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1Mestre em Educação, Licenciada em Letras, Escola Medalha Milagrosa. 2Doutora em Literatura, Licenciada em Letras, UEPG, Chefe do Departamento de Letras.

OS QUADRINHOS VÃO AO CINEMA

Autora: Ana Rosely Troyner Yamamoto1

Orientadora: Marly Catarina Soares2

Resumo

O presente artigo discute os resultados do estudo e aplicação de pesquisa qualitativa,

obtidos através da implementação do projeto “Os Quadrinhos vão ao Cinema”, projeto de

leitura de HQ e dos filmes que foram criados a partir dessas HQ. O referido projeto foi

aplicado no Colégio Estadual Polivalente em Ponta Grossa – PR, no ano de 2011, a um

grupo de alunos da 8ª série (9º ano) do Ensino Fundamental. Apresenta um suporte para as

atividades desenvolvidas em cumprimento ao PDE (Programa de Desenvolvimento

Educacional), desenvolvido pelo Governo do Estado do Paraná como estratégia de

otimização do trabalho pedagógico. Para coleta de dados utilizou-se de questionário

respondido por 14 alunos, aplicação de uma unidade didática sobre o tema abordado e

posteriormente uma produção de texto escrita por estes mesmos alunos. O objetivo principal

do projeto foi propor situações de leitura de histórias em quadrinhos e também de alguns

filmes que se originaram a partir delas a fim de analisarmos a abordagem dada nas HQ e

nos filmes ao que consideramos “diferente”. A presente investigação foi fundamentada nas

Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, onde a leitura é um dos eixos fundamentais da

proposta curricular, juntamente com a oralidade e a escrita; nos Parâmetros Curriculares

Nacionais e em diversos autores de importância na literatura educacional da área de leitura,

HQ e cinema. Como resultados prováveis verificamos que as HQ suscitam a curiosidade

dos adolescentes fazendo-os viajar em situações inusitadas de leitura não vivenciadas em

leituras de outros gêneros e a leitura e análise dos filmes decorrentes das HQ desloca-os no

tempo e no espaço de forma coerente e objetiva, fazendo-os compreender visual e

intelectualmente a presença do diferente em qualquer espaço de tempo e lugar.

Palavras-chave: leitura, HQ, filmes, diversidade, alteridade

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Abstract:

This article discusses the results of the study and application of qualitative research, obtained through the implementation of the project "The comic book go to the Cinema", read project HQ and films that were created from these HQ. The project was implemented in General-purpose State College in Ponta Grossa-PR, in the year 2011, a group of students from 8th grade (9th year) elementary school. Offers a support for the activities carried out in compliance with the PDE (Educational Development Programme), developed by the Government of the State of Paraná as the pedagogical work optimization strategy.Data collection questionnaire was answered by 14 students, application of a didactic unit about the topic discussed and later a text production written by these same students.The main objective of the project was to propose situations for reading comic books and also some films that originated from them in order to analyze the approach given in HQ and in movies to what we consider "different".This research was based on the Curriculum Guidelines of the State of Paraná, where reading is one of the fundamental axes of the proposed curriculum, along with speaking and writing; in national curriculum Parameters and several authors of importance in the educational literature, reading area and HQ movies. As probable outcomes that the HQ of the curiosity of adolescents making them travel in unusual situations not experienced in reading readings other genres and reading and analysis of movies from HQ moves them in time and space in a consistent and objective manner, making them understand visual and intellectually the presence of different in any space of time and place.

Keywords: reading, movies, diversity, otherness.

1 Introdução

Afirmar que o brasileiro não lê é lugar comum no cotidiano de nossas escolas.

Entretanto, este discurso foi alterado nos últimos tempos devido a estudos

realizados por muitos estudiosos e também encomendados por gestores (políticos

ou não), para comprovar que nos últimos anos o incentivo a leitura e a consequente

distribuição de livros alterou um pouco o cenário da Leitura em nosso país.

Infelizmente, estudos como este não minimizam os problemas com a leitura

que encontramos diariamente e nos mostram que ainda há muito pela frente no que

concerne a atingir níveis decentes dessa atividade em nossas comunidades

educacionais.

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Nas escolas existem muitos programas de incentivo a leitura, pois gestores,

professores e a comunidade em geral estão alarmados com os índices de crianças

que chegam ao 60 ano do Ensino Fundamental sem sequer decodificar signos

linguísticos, que tentam adivinhar palavras e muitas vezes não sabem nem o

alfabeto.

Diante desta realidade o trabalho com a leitura, no local que julgamos mais

apropriado, a Escola, torna-se cada vez mais necessário, pois deve propiciar um

ambiente acolhedor que estimule a formação de leitores competentes.

Acreditamos que o caminho natural para se tornar um leitor é ter pais leitores,

livros e tecnologias à disposição. O ideal seria esse aluno viver num ambiente de

leitura, mas esta não é a realidade que temos nas nossas escolas. Muitas vezes o

ambiente escolar é o único onde têm livros, jornais, revistas, gibis, computadores,

acesso a internet para poderem adentrar no universo fascinante da leitura, pois se o

aluno não tem estímulos é muito difícil se tornar um leitor.

Hoje, o acesso a diversos materiais de leitura tem propiciado bons

resultados e muitos leitores nascem da paixão que sentem por um gênero em

especial que chama muito a sua atenção: as Histórias em Quadrinhos (HQ) e

consequentemente tudo o que diz respeito a elas, como os filmes produzidos a partir

dessas HQ.

Até pouco tempo havia um enorme preconceito sobre o uso das HQ e de

filmes na educação. Entretanto, atualmente “é muito comum publicações de livros

didáticos, em praticamente todas as áreas, que fazem farta utilização das histórias

em quadrinhos para transmissão de seu conteúdo” (VERGUEIRO, 2009, p.20) e

também de filmes para exemplificar os conteúdos trabalhados.

O estudo de gêneros discursivos também possibilitou a entrada desses dois

gêneros textuais nas escolas através dos próprios currículos escolares. Esses

gêneros são listados na LDB (Lei de Diretrizes e Bases), nos PCN (Parâmetros

Curriculares Nacionais) e também nas DCE (Diretrizes Curriculares do Estado do

Paraná).

As HQ entraram nos currículos escolares por fazerem parte dos gêneros que

circulam na esfera literário-artística e os filmes na esfera midiática, pois não

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podemos deixar de fora de nossas aulas as TIC (Tecnologias de Informação e

Comunicação) tão importantes para a disseminação do conhecimento na atualidade.

Para implementarmos o projeto “Os Quadrinhos vão ao Cinema”,

escolhemos as HQ que foram adaptadas para o cinema: “X-Men” e “Homem-

Aranha”, pois os super-heróis presentes nessas histórias são tão (ou mais) humanos

que qualquer um de nós e os alunos se identificam muito com eles.

Percebemos que alguns alunos têm paixão por Leitura. Leem muito e

quanto mais leem, mais desejam ler, entretanto, existem aqueles que, por mais que

os incentivemos a ler, não têm vontade, não sentem prazer nesse tipo de atividade e

se negam a encontrar na Leitura respostas para suas angústias.

Diante desse quadro, o que fazer para que esses alunos despertem

para a leitura? Para que se interessem por ela e consequentemente passem a

gostar de ler?

Partindo deste problema nosso principal objetivo foi despertar no aluno

o interesse pela leitura através da leitura de HQ e dos filmes dos super-heróis” X-

Men” e “Homem-Aranha” estabelecendo relações entre as personagens do “X-

Universo” e a vida real, analisando o “diferente” presente nas histórias comparando-

os ao “diferente” presente no cotidiano de cada um.

2 Fundamentação teórica

Nesta era da comunicação e informação, a sociedade não mais permite

leituras que objetivem uma única interpretação, estável e universal, nem mesmo

leitores apenas de livros. Pelo contrário, hoje é cada vez mais necessário que o

sujeito seja capaz de compreender as diferentes linguagens e múltiplos códigos que

o envolvem como, por exemplo, pintura, teatro, propaganda, cinema e histórias em

quadrinhos.

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa, do

Estado do Paraná afirmam que

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Ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diversas esferas sociais: jornalísticas, artística, judiciária, científica, didático-pedagógica, cotidiana, midiática, literária, publicitária, etc. No processo de leitura, também é preciso considerar as linguagens não-verbais. A leitura de imagens, como: fotos, cartazes, propagandas, imagens digitais e virtuais, figuras que povoam com intensidade crescente nosso universo cotidiano (...). ( 2008, p.71)

Essa afirmação vem ao encontro do que acreditamos ser necessário para a

efetivação de práticas de leitura diferenciadas em sala de aula. Podemos nos

apropriar de diferentes gêneros discursivos para proporcionar diversas estratégias

de leitura aos alunos.

As DCE também sugerem a utilização de histórias em quadrinhos em sua

“tabela de gêneros” (2008, p.100) a serem trabalhados na escola afirmando: “é

importante que o professor propicie práticas de leitura de diferentes gêneros.” (2008,

p.96)

Sugere também a utilização de filmes (2008, p.101) como exemplo de

gênero discursivo da esfera midiática. Incluímos neste item as críticas relacionadas a

filmes, tão importantes para a compreensão dos mesmos quando utilizados na

escola.

As HQ e o cinema convivem harmoniosamente. Um complementa o outro e

são fonte de lazer e entretenimento. Aliá-los a práticas de leitura é uma maneira

prazerosa de expor outro tipo de leitura. Uma leitura que enfoque temas importantes

para o adolescente, que o faça sentir-se parte do mundo ficcional exposto nesses

gêneros reconhecendo-se neles.

É importante fazer com que o adolescente leia partindo de temas e tipos de

leitura que chamem a sua atenção. A utilização dos quadrinhos para este fim mostra

que os adolescentes gostam de ler HQ porque elas “aumentam a motivação dos

estudantes para o conteúdo das aulas, aguçando sua curiosidade e desafiando seu

senso crítico.” (RAMA e VERGUEIRO, 2009, 21)

As HQ dos “X-Men” e do “Homem-Aranha” são o tipo de leitura que gostam,

pois o diferente é aceito por eles. Os adolescentes os veem como “modelos”, como

“seres” parecidos com eles na sua atual fase de vida e também porque “as histórias

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dos super-heróis (…) podem ser muito divertidas, cheias de suspense, excitantes,

além de estimular profundamente o pensamento” (MORRIS, 2009, p.9).

As HQ escolhidas para o projeto de intervenção que originou este artigo

foram “X-Men” e “Homem Aranha” por apresentarem temas que chamam a atenção

dos adolescentes,

(…) introduzem e abordam de forma vívida algumas das questões mais interessantes e importantes enfrentadas por todo ser-humano – questões referentes à ética, a responsabilidade pessoal e social, à justiça, ao crime e ao castigo, à mente e às emoções humanas, à identidade pessoal, à alma, à noção de destino, ao sentido de nossa vida, ao que pensamos da ciência e da natureza, ao papel da fé na aspereza deste mundo, à importância do amor, à natureza de uma família, às virtudes clássicas como coragem e muitos outros temas importantes.(MORRIS, 2009, p.11)

As personagens dessas narrativas possuem forte carga ideológica, são

diferentes, excluídos da sociedade por seu tipo físico, comportamento e ações que

não condizem com o que é considerado “normal” em nossa sociedade e o

adolescente, muitas vezes, sente-se excluído do mundo, um ser em transformação

que não concorda com o que é imposto pela família, escola e/ou sociedade e com o

conceito de “normal”, pois, “enquanto a normalidade por definição exige a aparência

normal, suas anormalidades podem ser visíveis ou invisíveis, claras ou sutis,

benéficas ou prejudiciais.” (HOUSEL e WISNEWSKI, 2009, p. 22)

A utilização de filmes associados às histórias em quadrinhos de super-heróis

foi uma maneira de fazer com que os alunos entrassem em contato com dois

gêneros discursivos que circulam na sociedade e são amplamente aceitos pela

maioria das pessoas.

Em seu livro “Como usar o cinema em sala de aula”, Marcos Napolitano

afirma que “a peculiaridade do cinema é que ele, além de fazer parte do complexo

da comunicação e da cultura de massa, também faz parte da indústria do lazer e (...)

constitui ainda obra de arte coletiva e tecnicamente sofisticada.” (p.14)

Essa afirmação significa que as pessoas, de modo geral, precisam interagir

com o filme, mobilizando seus conhecimentos prévios sobre o mundo para se

inteirar e compreender o enredo exposto.

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A utilização de HQ de super-heróis, aliadas aos filmes baseados nelas

viabilizam novas estratégias de leitura e auxiliam no desenvolvimento de hábitos de

leitura.

A primeira HQ dos “X-Men” foi lançada em setembro de 1963 e o primeiro

filme foi lançado em julho de 2000

dirigido por Bryan Singer, o longa reproduziu nos cinemas o mesmo sucesso das histórias em quadrinhos assinadas por Stan Lee. O super- herói Wolverine foi interpretado por Hugh Jackman; o ator Patrick Stewart atuou como o Professor Xavier (Veja.com/10 mais, 19/04/2011).

e consta como o oitavo filme inspirado em HQ que fez mais sucesso no cinema.

Já a primeira história em quadrinhos do “Homem-Aranha” foi lançada em

1962 no almanaque Amazing Fantasy, que trazia histórias de outros super-heróis,

mas em 1963 foi lançada a HQ somente do “Homem-Aranha” e o filme do “Homem-

Aranha”,

baseado na HQ da Marvel criado por Stan Lee e Steve Ditko, foi dirigido por Sam Raimi e lançado em 2002. A obra repercutiu tão bem na época que chegou a estampar a capa da revista Time. O ator Tobey Maguire, que ficou mundialmente conhecido por sua atuação como Peter Parker, também deve parte de sua fama em Hollywood ao personagem (Veja.com/10mais, 19/04/2011).

e é o filme baseado em HQ que fez mais sucesso no cinema até a presente data.

Partindo desses dados podemos perceber que tanto as HQ de super-heróis

quanto os filmes, adaptações dessas HQ, fazem um estrondoso sucesso em todo o

mundo, arrebatando fãs adultos e juvenis.

Portanto, propor a leitura de HQ e dos filmes baseados nas HQ é uma

maneira prazerosa de fazermos com que nossos alunos percebam a leitura de uma

forma diferente daquela trabalhada no cotidiano escolar. As HQ fazem parte da

infância desses alunos e a evolução das histórias pode ser percebida de uma

maneira natural por eles, pois “a seriação em quadrinhos se assemelha a uma lenta

projeção cinematográfica – ou a cenas fixas de uma singela peça de teatro (...)

numa perfeita identificação e entrosamento das duas formas de linguagem: a

palavra e o desenho.” (MOYA, 1993, p.150).

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A leitura das histórias em quadrinhos requer a participação ativa do leitor

para que a trama seja entendida, já que o espaço existente entre um quadro e outro

exige que o leitor imagine a ação que está ocorrendo entre os painéis (quadrinhos).

O desenho, as palavras e os signos não-verbais existentes nas histórias

tornam o leitor participante ativo na criação e interpretação da trama contida nas HQ

e a aparente passividade do público que assiste a um filme não é real. Os

conhecimentos prévios desse público são essenciais para o entendimento da trama

cinematográfica.

Aliar a linguagem das HQ à linguagem cinematográfica é interessante

porque

o meio que mais emprestou recursos de linguagem aos quadrinhos, foi, sem dúvida, o cinema, do qual as histórias em quadrinhos aliás sempre estiveram muito próximas, tanto em termos históricos (ambos surgem como indústria na mesma época, final do século XIX) como de preferência do público. (VERGUEIRO, 2009, p.32).

Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, a leitura é um

conteúdo básico dentro do Discurso como prática social e é “um ato dialógico,

interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas,

pedagógicas e ideológicas de determinado momento.” (2008, p.56). Isto significa que

ler, compreender e interpretar textos de diversos gêneros contribui de forma decisiva

para a autonomia das pessoas e é um instrumento necessário para nossa circulação

em uma sociedade letrada, pois a leitura é um processo de interação entre o leitor e

o texto e consequentemente com a sociedade de onde advém esse texto.

Para ler um texto buscamos conhecimentos anteriormente adquiridos para

podermos nele fazer inferências, estabelecer relações com outros textos já lidos e

assim compreendê-lo de forma significativa, entretanto, nossos alunos apresentam

dificuldades em ler textos fazendo inferências, dialogando com outros textos.

Para sanar essas carências acreditamos que é necessário despertar nos

alunos o interesse pela Leitura e propiciarmos a eles um ambiente favorável para o

desenvolvimento do leitor, pois como já afirmamos anteriormente a leitura é uma

prática social que remete a outros textos e a outras leituras.

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Para que isso aconteça é necessário que o aluno leia tudo que lhe cair nas

mãos (livros, HQ, filmes, revistas, jornais) para que possa perceber as diferentes

abordagens realizadas nos diferentes gêneros discursivos.

Até pouco tempo julgava-se que o quadro referente à leitura no Brasil não

era dos mais promissores. Entretanto, segundo dados da pesquisa “Retratos da

Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-Livro, essa realidade se modificou de

forma significativa nos últimos anos.

Para modificarmos ainda mais os horizontes relacionados à leitura em nosso

país e levarmos nossos alunos a se interessarem mais pela leitura, é necessário que

nos utilizemos de estratégias que possibilitem a entrada desse aluno no delicioso

universo da leitura, visto que

estratégias de leitura são procedimentos de ordem elevada que envolvem o

cognitivo e o metacognitivo, no ensino elas não podem ser tratadas como

técnicas precisas, receitas infalíveis ou habilidades específicas. (...) por isso

ao ensinar estratégias de compreensão leitora, entre os alunos deve

predominar a construção e o uso de procedimentos de tipo geral que

possam ser transferidos sem maiores dificuldades para situações múltiplas

e variadas. (SOLÉ,1998, p.70).

Além de estratégias deve-se ter em mente que a metodologia de ensino que

usamos para motivar o aluno a ler muitas vezes é ineficiente, por isso, quando

julgarmos que a metodologia da qual estamos nos utilizando não corresponde ao

que havíamos previsto, nada melhor do que revermos essa metodologia e/ou nos

apropriarmos de outra que dê conta dos objetivos propostos.

O aluno em questão é um ser em constante transformação. O ser humano é

um mutante incondicional. Altera sua maneira de ser, de pensar, de agir

cotidianamente e o adolescente da faixa etária prevista no projeto de intervenção

pedagógica e alvo desta pesquisa, 8a série (9o ano) do Ensino Fundamental é “o

mutante” em questão.

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Pensando no sujeito desta pesquisa é que desenvolvemos atividades

significativas para que esse aluno tivesse maior interesse pela leitura e percebesse

nela uma maneira de inserir-se nesse universo de forma prazerosa.

As HQ de super-heróis são fonte de leitura por prazer e pensando nisso é

que resolvemos inseri-la neste contexto e também os filmes adaptados a partir

delas, pois todo adolescente possui um herói dentro de si. Identifica-se com algum

deles e muitas vezes procura imitar suas atitudes para se tornar um ser humano

melhor. “O Homem-Aranha pode nos ajudar a entender que a voz da consciência é

sempre mais importante que a cacofonia de vozes a nossa volta, que talvez estejam

nos condenando, ou desconsiderando o que pensamos” (MORRIS, 2009, p. 31). Os

“X-Men”, propositalmente a mutante Jean Grey, mostra-nos em “X-Men United”, a

necessidade de se fazer uma escolha. Ela se sacrifica por seus amigos e morre.

Poderia ter escolhido se autopreservar, entretanto escolhe o que é certo em

detrimento da autopreservação. Isto é o que consideramos ética, apenas para

mencionarmos um exemplo.

Os alunos de 8a série (9o ano) do Ensino fundamental se encontram numa

fase de autoconhecimento e desenvolvimento do senso crítico. Vergueiro (2009,

p.21) sobre o uso das histórias em quadrinhos no ensino afirma que “as histórias em

quadrinhos aumentam a motivação dos estudantes para o conteúdo das aulas,

aguçando sua curiosidade e desafiando seu senso crítico”.

3 Metodologia e desenvolvimento

O presente trabalho foi elaborado após o desenvolvimento e aplicação de

algumas ações importantes para a sua realização. No primeiro momento a produção

didático-pedagógica foi apresentada à comunidade escolar, da qual fazem parte

gestores, professores e funcionários, onde foram explicadas as ações que seriam

desenvolvidas na aplicação do projeto de intervenção pedagógica na escola e a

aplicação da unidade didática elaborada.

A produção didático-pedagógica também foi inserida no e-escola/moodle

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para a realização do GTR (grupo de trabalho em rede), programa de formação

continuada online, onde são oferecidos cursos de 30 horas aos professores da Rede

Estadual de Ensino, num total de 15 vagas.

No GTR denominado “Os Quadrinhos vão ao Cinema“ houve nove inscritos

dos quais cinco participaram efetivamente nos fóruns e nos diários, contribuindo com

novas idéias para a efetivação do trabalho na escola. Entenderam que o ensino da

leitura é de extrema importância, pois sem ela não há compreensão do trabalho

escolar em nenhuma área do conhecimento. Afirmaram que a utilização da leitura de

HQ e filmes são uma estratégia válida para despertar nos educandos o interesse

pelos diversos gêneros de leitura existentes, uma maneira de fazê-los despertar

para o mundo da leitura.

Um dos professores que participou do GTR afirmou que:

É notório que vivemos numa sociedade grafocêntrica que exige cada vez mais indivíduos que saibam além de ler e escrever, fazer uso dessas habilidades, o que implica inserir-se e participar de uma cultura letrada. Sendo assim, precisamos como educadores dar condições para tornar nossos alunos leitores capazes de abstrair informações subjacentes, bem como reconhecer características peculiares a cada gênero textual; para isso é fundamental proporcionar-lhes o acesso a textos diferenciados. Cotidianamente, o aluno se depara com uma gama infinita de textos. São novos padrões de comunicação que precisam ser explorados, pois trazem informações em tempo real, portanto, essa iniciativa em trabalhar as HQ mostra o quanto estamos preocupados em oferecer ao aluno condições de interação com textos que circulam no meio social, fazendo-os vivenciar situações concretas de comunicação. (GTR 2010)

A manifestação explicitada mostra a preocupação do professor em inserir o

aluno no mundo da leitura, considerando também o material produzido como um

meio de contribuir para o ensino aprendizagem.

E outro professor afirmou também que

Os quadrinhos se tornaram mais do que nunca, uma linguagem muito produtiva para o saber. O hábito de ler quadrinhos deve ser, por essa razão incentivado desde a infância, e recomendado aos jovens e adultos como forma de formar habilidades de leitura e interpretação. (GTR 2010)

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Verificamos através das afirmações dos próprios professores que o acesso

ao aprendizado da leitura é um tema pertinente ao contexto educacional no qual nos

encontramos e com a implementação do projeto “Os quadrinhos vão ao cinema”

conseguimos despertar no aluno o interesse pela leitura, já que o gosto vem com o

tempo, com a leitura de textos que primeiramente chamem a atenção desse aluno

de alguma forma e ganhem espaço no seu dia a dia.

O projeto em questão foi desenvolvido no contra turno escolar, pois esta foi

uma das exigências do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).

O Colégio Estadual Polivalente localiza-se na cidade de Ponta Grossa-PR, à

rua Padre João Antônio s/nº, no Bairro Jardim Carvalho. Funciona no turno da

manhã com turmas de Ensino Médio e Técnico em Meio Ambiente. No período da

tarde com turmas de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e à noite Ensino Médio,

Técnico em Meio Ambiente regular e subsequente, curso Técnico em Edificações e

curso Técnico em Desenvolvimento da Construção Civil.

O Colégio possui aproximadamente 1200 alunos e em sua maioria são de

classe média.

Grande parte dos alunos matriculados do 6º ao 9º ano provém da rede

Municipal de Ensino e residem nas proximidades do colégio e os alunos que

frequentam os cursos técnicos são oriundos das diversas regiões da cidade de

Ponta Grossa e também das cidades próximas como: Carambeí, Castro, Ipiranga,

Imbituva, entre outras.

No período da tarde, funcionavam no ano de 2011, quatro 8ªs séries, com

aproximadamente 35 alunos em cada uma, aos quais convidamos para participar do

projeto. A grande maioria dos alunos dessas turmas são assíduos e interessados

nas aulas e aqueles que se prontificaram a participar do projeto são alunos que não

possuem grandes dificuldades em Língua Portuguesa e que, de alguma forma,

interessam-se por leituras diferentes daquelas propostas comumente em sala de

aula. Aqueles que não aceitaram ao convite faziam outros cursos (informática,

música) no horário proposto para o projeto.

Para desenvolvermos o projeto, realizamos encontros no Colégio Estadual

Polivalente, com alunos da 8ªsérie (9º ano) do Ensino Fundamental, para

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discutirmos a importância da leitura em nossas vidas, lermos as HQ dos “X-Men” e

“Homem-Aranha”, assistirmos aos filmes originados a partir dessas HQ, discutirmos

os temas presentes nas narrativas e os compararmos ao que vivemos em nosso dia

a dia quando nos deparamos com o ‘diferente’.

Os alunos das quatro 8ªˢ séries do Ensino Fundamental, como afirmado

anteriormente, foram convidados a fazer parte desses encontros, entretanto, apenas

quatorze alunos se dispuseram a participar das reuniões que aconteceram às

quintas-feiras das 8h às 11h30min, no salão do Colégio Polivalente.

Inicialmente foi aplicado um questionário aos alunos para sabermos quais

tipos de textos chamam a atenção deles, se leem livros, HQ, jornais, revistas, se

gostam de filmes e de que tipo.

Dos alunos participantes 50% respondeu que gosta de ler HQ porque as

histórias e os personagens, na maioria das vezes são divertidos, entretanto apenas

um aluno afirmou já ter lido HQ de super-heróis.

Essa informação foi fundamental, pois teríamos um material realmente novo

a ser explorado junto aos alunos integrantes do projeto.

Quando indagados sobre se gostavam de ler, obtivemos respostas como:

“Gosto muito, ativa a criatividade, ajuda a imaginar o que vem pela frente

além de treinar a leitura e conhecer palavras novas”.

“Às vezes gosto. Tem dias que não estou a fim de ler.”

“Gosto porque por um momento esqueço de tudo e presto atenção no livro.”

“Porque adquirimos conhecimentos e aprendemos mais e temos mais

facilidade de comunicação.”

“Gosto, mas não em público.”

Através dessas respostas, pudemos perceber que nem todos os alunos

sentem prazer em ler, mas não se negam a fazê-lo e com estímulos e estratégias

adequadas podemos levá-los a se interessar por temas específicos, direcionados a

sua faixa etária.

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Outra questão do questionário aplicado foi: Que tipo de filmes você gosta? E

obtivemos como respostas: Terror, comédia, romance, guerra, suspense, ação,

mistério, aventura.

A questão relacionada aos filmes é de fundamental importância, pois nos

leva a direcionar a análise de nossa pesquisa ao que desejamos dos alunos. Eles

gostam de ação e aventura. Encontramos esses dois ingredientes tanto nas HQ

quanto nos filmes do “X-Men” e do “Homem-Aranha”. Temos a combinação perfeita

para analisarmos o “diferente” posto nas duas trilogias dos filmes e também

abordado nas HQ.

Depois de responderem ao questionário, conversamos sobre as respostas

dadas e seguimos com a aplicação das atividades propostas.

Para assistirmos ao filme “Homem-Aranha 1” e depois analisarmos os

recursos contidos no filme e na HQ, fizemos a seguinte proposta:

“A leitura de HQ é estimulante. Na HQ n0 1 do “Homem-Aranha” ele é picado

por uma aranha geneticamente modificada e adquire habilidades que antes não

possuía.

Assistir a filmes que nos fazem analisar o cotidiano nos tornam pessoas mais

reflexivas e preocupadas com os assuntos da atualidade.

No filme “Homem-Aranha”, verificamos a mesma história contida na HQ,

porém, com efeitos especiais que não são possíveis nos quadrinhos.”

Na sequência assistimos ao filme “Homem-Aranha 1”, comparamos os

recursos gráficos da HQ com os recursos cinematográficos e concluímos que nas

HQ os recursos gráficos utilizados são perfeitos para aquela situação e que o

cinema chama mais atenção porque usa efeitos especiais e jogos de cena que não

são possíveis nas HQ. Entretanto, as HQ trazem diálogos mais expressivos nos

quadrinhos que levam o leitor a imaginar as cenas e as expressões fisionômicas das

personagens possuem detalhes marcantes impossíveis de se traduzir no cinema.

Deduzimos também que as HQ e o cinema se complementam e são dois

tipos de leitura que seduzem os adolescentes participantes dessa pesquisa.

Outra atividade consistia em ler a HQ 1 em grupos, assistir ao filme, discutir

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temática e responder aos questionamentos utilizando a web.

“Acesse www.adorocinema.com/filmes/homem-aranha e leia atentamente a

sinopse do filme Homem-Aranha e Homem-Aranha 2 e depois responda:

a) Você tem dificuldades em se relacionar com seus colegas? Por quê?

b) Você sabe o que significa nerd? Você se considera um nerd? Comente.

c) Se você adquirisse habilidades como as do “Homem-Aranha”, usaria essas

habilidades para o bem ou para o mal. Explique.

d) No filme “Homem-Aranha 2”, Peter Parker tenta esconder o amor que sente por

Mary Jane. Você faria o mesmo? O que você faria?

e) Nas HQ, Peter Parker tem um relacionamento sério com Mary Jane e ela sabe

que Peter é o “Homem-Aranha”. Por que nos filmes isso não ocorre?”

Algumas respostas sobre o relacionamento com os colegas demonstraram

que os adolescentes, de modo geral, possuem algum tipo de dificuldade em se

relacionar com os colegas porque têm vergonha de si mesmos; porque acham os

outros diferentes e chatos e outros não possuem nenhuma dificuldade porque se

acham legais e alegres.

Todos dizem que não se consideram nerds porque “nerd é um cara muito

‘esperto e inteligente’” e eles não se consideram assim. E a maioria usaria suas

habilidades para o bem, embora todos afirmem que ninguém consegue ser bom o

tempo todo.

Se estivessem apaixonados ficariam “o máximo possível longe da pessoa”,

isto é, esconderiam seus sentimentos.

O comportamento típico do adolescente aflorou nas questões abordadas

nessa atividade. O constrangimento, a vergonha e o medo de não ser aceito como é.

Em outra atividade propusemos a leitura da HQ “Peter Parker e Mary Jane:

O Casamento do Ano” (“Homem-Aranha 100”) e trecho do filme “Homem-Aranha 3”,

onde Peter está com Mary Jane na teia e diz que a ama.

Distribuímos a HQ aos grupos para que lessem a história sobre o casamento

do “Homem-Aranha”, assistissem ao trecho do filme e respondessem em grupos as

seguintes questões:

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1) Ao ler a história na HQ é possível perceber a emoção do enredo? Através de que

recursos?

2) No filme fica claro que Peter Parker ama Mary Jane ou através do diálogo somos

induzidos a acreditar nisso? Por quê?

3) Você gostou mais da HQ ou do trecho do filme? Comente.

Os alunos responderam às questões afirmando que “nas HQ, através das

expressões fisionômicas das personagens e de sua postura corporal podemos

perceber todas as emoções presentes.”

No trecho do filme, perceberam o sentimento existente entre Mary Jane e

Peter Parker através do diálogo ocorrido na teia, apesar de Peter afirmar que ficando

longe de Mary Jane e negando seu amor estará protegendo-a dos seus possíveis

inimigos.

Afirmaram também que gostaram mais do trecho do filme porque parece ser

mais real que na HQ. Frisaram que para montar uma HQ como a que leram é

necessário muita criatividade e sensibilidade, pois os super-heróis são tão humanos

quanto qualquer um de nós e com sentimentos e pensamentos contraditórios.

Pensam e agem como humanos, porém possuem habilidades que os tornam

especiais, diferentes dos seres humanos comuns.

Posteriormente assistiram a “X-Men” – O Filme e responderam aos

seguintes questionamentos oralmente:

1) Logan e Vampira se tornam grandes amigos apesar de suas diferenças.

Comentem sobre isso.

2) “Ajude-nos! Lute ao nosso lado!” Tempestade implora a Wolverine. “Lutar ao seu

lado?” Reage Logan. “Entrar para o grupo? Ser Um “X-Men”? Que diabos vocês

pensam que são? Vocês são mutantes. O mundo inteiro está atrás de vocês, um

mundo cheio de gente que os odeia e teme, e vocês perdem tempo protegendo

essas pessoas? Tenho coisas melhores a fazer.” Esta discussão parece com

alguma que você já teve com alguém? Sobre que assunto você discutiu? Esse tipo

de discussão é comum entre você e seus colegas?

3) Os “X-Men” são considerados por Magneto “Homo-superiores”, isto é, seres

humanos superiores a nós. Você concorda com isso. Comente usando argumentos

do filme.

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4) Magneto tenta matar líderes mundiais usando os poderes de Vampira, que quase

morre se não acontecesse a interferência de seus amigos. Uma pessoa que pensa

no bem dos mutantes pode desejar matar outras pessoas? Comentem.

Os alunos realizaram uma síntese das três questões:

“A amizade entre Logan e Vampira existe apesar das diferenças existentes

entre eles, pois essa diferença fez com que se tornassem tão amigos.

Discutir com amigos é uma maneira de reforçar nossa amizade e

mostrarmos que nossos pontos de vista são diferentes, pois se fôssemos iguais em

pensamentos e ações não seríamos nós mesmos, estaríamos fingindo o tempo todo

e um dia nosso verdadeiro eu seria mostrado.

Discutimos sobre praticamente tudo: futebol, tempo, sobre o que gostamos,

os filmes que vemos e geralmente discutimos sobre isso com nossos amigos mais

próximos, c om aqueles que temos maior afinidade.

E é claro que se pensarmos apenas no que Magneto afirma os X-Men são

realmente superiores. Nasceram com várias habilidades e até características físicas

diferentes dos seres humanos ditos normais.

Tempestade domina o tempo. Faz chover, ventar, cria tempestades, ciclones

e isso seria fantástico em um ser humano comum. Imagine sermos telepatas como o

professor Xavier e Jean Grey, mas será que nós usaríamos essas habilidades para

ajudarmos as pessoas? Se fôssemos como Magneto certamente faríamos o que ele

fez com Vampira, usaríamos o poder dela, de sugar as energias das pessoas para

termos mais poder e até mesmo matar. Magneto não pensa no bem dos X-Men,

apenas no seu próprio.

Cabe ressaltar que antes de assistirem aos filmes das trilogias “X-Men” e

“Homem Aranha” leram as sinopses dos filmes e também algumas críticas sobre

eles para que não assistissem aos filmes sem nenhuma informação adicional e

poderem se posicionar criticamente junto ao enredo.

Após assistirem a “X-Men” – o Filme, leram 10 HQ dos X-Men e discutiram

sobre os recursos e o discurso presente nas histórias comparando-as com os fatos

da vida real afirmando sempre que na vida real: (...) existem pessoas com

habilidades diferenciadas e que também somos mutantes de algum jeito. Nos

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quadrinhos visualizamos as expressões e posturas das personagens e verificamos

os sentimentos delas através disso e das falas nos balões.”

Depois, assistiram ao filme “X-Men2”, acessaram o site

www.cinemauol.com.br/resenhas/x-men-2-2--3.jhtm e leram a resenha do filme para

posteriormente se posicionarem e discutirem sobre o conteúdo do filme e da

resenha:

X-Men2 retoma a história do ponto exato em que parou no primeiro filme. Wolverine está no Canadá em busca de suas origens, Magneto - o mestre do magnetismo - continua inalcançável em sua prisão de plástico e o Professor Charles Xavier mantém a conviccão que a coexistência pacífica entre mutantes e humanos é possível. Porém, essa causa se torna ainda mais desesperada quando um mutante tenta assassinar o presidente dos Estados Unidos. A resposta direta do governo é a criação do grupo militar liderado pelo general William Striker que, ao lado de sua assistente Lady Letal, tem como objetivo capturar e interrogar os integrantes do centro de treinamento de mutantes - a Escola para Jovens Superdotados dirigida por Xavier. Contudo, a ação acaba forçando alianças inesperadas e une ainda mais os mutantes, que têm de se preparar para resgatar alguns de seus amigos e enfrentar a missão mais difícil de suas carreiras. (www.cinemauol.com.br)

Posicionaram-se diante do filme afirmando que “X-Men2”, é “ainda mais

interessante que “X-Men – o filme”, pois nele existem outros “X-Men” que não

participaram da primeira filmagem e possuem outras habilidades extraordinárias

como transformar tudo em gelo, atravessar paredes, dominar a mente de outras

pessoas através da telepatia, alguns muito religiosos, como o Noturno. Percebemos

que os “X-Men” sentem-se deslocados na sociedade por serem diferentes das

outras pessoas.

Por exemplo, quando o Homem de Gelo conta para seus pais que é um

mutante, eles se sentem constrangidos e não apoiam seu filho, tanto que ele sai de

casa e vai para a escola do professor Xavier, nisso vemos o preconceito contra

quem é diferente por algum motivo.”

Nas afirmações dos alunos, verificamos que eles perceberam a seriedade do

roteiro do filme ao abordar problemas típicos da humanidade através de algumas

metáforas. Racismo, crenças religiosas, preconceito, as mudanças da puberdade e

intolerância são espelhados nos problemas enfrentados pelos pupilos de Xavier.

Isso permitiu aos alunos participantes do projeto, entenderem que o filme é

uma extensão das angústias vividas pelos seres humanos, isto é, suas próprias

angústias.

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A leitura das críticas dos filmes foi muito importante. Perceberam através

das resenhas e dos próprios filmes que as histórias trazem uma mensagem clara

contra qualquer preconceito racial ou sexual. Sobre discriminar alguém por ser

diferente.

Podemos afirmar então, que assistir aos filmes e ler as HQ foi de

fundamental importância para a compreensão das histórias como um todo e também

para perceberem que o diferente é discriminado, independente de quem seja. Se

tem altas habilidades que os tornem muito interessantes ou asas, pelos, teias,

dominem tempestades, sejam telepatas, enfim, os seres humanos discriminam sem

dar importância aos sentimentos de quem quer que seja, somente após refletir sobre

o fato em questão é que se tornam capazes de analisar a situação de cada um

separadamente e sentir, algumas vezes, compaixão pelo próximo.

Em X-MEN 3: O Confronto Final, os X-Men precisam enfrentar a própria evolução na forma de sua ex-integrante, Jean Grey, agora possuída pela força cósmica da Fênix Negra, auxiliados por dois novos recrutas (o Anjo e o Fera). Jean se tornou um perigo para ela mesma, para os mutantes e para todo o planeta. Para combater esta ameaça, é inventada uma cura para os mutantes. Se isso não bastasse, os X-Men ainda têm que lidar com Magneto, Mística, Fanático e outros mutantes da Irmandade. (www.adorocinema.com.br)

Assistir ao filme “X-Men 3 – O confronto final” foi muito interessante. Depois

de assisti-lo, os alunos realizaram comentários sobre o filme, estabelecendo

relações com os outros filmes já assistidos, realizando uma ampla discussão. Depois

disso, escreveram um texto coletivo sobre o que é ser diferente:

O que é ser diferente?

Ser diferente é um dom de cada um. Embora quiséssemos nós nunca

seríamos iguais em tudo em relação às outras pessoas. Sempre teremos algo a

mais ou a menos.

Ser diferente nos torna especiais porque se fôssemos todos iguais iria faltar

ou sobrar coisas para a gente. O mundo não teria graça. Embora as pessoas

gostem de “imitar” as outras pessoas em tudo, sempre haverá algo diferente, mesmo

que seja lá no fundo.

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O mundo precisa ser diferente. Não precisamos viver em uma ditadura

social seguindo o estilo e as ideias de uma só pessoa.

Ser diferente é um poder que cada um tem dentro de si.

(Texto produzido pelo grupo de alunos do projeto)

Podemos perceber nesse texto que os alunos tiveram uma percepção

excepcional sobre ser diferente, entretanto, expuseram isso com uma simplicidade

invejável. Perceberam na leitura das HQ e dos filmes que “ser diferente” torna as

pessoas especiais e que o mundo seria sem graça se todas as pessoas fossem

iguais.

Apesar do “Homem-Aranha” ter sido picado por uma aranha radioativa e

adquirido seus poderes por causa desse acidente, ele defende as pessoas que eram

como ele antes da picada. As minorias, os que são maltratados, ofendidos,

discriminados. O “Homem-Aranha” abraça a causa Humana por ter se tornado

diferente.

Já os “X-Men” obtiveram seus poderes de forma natural, isto é, eles

nasceram assim e “foram lançados em um mundo que não escolheram. E sua luta

(...) reflete cada uma das nossas buscas por autenticidade e identidade”.

(KAVADLO, 2009, p.51)

Quando os alunos afirmam que “ser diferente é um poder que cada um tem

dentro de si”, estão ratificando os ideais presentes nos “X-Men”, na sua busca por

uma identidade verdadeira, que os faça mostrar ao mundo quem são

verdadeiramente, em sua essência.

Pudemos perceber no convívio com os alunos participantes do projeto que

eles sentiram empatia com os personagens das histórias e há todo momento

desejaram ser como algum desses personagens com os quais conviveram durante

alguma semanas.

Isso é inegável devido aos comentários sobre as HQ e os filmes e também

depois de discutirmos muito sobre “ser diferente” no “X-Universo” e no Mundo Real,

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quando concluíram que não existem diferenças por ser “faz de conta” ou realidade.

Se analisarmos bem, segundo eles, “é tudo a mesma coisa”. Ser diferente nos filmes

ou nas HQ é apenas uma representação da realidade na qual vivemos, pois os

escritores se baseiam em fatos reais para escrever as histórias. Eles não tiram tudo

da sua imaginação. Até os personagens são criados baseando-se em alguém que

eles conhecem e depois vão inserindo características que chamam a atenção dos

leitores ou das pessoas que adoram cinema.

Afirmaram que diferenças físicas são comuns a todos os seres humanos,

mas o que conta realmente são as diferenças psicológicas. As diferenças do modo

de pensar, de agir. Segundo um aluno do projeto: “devemos ser únicos, ser

diferentes, ter nossa própria personalidade porque é fácil ser igual a alguém, o difícil

é ser diferente”.

Podemos perceber no discurso desses alunos que ser diferente é algo

extremamente positivo. Negativo é ser igual.

Outro aluno afirma que “ser diferente é não ter as mesmas habilidades que

os demais possuem, é ser único”.

Já outro, é categórico em afirmar que “ser diferente é não usar e imitar seus

colegas só para andar junto. É ser você mesmo. Tem que ser o que você queira ser

e não o que os outros falam para você ser”.

Os alunos afirmam que nunca haviam pensado no “Homem-Aranha” e “X-

Men” como pessoas comuns, humanas. Pareciam bem mais que isso, mas quando

começaram a ler as HQ se depararam com super-heróis humanos, vivendo

problemas de adolescentes, no caso de Peter Parker (“Homem-Aranha”) e de se

tornar ou não um super-herói. E os “X-Men” trabalhando para o bem dos outros,

inclusive daqueles que os perseguem e tentam prejudicá-los, pois, “os mutantes são

odiados não apenas por causa do seu bem, mas por serem diferentes” (EVANS,

2009, p.164).

Sendo mutantes, os “X-Men” têm seus poderes expostos para que todos

possam vê-los e isso causa ressentimento em determinadas pessoas tidas como

comuns, mas que desejariam, de alguma forma, possuir os poderes dos “X-Men”.

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Após leitura das HQ e de assistir aos filmes propostos, podemos afirmar que

os alunos compreenderam que “o diferente”, apesar de discriminado por muitos é

um ser humano que merece atenção, carinho e respeito. Perceberam que o

“diferente” abordado nos filmes não é aquele que possui algum tipo de deficiência e

sim “diferente” que possui habilidades diferentes daquelas que a maioria possui e

por isso muitas vezes é visto de maneira diferente pelos demais.

Depois da realização de todas as atividades propostas, realizamos uma

discussão final sobre o tema abordado no projeto, contando com a participação da

diretora do colégio que incentivou os alunos a continuarem lendo HQ de super-

heróis e também se interessando por cinema de maneira geral. Enfatizou que a

leitura abre horizontes, cria expectativas e desenvolve o senso crítico.

Os alunos concordaram com as afirmações da Diretora e afirmaram que o

projeto foi produtivo porque entraram em contato com os filmes e também com uma

leitura diferenciada daquelas que realizávamos em sala de aula.

Nesse último encontro realizamos o fechamento do projeto com uma ampla

discussão sobre todas as atividades desenvolvidas durante sua implementação,

verificando que os objetivos propostos foram atingidos de maneira satisfatória.

4 Conclusão

Podemos afirmar, após descrever o trabalho realizado durante a

implementação do projeto “Os quadrinhos vão ao cinema” que o objetivo proposto

de despertar no aluno o interesse pela leitura através da leitura de HQ e dos filmes

dos super-heróis “X-Men” e “Homem-Aranha” estabelecendo relações entre as

personagens do “X-Universo” e a vida real foi plenamente atingido.

Aconteceu, durante o projeto, um despertar para o universo da leitura do

gênero quadrinhos de super-heróis. Isso é relevante justamente pelo fato de que,

como podemos verificar através das respostas do questionário inicial, apenas um

dos adolescentes que participaram do projeto já havia lido HQ de super-heróis.

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Além disso, assistir aos filmes relacionados a essas HQ fez com que os

adolescentes relacionassem o universo cinematográfico com o mundo real,

discutindo situações comuns ao dia a dia, posicionando-se quanto ao desenrolar do

enredo dos filmes e verificando e compreendendo, como foi proposto, a presença do

“diferente” na realidade e também nos filmes.

Compreenderam que ler é importante porque lendo terão melhores

condições de compreender o mundo que os cerca e de interagir com ele, pois a

finalidade do ensino é contribuir para a formação integral das pessoas para que

sejam capazes de compreender a sociedade e intervir nela com o objetivo de

melhorá-la.

Com relação à participação dos professores do grupo GTR, foi de extrema

importância porque manifestaram sua opinião sobre o trabalho e também

contribuíram com sugestões que orientaram o trabalho e para a troca de

conhecimentos entre a autora e os participantes, o que enriqueceu a aplicação do

trabalho com os alunos.

O trabalho foi produtivo e tornou o ensino e aprendizado da leitura uma

maneira prazerosa de interação entre quadrinhos e cinema.

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