Os movimentos de massa

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Caracterizar os diferentes tipos de movimento de massa; discutir os fatores que regulam esses processos nas encostas e apresentar uma classificação para os distintos mecanismos relacionados aos movimentos de massa nas vertentes.

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  • Otavio Miguez Rocha Leo; Leonardo B. Brum

    Aula 7

    h

    Os movimentos de massa

  • Geografi a da Continental

    142

    Meta da aula

    Caracterizar os diferentes tipos de movimento de massa; discutir os fatores que

    regulam esses processos nas encostas e apresentar uma classifi cao para os distintos

    mecanismos relacionados aos movimentos de massa nas vertentes.

    Objetivos

    Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:

    1. Caracterizar o movimento de massa e sua relevncia para a dinmica

    geomorfolgica das encostas;

    2. Discutir os fatores que controlam o rompimento de massa das encostas;

    3. Identifi car os diferentes tipos de movimentos de massa.

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    143

    Introduo

    Na poca das chuvas, no Brasil e em todo o mundo,

    recorrente acompanharmos notcias relacionadas a movimentos

    de massa e seus impactos s sociedades. No ms de janeiro de

    2011, na regio serrana do Estado do Rio de Janeiro, houve uma

    das maiores catstrofes ambientais no Brasil o que um exemplo

    disso, e defl agra a necessidade de maior ateno e entendimento

    desses processos naturais na sua interface com a ocupao humana.

    Torna-se cada vez mais relevante a popularizao desse

    conhecimento, e nisso a Geografi a Fsica Escolar tem dever e

    responsabilidade. No h outra disciplina mais apropriada, nos

    currculos do ensino fundamental e mdio no Brasil, que a Geografi a,

    para refl etir com a populao atravs da escola sobre as causas e

    consequncias desses fenmenos, que se apresentam constantemente

    em nossa realidade.

    Leia a reportagem sobre o Desastre na Regio

    Serrana em 2011, realizada pelo jornal O Glo-

    bo, com a Professora Ana Luiza Coelho Netto, do

    Instituto de Geocincias da Universidade Federal

    do Rio de Janeiro.

    Link: http://oglobo.globo.com/rio/desastre-na-regiao-

    -serrana-foi-maior-devido-ocupacao-irregular-do-so-

    lo-2838491

    No se pode prever o momento exato em que massa de solo,

    rocha e outros materiais inconsolidados vo se mover encosta abaixo,

    mas podemos, atravs do conhecimento geomorfolgico, minimizar

    esses impactos na vida das pessoas, atravs do ordenamento do

  • Geografi a da Continental

    144

    uso do solo.

    Figura 7.1: Vista ampla com sinalizao de cicatrizes de movimentos de massa no municpio de Nova Friburgo aps as chuvas de janeiro de 2011.Fonte: Foto dos autores.

    O movimento de massa

    Os movimentos de massa so processos naturais da dinmica

    externa que fazem parte da evoluo da paisagem terrestre. Devido

    fora da gravidade, ocorrem constantemente movimentaes

    de materiais nas encostas, podendo ser de forma lenta, s vezes

    imperceptveis, ou rpidas. O Brasil, por sua condio climtica

    mida e presena de relevo montanhoso em muitas reas, se torna

    favorvel ocorrncia desses eventos naturais, que, potencializados

    pelo uso desordenado do solo, podem tornar esses movimentos

    catastrfi cos.

    Os movimentos de solo, rocha e demais materiais inconsolidados

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    145

    nas encostas o que chamamos de movimento de massa. Essa

    movimentao de massa de rocha e solo determinada pela

    fora da gravidade, pelas propriedades dos solos e pelo grau de

    saturao dos solos. Esse material rompe da encosta medida que

    a fora de coeso do sistema encosta (manuteno do seu padro

    de organizao) superada pela fora da gravidade (Figura 7.2).

    Figura 7.2: Movimentos de massa no municpio de Nova Friburgo aps as chuvas de janeiro de 2011.Fonte: Foto dos autores

    Nesse processo pode ocorrer a saturao de gua no solo,

    o que provoca a perda ou diminuio do atrito das partculas

    da massa da encosta, gerando a movimentao encosta abaixo

    de materiais.

    Alm do processo descrito sobre movimentao de massa,

    importante destacar que atividades tectnicas de grande magnitude

    tambm podem gerar o desprendimento de grande volume de massa

    das encostas.

  • Geografi a da Continental

    146

    Na Mecnica dos solos, o Grau de saturao

    (S) expresso em percentagem e defi nido

    como a relao entre o volume de gua (Va) e

    o volume de vazios (Vv) (PINTO, 2000) presente

    em uma amostra de solo, ou seja:

    = .100aV

    SVv

    O volume de vazio (Vv) obtido pela diferena entre

    o volume dos slidos (Vs), que calculado atravs

    do ensaio de Massa Especfi ca Real dos Gros, e o

    volume total da amostra (V), que pode ser calculado,

    por exemplo, pelo Mtodo da Balana Hidrosttica.

    O volume da gua (Va) obtido na determinao da

    Umidade do solo.

    Quando S=100%, dizemos que o solo est saturado,

    porque todos os seus poros esto preenchidos com

    gua. Se S=0% signifi ca que o solo est totalmente

    seco.

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Grau_de_satura-

    rao

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    147

    Assista na Tv Brasil o programa Expedies,

    veiculado em 22/02/2011 sobre a Catstrofe

    na Regio Serrana do Rio.

    O programa mostra as consequncias do maior de-

    sastre natural e as perspectivas das cidades atingidas.

    A ONU considerou como o maior desastre natural do

    pas e o oitavo pior deslizamento da histria mundial.

    Link: http://tvbrasil.ebc.com.br/expedicoes/episodio/

    catastrofe-na-regiao-serrana-do-rio

    Atende ao objetivo 1

    1. Objetivamente, caracterize a ocorrncia de um movimento de massa.

    Resposta Comentada

    Os movimentos de massa caracterizam-se por quaisquer movimentos gravitacionais de massa

    de rocha, solo e demais materiais inconsolidados com a participao de gua. Esse material

    move-se encosta abaixo no momento em que a fora da gravidade supera a fora de coeso

    do sistema encosta.

  • Geografi a da Continental

    148

    Fatores que controlam o movimento de massa

    Nas encostas, existe permanente movimentao de materiais

    devido ao da gravidade, entretanto h grande variabilidade em

    tais movimentaes, podendo ser extremamente lentas, mostrando-se

    imperceptveis ao longo dos anos, ou devastadoramente rpidas,

    mobilizando grande volumes de rochas e sedimentos.

    Veremos a seguir os fatores que controlam essa movimentao.

    Fatores Naturais que Controlam (Infl uenciam) a Estabilidade/Instabilidade das Encostas

    O tipo de material que compe a encosta: caractersticas geolgicas, pedolgicas e biolgicas

    Na superfcie terrestre, o material que compe uma encosta

    dos mais variados, produto de uma complexidade de fatores, como

    o agente climtico e geolgico, gerando os diferentes terrenos.

    Cada tipo de material que forma as encostas apresenta

    diferentes respostas na interao com os outros fatores (morfologia da

    encosta, grau de saturao), gerando diferentes resistncias, o que,

    consequentemente, interferir em maior ou menor suscetibilidade

    movimentao.

    As encostas so constitudas de materiais consolidados e

    inconsolidados. Solo compactado e rocha macia so considerados

    materiais consolidados, enquanto solos, depsitos de areais e

    materiais soltos so os materiais inconsolidados. O tipo de solo,

    em relao sua constituio, granulometria e nvel de coeso, ir

    infl uenciar a ocorrncias desses movimentos.

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    149

    importante destacar, que as encostas cobertas com materiais

    inconsolidados so as mais suscetveis a ocorrncias de movimentos

    de massa.

    A literatura especializada tambm aponta que as encostas

    sem cobertura vegetal tornam-se mais propcias aos movimentos de

    massa, visto que perdem o sistema de razes que ajudam o fi xar os

    materiais nas vertentes.

    2.1.2 - A morfologia da encosta: declividade, ngulo de repouso e feio geomorfolgica

    A morfologia da encosta tem papel fundamental na

    espacializao e explicao desses eventos.

    Em relao declividade, encostas abruptas potencializam

    a fora gravitacional sobre os materiais da encosta (propriedade

    sine qua non do movimento de massa). Entretanto, a literatura

    especializada aponta que h limite nessa relao entre o grau

    de declividade e movimentos de massa, visto que ambientes

    com alto grau de declive raramente tero materiais disponveis

    a movimentar-se.

    Ainda tratando da declividade, outro fator importante o

    ngulo de repouso das vertentes, ou seja, o ngulo mximo no

    qual os materiais de uma encosta suportam sem desabar. Uma

    encosta mais inclinada que seu ngulo de repouso se torna instvel,

    aumentando seu potencial ao deslizamento.

    Geralmente, o ngulo de repouso de um monte de partculas

    aumenta medida que aumenta seu tamanho (mais angulosas)

    (Figura 7.3). O ngulo de repouso tambm varia de acordo com a

    quantidade de gua existente entre as partculas da vertente.

  • Geografi a da Continental

    150

    Figura 7.3: ngulo de repouso de diferentes tipos de materiais.

    Alm disso, feies geomorfolgicas cncavas, como

    discutidos na Aula 4 do curso, so reas de convergncia de fl uxo de

    gua e materiais, intensifi cando a participao de gua no sistema

    vertente, aumentado a suscetibilidade a movimentos de massa.

    A quantidade de gua presente no sistema de vertente: grau de saturao e as chuvas

    Essa caracterstica est ligada porosidade dos materiais das

    encostas (grau de saturao) e ao regime de chuvas.

    Em solos saturados, a grande quantidade de gua separa as

    partculas, possibilitando que elas deslizem. J em encostas com

    materiais secos, as partculas so ligadas apenas pela sua forma

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    151

    (encaixe) e o atrito entre as mesmas. J nos materiais com baixa

    umidade ocorre uma atrao de gua entre os poros, aumentando a

    resistncia dessa encosta ao movimento de massa. Essa atrao entre

    as molculas de gua o que chamamos de tenso superfi cial.

    (Figura 7.4)

    Um bom exemplo disso so os artistas que fazem suas

    esculturas com areia de praia. Para criarem suas esculturas, esto

    sempre as molhando, para criarem uma tenso superfi cial e aumentar

    a resistncia ao desmoronamento. Caso uma onda atinja a escultura

    e sature os poros entre os gros de areia, a escultura se desmancha.

    Figura 7.4: Esquema representando a tenso superfi cial de gua em areia seca, molhada e saturada.

    Tenso superfi cial

    um efeito fsico que ocorre na camada

    superfi cial de um lquido que leva a sua superfcie a se

    comportar como uma membrana elstica. As molculas situadas no interior de um lquido

    so atradas em todas as direes pelas

    molculas vizinhas e, por isso, a resultante

    das foras que atuam sobre cada molcula praticamente nula. As

    molculas da superfcie do lquido, entretanto,

    sofrem apenas atrao lateral e inferior. Esta

    fora para o lado e para baixo cria a

    tenso na superfcie, que faz a mesma

    comportar-se como uma pelcula elstica.

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/

    Tenso_superfi cial

  • Geografi a da Continental

    152

    Regies midas e com regime pluviomtrico concentrando em

    determinados perodos do ano (vero) so mais suscetveis a esses

    fenmenos.

    Interferncias Antrpicas que Infl uenciam na Estabilidade/Instabilidade das Encostas

    A produo social do espao gera variadas intervenes

    no ambiente e, na maioria dos casos, no h preocupao com a

    preservao e manuteno da dinmica natural. Parecem esquecer

    que a plataforma social est inserida numa plataforma fsica, e

    as intervenes precisam ser estudadas e planejadas, se no as

    consequncias podem ser desastrosas.

    Em se tratando dos movimentos de massa, so sabidas e

    recorrentes as aes antrpicas que infl uenciam potencializando

    esses eventos:

    intervenes na morfologia das encostas, atravs de cortes

    para abertura de sistema virio (rodovias, ferrovias, etc.) e

    construes, alterando o ngulo de repouso da encosta e/

    ou aterros com objetivo de disponibilizar reas planas para

    viabilizar projetos de construo civil (Figura 7.5). Cortes e

    aterros sem estudo prvio desestabilizam as vertentes e podem

    ocasionar um movimento de massa (Figura 7.6). Os cortes e/ou

    aterros em degraus menos prejudicial encosta, por alterar

    menos o seu perfi l natural;

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    153

    Figura 7.5: Corte e aterro formando um patamar para construo na encosta.

    Figura 7.6: Movimento de massa provocado por corte/aterro em encostas ngremes.

    a remoo da cobertura vegetal, a partir de vrios interesses,

    como a explorao vegetal, expanso da agricultura, criao

    de animais, dentre outros;

  • Geografi a da Continental

    154

    despejo inadequado de lixo e quaisquer outros materiais que

    pesam sobre a encosta, alm da alta porosidade desses materiais

    depositados, infl uenciando o grau de saturao;

    redes de gua e esgoto mal dimensionadas ou clandestinas podem

    gerar vazamentos, acelerando a saturao do solo.

    Cabe destacar que as intervenes destacadas agem tambm

    direta ou indiretamente nos processos de escoamento, infi ltrao e

    percolao da gua nas vertentes, que infl uenciar na saturao

    dos materiais da encosta, o que potencializa a ocorrncia do

    movimento de massa.

    Estabilidade/Instabilidade

    A estabilidade/instabilidade das encostas produto da

    interao dos fatores naturais assinalados nesta aula e do uso do

    solo da regio (atividades antrpicas).

    A estabilidade da encosta vai depender das particularidades

    da geologia local, da geomorfologia, do clima e das intervenes

    da sociedade no terreno.

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    155

    Atende ao objetivo 2

    2. Observe a fi gura a seguir:

    A fi gura representa o mesmo local em dois momentos distintos. Qual interveno ocorreu

    nessa encosta em relao ao momento A e B? E quais as consequncias? Responda luz

    dos fatores que controlam os movimentos de massa.

    Resposta Comentada

    A encosta apresentada se tornou mais suscetvel a movimentos de massa devido remoo

    da cobertura vegetal, visto que perde o sistema de razes, que ajuda a fi xar os materiais nas

    vertentes. Alm disso, se trata de um ambiente em declive, que potencializa a fora gravitacional.

    Os tipos de movimentos de massa

  • Geografi a da Continental

    156

    Frequentemente, assistimos na mdia ao termo deslizamento,

    generalizando todos os tipos de movimentos de massa.

    Existem na literatura diversas classificaes que, em

    linhas gerais, classifi cam os eventos a partir do tipo de material

    movimentado e do comportamento e velocidade do movimento.

    Sabe-se da complexidade e das limitaes prticas em

    classifi car os movimentos de massa, principalmente em campo e

    nos limites entre cada tipo de movimento de massa. Consideramos

    aqui as classifi caes mais simplifi cadas encontradas na literatura

    especfi ca e classifi caremos os movimentos de massa em quatro tipos:

    o rastejamento, o escorregamento ou deslizamento, as corridas de

    massa e as quedas e rolamentos.

    Rastejamento (Creep)

    o mais lento dos movimentos de massa inconsolidado (solo

    e/ou outros detritos).

    Ocorre em ambientes de declive onde as camadas superiores

    deslocam-se em velocidade diferente das inferiores. Apesar de

    se caracterizar por um movimento de massa lento, as camadas

    superiores movem-se mais rapidamente. No h na paisagem

    uma feio de ruptura clara, mas percebido pela inclinao das

    rvores, cercas, rachaduras nas construes e postes, por exemplo

    (Figura 7.7).

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    157

    Figura 7.7: Esquema representando o rastejamento.

    Deslizamento/Escorregamento

    So movimentos rpidos de massa encosta abaixo com

    rupturas bem defi nidas, tanto lateralmente quanto em profundidade.

    Na encosta deslizada, possvel identifi car o material que foi

    movimentado e o que no sofreu esse processo.

    Os deslizamentos so subdivididos em dois tipos: os

    rotacionais e os translacionais.

    Os deslizamentos rotacionais so tpicos de solos profundos,

    onde o movimento rotacional da massa movimentada produz na

    cicatriz de deslizamento uma feio curva-cncava (Figura 7.8)

  • Geografi a da Continental

    158

    Figura 7.8: Deslizamento rotacional em vertente com solos espessos. Estrada Bananal-Arape (SP).Fonte: Foto dos autores.

    Os escorregamentos translacionais so mais comuns em solos

    rasos com ruptura plana e comprida, muito ligado saturao do

    solo em eventos extremos de chuva (Figuras 7.9, 7.10, 7.11).

    Figura 7.9: Deslizamento translacional no municpio de Nova Friburgo aps as chuvas de janeiro de 2011.Fonte: Foto dos autores.

  • Aula 7 Os movimentos de massa

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    Figura 7.10: Detalhe de contato solo/rocha em escorregamento translacional na estrada Parati-Cunha (RJ/SP).Fonte: Foto dos autores

    Figura 7.11: Escorregamentos translacionais em contato solo/rocha nas vertentes da Serra do Mar. Estrada Parati-Cunha (RJ/SP).Fonte: Foto dos autores

  • Geografi a da Continental

    160

    Os deslizamentos podem ser rotacionais ou

    translacionais (slides: rotational or translatio-

    nal) e envolvem deslocamentos ao longo de

    uma ou mais superfcies de cisalhamento. Podem

    ser:

    rotacionais: formam uma superfcie de ruptura cn-

    cava e so chamados de slump.

    Translacionais: o movimento ocorre ao longo de

    uma superfcie aproximadamente plana ou suave-

    mente ondulada, frequentemente controlada por

    superfcie de fraqueza, tais como fraturas, falhas,

    foliaes e variaes de resistncia entre camadas

    de solo ou no contato solo/rocha. So chamados

    de slide.

    O

    3.3 Corridas de Massa

    So movimentos de massa mais lentos que os deslizamentos/

    escorregamentos, porm mais desastrosos. Esses movimentos esto

    associados participao de grande quantidade de gua no evento,

    onde o material da encosta se comporta como uma massa semifl uida.

    Nesse tipo de movimento de massa, so removidos grandes pacotes

    de material das encostas, acrescidos de construo, vegetao e

    tudo mais que estiver na rota do fl uxo. Recebem os nomes de fl uxo

    de terra (earthfl ows), fl uxos de lama (mudfl ows) e fl uxo de detritos

    (debris fl ows).

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    161

    Figura 7.12: Cicatriz de fl uxo de detritos. Parati (RJ)Fonte: Foto dos autores

    Em eventos pluviomtricos de alta intensidade e/ou longa

    durao, podem ocorrer diversos movimentos de massa nas

    encostas. O material colapsado nas encostas por escorregamentos

    (rotacionais e translacionais) e quedas de bloco convergem

    para os fundos de vale, entulhando a rede de drenagem. Com

    a convergncia simultnea de fl uxos de gua, esses materiais se

    saturam rapidamente, desencadeando Fluxos de Detritos (corridas)

    nos eixos de concavidade que encaixam a rede de drenagem.

  • Geografi a da Continental

    162

    Esses movimentos de massa podem tomar grandes propores

    e mobilizar e remover grandes quantidades de materiais a jusante

    pela rede de drenagem, possuindo um grande poder destrutivo. O

    material mobilizado pelo fl uxo de detritos tende a seguir pela rota da

    rede de drenagem at a primeira mudana signifi cativa no gradiente

    do canal, que possibilita a deposio desse material.

    Figura 7.13: Cicatriz de Fluxo de Detritos encaixada em rede de drenagem. Notar, ao fundo, cicatrizes de deslizamentos translacionais no contato solo/rocha, que disponibilizam grandes quantidades de materiais para os fundos de vale. Estrada Parati-Cunha.Fonte: Foto dos autores

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    163

    Figura 7.14: Cicatrizes de Fluxo de Detritos encaixado em rede de drenagem.Fonte: Foto dos autores

    Figura 7.15: A imagem mostra a grande capacidade de transporte de material do movimento de massa Fluxo de Detrito.Fonte: Fotos dos autores

  • Geografi a da Continental

    164

    Quedas ou Rolamentos de Blocos (Rockfall)

    Movimentos extremamente rpidos de blocos ou fragmentos

    de rochas em queda livre, a partir do intemperismo fsico e qumico,

    comum em pontos com interseo de fraturas nas rochas. (Figura

    7.16)

    Figura 7.16: Queda de blocos na Estrada Parati-Cunha (SP/RJ).Fonte: Foto dos autores

    As Quedas de Blocos podem tambm estar associadas a

    outros processos erosivos superfi ciais que podem remover o solo nos

    locais onde os blocos esto assentados. A propagao de ravinas

    em encostas com presena de blocos pode instabilizar as encostas

    e provocar esse tipo de movimento de massa, como mostra a Figura

    7.17.

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    165

    Figura 7.17: rea com alta suscetibilidade queda de blocos, devido a processo erosivo superfi cial (ravina) que instabiliza a vertente. Estrada Parati-Cunha (RJ/SP).Fonte: Foto do autores.

    Figura 7.18: Vista da Serra dos rgos Terespolis (RJ) com o Dedo de Deus ao fundo, com potencial a ocorrncia de quedas de blocos rochosos, devido interseo entre sistemas de faturamento no embasamento rochoso.Fonte: Foto dos autores

  • Geografi a da Continental

    166

    Veja na internet a publicao do Atlas Brasileiro

    de Desastres Naturais.

    O Atlas Brasileiro de Desastres Naturais um

    produto de pesquisa, resultado do acordo de coo-

    perao entre a Secretaria Nacional de Defesa Civil

    e o Centro Universitrio de Estudos e Pesquisas sobre

    Desastres, da Universidade Federal de Santa Catarina.

    O levantamento dos registros histricos, derivando na

    elaborao dos mapas temticos e na produo do

    Atlas, relevante na medida em que viabiliza construir

    um panorama geral das ocorrncias e recorrncias de

    desastres no pas e suas especifi cidades por Estados e

    Regies.

    Possibilita, assim, subsidiar o planejamento adequado

    em gesto de risco e reduo de desastres, a partir

    da anlise ampliada abrangendo o territrio nacional,

    dos padres de frequncia observados, dos perodos

    de maior ocorrncia, das relaes destes eventos com

    outros fenmenos globais e da anlise sobre os proces-

    sos relacionados aos desastres no pas.

    A pesquisa teve por objetivo compilar e disponibilizar

    informaes sobre os registros de desastres ocorridos

    em todo o territrio nacional nos ltimos 20 anos

    (1991 a 2010), por meio da publicao de 26 Volu-

    mes Estaduais e um Volume Brasil.

    Segue o link de publicao digital de acesso pblico

    do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais:

    http://www.ceped.ufsc.br/biblioteca/projetos/encer-

    rados/atlas-brasileiro-de-desastres-naturais

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    167

    CONCLUSO

    Como visto nesta aula, os movimentos de massa so processos

    naturais, partes da evoluo da paisagem terrestre, que esto

    sendo potencializados pelo uso desordenado e no planejado do

    uso do solo. Observamos tambm a importncia do conhecimento

    geomorfolgico no entendimento desses processos naturais na

    interface com as intervenes humanas, possibilitando minimizar

    esses impactos na vida das pessoas, onde o canal de difuso desses

    conhecimentos sociedade a Geografi a Fsica Escolar.

    Atividade Final

    Atende ao objetivo 1, 2 e 3

    O Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, volume Rio de Janeiro (veja informaes no

    boxe multimdia), apresenta, na pgina 46, um mapa de desastres naturais causados por

    movimentos de massa no Estado do Rio de Janeiro no perodo de 1991 a 2010. (mapa

    8). Acesse o atlas e identifi que o municpio com maior nmero de registros, pontuando os

    condicionantes naturais da regio e a interferncia da ao humana com a intensidade

    destes eventos.

    Resposta Comentada

    O municpio em questo Petrpolis, localizado na regio serrana do Rio de Janeiro. Inserido

    numa regio tropical mida, com chuvas concentradas no vero e relevo montanhoso, Petrpolis

    naturalmente uma regio suscetvel a movimentos de massa. Entretanto, o que explicar a

    grande quantidade de registros desses eventos na cidade a anlise dos condicionantes naturais

    juntamente com as intervenes da sociedade no ambiente. Nas ltimas dcadas, houve um

    crescimento desordenado no municpio e, devido omisso do poder pblico, a consequente

    ocupao de suas encostas. Junto a essas ocupaes, incluem a retirada da cobertura vegetal,

  • Geografi a da Continental

    168

    o corte e aterro para viabilizar construes sem estudos em relao ao ngulo de repouso, o

    despejo inadequado de lixo e as redes de gua e esgoto que, num vazamento, infl uenciam

    na saturao do solo.

    Essas intervenes interferem na estabilidade das encostas, potencializando a fora da gravidade,

    que supera a fora de coeso dos materiais, gerando os movimentos de massa.

    RESUMO

    Os movimentos de massa so processos naturais da dinmica

    externa que fazem parte da evoluo da paisagem terrestre.

    Essa movimentao de massa de rocha e solo nas vertentes

    determinada pela fora da gravidade e o grau de saturao

    dos solos. Esse material rompe da encosta medida que a fora

    de coeso do sistema encosta (manuteno do seu padro de

    organizao) superada pela fora da gravidade.

    A maior ou menor suscetibilidade a movimentos de massa

    (estabilidade/instabilidade) deve ser analisada a partir da

    combinao dos materiais que formam a encosta, da umidade,

    da morfologia da vertente e do uso do solo que, em certos casos,

    tornam o movimento encosta abaixo inevitvel.

    Existem na literatura diversas classifi caes de movimentos

    de massa que, em linhas gerais, classifi cam os eventos a partir do

    tipo de material movimentado e do comportamento e velocidade

    do movimento.

    Nesta aula, os movimentos de massa foram classifi cados em

    quatro tipos: o rastejamento, o escorregamento ou deslizamento, as

    corridas de massa e as quedas e rolamentos.

  • Aula 7 Os movimentos de massa

    169

    Informaes sobre a prxima aula

    Na nossa prxima aula, iniciaremos o estudo da Geomorfologia

    Fluvial. Esse campo da Geomorfologia Continental objetiva

    compreender os processos e as formas ligadas ao escoamento dos

    cursos de gua e a dinmica das bacias hidrogrfi cas.