do livro didático História Geral e do Brasil - vol. 3 página 24 Fonte:
VICENTINO, 2013
Imagem 3 - Recolhida do livro didático História Geral e do Brasil - vol. 3 página 31 Fonte:
VICENTINO, 2013
Imagem 4 - Recolhida do livro didático História Geral e do Brasil - vol. 3 página 32 Fonte:
VICENTINO, 2013
Imagem 5 - Recolhida do livro didático História Geral e do Brasil - vol. 3 página 33 Fonte:
VICENTINO, 2013
Imagem 6 - Recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 2 página 85
Fonte: BOULOS, 2013
Imagem 7 - Recolhida do livro didático História - Sociedade e Cidadania – vol. 3 página 50.
Fonte: BOULOS, 2013
Imagem 8 - Recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 3 página 85
Fonte: BOULOS, 2013
Imagem 9 - Recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 3 página 51
Fonte: BOULOS, 2013
Imagem 10 - Recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 3 página
62 Fonte: BOULOS, 2013
Imagem 11 - Recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 3 página
63 Fonte: BOULOS, 2013
Imagem 12 - Recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 3 página
65 Fonte: BOULOS, 2013
Imagem 13 - Recolhida do livro didático Oficina de História, vol. 1 página 240 Fonte:
CAMPOS 2013
Imagem 14 - Recolhida do livro didático Oficina de História, vol. 1 página 241 Fonte:
CAMPOS 2013
Imagem 15 - Recolhida do livro didático Oficina de História, vol. 2 página 216 Fonte:
CAMPOS 2013
Imagem 16 - Recolhida do livro didático Oficina de História, vol. 2 página 246 Fonte:
CAMPOS 2013.
Imagem 17 - Recolhida do livro didático Oficina de História, vol. 2 página 247 Fonte:
CAMPOS 2013
Imagem 18 - Recolhida do livro didático Oficina de História, vol. 2 página 248 Fonte:
CAMPOS 2013
Imagem 19 - Recolhida do livro didático Oficina de História, vol. 2 página 249 Fonte:
CAMPOS 2013
Imagem 20 - Recolhida do livro didático Oficina de História, vol. 2 página 250 Fonte:
CAMPOS 2013
Imagem 21 - Recolhida do livro didático Oficina de História, vol. 2 página 251 Fonte:
CAMPOS 2013
Imagem 22 - Correspondências
Imagem 233 - Correspondência
Imagem 244 - Correspondência
Imagem 25 - A pedido
Imagem 26 - Communicados
Imagem 27 - O enajamento
Imagem 28 - Anúncios
Imagem 29 - Um apelo aos proprietários
Imagem 30 - Declaração
Imagem 31 - Lições de Jurisprudência
Imagem 25 - Correspondência
Imagem 26 - Correspondências
Imagem 27 - Comunicados
Imagem 28 - Declaração
Imagem 29 - Noticiário
Imagem 30 - Retificação
Imagem 31 – Utimahora
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 17
2. OS MORADORES DE FAVOR .......................................................................................... 22
2.1 A questão do campesinato brasileiro .................................................................................. 22
2.2 Os moradores de favor ........................................................................................................ 25
3. PRESENÇAS E AUSÊNCIAS DO SUJEITO HISTÓRICO: ‘O MORADOR DE FAVOR’
EM LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO – PNLD/2015 .......................................... 30
3.1 Sobre os livros didáticos em geral e usos do livro didático de História ............................. 30
3.2 Dentre tantas: as coleções escolhidas: .............................................................................. 37
3.2.1 História Geral e do Brasil (Coleção 1) - Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo. ...... 37
3.2.2 História – Sociedade e Cidadania (Coleção 2) – Alfredo Boulos Júnior ........................ 43
3.2.3. Oficina de História (Coleção 3) – Flávio de Campos/Regina Claro .............................. 50
3.3. Deve o livro didático contemplar ‘os moradores de favor’? ............................................. 61
4.0 PARA ALÉM DO LIVRO DIDÁTICO – COMO INSERIR UM SUJEITO
HISTÓRICO NO ENSINO DE HISTÓRIA - JORNAIS COMO FONTE E SUPORTE64
4.1. PROJETO DE APRENDIZAGEM ................................................................................... 66
4.2. O jornal O ARARIPE como fonte de pesquisa para o estudo do morador de favor nos
sertões do Brasil ....................................................................................................................... 69
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 91
6. APÊNDICE ..................................................................................................................... 93
7. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................ 99
8. ANEXOS ....................................................................................................................... 101
17
1. INTRODUÇÃO
A historiografia, assim como outros tipos de conhecimento humano é um campo em
permanente construção, não se esgota. Esse processo é passível de escolhas e de prevalência de
determinados fatos e objetos em detrimento de outros, pois sofre influências de contextos
políticos, econômicos, sociais e culturais que por razões e/ou interesses de grupos
“privilegiados” com poder de filtrar, segundo seus próprios interesses, a história que pode/deve
ser contada.
Ao historiador/pesquisador e/ou ao profissional da sala de aula cabe a responsabilidade
de perceber as lacunas criadas a partir desse filtro e, dentro do seu campo de pesquisa e/ou
atuação pedagógica, encontrar formas que possibilitem legitimamente (orientadas pelos
métodos da História), a inserção de sujeitos e/ou objetos que sejam identificados como ausentes,
porém importantes, tanto quanto os que foram previamente selecionados para a compreensão
de contextos determinados. O nosso objeto de pesquisa, a saber – ‘os moradores de favor’ se
relacionam com a observação da existência na sociedade brasileira atual de tantas pessoas
desapropriadas do direito à terra para a produção agrária ligada a culturas de subsistência. Para
isso, necessitávamos precisar um tempo e espaço. Decidimos por delimitá-lo no tempo do final
do século XIX ao início do XX, no que diz respeito a análise dos livros didáticos e para o
trabalho com o jornal o Araripe, (1855-1864), ou seja, um intervalo desse tempo que
corresponde ao período de circulação do mesmo e que pela própria natureza do que
propomos compreendemos que é nesse período (final do XIX) que o nosso objeto se cristaliza.
Como espaço, o ‘sertão’ nordestino, por ser onde empiricamente compreendíamos a
existência, desses sujeitos históricos que nos propusemos a estudar.
A exclusão dos homens livres e pobres do acesso à terra no Brasil é uma realidade, desde
o início da colonização e, contribuiu para aumentar essa restrição, a aprovação da Lei das
Terras de 1850 pelo governo imperial determinando que somente através de compra, é que
alguém poderia se tornar dono, sendo que essa prática passou a ser vista como crime. A partir
do vigor da lei e sem documentação de posse o indivíduo que tentasse ocupar terras seria
criminalizado. Podendo isso ter agravado o problema que até hoje afeta um grupo social
reconhecido como ‘os sem-terra’.
Assim, os sujeitos livres pobres ou ex-escravos que não dispunham de recursos
suficientes para adquirirem ou estabelecerem juridicamente sua propriedade, teriam que buscar
necessariamente alternativas de trabalho para garantir a sobrevivência.
18
Dentre as categorias de camponeses que vão se constituir ao longo da história do Brasil
selecionamos para essa pesquisa, ‘os moradores de favor’, os quais defendemos como uma
categoria presente na história do Brasil, que pode ser formada tanto por homens livres pobres,
quanto por ex-escravos alforriados, ou a partir do momento da extinção legal da escravidão,
fato que junto com a Lei das Terras de 1850, teve como consequência o aumento desse
contingente. Ao pensar sobre “os moradores de favor’ nesse tempo e espaço, surgem algumas
questões que entendemos merecer atenção e por isso procuramos nos dedicar às mesmas. A
primeira se refere a consulta de uma historiografia no sentido dos explorados, que nos
permitisse analisar e compreender o objeto de estudo dentro do tempo proposto para o estudo.
A segunda, é identificar se esses indivíduos ‘os moradores de favor’ estão inseridos no ensino
da disciplina de História, nos livros didáticos do Ensino Médio. Além disso, nos interessava
entender de forma mais profunda como se davam as relações entre esses dois grupos, ou seja,
determinar os uso e abusos, ou não, dos proprietários coronéis em relação ao trabalhador dito
morador de favor e se aparecem formas de resistência. A partir daí, relacioná-las ao que James
C. Scott (2013) denomina de discursos ocultos e/ou públicos tanto da parte dos dominadores
quanto dos subordinados.
No que diz respeito aos livros didáticos, observando a abordagem dada ao objeto da
pesquisa e da constatação, se há ou não, ou se há de forma insuficiente a presença desses sujeitos
(moradores de favor) e dependendo do resultado oferecer um modelo de Projeto de
Aprendizagem para os professores da disciplina de História, principalmente para aqueles que
não são habilitados mas, que por razões diversas lecionam essa disciplina possam abordar temas
que considerem importantes e estejam ausentes dos livros. Portanto, a hipótese consistia em
que esse sujeito estivesse ausente dos livros didáticos de História do Ensino Médio, nosso
campo de atuação no momento.
O ensino médio, segundo a Lei 9.324/96, deve ser presidido por uma educação geral
formativa e não propedêutica, sem a preocupação com a especialização profissional,
mas tendo como objetivo central o preparo para o exercício da cidadania
(BITTENCOURT, 2004, p. 117).
Acreditamos que atuar na escola é o momento em que o saber acadêmico enfrenta os
desafios e contradições existentes no ambiente escolar. É onde a teoria se encontra
com o que realmente acontece, há falta de materiais didáticos e infraestrutura;
professores desmotivados; violência escolar; indisciplina; entre outros. Em torno
disso, é preciso articular diferentes recursos a fim de construir caminhos que vão
estruturando a prática docente. Nessa perspectiva, a prática deixa de ser uma pare do
curso de formação inicial para se configurar numa “atividade teórica de
conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade, esta sim, objeto da
práxis. Ou seja, é no contexto da sala de aula, da escola, do sistema de ensino e da
sociedade que a práxis se dá” (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 45 apud ANDRADE et
al., 2015, p. 21).
19
A questão central, era: os moradores de favor estavam inseridos nos livros de História
do Ensino Médio? O momento era o agora, ou seja, os materiais – livros didáticos – que estavam
sendo utilizados nas escolas brasileiras. Optamos pelo Programa Nacional do Livro Didático
2015 para o Ensino Médio (PNLD) e selecionamos 3 (três), dentre tantas coleções aprovadas e
disponíveis para a escolha. As quais apresentamos a seguir:
1. História Geral e do Brasil (Coleção 1) – Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo – Editora
Scipione
2. História Sociedade e Cidadania (Coleção 2) – Alfredo Boulos Júnior - FTD
3. Oficina de História (Coleção 3) – Flávio de Campos/Regina Claro - Leya
Caso evidenciássemos a nossa hipótese, deveríamos necessariamente partir para a
proposição de uma metodologia que coadunasse com a nossa proposta. Uma forma de sugerir
aos professores que tivessem o interesse de inserir esses sujeitos de forma específica nas aulas
de História dada a sua importância, ou seja, a relevância social para o contexto proposto e
também para o tempo posterior ao tratado nesta pesquisa, lembrando aqui dos sem-terra e da
sua luta no contexto atual. Selecionamos como fonte de pesquisa, além das três coleções acima,
o jornal O Araripe. O mesmo compõe o acervo documental de instituições como a
Universidade Regional do Cariri (URCA), no Centro de Documentação do Cariri (CEDOCC).
Demonstrando assim, que existem formas acessíveis e baratas de se promover um ensino de
História com uma maior diversidade de materiais e o jornal é uma sugestão.
Entendendo a História como fruto das relações estabelecidas entre grupos sociais
configurando campos de disputas em determinados tempos e espaços onde são encontrados os
vencedores e os perdedores/vencidos, não apenas nos fatos em si, mas nos discursos que
prevalecem e perpassam o tempo pretendíamos identificar se o nosso objeto – ‘o morador de
favor’ – (excluído da disciplina de História?) se opunha (no tempo/espaço estabelecido) ao
proprietário de terras. Seguindo esse raciocínio, buscaríamos compreender as formas pelas
quais se processavam a dominação e como ela era encarada pelos moradores de favor, e
identificar dentro dos conflitos existentes entre os diversos grupos sociais presentes no
contexto, formas de resistências dos últimos. Para realizarmos essa análise selecionamos os
conceitos de dominação e resistência propostos por James C. Scott.
As formas de dominação baseadas na presunção ou na afirmação da superioridade
intrínseca das elites governantes parecem depender fortemente da ostentação, das leis
sumptuárias, de uma parafernália de símbolos, de insígnias e de cerimônias públicas
ou de reverência ou de homenagem. O desejo de inculcar hábitos de obediência e
respeito pela hierarquia pode, tal como sucede nas organizações militares, produzir
20
mecanismos semelhantes (SCOTT, 2013, p. 40).
Os proprietários coronéis que de posse de suas patentes e insígnias, a farda, a espada, as
armas de fogo, ostentavam o poder que lhes permitia a dominação e que de regra era
incontestável pelos seus subordinados, - em maior parte somente de forma explícita - mesmo
que dessa forma só se efetivasse na esfera pública, ou seja, no campo privado poderiam
desenvolver-se questionamentos e até tentativas de libertação dessa dominação. De acordo com
Scott (2013), na esfera privada essa dominação era muitas vezes discutida e contestada e em
alguns casos essas insatisfações vinham a público, o que significava um desafio ao poder, e que
poderia levar o indivíduo a sofrer punições de diversas formas.
O ‘morador de favor’, compreendemos, encontrava-se no centro da subordinação
sujeito a todos os tipos de dominação, já que não possuía a sua própria terra, ou seja,
despossuído dos meios para lavrar e garantir o seu sustento e dos seus familiares, encontrava-
se à mercê das benesses dos ditos potentados, que por sua vez objetivavam garantir o
predomínio da dominação. Defendemos que por vezes aflorava nos moradores o desejo de se
libertar dessa dominação e, mesmo arriscando-se, evidenciavam de alguma forma essa
insatisfação tirando da latência formas de resistências que se efetivavam e poderiam ter êxito
ou não. Ao delimitar o objeto de estudo – os moradores de favor – buscamos compreendê-lo
dentro de um campo teórico que subsidiasse a resolução das questões que apresentamos a seu
respeito. Entendemos então, que os moradores de favor aqui destacados pertenceriam a uma
categoria maior, que é a do campesinato. A abordagem desse objeto de estudo – os moradores
de favor - não poderia se dá sem a análise do conceito de campesinato, este aplicado no território
compreendido como Brasil no tempo em que elegemos para estudá-lo.
De acordo com SEVERINO (2007, P.122) reconhecemos a nossa pesquisa como
bibliográfica e ao mesmo tempo documental. Daí no capítulo intitulado Os moradores de favor
termos como propósito analisar a presença do conceito de morador de favor e verificar de que
forma é tratado no meio acadêmico, a partir da análise de uma bibliografia recente relacionada
ao mundo rural brasileiro. Verificar se o mesmo pertente ao conjunto das categorias que
integram o de campesinato no Brasil, ou em não pertencendo defender o seu enquadramento
como tal. No capítulo Presenças e ausências do sujeito histórico: ‘O morador de favor’ em
livros didáticos do Ensino Médio – PNLD 2015 trataremos de encontrar ou não – o morador de
favor – como sujeito histórico em livros de História do Ensino Médio. Lembramos que a nossa
hipótese é de ausência. Caso o encontremos, não descartaremos o mesmo e trataremos de tentar
compreender de que forma está inserido. No último capítulo Para além do livro didático – como
21
inserir um sujeito histórico no ensino de História – jornais como fonte e suporte faremos a
busca do nosso objeto no jornal O Araripe tratando-o como fonte passível de utilização nas
salas de aulas e sugerindo esse tipo de trabalho como metodologia para o Ensino de História
dedicando atenção, tanto em relação aos livros didáticos como para o jornal O Araripe utilizado
como fonte de pesquisa, para a verificação da presença do objeto e da existência de conflito
provocado pelo choque entre as formas de dominação e resistência.
Diante do objetivo de refletir sobre a presença dos moradores de favor no ensino de
História investimos esforços para uma maior compreensão do mundo rural brasileiro no
contexto aqui apresentado, de forma a contribuir efetivamente para a inserção desses sujeitos
que identificados como alijados desse ensino, possam vir a compor o mesmo, ou seja investimos
na História vista de baixo.
O interesse pelo estudo desse objeto vem da carga acumulada na nossa história de vida.
Na infância, vivendo em uma comunidade de pequenos agricultores proprietários que
trabalhavam para a subsistência convivíamos paralelamente, com sítios e fazendas vizinhas
cujos proprietários mantinham pessoas morando em casebres de condições insalubres, que lhes
prestavam serviços, ao mesmo tempo em que produziam em pequenas roças para garantirem a
sobrevivência. Ainda na década de 1990 testemunhamos atitudes de proprietários de terras, que
mantinham as mesmas relações com os seus moradores presentes em décadas e séculos
passados da história do Brasil, como manter a autoridade através da temeridade, onde valia a
lei do mais forte.
Esses sujeitos, subordinados passaram como anônimos ou invisíveis para o ensino da
disciplina de História. Mas, eles existiram e ainda existem. Estavam lá no tempo e espaço e
ainda estão no tempo presente, seja nessa mesma condição de moradores de favor, ou compondo
as levas dos ditos “sem-terra” fizeram e ainda fazem a parte dura do trabalho na agricultura. O
que nos move é ao mesmo tempo em que buscamos contribuir para a discussão sobre o ensino
de História e dar visibilidade a esses sujeitos históricos.
22
2. OS MORADORES DE FAVOR
2.1 A questão do campesinato brasileiro
Eleger uma definição de campesinato foi necessário para podermos aprofundar o nosso
estudo em relação ao objeto dessa pesquisa, os moradores de favor. Na História do Brasil, os
camponeses muitas vezes foram silenciados e construiu-se uma espécie de amnésia da memória
social, deste grupo social. De acordo com Sabourin (2009, p. 4) o “termo campesinato utilizado
no Brasil corresponde a uma categoria política e não apenas à categoria científica do modelo
camponês, que teorizam Wolf e Mendras”. Ainda segundo o autor, “a agricultura camponesa
do Nordeste do Brasil tem três origens sociais e técnicas: a agricultura indígena, os
trabalhadores da agricultura colonial e os trabalhadores ou pequenos colonos livres”
(SABOURIN, 2009, p. 6).
Estudar o campesinato no Brasil implica entrar em choque com o modelo europeu pela
dificuldade de seu não reconhecimento quando colocado em frente ao modelo “das formas
camponesas europeias medievais.” (WELCH et al., 2009, p. 9) Todavia, há reconhecimento de
princípios mínimos que permitem tanto aos que investem no campo acadêmico quanto no
político, dialogar em torno de reflexões capazes de demonstrar a presença da forma ou condição
camponesa sob a variedade de possibilidades de objetivações ou situações sociais.
No caso da sociedade brasileira, formas camponesas coexistem com outros modos de
produzir, que mantêm relações de interdependência, fundamentais à reprodução social
nas condições hierárquicas dominantes. Assim, a título de exemplo, ao lado ou no
interior das grandes fazendas de produção de cana-de-açúcar, algodão e café, havia a
incorporação de formas de mobilização de força de trabalho, ou de atração de trabalho
livre e relativamente autônomo, fundamentadas na imposição técnica do uso de
trabalho basicamente manual e de trabalhadores familiares, isto é, membros da família
do trabalhador alocado como responsável pela equipe. Esses fundamentais agentes
camponeses agricultores apareciam sob designação de colonos, arrendatários,
parceiros, agregados, moradores, e até sitiantes, termos que não podem ser entendidos
sem a articulação com a grande produção agroindustrial e pastoril. (WELCH, 2009,
p. 11).
Na citação acima aparece o conceito moradores em uma referência ao nosso objeto.
Porém, esse termo pode ser considerado um problema para o reconhecimento do mesmo, daí
considerarmos a necessidade de analisar os significados deste termo. FERREIRA (1987)
define:
23
“Morador4 (ô), adj. Que mora; s.m. habitante; inquilino em propriedade rural;
agregado, (Cf. murador.); [...] Agregado5 (agregado), adj. Adjunto, anexo; reunido;
s.m. conjunto, reunião; (Bras.) aquele que vive em uma família como pessoa da casa;
serviçal; lavrador pobre estabelecido em terra alheia mediante certas condições (sinô,
neste último sentido: morador); São Paulo (São Paulo) aquele que vive em uma
fazenda ou sítio, prestando serviços avulsos sem propriamente ser empregado:
Nordeste e Bahia). Aquele que vive em uma fazenda ou engenho, cultivando certa
porção de terra que não lhe pertence e prestando alguns dias de trabalho ao
proprietário, mediante uma remuneração.”
Ambos os termos citados são comumente utilizados na bibliografia referente a esses
sujeitos históricos, os moradores de favor, mas ao mesmo tempo apresentam outros
significados, que não necessariamente apenas confundem, mas deixam um vazio no sentido da
identificação. Defendo o termo morador de favor por considerar que morador é muito vago e
até mesmo fluido enquanto agregado, da forma que foi apresentado, apesar de representar bem
não faz parte do costume, ou seja, no Nordeste, ninguém se refere a agregado de fulano de tal,
e sim, a morador de fulano de tal.
Segundo Motta e Zarth (2008) existe uma tradição camponesa no Brasil com cultura e
identidade próprias, ou seja, referência identitária e organização social.
Em termos gerais, podemos afirmar que o campesinato, como categoria analítica e
histórica, é constituído por poliprodutores, integrados ao jogo de forças sociais do
mundo contemporâneo. Para a construção da história social do campesinato no Brasil,
a categoria será reconhecida pela produção, em modo e grau variáveis, para o
mercado, termo que abrange, guardando as singularidades inerentes a cada forma, os
mercados locais, os mercados em rede, os nacionais e os internacionais. Se a relação
com o mercado é característica distintiva desses produtores (cultivadores,
agricultores, extrativistas), as condições dessa produção guardam especificidades que
se fundamentam na alocação ou no recrutamento de mão-de-obra familiar. Trata-se
do investimento organizativo da condição de existência desses trabalhadores e de seu
patrimônio material, produtivo e sociocultural, variável segundo sua capacidade
produtiva (composição e tamanho da família, ciclo de vida do grupo doméstico,
relação entre composição de unidade de produção e unidade de consumo). Por esses
termos, a forma de alocação dos trabalhadores também incorpora referências de
gestão produtiva, segundo valores sociais reconhecidos como orientadores das
alternativas de reprodução familiar, condição da qual decorrem modos de gerir a
herança, a sucessão, a socialização dos filhos, a construção de diferenciados projetos
de inserção das gerações (NEVES; SILVA, 2008, p. 7).
Em meio à complexidade dos conceitos de camponês e campesinato no Brasil,
consideramos que é possível reconhecer essas categorias na experiência histórica brasileira e
aplicá-las de forma a legitimar e fortalecer a resistência histórica desses grupos sociais.
Assim sendo, mais importante é perceber que, apesar da heterogeneidade referida,
todas estas situações concretas apontam para a existência, no meio rural brasileiro, de
produtores agrícolas, vinculados a famílias e grupos sociais que se relacionam em
função da referência ao patrimônio familiar e constroem um modo de vida e uma
forma de trabalhar, cujos eixos são constituídos pelos laços familiares e de vizinhança.
4 FERREIRA (1987, p. 823)
5 FERREIRA (1987, p. 39)
24
É a presença desta característica que nos autoriza a considerá-los camponeses, para
além das particularidades de cada situação e da conexão (ou superposição) das
múltiplas referências identitárias, assumindo que os conceitos de campesinato e
agricultura familiar podem ser compreendidos como equivalentes.
(WANDERLEY, 2015, p. 31)
O reconhecimento da resistência frente à dominação que perpassa o tempo e o espaço
e persiste no cotidiano da sociedade brasileira é importante para que os estudantes brasileiros
tomem conhecimento da origem e persistência no Brasil do problema de acesso à terra pelos
camponeses. Segundo Wanderley (2015, p. 25)
A representação da agricultura brasileira associada a grandes propriedades
monocultoras e agroexportadoras é fruto de uma “amnésia social” que nega a
contribuição do campesinato para a sociedade. Definido como uma forma social de
produção, o campesinato corresponde a um modo de vida e a uma cultura. É
necessário, pois, compreender as estratégias fundiárias, produtivas e familiares que
favoreceram, no Brasil, a ocupação de espaços precários e provisórios ou a criação
efetiva de comunidades camponesas com maior perenidade. A modernização da
agricultura no século XX provocou a expulsão dos moradores e dos posseiros. Com a
redemocratização, os movimentos sociais rurais reinscrevem no debate da sociedade,
a atualidade da questão fundiária e a pertinência das lutas pela terra. Os recentes
debates teóricos e políticos a respeito das categorias “campesinato” e “agricultura
familiar” confirmam a constituição de um setor de agricultores não patronais que
exerciam formas próprias de viver e trabalhar, confirmada pelos dados do Censo
Agropecuário de 2006. Os estabelecimentos agrícolas economicamente mais
precários, foram considerados, inicialmente, como “uma franja periférica, enquanto
os programas territoriais os incorporaram na condição de “pobres do campo”. A
inclusão produtiva que correspondem a este tipo de agricultor deveria considerar sua
histórica resistência como camponeses.
No Cariri cearense, o campesinato foi estudado por Darlan de Oliveira Reis Junior,
que ao analisar as formas de vivência e de resistência desta classe social, afirmou que os
camponeses estabeleciam vínculos entre si e lutavam pelo que entendiam serem seus direitos.
Como afirma Antonio Candido, entre os trabalhadores que vivenciavam a condição
camponesa, havia uma inevitável solidariedade, a necessidade de ajuda determinava
uma rede ampla de relações, ligando uns aos outros, estabelecendo laços de
sociabilidade e diversas modalidades de trabalho. Como o mutirão – onde um
convoca os demais a fim de ajudá-lo (derrubada, roça, plantio, limpa, colheita,
construção). Não há remuneração direta, a não ser a obrigação moral de corresponder
ao auxílio. Outra forma era o auxílio vicinal coletivo, quando os vizinhos percebendo
as dificuldades de um deles, combinavam a ajuda, sem aviso prévio. O depoimento de
Irineu Pinheiro, que chegou a presenciar o mutirão em meados do século XX,
corrobora o que Maria Isaura de Queiroz afirmou sobre as formas de convivência do
campesinato brasileiro. Além da ajuda mútua e coletiva sem remuneração em auxílio
a um vizinho, outro sentido davam os camponeses ao espaço vivido, predominando a
mesma ideia de reciprocidade, conceituada por Queiroz como do ut des, ou seja, “dou
para que me dês”, baseada na confiança, na palavra empenhada. (REIS JUNIOR,
2014, p. 66)
Ao apresentar a forma camponesa no Cariri, REIS JÚNIOR (2014, p. 73) demonstra
que a mesma persiste nos dias atuais
Sobre as comunidades camponesas no Cariri daquele período, persiste nos dias atuais
toda uma tradição cultural, religiosa e produtiva. Vive nos sítios, parte considerável
da população de trabalhadores. Na segunda metade do século XIX, as trajetórias de
25
vida foram marcadas pelas relações entre essas diferentes comunidades e as demais
classes sociais. Existiram aqueles que prosperaram, conseguindo acesso às pequenas
posses. Destes alguns perdiam suas terras e bens por motivo de disputas familiares,
ou rivalidades entre senhores, alguma calamidade climática ou epidêmica. Outros não
tiveram as mesmas possibilidades e foram obrigados a trabalhar como empregados,
em alguns casos, em conjunto com escravizados. Empregavam-se como jornaleiros,
ou pediam proteção e moradia a um senhor, passando à condição de “moradores”, ou
seja, trabalhadores que podiam fazer suas roças em terras senhoriais, construir suas
casas de palha nas mesmas propriedades e prestar alguns serviços aos senhores. Não
eram condições estáticas.
Assim, nas diversas formas em que os camponeses se apresentam historicamente, uma
delas seria na condição de moradores de favor, categoria que é o objeto central desse estudo.
2.2 Os moradores de favor
A experiência da morada como forma tutelada da condição camponesa foi apresentada
por Delma Pessanha Neves, em conjunto com o colonato:
[...] formas de imobilização da força de trabalho em que o proprietário de terra,
controlando os trabalhadores para disponibilidade plena nos momentos de pico
produtivo, liberava-se dos custos de reprodução da mão-de-obra naqueles períodos de
diminuição das atividades agrícolas (NEVES; SILVA, 2008, p. 137).
Colonos e moradores são reconhecidos como sujeitos de relações de trabalho
semelhantes: “Subordinados econômica, social e politicamente aos proprietários de terra, os
colonos e os moradores mantinham relação de dependência pessoal constitutiva dessa
modalidade de uso da força de trabalho” (NEVES; SILVA, 2008, p. 138).
Sendo que essa dependência de acordo com Neves e Silva (2008, p. 138) “era regulada
por determinados valores consensuais que impunham aos fazendeiros certas obrigações e
respeito para com os direitos dos moradores e colonos às lavouras de subsistência e à criação
de animais de pequeno porte,” em relação a ambos ‘e ainda à meação do rendimento obtido na
cultura extensiva e de fins comerciais, apenas para os colonos”.
Nem sempre esses consensos ou contratos eram respeitados a ainda existiam
agravantes por parte dos proprietários:
Em contrapartida, a resistência ou reação aos mecanismos extras de exploração, não
combinados consensualmente, podia redundar em rompimento da relação. Resulta daí
que muitos dos conflitos surgidos por quebra de regras consensuais, vistos como
expressão da ruptura do contrato e desrespeito à dignidade do trabalhador-chefe de
família, revertiam em rompimento definitivo da relação de colonato ou de moradia e
abandono súbito da propriedade, recaindo sobre este as perdas ou prejuízos. Diante de
outras formas de resistência do colono ou do morador (permanência na propriedade
sob relações conflitivas e reivindicação formal ou informal de direito), a humilhação
e a indignação mútuas resultavam muitas vezes em agressões físicas e até homicídio
(NEVES; SILVA, 2008, p. 138).
26
Os abusos se tornavam públicos e na maioria das vezes o maior prejudicado era o
subordinado:
Nessas circunstâncias, em geral o colono ou morador como agente social emergia do
silêncio para os documentos, para a imprensa escrita, tendo registradas sua existência,
suas dificuldades, as regras sociais que eram objeto de desrespeito, sua reação
radicalizada ou seu dramático fim. Sustentadas na relação consensualmente acordada
e na dependência pessoal do trabalhador e de sua família, tais formas de utilização da
força de trabalho propiciavam a transferência dos prejuízos causados por instabilidade
de preços e por falta de sistematicidade nas condições de pagamento do produto
mercantil transferido à cadeia de comercialização (NEVES; SILVA, 2008, p. 138).
Sendo assim, as relações de colonato e morada são representadas pelos trabalhadores
por um princípio integrador básico, qual seja: a relação de troca que os subordinava ao
fazendeiro.
A fazenda abrigava assim não só a residência do proprietário e administrador, como
as dos colonos e moradores; as roças de cana, de mandioca, aipim, abóbora, batata-
doce, milho e feijão principalmente; as hortas dos colonos e moradores; o pomar; o
terreiro das respectivas casas para a criação de animais de pequeno porte, no caso dos
fazendeiros, e de aves (e raramente porcos), dos colonos e moradores; o pasto, os
cercados e os currais para a criação de gado pelo proprietário, onde colonos e
moradores podiam manter umas poucas cabeças, na maior parte dos casos sob
meação. A criação de gado voltava-se para o corte e para a constituição de um rebanho
destinado às atividades de tração com o aradinho e as carroças ou cambonas que
transportavam as canas (NEVES; SILVA, 2008, p. 145).
Nem todo indivíduo ou família se enquadrava no modelo da morada visto que:
A relação de morada era uma alternativa aberta a alguns trabalhadores chefes de
família que conseguiam internalizar as regras consensuais de subordinação pessoal ao
fazendeiro ou do sistema de poder personalizado. Constituía-se como modalidade de
vinculação do trabalhador que supunha a venda da força de trabalho para o fazendeiro
por um salário de menor valor, acrescido da complementação oferecida pelo acesso
às lavouras de subsistência, casa de morada, criação de pequenos animais, direito à
utilização de lenha e, em certos casos, ao leite fornecido como concessão ou pela
criação de algumas vacas. Em certas situações, tais recursos estavam assegurados,
exceto a oferta contínua de área para lavoura de subsistência. Nessa variante, o recurso
era utilizado com o plantio nas entrelinhas do canavial renovado. Como relação
baseada em regras consensuais que definiam a subordinação pessoal dos trabalhadores
ao proprietário e respeito por parte deste aos direitos consensuais daqueles, a moradia
mostrava-se muitas vezes vulnerável a desentendimentos não só por parte do chefe da
família como também de todos os demais membros. Dessa forma, era comum a
ruptura da relação por desrespeito a determinados padrões morais e excesso de
autoridade do fazendeiro: brigar ou ofender o filho do morador; deixar que animais
violassem as lavouras sem a devida reparação; dificultar o uso do tempo para a
dedicação aos cultivos de subsistência; suspender a concessão para a criação de alguns
animais etc.(NEVES; SILVA, 2008, p. 145).
Dessa forma:
Os desentendimentos frequentes acenavam para a inviabilidade da relação por estar
ela pautada por relações e acordos pessoais. Só se sustentava se as partes estivessem
acordadas. Os moradores recebiam os dias de trabalho dos fazendeiros com base na
jornada de trabalho, cujo tempo era regulado por fatores naturais – de sol a sol. Caso
o trabalho nas lavouras administradas pelo fazendeiro diminuísse ou se tornasse
desnecessário, eles estariam impedidos de trabalhar em outra unidade de produção,
salvo com autorização daquele. Como as lavouras de subsistência eram consideradas
complemento não-monetário da remuneração do trabalhador e uma forma de
27
imobilização da força de trabalho, a modalidade de vinculação foi estimulada mesmo
no contexto em que a legislação prescrevia o pagamento do salário mínimo. Constituía
regra consensual que o salário do morador fosse menor, já que era complementado
com a produção de meios de subsistência. (NEVES; SILVA, 2008, p. 146).
“A condição camponesa vem sendo socialmente reconhecida como uma forma eficaz e
legítima de se apropriar dos recursos produtivos” (CLIFFORD, 2009, p. 9)
Com a casa, o morador recebe trabalho (e será um morador de condição) ou terra (e
será um morador foreiro), mas em qualquer dos casos (e mesmo que o morador de
condição não receba sítio), a casa representa mais do que a simples construção e inclui
sempre um terreiro, chão de terra ou fundo de casa que lhe é coextensivo, que é uma
peça da casa. Isso é percebido como “natural” e não precisa ser explicitado no
“contrato” de moradia. O proprietário não reconhecer isso significa um desrespeito
intolerável às regras do jogo, como fica evidenciado nas queixas generalizadas dos
trabalhadores de que os proprietários estão plantando cana “dentro da casa dos
moradores” ou na formulação inversa daqueles para quem as regras da morada
representam uma espécie de imperativo absoluto: “Em todo lugar que eu moro, eu
planto”. Se a casa e o terreiro constituem elementos inerentes ao próprio contrato de
moradia, o mesmo não é verdade do sítio a que pode ter acesso o morador ... (A)...
possibilidade de acesso (a um sítio) ... é dada pelo “contrato” e nunca o sítio em si,
que é apenas uma forma de retribuição do proprietário ao morador por seu trabalho na
cana e a que todos os moradores (estamos nos referindo naturalmente aos moradores
de condição) são candidatos potenciais. Somente quando tal possibilidade deixa de
existir enquanto tal, afetando, pois, a própria relação de moradia, é que os moradores
vão falar de “corte dos sítios”, mesmo quando, como no sul de Pernambuco, os sítios
já foram cortados ou eliminados há muito tempo. Mas não há dúvida que a concessão
de sítios representa o mais importante dos “prêmios” que o senhor de engenho atribui
ao morador, pois significa o morador poder plantar, além do seu roçado, árvores e,
portanto, ligar-se permanentemente à propriedade (e aqui o tempo de permanência
passa a ser um elemento importante). E mais do que isso, o sítio – menos pela sua área
que será função, entre outras coisas, do tamanho da família do morador e de sua
capacidade de canalizar a força de trabalho familiar, sem entrar em choque com o
senhor de engenho, para as atividades que aí desenvolve, do que pela própria divisão
que estabelece entre os que os recebem e os que permanecem na espera – representa
um mecanismo central de diferenciação interna dos moradores de um engenho. Esse
mecanismo pode ser reforçado por outros expedientes que redobram essa
diferenciação, como a permissão de plantar dentro dos sítios a cana, produto “nobre”
e rentável. Essa diferenciação vai se expressar na própria organização espacial do
engenho... (PALMEIRA, 1977, p. 105)
2.3. O morador de favor - sujeito histórico dos sertões nordestinos
REIS JÚNIOR (2014, p. 14) afirma que “tornar-se morador em propriedade de
outra pessoa, estabelecia um modelo de relacionamento baseado na mutualidade, uma prática
paternalista, que Frederico de Castro Neves designa como uma relação de reciprocidade
desigual, submissão versus proteção”. Sendo desigual, a mutualidade sofre um desequilíbrio
quando a reciprocidade é maior ou menor de alguma parte. No caso, o morador é sempre o lado
que tem mais ‘obrigações’ dependendo dos ‘favores’ do proprietário.
Além disso, havia as práticas consideradas paternalistas, que incluíam outros
métodos de subordinação. Os homens de condição social mais humilde também
eram mobilizados para compor as forças de repressão, fossem oficiais - através do
28
recrutamento militar ou nas forças policiais -, fossem as milícias, as tropas de
jagunços ou como capitães do mato, que serviam aos membros da classe senhorial.
(REIS JÚNIOR In: CÂNDIDO, 2017. P.93)
E em relação às consequências desse modelo de produção e exploração do trabalho
humano, o resultado pode ser observado atualmente em grande parcela da sociedade que ainda
continua a reivindicar o direito a terra que historicamente lhes foi negado.
O processo de expropriação da população pobre foi gerador de uma massa de homens
que não tinha acesso à terra e que migrava pelo interior do Nordeste, não apenas nos
momentos de calamidades, como no caso das secas, mas também nos períodos de
“normalidade”. Nesse e em outros episódios, existem possibilidades para pesquisa em
História Social. Histórias de homens e mulheres, seus conflitos; história de resistência,
lutas, vitórias e derrotas no espaço do sertão cearense. ((REIS JÚNIOR In:
CÂNDIDO, 2017. P.92)
Consideramos que dispomos de subsídios suficientes para reconhecermos e
defendermos os ditos moradores, definindo-os, ‘moradores de favor’, como uma categoria
dentre tantas de camponeses brasileiros compreendidas no conceito de campesinato e sujeitos
subordinados a uma estrutura de poder estabelecida, com base no latifúndio.
Em sua tese intitulada “Moradores de Engenho - Relações de trabalho e condições de
vida dos trabalhadores rurais na zona canavieira de Pernambuco, segundo a literatura, a
academia e os próprios atores sociais, Dabat (2012) estuda o contexto histórico da morada, cujo
cenário apresentado é a monocultura da cana-de-açúcar, em Pernambuco atrelada à estrutura
fundiária. Ao mesmo tempo em que aborda “os principais atores: os moradores, dá conta do
contexto político e social que envolve esse objeto de pesquisa até a contemporaneidade. Amplia
o que chama de “interpretações da morada” nas obras de José Lins do Rego e Gilberto Freire,
além de explorar os “entendimentos marxistas acerca da morada”. Sobre a forma como viviam
os moradores no que diz respeito a inserção no trabalho, à alimentação, saúde, moradia,
vestuário, religião e lazer, o faz a partir dos próprios sujeitos estudados pela escolha da
metodologia utilizada na história oral. Recolhe da memória de indivíduos, testemunhos de uma
época marcada pelo domínio do latifúndio sobre uma população pobre e dependente das marcas
dessa condição. Dentre tantas definições de morada e moradores extraímos destacamos a esta
que afirma que a morada é
[...] uma relação entre o proprietário da terra e o camponês ou trabalhador rural,
existente em todo o Brasil. Em 1888, com o fim da escravidão, ela se tornou a
principal forma de relação entre fazendeiros ou patrões de plantações de cana-de-
açúcar (senhor-de-engenho) e a mão-de-obra (Sidersky, 2006). Os moradores eram
trabalhadores que viviam, de forma permanente, em pequenas moradias fornecidas
pelo patrão. Aqueles que dividiam sua colheita com o proprietário eram meeiros. E
aqueles que trocavam o trabalho (mesmo irregular) que prestavam para o patrão por
algum tipo de favor (como morar na propriedade), direito (como ter prioridade para
trabalhar como diarista em relação a trabalhadores externos) ou algum tipo de
remuneração (em natureza ou espécies) que, todavia, nunca correspondia às normas
29
do assalariamento oficial, eram diaristas. Não se tratava mais de escravidão (o
trabalhador pode ir embora livremente), mas tampouco se tratava de troca capitalista,
intermediada por uma relação de assalariamento. Aqui, nos deparamos com uma
relação de reciprocidade desigual, assimétrica. O patrão protegia, hospedava e
garantia a sobrevivência da família do trabalhador que, em troca, lhe prestava tributo,
trabalho, produtos de suas parcelas e obediência. Garcia Jr (1990) acrescenta que "ser
ou tornar-se morador significava se ligar ao senhor do domínio de uma maneira muito
específica, numa relação que supunha residência e trabalho simultaneamente (...). Ao
pedir morada, quem o fazia já demonstrava não ter melhor opção de lugar para ir; não
dispondo de meios de organizar sua existência social, vinha pedir ao senhor que os
fornecece e até mesmo os organizasse para ele" (Garcia Jr., 1990, p.38). De fato, se
este estatuto passou a representar, ao longo dos anos, a última das escolhas para um
camponês (melhor dizendo, uma falta de escolhas), não resta dúvida de que para
Garcia não foi sempre assim. Na época em que não existia mercado da terra e nas
décadas seguintes, não se tratava da única forma de acesso à produção dos jovens e
sem-terra; inclusive para, em seguida, poder ter acesso a outro estatuto, até mesmo o
de proprietário. Ainda que o estatuto de morador tenha sempre sido caracterizado por
uma forma de reciprocidade desigual, ele era muito procurado; [...] SABOURIM
(2009, p.8).
Compreendemos enfim, ‘o morador de favor’, como aquele indivíduo que com sua
família de tempos em tempos, tende a vagar de propriedade em propriedade em busca de
‘recursos produtivos’ e especificamente de um pouso, ‘a casa do morador’ mesmo consciente
de poder ser esta, temporária. É um desapropriado da terra. Sendo assim, nessa condição, de
morador de favor (de condição ou foreiro), passa a dispor de forma controlada desses recursos,
a terra e muitas vezes, os próprios instrumentos de trabalho, como a enxada, a foice, o machado
etc., que podem pertencer também ao proprietário. É estabelecido um contrato mesmo
implícito, cujas cláusulas são do conhecimento de ambos, e mantido até que essa relação
desigual garanta ainda que de forma precária, a própria sobrevivência e a da família do morador,
que como um círculo que se reproduz e passa depois a constituir outros núcleos familiares de
moradores submetidos à condição original, compreendido muitas vezes como se isso fosse
natural. É de favor, por quê, independentemente de qualquer coisa, a manutenção dessa relação
depende sempre da benevolência do proprietário.
As vozes que utilizamos neste trabalho são indiretas. Extraídas de artigos de um jornal
– O Araripe - cujos discursos são produzidos em sua maioria pelos detentores do poder. E o que
procuramos fazer foi buscar nas entrelinhas desses discursos públicos, os discursos ocultos dos
subordinados, presentes em suas atitudes. A partir deles é possível perceber as tentativas dos
senhores proprietários em demonstrar benevolência. A violência praticada em nome da
autoridade na maioria das vezes acima da lei e as reações dos subordinados para conviverem
ou driblar esta violência. O conflito encontra-se presente em todas as páginas.
30
3. PRESENÇAS E AUSÊNCIAS DO SUJEITO HISTÓRICO: ‘O MORADOR DE
FAVOR’ EM LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO – PNLD/2015
3.1 Sobre os livros didáticos em geral e usos do livro didático de História
Muitos pesquisadores adentraram na pesquisa do ensino e dos livros didáticos
enriquecendo o conhecimento a respeito desses temas. A seguir destacamos algumas
considerações.
[...] acredita-se que investigar o material didático é compreendê-lo em toda a sua
complexidade, o que inclui a perspectiva da provisoriedade, assumida como uma de
suas características e não como um problema ou como um elemento que diminui o
seu valor, enquanto artefato cultural. Isso porque, apesar das normas tecnológicas e
da grande variedade de materiais curriculares e pedagógicos presentes no mercado
educacional - e ao largo das críticas que se têm feito a este artefato – os livros didáticos
continuam se constituindo como um material com forte presença no cotidiano das
escolas brasileiras. Esta realidade lhe confere uma grande importância, uma vez que,
estima-se, é através deles que o aluno estabelece as relações com o conhecimento
específico de cada uma das disciplinas escolares, desde o início da alfabetização até o
final do Ensino Médio. (TALAMINE, 2009 apud OLIVEIRA, 2016, p. 116)
Nesse sentido, propõe-se essa pesquisa compreendendo que o livro didático de História
não pode contemplar o todo do tempo/espaço histórico, que é um produto passível de seleções
e recortes adequando-se quando necessário para incluir, novas interpretações de fatos de
passados distantes, como fatos recentes e consequentemente interpretações dos mesmos. Não
obstante, faz-se mister reconhecer determinados fatos e sujeitos como imprescindíveis ao
estudo da História para a compreensão de determinadas realidades. Se não o livro, mas que o
profissional, diante da legitimidade que possui de utilizar as mais diversas fontes, possa ser
sensível e tenha a iniciativa de integrar objetos de estudo por algum motivo não contemplados
nos materiais didáticos, em que pese serem reconhecidos como pertencentes a determinados
contextos.
Oliveira (2016) apresenta as características dos livros, dos Editais e dos Guias do Livro
Didático publicados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). Apresenta o conceito de
livro didático, analisa a relação do mesmo com a formação do profissional de História e também
com a do professor generalista. Além disso busca informações de como os livros didáticos são
avaliados em alguns outros países e detalhadamente informa o processo de avaliação pelo qual
passam os livros didáticos no Brasil. Tal tese constitui-se em um material com informações
específicas sobre o processo pelo qual passa o livro didático desde a sua elaboração a partir dos
editais até a escolha que deve ser feita por cada escola brasileira que adota os livros como
material pedagógico. A partir dessas informações básicas partimos diretamente para o objetivo
específico dessa pesquisa. Em relação ao que o mesmo defende sobre a formação de professores
31
ponderamos o seguinte ponto.
O processo de formação de um profissional, independente da área de conhecimento
em que esteja inserido, pode ser considerado um momento em que os erros de análise
sejam possíveis, bem como erros de tomada de decisão, pois ainda não se constitui na
prática/laboral em si, mas na possibilidade do seu aprendizado, de experimentações,
da reflexão sobre essa experimentação, buscando identificar os erros e acertos, para
inclusive, propor retomadas de rumos e modificação de práticas, principalmente, por
elas ainda não se encontrarem cristalizadas e sedimentadas nas suas ações cotidianas
e, portanto, resistentes à possibilidade de mudança (OLIVEIRA, 2016, p. 105).
A formação de um profissional da educação, independentemente do tempo de atuação,
e mesmo já apresentando as características por ele apontadas podem ainda sofrer
aperfeiçoamentos, muitas vezes, demonstram uma maior abertura do que outros que
ingressaram há menos tempo nesse campo. Considerando as exceções, da parte dos que se
encontram em processo de formação espera-se que haja uma maior abertura a novas e/ou
diversas metodologias de ensino/aprendizagem. É certo que essa prática não venha a se efetivar
ao longo de muitas trajetórias profissionais. Consideramos a generalização apresentada acima,
relativa e passível de verificação.
A manutenção na academia da antiga relação do ensino-aprendizagem, com aulas
baseadas na mera transmissão de conteúdo/conhecimentos, sem os futuros
profissionais desenvolverem ações práticas que possibilitem a reflexão sobre sua
formação e as ações que desempenharão no futuro enquanto professores, também
precisa ser superada. Outra questão levantada [...] é a necessidade de exercício de
construção do conhecimento histórico pelos futuros profissionais de História, através
do exercício sistemático da pesquisa (OLIVEIRA, 2016, p. 106).
A pesquisa como princípio pedagógico se tornou uma máxima nas últimas décadas
estando consolidada em teoria nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio -
DCNEM.6 Consideramos necessário que essa prática passe a integrar a rotina das escolas. Não
se trata aqui de defender a formação de estudantes do Ensino Médio em profissionais de
História, mas, de defender a presença mínima da utilização de métodos específicos da História
que poderão além de dinamizar o estudo dos conteúdos desenvolver a aprendizagem de forma
significativa por aproximar o estudante da prática da investigação na História, também leva o
professor que se apropriar dessa iniciativa ao mesmo tempo em aperfeiçoar a sua própria
formação.
O tempo de aula destinado à disciplina é insuficiente para o desenvolvimento de
determinadas práticas. Mas, soluções poderão ser encontradas como por exemplo, a proposição
de um trabalho paralelo à sala de aula no qual o professor atue como um orientador e os
estudantes se responsabilizem por realizarem determinadas tarefas e socializarem suas
6 Contidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, Brasília, 2013.
32
descobertas e conclusões, até que exista uma produção significativa para a qual o professor e a
escola encontrarão momentos oportunos de divulgação dos resultados.
[...] o livro didático pode ser interpretado como um lugar de memória, como
“depositário de uma memória nacional” (p. 205), responsável por uma construção
histórica que ela chama de senso comum histórico. Então, segundo a autora, o livro
didático de História seria responsável pela formação de identidades [...] (FONSECA,
1999, p. 205 apud OLIVEIRA; MARIANO, 2014, p. 177).
Nessa perspectiva as autoras ressaltam ainda que “[...] apesar de reconhecer o papel do
livro didático como um lugar de memória, precisamos reconhecer que a educação histórica não
é uma forma de conhecimento unicamente produzida em sala de aula” (p.177).
Enquanto Caimi (1999, p. 33 apud OLIVEIRA; MARIANO, 2014, p. 177) afirma que
“o livro didático se constitui hoje não só numa fonte de consulta pessoal para o professor – às
vezes a única -, mas também no maior instrumento de popularização do conhecimento
histórico.” Ou seja, reconhece que ainda existem limitações para os profissionais do ensino de
outros tipos de suporte pedagógico e acrescenta que “É inegável que o acesso ao livro didático,
com a massificação do ensino advindo do regime militar e o [...] (PNLD), [...], contribuiu
sobremaneira para divulgação do saber histórico escolar” (OLIVEIRA; MARIANO, 2014, p.
178).
Enfatizamos que a nossa proposta não consiste em excluir os livros didáticos do
ensino, mas, defender que além deles os professores lancem mão de outros recursos e
metodologias. Dentre tantas, insistimos que a pesquisa como método deve ser incentivada a
partir do Ensino Fundamental e Médio e não apenas para os estudantes de Ensino Superior
considerando-a importantíssima como estratégia de ensino aprendizagem, tanto para a
formação continuada do professor através de sua prática, como forma dos estudantes
desenvolverem diversas habilidades ao mesmo tempo em que acessam os conteúdos. Ainda em
defesa do livro didático e ao mesmo tempo apresentando reservas em relação a sua utilização
exclusiva encontramos a seguinte opinião.
[...] os livros didáticos contribuem de forma indiscutível para a produção do
conhecimento pelos professores, que buscam neles não apenas as atividades para os
alunos, mas o próprio conteúdo de ensino. No entanto, é apenas em parte que os livros
definem o que se deve ensinar, uma vez que as pesquisas vêm mostrando que a ideia
de que são usados como ‘bíblia” é cada vez mais difícil de ser sustentada
(TALAMINI, 2009 p. 84).
Em relação ao disposto acima e considerando a realidade das escolas, que em sua
maioria trabalham em função dos exames internos e externos, o consumo do livro didático é
priorizado e o tempo destinado à disciplina de História é insuficiente para que o profissional
possa inserir outros conteúdos no programa ou mesmo determinados objetos em um ou outro
33
conteúdo, em detrimento de determinados sujeitos históricos. Em casos em que a metodologia
da pesquisa, não esteja prevista no Projeto Político Pedagógico – PPP, das escolas, as pesquisas
apresentam-se em sua maioria superficiais, para contemplarem semanas de ciências, cultura e
etc., sem trabalhos que apresentem consistência em suas proposições, onde não podem ser
percebidos teoria e metodologia, pobres em conteúdo.
Bittencourt (2004) em estudo sobre o ensino de história reconhece e apresenta
características relativas ao livro didático com as quais concordamos e apresentamos a seguir.
Destacando as que consideramos marcantes como mercadoria, ligada à lógica da indústria
cultural, suporte de conhecimentos propostos por currículos orientados pelo Estado, de muita
utilidade para os professores por apresentarem material técnico de suporte pedagógico, o que
facilita em grande parte o trabalho dos professores no que concerne à elaboração de atividades,
concordamos com a autora, quando a mesma o considera como um veículo de um sistema de
valores.
Como produto cultural fabricado por técnicos que determinam seus aspectos
materiais, o livro didático caracteriza-se nessa dimensão material, por ser uma
mercadoria ligada ao mundo editorial e à lógica da indústria cultural do sistema
capitalista.
Constitui também um suporte de conhecimentos escolares propostos pelos currículos
educacionais. Essa característica faz que o estado esteja sempre presente na existência
do livro didático: interfere indiretamente na elaboração dos conteúdos escolares
veiculados por ele e posteriormente estabelece critérios para avalia-lo, seguindo, na
maior parte das vezes, os pressupostos dos currículos escolares institucionais. Como
os conteúdos propostos pelos currículos são expressos pelos textos didáticos, o livro
torna-se um instrumento fundamental na própria constituição dos saberes escolares.
Além de explicitar os conteúdos escolares, é um suporte de métodos pedagógicos, ao
conter exercícios, atividades, sugestões de trabalhos individuais ou em grupo e de
forma de avaliação do conteúdo escolar. Essa sua característica de associar conteúdo
e método de ensino explica a sua importância na constituição da disciplina ou do saber
escolar.
Juntamente com essas dimensões técnicas e pedagógicas, o livro didático precisa
ainda ser entendido como veículo de um sistema de valores, de ideologias, de uma
cultura de determinada época e de determinada sociedade (BITTENCOURT, 2004, p.
301).
Especificamente sobre o livro didático de História, a autora nos informa o quanto esse
material tem sido objeto de estudo por pesquisadores sob os mais diversos aspectos destacando
a preocupação do historiador Carlos Vesentini sobre o papel desse suporte pedagógico como
um dos veículos de “criação e cristalização de uma memória”, porém não o único. Sobre a
variedade das tendências de pesquisa destaca a de “identificar lacunas relativas a determinados
temas” e é nesse aspecto que nos encontramos.
No Brasil [...] os livros didáticos de História têm sido ao mais investigados pelos
pesquisadores, e foram igualmente muito comuns análises dos conteúdos escolares
em uma perspectiva ideológica. Aos poucos as abordagens ideológicas foram sendo
34
acrescidas de outros aspectos referentes aos conteúdos, como defasagens ou clivagens
entre a produção acadêmica e a escolar ou ausências, ou estereótipos de grupos étnicos
ou minoritários da sociedade brasileira.
Sobre as relações entre conteúdos escolares e acadêmicos, o historiador Carlos
Vesentini, no artigo “Escola e livro didático de História”, aponta para as
especificidades do livro didático no processo de criação e cristalização de uma
memória, na consolidação de determinados fatos considerados fundamentais nas
mudanças da nossa sociedade. O autor adverte-nos, no entanto, que o livro didático
não é responsável de forma isolada por essa sedimentação de uma memória histórica,
na maior parte das vezes, serve como veículo de reprodução de uma historiografia
responsável pela produção dessa mesma memória e que renova interpretações, mas
sempre em torno dos mesmos consagrados fatos, que se tornam os nós explicativos
de todo o processo histórico: o Descobrimento do Brasil, a proclamação da República,
a Revolução de 1930.
Existe a tendência de identificar as lacunas relativas a determinados temas ou sujeitos
históricos nos livros didáticos. Saffiotti destaca a importância dos manuais didáticos
na disseminação de estudos históricos que, em sentido inverso – da escola às
universidades – poderiam favorecer ou despertar nos historiadores o interesse por
temas sociais relevantes, como o das relações entre o homem e a natureza em uma
perspectiva histórica (BITTENCOURT, 2004, p. 304).
É levantando a hipótese da ausência que nos propomos encontrar o objeto de pesquisa,
os moradores de favor. Escolhemos trabalhar com livros didáticos de História para o Ensino
Médio e em meio a quantidade de coleções aprovadas pelo Programa Nacional do Livro
Didático. Para serem aprovados, os livros didáticos tiveram que obedecer a critérios
eliminatórios comuns a todas as disciplinas do Edital do PNLD 2015, citados a seguir:
1. Observância de princípios éticos necessários à construção da cidadania e ao convívio social
republicano;
2. Coerência e adequação da abordagem teórico-metodológica assumida pela obra no que diz
respeito à proposta didático-pedagógica explicitada e aos objetivos visados;
3. Respeito à perspectiva interdisciplinar na apresentação e abordagem dos conteúdos;
4. Correção e atualização de conceitos, informações e procedimentos;
5. Observância das características e finalidades específicas do Manual do Professor e adequação
da obra à linha pedagógica nela apresentada;
6. Adequação da estrutura editorial e do projeto gráfico aos objetivos didático pedagógicos da
obra;
7. Pertinência e adequação do conteúdo multimídia ao projeto pedagógico e ao texto impresso.
Os critérios específicos da disciplina História são produzidos a partir de padrões
historiográficos e pedagógicos vigentes e da posição e contribuição dos especialistas na
disciplina sintetizados a seguir conforme o Guia:
35
Para o livro do aluno:
Utilizar a produção de conhecimento nas áreas da História e da Pedagogia, elaborada nos
últimos anos, considerando-a efetivamente como ponto de reflexão e de discussão no
conjunto da abordagem.
Orientar os alunos a pensarem historicamente, a reconhecerem as diferentes experiências
históricas das sociedades e, a partir desse entendimento, compreenderem as situações reais
da sua vida cotidiana e do seu tempo.
Estimular os alunos para a historicidade das experiências sociais, trabalhando conceitos,
habilidades e atitudes, com vista à construção da cidadania.
Contribuir para o aprofundamento dos conceitos estruturantes da disciplina, tais como
história, fonte, historiografia, memória, acontecimento, sequência, duração, sucessão,
periodização, fato, processo, simultaneidade, ritmos de tempo, medidas de tempo, sujeito
histórico, espaço, historicidade, trabalho, cultura, identidade, semelhança, diferença,
contradição, permanência, mudança, evidência, causalidade, multicausalidade, ficção,
narrativa.
Desenvolver abordagens qualificadas sobre a História da África, história e cultura dos
afrodescendentes e dos povos indígenas.
Incorporar possibilidades efetivas de trabalho interdisciplinar e de integração da reflexão
histórica com outros componentes curriculares das ciências humanas e também com outras
áreas do conhecimento.
Para o manual do professor:
Apresentar informações complementares e orientações que possibilitem a condução das
atividades de leitura das imagens, sobretudo, como fontes para o estudo da História,
extrapolando sua utilização como elemento meramente ilustrativo e/ou comprobatório.
Orientar o professor sobre as possibilidades oferecidas para a implantação do ensino de
História da África, da história e cultura afro-brasileira e das nações indígenas.
Estimular o professor a considerar o seu local de atuação como fonte de análise histórica e
como recurso didático, levando em conta as diferentes condições de acesso e a diversidade
nacional.
Perceber e compreender do espaço construído e vivido pelos cidadãos, além de toda a
36
cultura material e imaterial aí envolvida.
Da síntese da avaliação do Guia de Livros Didático do PNLD/2015 retiramos
informações que são comuns a todas as coleções aprovadas.
No que diz respeito às formas de organização dos conteúdos, classificamos as
coleções aprovadas em “integradas” e “temáticas”. Todas, entretanto, explicitam a
trajetória das sociedades humanas no tempo, ou seja, empregam a clássica cronologia,
dos primeiros agrupamentos humanos à globalização, por exemplo. Além disso, seis
privilegiam temas como terra e trabalho, a construção da cidadania, urbanização e
outras 13 optaram pela sequência temporal História Geral, História do Brasil, História
da América e História da África.
[...]
Um ponto problemático das coleções é o reduzido espaço concedido à aproximação
dos conteúdos ao cotidiano dos alunos. Nesse sentido, os textos principais pouco
dialogam com os aspectos relacionados com o mundo juvenil. Esse objetivo é
cumprido pelas atividades, que estimulam o relacionamento com o presente da
juventude. Por isso, professor(a), sugerimos que você aprofunde as possibilidades
oferecidas pelas coleções, principalmente no desenvolvimento das habilidades de
analisar imagens, examinar diferentes visões sobre o processo histórico, ler e
interpretar diferentes gêneros de fontes, refletir, compreender e emitir posição sobre
os problemas que cercam o mundo jovem.
Concluímos sobretudo é que apesar dos esforços empregados na elaboração, inclusive
obedecendo aos editais, ainda não se chegou ao livro ideal o que não parece ser possível e nem
necessário. Daí, a responsabilidade do professor tanto na escolha do livro didático que irá adotar
quanto das formas de tornar o ensino de História plausível para o público alvo a que se destina,
que são os adolescentes do Ensino Médio, muitos deles vindos de famílias de agricultores sem
tradição de uma educação acadêmica, com grandes dificuldades de aprendizagem acumuladas
no ensino infantil e fundamental, em sua maioria estudantes de escolas públicas. Constatamos
na nossa prática que muitos não conseguem ler ou escrever corretamente e que a abordagem
dos conteúdos deve ser mediada por metodologias que considerem essas características sob o
risco de falência, ou seja, o ensino não cumprir o seu objetivo permanecendo no campo da
abstração. O próprio livro muitas vezes torna-se distante do estudante, muitas vezes, até
inatingível. Mesmo sem esgotar esse ponto, dada a sua complexidade seguimos como o objetivo
de buscar em parte desses materiais, as três coleções que selecionamos, o nosso objeto de
estudo, os moradores de favor. Para tanto, definimos, conteúdos específicos: O intervalo entre
o Segundo Reinado e a chamada República Velha entendendo, porém que esses indivíduos se
faziam presentes na estrutura social antes e continuam presentes na atualidade.
37
3.2 Dentre tantas: as coleções escolhidas:
3.2.1 História Geral e do Brasil (Coleção 1) - Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo.7
A escolha por esse livro se deu especialmente por ser o livro de História adotado pela
escola em que desenvolvemos a nossa prática pedagógica no momento em que iniciamos essa
pesquisa. Ao fazermos o levantamento bibliográfico acessamos o artigo Construindo reflexões
acerca do ensino de História a partir de vivências no Colégio Estadual Guilherme Briggs pelo
PIBID-UFF in Andrade (2015), do qual destacamos as conclusões apresentadas sobre a Coleção
História Geral e do Brasil, uma das nossas fontes, apresentando características técnicas da
mesma sob uma perspectiva mais ampla, já que no nosso caso é bem específica mas que
consideramos importante destacar.
O primeiro livro didático a ser analisado pertence à Coleção História Geral e do Brasil
de Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo, Editora Scipione. O capítulo que aborda o
Brasil Colonial tenta integrar aspectos do cotidiano ao corpo de texto tratando-os,
assim, como elementos fundamentais do conteúdo. Temas que não são abordados em
outras coleções são apresentados neste trabalho como a infinidade de artigos que eram
trocados com os índios nos escambos, a relação dos colonizadores com os invasores
(franceses), ou ainda, as milícias coloniais. Além desses aspectos incorporados ao
texto base há também imagens que retratam o cotidiano. Ainda que se proponha a
fazer esse tipo de análise e tente de algum modo fazê-lo, o livro ainda se prende a uma
estrutura tradicional que agrega aspectos políticos e econômicos com grandes nomes
da História (ANDRADE et al., 2015, p. 168).
Nesta coleção relacionado ao nosso objeto de estudo, os moradores de favor,
encontramos informações sobre a Lei das Terras de 1850, no volume 2, na página 264.
A Lei das Terras, aprovada em 1850, foi uma medida decisiva para conter o desvio da
mão de obra livre para outras atividades que não a agro exportação. A partir de então,
as terras públicas só poderiam tornar-se propriedade privada por meio da compra, e
não mais por doação ou posse. Com os preços propositalmente elevados, as terras se
tornaram inacessíveis à maioria da população.
Os vínculos da aristocracia econômica com o Estado imperial escravista
estabeleceram uma quase monopolização dos recursos econômicos (terras, capitais e
trabalho). Mantinham-se, dessa forma, as bases complementares da economia
brasileira e sua dependência internacional. Assumindo o controle político, as elites,
especialmente a cafeeira, puderam acionar mecanismos para garantir e maximizar
seus lucros e suas fontes de poder, firmando o caráter oligárquico do Segundo
Reinado.
Essa Lei é claramente aprovada como uma dentre tantas outras estratégias de controle
social por parte do governo brasileiro e das elites agroexportadoras que condiciona o trabalho
7 Cláudio Vicentino é licenciado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, professor de História em
cursos pré-vestibulares e de Ensino Médio e autor de obras didáticas e paradidáticas para Ensino fundamental e
Médio.
Gianpaolo Dorigo é licenciado em História pela Universidade de São Paulo, Mestrado em Filosofia pela Pontifícia
Universidade de São Paulo, Professor de História em cursos pré-vestibulares e de Ensino Médio e Autor de Obras
Didáticas.
38
no campo à dependência e condições impostas pelos proprietários aos camponeses, aqui
representados por várias categorias dentre elas a dos moradores de favor.
Não existe no Brasil do período um projeto de redistribuição de terras ou reforma
agrária, mas sim, a busca pelo fortalecimento dos privilégios das elites que ao mesmo tempo
estão diretamente ligadas à economia e à política em detrimento dos interesses que pudessem
ter o restante da população excluída desses privilégios, porém submetidas a condições de
exploração e injustiças características do modelo que estruturou e prevaleceu no país por muito
tempo e que nos dias atuais ainda são visíveis as suas consequências.
Na página em destaque os autores apresentam ‘A Guerra de Canudos’ (1896 -1897)
como um conflito fruto da ‘tensão social’ entre o que generalizam como ‘população
sertaneja’ que sofria com as consequências de uma ‘estrutura fundiária’ caracterizada pelo
‘latifúndio’ e suas condições injustas aliado as secas prolongadas, contra as ‘elites
latifundiárias’ com destaque para o estado da Bahia e o governo republicano.
Imagem 32 - recolhida do livro didático História Geral e do Brasil - vol. 3 página 23 Fonte: VICENTINO, 2013
39
Nas imagens acima o destaque é para o tipo de moradia e um dos problemas que
apontamos é que, ao apresentar os prisioneiros, o termo jagunço é utilizado genericamente, sem
que tenha sido feita uma justificativa para essa apresentação, o que pode ser caracterizado como
um termo preconceituoso, mesmo que não intencional.
A casa de taipa presente ainda hoje nas zonas rurais e também nas periferias das zonas
urbanas é a habitação caracetistica dos camponeses, dentre os quais, o morador de favor.
Imagem 33 - recolhida do livro didático História Geral e do Brasil - vol. 3 página 24 Fonte: VICENTINO, 2013
Aqui encontramos o termo moradores como sinônimo de população. A imagem do
beato Antônio Conselheiro apresentado como um líder antagônico por representar ao mesmo
40
tempo ameaça para uns (proprietários e governo) e esperança para outros (sertanejos pobres),
ao lado de gráficos que demonstram o crescimento populacional do arraial de Canudos – BA.
seguir o termo conflito aparece. Mas o destaque dado é para os conceitos tradicionais do
contexto político do período como: ‘poder oligárquico’, ‘Política do Café com Leite’,
‘Política dos Governadores’, ‘voto de cabresto’. A crítica é apresentada através de uma
charge.
Imagem 34 - recolhida do livro didático História Geral e do Brasil - vol. 3 página 31 Fonte:
VICENTINO, 2013
Também na página seguinte tem lugar uma charge tradicional relativa ao ‘voto de
cabresto’, Política do Café com Leite e o conceito destacado é o de ‘Política das Salvações’.
41
Os camponeses aparecem ridicularizados pelos críticos do período e os autores ao
apresentarem essas representações pejorativas veiculadas pelos meios de comunicação no
período, indicam que havia uma consciência e insatisfação de setores como a imprensa em
denunciar esses abusos. Mas, na prática pouco ou nada se podia fazer diante da forte estrutura
de dominação que não permitia alternativas a não ser que estas fossem de encontro aos
interesses dos donos do poder, algo que poderia levar ao “desamparo” e à insegurança,
principalmente em se tratando de famílias inteiras de camponeses.
Imagem 35 - recolhida do livro didático História Geral e do Brasil - vol. 3 página 33 Fonte: VICENTINO, 2013
Um organograma ou mapa conceitual apresenta a estrutura político econômica e propõe
42
em atividade a análise dessa realidade com os conflitos sociais.
Imagem 36 - recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 2 página 85 Fonte: BOULOS, 2013
O fato ocorrido em Juazeiro do Norte – CE, em 1914, é apresentado como ‘Revolução
Cearense de 1914’. Entendemos que os autores compreenderam esse fato como consequência
do desgaste dos ‘mecanismos político-oligárquicos’. Os ‘sertanejos’ são apresentados como
‘revoltosos de diversas origens’ “abençoados pelo Pe. Cicero Romão Batista”. E a discussão
prevalece em torno das ‘disputas pelo poder político” entre as ‘oligarquias dominantes’ e
outros ‘grupos oligárquicos’ excluídos do poder “imobilismo” do modelo. Prevalecem
reproduções de imagens fotográficas de representantes dos grupos privilegiados. Afirmam que,
“as revoltas sociais ocorridas nos primeiros anos da república deixaram claro que a
marginalização social e política continuou inalterada no país”.
43
3.2.2 História – Sociedade e Cidadania (Coleção 2) – Alfredo Boulos Júnior8
Imagem 37 - Escultura em madeira do atrista José Alvin, no município de Irani SC, em homenagem aos
"camponeses" do "Contestado". Recolhida do livro didático História - Sociedade e Cidadania – vol. 3 página
50. Fonte: Boulos, 2013
O autor intitula o capítulo 3, aberto pela ilustração acima de Primeira República:
dominação e resistência, conceitos estes, caros a esta pesquisa, cujo objetivo expusemos
anteriormente. Consideramos que foi uma escolha acertada por se tratar de uma homenagem
aos camponeses e da possibilidade de através da arte, inserir, a história dos vencidos no ensino.
Destacamos a presença aqui de um ‘sertão’ que não é nordestino, mas carrega as marcas do
tempo e do espaço vivido no Brasil como um todo nesse momento com características mais ou
menos fortes de determinadas manifestações de resistência que se assemelham ou se
diferenciam de uma região para a outra. O que é comum, é a luta pela terra e isso une os
camponeses desprovidos desse meio de produção a sem expectativas, por não existirem
8 Sobre o autor recolhemos dessa mesma coleção as seguintes informações: é Doutor em Educação (área de
concentração: História da Educação) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Mestre em Ciências
(área de concentração: História Social) pela Universidade de São Paulo, lecionou na rede pública e particular e
em cursinhos pré-vestibulares, é autor de obras didáticas e paradidáticas e assessorou a Diretoria Técnica da
Fundação para o desenvolvimento da Educação – São Paulo.
44
programas ou ações do Estado para uma solução e muitas vezes criminalizados por não se
‘adequarem’ ao sistema de exploração estabelecido pela grande propriedade e confirmado pelo
governo não importava se era um líder religioso, ou um cangaceiro, ou a união desses dois
elementos, o que contava era a esperança de uma vida com condições de trabalho e
sobrevivência com o mínimo de justiça. O camponês, morador de favor e todas as outras
categorias que compõem o campesinato no Brasil, tinha e tem claro o conceito de injustiça, e
de tempos em tempos, quando a exploração chegava ao limite e quando as condições de
carência ameaçavam a vida, a resistência latente se manifestava mesmo correndo todos os riscos
de pagar a rebeldia com a perca da liberdade e muitas vezes da própria vida.
Imagem 38 - recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 3 página 85 Fonte:
BOULOS, 2013
Da página 87, vol.2 BOULOS, 2013 – Destacamos a seguinte informação em relação
45
aos “trabalhadores assalariados” do engenho” (mestre de açúcar e feitor) como sendo os “mais
bem remunerados e respeitados”. [...] O salário desses trabalhadores era anual e, quando pago
em dinheiro, chamava-se ‘soldada seca’. Geralmente o alojamento e alimentação era
descontado do salário dos trabalhadores livres, o que limitava significativamente seus ganhos”.
Imagem 39 - recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 3 página 51 Fonte:
BOULOS, 2013
Destacamos aqui a inclusão de uma ilustração também presente na coleção HISTÓRIA
46
GERAL E DO BRASIL Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo. Nesse caso, a charge do
gaúcho Stomi é explorada através de uma atividade que dirige a uma crítica do sistema política
de forma orientada. Os conceitos presentes são: oligarquias, voto de cabresto, coronelismo,
coronel, política dos governadores’. O subtítulo Resistência na Primeira República nos instiga
por aproximar-se da nossa análise, do qual destacamos:
Excluída politicamente pelas restrições legais do direito ao voto e pela fraude eleitoral,
coagida pelos poderosos e vivendo na penúria, a população pobre dos primeiros
tempos da República reagiu e manifestou suas insatisfações em vários protestos e
rebeliões sociais.
Sobre A Guerra de Canudos, destacamos a descrição em relação aos habitantes do
arraial; “sertanejos pobres que fugiam aos abusos dos coronéis e buscavam autonomia e
conforto espiritual.” A imagem é recorrente em outras obras, mas, percebemos uma
preocupação em explorá-la apresentando informações referentes ao meio em que está inserida.
Imagem 40 - recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 3 página 62 Fonte:
BOULOS, 2013
47
Na página seguinte, em que é concluído o conteúdo da Guerra de Canudos e iniciado o
da Guerra do Contestado, grande espaço da página é ocupado pela reprodução de uma fotografia
da estátua do Pe. Cicero em Juazeiro do Norte – CE e um link pode direcionar o
professor/estudante/leitor para uma página virtual, mas de outra A Guerra de 1914 não foi
contemplada diretamente o que consideramos também uma lacuna por ter sido um conflito que
envolveu um grande número de camponeses, dentre os quais moradores e que abalou a estrutura
política nacional por ir contra uma intervenção federal.
Imagem 11 - recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 3 página 62 Fonte:
BOULOS, 2013
48
Imagem 41 - recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 3 página 63 Fonte:
BOULOS, 2013
Ao examinarmos o conteúdo sobre a Guerra do Contestado - 1911, destacamos o
seguinte: “[...] os coronéis da região invadiam as terras dos índios e dos posseiros. [...] Os
posseiros que viviam nas terras que margeiam a ferrovia foram expulsos à força [...] o que
aumentou o número de desocupados na região. [...] Sem a terra onde viviam e trabalhavam, os
sertanejos do Contestado tornaram-se sensíveis à pregação do monge José Maria. O autor
utilizou-se de mapa geográfico para localizar a região onde ocorreu a Guerra do Contestado e
enfatiza na legenda os contestadores como sertanejos. Do tópico Cangaceiros e cangaço,
destacamos:
49
Do século XVIII ao final do século XIX predominou o cangaço dependente, assim
chamado por que os bandos de homens armados viviam sob a proteção de um
fazendeiro ao qual serviam e em cujas terras moravam. Esses camponeses e/ou
jagunços atuavam como segurança pessoal dos fazendeiros, faziam guerras aos índios
ou posseiros para tomar terras e instalar fazendas de gado. Nas palavras da socióloga
Maria Izaura Pereira de Queiróz, eles “pertenciam” a quem lhes pagava. (BOULOS,
2013, p. 65)
Nesse caso, encontramos um tipo de morador. Aquele que é classificado como ‘jagunço’
e cuja finalidade principal era formar as milícias que por muito tempo caracterizaram uma das
formas que os proprietários ditos coronéis tinham de ostentar o seu poder e intimidar tanto os
próprios moradores de suas terras representados pelos pequenos produtores como seu próprios
concorrentes ao comando do poder político local ou que de alguma outra forma pudessem
ameaçar os seus privilégios. Reprodução de fotografia clássica de Lampião e Maria Bonita,
mas, sem referências.
Imagem 42 - recolhida do livro didático HISTÓRIA - Sociedade e Cidadania - vol. 3 página 65 Fonte:
BOULOS, 2013
50
Aqui, há referência à morada de forma implícita e algo mais que pretendemos explorar
nesse trabalho, a perca da identidade pessoal do morador. Entendemos, que quando o mesmo
sendo despossuído da terra e de demais condições de trabalho e sobrevivência sujeita-se a
dependência de um proprietário, e nesse caso passa a ser reconhecido como: morador de
fulano de tal, algo que para nós exclui ainda mais o indivíduo assemelhando-se com a situação
de pertencimento/propriedade que era atribuída aos indivíduos escravizados no Brasil
escravista.
3.2.3. Oficina de História (Coleção 3) – Flávio de Campos9/Regina Claro10
Abaixo há o destaque para o funcionamento de um engenho e a partir de um
organograma a apresentação da estrutura social e econômica envolvida no funcionamento do
mesmo.
9 Flávio de Campos9 é Graduado em História pela PUC/SP, Mestre em História Social pela USP, Professor
Doutor do Departamento de História da Universidade de São Paulo, Coordenador Científico do LUDENS
(Núcloe Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas). Autor de livros didáticos e
paradidáticos. 10 Regina Claro é Graduada em História pela USP, Especialista em História da África e da cultura afro-
americana, desenvolve projetos de capacitação no ensino de História da África para professores da rede pública e
é autora de livros didáticos e paradidáticos. Retiramos da própria coleção as informações acima sobre os autores.
51
Imagem 43 - recolhida do livro didático Oficina de História, volume 1 página 240 Fonte: CAMPOS 2013
Imagem 44 - recolhida do livro didático Oficina de História, volume 1 página 241 Fonte: CAMPOS 2013
Aqui destacamos a afirmação do autor para o trabalho na pecuária: realizado sob o
regime de parceria por homens livres, os vaqueiros, que administravam as terras em nome
dos proprietários que viviam no litoral. Consideramos importante diferenciar as características
do modelo com o mesmo nome, que é utilizado para classificar os imigrantes europeus que
vieram para o Brasil para trabalhar nas fazendas de café. A preocupação em fazer esse destaque
se dá, por que o autor se refere a homens livres pobres no Nordeste açucareiro, que mesmo
sendo vaqueiros e possuindo alguns privilégios em relação aos demais poderiam ser também,
moradores enquadrando-se no conceito que estudamos, e parceria, nesse caso, seria apenas um
privilégio em relação aos demais, o que não necessariamente altera a sua condição de morador
apesar de aparentar um status mais elevado dos que outros moradores.
52
Imagem 45 - recolhida do livro didático Oficina de História, volume 2 página 216 Fonte: CAMPOS 2013
Na página acima destacamos o tratamento que é dado aos temas do fim do tráfico
negreiro e à Lei das Terras. Essa Lei fortalece de direito a dificuldade do acesso à terra,
enquanto o fim do tráfico marca o início de uma legislação voltada para a extinção da escravidão
no Brasil, cujos remanescentes em grande parte se tornarão camponeses na condição de
moradores.
Ao mencionar as experiências do sistema de parceria adotado11 inicialmente em São
11 Em 1847, o senador liberal Nicolau dos Santos Vergueiro dava início a uma experiência de substituição de
escravos por homens livres. Custeando a viagem de imigrantes alemães e suíços para suas fazendas em São
Paulo, Vergueiro introduzia o contrato de parceria, por meio do qual os trabalhadores tornavam-se sócios da
produção cafeeira de suas propriedades.
Aparentemente o negócio era vantajoso para os trabalhadores: tinham a viagem marítima e o transporte do Porto
de Santos até a fazenda financiados; recebiam mantimentos e instrumentos par o trabalho, um número
53
Paulo com o objetivo de atrair imigrantes para substituição do trabalho escravo, nos oferece a
oportunidade de apresentar esta modelo de relação de trabalho que em alguns aspectos pode ser
comparado ao modelo de morada que trabalhamos nesta pesquisa.
Imagem 46 - recolhida do livro didático Oficina de História, volume 2 página 246 Fonte: CAMPOS 2013.
Acima são apresentadas 3 (três) imagens clássicas do cangaço com destaque para
Lampião e seu bando e explicitada a ideia do cangaço como alternativa contra as injustiças e
um parágrafo dedicado ao Pe. Cicero de Juazeiro do Norte - CE, destacando a sua influência
religiosa e as orientações diversas que dirigia à população além de uma pequena biografia da
sua participação na política. Seu papel de líder espiritual é relacionado no capítulo com o dos
beatos Antônio Conselheiro e José Maria.
determinado de pés de café para o plantio, acompanhamento e colheita, um pequeno pedaço de terra para o
cultivo de gêneros alimentícios e uma casa rústica para sua moradia.
Em troca, deviam dar ao proprietário metade da produção metade da produção de seus pés de café e não podiam
deixar a fazenda até reembolsar todos os gastos assumidos pelo fazendeiro,
Na verdade, o trabalhador já iniciava sua jornada no Brasil endividado. Durante quatro anos – tempo médio para
a colheita de um pé de café – o imigrante aumentava seu débito, sobre o qual eram cobrados juros, podendo
contar apenas com a sua plantação de gêneros alimentícios. CAMPOS 2013 vol. 2 p. 216
54
Esta página e a seguinte descrevem a Guerra de Canudos destacando o ambiente e as
pessoas. O termo sertanejo é o que generaliza as mesmas. Conceitos tradicionais como
oligarquia, são utilizados, mas, sem grandes destaques.
Imagem 47 - recolhida do livro didático Oficina de História, volume 2 página 247 Fonte: CAMPOS 2013
55
O texto de apoio, Religiosidade, messianismo e milenarismo, corrobora a expressão: ‘As
armas da fé’, utilizada para nomear o capítulo, e reforça a ideia de que esses movimentos
religiosos representavam alternativas contra as injustiças e a opressão.
Imagem 48 - recolhida do livro didático Oficina de História, volume 2 página 248 Fonte: CAMPOS 2013
Aqui o termo ‘jagunços’ é utilizado para nomear todos os indivíduos
indiscriminadamente. A presença de um grande número de mulheres e crianças é bastante
evidente. Consideramos importante que em sala de aula essas características sejam exploradas.
O conceito jagunço deve ser aprofundado para que seja percebida a real condição desses
indivíduos que compunham esses contingentes, que se aglomeravam em torno de líderes
religiosos que lhes proporcionavam um discurso que transparecia a esperança de uma saída para
56
condições melhores do que as que estariam submetidos se permanecessem sob a esfera do poder
de um latifundiário como morador de favor. Esses movimentos trazem intrinsicamente o cerne
ou a síntese da resistência coletiva e consequentemente a reação dos poderes constituídos que
em apoio às elites latifundiárias não admitem esse tipo de alternativa.
A seguir, página inteira dedicada à Guerra do Contestado com imagem de mapa e
reprodução de fotografia. Apresenta textos de apoio que defendem a visão de ter sido este um
movimento que apresenta “inequivocamente”, um caráter “milenarista”. O conceito de
sertanejo marca presença forte.
Imagem 49 - recolhida do livro didático Oficina de História, volume 2 página 249 Fonte: CAMPOS 2013
57
A proposta interdisciplinar com Geografia pretende
“recapitular os elementos geográficos do Nordeste através das sub-regiões para
enriquecer a explicação sobre o surgimento de fenômenos sociais como Canudos,
Cangaço e receptividade para as pregações de Pe. Cicero”. (CAMPOS, 2013, v.2
p.250)
A atividade proposta reforça o conteúdo ao explorar os conceitos de Zona da Mata,
Agreste e Sertão e utilizar a estratégia de análise de mapa na busca por uma melhor
compreensão dos termos: Canudos, Cangaço e Beatismo do Pe. Cicero, além de propor a
explicação da afirmação: “O Nordeste segue como um grande produtor de homens”.
Percebemos que nesta obra os autores optaram por não utilizar os termos tradicionais ao se
referirem às pessoas que se encontravam envolvidas nos conflitos de Juazeiro do Norte – CE /
(1914), Canudos – BA – (1896-1897) e Contestado – SC e RS / (1911). Destacamos o seguinte
trecho:
“Tanto os cangaceiros quanto os beatos adquiriram prestígio com os
mais carentes. Temidos e respeitados representavam alterativas para
aqueles que desprovidos do poder econômico, encontram-se também
excluídos e manipulados pelo jogo político. Separadamente, cada um a
seu modo, o banditismo e a oração eram expressões de
descontentamento social de setores que não possuíam uma sofisticada
crítica aos perversos comportamentos das elites e das oligarquias
brasileiras.” (CAMPOS, 2013, vol.2, p.246)
A discussão consiste em demonstrar que por questões de natureza geográfica o Nordeste
com ênfase para o sertão caracteriza-se como zona de imigrantes cujo destino é o fornecimento
de mão-de-obra para outras regiões do país. A teoria é a de que possuindo um contingente
populacional excedente e condições de produção limitadas às necessidades de sobrevivência
torna-se necessário migrar. Nesse caso podemos explorar um debate gerador da produção de
um pensamento crítico que através da identificação da proposta de intervenção do autor, os
estudantes possam perceber as alternativas que atualmente já existem no seu entorno como por
exemplo a construção de cisternas de placas para o armazenamento de água e as técnicas
empregadas na agricultura familiar promovendo assim, a visualização de alternativas de
permanência dos indivíduos, mesmo em regiões antes consideradas difíceis de permanecer e
promover a sobrevivência digna.
58
Imagem 50 - recolhida do livro didático Oficina de História, volume 2 página 250 Fonte: CAMPOS 2013
59
Imagem 51 - recolhida do livro didático Oficina de História, volume 2 página 251 Fonte: CAMPOS 2013
60
“No Brasil o preconceito por origem geográfica marca especialmente o nordestino.
Este preconceito se expressa por exemplo, através dos estereótipos do “baiano” e do
“paraíba”, denominações que são usadas genericamente em São Paulo e no Rio de
Janeiro respectivamente, para se referirem aos migrantes vindos da região Nordeste.”
(ALBUQUERQUE, 2012, p.90)
Segundo o autor, a história da construção de Nordeste e de ser nordestino são
essenciais para o desenvolvimento desse preconceito, pois tanto a divisão territorial como a
ideia de ser nordestino são construções históricas que passam pelo papel desempenhado pelas
próprias elites nordestinas e pelo próprio povo na história do Brasil no século passado. Antes
de 1910 o Brasil encontrava-se dividido regionalmente entre o Norte e o Sul, explicando a
denominação ‘nortista’ utilizada comumente por indivíduos do Sudeste e Sul referindo-se a
indivíduos das regiões do Nordeste e Norte atuais.
Esse regionalismo ‘nortista’ como embrião do regionalismo nordestino é tido como
fruto das disputas das elites de “certas áreas do país” que ora estavam contentes e ora
descontentes com as decisões centralizadas pelo governo federal. Uma das marcas da
emergência da identidade regional nordestina é a grande seca de 1877 – 1879. Porquê, diferente
das anteriores ela alcançou além da morte de animais, escravos e homens pobres, as elites
econômicas que viviam um momento de crise econômica e declínio político dos grupos
dominantes do Nordeste passando a repercutir politicamente nos discursos de parlamentares e
imprensa (pela própria capacidade e organização da mesma, de circular e repercutir esse
fenômeno nacionalmente o que não ocorria em períodos de secas anteriores). A publicação de
imagens e discursos causam impacto e estimulam a produção de uma literatura cujo tema é
privilegiado pelos regionalistas e naturalistas com destaque para a Padaria Espiritual,
movimento literário cearense que bebia na fonte das teorias cientificistas, “evolucionistas e
social darwinistas”. As elites perceberam nessa repercussão um trunfo para se apropriarem da
ideia de seca como flagelo e em nome da miséria angariar recursos com o governo central para
‘aplicar’ no socorro das vítimas.
O Congresso Agrícola convocado em 1876 pelo Império e realizado no Rio de Janeiro,
cujo centro das discussões era o café deixou claro o descaso com o Norte e teve como reação
ao Congresso Agrícola convocado pelos produtores nortistas, para Recife em 1878 como reação
ao anterior ficando claro aí a
“emergência de um discurso regional que se articulava em torno de
temas como: o da crise da lavoura, da falta de braços, da discriminação
do Estado Imperial no que tange, a uma política de investimentos, como
a sua política fiscal e cambial privilegiando o café em detrimento de
outras atividades agrícolas e em torno da seca.” (ALBUQUERQUE,
p.95, 2019)
61
Esse momento marca no espaço que se constituirá o Nordeste assim como no restante
do Brasil, a transição do trabalho escravo para o trabalho livre e o ‘agravamento’ da situação
econômica com venda de escravos para o ‘Sul’ dentro da chamado tráfico interprovincial
consequência da descapitalização dos ‘produtores’ do Norte devido à crise do açúcar agravada
no período.
O fim da escravidão e a Proclamação da República são fatos considerados para o
estabelecimento das diferenças entre o Norte e o Sul respectivamente
“pela diferenciação substituição do trabalho escravo com a entrada de
grande número de imigrantes europeus no Sul e o uso quase exclusivo
da mão de obra local dos homens livres pobres e também libertos, em
regimes de trabalho também distintos com prevalência do
assalariamento na produção cafeeira e das relações de trabalho não
assalariadas nas atividades econômicas do Norte.” [...] “Adotando um
federalismo de inspiração liberal bastante amplo, o regime republicano
terminou por beneficiar diretamente as elites regionais mais
importantes economicamente e mais fortes politicamente, isso tanto em
nível local, como em nível nacional.” ALBUQUERQUE, 2012, p.100)
3.3. Deve o livro didático contemplar ‘os moradores de favor’?
O autor Damião de Lima, no Artigo: Cultura histórica, livro didático e o esquecimento
do mundo rural brasileiro no pós 1930 (OLIVEIRA, 2014) a partir de uma pesquisa realizada
com camponeses assentados com ênfase na postura dos jovens de não se envolverem nas lutas
do campesinato que culminava no êxodo rural, ou seja, a atração pela cidade aponta como
problema, a escola, que inserida na ‘sociedade/mercado’ passou a ser a quimera da sociedade
pós-moderna” além das problemáticas enfrentadas pelos professores.
Em sua análise de livros didáticos constatou em relação ao mundo rural visões
preconceituosas sobre o campo, teorias de superação do mundo rural, ênfase na transição da
economia agrária exportadora, referências ao campo e não ao camponês, valorização de grupos
de trabalhadores urbanos, ou seja, as abordagens são pobres e é como se o mundo rural e os
seus trabalhadores fossem inexistentes.
Nessa análise tivemos também, a oportunidade de verificar se o tratamento dado pelo
ensino de história a esses sujeitos ainda prevalece o mesmo apontado pelo autor dentre tantos
outros. O que pudemos verificar é que o morador de favor se encontra presente sim. Na maioria
das vezes de forma implícita, ou tratados genericamente. O morador de favor encontra-se
dissolvido entre os posseiros, os sitiantes, os sem-terra e tantas outras categorias ou
62
denominações dentro do campesinato. Muitas vezes a sua condição depende da circunstância
em que está inserido. Faz parte desse contingente de camponeses brasileiros que muda muitas
vezes muda de condição mais num sentido paralelo do que ascendente.
Explicitamente, não conseguimos evidenciá-lo de forma que consideremos satisfatória.
E assim, como em (OLIVEIRA, 2014) reconhecemos não só a ausência desse sujeito histórico,
o morador de favor, mas, o próprio tratamento dado ao mundo rural brasileiro permanecem sem
alterações consideráveis. Consideramos, portanto, que essa abordagem ocorra de forma a dar
visibilidade ao camponês e ao campesinato brasileiro, também a partir do seu próprio ponto de
vista, ou seja, a consideração e exploração de fontes históricas que possibilitem a análise de
panoramas que proporcione a visão dos vencidos.
Quadro 1 – Panorama de fatos e produções que marcaram a construção do preconceito
contra Nordeste com base em (ALBUQUERQUE.2012)
1876 O Império Convoca um Congresso Agrícola para o Rio de Janeiro e centraliza as
discussões nas questões relacionadas ao café.
1877 Grande seca - A seca se torna um tema central no discurso regionalista do Norte que
começa a se esboçar. Tema privilegiado da literatura realista ou naturalista pelos
letrados da geração de 1870 no Ceará. Publicação dos romances: A fome, de Rodolfo
Teófilo, O cabeleira de Franklin Távora, Luzia-Homem de Domingos Olímpio e Aves
de Arribação de Antônio Sales, ligados à Padaria Espiritual, movimento literário
cearense. O separatismo político representado pela Revolução de 1817 e
Confederação do Equador de 1824 retorna com foros literários.
1878 Os produtores nortistas convocam um outro Congresso para Recife em represália ao
anterior e centralizam as discussões em torno da crise da lavoura, da falta de braços
da discriminação do estado imperial que privilegiava o café percebendo-se aí a
emergência de um discurso regional. Aí nasce o discurso da seca e a indústria da seca
associados à corrupção. As elites se voltam contra os pobres através de um discurso
discriminatório, (preconceituoso e racista defendendo inclusive o colonato para a
região) proposições e execuções de medidas de controle social, como as colônias
agrícolas criadas durante essa seca e que chegaram a ser tema de Comissões
Parlamentares de Inquérito. Enquanto a elite paulista se opõe permanentemente ao
envio de recursos para essa parte do país.
1879 Publicação da obra: Os retirantes de José do Patrocínio.
1879 Publicação da obra: Os retirantes de José do Patrocínio. A seca se torna um tema
central no discurso regionalista do Norte que começa a se esboçar.
1909 Criação da Inspetoria de Obras contra as Secas – IOCS.
Década de 1910 Surgimento da designação Nordeste para nomear uma região específica do país.
1889 Proclamação da República. Federalismo liberal que privilegiava elites econômicas e
políticas fortalecendo a hegemonia dos estados mais ricos.
1891 Representação do IOCS para a inclusão da seca como calamidade pública, no
Capítulo V da Constituição Federal de 1891.
1906 Convênio de Taubaté. Reação dos cafeicultores às obras contra a seca idealizadas
por Epitácio Pessoa.
1919 Transformação da IOCS em Inspetoria Federal de Obras contra as Secas – IFOCS.
Aparecimento do termo Nordeste no documento de criação desta inspetoria.
Década de 1920 De simples referência geográfica a área localizada entre o Norte e o Leste passa a ser
dotada de significados que a caracterizam até hoje.
63
Década de 1930 Popularização entre as elites dos estados (que giravam econômica, política e
intelectualmente em torno de Pernambuco tendo com centro Recife) da ideia de
Nordeste e de ser nordestino.
1941 Reconhecimento oficial como região brasileira na primeira na primeira divisão
regional do Brasil pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
1924 Criação do Centro Regionalista do Nordeste e em torno do mesmo encabeçado por
Gilberto Freyre se articula o Movimento Regionalista e Tradicionalista fundamental
para a construção da ideia de Nordeste.
1929 Congresso Regionalista do Recife – A partir daí, o Nordeste é pensado como um
lugar de tradição em contraste com São Paulo que é pensado como lugar de
modernidade. Movimento Modernista, contra o qual o Movimento Regionalista se
levantava.
1937 Publicação de O outro Nordeste de Djacir Meneses, compõe a coleção Documentos
Brasileiros – pensa o Nordeste a partir do espaço sertanejo a partir dos eixos:
coronelismo, cangaço, messianismo ou fanatismo religioso.
1930 Construção da Rodovia Rio-Bahia – circulação dos caminhões paus-de-arara.
Publicação de O cangaceiro de José Lins do Rego. O cangaceiro é descrito como
uma expressão de ser nordestino, valente, heroico, resistente, contrariando a figura
de facínora que foi marcante até a década de 1940. Com a decretação do fim do
cangaço no Governo Vargas, a simbologia do cangaceiro perde espaço devido a
proibição do termo para designar crime ou criminoso desfazendo a aura de heroísmo
entre as camadas populares, que não vê, mas o cangaço como alternativa passam a
migrar.
1950 -1970 Filmes de Mazzaropi / Novelas / Canção Popular – Constroem caricaturas do
Nordestino
64
4.0 PARA ALÉM DO LIVRO DIDÁTICO – COMO INSERIR UM SUJEITO
HISTÓRICO NO ENSINO DE HISTÓRIA - JORNAIS COMO FONTE E SUPORTE
De acordo com Cavalcante (2019) o jornal é ao mesmo tempo local e universal tendo
em vista as suas pretensões de informar. Diante disso, a autora afirma
O recorte temático não significará, contudo, que a totalidade dos conteúdos inscritos
nas páginas do jornal deixe de ser observada, considerando que é justamente o
confronto entre a particularidade eleita pelo pesquisador e o universo global de
acontecimentos, que permite compreender o lugar e o valor dos fatos específicos nele
pesquisados (Cavalcante, 2019, p. 3).
Sendo assim, ainda segundo Cavalcante (2019, p. 5) “O texto tomado em seu conteúdo
original é o elemento empírico primordial, que legitimará o trabalho analítico ou interpretativo
do pesquisador”. Portanto, não tratamos aqui de uma pesquisa de caráter cronológico apesar de
apresentar as matérias na sequência em que foram divulgadas. O que importa nesse caso, não é
o acontecimento em si, mas a análise da situação e do comportamento do sujeito histórico em
relação à mesma, ou seja, inserido no contexto histórico.
Logo ressaltamos que ao profissional da sala de aula caberá determinar de que forma
pretende abordar o objeto que se propõe a explorar. Tanto poderá optar por uma metodologia
que apresente as notícias destacadas de forma cronológica, como poderá identificar nexos entre
determinadas notícias apresentadas, ou mesmo utilizando uma única notícia fazer junto com os
estudantes a abordagem do objeto, desde que esta dê conta do tema, conceito que pretende
desenvolver ou aprofundar.
Neste caso propomos que a aula parta do objeto selecionado como centro da discussão,
para que em torno do mesmo possam ser conectados os fatos e personagens que pela construção
tradicional da historiografia desde muito tempo já são privilegiados. Cavalcante (2019, p. 10)
corrobora essa afirmação ao dissertar que
Em sua dimensão pedagógica, a experiência com jornais pode estimular ou devolver
aos iniciados no campo das ciências sociais e da educação, a curiosidade de pesquisa,
sem o peso da hierarquia de conhecimento presente na comunidade científica e
acadêmica que integra – herança quem sabe, da tradição enciclopédica ou centralista
do pensamento humanista ocidental, que a instituição escolar sempre repassa para os
seus alunos dispensando-o de um ritual obrigatório de investigação no interior do qual
foi estabelecido que o acesso ao universo empírico só pode ser feito após o
levantamento de autores e teorias que possam servir como “lanternas” capazes de
iluminar a busca pelo real. Isso significa que a busca por fontes secundárias e
especializadas, ao invés de preceder necessariamente a lida com o elemento empírico,
poderá ser uma decorrência de necessidades de esclarecimento ou aprofundamento ali
sentidas.
65
Visando contribuir para um ensino de História para além do livro didático sugerimos
como uma possível e importante ferramenta, os jornais que além de acrescentarem, outras
abordagens ao conhecimento histórico podem tornar a aula mais dinâmica. Nesse caso
trabalhamos com um jornal de época, onde ao mesmo tempo em que buscamos investigar nesse
material específico, um objeto de pesquisa, estamos propondo a utilização de um material
específico como recurso didático para os professores da disciplina de História sendo ao mesmo
tempo fonte e suporte. A narrativa jornalística torna-se em documento no momento em que é
construída a partir do cotidiano de um tempo/espaço seja passado ou presente.
Chamamos a atenção para que a utilização do jornal possa ser sistematizada de forma
que o assunto tratado seja problematizado com o intuito de fazer realmente uma diferença e não
se constitua apenas em uma leitura somatória sem significado para a disciplina. É necessário
que os professores que pretendam trabalhar com jornais preparem antecipadamente um projeto
de aprendizagem que contemple além do conteúdo em si, aspectos da construção dos gêneros
textuais componentes do jornal. O conhecimento prévio da linguagem jornalística é importante,
para que o estudante se familiarize com a linguagem própria deste veículo de comunicação – o
jargão jornalístico. Isso pode ser feito em parceria com o professor de Língua Portuguesa ou
através de pesquisa extraclasse com culminância em uma aula da disciplina de História.
Os professores devem dentro do programa de estudo da disciplina selecionar as
competência, habilidades e conteúdo que pretende desenvolver com os estudantes, além de
definir e socializar com os mesmos, o processo de avaliação, que na nossa experiência dentro
da metodologia de Aprendizagem Cooperativa12 prevalecem os aspectos qualitativos sobre os
quantitativos a saber: Responsabilidade Individual, Interdependência Positiva, Habilidades
Sociais e o Programa (que pode ser teste escrito objetivo e/ou subjetivo, seminários, etc.). Essa
atividade leva o conduz o estudante para a oportunidade de experimentar na sala de aula de
História uma experiência de leitura, além do texto didático. É imprescindível que sejam
disponibilizados dicionários e que o uso dos mesmos seja orientado. Além disso poderão haver
momentos em que se faça necessário o uso da Internet. Por isso, os professores precisam ler os
textos que pretendem utilizar e organizar um momento em laboratório de informática ou
disponibilizar o acesso de equipamentos como celulares, tablets, note books, etc., na sala de
aula.
12 EDNALDO PEREIRA FIRMIANO Programa de Educação em Células Cooperativas - PRECE 12/2/2011
Aprendizagem
66
Consideramos a utilização de jornais uma tarefa complexa. No caso da utilização de
jornais antigos o texto precisa ser visto como um produto do seu tempo e aos professores cabe
o desafio de tentar fazer os estudantes compreenderem as origens dos fatos, as relações do
passado com o tempo do contemporâneo percebendo as permanências e as mudanças, as
ideologias presentes nas estruturas e conjunturas do período abordado podendo comparar o
contexto da atualidade com o tempo estudado nas matérias dos jornais do ponto de vista
político, econômico, religioso, cultural e social. Não se trata de decodificar a leitura, mas de
compreende-la em seu tempo/espaço.
4.1. PROJETO DE APRENDIZAGEM
4.1.1. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS
O conteúdo das provas do Enem é definido a partir de matrizes de referência em quatro
áreas do conhecimento. A Área de Ciências Humanas e suas tecnologias, que abrange os
conteúdos de Geografia, História, Filosofia e Sociologia. Dentre as competências e habilidades
apresentadas para serem desenvolvidas com os estudantes destacamos duas que consideramos
pertinentes a essa proposta e que estão presentes em todas as coleções analisadas nesta pesquisa.
Competência 1 - Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
Habilidade H1 - Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais
acerca de aspectos da cultura.
Competência 3 - Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais,
políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos
sociais.
Habilidade H15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos,
econômicos ou ambientais ao longo da história.
Paralelamente ao que propõe a Base Nacional Comum Curricular (14/12/2018)13
corresponde o seguinte:
4.1.2. COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 4 DA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E
PRÁTICAS SOCIAIS14 (EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes
sociais e sociedades com culturas distintas diante das transformações técnicas,
tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em
diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos. (BNCC, 2018. P.575)
13 file:///C:/Users/ZENIR/Desktop/BNCC_14dez2018_site%20(1).pdf 14 ______Analisar as relações de produção, capital e trabalho em diferentes territórios, contextos e culturas,
discutindo o papel dessas relações na construção, consolidação e transformação das sociedades.
Nessa competência específica, pretende-se que os estudantes compreendam o significado de trabalho em diferentes
culturas e sociedades, suas especificidades e os processos de estratificação social caracterizados por uma maior ou
menor desigualdade econômico-social e participação política.
Além disso, é importante que os indicadores de emprego, trabalho e renda sejam analisados em contextos
específicos que favoreçam a compreensão tanto da sociedade e suas implicações sociais quanto das dinâmicas de
mercado delas decorrentes. Já a investigação a respeito das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais
deve enfatizar as novas formas de trabalho, bem como seus efeitos, especialmente em relação aos jovens e às
futuras gerações.
67
4.1.3. TEMPO DE DURAÇÃO – Cada aula com duração de 50 minutos num total de 10 aulas.
AULA 01 - SENSIBILIZAÇÃO: Apresentação dos conteúdos a serem trabalhados aos
estudantes, distribuição de exemplares impressos de diversos jornais atual e exposição de slides
contendo o material dos jornais que será trabalhado na durante as aulas.
4.1.4. CONTEÚDO: A SER DEFINIDO PELO PROFESSOR DENTRO DO PROGRAMA
DA DISCIPLINA (No caso do nosso estudo, conteúdos relacionados ao Segundo Reinado e à
Primeira República)
4.1.5. METODOLOGIA
AULA 02 – ORGANIZAÇÃO DE PESQUISA EXTRACLASSE
Orientação de pesquisa sobre o jornal. Os estudantes divididos em células de 3 (três) deverão a
partir de sorteio receber uma parte do jornal para pesquisar o conceito e levar para a aula
seguinte, além do significado da pesquisa, uma ilustração para socializar com o restante da
turma. O professor estará avaliando nesta fase do trabalho os aspectos da Responsabilidade
Individual, Interdependência positiva e Habilidades Sociais.
Artigo
Editorial
Entrevista
Legenda
Lide
Manchete
Nota
Notícia
Pauta
Reportagem
AULA 03 e 04 – EXPOSIÇÃO DO CONTEÚDO
Explicação a partir do texto do livro didático e resolução individual de exercícios referentes
ao conteúdo. Avalia-se a Reponsabilidade Individual e as Habilidades Sociais.
AULA 05 e 06 – SOCIALIZAÇÃO DE MATERIAIS
68
Serão socializados por cada célula com a turma a pesquisa que foi orientada na aula 01.
Esses materiais poderão compor um mural. Avalia-se a Interdependência Positiva e as
Habilidades Sociais.
AULA 07 e 08 – OFICINA COM O JORNAL OU JORNAIS
Nesse momento os estudantes terão acesso aos textos que foram selecionados previamente
do jornal ou jornais e que estão relacionados ao conteúdo de História. Deverá ser orientada
a construção de um vocabulário e um glossário por célula e depois por turma. Poderá
compor o mural. Avalia-se a Interdependência positiva e as Habilidades Sociais.
Sugerimos que sejam distribuídos textos diferentes para cada célula que possam estar
relacionados a temas específicos ou que componham o desenrolar de um acontecimento
para que haja o maior aproveitamento possível na troca de informações e que
instrumentalizem os estudantes para a argumentação e enriquecimento da troca de
informações no momento da socialização. Devem ser selecionados e registrados e depois
socializados as seguintes informações. As produções poderão enriquecer o mural.
A data e o local
O autor
Os conceitos relativos ao conteúdo
O tema da parte selecionada do jornal
Fatos históricos porventura presentes
Curiosidades
Um texto resumo da notícia
Socialização com a turma
AULA 09 e 10 - PROCESSAMENTO DE GRUPO E AVALIAÇÃO DO PROGRAMA
Nesse momento as células recebem um questionário no qual farão a avaliação qualitativa da
atividade e após, individualmente, resolverão um teste sobre o conteúdo estudado.
4.1.6. RECURSOS
Note book, impressora, data show, dicionários, rede de internet disponível, exemplares de
jornais atuais, arquivos digitais de jornais antigos, papel ofício, cartolinas, tesouras, colas,
canetinhas, fita adesiva, etc.
69
4.2. O jornal O ARARIPE como fonte de pesquisa para o estudo do morador de favor nos
sertões do Brasil
Nosso trabalho consistiu em examinar o jornal e identificar em todas as suas edições a
ocorrência do termo ‘morador’ ou ‘moradores’ independentemente do conteúdo. A seguir
passamos a selecionar apenas aquelas notícias cujos termos apontados estivessem de acordo
com o objeto da nossa pesquisa cujo resultado apresentamos.
Imagem 52 - Correspondências.
Fonte: O Araripe 15 de dezembro de 1855, p. 3, Coleção Digital, CEDOCC.
CORRESPONDENCIAS
Sr. Redactor
Vou ainda por esta ves e pr esta ves tão somente ocupar as colunas do seo
jornal sobre um assumpo que para o publico não oferece o menor interesse e para mim
cauza tedio, repugnância e nojo.
Quando em minha correspondência publicada em o nº. 20 dei ao Sr. Àdre
Lima-verde alguns esclarecimentos sobre os enredos de uqe se acha imbuído tinha a
presunpção de q’ ele se despisse da odiosidade eu gratuitamente me devota, e se
contivesse em um justo silencio; mas foi cruel a minha decepção e de novo me vejo
assaltado em um mistifório de disparates, de mentiras e de falças arguições, publicado
em o seu nº. 23, a que vou responder sucintamente:
Achaõ-se abertos os tribunaes de justiça esclarecidos magistrados occupaõ
as cadeiras de juises, perante eles compareça o Sr. Reverendo Lima-verde e mechame
a responsabilidade pelas calumnias, pela denuncia e por todas as increpações com
que diz o ter maltratado. Tem s.s tantas e tão boas testemunhas como o Sr Francisco
Maribondo et reiqua não hesite um só momento; dé-me este castigo para minha
correção e para desagravo de sua immaculada reputação.
Sr. Redactor; não se convence o Sr. Padre da sinceridade de minhas
expressões, mas o publico se convencerá de que nunca quis dar denuncia contra ele,
quando souber que amim se tem feito uma narração fiel da morte do Antonio (por
alcunha Toto) e que nunca reagi e nem me importei com esta historia. Não foram
pessoas miseráveis e nem meos moradores; forão homens fidedignos e d’alta posição
na sociedade, como bem o Sr. Capm. Joaõ Pereira de Carvalho (em presença de sua
Senhora e filho José Pereira,) o Sr. Manoel Correia de Araújo, João Baptista Vieira, e
além destes outros muitos existem dentro desta cidade que sabem positiva e
miudamente deste facto.
O Toto era um pobre negro, um ente desprezível; não era meo morador e sim
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do Sr. Padre Lima-verde, com ele nunca tive a menor relação; por ele não devia pois
tomar a menor parte; não era e nem sou autoridade, não tenho por tanto de me
constituir órgão de punições dos crimes em casos que não me disem respeito.
Não quero prosseguir mais na analyse das outras increpações que me faz o
Sr. Padre por serem d’ uma futilidade a toda prova; só sim lhe direi que não dê autor
as minhas correspondências, por que bem ou mal tambem sei dar o meu recado,
comigo só se deve haver, comigo só tem de entrar no circulo da lucta e da intriga para
o que só lhe reconheço habilidade.
Estou convencido e tenho uma convicção bem fundada de que nada aproveito
com esta discussão pela imprensa; quis dela arredar os salpicos da podre lama, não o
consegui, porem ao menos mostrei ao publico o meo procedimento e satisfeito me
retiro da discussão da imprensa onde pode o Sr. Padre continuar com suas invectivas
e injurias e vou espera-lo nos tribunaes da justiça, com já me ameaçou em o nº. 16.
Com apublicação destas linhas muito obsequiarà o seu Leitor e assignante.
Rainaldo Cassiano Moreira Maia.
Nesta carta ao redator o autor tenta se eximir de qualquer relação com a pessoa de um
morador de favor, o Toto. Está clara uma intriga entre um homem da sociedade e um
eclesiástico. O fato é um assassinato de que foi vítima um morador. Pode-se discutir a violência,
a justiça, e a construção de discursos públicos através das páginas dos jornais com o objetivo
de preservação da reputação.
Imagem 533 - Correspondência.
Fonte: O Araripe 19 de janeiro de 1856, p. 4, Coleção Digital, CEDOCC.
CORREPOMDENCIA.
Sr Reddactor.
Hontem cheguei do certaõ, e hoje lendo os seos jornaes em o numero 24 vi
qne o sr. Rainaldo Cassiano padecendo em seo delicado estomago algumas náuseas
despedesse deste prelocomo assim aos incontrões, conduzindo a carga da civilidade
na esperença de não se lhe por a maõ na arreata, e como arteiramente esponja a
verdade querendo fazer se de só na sua favorita, = m – aver se me leva de codilho, sou
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forçado a dar lhe busca na maca da hipocrisia, tanto por remédio ao nojo, como para
que o público ajuise a escoria que combate minha reputação.
Em 1845 por satisfação minha, e pequeno fasor ao sr. Major Antonio Luis,
vieraõ refrigerar uma porç õ de animaes neste meo sitio, os Sr. Jacome Pequeno,
Manoel Teixeira, e entre estes o sr. Cassiano (meo aziago, e da morparte da pobresa
deste lado) e suposto encontracem uma hospitalidade de homem pobre presumo fosse
urbana.
Foi nesse tempo que datou o consorsio do sr. Cassiano com a filha do meo
primo e amigo Raimundo Pedroso cujo contrato efectuo se por signaes, ignoradas as
obras. [...] indústria. [...]
N õ foi preciso muito tempo para que este carrasco surrasse de palmatoria a
uma mulher forra pelo crime de ser concubina de um escravo do sogro, conservando-
a presa emcasa, de onde fugio ocultamente a vir valer-se de min, que a mandei guiar
para o Assaré. [...] tirania. [...]
Logo depois tentou, e fes morada onde està, junto a velha Florentina
respeitável restos dos nossos troncos, que por sua dignidade, emerecida consideração,
além de próxima consaguinidade, era protegida com zeloso cuidado pelo mesmo
Pedroso e outros parentes; esta virtuosa mulher digo, carregado de anos, e pobresa a
silada de longo tempo nesse lugar, foi victima das vexações Cassianaes, cujo
desespero a fes arrastarse para o sitio Grangeiro aos auspícios do tenente coronel Jozé
Victoriano. [...]Crueldade, e falta de respeito.
Poucas são as pessoas principalmente pobres que lhe compraõ fiado pelos
repetidos exemplos de infidelidade crecente nas contas e naõ menos qnixumes se
ouvem pelos serviços agrícolas, pois naõ florescendo tomado vai o dinheiro ao pobre
eu plantou. [...]tranpolina. [...]
Perante a Justiça de Pas nesta Cidade o sr. Cassiano compellio um morador
do Capitão João Pereira a pagar lhe uma ninharia, devendo ele ao pobre um coarto de
carne. [...] avareza.
É mais admirável o despejo com que o sr. Cassiano toma a lembrança e pretexto de
aniquilarme (sem nenhuma causa) solicitando testemunhas que jurracem ao seo querer
afim de manchar-me asacino. [...]calunia. [...]
E mais admirável é ver a falcidade com que este maquinador alcunha de
mentirosas estas pessoas que naõ se negaõ a sustentar onde preciso for aspersuasons
feita. [...] covardia. [...]
Achome sr. Redactor com 57 annos sem nunca ter feito e nem recebido
insultos resedindo meses e anos em deferentes lugares e Províncias estranhas sem a
menor inimizade, hoje porem (louvores ao sr. Cassiano) vejo-me assaltado por intrigas
sustentando guerras directas e indirectas sem outro algum auxilio sinaõ a proteção
Divina. E o escudo da verdade, [...]malvadeza. [...]
Hum cérebro fermentado, um estomago cheio destas e outras immundices apresenta
se ao publico affectando tedio repugnância e nojo, pelas rasões que a defender me
tenho publicado!!!!!
He verdade que estes termos, como tambem, mentira, grosseria &. No idioma
do sr. Cassiano quer diser verdade, decência e mais decência de que tanto encheo as
bochechas no seu catecismo publicado; além disto a presunção de destruir a summa
do que já tenho exposto sò com diser tudo é refutável, a ninguém satisfaz, embora
venha esta a breviatura de instrução sublimíssima que com dois palavrões forme a
força e choque de uma maquina elétrica, produz a mesma credulidade que hoje da se
aos vampiros.
A detracção he huma especiei de mallicia de que o Sr. Cassino fes ocupação
contra mim; nesse exercício retumbavão as voses = ascino, mlvado, não he Padre vou
casarme, e baptisar meos filhos outraves, he huma fera; hade ser preso; desterrado;;
não preciso de cabras podres que não querem jurr, tenho muita gente boa para isso;
heide mostrar a aquelle corno; adenuncia està pro pta, só espero que chegue o Dr
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Jaguaribe para o Dr José entrar no seo juisado & & = Estas voses écárão perante
famílias no lado onde moramos, qual um furioso energúmeno.
Agora porem a maneira d f bula, mons parturiens, sahe o Sr. Cassiano daho
orosa montanha purificando os lábios, não como Jsaias com o carvão aceso, porem
como um rato roendo hma estorieta de ouvir diser sobre amorte do inf l s Tótò
assassinado a 11 para 12 annos entre mulher, filhos, irmãos, e visinhos da victima,
sabido por quem, de que ajustiça tomou odevido conhecimento.
Se o sr. Cassiano vendo frustadass as deligencias a cubrirme de ignominia
inventando falsamente roubos da honestidade feminil (talvez desejoso de que um Pai
ou marido me cortasse a existência) se assim derrotado, digo, quer deixar a lucta a que
provocou me, o pode fazer ficando me o praser (que será reciproco) de invejar a felis
sorte de quem nunca o vio e nem o conhece.
Sinta que me deixa na arena publica, apé firme, não obstante apresumida [...]
desse gratuito Mentor sublime incadeador de [...] intrigas: [...] quis potest capere
capiat.
Fabrica 17 de Janeiro de 1856
O Padre Joaquim Ferreira Lima-verde.
Aqui temos a resposta do eclesiático, que preenche o seu discurso com palavras de
desprezo pelo autor da correspondência a ele relacionada. São apresentadas atitudes solidárias
entre pares, como a permissão para o uso da água em períodos de estiagem prolongada, em
meio a ofensas dá conta de laços familiares, violência contra a mulher e nesse caso o morador
de favor se encontra presente por causa de uma dívida no mercado que foi cobrada na justiça.
Imagem 544 - Correspondência
Fonte: O Araripe 12 de julho de 1856, p. 4, Coleção Digital, CEDOCC.
CORRESPONDENCIA
Sr. Redactor
Fabrica 1 de julho de 1856.
O haver eu representado contra a perniciosa praga dos gados nos terrenos
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reados deste município, foi um alarme para os Escribas satânicos, que reunidos na
universidade da malicia disparaõ sobre mim choveiros de refinada protervia.
São públicas nessa cidade as nojentas invenções de crimes, furtos, ameaças,
denuncias, calumnias, opprobrios, apodos, tudo em fim, de que é capás a mais corrupta
educação.
Conheço, q’ o imenso vácuo do despreso tudo admite, mas não posso tolerar
querer o sr. C. Joaõ pereira de Carvalho, figurar de bom cavalheiro desdenhando-me
em seo estirado protesto: (Araripe n 44.
[...]
Basta sr. Redactor? Ou quer mais.... Como porém seja o dar de quem tem, e
o receber de quem quer, estou no direito de renunciar o officio em que me coloca o
sr. C Joaõ Pereira, lembrando-lhe que perverso é quem mete os infelizes escravos em
cruéis castigos e deshumanas torturas, cujo desespero fez por termo a seos tormeutos
suicidando-se Antonio, e Thomé. ´Perverso é quem sui juriss se constitue único, e
privilegiado herdeiro da sogra, e padrasto, e mãe, a despeito dos aoutros. Perversos é
quem naõ querendo um morador em seo sítio, sem nada diser manda enche-lhe a roça
de bois manços e animaes, para que o miserável v´´a lutar com a fome. Perverso é
quem só por suprema vontade da câmara municipal do Crato, e por uma formal
opposiçaõ as leis da Assemblea provincial conserva uma fazenda de gados nos lugares
regadios, a custa, das lavouras alheias, por cujo notável glorea-e.
[...]
Concluo sr. Redactor, dizendo-lhe que naõ admire, pois no mundo há gente para tudo,
e aos de consciência roliça, e caracter oitavado que me fazsem traiçoeira guerra, lhes
perguntarei com S. Marheos: Homens injustos! Ut quid cogitatis mala in cordibus
vestris>! Publique sr. Redactor estas linhas de seo constante leitor e assignante.
O Padre Joaquim Ferreira Lima-verde.
Aqui, a violência contra o morador de favor aparece indiretamente com a invasão de seu
roçado pelo gado do proprietário. Não dispondo de forças para reagir o morador se vê obrigado
a sair daquelas terras sem indenização e sem recursos. A escravidão convive com o trabalho
livre. E o trabalho escravo junto com os castigos sofridos é tão degradante que muitos
indivíduos buscam o livramento através do suicídio.
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Imagem 25 - A pedido.
Fonte: O Araripe 21 de março de 1857, p. 3, Coleção Digital, CEDOCC.
A PEDIDO
Naõ podendo eu sofrer a persiiguiçaõ atr´so, que me faz o delegado da policia
desta Villa, Idelfonso Correia Lima, vou queixar-me a V. Exc, e o motivo passo a
expor. Naõ merecendo eu as simpathias desta autoridade, pelo simples facto de
pertencer á opposiçaõ, tem este persiguido meos moradores com recrutamento,
mandando escoltar os casados, que vivem em vida marital, e filhos únicos de
lavradores, que tem isenção da lei, só com o fim de saciar ódio, que contra mim tem,
e muito, e muito mais aquelles que comigo votaraõ, dndo isto lugar, Exm., a que
andem foragidos pelo matto os meos trabalhadores, sofrendo assim a agricultura. V.
Exc. Conhece mui bem quanto esta indústria tem deminuido com a falta dos escravos,
e que indispensavelmente se fasem precisos braços livres, principalmente a mim, que
trabalho em quatro sítios defferentes, em cada um dos quaes já tenho engenhos de
moer canas, serviço este bastante pesado: e vivendo em Exm. Sr. Com meos
moradores persiguidos da policia, que lucro tirarei e eles para manterem suas famílias
e pagar de disimo 300$ a 400$ rs. annuaes?
Exm. Sr. a vida sedentária, em que era occupado, como vigário desta
freguesia, me tendo feito adquirir a moléstia Diabetis, fui aconselhado pelos médicos
a que viesse para o campo, afim, de transpirar com o trabalho, e com licença do Rd.
Visitador me acho no sitio Calabaça legoa e meia da Villa, onde me é preciso ter por
meos moradores homens, que usaõ do trabalho ex vi de que tenho nelle um engenho
além dos três outros já mencionados, e nestas circumstancias a policia só acha a elles
para seos desabafo, mandando um individuo de nome Joaõ Francisco, meo desafecto
cercar as suas casas á meia noite abrindo portas e entrando pelo interior das casas
alumiando-as com fachos pelos quartos e assoalhos, que os camponeses costumaõ
fazer em suas cabanas para depósitos de seos ligumes; naõ respeitando mesma as
famílias em seos agasalhos, como as senhoras de casa e suas filhinhas môças.
Entretento a nada se move essa autoridade naõ respeitando nem alei, que prohibe
correr casa à noite, nem o sagrado das famílias.
Por tanto Exm. Sr., imploro de V. Exc. Dê remédio a essas perseguições com
que desde março naõ cessão de me fazer todo o mal. Tudo provarei, si necessário for.
Deos Guarde &.
Engenho Calabaça 26 de Janeiro de 1857.
Illm. E Exm. Sr. Dr. Francisco Chavier Paes Barreto, presidente da Provincia.
O Vigario Luis Antonio Marques da Silva Guimarães
Desavenças entre autoridades do estado e eclesiásticas, abuso de poder por vingança,
sofrimentos dos moradores de favor e suas famílias durante o recrutamento para a Guerra do
Paraguai. A resistência através das fugas temporárias que segundo o discurso dos proprietários
era causa de prejuízo na agricultura. Descrição da vida privada dos moradores e
consequentemente das injustiças sofridas, acúmulo de meios de produção pela minoria
proprietária. Podemos perceber claramente a troca de favor como um benefício para um
indivíduo e a situação vexatória pela qual passavam os moradores de favor eram tratadas como
sendo um benefício indireto, mas o grande prejudicado no discurso não é o indivíduo submisso,
mas aquele que detém o poder que demonstra claramente sentir-se prejudicado de forma que
considera injusta em seu direito individual em detrimento de outros que o reclamante denuncias
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não passarem pela mesma situação sentindo-se portanto preterido ‘injustamente’.
Imagem 26 - Communicados.
Fonte: O Araripe 18 de abril de 1857, p. 3, Coleção Digital, CEDOCC.
COMMUNICADOS
A expressão pura e simples.
Se é somente a vòs da verdade, que todo o homem de bem deve prestar á sua
atenção, é sem duvida que todo aquelle, que a desattende, se envilece a si mesmo; e
destruindo dest’ arte a sua própria fé, perde a honra, e a estima publica, que ele não
sabe apreciar. Oh! Estranha miséria da essência humana! Que fases que os homens
não habitem juntos, e que vivaõ em uma dependência de intoleráveis vícios, e
desmesurado lisonja! E nem tepêsa que eles percão por todos os tempos de uà incredita
duração o Astro luminoso, que todos os homens nascerão, para ve-lo, e respeita-lo.
He pois assim que este martírio, que d1esd’ o nascimento do mundo habitado a
Historia nos tem avisado seus sucessos fataes, tem n’ esta época atormentado de-
apiedadamente o gênero humano, o que não atendendo a verossimilhança dos factos,
e alheio de tudo que não tem rellaçam com a imparcialidade, e ovoto condino da
Associssam Ciil, procura engenhosamente o beneplácito jornalístico de uâ
Typographia, que Deos sabe quanto lhe custa uã redacçãm, que a par de tantas
historias, tantos documentos, e tantos improvisos, não pode resistir a obrigação, que
tem de consumar o sacriffica. Agora porem que os Martires nem sempre havião gemer
entre os braços da ímpia facção do martitio, sem que dessem ao respeitável Publico,
pelo distincto jornal do Araripe uã satisfação análogo aos tormentos, que sobre eles
pesão, desprendoendo o voto simples da própria lingoagem da verdade sucedem para
que mereção da mesma meneira o apoio da imprensa em defesa de seos Direitos, e
dos seus concidadaõs, como outros o tem merecido para corrupção da época, e dos
costumes.
Assim seja. Com quanto que os Oradores inventassem o nome de hyperbole,
e os Philosophos o de systema para poderem espalhar sem sensura os seus paradoxos,
certo povo d’ este Mundo inventa trapaças, e maquina façanhas para espalhar mentiras
entre os filhos dos homens. Diminutae sunt veriatates a fillis hominum. Era este povo,
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que não sabemos quem seja, levantando sua vós com vinacea contra a reputação de ù
Subdelegado, do Termo de Milagres, bem conhecido por ele ser o sr. Manoel Furtado
Rosado, como duvidou seu nome, para ser responsabilizado? pois quem não temeo
que os corpos infectos, que forão os despojos do Diluvio Universal, lhe fizessem uâ
digestão pòco favorável, temêo em diser seu nome ficasse sem bicco para tragar as
carnes imundas, quw outro tempo lhe servirão de alimento? os apuros da decência, e
honestidade, que felicitão esse integérrimo Subdelegado, não consentindo que ele
preste ao respeitável Publico, se não o mais atencioso culto, faz que passe o assumpto
mais importante, á que é destinado ù bicco tão mordás, e virulento. Oh! Tempora! Oh!
Mores! Assim como dizia Cicero em as idades antigas. Sabe-se bem que esta grei
decantada, e zelosa da carnificina (caarniicina) não tende, se não para os destroços da
existência Universal. E como descançará em fazer victimas?
Eis aqui o alvo mais cathegorico na pessoa do sr. Manoel Furtado Rosado,
por ser hoje o ônus, que ele carrega o objeto, que mais concorre para as suas
deprecações. No numero 80 de um de um Illustre jornal de 31 de janeiro do anno p.
p. dá gosto o canto do pássaro, que primeiro voou do Atlhantivo para observar os
capôs, significando que Gonçallo de Castro, criminoso de morte, da Santa Pas,
passeiando a vista e face gosava o Subdelegado de qual parte (falando
methaphoricamente) com esta conversava, e relacionava-se, sem que lhe fisesse sentir
a execução da Lei. Ora é isto um dissimulado embuste, uâ falta de caráter em desabono
da verdade, e um proposito só cogitado para menoscabar a ilustração de uâ autoridade,
que por todas as suas jurisdicções tem feito conhecer o seu critério, e o desempenho
de suas administrações Policiàes. Fique o Publico entendido que este Subdelegado, de
que tracta o certo povo da grefaçanhosa, que lhe devota o ódio, e a carueficina, não é
digno de entreter relações, se não com pessoas, que não alterem a sua posição actual,
e não com um criminoso, em quem não cabe em rasão de sua justiça a idéia da mais
pequena proteção: é isto em fim uã vòs vaga de todo o raciocínio, que este povo
dasaffecto quer difundir pela fama publica: e que jamais a poderá contestar, e a quem
o sr. Manoel Furtado Rosado, convida para o prelo, sem receiar que em nenhum dos
seos contextos seja afrontado por uma facçam odioso, e maléfica, que só nas armas,
com investem, para a presa, é a sua vantagem. Ainda se vêem os extremos voas d’
essa incansável corrutella chegar à metta, d1 onde podem desprender a voz inimiga, e
traidora, que o sr. Manoel Furtado Rosado tem por uso mandar notificar sodados, no
Bority-grande sob pretexto do serviço Publico, e engaja-los no serviço de suas
agricultura. He isto com efeito, Snr. Não saber estimar a palavra da verdade, não
temer, e respeitar os Juisos de Deos!.. O digno Subdelegado torna achamar a voz
corrupta para contestar seus factos, e não receia que o publico ochame a
responsabilidade d’elles. He uâ verdade que ele tão tão bem trabalha com pessoas
livres; porem pagas com o seu dinheiro, e nunca foi arrastado a juiso por que por que
f ftasse com o jornal a nenhum dos que lhe trabalhão, e mesmo por objetos, que não
lhe pertencião, para serem julgados a porta dos Juises de Paz, em audiência publica, a
passar pela vergonha de os ver restituídos ao poder do seu legitimo possuídos.
Tambem é digno de inteligência do publico ser falsa a fama de uã pessoa, que aqui
impõe respeito ter solto um recruta preso, dando isto lugar a outra de igual sexo, soltar
outro preso, por se consideram de igual poder Vamos agora analisar os dous casos
vertentes.
Entenda o público que aquella peaaoa, que se dis impõe respeito, cahindo
empoder do recrutamento um seo morador, e Cunhado de um seo vaqueiro, cujos
costumes, e morigera conducta não só o eximião do serviço de Exerictos; mas tambem
duas irmães solteiras, que em sua companhia vivem em pudicícia, e honestidade,
escrevera n’ este sentido ao Subdelegado que aquelle preso trabalhando para sustentar
duas irmães solteiras, que tinha á seu cargo, e sendo de uâ conducta regular, ele
Subdelegado consultasse, se devia ser desaffecto ao recrutamento o que o
Subdelegado, passando à examinar, e achando que por taes motivos devia o preso ser
dispensado do recrutamento mandou emb’ ora; e esta pessoa que se dis lhe parecer
igual poder, por ser do mesmo sexo, deo um rasgo na philaanropia da maneira
seguinte. Prendendo o seu Marido, que então estava authorisado das intendências de
Inspector, para fazer o recrutamento, um recruta, e o ren atendo áquella Subdelegacia,
e este sendo devolvido pelo dicto Subdelegado á Delegacia d’este Termo, e expedindo
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ordem ao mesmo Inspector, em cua casa havia passar o preso então escoltado, para
ser [...] a dica escolta por ele reformada, o seguir o recruta á seo competente destino.
Qual o resultado das ordens do Subdelegado ao famigerado Inspector? Desatar-lhe as
cordas a mulher do sexo, de acordão com seo marido, por ter o preso pedido a sua
proteção. Oh! Escândalo sem par! Se este subdelegado tendo já respondido por uã
carta a este inspector, que não podia soltar o recruta, por quem ele intercedia, como
lhe seria dado o poder de assim abstruir, e lacerar a acçam da justiça?
E diser ao Commandante da escolta que não hesitasse, ór quanto que era ele Inspector,
Compadre do Delegado do Termo!..
Este caso não appareceo agora por um phemomeno, outros que rivalisão com
estes hão sido praticados, e que com toda a minha prudência aguardo, para o primeiro
encontro jornalístico.
Coité 9 de Março de 1857,
Abuso de poder, situações de injustiça, privilégios para poucos, inoperância da justiça,
medição de forças, descrição da vida privada, influência de algumas mulheres, desavenças
familiares, condições de vida dos moradores de favor e o recrutamento.
Imagem 27 - O enajamento.
Fonte: O Araripe 26 de junho de 1858, p. 3, Coleção Digital, CEDOCC.
O ENAJAMENTO
Acha-se nesta cidade o Sr. Fernandes Eiras, incumbido pela directoria da
estrada de ferro de Pernambuco para engajar jornaleiros para essa obra, prometendo
vantagens, que não são , para despensarem os nossos homens de trabalho. Além do
salario de 640 diários, o Sr. Eiras garante outros commodos, taes como casa e comida,
despesas de viagem e algum dinheiro adiantado para arranjos de família, com o que o
preço de um dia de serviço vem a ser realmente de mil reis. Atantas vantas vantagens
acresce ainda a proteção da directoria, em tudo que respeitar aos interesses dos
engajados, e a presença de uma pessoa boa da terra, que os acompanhará, e durante o
serviço os terá debaixo de suas vistas.
Corre abrigação rigorosa aos senhores proprietários de animar o povo para
aceitar partido tão vantajoso, e nós interporemos nosso crédito de amizade, para q’
eles cumpraõ esse dever que o amor da Patria nos impõe, A estrada de ferro de
Pernambuco, se é um bem de todos, o ê particularmente para os habitantes do Cariri,
que dela devem tirar lucros incalculáveis: devemos por tanto concorrer para sua
factura com aquillo que estiver a nosso alcance.
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Pedimos-lhes pois e em particular a cada um dos nossos amigos, impenhem
todos os seos exforços, a fim de que o Sr. Eiras consiga engajar o maior número de
trabalhadores, fazendo ver os mordores de suas terras as vantagens de um tal
engajamento para cada um deles, e procurando desvanecer alguns terrores estupidos,
com que gentes miseravelmente ignorantes procuraõ prevenil-os, como seja esse de
captiveiro.
O governo e os diretores do serviço protegem os trabalhadores da estrada em
tudo que é possível, levando seo zelo a ponto de os tratar delicadamente em qul quer
malestia que apareça: poi nos lugares, onde já o serviço, não existem febres ou outra
qual quer ipedimia, como por malignidade se tem dito.
Cotamos que nenhum dos nossos amigos se negará a ajudar o Sr. Eiras em
uma cousa, que é toda em benefício o paiz, e que ensinaraõ nossos ornaleiros a naõ
fugirem aos interesses, que os chamaõ.
Produção de discurso (para atrair mão-de-obra para o trabalho em grandes obras
públicas, neste caso a construção de uma estrada de ferro) na tentativa de rebater outro discurso
que denunciava abusos nestas obras. O público que esta notícia pretendia atingir era o
contingentes de moradores de favor e o apelo para o convencimento deveria passar pelos
proprietários.
Imagem 28 - Anúncios.
Fonte: O Araripe 14 de agosto de 1858, p. 4, Coleção Digital, CEDOCC.
Na noite do dia 12 para 13 de junho p, p, fugio do Sítio Barreiro termo do
Saboeiro freguesia de N. Senhora do Carmo de S. Matheos, uma escrava os signaes
seguintes [...] 25 annos de idade, baixa e grossa, peis grandes e cabelos um pouco
estirados, tem de custume amarrado os cachos grandes, naris e boca regular, braços e
peitos grandes, com falta de dentes do lado de cima, fala branda, [...] com marca de
lanceta nos braços. Conduzio diversos objetos de roup e um par de argolas nas orelhas.
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Esta escrava fugio em companhia de manel dos Santos acaboclada, morador
no mesmo sítio: ete indivíduo deixou a família n’aqulle lugar, e a companhou a
escrava do anunciante, havendo notícia terem passado a noite de S. João em cima da
serra de S, Pedro deste termo onde indagaraõ pela estrada de Piancó. O anunciante
oferece a gratificação de 50$000 reis a quem apreender dita sua escrava, ou a entregar
nesta cidade no escriptorio desta typografhia, e roga as autoridades policiaes deem
suas providencias tanto naõ só para a captura de dita escrava como de manel dos
Santos, a quem a anunciante protesta perseguir legalmente.
Crato, 12 de agosto de 1858.
Joaquim Pereira da Silva
Episódio que envolve ao mesmo tempo resistencia e solidariedade entre escravos e
moradores de favor que empreenderam fuga. Estrategicamente para recuperar o prejuízo, o
proprietário apela para a justiça ao mesmo tempo em que oferece recompensa para quem
recuperar a escrava. É possível comparar o tratamento jurídico dado ao escravo e ao pobre livre.
E no discurso a lei deveria proteger os poderosos.
Imagem 29 - Um apelo aos proprietários.
Fonte: O Araripe 02 de abril de 1859, p. 2, Coleção Digital, CEDOCC.
SITUAÇÃO AGRICOLA DA COMARCA DO CRATO. MALES QUE
ENTORPECEM A SUA NATURAL EXPANSÃO. MEDIDAS CUJO
EMPREGO DEVE REMOVER ESSES MALES.
UM APELLO AOS PROPRIETÁRIOS
Ensina a sciencia de Adam Smith, e a pratica o tem demonstrado
sempre, que quando a procura de qualquer objeto he superior á oferta, tem lugar o
fenômeno econômico do encarecimento d’elle; visto eu ao passo que escasseia a
porção exposta ao consumo, cresce o número de consumidores.
Este principio he susceptível de manifestar-se em todos os ramos da vida
publica, mas muitas veses dá ocasião á sua manifestação causas factícias e que são
creadas ou por um estudo systematico e imoral do estado do mercado, ou por
circunstancias mui diversas de um deficiência ou falta real do objeto, cuja procura tem
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se tornado maior que o offerecimento.
He este precisamente o caracter ou feições econômicas, que p espirito
pensador descobre na situação da nossa agricultura nesta comarca do Crato, onde há
grande cultura cifrando-se ella em plantação de cannas para o fabrico do assucar e da
rapadura, que he aplicada a todos os usos da vida do nosso povo, d’aquell’ das
comarcas visinhas, e finalmente até d’aquell’ outro das províncias próximas e
limítrofes; e não dispondo além disto os agricultores proprietários ou senhores de
engenho, como em outras províncias, de grandes fabricas ou escravaturas para o
respectivo trafico, achão-se aqui na indiclinavel necessidade de trabalhar com
alugados, que por tal forma tem para si que saõ os senhores da situação, e que podem
impor alei prestando-se apenas ao trabalho como e quando querem, como si naõ lhes
fosse ele retribuído, segundo o ajuste feito de parte a parte.
Efectivamente porem são eles em numero suficiente, ninaõ superabundante ás
precisões naturaes dessa cultura; não existe por certo falta effectiva de operários que
se empreguem n’esse serviço entre nós, como o estudo da situação indica ao espirito
ainda menos reflefexivo; mas os hábitos de verdadeira classaria a que sem freio
entrregaõ-se esses operários em ppura perda sua e dos senhores de engenho que
carecem do concurso d’ eles, o que vem a seo turno reflector em prejuízo da
communhaõ social, cujas rendas assim decrescem, o que vem a seo turno reflectir em
prejuízo da comunhão social, cujas rendas assim decrescem, ao mesmo passo que
inutilisaõ-se muitos membros seos; a constante e sempre crescente vadiação enraisada
em semelhante gente, que pospõe á todos os seus empenhos, e comprometimentos um
samba, em que o que menos perde-se he o tempo, sobre o qual dizia um celebre
escritor – tempos meusest ager meus; - e finalmente a facilidade com que povem suas
primeiras necessidades, em consequência das condições naturaes do solo, em que
fructos diferentes naõ deixaõ que sintaõ os estímulos da fome, sem que sejaõ para
logo satisfeitos em grande parte produzem o fenômeno já aludido de escassez ou falta
de braços para a laboração das cannas, fenômeno que todavia não tem uma causa real
e dimanada fatalmente de circumstancias insanáveis pelos meios ordinários, como já
fica ahi demonstrado pela breve exposição analytica, que havemos traçado sobre a
questão em si e seus incidentes.
He obvio, portanto, que a falta de braços livres para o serviço dos engenhos
decorre da aberração de um um principio scientifico, que em sua applicaçaõ há sido
mal encaminhado, sinaõ completamente desvirtuado; e que si esse efeito se produz, e
revela-se por factos, tira a sua procedência de uma causa bastarda, forçada e mesmo
extravagante que naõ tem assento senaõ no desleixo e abndono do que he vital e
merece ser cuidado aos depositários do poder delegado pela naçaõ.
Talves enxerguem nisto os indefectíveis ultra-libertistas um ataque um
ataque directo á liberdade individual, mas dir-lhes-hemos sempre e de passagem, que
a promoçaõ da felicidade nacional, que tras de envolta a dos particulares, por ais
sofismada que possa ser, naõ pode dar também em resultado a coarttaçaõ da liberdade
individual semaõ em tanto quanto o estado da sociedade o reclame, e á que ninguém
racionalmente deve furtar-se pelas relações existentes entre cidadaõs e o estado; que
se lhe presta proteção, tem direito a sua cooperação para o bem geral.
E estes princípios seraõ uma anomalia do direito publico constitucional
brasileiro? Naõ estaraõ eles por ventura consagrados na nossa legislação criminal?
A isto responde o art. 205 do código, proscrevendo e cominando penas aos
vadios, aos que naõ tiverem uma occupaçaõ honesta e útil, que lhes proveja as
necessidades da subsistência.
E pois far-se-há força áquelles que se acharem em taes condições, que saõ
effectivamente essa cohote de – sambistas, - que por ahi vagaõ sempre dispostos a
tudo? E será um ataque á liberdade individual o fazer-se effectiva a consagração da
lei, relativamente a esses a esses elementos vivos da destruição social sobre quem
deve velar a força publica?
Não precisa grande esforço para dar-se uma resposta á estes enunciados, mas
provavelmente objectar-se-há inquirindo a rasão porque nisto se naõ há cuidado com
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a divida e inteira solicitude, que cumpria ser praticada pelo governo?
Neste tanto, cuja responsabilidade naõ he nossa, e nem affecta a questão em
si, permita-se-nos que conservemos cahido o véo do silencio, e proponhamos antes o
alvitre que julgamos conducente á sanar o mal, a cuja origem nos havemos remontado,
indicando o meio pratico de levl-o á efeito sem o emprego de medidas que posso
parecer violentas e anti-constitucionaes na forma.
Entendem mui, livremente os vadios que não podem ser coagidos, sem
ofensa de sua liberdade, ao serviço ou ao emprego, de suas faculdades nativas. Afim
de que dahi tirem a subsistência por meio de uma occupaçaõ honesta e útil, que
converta-os antes em homens honrados do que em dyscolos, que solapaõ por seos
vícios a sociedade em que coexistem; pois bem, á seo turno reflictaõ tambem os
senhores de engenho, que a constituição tem-lhes garantido o pleno uso de sua
propriedade, e que por tanto fica-lhes perfeitamente livre o direito de dar rancho ou
morada em suas terras, a quem milhor lhe parecer; e, nesse pressuposto, curem de ser
mui escrupulosos na admissão de moradores em suas propriedades, não recebendo-os
ahi sem uma previa syndicancia a respeito naõ sò do motivo que os levo áquelle passo
da transferência do domicilio, como ainda das qualidades pessoaes do pretendente,
seo modo de vida qnterior, e em que ali vem ocupar-se impondo-lhe além disto a
coondiçaõ de preferir a outro qualquer o seo serviço quando d’ ele tenha necessidade;
no que naõ pode haver orpressaõ por quanto sendo ele dado ao seviço por aluguel,
ser-lhe-há indiferente que trabalhe ao seo proprietário antes do que a outro.
Si este concede a habitação em suas terras, si n’aquellas que naõ saõ
molhadas, dá ágoa de rega para as plantações do seo morador, naõ é muito que este
homem também dê-lhe aquella preferencia, quando há precisaõ, e mediante o
competente salario estipulado ou do custume.
Do que em resumo acima consignámos á apreciação publica, fica manifesto
que naõ nos referimos nem ao operário laborioso, que somente cura de, não
pretendemos que sejam banidas as reservas e indagações salutares da prudência, visto
que achamos melhor não conceder morada de que ao depois dar um despejo.
Colliguem-se os apóstolos do trabalho, assim como o fazem os descabidos
pelos vícios em seos sambas continuados, que sem violencia nem arbitrariedade
ganharão a batalha, sobrando-lhes a gloria de haverem iniciado uma revolução
incruenta e afinal conseguindo uma victoria brilhante sobre hábitos reprovados e
inveterados na população baixa.
De feito, acossados por todos os lados, sem acha-sem guarda á suas torpezas
e mãos costumes, e além disto extinctos os centros de suas depravações, visto que eles
repuguão com a reforma proposta, hão de por força da necessidade reflectir em sua
posição de pariás, e consequentemente volver á melhores hábitos modificando os
instinctos ignóbeis e perversos que lhes há comunicado craula, em que dantes vivião
imersos esses desvairados, que são irrecusalvelmente o produto da relaxação causada
como a impunidade do vicio.
Não ouvildara os senrs. De engenho, que querer he poder: - vouloir c’est
pouvoir, - disem os francezes, e sempre o praticão com feliz êxito em suas empresas.
Ensiam o meio, e depois veraõ se correspondem ou naõ ao fim desejado o respectivo
emprego.
Desta inteligência da atividade dos proprietários contra a ociosidade dos
vadios que peijaõ suas terras, resultará pois a cessação da falta de braços para a cultura
da canna e outros vegetaes; appareccerá o equilíbrio entre a procura e a oferta, e nossa
sociedade regenerar-se-há pelo trabalho, que he a pedra de toque da moralidade de um
povo qualquer.
Esse discurso apresenta-se no sentido de uma exaltação do lugar ao mesmo tempo em
que denigre a figura do camponês – morador de favor – responsabilizando-o pelos males e
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caracterizando a maioria como preguiçosos, negligentes e cheios de vícios enquanto convoca e
orienta os proprietários para atuarem em relação ao que consideram desprezível e sugerem que
a correção para esses males se daria pelo trabalho. É um texto que dentro da ótica
contemporânea caracteriza-se por uma carga de preconceito muito grande para com os
trabalhadores que não se enquadravam no modelo oferecido, o que consideramos uma dentre
tantas outras formas de resistência.
Imagem 30 - Declaração.
Fonte: O Araripe 28 de janeiro de 1860, p. 4, Coleção Digital, CEDOCC.
DECLARAÇÃO
Constando ao abaixo assignado haverem donos de sítios neste termo, que
ameação aos seos moradores e rendeiros de os despeijarem de ditos os sitios, se
porventura nas próximas eleições de setembro votarem em membros do partido
liberal, vem declarar aos mesmos que aquelles que forem corridos por similhante
motivo, acharaõ em seo sitio – Lameiro – todo o acolhimento, sem que paguem
estipendio algum, e bem assim em terras do sitio – Monte-alegre – de seo amigo o
tenente coronel José Francisco Pereira Maia, ficando-lhes livre votarem em quem lhes
parecer.
Crato 25 de janeiro de 1860.
José do Monte Furtado
Atitudes de proprietários em relação a moradores de favor que porventura não votassem
em seus candidatos. Disputa clara presente no discurso entre membros dos partidos Liberal e
Conservador. Os moradores de favor a depender das conjunturas políticas. Presença de
resistência quando aparece a ameaça de despejo por parte de uns e acolhimento por parte de
outros.
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Imagem 31 - Lições de Jurisprudência.
Fonte: O Araripe 21 de julho de 1860, p. 4, Coleção Digital, CEDOCC.
PUBLICAÇÕES AEDIDO.
DICISÕES DO TRIBUNAL CORREGIONAL DO OURICURY.
LIÇÕES DE JURISPRUDENCIA
Continuação n. antecedente.
Vic ima – Paulo José da Silva, morto com duas facadas em cima do peito
direito; uma perna regêtada, junto ao joelho, e todo o couro do rosto e cabeça tirado,
para ser salgado, sendo o facto praticado em uma vereda do Modobim, para o Posso
da Pedra, em dias de Fevereiro de 1853.
Juis processante: O Juis Municipal José Severo G.
Pronuncia – Julgo procedente o presente sumario crime pelo dito das
testemunhas por mim inquiridas e perguntadas contra os réos D. Joaqquina Maria da
Luz, Viuva branca casada, moradora em sua fazenda Sinimbú, Leandro Borges, pardo
solteiro, morador na fazenda Modubim, do termo Boa Vista, o escravo José, pai deste,
o escravo Manoel de D. Joaquina Maria da Lus, e o pardo Francisco de tal, morador
na fazenda Agoa-preta, deste termo, onde também he moradora D. Joaquina. E o seo
escravo Manoel, pela morte que mandou faser D. Joaqnina, e Leandro Borges por seos
dois escravos, e por Francisco de tal, faser em Paulo de tal, no matto em huma vereda
do Modubim para a fasenda Ágoa-preta, e os julgo incursos no art. 192 do cod. do
Processo Criminal, por se darem as circunstancias agravantes do art. 16 §1º., 4º., 6.,
8., 10. 11, 12, 15 e 17 do mesmo cod: por quanto obrigados como estão os réos
encurços no presente sumario crime a prisão e livramento, determino ao escrivão que
fassa extrahtr copia desta minha sentença enviando-as ás autoridades policiaes para
serem capturados os réos que se acharem neste termo, e para os que se achaõ no termo
da Boa-vista, passar carta precatória como há requerido a Promotoria Publica, e
paguem os réos D. Joaquina Maria da Lus, e Leandro Borges, as custas em que os
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condeno, e cumpra-se o regimento. Villa do Ouricuri 16 de Dezembro de 1853. José
Severo Granja.
«Estando esse mesmo juis municipal, aposentado na fasenda Alagoa,
pertencente a família de Dona Joaquina, a 6 de Fevereiro de 1854, e là existindo todos
os réos de que trata a pronuncia acima, os mesmos interposerão recurso por um
procurador, e fustigado o qual foi decidido juridicamente d’essa forma» - Sentença
em grâo de Recurço-Quando mesmo aos Recorrentes fosse desconhecido, que ô dever
rigoroso ao Juis criminal tomar conta dos feitos do termo de sua residência,
conhecendo da identidade deles, por provas, ou absolvendo-os quando essas provas
não se derem, o Procurador dos recorrentes disso nada podia ignorar, mas a fastando-
se hum pouco do dever que tem de prodenciar, rechiou o seu recurso de algua
increpação ao Juis sumariamente, querendo assim taxallo de arbitrário,
desconhecendo em suma que um auto de corpo de dilicto, achando não aver nenhum
peso no dito das três ultimas testemunhas; e basiando suas rasões com as primeiras,
só por que nada dicerão. A falta de corpo de dilito não he uma materia soficiente para
se bater as provas riaes de hum sumari natureza. Julgo o quando se acha provado por
dito de testemunhas constantes, e tanto estou convencido que vejo so dar esta pratica
pelos juises processantes de qualquer natureza. Julgo que um corpo de dilito nada
mais serve se não conhecer-se da existência do facto para que em todo e qualquer
tempo não padeça duvida – mas vamos ao caso – dois são os tempos de se formarem
corpos de dilito, directo, e indirecto, suponhamos que não houve autoridade que o
fassa quando directo, e que em quanto há clamor publico, e por ventura sobre a morte
de Paulo haviria mais esse clamor publico, coitado, hum procedimento da justiça foi
o que houve a seo favor, que de nada vem servir, pelo contrario provas que em seu
favor o dão os recorrentes. De mais hum corpo de dilito se forma do cadáver em falta
deste dos objetos indiciosos, nada disso foi por este juiso achado, estaria este facto
no caso de naõ ser reconhecido! Estou que naõ! Avista dos exemplos que temos os
quaes hum trabalho imenso daria a imnumerdos.
Dous são mais os fundamentos em que batem os recorrentes, o primeiro o
que deposerão as duas primeiras testemunhas, e o segundo as três ultimas, nas quaes
se reconhecia não haver criterio algum: Em quanto a isso direi que as testemunhas que
se occuparão os recorrentes não são essas que supõem, e passando a demonstral-o, os
recorrentes lhes farão justiça inda mesmo que estejão contestadas, e nem ellas disem
virão matar-se a Paulo por mando de alguém. A 1ª he o nspector da villa do Ouricury,
a 2ª um rapaz que ahi vive na mesma villa de seo negocio, cujas qualidades hélas estão
a desafio, o ultimo afinal tambem he morador na villa, he homen probo, e embora seja
pobre sua vida não é prevaricada . Em quanto as duas 1as testemunhas, direi que nada
mais fiserão que um dever de gratidão por serem essas pessoas que vivem em derredor
dos recorrentes e seos parentes. Os recorrentes não obstante ir decorrendo hum
período de anno, que sobre eles se ouvio o custo do crime, apresentão em seo recurso
mais orgulho do que piedade. Todavia, tendo os recorrentes D. Joaquina Maria da
Luz, Leandro Borges Rodrigues, e os escravos destes, Manoel e José, por seo
procurador, habilmente provado a innxcencia em que estão, pela morte de Paulo de
tal, em que por este juiso forão obrigados a prisão e livramento, inteirado
sobremaneira este juiso, ter sido o infelis Paulo de tal assassiado pelos índios bravos
que nesse mesmo tempo andavão andavam nas fasendas dos recorrentes e de seos
parentes, visto mesmo ao pé do cadáver quando foi achado as rancharias dos ditos
índios, julgo estarem no caso os recorrentes de serem atendidos em seo recurço,
ficando exento do crime que por despacho deste juiso o f. se achavão incursos.
Mando ppor tanto que o escrivão faça constar desta minha sentença de
absolvição aos recorrentes no lugar de sua prisão pondo-os em liberdade, e que
paguem as custas, cumpra seo regimento. Fasenda da Alagoa 11 do Fevereiro de 1854.
José Severo Granja.
Violência extrema, corrupção na justiça, uso de moradores de modo conveniente aos
proprietários, mas também a eles próprios, uma forma de resistência oculta no sentido de manter
a segurança e até um status quo dentro do modelo de exploração ao qual estão condicionados,
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o indígena presente no espaço estudado, porém, apresentado através de um discurso que denigre
o seu comportamento. Possibilidade de comparação entre os códigos de leis penais do período
e atual, as mulheres detentoras de poder, dentre outras possibilidades.
Imagem 55 - Correspondência.
Fonte: O Araripe 04 de agosto de 1860, p. 2, Coleção Digital, CEDOCC.
Imagem 56 - Correspondências.
Fonte: O Araripe 04 de agosto de 1860, p. 2, Hemoroteca Digital Brasileira15.
CORRESPONDENCIAS.
Continuação do nº antecedente.
Sr. Redactor, este sultão é tão vingativo, que me dice a mim que se não
pudesse falar no nome do Sr. Manoel José de Sousa, melhor seria. Este Sousa nunca
offendeo a família dele, isto é por amor de política e nada mais. Este Sultão quando
15 Disponível em <http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=213306&pasta=ano%20186&pesq=>.
Acesso em 07 de julho de 2019
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pende o seo ódio para um, que que seja como as palavras da escriptura, que se hão de
cumprir. Tomou ódio a meo mano, sem motivo algum, e sò por que meo mano não
quer se subjeitar a feitoria de ninguém, mormente a feitoria do Sr. Sultão; e com
certeza, Sr. Redactor, é onde mora o orgulho e presempção. Perseguio a um morador
de meo mano, por que este teve relações com uma escrava de José Manoel, e me dice
que este tinha despresado a denuncia, mas que ele, como delegado ia tirar o processo
adulava, botndo ex-officio da justiça. Este Sultão fasia isto para ver si assim meo mano
o adulava, botando tropas no rapaz. Estando este fugitivo, a mãe se foi valer da mulher
e da filha do Sultão, e não teve mais nada, como dice esta a meo mano,
Sr. Redactor, esta escrava revolvia o interior desta villa, e até andava tratando
de cavalos em cercados. Era esta a donzela, por quem o Sultão tanto se empenhava.
Alli é que mora a soberba.
As cousas da policia por aqui andão de mal a peior: so teriamos outro andar
mais compassado, sinão tivéssemos um delegado, chefe da botiquinha e era o melhor
que o governo fasia acabar com estes abusos, e nomear outro embora saquarema
moderado, como o Sr. Major Antonio Furtado de Figueiredo, ou outro que entendesse
de sua confiança.
Sr, Redactor, devo dar um conselho ao Sr. Manoel de Jesus, embora não me
ache habilitado, mas como parente vou diser-lhe que respeite aos seos parentes, que
seos parentes respeitão a lei e respeitão a sua autoridade. S. S. sem eles não é nada.
Veja que em família unida não entra vento, embora deva estar certo, que estou fora
dessa fileira e desde já lhe digo que sua amisade eu não quero para préstimo algum, e
já há muito que o devia ter feito, ficando certo que si vendo em qualquer perigo sinto
na qualidade de próximo e por humanidade. Sô me restão alguns de seos manos que
me teem tratado bem, como bem seo mano Jose leite, Manoel Leite da Cunha e seo
cunhado jacinto. E’ o que me resta diser-lhe. Por S. S. a mais tempo lhe agradeço seos
préstimos, cheios de orgulho e seos extraordinários conselhos.
Basta por agora e fico preparando outra, si o Sultão me responder.
Sou –
Seo assignante venerador e criado
Francisco Leite Rabello Machado
O morador de favor de um fazendeiro, neste caso, se envolve afetivamente com uma
escrava de outro proprietário que é tido como perseguidor e vingativo, sendo que a disputa se
dá indiretamente entre os dois proprietários. Críticas à polícia, a resistência aparece através da
fuga do morador e da atitude de sua mãe, mesmo de forma passiva podendo ser entendida como
uma atitude de humilhação, em busca de uma solução pacífica através do diálogo com a esposa
do proprietário da escrava enquanto ele viajava. Nos discursos públicos fica clara a imposição
do poder através da força e a imagem da escrava desqualificada que mesmo sendo um indivíduo
pobre era livre, além de ser do sexo masculino, e apesar de perseguido tem grande parte da
opinião pública a seu favor, considerando-se aqui o preconceito contra os escravos e o
machismo dominante na sociedade da época, na qual uma mulher com as características
apresentadas e até enfatizadas pelo discurso construído na notícia não seria considerada teria
poucas chances de defesa pública.
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Imagem 57 - Comunicados.
Fonte: O Araripe 05 de janeiro de 1861, p. 2, Coleção Digital, CEDOCC.
COMUNICADOS
PARA O EX.mo SR. PRESIDENTE E CHEFE DE POLÍCIA VEREM
O Sr. Francisco José de Pontes Simões subdelegado desta cidade, para sua maior
infelicidade, em dias últimos de novembro do corrente anno foi a casa de meo irmão
e amigo Dionisio da Costa Ribeiro, com 8 homens armados de faca e cacete, incluindo
neste númeroo inspector do quarteirão das Cobras José de Mello Falcão, afim do que
ignoramos, porem supomos, que seo intento era matal-o ou roubal-o: porem, achando-
o em seo engenho com alguns homens, seos trabalhadores, não pôde preticar a sua
bôa intenção, talvez porque receasse, que fosse repelido, perguntando-lhe meo mano
ao que se dirigia, respondeo em gritos, que vinha prender um seo morador, a quem
atribuía ter dado uma cacetada em um boi seo. Dice meo irmão, se algum dos seos
moradores tinha ferido o boi do sr. Pontes, aparecesse e lhe dissesse, que ele tinha
com que pagar o boi. A este dito o o referido subdelegado arrojou o cavalo sobre meo
irmão, enrolando o chicote no braço e apunhando o cabo em atitude de querer
espancal-o. A esta acção meo irmão chegando-se a ele dice-lhe – Sr. Pontes, se v. é
homem, ou eu sou seo captivo, surre-me ou espanque-me que teremos muito que vêr.
Continuando o sr. Pontes em seo larido, e cobrindo-o de injurias verbaes, deo lhe vóz
de prisão, ao que se rendeo meo irmão, e mandou o dito inspector escoltal-o até a
cadeia desta cidade, o que o inspector não cumprio, dizendo ao mesmo preso, que
seguisse só, e chegando nesta cidade a casa do tenente coronel Miguel Xavier, ahi
achou o sr. Pontes, e metendo-se nesse negócio o dito tenente coronel mandou o preso
para sua casa, pedindo-lhe que ficasse de conta que não era o Pontes, quem o ensultara,
prendéra e injuriara, e sim ele. Nesta mesma ocasião, entre outros muitos ditos do
mesmo subdelegado, publicou que ou ele Pontes nesta terra, ou ele Dionísio.
Agora pois aparece do mesmo Pontes uma denuncia de crime de resistência, e talvez
de mais alguns de sua invenção, pois já não é a primeira vez, que o sr. Pontes pratica
das suas e entre estas xpontarei uma em que deitado na bagaceira do engenho de meo
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irmão no sitio Cobras prendeo a 12 homens, joão Ignacio da Costa, nosso irmão, José
Coêlho, Pedro Antonio da Costa, Raimundo José da Costa, Manoel machado d Silva,
João Raimendo, Eufrasio Alves Feitosa e outros, cujos nomes nos passarão da
memória, e todos esses presos ainda hoje são vivos, e bem podem testemunhar a nossa
asserção; preso estes uns a título de não tirarem o chapeo, outros porque não
prenderam aos que ele mandou prender. Passada essa sua birra, ou força do sumo da
caiana, os mandou soltar. O sr Pontes bem sabe todos os males e damnos que nos tem
causado, e isto já há tempos, e agora bem poucos dias a injustiça que nos fez, tomando
as cannas etc. etc. como bem os provamos. Alem de todos os males e injustiças é o sr.
Pontes um máo visinho causando muitos prejuízos em nossas lavouras com a soltura
de seos bois e cabras.
Crato 20 de desembro de 1860. Narciso Ferreira da Costa.
Violência explícita, abuso de poder. Nesse caso o morador de favor é prestigiado pela
defesa pública em seu favor feita pelo proprietário da terra em que mora. Ao mesmo tempo em
que o agente da polícia cumpre o que seria o seu dever, é desmoralizado pelo chefe político.
Enquanto o proprietário que defendia o seu morador de favor no sentido de demonstrar poder é
humilhado ao ser levado prisioneiro muda de situação ao ver a autoridade policial ser
desautorizada pelo chefe político, porém convenientemente se submete a este.
Imagem 58 - Declaração.
Fonte: O Araripe 02 de fevereiro de 1861, p. 4, Coleção Digital, CEDOCC.
DECLARAÇÃO.
José de Sousa Rolim morador presentemente na província do Ceará, declara que tem
tres partes de terra na provincia da Parahyba do Norte, no lugar denominado – Riacho-
da-caiçara, em comum com as terras de seos manos e como as mandou registrar [...]
com as formalidades da lei, [...] a quem quer que julgue poder apossar-se dessas terras,
como terras sem dono, se até agora naõ tem prohibido expressamente a algumas
pessoas, que teem feito roçado em ditas terras, é porque não tem querido, e mesmo a
15 annos que emigrou desse lugar, onde poucas veses tem ido.
Quanto a um morador que tem estado nas terras da Caiçara, tem sido por permissão
do meu mano Alexandre de Sousa, e como agora o dito morador não quer estar por
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isso já se mandou diser que se retirasse, e se por acaso não fiser, terei de usar dos
direitos que a lei me concede a fim de despeijal-o.
E mesmo quando houvesse quem dissesse q’essas terras lhe perenciaõ seriaõ aos
donos das terras do Sipò; mas estes estaõ certos que só lhes pertence a meia legoa de
que tracta a escriptura. Podia mandar publicar os documentos que tenho, mas naõ faço
por achar desnecessario, mormente porque naõ conheço quem tenha jus a ellas a não
ser os que possuem terras em S. José.
Se faço esta simples declaração é porque o se Frade morador no Mellaõ, província do
Ceará: tem mandado abrir roçados nessas terras, e impede que o povo tire madeira,
sendo para que não se destrua as mattas, como disse a um dos meos filhos resultando
isto em beneficio dos donos. S José 25 de janeiro de 1861.
J. S. Rolim.
As famosas questões de terra envolvendo familiares, moradores, igreja.
Imagem 59 - Noticiário.
Fonte: O Araripe 21 de setembro de 1861, p. 2, Coleção Digital, CEDOCC.
NOTICIARIO
No dia 8 deste mês Domingo, de tal morador em terras do Sr, João Lobo de Macedo,
munido de um clavinote de José Alves, inspector do quarteirão, tentou matar a um
indivíduo, cujo nome ignoramos, e tendo-o ferido levemente com um tiro, foi preso
pelo sar. Francisco Ribeiro de Andrade que o veio entregar ao delegado de policia
desta cidade o senr. Capitão Carmo.
Achou-se porem e o assassino eu este facto não tinha importancia alguma e o assassino
pouco depois foi posto em liberdade!
Nesse caso chamamos a atenção mais uma vez para a perda de identidade por parte do
morador de favor. O seu sobrenome não parece ter importância e o mesmo é reconhecido apenas
por ser morador de outrem. A violência mais uma vez marca presença, desta vez, na zona urbana
e aparece aqui a figura do inspetor de quarteirão, um tipo de presença do Estado na rua como
forma de preservar a ordem.
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Imagem 60 - Retificação.
Fonte: O Araripe 28 de setembro de 1861, p. 4, Coleção Digital, CEDOCC.
RETIFICAÇÃO.
A pessoa que dissemos, no n° passado ter sido ferida por um morador de João Lobo
de Macêdo chama-se José Alves, nome que por engano demos ao inspector que
ministrou a arma.
Na retificação é dada a importância para o esclarecimento em relação ao nome da vítima,
o sobrenome do morador continua ausente, nesse caso, um anônimo.
Imagem 61 - Utimahora.
Fonte: O Araripe 12 de outubro de 1861, p. 4, Coleção Digital, CEDOCC.
ULTIMAHORA
Para jurarem no processo mandado instaurar pela morte de Totó, o sr. Delegado
Carmo mandou notificar os moradores do sr. Padre Lima-verde e até o filho de nm
ma(?)ores !!!!.......
Às voltas com o processo relativo a morte do morador de favor Totó, que ninguém que
reivindicar para si.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao finalizarmos esse processo de pesquisa sobre os moradores de favor nos sertões
dentro ou fora do ensino de História tivemos a oportunidade de visitar de forma privilegiada
através do Jornal O Araripe, a vida cotidiana de um tempo que passa para a posteridade através
dos textos didáticos as marcas de uma sociedade onde claramente encontramos a presença de
determinados grupos privilegiados pelo controle das terras e da lei e consequentemente da vida
de tantas pessoas despossuídas de terra e de tudo, inclusive de identidade e dignidade. É preciso
mergulhar na leitura para perceber nas entrelinhas dos discursos muitas vezes justificadores os
usos e abusos que se faziam das pessoas que se encontravam na esfera do poder de uma classe
privilegiada. E as consequências desse modelo de produção e exploração do trabalho humano,
´o resultado, é o que pode ser observado atualmente em grande parcela da sociedade que ainda
continua a reivindicar o direito a terra que historicamente lhes foi negado,
Consideramos nesse momento de reflexão sobre o que nos propomos a explorar com
vistas a uma contribuição para o ensino da disciplina de História, o que já afirmamos
anteriormente. O livro didático tem a sua importância reconhecida, mas, diante do que já
ponderamos não pode conter o todo. Se temos que dar uma resposta até por quê fomos nós que
formulamos a pergunta, concluímos que o nosso objeto de estudo não se encontra de forma
satisfatória inserido nos textos didáticos que analisamos. Implicitamente podemos encontrá-lo
dissolvido no meio de uma massa de camponeses que consideramos importante que seja
visibilizada em suas peculiaridades, para que sejam evitados e combatidos os estereótipos tão
comuns em relação ao ‘sertanejo’, ‘nordestino’, ‘baiano’, ‘cearense’, ‘paraíba’ etc.
Procuramos enxergar esse sujeito histórico em sua generalidade, mas também em suas
particularidades. Compreendemos que o nosso objeto de estudo, não necessariamente tinha a
sua condição predestinada e que a sua situação poderia mudar eventualmente dependendo de
circunstâncias diversas. Um morador de favor poderia se tornar um pequeno proprietário, mas
também poderia assumir a condição de andarilho, seguidor de beatos, cangaceiro, ser pequeno
proprietário e trabalhar alugado, ser meeiro. Haviam os que se acomodavam a essa situação e
não se moviam, mas também os que enfrentavam e mesmo temendo as consequências,
resistiam. Mas, qual o significado disso dentro de uma estrutura excludente que não permitia
uma mobilidade da condição social da maioria? Os livros didáticos não podem deixar de falar
dos coronéis, do voto de cabresto, referindo-se a esse contingente populacional como jagunços,
milicianos.
92
Os moradores de favor já estavam presentes no Brasil, antes do coronelismo e continuam
presentes até hoje. O coronelismo no sentido do fenômeno do proprietário revestido de poderes,
característico de um período significativo da História do Brasil foi superado. A falta de acesso
à terra para grande parte da população ainda é uma realidade. Percebemos que é como se fosse
algo intrínseco naturalizado e a disciplina de História tem a propriedade e o dever histórico de
incluir esses sujeitos de forma efetiva no seu currículo. Enquanto não estiverem de forma
evidente nos livros e manuais, existem outras possibilidades de incluí-los. Dentre tantas
elegemos o jornal e procuramos demonstrar a partir do exemplo de como desenvolvemos a
nossa pesquisa o alcance que esta fonte pode ter para o ensino de História.
O espaço, dentre o grande sertão nordestino e tantos sertões, fizemos uma parada na
Vila do Crato, província do Ceará no final do XIX. Um recorte espacial e temporal necessário
que não nos limitou no sentido de compreensão da presença e atuação do nosso objeto de estudo
e possibilitou a análise de grande parte da região circunvizinha e até de outros sertões de outras
províncias. Defendemos que o morador deveria constar nas páginas do livro didático no mínimo
com a mesma medida com que se incluem os parceiros na região Sudeste.
Esperamos que essa análise sobre o morador de favor e o ensino de História possa
também, além de comunicar uma produção específica servir de reflexão para o papel do
historiador professor que, consciente da sua atuação para a formação de jovens estudantes possa
ir além de mero reprodutor de informações e invista na reflexão da realidade, algo que diante
do desenvolvimento de métodos e possibilidades de fontes que como ciência acumulou no seu
desenvolvimento ao longo do tempo, isso é algo que entendemos, deveria se tornar prática
comum.
94
Quadro 2 – Ocorrências dos termos morador e moradores independente do significado e (X)
dos termos morador e moradores como sujeito histórico e objeto desta pesquisa.
ANO PASTA OCORRÊNCIA OCORRÊNCIA
COMO OBJETO
1855 00002 (1)
00005 (1)
00006 (1)
00007 (1)
00009 (1)
00012 (3)
00013 (1)
00014 (1)
00018 (1)
00019 (1)
00021 (2)
00022 (1)
00023 (1)
00024 (1) X
00025 (1)
1856 00026 (1)
00028 (1)
00029 (1) X
00030 (2)
00031 (1)
00037 (1)
00044 (1)
00045 (1)
00048 (1)
00050 (1)
00052 (1) X
00053 (1)
00057 (1)
00062 (1)
00061 (1)
00066 (1)
00068 (1)
00069 (1)
00073 (1)
1857 00076 (1)
00078 (1)
00079 (1)
00083 (1) X
00087 (1)
00090 (3) X
00091 (1)
00092 (1)
00095 (1)
00099 (1)
95
(Continuação)
PASTA/ANO PASTA OCORRÊNCIA OCORRÊNCIA
COMO OBJETO
00100 (1)
00104 (1)
00108 (1)
00109 (1)
00111 (1)
00112 (1)
00113 (1)
00119 (1)
00122 (1)
00123 (1)
00124 (1)
1858 00133 (1)
00134 (1)
00135 (1)
00136 (1)
00138 (1)
00140 (1)
00141 (1)
00143 (1)
00145 (1)
00146 (1)
00147 (1)
00149 (1) X
00150 (1)
00151 (1)
00152 (1)
00154 (1)
00155 (1)
00156 (1) X
00161 (1)
00163 (1)
00165 (1)
00169 (1)
00172 (1)
1859 00175 (1)
00179 (1)
00181 (1)
00182 (1)
00183 (1) X
00184 (1)
00185 (1)
00195 (1)
00199 (1)
00203 (1)
00204 (1)
00205 (1)
96
(continuação)
PASTA/ANO PASTA OCORRÊNCIA OCORRÊNCIA
COMO OBJETO
1860 00209 (1) X
00213 (1)
00221 (1)
00224 (1)
00229 (2)
00230 (2) X
00231 (1)
00232 (1) X
00236 (1)
00239 (1)
00241 (1)
1861 00248 (1) X
00249 (1)
00250 (2)
00251 (1) X
00254 (1)
00261 (1) X
00262 (1) X
00264 (1) X
00268 (1)
00269 (1)
00273 (1)
00284 (1)
1864 00298 (1)
00304 (1)
00309 (1)
00314 (1)
Ocorrências dos termos morador e moradores – 126
Ocorrência como objeto 16
97
Quadro 3 – Coleções de História aprovadas pelo PNLD/2015.
TÍTULO AUTOR E OUTROS DADOS
CAMINHOS DO HOMEM Adhemar Marques Flávio Berutti
27513COL06
Coleção Tipo 2
Base Editorial 2ª edição 2013
www.baseeditorial.com.br/pnld2015/ caminhosdohomem
CONEXÃO HISTÓRIA Roberto Catelli Junior 27517COL06 Coleção Tipo 1
AJS 1ª edição 2013
www.editoraajs.com.br/pnld2015/conexao_historia
HISTÓRIA José Geraldo Vinci de Moraes
27561COL06 Coleção Tipo 2
Editora Positivo 1ª edição 2013
www.editorapositivo.com.br/pnld2015/historia
INTEGRALIS – HISTÓRIA Divalte Garcia Figueira 27562COL06 Coleção Tipo 1
IBEP Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas 1ª edição
2013
www.editoraibep.com.br/pnld2015/ historiaintegralis
HISTÓRIA: CULTURA E
SOCIEDADE
Sandro Vieira Jean Moreno
27563COL06 Coleção Tipo 2
Editora Positivo 2ª Edição 2013
www.editorapositivo.com.br/pnld2015/
historiaculturaesociedade
HISTÓRIA EM DEBATE Rosiane de Camargo Renato Mocellin
27564COL06 Coleção Tipo 2
Editora do Brasil 3ª edição 2013
www.editoradobrasil.com.br/pnld2015/ historiaemdebate
HISTÓRIA EM MOVIMENTO Gislane Campos Azevedo Seriacopi Reinaldo Seriacopi
27565COL06 Coleção Tipo 1
Editora Ática 2ª edição 2013
www.atica.com.br/pnld2015/historiaemmovimento
HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL Cláudio Vicentino Gianpaolo Dorigo
27566COL06 Coleção Tipo 1
Editora Scipione 2ª edição 2013
www.scipione.com.br/pnld2015/historiageraledobrasil
HISTÓRIA GLOBAL – BRASIL E
GERAL
Gilberto Cotrim 27567COL06 Coleção Tipo 2
Editora Saraiva 2ª edição 2013
http://www.editorasaraiva.com.br/pnld2015/
historia_global_brasil_e_geral
HISTÓRIA PARA O ENSINO
MÉDIO
Marcos Napolitano Mariana Villaça
27568COL06 Coleção Tipo 2
Editora Saraiva 1ª edição 2013
http://www.editorasaraiva.com.br/pnld2015/
historia_para_o_ensino_medio
HISTÓRIA SOCIEDADE &
CIDADANIA
Alfredo Boulos Júnior 27569COL06 Coleção Tipo 1
Editora FTD 1ª edição 2013
www.ftd.com.br/pnld2015/ historiasociedade&cidadania
HISTÓRIA Ronaldo Vainfas Sheila de Castro Faria Jorge Ferreira
Georgina dos Santos
27570COL06 Coleção Tipo 2
Editora Saraiva 2ª edição 2013
http://www.editorasaraiva.com.br/pnld2015/historia
NOVA HISTÓRIA INTEGRADA João Paulo Mesquita Hidalgo Ferreira Luiz Estevam de
Oliveira Fernandes
27597COL06 Coleção Tipo 2
Editora Companhia da Escola 3ª edição 2013
98
NOVO OLHAR HISTÓRIA Marco César Pelegrini Adriana Machado Dias Keila
Grinberg
27601COL06 Coleção Tipo 1
Editora FTD 2ª edição 2013
www.ftd.com.br/pnld2015/novoolharhistoria
OFICINA DE HISTÓRIA Flávio de Campos Regina Claro
27603COL06 Coleção Tipo 2
Editora Leya 1ª edição 2013
www.leya.com.br/pnld2015/oficinadehistoria
POR DENTRO DA HISTÓRIA Pedro Santiago Maria Aparecida Pontes Célia Cerqueira
27610COL06 Coleção Tipo 2
Edições Escala Educacional 3ª edição 2013
www.escalaeducacional.com.br/pnld-2015/ por-dentro-da-
historia
SER PROTAGONISTA HISTÓRIA Valéria Vaz 27632COL06 Coleção Tipo 1
Edições SM 2ª edição 2013
www.edicoessm.com.br/pnld2015/ serprotagonistahistoria
HISTÓRIA - DAS CAVERNAS AO
TERCEIRO MILÊNIO
Patrícia Ramos Braick Myriam Becho Mota
27642COL06 Coleção Tipo 1
Editora Moderna 3ª edição 2013
http://www.moderna.com.br/pnld2015/
historiadascavernasaoterceiromilenio/
CONEXÕES COM A HISTÓRIA Alexandre Alves Letícia Fagundes de Oliveira
27643COL06 Coleção Tipo 1
Editora Moderna 2ª edição 2013
http://www.moderna.com.br/
pnld2015/conexoescomahistoria/
99
7. BIBLIOGRAFIA
CAVALCANTE, Maria Juraci Maia. O JORNAL COMO FONTE PRIVILEGIADA DE
PESQUISA HISTÓRICA NO CAMPO EDUCACIONAL. aced/ufc, Fortaleza, p.1-10, 2019.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Pequeno dicionário brasileiro da língua
portuguesa. Rio de Janeiro, Editora Nacional, 11ª edição, 1987.
Guia de livros didáticos: PNLD 2015: história: ensino médio. – Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Básica, 2014.
https://www.fnde.gov.br/programas/programas-do-livro/pnld/guia-do-livro-
didatico/item/5940-guia-pnld-2015. acesso em 05.05.2019
https://www.fnde.gov.br/programas/programas-do-livro/consultas/editais-programas-
livro/item/4032-pnld-2015. acesso em 05.05.2019
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032014000600002 acesso
em 05.05.2019;
Livro Didático e Ensino de História: O PIBID no Colégio Estadual Raul Vidal = 167 Luiz
Otávio Rodrigues da Costa, Beatriz Barcelos Dias da Silva, Felipe Ferreira de Amorim Borges,
Lorena Silva Tato, Mayara Jéssica Oliveira da Silva e Rafael Ribeiro Sousa in: Andrade
Everardo Paiva de, Universidade e escola formando professores de História / Everardo Paiva
de Andrade Juniele Rabelo de Almeida, Manuel Rolph de Viveiros Cabeceiras, Marcus
Ajuruam de Oliveira Dezemone (organizadores) – São Paulo: Letra e Voz, 2015.
NEVES, Delma Pessanha; SILVA, Maria Aparecida de Moraes (Org.). Processos de
constituição e reprodução do campesinato no Brasil: Formas tuteladas de condição camponesa.
São Paulo: Editora Unesp, 2008. 237 p. (Coleção História Social do Campesinato no Brasil).
Volume 1.
OLIVEIRA, Carla Mary S.; MARIANO, Serioja Rodrigues Cordeiro (Org.). CULTURA
HISTÓRICA E ENSINO DE HISTÓRIA. João Pessoa: Editora UFPB, 2014.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Uma categoria rural esquecida. In: WELCH, Clifford ...
[et al.]. Camponeses brasileiros: leituras e interpretações clássicas, v.1. São Paulo: Editora
UNESP; Brasília, DF: Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural, 2009.
REIS JUNIOR, Darlan de Oliveira. Senhores e trabalhadores no Cariri cearense: terra,
trabalho e conflitos na segunda metade do século XIX. Tese (doutorado) – Universidade
Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Departamento de História, Programa de Pós-
Graduação em História Social, Fortaleza, 2014.
_______. As “classes perigosas” no sertão dos oitocentos: justiça, conflitos sociais e violência.
In: CÂNDIDO, Tyrone Apollo Pontes; NEVES, Frederico de Castro (Org.). CAPÍTULOS DE
HISTÓRIA SOCIAL DOS SERTÕES. Fortaleza: Plebeu Gabinete de Leitura, 2017. 256 p.
SABOURIN, Eric. Camponeses do Brasil: entre a troca mercantil e a reciprocidade. –
Traduzido do francês por Leonardo Milani. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
_______.Será que existem camponeses no Brasil? En Congresso da Sociedade Brasileira de
Economia, Administração e Sociologia Rural. 47. Porto Alegre, Sober, 2009. Disponível
em:>http://www.sober.org.br/palestra/13/493.pdf.< Acesso em: 18 Ago. 2019.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007.
100
SILVA, Antônio Felipe da Costa Monteiro Machado, CAROLINE Pereira Barros Araújo,
Ramon Rubem Peixoto de Oliveira e Waagner Luiz Nogueira Hartje in: Andrade Everardo
Paiva de, Universidade e escola formando professores de História / Everardo Paiva de Andrade
Juniele Rabelo de Almeida, Manuel Rolph de Viveiros Cabeceiras, Marcus Ajuruam de
Oliveira Dezemone (organizadores) – São Paulo: Letra e Voz, 2015.
TALAMINI, Jaqueline Lesinhovski. O USO DO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA NAS
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: a relação dos professores com os
conceitos presentes nos manuais. 2009. 122 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado em
Educação, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.
WELCH, Clifford ... [et al.]. Camponeses brasileiros: leituras e interpretações clássicas, v.1.
São Paulo: Editora UNESP; Brasília, DF: Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento
Rural, 2009.
FONTES IMPRESSAS
Centro de Documentação do Cariri, Universidade Regional do Cariri (CEDOCC)
Coleção Digital – Periódicos: O Araripe (1855-1864),
Livros Didáticos:
BOULOS, Júnior Alfredo. História Sociedade e Cidadania. 1 ed - São Paulo: FTD. 2013. Obra
em 3 vol. (Ensino Médio).
CAMPOS, Flávio de. Oficina de História. Flávio de Campos, Regina Claro. - 1 ed. São Paulo:
Leya, 2013. Obra em 3 vol. (Ensino Médio).
VICENTINO, Cláudio. História Geral e do Brasil / Cláudio Vicentino e Giampaolo Dorigo -
2 ed. - São Paulo: Scipione 2013. Obra em 3 vol. (Ensino Médio).
103
Quadro 4 – Dados sobre as coleções de livros didáticos de História analisados
COLEÇÃO 1 - HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL 2 - HISTÓRIA SOCIEDADE & CIDADANIA 3 - OFICINA DE HISTÓRIA
AUTOR (ES) Cláudio Vicentino / Gianpaolo Dorigo Alfredo Boulos Júnior Flávio de Campos Regina Claro
CÓDIGO PNLD 27566COL06 Coleção Tipo 1 27569COL06 Coleção Tipo 1 27603COL06 Coleção Tipo 2
TIPO16 1 1
EDITORA Editora Scipione 2ª edição 2013 Editora FTD 1ª edição 2013 Editora Leya 1ª edição 2013
ENDEREÇO
ELETRÔNICO
http://www.scipione.com.br/pnld2015/historiageraledobrasil http://www.ftd.com.br/pnld2015/historiasociedade&cidadan
ia
http://www.leya.com.br/pnld2015/oficinadehistoria
Visão geral A coleção orienta-se pela perspectiva cronológica linear e
integrada da História Geral e da História do Brasil, com ênfase
em seus aspectos políticos, econômicos e sociais
Os conteúdos de cada volume desta coleção estão agrupados
em unidades temáticas introduzidas por uma página dupla
com imagens e textos. As temáticas seguem uma forma cronológica linear, intercalando temas da História Geral com
os da História do Brasil, com ênfase na abordagem política e
econômica.
A coleção articula os capítulos por temas específicos, quais sejam, as
relações entre política e práticas religiosas, no volume 1; as revoluções
burguesas, no volume 2; e o papel das ideologias, no volume 3, apresentando os conteúdos centrados em uma concepção de história
intercalada e cronológica, que contempla a História Geral, da Europa, da
América, do Brasil, da África e da Ásia, desde a Pré-história até a contemporaneidade
O Manual do Professor apresenta comentários e orientações
por capítulo e discussão da historiografia, do ensino de História, da concepção e possibilidades de avaliação, do ensino de
História para adolescentes, da interdisciplinaridade da História
com a Geografia, a Sociologia e a Filosofia, atentando para as reflexões da prática docente e dos materiais didáticos digitais.
O Manual do Professor apresenta aspectos relacionados
com a metodologia da História, do ensino e da aprendizagem, orientação sobre a adoção de projetos de trabalho e textos
sobre a inserção da temática afro-brasileira e indígena na
escola.
O Manual do Professor oferece ao professor orientações sobre o uso de
fontes escritas, iconografia, mapas, tabelas, gráficos, filmes, além de disponibilizar textos de apoio que contemplam teoria e metodologia da
História, História da África e formação cidadã.
O componente curricular História enfatiza o conhecimento
histórico como produção intelectual pautada em procedimentos
teórico-metodológicos e passível de várias interpretações, articulando fontes históricas e diferentes pontos de vista aos
textos e atividades. A coleção investe também na construção e
no aprofundamento de conceitos que estruturam a disciplina História, destacando-se os de fonte, história, tempo, mudança e
permanência.
No que se refere ao componente curricular História,
confere singularidade à obra a variedade de fontes
documentais, sobretudo nas seções A imagem como fonte e O texto como fonte, que permitem explorar a multiplicidade
de visões sobre o processo histórico.
No tocante ao componente curricular História, a obra promove a
compreensão da historicidade dos processos e experiências de diferentes
sociedades, suas semelhanças, diferenças, contradições, questões ligadas aos fatores políticos e religiosos, às revoluções e ideologias. A
obra centra-se na perspectiva da história como construção social,
articulando os textos principais e as seções de análise de fontes, leituras de imagens e exercícios, a fim de possibilitar o desenvolvimento das
percepções acerca das relações entre a história vivida e a história escrita.
Valoriza um ensino de História que considera a historicidade dos
acontecimentos de modo a permitir que se desenvolvam noções de
processo histórico.
(continuação)
16 Tipo 1, a obra multimídia composta de livros digitais e livros impressos; e Tipo 2, a obra impressa composta de livros impressos e em Formato Portátil de Documento (PDF).
104
COLEÇÃO 1 - HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL 2 - HISTÓRIA SOCIEDADE & CIDADANIA 3 - OFICINA DE HISTÓRIA
A proposta pedagógica traz possibilidades de trabalho interdisciplinar com integração da reflexão histórica com outros
componentes curriculares das Ciências Humanas, apresentando
questões problematizadoras nas seções Discutindo a História e Para pensar historicamente, além de exploração de recursos
visuais e textuais nos exercícios, favorecendo o
desenvolvimento de competências e habilidades variadas.
Nas seções que abrem as unidades e os capítulos, a coleção
apresenta, em boxes, exercícios e imagens, oportunidades de
desenvolver ações positivas à formação cidadã e ao convívio social.
A História da África está presente em todos os volumes da
coleção, enfatizando-se a diversidade étnica, cultural e a resistência dos africanos aos processos de dominação. Quanto à
História e cultura afro-brasileira, sua discussão é abordada no
contexto da colonização e prossegue até os primeiros anos da República brasileira. A temática indígena é contemplada,
principalmente, nos capítulos que trabalham o período colonial
do Brasil.
Na proposta pedagógica, a obra possui uma quantidade significativa de atividades diversificadas no que se refere ao uso
de tipos documentais (pinturas, fotografias, charges, mapas e
documentos escritos) e às estratégias de ensino -aprendizagem, por meio das quais o aluno é levado a observar, identificar, listar,
comparar, descrever e analisar.
A coleção apresenta compromisso com a promoção de uma formação cidadã ao discutir os temas cidadania, questões
ambientais e movimentos sociais em atividades voltadas à
reflexão sobre tais questões. Contextualiza a presença da mulher em diferentes momentos da história e utiliza imagens e textos que
evidenciam os idosos, as crianças e os adolescentes.
A legislação referente à História da África e a história e cultura afro brasileira e indígena é atendida, ressaltando-se a
preocupação da coleção em destacar a diversidade dos grupos e
experiências. Isso ocorre a partir da organização dos capítulos de cada volume, com conteúdos referentes aos indígenas, africanos
e afrodescendentes de forma alternada com outros conteúdos.
Também a seleção de textos e imagens destaca a presença dos negros e indígenas nas lutas políticas e ressalta suas práticas
culturais.
Em sua proposta pedagógica, a coleção apresenta um conjunto de textos e atividades que estimula o desenvolvimento de trabalhos na
perspectiva da história crítica. Valoriza os conhecimentos apropriados
pelos alunos no ensino fundamental, garantindo a progressão dos saberes. Há um grande número de fotografias, pinturas, charges e
mapas e atividades que auxiliam o aluno no desenvolvimento da noção
de fonte histórica. A obra concilia a história com a construção da cidadania, articulando o ensino de História com questões
socioculturais, debatendo temas como a intolerância, as
discriminações, os estereótipos e estigmas.
Apresenta uma proposta de trabalho na qual o professor e o aluno são
instigados à reflexão, contribuindo para a formação de cidadãos
éticos, críticos e autônomos. Flávio de Campos Regina Claro 27603COL06 Coleção Tipo 2 Editora Leya 1ª edição 2013
www.leya.com.br/pnld2015/oficinadehistoria
OFICINA DE HISTÓRIA HISTÓRI Na abordagem sobre a História
da África, história e cultura dos afrodescendentes e dos povos
indígenas, a História da África é destaque, pois a coleção disponibiliza
produções historiográficas recentes sobre o tema. A história e cultura afro-brasileira e cultura indígena, esta última com menos ênfase, são
tratadas por meio de alguns temas que oferecem condições para se
entender a formação da sociedade brasileira.
O projeto gráfico-editorial tem organização clara, funcional e
coerente com a proposta didático-pedagógica da coleção. A
obra possui texto legível e bom espaçamento entre linhas, favorecendo a leitura. As imagens são nítidas e diversificadas,
possibilitando seu uso como recurso didático. Os textos
complementares e as imagens nos capítulos dividem espaço de forma equilibrada com a narrativa principal. Há uma variedade
de links que envolvem sites institucionais e da imprensa, que
favorecem o trabalho com fontes históricas.
A estrutura editorial e o projeto gráfico são adequados aos
objetivos didático-pedagógicos da obra, com indicações de farta
filmografia e fotografias ao longo dos capítulos, disponibilizando também sites para seu acesso.
O projeto gráfico é bem cuidado, claro e funcional. A diagramação
torna a leitura convidativa e promove a interação entre textos escritos
e imagens. As seções Um outro olhar, Engenho e Arte e Em cartaz articulam-se com o texto principal, oferecendo situações-problema,
textos complementares, sites e análises de filmes. Esses instrumentos
potencializam as possibilidades de abordagens em sala de aula.
Os livros digitais da coleção possuem Objetos Educacionais Digitais - OEDs, que se constituem em valiosos recursos
pedagógicos para o processo de ensino -aprendizagem da
História. Destacam-se as atividades de leitura de imagem, que podem render boas atividades coletivas em sala de aula, além
de serem bons exercícios para incentivar o debate em turma e o
pensamento crítico dos alunos.
Nos livros digitais, os Objetos Educacionais Digitais (OEDs) são compostos, em sua maioria, por audiovisuais (documentários),
infográficos e animações. Todas as imagens possuem o recurso
de ampliação para melhor detalhamento e análise. Os documentários auxiliam na discussão, em sala de aula, de
questões contemporâneas de fundo histórico, uma vez que
contam com participação de historiadores de universidades brasileiras e depoimentos de pessoas comuns como quilombolas,
grupos indígenas, praticantes de capoeira e mulheres.
-
(continuação)
105
COLEÇÃO 1 - HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL 2 - HISTÓRIA SOCIEDADE & CIDADANIA 3 - OFICINA DE HISTÓRIA
Descrição Na coleção, a abertura de cada volume traz uma Apresentação do livro, o Sumário e a seção Conheça seu livro. A abertura das
unidades possui folha dupla e contém duas imagens que
expressam os conteúdos dos capítulos. Ao final, há Sugestões de leitura para o aluno, Bibliografia, Respostas dos testes e
Índice remissivo. As unidades e os capítulos começam,
respectivamente, com as seções Discutindo a História e Para pensar historicamente. Como parte das seções fixas, têm-se as
Atividades, divididas em: Questões interdisciplinares;
Exercícios de História; Para recordar/Esquema-resumo;
Questões & testes, que traz questões de vestibulares nacionais
e do Enem divididas por capítulo. Os capítulos, por sua vez,
possuem o Glossário e boxes, que destacam análises sobre algum aspecto do tema estudado.
Na coleção, cada volume contém um texto inicial no qual se estabelece um diálogo com o aluno sobre a importância do
estudo da História. Ao final de cada unidade, a seção
Debatendo e concluindo retoma o tema da unidade, revisa conceitos e estabelece relações entre o passado e o presente.
A página de abertura dos capítulos introduz o assunto a ser
trabalhado, com imagem e texto, estabelecendo um diálogo com o título do capítulo. Em cada capítulo, são propostas as
seguintes seções: Para saber mais, Para refletir, Dialogando.
As atividades são apresentadas em quatro seções, a saber:
Atividades de diferentes ordens, O texto como fonte, A
imagem como fonte, Integrando com.... No interior do texto
principal, há glossários com palavras destacadas do texto e sugestões de vídeos correlatos ao tema tratado, com
respectivo endereço eletrônico, disponíveis na internet.
A coleção está dividida em capítulos entremeados por seções fixas e variáveis. As seções fixas são: Tá Ligado?!, que apresenta exercícios de
múltipla escolha e procura recapitular assuntos; Um Outro olhar, com
sugestões de atividades interdisciplinares; Engenho e Arte, que oferece exercícios aprofundados ao final de cada capítulo; Radar, com questões
de vestibulares e Em cartaz, que propõe sequências didáticas para análise
de filmes. As seções variáveis são: Análise de imagem, que propõe as leituras interna e externa de imagens; Tá na rede, que disponibiliza
endereços de sites para pesquisa; Verificação de leitura, com exercícios
de revisão; Estante, que oferece dicas de livros para aprofundar os
assuntos; Mãos à obra, que contém questões do Enem e de vestibulares.
Disponibiliza, ainda, linhas do tempo, infográficos, textos
complementares e quadros interdisciplinares. Os capítulos trazem em sua página inicial uma lista dos principais conceitos e um glossário
entremeado ao texto.
O Manual do Professor, com 80 páginas (v. 1 e v. 3) e 96
páginas (v. 2) anexadas ao Livro do Aluno, possui uma parte
introdutória comum a todos os volumes e uma parte de orientações específicas. Na parte comum, discute a proposta
teórico-metodológica e didático-pedagógica da coleção. A parte
diversificada traz atividades complementares, interdisciplinares e orientações para o planejamento e a abordagem do conteúdo
dos capítulos, considerando a vinculação com competências e
habilidades que são referências nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio na área das Ciências Humanas
e suas Tecnologias.
O Manual do Professor, intitulado de Manual de apoio ao
professor, contendo 112 páginas anexadas ao Livro do Aluno,
nos três volumes, é composto por uma parte geral e uma específica. Na parte geral, explora os conceitos-chave,
métodos e correntes da historiografia, finalidades e métodos
do ensino de História (trabalho com fontes e projetos interdisciplinares), temáticas sobre África, afro-brasileiros e
indígenas nos currículos. Na parte específica, comenta cada
unidade em relação aos temas, objetivos, conceitos, textos e atividades para o professor. Para cada unidade, apresenta um
quadro com temas, objetivos e conceitos/noções que serão
trabalhados nos capítulos. Além dos textos e atividades complementares, há as respostas das questões propostas nas
unidades. Encontram-se também orientações ao professor no
Livro do Aluno, em letra vermelha e corpo menor.
geral, é composto por seções fixas que contemplam a Matriz de
Referência para o Enem, textos voltados à história em uma conjuntura
crítica e construção da cidadania, orientações sobre a estrutura da coleção, seus conteúdos e objetivos, além de textos suplementares e
bibliografia. Na parte específica, apresenta sugestões pedagógicas,
materiais complementares, instruções sobre África e temática afro-americana, bibliografia específica e gabaritos dos exercícios. Ícones
indicam a existência de conteúdo digital exclusivo para o professor ou
para o aluno.
106
(continuação)
COLEÇÃO 1 - HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL 2 - HISTÓRIA SOCIEDADE & CIDADANIA 3 - OFICINA DE HISTÓRIA
A coleção digital é composta por três volumes respectivamente referentes aos 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio. Cada volume
apresenta um conjunto distinto de OEDs, distribuídos da
seguinte forma: Volume 1: seis infográficos, um jogo eletrônico e oito hipermídias; Volume 2: três infográficos, um jogo
eletrônico e seis hipermídias; e Volume 3: três infográficos, um
audiovisual, um mapa, nove hipermídias e um objeto educacional digital classificado como “outros”. Cada volume
dos livros digitais apresenta um sumário hipertextual para o
rápido acesso aos OEDs e também um fácil redirecionamento para as orientações didáticas referentes a cada objeto.
A coleção apresenta três livros digitais correspondentes a cada ano. Um sumário geral e um índice para cada volume
ajudam a localizar os OEDs. O livro do professor é composto
pelo Livro digital, Manual de apoio e Orientações dos OEDs, em que são descritos os objetivos de cada OED da categoria
Infográfico e audiovisual, com sugestão de uso e temas inter-
relacionados. Os objetos educacionais do Volume 1 são compostos por 05 Infográficos, 08 Audiovisuais, 08 Mapas
interativos, 02 Vídeos, 08 Animações, 02 Áudios, 06 textos,
10 imagens e 15 objetos georreferenciados, totalizando 64 recursos. O Volume 2 possui 52 objetos educacionais
compostos por 06 Infográficos, 10 Audiovisuais, 08 mapas
interativos, 02 vídeos, 01 Áudio, 05 Textos, 05 Imagens e 15 objetos georreferenciados. O Volume 3 é formado por 38
objetos educacionais distribuídos em 03 Infográficos, 06
Audiovisuais, 10 Mapas interativos, 13 imagens georreferenciadas, 01 áudio, 01 texto e 04 Imagens.
Sumário
sintético
1° ANO – 264 páginas – 3 Unidades – 9 Capítulos: Os
primeiros agrupamentos humanos: Em busca dos nossos ancestrais; A ocupação do continente em que vivemos;
Civilizações Antigas: a vida em cidades; A Grécia Antiga; A
Civilização Romana; A Europa, periferia do mundo: O Império
Bizantino, o Islã e o panorama mundial; O surgimento da
Europa; Economia, sociedade e cultura medieval; O mundo às
vésperas do século XVI. 2° ANO – 288 páginas – 2 Unidades – 19 Capítulos: Europa, o
centro do mundo: A expansão europeia; A colônia portuguesa;
A diáspora africana; Arte e tecnologia; Cristianismo e transformação; O caminho das monarquias europeias; América
portuguesa: expansão e diversidade econômica; A América
espanhola e a América inglesa; Apogeu e desagregação do sistema colonial; O iluminismo e a independência das colônias
inglesas da América do Norte; Para entender nosso tempo: O
século XIX: uma era de revoluções; “Colando cacos” do poder monárquico; Brasil: surge um país; As independências na
América espanhola; Novos projetos políticos: liberalismo,
socialismo e nacionalismo; Europa e Estados Unidos no século
XIX; A construção do Estado brasileiro; África e Ásia no século
XIX; O Segundo Reinado no Brasil.
3° ANO – 288 páginas – 2 Unidades – 13 Capítulos: Para entender nosso tempo: O século XX: o Brasil, uma República
(1889-1914); Um mundo em guerra (1914-1918); A Revolução
Russa; Uma jovem república velha (1914-1930); A crise de 1929 e o nazifascismo; Vargas de 1930 a 1945; A Segunda
1° ANO – 288 páginas – 4 unidades – 17 capítulos: Técnicas,
tecnologias e vida social: História, tempo e cultura; A aventura humana; Cidades: passado e Presente:
Mesopotâmia; África antiga: Egito e Núbia; Hebreus,
fenícios e persas; A China antiga; Democracia: passado e
presente: O mundo grego e a democracia; Cultura, religião e
arte grega; Roma antiga; O Império Romano; A crise de
Roma e o Império Bizantino; Diversidade: o respeito à diferença: Os francos; Feudalismo europeu: gestão e crise;
Tempos de reis e poderosos e impérios extensos; Civilização
árabe-muçulmana; Formações políticas africanas; China medieval.
2° ANO – 288 páginas – 4 unidades – 16 capítulos: Nós e os
outros: a questão do etnocentrismo: Renascimento e reformas religiosas; América indígena; Povos indígenas no Brasil;
Colonizações: espanhóis e ingleses na América; Diversidade
e pluralismo cultural: A América portuguesa e a presença holandesa; Africanos no Brasil: dominação e resistência;
Expansão e ouro na América portuguesa; Cidadania: passado
e presente: A Revolução Inglesa e a Revolução Industrial;
Iluminismo e a formação dos Estados Unidos; A Revolução
Francesa e a Era Napoleônica; Terra e liberdade:
Independências: Haiti e América espanhola; Emancipação política do Brasil; O reinado de Dom Pedro I: uma cidadania
limitada; Regências: a unidade ameaçada; Modernização,
mão de obra e guerra no Segundo Reinado; Abolição e República.
1° ANO – 288 páginas–10 capítulos com 27 subitens: África: o
surgimento dos seres humanos; A Revolução neolítica; Os povos mesopotâmios; Os povos africanos; Os povos semitas; A formação da
sociedade grega; A polis grega; Política e cultura; O período macedônico;
As origens romanas; O Império; A formação da Cristandade ocidental; O
Islã; Os Impérios cristãos; O feudalismo; Visões do 102 GUIA DE
LIVROS DIDÁTICOS PNLD 2015 Paraíso; Entre o mundo medieval e o
início da Idade Moderna; A Reconquista e a Expansão Marítima; Os negros na terra; A Reforma Protestante; Visões dos conquistadores; A
administração das colônias portuguesas e espanholas; A economia
colonial; Inferno dos negros, purgatório dos brancos, paraíso dos mulatos; A sociedade do Antigo Regime; Absolutismos; O absolutismo na
Inglaterra.
2° ANO – 272 páginas – 8 capítulos com 27 subitens: A África até o século XV; O feudalismo e a expansão marítima; As reformas religiosas;
O absolutismo; A América e a escravidão; As Revoluções Inglesas;
Portugal e Brasil no século XVII; A idade do ouro no Brasil; O Iluminismo; O nascimento dos Estados Unidos; A Revolução Francesa;
A Revolução Industrial; Conspirações e revoltas na América portuguesa;
As independências na América espanhola; A independência do Brasil; A
nação como novidade; As unificações da Itália e da Alemanha; A
construção dos Estados Unidos no século XIX; A forja da identidade:
quem é brasileiro? A expansão imperialista; Corrida pela África e Ásia; O Império do café e a República; A República da espada; A
institucionalização do regime; As armas da fé; A indústria do café; A
classe operária vai ao paraíso? 3° ANO – 280 páginas – 9 capítulos com 32 subitens: A Revolução
107
Guerra Mundial; Do pós-guerra ao século XXI: o período
liberal democrático (1945-1964); O Pós-guerra; Descolonização e lutas sociais no “terceiro mundo”; O Regime
Militar; O fim da Guerra Fria e a nova ordem mundial; O Brasil
no século XXI.
3° ANO – 288 páginas – 4 unidades – 13 capítulos:
Resistência à dominação: Industrialização e imperialismo; A Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa; Primeira
República: dominação e resistência; Propaganda política,
esporte e cinema: A Grande Depressão, o fascismo e o nazismo; Segunda Guerra Mundial; A Era Vargas; A Guerra
Fria; Movimentos sociais: passado e presente:
Independências: África e Ásia; O socialismo real; De Dutra a Jango: uma experiência democrática; O regime militar; Meio
ambiente e saúde: O fim do bloco soviético e a nova ordem
mundial; O Brasil na nova ordem mundial.
Industrial e o imperialismo; Ideologias; Repúblicas; A Primeira Guerra
Mundial; A revolução socialista na Rússia; A Revolução Mexicana; A África: o colonialismo e suas estruturas; O Brasil entre o moderno e o
arcaico; A crise de 1929: dos Estados Unidos ao Brasil; O fascismo e o
nazismo; A moldura oligárquica; A moldura autoritária; A moldura operária; A corrida para a guerra; A guerra; A Guerra Fria; O fim do
Estado Novo; A Argentina; Populismo e bossa-nova; Desafinado; Sob o
signo de Saturno; O fim dos impérios coloniais na Ásia e na África; “Não confie em ninguém com mais de 30 anos”; A Era de Aquário no Brasil;
Navalha na carne; Brazilian way of life; O crepúsculo dos deuses; No
horizonte do Brasil; We are the world; Admirável Chip Novo; África: desafios, esperanças, paradoxos; Lula: para além do bem e do mal.
Em sala de aula Professor, os livros digitais oferecem algumas ferramentas de
navegação, leitura e anotação que os diferem significativamente do livro impresso, proporcionando uma nova experiência para
o docente com o material didático. Destacam-se as
possibilidades de criar anotações nas páginas digitais e acessá-las facilmente, circular, riscar e/ou destacar trechos ou figuras,
acessar páginas por formas diferentes por meio do menu de
favoritos, visualizar página única ou dupla, bem como realizar a ampliação de partes específicas na página. A coleção, se
adotada, possibilitará ao professor a problematização de fontes
no ensino de História, uma vez que as atividades contemplam músicas, mapas, trechos de documentos escritos, imagens e
outras tipologias que indicam o desenvolvimento de habilidades
concernentes à História como campo do conhecimento. A obra
apresenta possibilidades de trabalho interdisciplinar e de
integração da reflexão histórica que podem compor a prática
docente ou servir de auxílio à proposta didática, principalmente nos projetos presentes na seção Atividades interdisciplinares
com Geografia, Sociologia e Filosofia. Recomenda-se que o
professor tenha especial atenção às propostas de atividades interdisciplinares do Livro do Aluno, uma vez que para os
alunos são escassas as orientações para seu desenvolvimento.
Nesse sentido, sua realização pode se efetivar interdisciplinarmente se o professor assumir a tarefa de orientá-
los em sua execução. Outra possibilidade em sala de aula é o
trabalho com imagens e documentos, pois é recorrente a indicação de atividades de interpretação e análise em todos os
capítulos dos volumes. Em sala de aula, o professor também pode discutir temas históricos relacionados às unidades com
base nos infográficos presentes em alguns dos capítulos do
Livro. Também será interessante buscar outras referências sobre a história das nações indígenas, uma vez que a coleção
privilegia discussões da inserção de tais grupos principalmente
no período colonial do Brasil.
Professor, você poderá contar, para a sua prática didática,
com um livro digital que possui objetos educacionais adequados para utilização em sala de aula, com ícones
práticos, de fácil manipulação e operacionalidade acessível.
Os vídeos e animações sobre os temas históricos contam com músicas criadas exclusivamente para o assunto, o que facilita
o aprendizado de maneira lúdica. O layout e os cenários dos
recursos audiovisuais são apresentados em conformidade com o contexto histórico tratado, aspecto que auxilia na
compreensão das características temporais do processo
estudado. Vale a pena explorar a abertura das unidades e dos capítulos, pois eles propiciam aproximações entre o tempo
presente e o passado, relativas aos conteúdos tratados. Você
poderá articular essas questões aos conteúdos e atividades
desenvolvidas no decorrer da aula. Oferecem-se recursos
digitais, como imagens e infográficos, que permitem explorar
o confronto das versões sobre os processos ocorridos no passado, para que o aluno possa pensar as diferentes
interpretações construídas pelos sujeitos sobre o momento
vivido. Você encontrará nessa obra grande variedade de fontes documentais, que permitem explorar a multiplicidade
de visões sobre o processo histórico. Aproveite as situações
de aprendizagens apresentadas nessas seções para problematizar a ênfase na narrativa linear do texto principal.
No decorrer da obra, você encontrará muitas indicações de
filmes e sites que podem contribuir para ampliar as reflexões sobre os temas estudados. Atente para as sugestões do
Manual quanto ao uso da internet na sala de aula, assim como as orientações para a construção do Blog da turma, que é uma
possibilidade inovadora de registro e síntese das atividades
desenvolvidas. O uso dos links de internet sugeridos para complementar os conteúdos deve ser feito com reserva,
devido à eventual indisponibilidade de acesso e
funcionamento dos sites, sendo recomendável uma verificação prévia. Será necessário estabelecer formas que
propiciem a avaliação do trabalho de ensino e aprendizagem
Professor, o manual apresenta orientações para que você trabalhe com
filmes, imagens, textos, mapas, gráficos e elabore projetos interdisciplinares. HISTÓRIA 105 O seu papel de mediador é
imprescindível para a efetivação do trabalho em sala de aula, para a
eficácia e o desenvolvimento da proposta didático-pedagógica da coleção. Nesse sentido, é recomendável selecionar conteúdos e atividades de
acordo com a sua realidade e o perfil dos seus alunos, bem como estar
atento às comparações a fim de evitar interpretações inadequadas nas relações entre passado e presente. Recomenda-se atenção a alguns
ambientes que não possuem versões em português, sobretudo se o
professor planeja indicá-los aos alunos. Há de se ter um cuidado especial no que concerne ao trabalho sobre as populações indígenas, no sentido de
procurar alternativas e orientação em outras fontes a fim de complementar
as indicações apresentadas na coleção. No intuito de melhor relacionar a
seleção e organização do conteúdo com o conhecimento histórico escolar,
convém que você realize leituras sobre os processos de avaliação,
objetivando ampliar as orientações sobre princípios, critérios e instrumentos de avaliação.
108
desenvolvido por você e seus alunos, pois esse tema é tratado
pela obra de forma reduzida. Para isso, poderá aproveitar os elementos oferecidos na seção Projetos de trabalho que
consta no Manual.
GUIA DE
LIVROS
DIDÁTICOS
PNLD 2015
p. 62 a 64 e 65 a 67 p. 78 A 80 e 82 a 83 p. 100 a 102 e 104 a 105
COLEÇÃO 1 - HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL / Cláudio
Vicentino / Gianpaolo Dorigo
2 - HISTÓRIA SOCIEDADE & CIDADANIA / Alfredo Boulos
Júnior 3 - OFICINA DE HISTÓRIA / Flávio de Campos Regina Claro
O Manual do Professor apresenta os pressupostos teórico-metodológicos e
a proposta didático-pedagógica que norteiam a obra, demonstrando
sintonia com a literatura atual sobre História e ensino de História. As
orientações para o trabalho com os capítulos estimulam a relação entre
conteúdos históricos e eixos temáticos como forma de desenvolver
conceitos e habilidades relativas ao pensamento histórico e à promoção da
formação cidadã. Também são sugeridos textos e atividades
complementares que auxiliam no aprofundamento dos conteúdos, bem
como bibliografia, sites e filmes, porém, sem considerações sobre seus
usos. O Manual oferece orientações pontuais ao professor sobre avaliação
da aprendizagem, atividades com imagens, uso de infográficos, trabalho
com a cultura material e imaterial e temáticas africanas, afro-brasileiras e
indígenas. As propostas de atividades interdisciplinares trazem sugestões
para sua realização, apesar do tratamento parcial dos conceitos de
interdisciplinaridade, planejamento, desenvolvimento e formas de
avaliação que atendam a demandas específicas da História. Quanto ao
componente curricular História, a coleção privilegia a abordagem
cronológica linear, enfatizando aspectos da formação política e econômica
das sociedades. A proposta teórico-metodológica parte da compreensão do
conhecimento histórico como construção cientificamente conduzida por
historiadores e em seu caráter interpretativo. As seções Discutindo a
No Manual do Professor, apresentam-se os pressupostos teórico-
metodológicos da obra, a proposta didático-pedagógica para o
ensino de História, as orientações acerca do uso do Livro do Aluno,
os comentários sobre os exercícios propostos e sugestões de
atividades complementares. O Manual destaca a revolução
documental, discutindo teoricamente a escrita da história bem como
o uso de múltiplas linguagens em seu ensino. Também orienta para
o trabalho com a iconografia de forma bem fundamentada,
contribuindo para a superação de um uso naturalizado da imagem
como ilustração na aula de História. Além disso, oferece boas
orientações para a confecção de vídeos no ensino de História. Na
parte geral, há comentários resumidos sobre a metodologia da
História, do ensino e aprendizagem, avaliação, a adoção de projetos
de aprendizagens como perspectiva de efetivar um trabalho
interdisciplinar, a relação de obras sobre educação e ensino de
História, a inserção da temática afro-brasileira e indígena na escola
e, por fim, informa sobre as seções da obra. Em relação ao
componente curricular História, a proposta da coleção destaca a
importância das fontes para a escrita da história, alertando que o
saber histórico está em constante processo de reelaboração.
Estabelece pontos de reflexão ao longo dos textos, bem como no
O Manual do Professor privilegia a renovação teórica e metodológica da
história e rejeita a concepção de história como um campo de conhecimento
neutro sobre o passado. Apresenta orientações para que o professor trabalhe
com filmes, imagens, textos, mapas, gráficos e elabore projetos
interdisciplinares. Tanto na parte geral quanto na parte específica, indica
possibilidades de articulação entre os assuntos abordados nos diversos
capítulos, boxes e seções. Há proposições para construção de atividades
junto aos alunos, com estratégias e dinâmica de trabalhos individuais ou em
grupo. Possui orientações acerca da História da África de modo a promover
a participação dos afrodescendentes na formação da sociedade brasileira e,
em menor proporção, indica possibilidades de trabalho em relação às
populações indígenas. No Livro do Aluno, as atividades apresentadas nas
seções Um outro olhar, Tá ligado?!, Radar e Engenho e arte propiciam que
o aluno avalie o que aprendeu ao longo de um período, explore a diversidade
de interpretações e reflita sobre preconceitos e estereótipos engendrados no
passado. Em relação ao componente curricular História, a coleção apresenta
textos de obras historiográficas recentes, da literatura, da sociologia, da
filosofia, das artes e de filmes, estimulando a reflexão sobre as diferentes
experiências e dimensões das sociedades. Merecem destaque as seções Um
outro olhar e Engenho e arte, que visam ampliar e/ou aprofundar o repertório
de informações dos alunos e estabelecer relações com outras disciplinas,
109
História e Para pensar historicamente oportunizam ao aluno a
compreensão dos processos de produção da História. Também colaboram
na consecução desse objetivo a inserção de trechos de obras
historiográficas e fontes de pesquisa na narrativa do texto principal, nos
boxes e seções; a apresentação de interpretações diferentes para algum
aspecto do assunto em discussão; a construção e o aprofundamento de
conceitos que estruturam a disciplina História, destacando-se os de fonte,
história, tempo, mudança e permanência. A proposta pedagógica investe
em estratégias e recursos diversos para o desenvolvimento de habilidades
cognitivas e o pensar historicamente, a exemplo do estabelecimento de
eixos para reflexão do assunto a ser estudado nas aberturas das unidades e
capítulos, procurando relacionar presente com passado; exercícios
diversificados em interlocução com outras disciplinas, assim como
exploração de recursos visuais e textuais variados em sua elaboração; e
propostas de atividades complementares que auxiliem o professor a
ampliar as possibilidades de desenvolvimento de competências cognitivas.
Cada um dos volumes possui dois infográficos com imagens e pequenos
textos para auxiliar no aprofundamento do conteúdo trabalhado. As
questões levantadas na abertura das unidades e dos capítulos são, em
alguns momentos, retomadas ao longo da exposição dos conteúdos e nos
exercícios. Existe um número de atividades que solicitam descrição,
identificação ou relação com as informações do capítulo ou fonte, mas
também há aquelas que estimulam o desenvolvimento de interpretação e
análise crítica. A obra explora o significado da formação cidadã,
entendendo cidadania como construção social, relacionada aos direitos e
deveres dos indivíduos em sociedade. Ressaltam-se a valorização e o
reconhecimento dos direitos das mulheres e sua luta ao longo da história.
Nas atividades constam, pontualmente, reflexões que possibilitam o
combate aos preconceitos étnico e religioso bem como a preservação da
natureza. As problemáticas levantadas ou sugeridas nas imagens, boxes,
abertura das unidades e dos capítulos em prol da formação cidadã,
entretanto, são parcialmente relacionadas com os exercícios e com o texto
encerramento das unidades, viabilizando que os alunos construam
uma percepção crítica sobre os eventos e estudos históricos. A
coleção procura desenvolver os conceitos de história, tempo, sujeito
histórico e fonte, especialmente nas seções Para refletir e Debatendo
e Concluindo. Tais atividades possibilitam ao aluno examinar
distintas narrativas históricas de um determinado acontecimento e
levantar hipóteses sobre textos e imagens colocados em diálogo nas
seções. Na abertura das unidades, é recorrente o uso de imagens e
textos que instigam o aluno a pensar o seu tempo em relação a outros
tempos, a partir de experiências históricas que tomam a cidadania, a
democracia, os movimentos sociais e o meio ambiente como temas
de relevância social. A proposta pedagógica da coleção, no que se
refere às atividades, utiliza diferentes tipos de textos e imagens,
possibilitando o desenvolvimento de habilidades que promovam a
autonomia e a construção de um conhecimento significativo.
Apresenta um conjunto de imagens e atividades que contribui para
que o aluno entenda mudanças e permanências nos processos
históricos. Há, também, exercícios pautados em questões de
vestibular e do Enem. No que se refere à interdisciplinaridade,
apresenta duas possibilidades: orientações de projeto de trabalho no
Manual do Professor e a seção Integrando com... no Livro do Aluno,
está com indicações quanto à aproximação com outras disciplinas.
Quanto à formação cidadã a coleção aborda historicamente diversas
experiências sociais em situações de aprendizagem diversas,
localizadas, principalmente, nas seções Para Refletir e Dialogando,
cujas propostas provocam o aluno, em diálogo com o texto principal,
a pensar a contemporaneidade e seu papel nela. A obra considera a
atuação de diversos grupos sociais, de forma contextualizada e
historicizada. A abordagem do tema da formação cidadã permite
concluir que a realidade social pode mudar a partir de lutas comuns.
Assim, a coleção contribui para a cultura dos direitos pautada nas
lutas políticas e sociais. As imagens, os textos e os temas escolhidos
enfatizando, assim, a importância de novos temas de estudo em articulação
com os incluídos nos volumes. As noções e os conceitos históricos são
operacionalizados de modo a promover a compreensão acerca dos
mecanismos de produção do conhecimento e da temporalidade histórica. As
categorias de acontecimento, fato, sequência, sucessão e periodização são
estimuladas por meio da disposição das linhas de tempo inseridas no início
da maior parte dos capítulos e por atividades que solicitam que o aluno
compare períodos e processos históricos. A variedade e qualidade de
fragmentos de textos complementares assim como as atividades das seções
Radar, Mãos à obra e Em Cartaz possibilitam a compreensão de conceitos
como fonte, história, historiografia, memória, sujeito histórico, cultura,
ficção e narrativa. São incluídas imagens que enriquecem e adensam o
conteúdo, além de favorecer o descanso visual. Perpassam a coleção
atividades que exploram imagens como fontes históricas, articuladas aos
textos principais e aos complementares. No que diz respeito à proposta
pedagógica, a coleção destaca-se por valorizar a trajetória já percorrida pelos
alunos no Ensino Fundamental. As atividades estão integradas aos
conteúdos e exploram textos, fontes, mapas, imagens, gráficos, tabelas e
outros recursos, de modo a estimular o desenvolvimento de diferentes
habilidades como ler e interpretar textos, fazer a leitura de imagens, acessar
sites, resolver questões relacionadas com o conteúdo específico, analisar
filmes e elaborar textos. Essas atividades contribuem para o aluno
compreender que o conhecimento histórico é produzido, na medida em que
os textos e seções exploram a diversidade de interpretações sobre
acontecimentos do passado e fomentam o pensamento crítico em torno
desses processos sócio-históricos. Destacam-se a seção Tá na rede, porque
sugere pesquisar na internet; Em cartaz, porque estimula o trabalho com
filmes; e Estante, porque indica livros para aprofundar os conteúdos. Os
temas são desenvolvidos de forma a propiciar o estabelecimento de relações
entre o passado e o presente. Nesse quesito, há situações que exigem mais
atenção no sentido de auxiliar os alunos a reconhecer as permanências e
rupturas entre diferentes contextos históricos. A seção Um outro olhar e os
110
principal. Em relação à História e à cultura da África, dos
afrodescendentes, dos povos afro-brasileiros e indígenas, a percepção da
pluralidade étnica, social e cultural do país fica limitada em função de as
imagens aparecerem de maneira desigual nos volumes e, em grande parte,
referenciadas no passado. A História da África recebe tratamento
sistemático na obra, com capítulos dedicados à história do continente
africano em todos os volumes. No que diz respeito à história e cultura afro-
brasileira e indígena, a obra prioriza a presença desses grupos no período
colonial do Brasil, destacando aspectos de sua organização social,
econômica e sujeição durante o domínio português. Destaca-se no projeto
gráfico-editorial a reprodução de ilustrações nítidas e com excelência
gráfica. A diversidade com que elas são apresentadas ao longo da obra
favorece seu uso como recurso didático na construção do conhecimento.
A disposição textual e sua integração com as imagens permite dar ritmo e
continuidade à leitura. O sumário é claro e permite que o leitor encontre
rapidamente a seção desejada. Os textos possuem letras, tamanho e
espaçamento entre linhas que proporcionam conforto à leitura. As imagens
estão acompanhadas de seus respectivos créditos, mas alguns são descritos
por fonte bastante reduzida, dificultando a leitura, e para alguns gráficos e
tabelas faltam referências completas. A coleção apresenta diversos sites
em idiomas estrangeiros que não oferecem opções para versão em
português. A navegação demandará o apoio de colegas de outras áreas e
deverá ser feita de modo cuidadoso. Nos livros digitais, a diversidade de
fontes e documentos históricos apresentada nos OEDs – variando entre
documentação de tipo textual, iconográfica, audiovisual etc. – permite ao
professor explorar de forma mais abrangente as expressões culturais
materiais e imateriais das sociedades e dos períodos estudados. Os OEDs
da coleção constituem-se em um recurso pedagógico multimídia com
potencial para construir a noção processual de História. Eles apresentam
diversos infográficos e hipermídias que possibilitam ao professor o acesso
a temas que complementam ou aprofundam os conteúdos do livro
impresso, embora não facultem performances de muita interatividade ou
para estudo promovem a mulher a partir de diferentes espaços de
atuação no presente como também a coloca na condição de sujeito
histórico que atuou em momentos emblemáticos de ruptura e
mudança. Destacam-se as imagens em que a criança está sendo
cuidada. No Manual do Professor, a História da África e a história e
cultura afro brasileira e indígena é discutida por meio da referência
à Lei 10.639/2003 e à Lei 11.645/2008. A partir dessa abordagem, a
obra historiciza a luta pela inserção da África nos currículos, bem
como justifica a temática africana e indígena pelo eixo da construção
da cidadania. As imagens atribuídas aos africanos, afro-brasileiros e
indígenas conferem destaque a esses sujeitos nos processos
históricos em diferentes momentos da história brasileira e mundial.
Tanto na abordagem da história indígena como na africana ressalta-
se a preocupação em destacar a diversidade de grupos e experiências
com textos e imagens que evidenciam sua presença nas artes e em
lutas políticas, valorizando suas práticas culturais. Em vários
capítulos, a História da China e de alguns países africanos ganha
destaque. O projeto gráfico-editorial da coleção organiza-se de
forma clara, coerente e funcional. A distribuição de textos e
atividades, assim como a introdução e a conclusão do capitulo, são
bem demarcadas, contribuindo para uma boa leitura. Os títulos e
subtítulos, a chamada para as atividades e textos de leitura
complementar são diferenciados. As imagens, mapas e tabelas
contêm legendas com as informações e os respectivos créditos
necessários a sua leitura. Tais imagens valorizam a diversidade
cultural brasileira. O sumário dos três volumes da obra restringe-se
aos títulos principais de unidades e capítulos, não apresentando as
subseções dos capítulos, o que pode dificultar a localização de
trechos e informações. Em relação aos sites, a coleção investe em
links para redes sociais, que permitem a visualização e o
compartilhamento de vídeos. Aproximadamente 60% do material
indicado é dessa natureza. Os recursos de Documentário, Imagens e
quadros interdisciplinares motivam e auxiliam o professor na elaboração de
projetos interdisciplinares. No que tange à formação cidadã, o Manual do
Professor enfatiza a importância de o docente estar preparado para lidar com
a diversidade. Os processos históricos relacionados com intolerância,
preconceitos, conflitos étnicos e diversidade religiosa são abordados de
forma a promover o desenvolvimento de atitudes cidadãs, de respeito e
tolerância. Os textos suplementares da parte comum do Manual do Professor
que tratam da História da África, os textos complementares no Livro do
Aluno, a seção Um outro olhar e História e atualidades propiciam que se
reflita sobre atitudes e preceitos éticos. As questões concernentes ao gênero
são tratadas de forma pontual. A violência em geral aparece atrelada aos
conteúdos que tratam de processos históricos no passado, em detrimento da
violência presente na sociedade brasileira na contemporaneidade. No que diz
respeito à História da África, história e cultura dos afrodescendentes e dos
povos indígenas, é perceptível o destaque dado ao conhecimento da História
da África. Os textos suplementares do Manual do Professor sobre História
da África contribuem para o processo de ensino-aprendizagem, na medida
em que auxiliam o professor a compreender questões referentes às
experiências sociais das populações africanas e a conhecer parcela da
produção historiográfica sobre o tema. Os conteúdos que enfatizam o
processo da conquista e escravização dessas populações estão distribuídos
nos três volumes e inseridos em meio aos demais assuntos. As populações
indígenas são apresentadas vinculadas ao processo de conquista e
colonização. O protagonismo das culturas indígenas é retratado concentrado
mais no passado do que no presente, embora haja a representação indígena
atualmente, como, por exemplo, uma imagem das etnias Yanomami em
assembleia em 2010. O projeto gráfico-editorial é bem cuidado e de
qualidade. Favorece a legibilidade, uma vez que o tamanho e o espaçamento
entre letras e linhas são adequados, assim como os títulos e subtítulos estão
claramente hierarquizados por meio de recursos gráficos compatíveis. As
cores foram bem escolhidas, as tonalidades são agradáveis e convidam à
leitura. Os mapas apresentam legendas, escalas, coordenadas geográficas e
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atividades desafiadoras. A construção do conhecimento histórico
significativo a partir desse conjunto de OEDs está bastante relacionada à
mediação do professor.
Infográficos no livro digital permitem explorar criticamente a
relação passado-presente e o papel dos sujeitos como produtores das
relações sociais. Com amplo destaque para a importância que a
tecnologia e os meios de comunicação assumem na
contemporaneidade, esse material é interpretado na condição de
fonte histórica cuja análise e uso como recurso didático permitem a
reflexão crítica do conhecimento. Ainda, favorecem a percepção
sobre as diferentes formas de participação dos sujeitos na história e
de representações heterogêneas sobre o passado e seus usos pelas
sociedades
orientações de acordo com as convenções cartográficas. O sumário,
identificado por uma cor específica em cada volume, indica a organização
dos conteúdos, dos títulos principais, dos subtítulos e das seções e quadros
em geral. A presença de ícones ao lado da indicação de seções as diferencia
dos demais itens e facilita a sua localização. A inserção de glossário
entremeado ao texto em um pequeno boxe é um procedimento que apoia a
compreensão dos termos e conceitos. A existência de bibliografia, índices
de mapas e infográficos e índice remissivo ao final do Livro do Aluno
favorece a localização das informações. A coleção oferece número razoável
de indicações de sites como sugestões e referências em seu Manual do
Professor. Em toda a obra se observa variação entre os tipos de sites
utilizados.
p. 64 a 66 p. 80 a 81 p. 102 a 104