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764 OS PROBLEMAS E OS DESAFIOS NO PROJETO DE IRRIGAÇÃO DO GORUTUBA:AGRICULTURA FAMILIAR X AGRONEGÓCIO The problems and challenges in the Gorutuba Irrigation Project: family agriculture x agribusiness Fabiana Pereira Santos Maranhão¹ Ana Ivânia Alves Fonseca² 1 Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES E-mail: [email protected] 2 Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES E-mail: [email protected] RESUMO O Projeto de Irrigação do Gorutuba foi criado na década de 1970, teve como objetivo buscar solução econômica para a região e também solucionar as consequências da falta de água da região. O Projeto Gorutuba trouxe desenvolvimento não somente à área rural onde se encontra, mas também a toda região do entorno, isto é, com o tempo foi possível inferir que a região a qual o projeto está inserido teve uma mudança significativa no seu perfil socioeconômico. O presente trabalho buscou analisar o espaço geográfico do Perímetro Irrigado do Gorutuba. Teve como objetivo geral conhecer a dinâmica do Projeto Gorutuba do ponto de vista da agricultura familiar e do agronegócio. Buscando responder estes questionamentos construímos uma meto- dologia em duas etapas: Revisão bibliográfica para discussão da dinâmica do projeto; trabalho de campo, visita in loco, nos municípios de Janaúba e Nova Porteirinha tentando identificar as transformações sofridas no agrário a partir do projeto. Chegamos à conclusão que a expansão do agronegócio na região modificou as relações e as condições de trabalho, já a agricultura familiar tenta adaptar ao mercado, acompanhar os avanços tecnológicos deixando de ser usada apenas para o seu sustento e sim passa a fazer parte da economia brasileira. Palavras chaves:Projeto Gorutuba; Agricultura Familiar; Agronegócio. INTRODUÇÃO O Projeto de Irrigação do Gorutuba localizado no semiárido teve como objetivo so- lucionar as consequências da falta de água da região. Os pequenos produtores e empresários foram assentados com o compromisso de exploração dos seus lotes agrícolas, utilizando-se da técnica de irrigação. Atualmente (2018), o Perímetro Gorutuba configura-se num grande polo de fruticultura irrigada do país gerando empregos diretos e indiretos. Através da analise histórica do Perímetro de Irrigação Gorutuba, foi possível perceber as diversas transformações ocorridas a partir da sua construção, bem como a composição por

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OS PROBLEMAS E OS DESAFIOS NO PROJETO DE IRRIGAÇÃO DO GORUTUBA:AGRICULTURA FAMILIAR X AGRONEGÓCIO

The problems and challenges in the Gorutuba Irrigation Project: family agriculture x agribusiness

Fabiana Pereira Santos Maranhão¹Ana Ivânia Alves Fonseca²

1 Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES E-mail: [email protected]

2 Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES E-mail: [email protected]

RESUMOO Projeto de Irrigação do Gorutuba foi criado na década de 1970, teve como objetivo buscar solução econômica para a região e também solucionar as consequências da falta de água da região. O Projeto Gorutuba trouxe desenvolvimento não somente à área rural onde se encontra, mas também a toda região do entorno, isto é, com o tempo foi possível inferir que a região a qual o projeto está inserido teve uma mudança signifi cativa no seu perfi l socioeconômico. O presente trabalho buscou analisar o espaço geográfi co do Perímetro Irrigado do Gorutuba. Teve como objetivo geral conhecer a dinâmica do Projeto Gorutuba do ponto de vista da agricultura familiar e do agronegócio. Buscando responder estes questionamentos construímos uma meto-dologia em duas etapas: Revisão bibliográfi ca para discussão da dinâmica do projeto; trabalho de campo, visita in loco, nos municípios de Janaúba e Nova Porteirinha tentando identifi car as transformações sofridas no agrário a partir do projeto. Chegamos à conclusão que a expansão do agronegócio na região modifi cou as relações e as condições de trabalho, já a agricultura familiar tenta adaptar ao mercado, acompanhar os avanços tecnológicos deixando de ser usada apenas para o seu sustento e sim passa a fazer parte da economia brasileira.

Palavras chaves:Projeto Gorutuba; Agricultura Familiar; Agronegócio.

INTRODUÇÃO

O Projeto de Irrigação do Gorutuba localizado no semiárido teve como objetivo so-lucionar as consequências da falta de água da região. Os pequenos produtores e empresários foram assentados com o compromisso de exploração dos seus lotes agrícolas, utilizando-se da técnica de irrigação. Atualmente (2018), o Perímetro Gorutuba confi gura-se num grande polo de fruticultura irrigada do país gerando empregos diretos e indiretos.

Através da analise histórica do Perímetro de Irrigação Gorutuba, foi possível perceber as diversas transformações ocorridas a partir da sua construção, bem como a composição por

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famílias e empresários que produzem no projeto. Podemos perceber que o Projeto Gorutuba trouxe desenvolvimento não somente à área rural onde se encontra, mas também a toda região do entorno, isto é, com o tempo foi possível inferir que a região a qual o projeto está inserido teve uma mudança signifi cativa no seu perfi l socioeconômico.

O presente trabalho buscou analisar o espaço geográfi co do Perímetro Irrigado do Go-rutuba. Teve como objetivo geral conhecer a dinâmica do Projeto Gorutuba do ponto de vista da Agricultura familiar e do agronegócio. Nessa perspectiva, algumas perguntas devem ser respondidas para entendermos as modifi cações do espaço: Quais as transformações ocorridas no local desde a implantação do Projeto Gorutuba? Qual a reação do grande agricultor e do agricultor familiar?

Buscando responder estes questionamentos construímos uma metodologia em duas eta-pas. Na primeira, fi zemos uma revisão bibliográfi ca para discussão da dinâmica do projeto. Na segunda, fi zemos um trabalho de campo, visita in loco, nos municípios de Janaúba e Nova Porteirinha tentando identifi car as transformações sofridas no agrário a partir do projeto, obser-vando as diferentes mãos de obras utilizadas na produção familiar e noagronegócio.

COMO SURGIU O PROJETO DE IRRIGAÇÃO DO GORUTUBA

O Projeto de Irrigação do Gorutuba está localizado no Norte de Minas. De acordo com Cardoso et al., (2000) o Norte de Minas é considerado como sendo uma Região de transição entre o Nordeste e o Sudeste brasileiro, é uma área pertencente a um estado do Sudeste (Mi-nas Gerais), mas que possui inúmeras características geoeconômicas semelhantes com regiões nordestinas (Bahia). Para Cardoso et al., (2000) apud Gervaise (1975, p.19) afi rmam que (...) a paisagem do Norte de Minas é muito mais próxima dos hábitos do nordestino do que dos pró-prios mineiros (...). Pelo exposto,podemosafi rmarqueoNortedeMinaséumaregiãobastantepeculiardento do Estado de Minas Gerais, nela se evidencia muitas características econômicas, sociais e culturais nordestinas.

Podemos afi rmar que a região do Norte de Minas, durante muito tempo, esteve isolada da economia nacional. Com a construção da estrada de ferro por volta de 1931, inicia-se o pro-cesso de modernização da economia regional. Pereira (2010) destaca sua importância a partir da implantação da Estada de Ferro Central do Brasil, que instalou nas proximidades das suas estações os chamados currais de embarques ou “currais de ferro”, que eram usados como ponto de embarque de bovinos comercializados com outras regiões de Minas Gerais e do Brasil. As-sim, ainda segundo o autor, podemos elencar os currais de embarque em Pirapora, Buritizeiro, Engenheiro Navarro, Montes Claros, Capitão Enéas, Janaúba, Tocandira, Catuti e Monte Azul. Posteriormente, os currais de ferro foram extintos devido à expansão do rodoviarismo.

Para Cardoso (2000) com implementação de política de expansão rodoviária permitiu a continuidade do processo de integração nacional, facilitando a entrada de produtos do centro-sul. Para ele a disparidade de renda entre o nordeste e o centro-sul do país constituía o mais grave problema a enfrentar na etapa presente do desenvolvimento econômico nacional. A partir daí o Governo central passou a interferir na Região nordestina com intuito de fomentar o seu desenvolvimento. Nesta perspectiva, a criação da SUDENE em meados 1950 visou ordenar

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políticas para o desenvolvimento do nordeste. Já em meados dos anos 1960 a região Norte do chamado do chamado sertão dos gerais é anexada à área de atuação institucional da Superinten-dência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Destaca Cardoso (2000, p. 261)

Pode-se dizer, inclusive, que a década de 1960 foi, em grande medida, um período de transição no qual a Região foi preparada para uma nova realidade econômica e social. Na realidade, esta foi uma época extremamente dinâmi-ca, onde seus agentes e instituições vivenciaram uma nova ordem econômica e social, repleta de aspectos positivos e negativos. Mas, foi só a partir dos anos de 1970, que essas transformações se tornaram mais intensas e eviden-tes.

Foi a partir de uma Política Federal, via incentivos fi scais e fi nanceiros, de recursos que possibilitaram a modernização de estrutura socioeconômica e politico-cultural do Norte de Mi-nas. Foi neste período que o Norte de Minas que era caracterizada como região atrasada social e economicamente foi ganhando aos poucos um espaço no contexto econômico estadual. Foi neste momento que surgiu o Projeto Jaíba e o Projeto Gorutuba. Eles foram frutos de políticas públicas de irrigação desenvolvidas no Brasil a partir da década de 1960.

O governo buscava combinar políticas agrícolas, uso da água, incentivos fi scais e fi nan-ceiros, instalação de indústrias, como base para dinamizar a economia das regiões mais pobres. O acumulo de água através do reservatório e consequentemente a implantação de um perímetro de irrigação que trouxesse desenvolvimento para a região. Com isso foram feitas desapropria-ção para ceder espaço para implantação do reservatório de água e a criação do Perímetro de Irrigação na margem direita do rioGorutuba.

O Projeto de Irrigação Gorutuba fi ca localizado no Norte de Minas Gerais no município de Nova Porteirinha, suas atividades se iniciaram somente na década de 1970 devido a constru-ção do reservatório Bico da Pedra na cidade de Janaúba, no qual proporcionou a perenização do Rio Gorutuba, uma vez que antes da implantação do empreendimento o rio secava durante a estiagem. A construção da barragem teve como objetivo principal a regularização da vazão ecológica do rio Gorutuba, o fornecimento de água para os Projetos Irrigados do Gorutuba e Lagoa Grande, o abastecimento público de água para os municípios de Janaúba e Nova Portei-rinha (COSTA, 2017).

Para Hermano (2006) Além de minimizar a pobreza e o êxodo rural na região do Vale do Gorutuba, o lago formado pela barragem do “Bico da Pedra”. Com a barragem, o rio passou a ter a sua vazão regularizada a fi m de garantir os diversos usos da água, tais como, abasteci-mento animal e humano, recreação e lazer, piscicultura racional e irrigação a jusante do reser-vatório. A seguir faremos uma discussão sobre os problemas e os desafi os no perímetro irrigado doGorutuba.

OS PROBLEMAS E OS DESAFIOS NO PROJETO DE IRRIGAÇÃO DO GORUTU-BA

O avanço na globalização com uma reestruturação produtiva tem provocado o modelo de desenvolvimento capitalista, tem penetrado não só o espaço da cidade, mas também do cam-

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po, modifi cando profundamente a relação sociedade-natureza e os modos de vida de comuni-dades rural. Podemos observar que nos últimos anos o Norte de Minas vem diversifi cando sua base produtiva.

Para Rodrigues (2000) a CODEVASF, por meio de investimentos em grandes projetos de irrigação, conseguiu alterar o perfi l dosetor agropecuário. Ela transformou a base técnica da agricultura de subsistência para base comercial. As políticas agrícolas no Norte de Minas vêm acompanhadas da implantação dos perímetros irrigados como estratégia geopolítica de expan-são seletiva das fronteiras agrícolas, na perspectiva da indução do desenvolvimento. A imposi-ção do modelo de produção aos agricultores familiares com base no paradigma da Revolução Verde.

A Revolução Verde repercutiu na economia e na tecnologia de produção agrícola mun-dial, fomentando a competitividade rural e praticas alternativas para este padrão tecnológico. Essas práticas produtivas desordenadas trouxe cosequências graves à saúde humana e ambien-tal. Tais como: Poluição e envenenamento dos recursos naturais e dos alimentos, perda da bio-diversidade, destruição dos solos, assoreamento dos rios entre outros. A modernização agrícola é explicada por Silva (1998, p. 25) nos seguintes termos:

A industrialização da agricultura representa não apenas as mudanças nas relações do Homem com a Natureza, mas também nas relações sociais de produção e com seus instrumentos de trabalho (ferramentas, máquinas e equipamentos, insumos e matérias-primas etc.).

A modernização na agricultura brasileira que passou a estar embasado em atividades intensivas modifi cou o padrão de crescimento do setor agrícola. As atividades agrícolas que eram praticadas nos moldes tradicionais, com técnicas que representavam o antigo modelo vigente foram “desprezadas” e interpretadas como um modelo falido e atrasado.

Os benefícios da política agrícola, como foi o caso do crédito agrícola altamente subsi-diado da Revolução Verde no Brasil, sempre foram dirigidas às próprias elites do mundo rural. Pequenos agricultores buscaram adaptarem-se essas novas técnicas de produção acabaram-se endividando, porém os que não se adaptaram a essa nova técnica acabaram sendo excluído, fato que provocou o êxodo rural. Critica ao modelo concentrador e excludente da moderniza-ção tecnológica da agricultura brasileira, socialmente injusto.

Para Fajardo (2007), as empresas tiveram um importante papel no tocante a essas trans-formações do espaço rural. Essas são as grandes benefi ciadas de um mercado consumidor em franca expansão, pois, vendiam todo o tipo de insumos e maquinário que sustenta o “novo” modelo agrícolamoderno.

A irrigação pública implantada pelo Governo Federal em todo o Nordeste e no Norte de Minas tinha o objetivo alavancar um novo modelo de produção agrário/agrícola nessa re-gião, viamodernização da agricultura e incentivo a culturas agrícolas de maior rentabilidade, com destaque para a fruticultura irrigada. Na medida em que o processo de modernização da agricultura evoluía, o pequeno produtor era cada vez mais excluído. Esses foram “obrigados” a incorporar um determinado padrão de tecnologia na sua produção para atender as exigências da indústria (BALSAN,2006).

Sobre a questão, Santos (1997) destaca que a Divisão Territorial do Trabalho é a res-ponsável pelas transformações no espaçogeográfi co.

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A cada divisão do trabalho, muda o uso do território em virtude dos tipos de produção e das formas como se exercem as diversas instâncias de produção, exigindo novos objetos geográfi cos (casas, silos etc.) e atribuindo valores novos aos objetos preexistentes. (SANTOS, 1997, p.114-115).

Conforme Santos (1997), o espaço é produzido e organizado por meio das relações capitalistas. Nesse sentido, os encadeamentos setoriais são responsáveis pela produção do espaço geográfi co. Sua funcionalidade, em especial do espaço agrário, se constitui na divisão territorial do trabalho.

Pudemos notar que o agronegócio na região de Nova Porteirinha/MG provocou mo-difi cações no território, as quais modifi cam as condições de trabalho, o ambiente e a saúde das populações rurais. A seguir faremos uma breve discussão sobre Agricultura Familiar X Agronegócio: Duas realidades diferentes.

GRICULTURA FAMILIAR X AGRONEGÓCIO NO PROJETO DE IRRIGAÇÃO DO GORUTUBA

O Projeto de Irrigação do Gorutuba foi construído na década de 1970, fez parte de um conjunto de políticas do governo militar, que teve como objetivo buscar uma solução econô-mica para a região do vazio econômico, que seria o Nordeste e o Norte de Minas, no qual já foi discutido. Segundo o técnico da Emater, que nos acompanhou, a região era um lugar que não produzia nada, que não gerava renda, então a partir daí que nasceu os projeto de irrigação Jaíba e o Projeto Gorutuba, localizados na margem direita do complexo Lagoa Grande, afl uente do Rio São Francisco. Dessa forma o técnico da Emater resalta sobre o Projeto (trabalho de campo emMaio/2018)

“Toda água desce por gravidade. Foram assentados 426 lotes de agricultura familiar e uns 50 lotes empresariais. A água é redistribuída por bicas. O projeto Gorutuba é um projeto romano, moda antiga, capta água com açudes e levar para as cidades conquistadas. Foi uma forma de cativar a população. A pior fase do projeto, canal aberto e distribuição por gravidade, há uma perca de água muito grande por evapo-ração, por infi ltração, por mais que tenha manutenção o projeto que era pra durar 30 anos atualmente 2018 já tem 40 anos. Estamos vivenciando uma crise hídrica muito grande. O que levou a vários racionamentos no Vale do Gorutuba. O projeto não tem cooperativa, o objetivo principal do projeto é produzir alimento, o carro chefe é a banana[sic]”.

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As fotos a baixo nos mostra como é levado a água para os agricultores no Projeto de Irrigação do Gorutuba.

Figura 1 – Canal aberto e distribuição por gravidade.Projeto de Irrigação do Gorutuba - Nova Porteirinha – MG.

Autor: MARANHÃO, F.P.S.,maio/2018

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Figura 2 – Distribuição por “bicas”. Projeto de Irrigação do Gorutuba.

Comunidade Mosquito em Nova Porteirinha – MG.

Autor: MARANHÃO, F.P.S.,maio/2018

Podemos dizer que o projeto que controla a economia local. Na comunidade visitamos agricultores familiares e grandes agricultores. Silva (2003) resalta que, a agricultura familiar está presentes nas estruturas produtivas. O agricultor trabalha para a subsistência da família, di-ferente dos grandes agricultores que possuem grandes propriedades caracterizadas pela grande mecanização e pela presença de um maior número de mão de obraassalariada.

No projeto de Irrigação do Gorutuba, observamos a agricultura familiar, notamos que todo o trabalho é utilizado mão de obra familiar. Para Lamarche (1998) a família tem um peso importante na permanência dos herdeiros na propriedade, mesmo nas mais adversassituações. No projeto visitamos a família Dona Maria e seu Pacífi co (in memorian). Seu Pacífi co trabalhou na Codevasf, no acerto de contas seu Pacífi co ao invés de receber dinheiro ele recebeu terras. Um lote um pouco maior que os outros. Eles tiveram vários fi lhos, quase todos estão estabe-lecidos no local retirando seu sustento da terra. Tendo como carro chefe a banana, porém eles plantam goiaba, milho, feijão, hortaliças e criam galinhas para o próprio sustento, e o que sobra é vendido para no mercado. Foi questionado à Dona Maria (entrevista realizada em maio/2018, Nova Porteirinha/MG): O que ela achou de receber terra ao invés do dinheiro? Dona Maria afi rma que “eu achei bom né, criei meus fi o aqui. Não foi fácil não, foi suado, o veio saia cedo e voltava só di noite. Chegava da Codevasf e ia plantar a rocinha dele. Eu acho que eles não

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divia cobrar nada da gente não[sic]”.Podemos notar que os agricultores familiares são portadores de uma tradição, cujos fun-

damentos são dados pela centralidade da família, pelas formas de produzir e pelo modo de vida, porém eles devem adaptar-se às condições modernas de produzir e de viver em sociedade uma vez que estão inseridos no mercado moderno. Ainda segundo a família, eles receberam a terra limpa para produzir, a Codevasf terraplanou tudo, então no local tem terras boas e ruins.

Visitamos também (trabalho de campo maio/2018) no Projeto Irrigação do Gorutuba um modelo de agronegócio, tendo como carro chefe um monocultivo de bananas. Podemos ob-servar um modelo de agricultura patronal, com o nível de mecanização moderno e uso de mão de obra externa. Para Silva (1998) o termo de agricultura patronal é utilizado para se referir a agricultura em grandes proporções de moldes modernos. Prevalece a mão de obra contratada e desvinculada da família do administrador ou do proprietário daterra.

Podemos salientar que no agronegócio a produtividade é muito alta, utiliza uma ele-vada mecanização no preparo do solo, no plantio e na colheita. Todas as etapas de produção são acompanhadas por técnicos, engenheiros e administradores. Sua produção é voltada para o abastecimento do mercado interno e externo. Abaixo procuramos mostrar um modelo de agro-negócio na região.

Figuras 3 e 4 – Colheita da banana em grande propriedade.Projeto de Irrigação do Gorutuba - Nova Porteirinha –MG.

Autor: MARANHÃO, F.P.S., maio/2018.

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Figuras 5 e 6 – Selo do produto e transporte da banana.Projeto de Irrigação do Gorutuba - Nova Porteirinha –MG.

Autor: MARANHÃO, F.P.S., maio/2018.

A categoria do agronegócio esta voltado para atividades produtivas especializadas e voltado a uma lógica de mercado. A fi gura 3 e 4 mostra como é feito a colheita da banana em uma grande propriedade em Nova Porteirinha. Podemos observar que tem toda uma técnica de manejo das frutas. Na fi gura 5, observa-se o selo do produto (no caso a banana), já tem um empresa que compra a produção toda. Já na fi gura 6, nos mostra o transporte das frutas, já com o selo da empresa que compra toda a carga. Resaltamos também que, toda banana que não é própria para venda externa tem um destino fi nal, ela é transformada em doces para ser vendido na região.

Neste contexto podemos considerar que a agricultura familiar é o trabalho rural exerci-do pela família, que mostra agricultores dedicados ao cultivo de mais de um produto (Policul-tura). Já no agronegócio foca na monocultura produtiva. O trabalhador rural no agronegócio ele deixa de ser trabalhador rural e passa a ser funcionário de um empresário. Em graus diferentes, se levarmos em conta a presença humana nos espaços rurais, as categorias classifi catórias ante-riores apresentam a ideia de vida no campo. Porém, com predominância da extensão rural, da agricultura familiar e do agronegócio, respectivamente.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho buscamos compreender a dinâmica de produção no Projeto de irrigação do Gorutuba. Notamos que o Projeto Gorutuba está localizado na cidade de Nova Porteirinha, porém toda movimentação fi nanceira é realizada na cidade de Janaúba, isso talvez ocorra por infl uência política da cidade de Janaúba.

Pudemos observar os diferentes meios de produção na agricultura familiar e no agrone-gócio. A expansão do agronegócio na região modifi cou as relações e as condições de trabalho. Já a agricultura familiar tenta adaptar ao mercado, acompanhar os avanços tecnológicos deixan-do de ser usada apenas para o seu sustento e sim passa a fazer parte da economia brasileira.

Percebemos como o capitalismo tem infl uenciado o local, e como as atividades da agri-cultura vêm sofrendo interferência, sendo vista de uma forma empresarial buscando obter o máximo de rendimentos possíveis utilizando emprego de tecnologia moderna. Notamos como o modo capitalista infl uencia o homem do campo, chegamos à conclusão que esse quadro po-deria ser revertido se houvesse a atuação do poder público, no sentido de formular políticas que valorizassem os agricultores familiares, fatores que reproduzem as desigualdades sociais criados por um capitalismo cada vez mais selvagem e desumano.

REFERÊNCIAS

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