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Dissertação de doutoramento apresentada à Univ. Lisboa
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FERNANDO MENDES DE QUEIRÓS MAGALHÃES
OS SEDIMENTOS DA PLATAFORMA CONTINENTAL PORTUGUESA:
CONTRASTES ESPACIAIS, PERSPECTIVA TEMPORAL,
POTENCIALIDADES ECONÓMICAS
Dissertação apresentada à Universidade de Lisboa para obtenção do grau de Doutor em Geologia, na especialidade de Sedimentologia
LISBOA 1999
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ÍNDICE GERAL ÍNDICE GERAL ................................................................................................................................ i ÍNDICE DE FIGURAS ...................................................................................................................... vi ÍNDICE DE QUADROS .................................................................................................................... xii RESUMO ........................................................................................................................................... xiv ABSTRACT ....................................................................................................................................... xx AGRADECIMENTOS ....................................................................................................................... xxv I. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 1
1.Objectivos ........................................................................................................................... 1 2. Métodos utilizados ............................................................................................................ 2
2.1. Trabalhos de mar ............................................................................................... 2 2.2. Procedimento laboratorial ................................................................................. 2 2.3. Tratamento dos dados sedimentológicos ........................................................... 4
II. TRABALHOS ANTERIORES ...................................................................................................... 10 1. A evolução no conhecimento da plataforma ..................................................................... 10 2. A assimetria no conhecimento da plataforma ................................................................... 15 3. As características da cobertura sedimentar ....................................................................... 17
3.1. A globalidade da plataforma .............................................................................. 17 3.2. A plataforma norte ............................................................................................. 19 3.3. A plataforma sudoeste ....................................................................................... 20 3.4. A plataforma algarvia ........................................................................................ 22
III. ENQUADRAMENTO E CARACTERIZAÇÃO REGIONAIS ................................................... 23 1. Introdução ......................................................................................................................... 23 2. Batimetria e morfologia ..................................................................................................... 25
2.1. Generalidades .................................................................................................... 25 2.2. Plataforma norte ................................................................................................ 25 2.3. Plataforma sudoeste ........................................................................................... 29 2.4. Plataforma algarvia ............................................................................................ 30
3. Estrutura e litologia ........................................................................................................... 31 3.1. Generalidades .................................................................................................... 31 3.2. Plataforma norte ................................................................................................ 32 3.3. Plataforma sudoeste ........................................................................................... 32 3.4. Plataforma algarvia ............................................................................................ 34
4. Características hidrográfico-climáticas da zona drenada .................................................. 35 4.1. Generalidades .................................................................................................... 35 4.2. Plataforma norte ................................................................................................ 38
ii
4.3. Plataforma sudoeste ........................................................................................... 39 4.4. Plataforma algarvia ............................................................................................ 40
5. Litoral ................................................................................................................................ 41 5.1. Generalidades .................................................................................................... 41 5.2. Plataforma norte ................................................................................................ 41 5.3. Plataforma sudoeste ........................................................................................... 44 5.4. Plataforma algarvia ............................................................................................ 44
6. Neotectónica ...................................................................................................................... 47 7. Súmula ............................................................................................................................... 49
IV. PROCESSOS DE FORNECIMENTO E DISTRIBUIÇÃO ......................................................... 51 1. Introdução .......................................................................................................................... 51 2. Processos de fornecimento ................................................................................................ 51
2.1. Contribuição fluvial ........................................................................................... 51 2.1.1. Correntes de cheia .............................................................................. 54 2.1.2. Influências antrópicas no fornecimento por via fluvial ..................... 55
2.2. Erosão do litoral ................................................................................................ 57 2.3. Movimentos de massa ........................................................................................ 58 2.4. Outros processos de fornecimento ..................................................................... 58
3. Processos de distribuição................................................................................................... 59 3.1. Estratificação de massas de água ....................................................................... 59 3.2. "Upwelling" costeiro ......................................................................................... 61 3.3. Ondas internas ................................................................................................... 62 3.4. Agitação marítima ............................................................................................. 63
3.4.1. Agitação modal .................................................................................. 63 3.4.2. Temporais .......................................................................................... 64 3.4.3. Potencial de remobilização ................................................................ 64
3.5. Tsunamis ............................................................................................................ 68 3.6. Marés ................................................................................................................. 69 3.7. Sobrelevação do mar de origem meteorológica ................................................ 71 3.8. Deriva litoral ...................................................................................................... 72 3.9. Correntes ............................................................................................................ 75
3.9.1. Correntes na plataforma ..................................................................... 75 3.9.2. Correntes na vertente ......................................................................... 76 3.9.3. Correntes induzidas por diferenciais de pressão................................ 77
3.10. A Oscilação do Atlântico Norte ...................................................................... 77 3.11. Variações seculares do nível do mar ............................................................... 78
4. Resultado da actuação dos paleo-processos ...................................................................... 79 4.1. No máximo glaciário ......................................................................................... 79
iii
4.2. No final do Glaciário e início da deglaciação ................................................... 82 4.3. Durante a deglaciação ........................................................................................ 83 4.4. Durante o Dryas recente .................................................................................... 84 4.5. Durante o Holocénico ........................................................................................ 86 4.6. Durante o período histórico a partir do século XI ............................................. 87 4.7. O século XX ...................................................................................................... 89
5. Súmula ............................................................................................................................... 90 V. CARACTERÍSTICAS DA COBERTURA SEDIMENTAR ........................................................ 92
1. Introdução .......................................................................................................................... 92 2. Comparação entre as características médias dos sedimentos ............................................ 92 3. Padrão genérico de distribuição dos sedimentos ............................................................... 95
3.1. Método utilizado ................................................................................................ 95 3.2. Resultados .......................................................................................................... 95 3.3. Distribuição espacial ......................................................................................... 99
4. Características texturais .................................................................................................... 101 4.1. Tipos de sedimentos .......................................................................................... 101 4.2. Distribuição do cascalho .................................................................................... 103 4.3. Distribuição da areia .......................................................................................... 106 4.4. Distribuição da fracção fina (silte+argila) ........................................................ 106
5. Características granulométricas ......................................................................................... 110 5.1. Média granulométrica dos sedimentos .............................................................. 110 5.2. Granulometria do cascalho ................................................................................ 112 5.3. Granulometria da areia ...................................................................................... 112
5.3.1. Média ................................................................................................. 112 5.3.2. Calibragem ......................................................................................... 113 5.3.3. Calibragem relativa ............................................................................ 116 5.3.4. Assimetria .......................................................................................... 118 5.3.5. Variações com a profundidade .......................................................... 120
6. Características composicionais.......................................................................................... 121 6.1. Composição do cascalho ................................................................................... 121 6.2. Composição da areia .......................................................................................... 124
6.2.1. Características principais ................................................................... 124 6.2.2. Componente terrígena ........................................................................ 127 6.2.2.1. Quartzo ................................................................................ 129
6.2.2.2. Micas ................................................................................... 137 6.2.2.3. Grãos poliminerálicos .......................................................... 140 6.2.2.4. Outros terrígenos ................................................................. 141
6.2.3. Componente biogénica ...................................................................... 142
iv
6.2.3.1. Moluscos.............................................................................. 143 6.2.3.2. Foraminíferos ...................................................................... 143 6.2.3.3. Equinodermes ...................................................................... 147 6.2.3.4. Outros biogénicos ................................................................ 147
6.2.4. Glaucónia ........................................................................................... 148 6.2.5. Outras partículas ................................................................................ 151
7. Características dos sedimentos e processos associados .................................................... 151 8. Súmula ............................................................................................................................... 153
VI. TIPOS DE PARTÍCULAS SEDIMENTARES ............................................................................ 157 1. Introdução ......................................................................................................................... 157 2. Grãos de quartzo ................................................................................................................ 159
2.1. Observações à lupa binocular ............................................................................ 159 2.2. Análise exoscópica ............................................................................................ 161 2.3. Análise química ................................................................................................. 166
3. Clastos de moluscos .......................................................................................................... 169 4. Carapaças de foraminíferos ............................................................................................... 171 5. Glaucónia ........................................................................................................................... 173
5.1. Observações à lupa binocular ............................................................................ 173 5.2. Análise química ................................................................................................. 174
6. Tipos de partículas e implicações deposicionais ............................................................... 176 6.1. Grãos de quartzo ................................................................................................ 176 6.2. Bioclastos de moluscos ...................................................................................... 177 6.3. Carapaças de foraminíferos ............................................................................... 177 6.4. Glaucónia ........................................................................................................... 177
7. Súmula ............................................................................................................................... 178 VII. DEPÓSITOS SEDIMENTARES ................................................................................................ 179
1. Introdução ......................................................................................................................... 179 2. Depósitos sedimentares da plataforma .............................................................................. 179
2.1. Plataforma norte ................................................................................................ 180 2.2. Plataforma sudoeste ........................................................................................... 190 2.3 Plataforma algarvia ............................................................................................ 195
3. Comparação entre os depósitos sedimentares ................................................................... 200 4. Súmula ............................................................................................................................... 202
VIII. VARIAÇÕES DO NÍVEL DO MAR ........................................................................................ 203 1. Introdução .......................................................................................................................... 203 2. Variações do nível do mar ................................................................................................. 203 3. Transgressões e regressões ................................................................................................ 206 4. Curvas de variação do nível do mar em Portugal .............................................................. 208
v
5. Indícios sedimentológicos ................................................................................................. 210 6. Traços morfológicos .......................................................................................................... 215 7. Mapa de pendores .............................................................................................................. 218 8. Comportamento face à transgressão flandriana ................................................................. 221 9. Datações por 14C ............................................................................................................... 225 10. Súmula ............................................................................................................................. 228
IX. BALANÇO SEDIMENTAR ........................................................................................................ 229 1. Introdução .......................................................................................................................... 229 2. A complexidade dos mecanismos envolvidos .................................................................. 230 3. Ensaios de balanço sedimentar .......................................................................................... 235
3.1. Plataforma norte ................................................................................................ 237 3.2. Plataforma sudoeste ........................................................................................... 240 3.3. Plataforma algarvia ............................................................................................ 242
4. Importância relativa de alguns processos e contribuições ................................................. 244 5. As modificações actuais nos balanços sedimentares ......................................................... 245 6. Súmula ............................................................................................................................... 246
X. RECURSOS MINERAIS .............................................................................................................. 247 1. Interesse da exploração...................................................................................................... 247 2. Hidrocarbonetos ................................................................................................................ 249 3. Depósitos de areias e cascalhos ......................................................................................... 249 4. Outros recursos .................................................................................................................. 255 5. Súmula ............................................................................................................................... 256
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 257 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................ 263 GLOSSÁRIO ...................................................................................................................................... I
vi
ÍNDICE DE FIGURAS Figura I.1 – Sectores estudados .......................................................................................................... 1 Figura I.2 – Mapa de amostragem ...................................................................................................... 3 Figura I.3 – Mapas de isolinhas da superfície dos variogramas experimentais da média granulométrica da areia das plataformas estudadas................................................................. 7 Figura I.4 – Variogramas experimentais e teóricos da média granulométrica da areia das amostras dos sectores estudados, segundo as direcções de máxima continuidade ...................... 8 Figura II.1 – A margem continental portuguesa (Pereira, 1991) ........................................................ 11 Figura II.2 – Fracção textural dominante nos sedimentos da plataforma continental portuguesa (Dias, 1987) .................................................................................................................... 18 Figura II.3 – Depósitos sedimentares da plataforma continental portuguesa a norte de Espinho (Magalhães & Dias, 1992). A – depósitos arenosos litorais; B – depósito siltoso do Lima; C – depósitos areno-cascalhentos do Cávado; D – depósitos areno-cascalhentos do Ave-Douro; E – depósitos areno-siltosos da plataforma média; F – depósitos arenosos da plataforma média; G – depósito silto-argiloso do Minho; H – depósitos cascalhentos do Beiral de Viana; I – depósito silto-argiloso das cabeceiras do canhão submarino do Porto; J – depósito cascalhento do Beiral de Caminha; K – depósitos arenosos da plataforma externa; L – depósitos arenosos do bordo da plataforma e vertente continental superior; M – depósitos lodosos da vertente continental superior; N – outros depósitos ......................................................................................... 21 Fig II.4 – Depósitos sedimentares da plataforma algarvia (Moita, 1986). 1 – lodos da vertente superior; 2 – lodos da plataforma média; 3 – areias e formações arenosas da plataforma exterior e do bordo; 4 – areias da plataforma média; 5 – areias costeiras; 6 – prodeltas dos rios Arade e Guadiana ................................................................. 22 Figura III.1 – Evolução da margem continental portuguesa (Pereira, 1991) ..................................... 24 Figura III.2 – Perfis batimétricos da plataforma continental............................................................. 27 Figura III.3 – Batimetria da plataforma norte, segundo Vanney & Mougenot (1981). Espaçamento das batimétricas de 10 m até aos 200 m de profundidade e de 200 m abaixo do referido valor .......................................................................................................... 28 Figura III.4 – Batimetria da plataforma sudoeste, segundo Vanney & Mougenot (1981). Espaçamento das batimétricas de 10 m até aos 140 m de profundidade, de 20 m entre os 160 e os 200 m de profundidade e de 100 m abaixo do referido valor ....................... 30 Figura III.5 – Batimetria da plataforma algarvia, segundo Vanney & Mougenot (1981). Espaçamento das batimétricas de 10 m até aos 100 m de profundidade, de 20 m entre os 120 e os 200 m e de 100 m abaixo do referido valor ................................................... 31 Figura III.6 – Geologia dos sectores estudados .................................................................................. 33
vii
Figura III.7 – Área abrangida pelas bacias hidrográficas que desaguam no litoral português (Dias, 1990). 1 - Área cuja drenagem não é interrompida por barragens. 2 - Área afectada por barragens para aproveitamentos hidroelécticos ou hidroagrícolas. M-Minho; L-Lima; C-Cávado; A-Ave; D-Douro; V-Vouga; Mo-Mondego; T-Tejo; S-Sado; G- Guadiana ........................................................................................... 36 Figura III.8 – Caudais integrais das principais bacias hidrográficas portuguesas (Fiúza, 1984) ...................................................................................................................................... 36 Figura III.9 – Frequência e velocidade média do vento em diversos locais do litoral (segundo Instituto Hidrográfico, 1990) .............................................................................................. 37 Figura III.10 – Sistema de ilhas-barreira de Faro-Olhão (Dias, 1988) .............................................. 46 Figura III.11 – Enquadramento geodinâmico da margem continental (Ribeiro, 1994) ............................................................................................................................................................ 48 Figura III.12 – Distribuição de epicentros de sismos históricos e instrumentais. A dimensão do símbolo é proporcional à magnitude (Cabral, 1995) ................................................... 49 Figura IV.1 – Isolinhas do diâmetro máximo remobilizado pela agitação mais frequente em cada sector .................................................................................................................... 66 Figura IV.2 – Isolinhas do diâmetro máximo remobilizado por temporais não excepcionais ....................................................................................................................................... 67 Figura IV.3 – Isolinhas de deriva litoral potencial, em m³/ano, induzida por: a) agitação normal; b) agitação de tempestade ....................................................................................... 73 Figura IV.4 – Índice NAO de Inverno, de 1864 a 1997, e tendência linear (Pires et al., 1998) ............................................................................................................................................ 78 Figura IV.5 – Variação da posição da frente polar nos últimos 18 ka (Ruddiman & McIntyre, 1981) .................................................................................................................................. 80 Figura IV.6 – Curva de variação do nível do mar na plataforma continental portuguesa setentrional (adaptado de Dias, 1987) ............................................................................ 80 Figura IV.7 – Cronologia dos principais períodos da evolução desde o último máximo g1glaciário e das fases de Ruddiman & McIntyre (1981) .................................................... 81 Figura IV. 8 – Variação do nível do mar nos últimos 2,5 ka na costa atlântica francesa (Ters, 1976) ......................................................................................................................... 87 Figura V.1 – Textura dos grupos de amostras afins ........................................................................... 96 Figura V.2 – Composição da areia dos grupos de amostras afins ...................................................... 98 Figura V.3 – Distribuição dos grupos de amostras afins ................................................................... 100 Figura V.4 – Distribuição dos tipos texturais dos sedimentos, segundo a classificação de Shepard (1954) ......................................................................................................... 102 Figura V.5 – Distribuição da fracção cascalho .................................................................................. 105 Figura V.6 – Distribuição da fracção areia ........................................................................................ 107 Figura V.7 - Distribuição da fracção silto-argilosa ............................................................................ 109
viii
Figura V.8 – Distribuição da média granulométrica dos sedimentos ................................................ 111 Figura V.9 – Distribuição da média da areia ..................................................................................... 114 Figura V.10 – Distribuição da calibragem da areia ........................................................................... 115 Figura V.11 – Distribuição calibragem relativa da areia ................................................................... 117 Figura V.12 – Distribuição da assimetria da areia ............................................................................. 119 Figura V.13 – Distribuição percentual média das classes texturais dos sedimentos por classes de profundidade ............................................................................................................... 120 Figura V.14 – Distribuição da variação de alguns parâmetros granulométricos da areia por classes de profundidade ...................................................................................................... 121 Figura V.15 – Distribuição das percentagens de cascalho terrígeno ................................................. 123 Figura V.16 – Distribuição percentual média das classes composicionais da areia por classes de profundidade ............................................................................................................... 124 Figura V.17 – Distribuição da relação entre as percentagens de partículas terrígenas e biogénicas da areia .......................................................................................................................... 126 Figura V.18 – Distribuição da percentagem da componente terrígena da areia ............................... 128 Figura V.19 – Distribuição da percentagem de quartzo na areia ...................................................... 130 Figura V.20 – Distribuição da percentagem de quartzo na fracção -1 a 0 Ø ..................................... 132 Figura V.21 – Distribuição da percentagem de quartzo na fracção 0 a 1 Ø....................................... 133 Figura V.22 – Distribuição da percentagem de quartzo na fracção 1 a 2 Ø....................................... 134 Figura V.23 – Distribuição da percentagem de quartzo na fracção 2 a 3 Ø....................................... 135 Figura V.24 – Distribuição da percentagem de quartzo na fracção 3 a 4 Ø....................................... 136 Figura V.25 – Distribuição da percentagem de micas na componente terrígena da areia .................................................................................................................................................... 139 Figura V.26 – Distribuição da percentagem de clastos de moluscos na areia .................................. 144 Figura V.27 – Distribuição da percentagem de carapaças de foraminíferos na areia ....................... 145 Figura V.28 – Distribuição da percentagem de glaucónia na areia ................................................... 149 Figura V.29 – Diagramas representativos da textura das “amostras médias” dos sectores estudados .............................................................................................................................. 152 Figura V.30 – Diagramas representativos da composição da fracção areia das “amostras médias” dos sectores estudados......................................................................................... 153 Figura VI.1 – Grão de quartzo com polimento tipicamente marinho................................................. 162 Figura VI.2 – Rede de dissolução anastomosada num grão de quartzo ............................................. 162 Figura VI.3 – Grão de quartzo que apresenta marcas de choque com gradiente de polimento ............................................................................................................................................ 163 Figura VI.4 – Grão marinho de quartzo que apresenta ainda polimento fluvial ................................ 164 Figura VI.5 – Grão de quartzo com depósitos em toda a superfície .................................................. 164 Figura VI.6 – Grão de quartzo com depósitos nas depressões e figuras de dissolução nas partes mas salientes ...................................................................................................................... 165
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Figura VI.7 – Depressão de grão de quartzo com numerosos cocolitoforídeos ................................. 165 Figura VI.8 – Grão de quartzo baço e com numerosas marcas de choque, algumas das quais apresentam contornos bastante angulosos .......................................................................... 166 Figura VI.9 – Localização dos grãos de quartzo submetidos a análise química ................................ 167 Figura VI.10 – Inclusões de aluminossilicatos, titânio e ferro num grão de quartzo ......................... 169 Figura VI.11 – Estádios de glauconitização de um substrato granular, segundo Odin & Matter (1981) ................................................................................................................................ 175 Figura VII.1 – Depósitos identificados na cobertura sedimentar da plataforma norte .................................................................................................................................................... 181 Figura VII.2 – Características médias de depósitos identificados na plataforma norte. DL - Depósitos litorais; DACPM - Depósitos areno-cascalhentos da plataforma média; DAPM - Depósitos arenosos da plataforma média .............................................. 184 Figura VII.3 – Características médias de depósitos identificados na plataforma norte. DASPM - Depósitos areno-siltosos da plataforma média; DLPME - Depósitos lodosos da plataforma média e externa; DAPE - Depósitos arenosos da plataforma externa .............................................................................................................................. 187 Figura VII.4 – Características médias de depósitos identificados na plataforma norte. DACPE - Depósitos areno-cascalhentos da plataforma externa; DABPVCS - Depósitos arenosos do bordo da plataforma e vertente continental superior; DLVCS - Depósitos lodosos da vertente continental superior .......................................................... 188 Figura VII.5 – Depósitos identificados na cobertura sedimentar da plataforma sudoeste .............................................................................................................................................. 191 Figura VII.6 – Características médias de depósitos identificados na plataforma sudoeste. DL - Depósitos litorais; DACPM - Depósitos areno-cascalhentos da plataforma média; DAPME - Depósitos arenosos da plataforma média e externa ............................ 192 Figura VII.7 – Características médias de depósitos identificados na plataforma sudoeste. DACBP - Depósitos areno-cascalhentos do bordo da plataforma; DABPVCS - Depósitos arenosos do bordo da plataforma e vertente continental superior; DLVCS - Depósitos lodosos da vertente continental superior ......................................... 194 Figura VII.8 – Depósitos identificados na cobertura sedimentar da plataforma algarvia ............................................................................................................................................... 196 Figura VII.9 – Características médias de depósitos identificados na plataforma algarvia. DL - Depósitos litorais; DACPM - Depósitos areno-cascalhentos da plataforma média; DAPM - Depósitos arenosos da plataforma média .............................................. 197 Figura VII.10 – Características médias de depósitos identificados na plataforma algarvia. DALPME - Depósitos areno-lodosos da plataforma média e externa; DLPME - Depósitos lodosos da plataforma média e externa; DAPE - Depósitos arenosos da plataforma externa .......................................................................................................... 198
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Figura VII.11 – Características médias de depósitos identificados na plataforma algarvia. DABP - Depósitos arenosos do bordo da plataforma; DLVCS - Depósitos lodosos da vertente continental superior ............................................................................................ 199 Figura VIII.1 – Distribuição espacial das zonas do modelo de Clark et al. (1978) ......................... 206 Figura VIII.2 – Curvas de variação do nível do mar propostas para o Golfo do México e para a costa atlântica francesa, curvas teóricas previstas por modelação numérica para estas regiões e curva eustática .................................................................................... 207 Figura VIII.3 – Curva de variação do nível do mar no sotavento algarvio (Bettencourt, 1994) ............................................................................................................................ 209 Figura VIII.4 – Variação da média granulométrica da areia com a profundidade ............................ 212 Figura VIII.5 – Variação da média granulométrica da areia com a profundidade em diferentes sectores da plataforma: a - a norte de Espinho; b - entre Espinho e o cabo Mondego; c - entre o canhão de Setúbal e Sines; d - entre Sines e o cabo de S. Vicente; e - Algarve ocidental; f - Algarve oriental ........................................................................... 213 Figura VIII.6 – Áreas nas quais foi detectada a presença de possível "beach rock".......................... 216 Figura VIII.7 – Distribuição dos traços morfológicos por classes de profundidade ......................... 218 Figura VIII.8 – Esboço de mapa de pendores dos sectores estudados ............................................... 219 Figura VIII.9 – Possível configuração dos paleolitorais na plataforma norte .................................... 222 Figura VIII.10 – Possível configuração dos paleolitorais na plataforma sudoeste ............................ 223 Figura VIII.11 – Possível configuração dos paleolitorais na plataforma algarvia ............................. 224 Figura VIII.12 – Datações (média e erro padrão) de material carbonatado proveniente da plataforma algarvia .................................................................................................... 226 Figura VIII.13 – Relação entre a profundidade e as datações (média e erro padrão) de material carbonatado proveniente da plataforma algarvia............................................................. 227 Figura VIII.14 – Relação entre a profundidade e as datações obtidas em diferentes áreas do litoral português, no estuário do Sado e em sistemas lagunares portugueses ...................... 228 Figura IX.1 – Provável percurso seguido pelas partículas sedimentares “modernas” nos sectores estudados ........................................................................................................................ 236 Figura IX.2 – Ensaio de balanço sedimentar para a plataforma norte. Os lonsângulos, os quadrados e os círculos referem-se, respectivamente, às “entradas”, às “saídas” e à acumulação de material. Nos casos em que existem duas estimativas para o mesmo processo, a superior refere-se a partículas grosseiras e a inferior a partículas finas. Os símbolos ? e – correspondem a quantitativos, respectivamente, deconhecidos e diminutos. TER, BIO e AUT dizem respeito às componentes terrígena, biogénica e autigénica da areia. Estimativas em m³/ano .................................................... 238 Figura IX.3 – Ensaio de balanço sedimentar para a plataforma sudoeste. Os lonsângulos, os quadrados e os círculos referem-se, respectivamente, às “entradas”, às “saídas” e à acumulação de material. Nos casos em que existem duas estimativas
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para o mesmo processo, a superior refere-se a partículas grosseiras e a inferior a partículas finas. Os símbolos ? e – correspondem a quantitativos, respectivamente, deconhecidos e diminutos. TER, BIO e AUT dizem respeito às componentes terrígena, biogénica e autigénica da areia. Estimativas em m³/ano .................................................... 241 Figura IX.4 – Ensaio de balanço sedimentar para a plataforma algarvia. Os lonsângulos, os quadrados e os círculos referem-se, respectivamente, às “entradas”, às “saídas” e à acumulação de material. Nos casos em que existem duas estimativas para o mesmo processo, a superior refere-se a partículas grosseiras e a inferior a partículas finas. Os símbolos ? e – correspondem a quantitativos, respectivamente, deconhecidos e diminutos. TER, BIO e AUT dizem respeito às componentes terrígena, biogénica e autigénica da areia. Estimativas em m³/ano .................................................... 243 Figura X.1 – Classificação das reservas e recursos minerais do fundo do mar (segundo McKelvey, 1968) ............................................................................................................... 247 Figura X.2 – Diagrama ilustrativo das categorias usadas na classificação de Nickless .............................................................................................................................................. 250 Figura X.3 – Distribuição dos grupos texturais de Nickless (1973) ................................................ 252 Figura X.4 – Distribuição dos depósitos de inertes .......................................................................... 253 Figura X.5 – Áreas ocupadas pelos depósitos de inertes nos sectores estudados ............................. 254 Figura X.6 – Distribuição dos depósitos cascalhentos (a) e arenosos (b) na plataforma norte ................................................................................................................................. 254
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ÍNDICE DE QUADROS Quadro I.I – Parâmetros dos variogramas teóricos da média granulométrica da areia das amostras dos sectores estudados, segundo as direcções de máxima continuidade. ..................... 9 Quadro III.I – Características dos sectores da plataforma continental portuguesa considerados por Dias (1987) ............................................................................................................ 26 Quadro III.II – Algumas características dos principais rios que afluem ao litoral português (Dias, 1987) ....................................................................................................................... 35 Quadro III.III – Caudais (m³/s) de cheias importantes ocorridas no Douro nos séculos XVIII a XX, segundo Feio et al. (1950) e Loureiro et al. (1986) ........................................ 39 Quadro III.IV – Caudais (m³/s) de cheias importantes ocorridas no Guadiana nos séculos XIX e XX, segundo Ministério do Ambiente (1996) ............................................................ 41 Quadro IV.I – Estimativas do material presumivelmente transportado na totalidade (Sed. T.), junto ao fundo (T.F.) e em suspensão (T.S.) pelos principais rios que drenam para os sectores estudados, em regime natural ...................................................................... 52 Quadro IV.II – Estimativa do material presumivelmente transportado na totalidade (Sed. T.), junto ao fundo (T.F.) e em suspensão (T.S.) pelos principais rios que drenam para os sectores estudados, após a construção de barragens ................................................. 57 Quadro IV.III – Frequência (%) e velocidade média anual (km/h) das direcções do vento que atingiu a costa ocidental no período 1951-1980 (segundo Instituto Hidrográfico, 1990) ............................................................................................................................ 59 Quadro IV.IV – Alturas e períodos utilizados na estimação do potencial de remobilização induzidas pela agitação modal (Pires & Pessanha, 1986) e de tempestade (Costa, 1992/3/4) ............................................................................................................. 65 Quadro IV.V – Estimativas de diversos autores para a resultante anual da deriva litoral .................................................................................................................................................. 72 Quadro IV.VI – Valores médios dos azimutes, das celeridades e das componentes este-oeste (u) e norte-sul (v) de correntes obtidas nos sectores estudados. Os valores positivos representam componentes dirigidas para este (componente u) e para norte (componente v). Para cada parâmetro, o primeiro valor refere-se à situação de Verão e o segundo diz respeito à situação de Inverno ....................................................................... 76 Quadro IV.VII – Volumes sedimentares (VS) associados à subida do nível relativo do mar (NM) nos sectores estudados. Figuram ainda, para cada região, a extensão das praias (EP) e a distância à costa (DC) correspondente à profundidade de fecho do perfil de praia (PF) ....................................................................................................................... 79
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Quadro V.I – Resultados da aplicação do teste de Mann-Whitney aos sedimentos dos sectores estudados. A itálico encontram-se representadas os grupos de amostras que parecem apresentar maiores semelhanças ................................................................................... 93 Quadro V.II – Resultados da aplicação do teste de Mann-Whitney aos sedimentos dos sectores estudados. A itálico encontram-se representadas os grupos de amostras que parecem apresentar maiores semelhanças ................................................................................... 94 Quadro V.III – Características médias das variáveis consideradas para a partição da amostragem em grupos. Para cada variável indica-se a média, o desvio padrão e o domínio de variação ........................................................................................................................... 97 Quadro VI.I – Composição de grãos de quartzo ................................................................................ 168 Quadro VI.II – Análise química de grãos de glaucónia da plataforma continental (Magalhães et al., 1991c) ................................................................................................................... 176 Quadro VII.I – Taxas de acumulação determinadas nos depósitos lodosos ao largo do Minho (DM) e nas proximidades das cabeceiras do canhão submarino do Porto (DCP) ................................................................................................................................................. 185 Quadro VII.II – Comparação entre algumas caracteristicas dos depósitos das plataformas norte (A), sudoeste (B) e algarvia (C) ........................................................................... 200 Quadro VII.III – Comparação entre algumas caracteristicas dos depósitos das plataformas norte (A), sudoeste (B) e algarvia (C) .......................................................................... 201 Quadro VIII.I – Profundidades aproximadas a que se detectam indícios granulométricos de paleolitorais com base na variação da média da areia ........................................ 211 Quadro VIII.II – Profundidades aproximadas a que se detectam indícios granulométricos de paleolitorais em diferentes sectores da plataforma, com base na variação da média da areia ................................................................................................................. 214 Quadro VIII.III – Elementos morfológicos identificados nos sectores estudados ............................. 217 Quadro IX.I – Percentagens relativas mínimas e máximas de partículas "modernas" da fracção areia dos sedimentos superficiais ..................................................................................... 237 Quadro IX.II – Caudais sedimentares (em m³/ano/km²) correspondentes a diferentes processos e contribuições ................................................................................................................... 245 Quadro X.I – Características dos depósitos de inertes. Os valores fora de parêntesis indicam a média e os valores dentro de parêntesis referem-se ao domínio de variação .............................................................................................................................................. 251 Quadro X.II – Volume dos depósitos de inertes identificados nos sectores estudados ..................... 254 Quadro X.III – Características dos depósitos cascalhentos e arenosos da plataforma norte. Os valores fora de parêntesis indicam a média e os valores dentro de parêntesis referem-se ao domínio de variação ................................................................................................... 255
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RESUMO A plataforma continental portuguesa pode ser dividida em diversos sectores cujas características morfológicas, hidrográfico-climáticas e oceanográficas se reflectem nas respectivas coberturas sedimentares. O presente trabalho foca em particular o sector norte (a norte do cabo Mondego), o sector sudoeste (entre o canhão de Setúbal e o cabo de S. Vicente) e o sector sul (plataforma algarvia). A selecção dos três sectores considerados teve por base as características contrastantes dos processos de fornecimento 1 e de distribuição de partículas na plataforma continental, entre os quais se incluem o abastecimento fluvial e a agitação marítima. O sector norte é caracterizado por forte abastecimento fluvial, devido, entre outros factores, à grande área das bacias para aí drenantes (superior a 120 000 km²), à elevada pluviosidade média (superior a 1 000 mm/ano e ultrapassando 2 000 mm/ano nalgumas bacias hidrográficas), ao perfil relativamente jovem da maior parte dos rios que aí afluem e às litologias dominantes nessas bacias (em que avultam rochas granitóides e formações xisto-grauváquicas). Estas características contrastam fortemente com as do sector sudoeste, cuja área drenante é de apenas 2 600 km², em que a pluviosidade média é bastante inferior a 1 000 mm/ano, em que o pendor médio dos pequenos rios existentes é muito moderado, e em que as litologias dominantes são essencialmente constituídas por rochas xisto-grauváquicas. O sector sul contrasta também fortemente com o sector norte, visto que a área drenante é de 70 600 km², a pluviosidade média é bastante inferior a 1 000 mm/ano, o pendor médio dos pequenos rios aí existentes é pequeno, e as litologias dominantes são essencialmente constituídas por rochas carbonatadas e xisto-grauváquicas. Estas características localizam o sector sul numa posição intermédia entre os outros no que se refere aos factores mencionados. No que respeita à agitação marítima, existe marcado contraste entre os sectores da costa ocidental (norte e sudoeste) e sul. A ondulação mais frequente que atinge a coste norte caracteriza-se por período de 8 s e altura de 2 m. Estes valores diminuem para 7 s e 1,6 m no sector sudoeste e para 4,8 s e 0,93 m no sector sul. As características da agitação marítima associada a situações de tempestade apresentam também forte contraste. O estudo realizado no presente trabalho pretende averiguar em que medida os sedimentos superficiais não consolidados de cada um desses sectores reflectem essa diferenciação nos mecanismos forçadores dos processos de fornecimento e distribuição de partículas sedimentares. Pretende-se também quantificar, na medida do possível, a magnitude dos
1 O conceito segundo o qual este e outros termos são empregues no presente trabalho encontra-se no glossário final.
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volumes envolvidos nos principais processos de transferência de materiais, e identificar os pricipais recursos não vivos existentes na plataforma continental. Com o objectivo de identificar e interpretar o padrão geral de distribuição sedimentar recorreu-se à aplicação de técnicas de análise multivariada de dados, tendo sido utilizados os resultados provenientes das análises textural e da fracção grosseiras de cerca de 900 amostras de sedimentos. A técnica utilizada para a partição da amostragem conduziu ao estabelecimento de 8 grupos de amostras afins, cuja distribuição, que aparentemente revela controlo batimétrico, foi interpretada em termos de dinâmica sedimentar. Esta análise preliminar permitiu detectar algumas características comuns aos três sectores analisados, bem como outras específicas de cada um. São em seguida sucessivamente analisadas: as características texturais dos sedimentos, bem como a sua granolumetria e composição (com especial incidência na fracção areia); os diferentes tipos de partículas presentes nos sedimentos; as características gerais dos depósitos sedimentares e a aplicação de um esquema classificativo genético a estes depósitos. Os sedimentos da cobertura não consolidada da plataforma e vertente são geralmente grosseiros, o que indicia a presença de elevados níveis energéticos junto ao fundo. O tipo textural mais abundante é a areia. Todavia, encontram-se representadas todas as restantes classes consideradas no diagrama classificativo de Shepard (à excepção das classes argila e argila arenosa). A plataforma externa é mais lodosa, mais bioclástica e menos cascalhenta que a interna, à semelhança do que sucede geralmente a nível mundial. A distribuição do cascalho parece relcionar-se com as paleo-desembocaduras dos rios mais importantes, com os respectivos deltas de vazante e com paleolitorais. Verifica-se tendência geral para esta fracção ocorrer em duas faixas grosseiramente paralelas à costa, as quais são, por vezes, bastante mal definidas. De uma forma geral, os padrões de distribuição do cascalho terrígeno e das fracções mais grosseiras de quartzo parecem concordar com os esquemas de evolução pós-glaciária que têm sido propostos para os sectores estudados. As distribuições da fracção silto-argilosa e de alguns parâmmetros granulométricos e composicionais da areia parecem relacionar-se com as características dos materiais actualmente fornecidos pelos rios e/ou pelas arribas. A componente terrígena da areia é dominada por quartzo, enquanto que a componente carbonatada é predominantemente constituída por clastos de moluscos e carapaças de foraminíferos e a componente autigénica é constituída por glaucónia. O sector norte apresenta sedimentos fortemente cascalhentos em que a componente terrígena apresenta valores significativamente elevados, o que está de acordo com o bom abastecimento de materiais provenientes do continente que para aí foram e são drenados pelos numerosos rios que afluem ao litoral. Este abastecimento de origem fluvial que,
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presumivelmente, se atenuou recentemente, é certamente responsável pela existência de um depósito silto-argiloso de grande importância (pelo menos ao nível regional) junto das cabeceiras do canhão submarino do Porto. O cascalho ocorre principalmente na plataforma média, em ligação aparente com as paleo-desembocaduras do Ave, do Douro e, em menor extensão, do Cávado, e na plataforma externa, na qual é menos terrígeno e menos grosseiro, em ligação aparente com os afloramentos rochosos aí existentes. A distribuição de alguns parâmetros sedimentológicos sugere importação de materiais da região localizada imediatamente a norte. O desenvolvimento de trabalhos conjuntos com investigadores que estudem a plataforma galega permitirá o estudo global da plataforma galaico-minhota, podendo clarificar vários dos problemas relacionados com a proveniência dos sedimentos. Nalguns dos mapas analisados, existe acentuado contraste entre a plataforma externa localizada a norte e a sul do canhão submarino do Porto. A hipótese de diferenças de níveis energéticos actuantes junto ao fundo e resultantes da interação dos factores oceanográficos com a batimetria permite justificar tal facto. Constata-se ainda a existência de contraste latitudinal evidente, cujo ponto de inflexão se situa à latitude aproximada de 41ºN. Tal facto encontra-se possivelmente relacionado com diversos factores frequentemente interdependentes, como sejam: tipo de desembocadura dos rios principais; orientação geral da costa, da batimetria e do bordo da plataforma; ondulação dominante; intensidade da deriva litoral; presença de afloramentos de rochas consolidadas; e estado de abarrancamento do bordo da plataforma. No que se refere à areia, esta região apresenta características de sedimentação predominantemente terrígena até cerca dos 100 m de profundidade, bem como no bordo da plataforma. Abaixo desta profundidade predomina, em geral, a componente biogénica, a qual é dominada por clastos de moluscos e carapaças de foraminíferos. O sector sudoeste é dominado pela classe textural areia. A escassa diversidade textural destes sedimentos encontra-se provavelmente relacionada com a inexistência actual de rios importantes e com a regularidade de pendor e exposição à ondulação da plataforma. O padrão de distribuição dos sedimentos é significativamente diferente a norte e a sul de Sines. O facto de o bordo da plataforma apenas ser evidente na região setentrional permite explicar esta diferença de comportamento. A inexistência de bordo nítido a sul de Sines contribui possivelmente para uma maior mistura de partículas. A Veia de Água Mediterrânea e as correntes eventualmente associadas ao canhão de S. Vicente parecem desempenhar papel significativo na distribuição de alguns parâmetros sedimentológicos. A areia é dominada pela componente biogénica. É neste sector que ocorrem as mais elevadas percentagens de glaucónia, em possível relação com a intensidade do "upwelling" que aqui se verifica e a fraca “diluição” por partículas terrígenas.
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Por último, o sector que passa a ser referido por plataforma algarvia é o que apresenta maior diversidade de classes texturais. O cascalho e a areia são predominantemente bioclásticos. Os conteúdos em materiais silto-argilosos são geralmente elevados. Estas características indicam um contraste marcado com os sectores virados a oeste, sugerindo níveis energéticos substancialmente inferiores e forte deficiência, principalmente na parte ocidental, no abastecimento de elementos terrígenos das fracções areia e cascalho. Tal deficiência encontra-se relacionada com a inexistência de rios importantes, além do Guadiana, que afluam a esta região e com o tipo e constituição do relevo. É neste sector que os fragmentos de "beach-rock" são mais abundantes. Existe contraste longitudinal na distribuição de alguns parâmetros sedimentológicos. Tal facto encontra-se possivelmente relacionado com diversos factores, de entre os quais se podem citar: presença de sistema de ilhas-barreira; diferenças de níveis energéticos actuantes junto ao fundo; orientação geral da costa, da batimetria e do bordo da plataforma; ondulação dominante; intensidade da deriva litoral; estado de abarrancamento do bordo da plataforma. A observação à lupa binocular das partículas mais abundantes (grãos de quartzo, clastos de moluscos, carapaças de foraminíferos e grãos de glaucónia) permitiu identificar partículas presumivelmelmente integradas no actual ciclo deposicional (modernas) e partículas retomadas de anteriores ciclos (relíquia). No caso específico dos grãos de quartzo, são ainda apresentados dados de composição química e de observações efectuadas com o microscópio electrónico de varrimento. A integração das características granulométricas e composicionais das amostras colhidas nas sectores estudados permitiu identificar diversos depósitos sedimentares. Foram identificados depósitos areno-cascalhentos na plataforma média (nos três sectores), na plataforma externa (no sector norte) e no bordo da plataforma (no sector sudoeste). Os depósitos arenosos distribuem-se desde a zona litoral até à vertente continental superior. No sector norte detectou-se a existência de depósitos areno-siltosos. Na plataforma média e externa e na vertente continental superior dos três sectores foram cartografados depósitos lodosos. Os depósitos identificados encontram-se relacionados com o ciclo de deposição actual ou, pelo contrário, exibem carácter relíquia. Por exemplo, os depósitos areno-cascalhentos correspondem a sedimentos que se terão constituído durante períodos de abaixamento do nível relativo do mar que interromperam a transgressão generalizada ocorrida durante o último período pós-glaciário. As observações efectuadas à lupa binocular e a análise dos processos de fornecimento e de distribuição de partículas operantes nos sectores estudados permitiram aplicar um esquema de classificação genética dos sedimentos utiliza as inter-relações existentes entre estes processos. Os depósitos modernos, em fase activa de formação, correspondem, de acordo as partículas que os constituem, a sedimentos neotéricos (partículas modernas), a sedimentos
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protéricos (partículas antigas) ou a sedimentos anfotéricos (constituídos por ambos os tipos de partículas). Os depósitos relíquia, constituídos no passado, são classificados como sedimentos palimpsestos (se contiverem partículas modernas e relíquia) ou como sedimentos relíquia (se não se encontarem contaminados por partículas recentes). Os depósitos lodosos, areno-lodosos e areno-siltosos correspondem a sedimentos neotéricos com ligeira tendência anfotérica. Os depósitos arenosos correspondem a sedimentos que variam desde neotéricos (na plataforma interna e em parte da média) a palimpsestos (em parte do bordo da plataforma e da vertente continental superior). Os depósitos areno-cascalhentos são sedimentos anfotéricos a palimpsestos. As fracções granulométricas mais grosseiras têm características palimpsésticas, chegando a ser relíquias ou protéricas; a fracção intermédia é anfotérica; as fracções mais finas da areia são geralmente neotéricas, embora com tendência anfotérica variável; as fracções silte e argila são, provavelmente, neotéricas. Os dados obtidos permitiram elaborar balanços sedimentares simplificados para as regiões analisadas, correspondentes a tentativas preliminares de quantificar a magnitude dos processos responsáveis pela transferência de materiais. Apenas foram explicitamente considerados o continente emerso, a zona litoral, a plataforma continental sensu strictu e profundidades superiores à mesma. A sua análise permite comparar a importância de alguns processos e mecanismos operantes ao nível da dinâmica sedimentar, os quais se podem relacionar com os condicionalismos específicos de cada região. Além destes esquemas de balanço que, até cero ponto, consideram a plataforma como um sistema “fechado”, são apresentados esquemas de síntese que pretendem representar o percurso seguido pelas partículas sedimentares. A elevação do nível do mar que constitui a transgressão flandriana é um dos principais mecanismos que condicionam o padrão de distribuição dos sedimentos não consolidados. A granulometria e a composição dos sedimentos superficiais dos sectores estudados, bem como os traços morfologicos detectados e a cartografia de pendores, sugerem que, embora apenas parcialmente, a curva de variação do nível relativo do mar anteriormente proposta para a plataforma continental setentrional é igualmente aplicável à região a sul do canhão submarino de Setúbal. A utilização de tal pressuposto permitiu apresentar presumíveis configurações de paleo-litorais em divesos estádios da evolução pós-glaciária. Contudo, as datações disponíveis na bibliografia a que se teve acesso indicam que, contrariamente ao que tem sido defendido por diversos autores, o nível do mar se aproximou da presente cota há cerca de 6 000 anos. Os recursos minerais da plataforma continental portuguesa que apresentam maior viabilidade de exploração são as areias e os cascalhos. A extensa área que estes depósitos ocupam, em especial na plataforma norte, as suas características e as profundidades médias a que ocorrem impõem-nos como alternativa válida às explorações tradicionais. A viabilidade
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económica da sua exploração é ainda aumentada pela existência de diversas instalações portuárias e de vários rios importantes nas proximidades destes depósitos, bem como a sua adjacência a diversos pólos consumidores importantes (cidades e zonas industriais). Não foram ainda encontradas evidências conclusivas da existência de petróleo na margem continental portuguesa. No entanto, a análise de perfis sísmicos obtidos na região entre os cabos Raso e Espichel permitiu identificar outros hidrocarbonetos (provavelmente metano) nos sedimentos da plataforma continental. É ainda de assinalar a ocorrência de glaucónia, fosforite e sal-gema.
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ABSTRACT Several sectors with distinctive geological, morphological, hydrographic, climatologic and oceanographic characteristics can be individualised in the portuguese continental shelf. The present work rests on a comparative study of the northern sector (north of Cabo Mondego), of the southwestern sector (between the Setúbal Canyon and the Cabo de S. Vicente) and of the southern one (Algarve shelf). These sectors were selected on the basis of the contrasting characteristics of the processes that supply and distribute particles over the continental shelf, namely river input and wave climate. The northern sector is characterised by strong river input. The drainage basins of the major rivers, which are dominated by granites and schist-graywacke formations, cover a large area of more than 120 000 km². In addition, there is a strong rainfall (its mean value being higher than 1 000 mm/year and reaching 2 000 mm/year in some basins) and rivers have relatively young profiles. These characteristics show a strong contrast with those of the south-western sector, whose draining area (which is dominated by carbonate rocks and schist-graywacke formations) is only 2 600 km², whose average rainfall is much lower than 1 000 mm/year, and in which the existing small rivers have low gradients. The southern sector also shows a strong contrast with the northern one, the draining area being 70 600 km². River gradients and average rainfall are similar to the ones of the southwestern sector. On the basis of these characteristics, the southern sector occupies an intermediate position as far as river input is concerned. The three sectors are also characterised by very distinct wave climates. The predominant waves that arrive to the northern sector are characterised by 8 s periods and 2 m heights. These values decrease to, respectively, 7s and 1.6 m in the southwestern sector and to 4.8 s and 0.93 m in the southern sector. As expected, wave climates associated with storms are also very different. The present work aims at determining to what extent does the unconsolidated sediment cover of the continental shelf reflect the differences in the supplier and distributor processes. Two other objectives of this study are the quantification of the volumes involved in the major sediment transfer processes and the identification and characterisation of the most important minerals resources of the continental shelf will be identified. Textural and coarse fraction analysis of around 900 samples were integrated and submitted to a clustering technique in order to derive clusters of «close» samples. The distribution of such clusters, which appears to be depth controlled, was interpreted on the basis of their characteristics and related to the major sedimentary dynamics' mechanisms
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which operate on the shelf. This analysis allowed the detection of some characteristics that are common to all three sectors and of others which are only related to a particular sector. The following aspects are subsequently discussed: a) the sediment texture, grain-size and composition, with a special emphasis on the sand fraction; b) the different types of modern and relict sedimentary particles; c) the characterisation and genetic classification of the sedimentary deposits mapped in all sectors. Surface sediments from the shelf and upper slope are predominantly coarse-sized (sandy), being related with high energy levels close to the bottom. With the exception of clay and sandy clay, all the textural types included in Shepard's classification diagram were detected. As detected elsewhere in the world, outer shelf sediments are generally muddier than those found in the inner shelf. These are characterised by higher contents of river-borne particles and gravel. Gravel is seemingly related with ancient major river mouths and connected ebb deltas, as well as with ancient shorelines. Material of this grain-size tends to occur along two broadly shore-parallel bands, which are sometimes very poorly defined. The distributions of the muddy fraction and of sand grain-size and composition are apparently related to the characteristics of materials that are currently being supplied by rivers and/or by cliffs. Some distribution patterns (e.g., of terrigenous gravel and of the quartz coarser fractions) appear to generally agree with the post-glacial schemes that have been proposed for the studied regions. The terrigenous sand component is generally dominated by quartz, whereas the carbonate component of this fraction is included in the "foramol" association and authigenic materials correspond mainly to glaucony. High gravel contents are detected in some sediments from the highly drained northern sector, in agreement with an intense ancient and present river supply, which could also be responsible for a large muddy deposit which occurs near the heads of the Porto submarine canyon. Recently, however, this supply has probably been drastically reduced. Gravel occurs mainly in the mid shelf (in apparent relation with the Ave, the Douro and, to a lesser extent, the Cávado, river mouths) and in the outer shelf (poorer in the terrigenous component and probably related with rocky outcrops). Some material is probably coming from the north, as suggested by the distribution of some sedimentological characteristics. This hypothesis must be confirmed by future joint research studies carried out in the Galician shelf, allowing for the global study of the north-iberian shelf. The strong contrast found in the outer shelf north and south of the Porto submarine canyon is possibly related to differences in energy levels which occur close to the bottom, as a consequence of the interaction of bathimetry and oceanographic factors.
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The sedimentological pattern reveals an evident contrast north and south of 41º N. Among the frequently inter-dependent factors which could be helpful in explaining this latitudinal dissimilarity, the following can be included: type of river mouths; differences in coastal, bathimetry and shelfbreak general direction; different wave climates; longshore drift currents with different magnitudes; presence or absence of rocky outcrops; and shelfbreak morphological differences. Sand is dominantly terrigenous until -100m, as well as near the shelfbreak. In between, biogenic particles (namely, molluscs and foraminifers) are predominant in this fraction. The sand textural type dominates the southwestern sector. The scarcity in textural diversity is probably related to the absence of presently important rivers and to the regularity in the shelf's slope and exposure to wave action. Sediment distribution patterns are significantly different north and south of Sines. The shelfbreak is not clearly marked south of Sines, probably accounting for a higher degree of particle mixture. The Mediterranean outflow and the currents that are possibly connected with the S. Vicente canyon seem to play an important role in the distribution of some sedimentological parameters. Sand is dominantly made of river-borne particles. The highest glaucony contents in sand are found in this sector, in relation with upwelling intensity. The greatest diversity in textural classes occurs in the southern sector. Gravel and sand are dominated by bioclastic particles. Mud contents are generally high. The overall characteristics of sediments from this sector and from the other two are quite different, suggesting lower energy levels in the Algarve and pointing towards a strong deficiency of terrigenous sand and gravel elements, which seems to be more acute in the western Algarve. This deficiency is probably related with the absence of important rivers draining to this shelf, with the exception of the Guadiana, and with the prevailing morphologies and lithologies. The highest beach-rock contents are detected in this area. Several factors are probably responsible for the evident longitudinal contrast detected in the distribution of some sediment characteristics. The following can be considered: presence of a barrier-island system; differences in coastal, bathimetry and shelfbreak general direction; different wave climates; longshore drift currents with different magnitudes; and shelfbreak morphological differences. Several deposits were identified on the basis of sediment texture and composition. Gravely sand deposits occur in the mid shelf (in all sectors), in the outer shelf (in the southwestern sector) and in the shelf (in the northern sector). Sandy deposits occur in a wide depth range, from the littoral to the upper slope. Silty sand deposits were mapped north of Cabo Mondego. Muddy deposits were identified in the mid and outer shelf and in the upper slope of all deposits.
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Quartz, mollusc, foraminifers and glaucony particles were examined under a binocular microscope. This led to the identification of particles that are presently being deposited and of those, which are inherited, from previous deposition cycles. In the case of quartz grains, data concerning composition and observations under a scanning electron microscope are also presented. The identified deposits are related with the present deposition cycle or, on the contrary, reveal a relict character. For instance, gravely sand deposits were probably formed during periods of relative sea level low stands that have probably interrupted the generalised transgression induced by the last deglaciation. In the mid shelf, they seem to be more defined and continuous than those occurring at greater depths. The latter are presumably older and have, therefore, undergone more changes since they were first deposited. The observations under the binocular microscope were combined with the analysis of the processes that supply and distribute particles over the shelf and slope in order to apply a genetic classification scheme that uses the existing relations between those processes. Actively forming deposits are classified on the basis of whether the constituent particles are modern (neoteric sediments), ancient (proteric sediments) or a combination of both (amphoteric sediments). Deposits formed in the past are similarity classified on the basis of whether they contain entirely ancient particles (relict sediments) or an admixture of modern and ancient particles (palimpsest sediments). According to this classification, muddy, muddy sand and silty sand deposits are neoteric, slightly amphoteric sediments. Sandy deposits correspond to sediments which range from neoteric (in the inner shelf and in some areas of the mid shelf) to palimpsest (in some areas of the shelfbreak and upper slope). Gravely sand deposits have an amphoteric to palimpsest character. The coarsest fractions exhibit palimpsest or even relict or proteric characteristics; medium sand is amphoteric; the finer sand fractions are generally neoteric, with a variable amphoteric tendency; clay and silt are probably neoteric. Simplified sedimentary budgets were elaborated using all the obtained data, as preliminary attempts to quantify the magnitude of processes which influence material transfer, allowing for the assessment of the importance of some processes and mechanisms related with sedimentary dynamics. Only the continent, the nearshore zone, the continental shelf (sensu strictu) and greater depths were explicitly considered in these budgets, in which the continental shelf is, to some extent, viewed as a “closed” system. Their analysis allows the comparison of the major processes and mechanisms related with the sedimentary dynamics of each sector. The possible paths undergone by sediment particles are also schematically presented. Sea-level rise corresponding to the flandrian transgression is a very important forcing mechanism of the sedimentary cover distribution pattern. Sediment grain-size and
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composition, as well as geomorphologic evidence, suggest that the sea-level curve which has been proposed can also, to some extent, be applied for the region south of Setúbal canyon. This has allowed the mapping of possible ancient shorelines in different stages if the post-glacial evolution. However, the available 14C dates indicate that present sea level was attained around 6,000 years BP and not earlier, as suggested in some previous studies. The mineral resources that are more likely to be exploited in the near future are sands and gravels. The large area occupied by these deposits, particularly in the northern sector, as well as their characteristics and depths of occurrence, makes them a valid alternative to traditional exploitations. The economical feasibility of their exploitation is increased by the existence of several harbours and important rivers in the vicinity of these deposits, and of their closeness to several consumption areas (namely, cities and industrial areas). No conclusive evidences of oil in the portuguese continental margins were yet found. However, the analysis of seismic reflection profiles obtained in the area between the Raso and Espichel capes has revealed the possible presence of other hydrocarbons (probably methane) in sediments. Some areas that are enriched in glaucony, phosphorite and salt have also been detected.
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AGRADECIMENTOS
A execução do presente trabalho não teria sido possível sem a contribuição de diversas pessoas e entidades, a quem desejo expressar os mais sinceros agradecimentos, nomeadamente: ao Prof. Galopim de Carvalho, co–responsável pela orientação da presente dissertação; ao Prof. Alveirinho Dias, que me incutiu o gosto pela Geologia Marinha, pela orientação, críticas e sugestões no decurso do trabalho; ao saudoso Prof. Luís Saldanha, pela identificação de algumas partículas de briozoários e de coraliários; ao Prof. Magalhães Ramalho, pela identificação de algumas partículas de foraminíferos; ao Prof. Fernando Barriga, pela determinação da composição de grãos de glaucónia com a microssonda electrónica; à Prof. Teresa Azevedo, pelo auxílio na interpretação das fotografias dos grãos de quartzo ao microscópio electrónico de varrimento (SEM); à Prof. Helena Bacelar Nicolau, pelo apoio estatístico e informático; ao Dr. Guto Roberts, pela determinação da composição de grãos de quartzo com o auxílio do SEM; ao Eng. Monge Soares, pelas datações por 14C; ao Eng. Carlos Sá, pelas análises químicas e fotografias ao SEM; à Dra. Manuela Matos e a Júlio Cunha, Amélia Paiva, Fernanda Leal e Aida Seabra pela colaboração prestada no processamento laboratorial da amostragem; a António Chaveiro, pelas fotografias ao SEM; a Helder Borges, pelos difractogramas realizados; a todos os colegas do grupo DISEPLA pelo apoio manifestado desde o início dos trabalhos que conduziram à realização da presente dissertação e pelas frutuosas discussões durante a elaboração da mesma. De entre estes, é da mais elementar justiça salientar a prestimosa colaboração de Rui Taborda nas componentes informática e gráfica da mesma, bem assim como na discussão sobre os processos de fornecimento e distribuição de partículas e sobre as variações do nível do mar. Agradeço ainda a colaboração de Teresa Drago na digitalização de diversas cartas, de Anabela Oliveira no processamento laboratorial de parte da amostragem, de Aurora Rodrigues na disponibilização de algumas interpretação realizadas no âmbito das suas actividades e de Hélder Pereira na cedência de resultados inéditos de datações por 14C; ao Museu Nacional de História Natural (Mineralogia e Geologia), na pessoa do seu Director, pelas facilidades concedidas para a realização do presente estudo, traduzidas
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nomeadamente na disponibilização de instalações e da lupa binocular e na colaboração de diversos técnicos que aí trabalham; ao Instituto Hidrográfico, na pessoa do seu Director-Geral, pela cedência de dados e amostras colhidos no âmbito do programa SEPLAT, bem como pela disponibilização de dados de correntometria e pelas facilidades concedidas para a realização do presente estudo; à Fundação para a Ciência e a Tecnologia, ex–Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, pelo imprescindível apoio financeiro, traduzido no subsídio de diversos projectos no âmbito dos quais este trabalho foi desenvolvido e na atribuição de diversas bolsas de investigação. A meus pais, um agradecimento especial, por me incutirem o gosto do saber e o culto da verdade.
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I. INTRODUÇÃO
1. Objectivos A plataforma continental portuguesa pode ser dividida em diversos sectores cujas diferentes características fisiográficas, oceanográficas e de dinâmica costeira se reflectem nos sedimentos aí presentes. As características morfológicas e de abastecimento sedimentar de cada sector, bem como os factores oceanográficos mais relevantes (ondas, correntes, marés e "upwelling") permitem esboçar algumas hipóteses de relações sobre o tipo de sedimentação ocorrente em cada um deles e as configurações actuais e passadas dos principais processos de fornecimento e de distribuição de partículas nos respectivos depositários.
A análise dos elementos disponíveis nos estudos até agora efectuados sobre a cobertura sedimentar da plataforma continental portuguesa permite concluir que, de facto, existem diferenças significativas e bem marcadas nos sedimentos presentes nos diversos sectores passíveis de individualização. O presente trabalho versa sobre a cobertura sedimentar de três desses sectores, localizados a norte do cabo Mondego, entre o canhão submarino de Setúbal e o cabo de S. Vicente, e entre o cabo de S. Vicente e o rio Guadiana (fig. I.1), os quais serão designados por plataformas norte, sudoeste e algarvia, respectivamente. Fica um troço vazio entre os dois primeiros, correspondente à área entre o cabo Mondego e o canhão submarino de Setúbal, que não é abordado devido à inexistência de amostragem ou à morosidade inerente ao tratamento laboratorial da mesma. A selecção dos sectores estudados teve por base as características contrastantes dos mecanismos de
fornecimento e de distribuição de partículas. O estudo das respectivas coberturas sedimentares permite avaliar a influência das especificidades próprias de cada sector, que se deverão repercutir na magnitude dos volumes sedimentares envolvidos nos principais processos de transferência de materiais. Pretende-se ainda inventariar os principais recursos não vivos da plataforma continental e, na medida do possível, proceder à sua caracterização e quantificação volumétrica.
-100000.00 0.00 100000.00
A
B
C
Figura I.1 – Sectores estudados.
2
2. Métodos utilizados Para os objectivos do presente trabalho foram estudadas 903 amostras de sedimentos superficiais das plataformas norte (417), sudoeste (250) e algarvia (236). 2.1. Trabalhos de mar As amostras foram colhidas entre a zona litoral e a vertente continental superior, utilizando colhedores tipo "Van Veen", "Smith-McIntyre" e "Shipeck" (fig. I.2), durante um período de cerca de 20 anos. A plataforma algarvia foi amostrada entre 1974 e 1982, o sector sudoeste entre 1979 e 1985, e a região a norte do cabo Mondego entre 1986 e 1991. As operações de colheita foram realizadas no decurso de diversos cruzeiros promovidos pelo Instituto Hidrográfico a bordo, principalmente, dos Navios Oceanográficos «Almeida Carvalho», «Andrómeda», «Auriga» e «D. Jeremias», tendo a sua localização sido efectuada através dos sistemas de posicionamento Raydist, Trisponder e Magnavox. No decurso destes cruzeiros foi ainda obtida informação batimétrica em contínuo, bem como perfis de reflexão sísmica (utilizando um sistema tipo Sparker 72 J e 1000 J) e de sonar de pesquisa lateral.
2.2. Procedimento laboratorial O tratamento laboratorial das amostras foi realizado no Laboratório de Sedimentologia do Instituto Hidrográfico, utilizando a metodologia aí em uso, isto é: ataque com peróxido de hidrogénio para destruição da matéria orgânica, lavagem com água destilada para eliminar os sais dissolvidos e peneiração por via húmida utilizando crivos de 2 mm e 63 µm, para obtenção das fracções cascalho, areia e silto-argilosa. A fracção areia (e a fracção cascalho, quando presente em quantidade superior a 5% da amostra) foi posteriormente peneirada a seco de 1 Ø em 1 Ø com vista à obtenção de alíquotas para observação à lupa binocular. A peneiração das areias serviu ainda para determinar a sua granulometria. A granulometria da fracção areia das amostras colhidas entre os paralelos dos rios Minho e Cávado foi também efectuada com uma balança de sedimentação tipo Gibbs (1974) construída no Instituto Hidrográfico, na qual a altura da queda das partículas é de 162,5 cm. A análise granulométrica da fracção silto-argilosa foi efectuada pelo método da pipetagem. As fracções resultantes da peneiração da areia foram examinadas à lupa binocular no Museu Nacional de História Natural e no Instituto Hidrográfico, utilizando método análogo ao descrito por Shepard & Moore (1954). Em cada fracção determinou-se a frequência de cada uma das seguintes classes composicionais consideradas em Dias (1987): quartzo, mica, agregados (fragmentos líticos, arenitos com cimento carbonatado e agregados silto-argilosos),
3
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C. S
. Vice
nte
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45' 7º 40'8º 48'
50
150
100Sagre
s
C. Porti
mão
Rocha Amostra de sedimento
Figura I.2 – Mapa de amostragem. outros terrígenos (nomeadamente feldspatos e minerais pesados), moluscos, foraminíferos planctónicos, foraminíferos bentónicos, equinodermes (espículas, placas e fragmentos de carapaças), outros biogénicos (classe na qual se incluíram partículas derivadas de outros organismos, entre os quais ostracodos, briozoários e espículas de espongiários), glaucónia e outros (não identificados, carvão e escória). Com base na composição de cada fracção, determinou-se a composição total da areia. Foram também registadas as características
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morfoscópicas mais evidentes dos principais tipos de grãos presentes em cada fracção observada. Também o cascalho foi examinado à lupa binocular para determinar se a componente mais importante era a terrígena ou a biogénica, quais os constituintes de cada uma e quais as características dos tipos de grãos presentes em cada fracção (por exemplo, o estado de rolamento dos grãos de quartzo). As classes consideradas foram as seguintes: quartzo, mica, outros terrígenos monominerálicos, quartzitos, xistos, granitos, calcários, outros terrígenos poliminerálicos, moluscos, foraminíferos, equinodermes, outros biogénicos, carvão e escória. A percentagem de carbonato de cálcio foi calculada a partir da medição gasométrica do dióxido de carbono libertado após a digestão de uma toma das amostras com ácido clorídrico, segundo o método descrito por Hulseman (1966). O carbono total foi determinado com o auxílio do "LECO carbon determinator" e o carbono orgânico pela diferença entre o carbono total e o carbono dos carbonatos. 2. 3. Tratamento dos dados sedimentológicos Os parâmetros granulométricos utilizados neste trabalho foram calculados através da formulação de Folk & Ward (1957). Os dados provenientes da análise com o sedimentómetro de areias foram tratados em computador, utilizando um programa adaptado e modificado a partir do programa SEDIME 3 (Dias, 1978), que determina a classificação textural do sedimento, as modas e os parâmetros granulométricos e imprime ainda as curvas de distribuição e acumulativa. Os dados utilizados para a determinação da média granulométrica da totalidade do sedimento foram os pesos das fracções de peneiração da areia e do cascalho e as quantidades de silte e de argila determinadas por pipetagem, assumindo que a percentagem de argila nas classes superiores a 12 Ø é nula. Foram também calculadas a média, a calibragem e a assimetria da areia, que são parâmetros tradicionalmente usados em sedimentologia e que constituem descritores de uma curva de Gauss, à qual se assimila a curva de distribuição em estudo. Quando esta apresenta mais do que uma moda e se afasta da curva de Gauss, como acontece na maior parte dos casos estudados, esses descritores perdem, obviamente, eficácia (Dias, 1987). O significado sedimentológico destes parâmetros parece diminuir com o grau ou ordem dos momentos com base nos quais são determinados. Em consequência, a média é o parâmetro, dos atrás referidos, que parece apresentar maior significado sedimentológico (Magalhães et al., 1988). Neste trabalho são utilizados dois parâmetros que se referem à calibragem da areia. Desde há muito tempo se verificou que o coeficiente de calibragem é dependente da média granulométrica (p. ex: Krumbein & Aberdeen, 1937; Inman, 1949; Griffiths, 1951; Emery & Stevenson, 1957), tendo Inman (1952) concluído que, em geral, os sedimentos com médias de 0,1 a 0,2 mm exibem, normalmente, as melhores calibragens. Walger (1962), utilizando
5
numerosos exemplos de várias áreas do mundo, demonstrou a existência de uma dependência sistemática entre estes parâmetros granulométricos. Segundo os diagramas apresentados por este autor, a areia fina (2 a 3 Ø) tende a apresentar os valores mais baixos de calibragem, tornando-se as areias mais finas e mais grosseiras progressivamente menos bem calibradas. A dependência entre a média e a calibragem conduziu Walger (1962) ao estabelecimento do conceito de calibragem elementar (calibragem óptima atingível pelo material com dada dimensão granulométrica), a qual, relacionada com o valor de calibragem desse material, permite a determinação do coeficiente de calibragem relativa, que é independente da média. No presente trabalho, a determinação do coeficiente de calibragem relativa foi efectuado utilizando as tabelas apresentadas por Flemming (1977) Os dados utilizados no presente trabalho encontram-se armazenados em diversos ficheiros de acesso sequencial e/ou aleatório. A maioria destes dados diz respeito a variáveis relacionadas com a fracção grosseira dos sedimentos (areia e cascalho), que é a mais pormenorizadamente descrita e analisada no decurso do presente trabalho. Fundamentalmente, os ficheiros de acesso sequencial incluem dados que, após o seu armazenamento, não são objecto de tratamento posterior. É o caso da localização das amostras (coordenadas X e Y e profundidade), do seu teor em carbonatos e em carbono, e do seu conteúdo nas diferentes fracções texturais (cascalho, areia, silte e argila). A primeira coluna de todos os ficheiros sequenciais corresponde ao número de acesso das amostras estudadas. Por outro lado, a utilização de ficheiros de acesso aleatório possibilita maior rapidez na inclusão de novos registos e na obtenção dos seus valores, permitindo ainda condensação maior da informação contida em cada registo, pois que os valores numéricos são convertidos em «strings» de 2 "bytes" e os valores de precisão simples em «strings» de 4 "bytes". Os registos incluídos nestes ficheiros correspondem ao peso das fracções resultantes da peneiração da areia e do cascalho, e ao número de grãos contados em cada uma das referidas fracções. Estes dados de base são posteriormente tratados por dois programas desenvolvidos em BASIC (versão Quick-BASIC), que trabalham, respectivamente, os dados correspondentes ao cascalho e os relativos à areia. A utilização destes programas permite obter a frequência e a composição de cada uma das fracções do cascalho e da areia, assim como a composição total das referidas fracções texturais. Todos estes dados se encontram reunidos numa única base de dados. Na sua construção, feita através da combinação de diferentes ficheiros sequenciais por intermédio de um programa escrito em BASIC, foram utilizados mecanismos de aviso e/ou salvaguarda para minimizar as possibilidades de erro e/ou de inconsistência da base de dados. Com os dados obtidos efectuou-se um tratamento estatístico sumário, construíram-se diagramas integrando a informação sedimentológica obtida (como os preconizados por Shepard, 1973) e desenharam-se mapas de distribuição regional das diferentes variáveis.
6
Os mapas de distribuição regional das variáveis sedimentológicas cujos valores possuem uma distribuição contínua foram traçados automaticamente, tendo, com esse objectivo, sido aplicado conceitos relativos à análise espacial das mesmas. As caracterísicas exibidas pelos sedimentos e cujos padrões de distibuição serão discutidos em capítulo posterior correspondem a variáveis regionalizadas, cujos valores dependem fortemente da localização das amostras (latitude, longitude e profundidade). No entanto, esta dependência não é determinista. Na realidade, o comportamento destas variáveis caracteriza-se pela coexistencia de uma componente aleatória, relacionada com a irregularidade do fenómeno que se pretende analisar, e de uma componente estruturada, que traduz a correlação existente entre os diversos locais onde a variável foi amostrada. Estas variáveis encontram-se intimamente ligadas ao seu suporte, entendido como o volume e orientação espacial de uma determinada amostra. As variáveis regionalizadas podem exibir comportamento anisótropo, o que evidencia continuidade espacial diferente segundo direcções distintas. A anisotropia é normalmente visualizada através da construção de variogramas experimentais, que representam os valores da variância em função da distância entre os pontos amostrados. O ajuste destes variogramas a um modelo teórico permite obter um adequado modelo conceptual necessário para a construção de mapas de distribuição de parâmetros sedimentológicos através do traçado automático de isolinhas por computador. Foi utilizada a krigagem como estimador da distribuição espacial das variáveis analisadas. A comparação entre diversos métodos de estimação permite concluir ser a krigagem o que geralmente produz melhores estimativas (Isaaks & Shrivastava, 1989). Este método apresenta ainda as vantagens de considerar a anisotropia espacial dos dados e quantificar os erros associados às estimativas obtidas (Davis, 1986). Segundo Magalhães & Taborda (1995), a utilização da geostatística apresenta diversas vantagens em relação aos métodos tradicionais de cartografia sedimentar. Efectivamente, os métodos baseados na aplicação destes conceitos são rápidos, eficientes e menos sujeitos a factores subjectivos. A correcta aplicação do método proposto por estes autores permite ainda obter indicações relevantes para o melhor conhecimento dos mecanismos relacionados com a dinâmica sedimentar da plataforma continental, contribuindo de forma decisiva para o aperfeiçoamento de um modelo conceptual que integre e interrelacione os diversos mecanismos e factores envolvidos na mesma. Não obstante as referidas vantagens, é reduzido o número de trabalhos publicados sobre os sedimentos das plataformas continentais que aplicam este método de análise, contrariamente ao que sucede, por exemplo, em hidrogeologia (p. ex.: Chambel & Almeida, 1990) ou em biologia (p. ex: Freire et al., 1992)
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Não é objectivo do presente trabalho efectuar uma análise geostatística aprofundada. Por essa razão, apenas se referem os aspectos directamente relacionados com a aplicação da variografia e da krigagem à elaboração de mapas de distribuição. As variáveis analisadas exibem geralmente elevada anisotropia espacial. Na plataforma continental virada ao Atlântico, as direcções de máxima e mínima continuidade espacial são, respectivamente, N-S e E-W. Estas direcções invertem-se na plataforma algarvia (fig. I.3).
-5000 0 5000Separação segundo E-W (m)
NORTE
-10000
-5000
0
5000
10000
Sepa
raçã
o se
gund
o N-
S (m
)
-5000 0 5000
Separação segundo E-W (m)
SUDOESTE
-10000
-5000
0
5000
10000
Sepa
raçã
o se
gund
o N-
S (m
)
-6000 -2000 2000 6000
Separação segundo E-W (m)
ALGARVE
-4000
-2000
0
2000
4000
Sepa
raçã
o se
gund
o N-
S (m
)
Figura I.3 – Mapas de isolinhas da superfície dos variogramas experimentais da média granulométrica da areia dos sectores estudados. Esta anisotropia encontra-se certamente relacionada com a acção dos processos responsáveis pela distribuição de partículas na plataforma. As principais direcções de anisotropia foram utilizadas no cálculo dos variogramas direccionais. Na fig. I.4 apresentam-se, a título exemplificativo, variogramas direccionais da média granulométrica da areia, calculados segundo a direcção de máxima continuidade espacial para cada sector. Os variogramas experimentais obtidos através da utilização do programa VARIOWIN (Pannatier, 1993) foram, na maioria dos casos, ajustados a modelos exponenciais definidos pelo patamar w , pelo alcance a e pelo efeito pepita C. O quadro I.I indica os valores de w, de a e de C para os variogramas da fig. I.4. Os diferentes alcances segundo as principais direcções de anisotropia (dita geométrica, visto o valor do patamar se manter inalterável) permitiram definir a respectiva elipse. Os parâmetros resultantes do ajuste dos variogramas experimentais foram utilizados na estimação por krigagem, através do programa SURFER for Windows (Golden Software, 1994), da distribuição espacial das variáveis analisadas, segundo uma malha regular. Este método de estimação foi posteriormente utilizado na construção de mapas de distribuição de parâmetros sedimentológicos através do traçado automático de isolinhas por computador.
8
NORTE
--- VALORES TEORICOS
VALORES EXPERIMENTAIS
Gama
Distancia (m)
0
.32
.64
.96
1.28
1.6
0 18000 36000 54000 72000 90000
SUDOESTE
--- VALORES TEORICOS
VALORES EXPERIMENTAIS
Gama
Distancia (m)
0
.24
.48
.72
.96
1.2
0 19000 38000 57000 76000 95000
ALGARVE
--- VALORES TEORICOS
VALORES EXPERIMENTAIS
Gama
Distancia (m)
0
.17
.34
.51
.68
.85
0 18000 36000 54000 72000 90000
Figura I.4 – Variogramas experimentais e teóricos da média granulométrica da areia das amostras dos sectores estudados, segundo as direcções de máxima continuidade. Quadro I.I – Parâmetros dos variogramas teóricos da média granulométrica da areia das amostras dos sectores estudados, segundo as direcções de máxima continuidade.
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Sectores Norte Sudoeste Algarve
w 0.9083 0.5794 0.7479 a 37500 52500 13500 C 0.4 0.35 0.02
Nestes mapas foi incluída também a delimitação dos afloramentos de rocha consolidada. Recorreu-se, para tal, a informação expressa em diversos trabalhos, de entre os quais se referem os de Instituto Hidrográfico (1986a, 1986b) e de Rodrigues & Ribeiro (1992/3/4).
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II. TRABALHOS ANTERIORES
1. A evolução no conhecimento da plataforma
A primeira referência aos sedimentos da margem continental portuguesa (fig. II.1)
encontra-se em Murray & Renard (1891). Estes autores descrevem as amostras colhidas na
viagem do «H.M.S. Challenger» de Inglaterra para Gibraltar, dando notícia da presença de
areias e lodos verdes ao largo da costa de Portugal. Contudo, o estudo sistemático da
plataforma continental portuguesa apenas se iniciou no começo deste século. Este assunto
encontra-se contemplado com algum detalhe nas sínteses efectuadas por Dias (1987, 1997) e
Pereira (1992).
Os primeiros trabalhos sobre a cobertura sedimentar da plataforma continental portuguesa
foram publicados entre 1913 e 1941 pela "Missão Hidrográfica da Costa de Portugal" do
Ministério da Marinha, cuja constituição é descrita em Lacerda (1911), e correspondem a 8
folhas da Carta Litológica Submarina, que visava fundamentalmente o inventário de fundos
para as pescas. Em consequência da publicação da referida Carta, Portugal tornou-se um dos
primeiros países do mundo a dispôr de um reconhecimento sedimentológico preliminar da sua
plataforma continental.
Não obstante o carácter inovador para a altura e o valor intrínseco das referidas folhas,
principalmente se se tiver em conta que o trabalho foi realizado há mais de 50 anos, as
informações que delas se podem extrair são vagas e bastante limitadas. A amostragem foi
classificada de forma expedita, não tendo sido publicados, à excepção dos trabalhos de Sousa
(1913), Gomes (1915-16) e Nobre (1926), quaisquer outros elementos baseados em estudo
mais pormenorizado das amostras.
Contudo, os dados adquiridos no decurso dos trabalhos conducentes à elaboração das
folhas da Carta Litológica Submarina permitiram reconhecer as principais diferenças no perfil
da plataforma continental e identificar os acidentes morfológicos maiores, como os canhões
da Nazaré, de Lisboa e de Setúbal, tendo-lhes sido atribuída génese relacionada com a
tectónica (Ramalho, 1921, 1932; Machado, 1933, 1934; Andrade, 1933, 1934, 1937, 1942).
A II Guerra Mundial induziu um desenvolvimento tecnológico acelerado, principalmente
no que respeita ao domínio marinho. Com efeito, constituindo o mar um campo de batalha
priveligiado, o desenvolvimento verificado nas técnicas de detecção e de reconhecimento foi
espectacular. Terminada a guerra, as novas tecnologias então desenvolvidas, bem como os
conhecimentos adquiridos, foram progressivamente postos à disposição da sociedade civil. A
aplicação destas novas e dispendiosas técnicas (entre outras, magnetometria e gravimetria
marinhas, reflexão e refracção sísmicas e sonar de pesquisa lateral) conduziu à publicação, nas
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Figura II.1 – A margem continental portuguesa (Pereira, 1991).
1 – plataforma continental 2 – vertente continental 3 – limite superior da planície abissal 4 – planaltos e bancos marginais 5 – relevos na planície abissal 6 – dorsal activa 7 – dorsal fóssil 8 – ponto triplo BG – banco de Gorringe C.A. – canhão de Aveiro C.C. – canhão de Cascais C.N. – canhão da Nazaré C.L. – canhão de Lisboa C.P. – canhão do Porto C.Po. – canhão de Portimão C.S. – canhão de Setúbal C.S.V. – canhão de S. Vicente EE – Esporão da Estremadura FAC – Fossa de Álvares Cabral MD – Montanha dos Descobridores MP – Montanha do Porto MPA – Montanha dos Príncipes de Avis MV – Montanha de Vigo MVG – Montanha de Vasco da Gama PP – Planalto de Portimão PS – Planalto de Sagres RL – Rincão do Lebre T – Tore
12
décadas de 50 e 60, de diversos trabalhos, enquadrados em projectos que, normalmente,
transcendem a margem portuguesa. São de referir, entre outros, os artigos que versam sobre a
existência de correntes ascendentes no canhão submarino de Setúbal e de rochas expostas nas
suas vertentes (Pères et al., 1957), o enquadramento da margem continental ibérica no
contexto do Atlântico Norte (Heezen et al., 1959), a proveniência dos sedimentos da planície
abissal ibérica (Duplaix et al., 1965), a morfologia da plataforma e vertente oeste-ibéricas
(Berthois & Brenot, 1964; Berthois et al. 1965), o reconhecimento magnético ao largo da
costa portuguesa (Allan, 1965), os sedimentos da plataforma e vertente continentais (Lamboy,
1967, 1968; Kudrass & Thiede, 1970), a importância das correntes marinhas na morfologia do
fundo (Mèlieres et al., 1970) e a utilização do sonar de pesquisa lateral no reconhecimento da
morfologia das cabeceiras dos canhões submarinos (Belderson & Stride, 1969).
Os perfis de reflexão sísmica começaram a ser divulgados em estudos regionais sobre a
plataforma e vertente continentais (Curray et al., 1966; Giesel & Seibold, 1968; Roberts &
Stride, 1968; Nutter, 1969; Stride et al., 1969).
Devido a toda esta informação, que foi mais tarde incluída num artigo de síntese
(Monteiro, 1971), a geologia da magem continental portuguesa era, nos seus aspectos gerais,
razoavelmente conhecida no início da década de 70. Porém, a falta de infra-estruturas
existente em Portugal reflecte-se no facto de, em todo este período, praticamente não
existirem trabalhos publicados por investigadores portugueses, à excepção dos de Pacheco
(1962), que detectou o prolongamento submarino do maciço eruptivo de Sines, e de Galhano
(1963), sobre a fauna de foraminíferos ao largo da costa algarvia.
Os anos 70 e 80 constituíram um período fecundo no estudo da margem oeste-ibérica. A
colaboração de investigadores nacionais e estrangeiros permitiu melhorar o levantamento
batimétrico da margem continental e estudar, com algum pormenor, a estrutura e a cobertura
sedimentar não consolidada da plataforma continental. A redinamização dos estudos no
âmbito das geociências marinhas ficou a dever-se, em Portugal, à convergência de diversos
factores de índole nacional e/ou internacional. De entre os referidos factores, podemos citar os
seguintes: a imposição plena da teoria da tectónica de placas, o reconhecimento generalizado
das potencialidades económicas do leito do mar, a realização da 3ª Conferência das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar, a outorga de licenças a diversas empresas petrolíferas para a
realização de reflexão sísmica na plataforma continental, a realização de furos do projecto
internacional “Deep Sea Drilling Project” (DSDP) no Banco de Gorringe e na montanha
Submarina de Vigo, a realização dos cruzeiros científicos LUSITANIE na plataforma
portuguesa e a transferência para a Armada do navio oceanográfico «Almeida Carvalho»
(anteriormente o «U.S.S. Keller»).
Os factores que determinaram a redinamização das geociências marinhas propiciaram o
início, em 1974, dos programas institucionais “Sedimentos Superficiais da Plataforma” (que
pretende actualizar as folhas da Carta Litológica Submarina, através de um levantamento
sistemático e da caracterização da natureza dos fundos da plataforma continental e da vertente
13
superior portuguesas), do Instituto Hidrográfico (Moita, 1985), e “Reconhecimento Geológico
e Inventariação dos Recursos Minerais da Margem Continental Portuguesa” (visando o estudo
geológico da margem e a avaliação integral e sistemática dos recursos da mesma), da
Direcção-Geral de Geologia e Minas (Monteiro et al., 1977). O trabalho desenvolvido no
âmbito destes programas permitiu a produção de numerosos artigos e de importante
documentação cartográfica.
Este período fecundo caracteriza-se por uma tendência dicotómica no tipo de trabalhos
realizados, correspondente às duas linhas de investigação anteriormente delineadas: a da
génese e evolução da margem e a do estudo dos seus sedimentos, chave da evolução
quaternária.
Os trabalhos realizados com a primeira linha de investigação, que envolvia meios
técnicos mais dispendiosos e sofisticados e cujos resultados eram susceptíveis de maior
impacte ao nível da comunidade científica internacional, foram realizados predominantemente
por estrangeiros embora com participação frequente de portugueses. É o caso dos trabalhos
que envolveram realização de furos do DSDP, reflexão sísmica ligeira e pesada,
magnetometria, obtenção de testemunhos de sedimentos profundos, batimetria e sonar de
pesquisa lateral com equipamento altamente sofisticado e observação do fundo a partir de
submersíveis.
Em consequência da investigação desenvolvida essencialmente pela equipa de Boillot e
por investigadores britânicos, embora com alguma participação portuguesa, e dos dados
obtidos pela prospecção petrolífera, verificaram-se grandes avanços na cartografia geológica
da plataforma portuguesa e no conhecimento da sua estrutura e geomorfologia. Estes
trabalhos conduziram à apresentação de diversas teses (p. ex.: Musellec, 1974; Mougenot,
1976; Baldy, 1977), bem como à publicação de numerosos artigos. O grande volume de
informação obtida conduziu à elaboração de dois importantes documentos de síntese: a) o
mapa expresso em Boillot et al. (1978) e que constitui a Carta geológica da plataforma
continental portuguesa; b) a memória de Vanney & Mougenot (1981) sobre a análise
geomorfológica da plataforma.
Os trabalhos que visaram a cobertura sedimentar da plataforma e a sua morfologia
superficial, que envolvem meios técnicos menos sofisticados e menos dispendiosos (cuja
realização é, frequentemente, mais laboriosa e morosa, e cujos resultados obtêm, em geral,
menor impacto internacional a curto prazo) foram maioritariamente elaborados por
investigadores portugueses. No início da década de 70 foram publicados artigos que foram
incluídos no 1º Congresso Luso-Hispano-Americano de geologia económica (Lima, 1971;
Moita, 1971; Monteiro & Moita, 1971). A estes se seguiram muitos outros sobre os padrões
de distribuição da cobertura sedimentar e a dinâmica correlativa (p.ex.: Dias et al., 1980/81;
Monteiro et al., 1982; Dias, 1983/85, 1985; Dias & Nittrouer, 1984; Bevis & Dias, 1986;
Matos, 1986; Moita & Galopim de Carvalho, 1986), sobre os recursos da margem continental
(p.ex.: Monteiro et al., 1977; Dias et al., 1980, 1981; Gaspar, 1981, 1982), sobre o significado
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ambiental da presença de mica nos sedimentos (Dias et al., 1984), sobre os foraminíferos
presentes nos sedimentos (p. ex.: Matos, 1973/74), sobre novas técnicas sedimentológicas (p.
ex: Dias & Monteiro, 1978; Dias, 1986; Bevis & Dias, 1986), sobre a matéria orgânica nos
sedimentos da plataforma (p. ex.: Gaspar & Monteiro, 1977), sobre a evolução pós-glaciária
(p. ex: Dias, 1985; Quevauviller, 1986a, 1986b; Quevauviller & Moita, 1986) e sobre o
registo do “upwelling” nas diatomáceas (p. ex.: Monteiro et al., 1983; Abrantes & Sancetta,
1985) e nos foraminíferos (p. ex.: Ubaldo & Otero, 1978; Levy et al., 1985).
Foram também publicadas as cartas correspondentes às plataformas entre os cabos de
Sines e de S. Vicente (Instituto Hidrográfico, 1986a) e entre o cabo S. Vicente e o rio
Guadiana (Instituto Hidrográfico, 1986b), assim como a notícia explicativa que acompanha
esta última (Moita, 1986).
É ainda relevante referir a importante documentação constituída pelas folhas 1 (Pereira,
1989), 7 (Oliveira, 1982-83) e 8 (1987-88) da Carta Geológica de Portugal na escala 1/200
000, e pela Carta Neotectónica de Portugal (Cabral & Ribeiro, 1988), bem como pelas
notícias explicativas correspondentes (Oliveira, 1984, 1992; Cabral & Ribeiro, 1989a; Pereira,
1992)
No final da década de 80 foram publicadas 5 teses em que, para além dos resultados
inerentes à investigação desenvolvida para o efeito, são efectuadas sínteses dos
conhecimentos existentes na altura. São as teses de Dias (1987) sobre os sedimentos e a
evolução pós-glaciária da plataforma, com especial incidência no seu sector setentrional, de
Mougenot (1987, publicada em 1989) sobre a geologia e geomorfologia da margem
continental portuguesa, de Quevauviller (1987) sobre o litoral da costa da Galé e do estuário
do Sado, de Regnauld (1987) sobre a geomorfologia da vertente continental e de Sibuet
(1987) sobre a geodinâmica do Atlântico NE.
Em 1987 foi lançado o Programa Mobilizador de Ciência e Tecnologia que permitiu a
atribuição, pela primeira vez em Portugal, de financiamento específico para as Ciências
Marinhas. Entre os projectos de investigação então aprovados, ressaltam dois, ambos sediados
no Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa: "Dinâmica sedimentar da
plataforma continental a norte de Peniche (DISEPLA)" e "Sismotectónica da margem
continental oeste-ibérica (SMCOI)". A execução destes projectos traduziu-se num
significativo avanço do conhecimento da plataforma continental portuguesa, propiciando o
desenvolvimento de diversas linhas de investigação interrelacionadas, nomeadamente no que
se refere às relações de interdependência entre a plataforma continental e as áreas emersas
adjacentes, à influência determinante da tectónica na diferenciação morfológica e no tipo e
padrão de distribuição dos sedimentos, e às consequências, ao nível sedimentológico, das
variações seculares, periódicas e aperiódicas do nível do mar.
Entre os trabalhos produzidos desde 1987 (muitos dos quais realizados por investigadores
que desenvolvem as suas actividades no âmbito dos referidos projectos), são de referir os que
se relacionam com a caracterização do padrão de distribuição dos sedimentos não
15
consolidados (Magalhães et al., 1988, 1989, 1993, 1995b; Magalhães & Dias, 1992;
Magalhães, 1992/3/4, 1993; Abrantes, 1994; Abrantes et al., 1994; Cascalho et al., 1994;
Buxo & Magalhães, 1995; Garcia et al., 1998), a distribuição do nanoplâncton calcário nos
sedimentos (Cachão, 1993), o estudo dos cortejos de minerais pesados (Cascalho & Galopim
de Carvalho, 1989, 1991, 1993a, 1993b; Cascalho, 1993, 1998), a determinação de taxas de
acumulação actuais (Carvalho & Ramos, 1990), a avaliação das potencialidades da plataforma
em inertes (Magalhães et al., 1991a, 1991b; Ribeiro & Magalhães, 1998), a modelação dos
processos de dinâmica sedimentar (Taborda & Dias, 1992b; Taborda, 1993), os depósitos
lodosos presentes na plataforma (Dias et al., 1993; Araújo et al., 1994; Drago et al., 1994,
1995, 1998; Drago, 1995; Magalhães et al., 1995), a mineralogia das argilas (Coimbra &
Matos, 1988), as biocenoses e paleotanatocenoses de microfauna (Silva, 1988; Fatela, 1989;
Silva & Nascimento, 1989; Fatela & Silva, 1990), a palinologia (Diniz, 1991), a geologia e a
estrutura da plataforma (Ribeiro et al., 1988, 1992a, 1992b; Rodrigues, 1988, 1989;
Rodrigues & Drago, 1990; Geomar, 1992; Rodrigues & Ribeiro, 1992/3/4; Rodrigues et al.,
1992, 1995a, 1995b), a análise morfostrutural da plataforma (Drago, 1989; Rodrigues &
Drago, 1990), a evolução pós-glaciária da plataforma (Rodrigues & Dias, 1989; Rodrigues et
al., 1990, 1991; Erlides, 1992; Pereira & Regnaud, 1994), as plumas túrbidas associadas aos
rios que desaguam no litoral português (Almeida et al., 1993; Gouveia et al., 1993; Oliveira,
1994; Oliveira et al., 1994, 1995; Araújo & Gouveia, 1994; Garcia et al., 1995), a paleo-
oceanografia e paleo-climatologia da vertente continental oeste ibérica (Fatela et al., 1994;
Abreu, 1995; Fatela, 1995), as variações seculares do nível do mar (Dias & Taborda, 1992),
as variações na intensidade do “upwelling” costeiro no Quaternário (Abrantes, 1988, 1991a,
1991b, 1992; Soares, 1989, 1993a, 1993b), o registo do “upwelling” nas associações de
foraminíferos (p.ex.: Levy et al., 1995), a paleo-oceanografia do Atlântico NE (p.ex.:
Vergnaud-Grazini et al., 1989; Duplessy et al., 1991), o padrão de sedimentos transportados
pelo gelo (p.ex.: Grousset et al., 1993; Lebreiro et al., 1996), o registo sedimentar na margem
profunda (p. ex.: Prates, 1992) e a geomorfologia do canhão da Nazaré (Vanney & Mougenot,
1990; Regnauld & Thomas, 1990) e da vertente continental (Regnauld & Rojouan, 1990).
2. A assimetria no conhecimento da plataforma
Os numerosos trabalhos sobre a plataforma continental portuguesa fazem com que esta
possa ser considerada bem estudada, no seu conjunto (Pereira, 1991). É o caso das sínteses de
Vanney & Nougenot (1981) e de Mougenot (1989) sobre a geomorfologia e a geologia, e de
Dias (1987) sobre a cobertura sedimentar.
No entanto, o seu conhecimento é regionalmente desigual, quer a nível espacial, quer
temporal (p. ex.: Pereira, 1992). Tal assimetria reflecte-se, entre outos aspectos, na
informação existente sobre a evolução da linha de costa desde o último máximo glaciário
(Dias et al., 1997).
Efectivamente, constata-se que existe um conhecimento bastante maior da plataforma
16
setentrional do que da restante, nomeadamente da do Esporão da Estremadura. De entre os
três sectores estudados no presente trabalho, o sudoeste é o pior conhecido.
Os primeiros trabalhos que incidem especificamente sobre os sedimentos da plataforma
norte são as folhas 1 (Rio Minho a Espinho, 1913) e 2 (Leixões ao cabo Mondego, 1914) da
Carta Litológica Submarina, editadas pelo Ministério da Marinha. Porém, as informações que
delas se podem extrair são vagas e bastante limitadas, como se referiu.
Entre 1980 e 1987 são publicados diversos trabalhos incidindo sobre os sedimentos da
plataforma norte, produzidos em consequência da execução do programa “Reconhecimento
Geológico e Inventariação dos Recursos Minerais da Margem Continental Portuguesa”. É o
caso, por exemplo, dos artigos de Dias et al. (1980/81, 1981, 1984), Dias (1983/85, 1985,
1987), Dias & Nittrouer (1984) e Bevis & Dias (1986). No entanto, estes trabalhos, baseados
num número restrito de amostras, adequado a um primeiro reconhecimento regional, não
possibilitaram o conhecimento fiável de particularidades de âmbito local ou sub-regional.
Parte substancial da actividade desenvolvida, desde 1987, no âmbito dos projectos
DISEPLA, SMCOI e subsequentes incidiu sobre a cobertura sedimentar e a evolução pós-
glaciária deste sector. Entre outros, são de referir os trabalhos de Coimbra & Matos (1988),
Magalhães et al. (1988, 1989, 1991a, 1991b, 1993, 1995a), Silva (1988), Fatela (1989),
Rodrigues & Dias (1989), Silva & Nascimento (1989), Carvalho & Ramos (1990), Rodrigues
et al. (1990, 1991), Magalhães & Dias (1992), Almeida et al. (1993), Cascalho (1993, 1998),
Cascalho & Galopim de Carvalho (1993a, 1993b), Gouveia et al. (1993), Magalhães (1993),
Abrantes (1994), Abrantes et al. (1994), Araújo & Gouveia (1994), Araújo et al. (1994),
Drago et al. (1994, 1995, 1998), Oliveira (1994), Oliveira et al. (1994, 1995), Buxo &
Magalhães (1995) e Drago (1995). Muitos destes trabalhos beneficiaram da amostragem
colhida para o programa SEPLAT, em execução no Instituto Hidrográfico.
A documentação mais antiga sobre os sedimentos da plataforma sudoeste é constituída
pelas folhas 5 (Sines ao cabo da Roca, 1928) e 6 (cabo de S. Vicente a Sines, 1927), ambas de
limitada utilidade no que se refere aos objectivos do presente estudo, o mesmo se podendo
afirmar do trabalho de Nutter (1968). O conhecimento de que se dispõe sobre a cobertura
sedimentar deste sector resulta, no essencial, dos resultados e interpretações expressos em
Moita (1971), Instituto Hidrográfico (1986b), Quevauviller (1986b, 1987), Quevauviller &
Moita (1986), Cascalho et al. (1994) e Magalhães et al. (1995b).
As folhas 7 (entre os cabos de S. Vicente e de Sta. Maria, 1924) e 8 (cabo de S. Maria ao
Guadiana, 1940) são os primeiros trabalhos que incidem especificamente sobre os sedimentos
da plataforma algarvia, a qual ocupa, como se referiu, uma posição intermédia no que
repeita ao conhecimento da cobertura sedimentar dos sectores estudados. De facto, a cobertura
sedimentar deste sector encontra-se razoavelmente conhecida a nível regional (Monteiro et
al., 1984a; Matos, 1986; Moita, 1986; Instituto Hidrográfico, 1986a; Moita & Galopim de
Carvalho, 1986; Cascalho & Galopim de Carvalho, 1991).
Existem também assimetrias espaciais no que se refere ao conhecimento da actual zona
17
costeira. Alguns troços desta zona, como o de Espinho – Cabo Mondego, têm vindo a ser
estudados com bastante pormenor (Ferreira et al., 1990a, 1990b, 1995; Ferreira & Dias, 1991,
1992; Ferreira, 1993, 1994, 1998), enquanto noutros sectores, como o do Alentejo e costa
vicentina, quase não existem trabalhos específicos.
Verificam-se, também, grandes assimetrias ao nível temporal. Existem bastantes
elementos sobre a evolução da linha de costa no último máximo glaciário e o início da
deglaciação subsequente. Todavia, existe um desconhecimento quase completo sobre a
evolução durante o Holocénico inferior. A escassez de dados tem conduzido a interpretações e
conclusões aparentemente contraditórias, como as que se referem ao momento em que o nível
médio do mar atingiu a cota actual.
Também a evolução da linha de costa durante os tempos históricos é, ainda, pouco
conhecida, principalmente nos períodos anteriores ao século XVI. As consequências das
pequenas oscilações climáticas históricas são quase completamente desconhecidas, existindo
apenas hipóteses de trabalho. Pelo contrário, os conhecimentos referentes aos séculos mais
recentes (em que a documentação escrita e cartográfica vai sendo progressivamente mais
abundante) são, já, bastante significativos, particularmente nas zonas com maiores densidades
demográficas. A evolução da linha de costa ao longo deste século é bastante bem conhecida.
3. As características da cobertura sedimentar
3.1. A globalidade da plataforma
As informações disponíveis nos trabalhos referidos permitem caracterizar genericamente
a cobertura sedimentar da globalidade da plataforma portuguesa ou de sectores específicos da
mesma, e indicam que as características dos sedimentos superficiais são influenciadas por
uma multiplicidade de factores, de entre os quais se podem referir o abastecimento sedimentar
proveniente do continente e os níveis energéticos ocorrentes junto ao fundo.
Os sedimentos da cobertura não consolidada da plataforma são, de modo geral,
grosseiros, o que evidencia elevados níveis energéticos junto ao fundo. A fracção textural
normalmente maioritária é a areia (fig. II.2). Localmente, as outras fracções (cascalho, silte e
argila) constituem-se, por vezes, como predominantes nos sedimentos.
O troço da plataforma mais energético é, provavelmente, a região entre a Nazaré e o cabo
Raso, na qual, para além da abundância em cascalho terrígeno, existe uma acentuada
deficiência em materiais silto-argilosos. Pelo contrário, as características dos sedimentos
do sector entre o cabo Raso e o canhão de Setúbal e da plataforma algarvia, que se encontram
protegidos da ondulação dominante nesta parte do Atlântico, coadunam-se com níveis
energéticos inferiores aos da restante plataforma.
18
Figura II.2 – Fracção textural dominante nos sedimentos da plataforma continental portuguesa (Dias, 1987).
19
À semelhança do que geralmente sucede a nível mundial, a plataforma externa é mais
lodosa, mais bioclástica e menos cascalhenta que a plataforma interna, em relação com os
menores níveis energéticos e o menor abastecimento em partículas terrígenas que se verifica a
maiores profundidades.
O cascalho apenas pode ser considerado como abundante (>25 %) a norte do cabo Raso.
Esta fracção, que se econtra relacionada com as paleo-desembocaduras dos rios mais
importantes, com os respectivos deltas de vazante e com paleolitorais, tende a ocorrer em duas
bandas grosseiramente paralelas à costa. A banda interna encontra-se geralmente mais bem
definida, sendo o cascalho mais grosseiro e terrígeno que o da banda mais profunda. A sul do
cabo Raso, as partículas que constituem o cascalho são maioritariamente de origem biogénica.
A fracção areia é mais detrítica que biogénica, apresentando a componente autigénica
(representada por glaucónia) uma expressão diminuta, o que revela a forte influência da parte
emersa na plataforma continental adjacente. A componente detrítica é mais abundante na
plataforma interna e a componente biogénica é, em geral, maioritaria a profundidades
superiores a 80 m. A classe composicional mais abundante é o quartzo, que apresenta sempre
maiores percentagens na plataforma interna que na externa. As classes maioritárias na
componente bioclástica são as dos moluscos e dos foraminíferos. A componente autigénica é
vestigial na plataforma interna e mais abundante na plataforma externa, em relação com
elevada produtividade orgânica.
A fracção silto-argilosa encontra-se relacionada com a exportação pelos cursos de água e
com a erosão de arribas mal consolidadas com elevados conteúdos neste tipo de materiais.
As partículas individuais de quartzo, de bioclastos de moluscos, de carapaças de
foraminíferos e de glaucónia revelam diversos graus de maturidade sedimentar. Foram
identificadas partículas «modernas» (pertencentes à classe designada por "M", as quais não
revelam indícios de ter sido submetidas a mais de um ciclo sedimentar) e partículas
«relíquia»
(pertencentes à classe "R", as quais apresentam indícios de ter sido submetidas a mais de um
ciclo sedimentar).
3.2. A plataforma norte
A distribuição das características texturais e composicionais dos sedimentos deste sector
evidencia claro controlo batimétrico. Tais características apontam para níveis energéticos
elevados e importante abastecimento fluvial de materiais provenientes do continente.
Junto às cabeceiras do canhão submarino do Porto ocorrem sedimentos lodosos que se
encontram inseridos num depósito 1 de grande importância, pelo menos a nível regional. Foi
detectada a existência de outro depósito lodoso, embora de bastante menor importância, frente
ao rio Minho, a profundidades ligeiramente superiores aos 100 m.
1 A designação "complexo", frequentemente utilizada para referir estes depósitos silto-argilosos, não é empregue no presente trabalho, devido ao seu significado preciso em geologia.
20
O padrão de distribuição da cobertura sedimentar caracteriza-se por contraste latitudinal
evidente, cujo ponto de inflexão se localiza por volta do paralelo 41ºN (aproximadamente a
latitude de Espinho). Parece ainda poder deduzir-se a existência de uma dinâmica específica
associada à zona transacional do bordo da plataforma, que parece induzir fenómenos de
barreira ou de filtro selectivo nas partículas que aí afluem.
A ilite, cuja abundância diminui com o afastamento à costa, é o mineral argiloso
predominante na fracção lutosa dos sedimentos, sendo a clorite abundante. A caulinite, a
montmorilonite e os interstratificados, pouco abundantes na fracção <20 Error! Reference
source not found.m, apresentam maior abundância relativa na fracção <2 Error! Reference
source not found.m. Tendência inversa verifica-se, em geral, com o feldspato potássico, a
plagioclase e o quartzo, que são os minerais não argilosos mais abundantes na referida
fracção.
Foram identificados diversos depósitos com base nas características dos sedimentos (fig.
II.3 para o sctor a norte de Espinho), aos quais foi aplicado um esquema de classificação
genética (McManus, 1975). Segundo este esquema classificativo, os depósitos modernos, em
fase activa de formação, correspondem, de acordo com as partículas que os constituem, a
sedimentos neotéricos (partículas modernas), protéricos (partículas antigas) ou anfotéricos
(constituídos por ambos os tipos de partículas). Os depósitos relíquia, constituídos no passado,
foram classificados como sedimentos palimpsestos (constituídos por partículas modernas e
relíquia) ou relíquia (não contaminados por partículas recentes).
Os depósitos existentes junto ao litoral e os depósitos areno-lodosos e lodosos são
explicáveis pelos processos de fornecimento e distribuição actuais. Estes depósitos modernos
podem ser classificados como sedimentos neotéricos com ligeira tendência anfotérica.
Pelo contrário, os processos modernos de fornecimento e distribuição de partículas são
inadequados para explicar a génese dos depósitos areno-cascalhentos da plataforma. Na
generalidade, estes depósitos correspondem a sedimentos palimpsestos, por vezes quase
relíquia, e protéricos.
Os depósitos arenosos correspondem, de acordo com as suas características texturais, o
tipo de partículas que os constituem e a sua localização geográfica, a sedimentos que variam
desde neotéricos com ligeira tendência tendência anfotérica a palimpsestos.
3.3. A plataforma sudoeste
Este sector é dominado pela classe textural areia. A escassa diversidade textural destes
sedimentos encontra-se provavelmente relacionada com a inexistência actual de rios
importantes e com a regularidade de pendor e exposição à ondulação da plataforma.
Em relação com a deficiência actual de materiais provenientes do continente, a fracção
grosseira dos sedimentos é dominada pela componente biogénica.
21
Figura II.3 – Depósitos sedimentares da plataforma continental portuguesa a norte de Espinho (Magalhães & Dias, 1992). A – depósitos arenosos litorais; B – depósito siltoso do Lima; C – depósitos areno-cascalhentos do Cávado; D – depósitos areno-cascalhentos do Ave-Douro; E – depósitos areno-siltosos da plataforma média; F – depósitos arenosos da plataforma média; G – depósito silto-argiloso do Minho; H – depósitos cascalhentos do Beiral de Viana; I – depósito silto-argiloso das cabeceiras do canhão submarino do Porto; J – depósito cascalhento do Beiral de Caminha; K – depósitos arenosos da plataforma externa; L – depósitos arenosos do bordo da plataforma e vertente continental superior; M – depósitos lodosos da vertente continental superior; N – outros depósitos.
Os terígenos existentes na zona setentrional (entre o canhão de Setúbal e Sines) estão
aparentemente relacionados com o Sado e devem ter sido para aí debitados no decurso do
glaciário e transgressão que se lhe seguiu, enquanto que os da zona meridional parece estarem
relacionados com o Mira. As partículas de quartzo constituem a classe dominante na areia.
Neste sector foram encontrados, ao largo de Sines, os mais elevados conteúdos em
glaucónia na areia dos sedimentos de toda a plataforma.
A Veia de Água Mediterrânea e as correntes eventualmente associadas ao canhão de S.
22
Vicente parecem, na vertente continental superior, desempenhar papel significativo no padrão
de distribuição da cobertura sedimentar.
3.4. A plataforma algarvia
A plataforma algarvia é a que apresenta maior diversidade de classes texturais, sendo o
cascalho e a areia predominantemente bioclásticos. Apresenta contraste marcado com os
sectores virados a oeste. Os conteúdos em materiais silto-argilosos são geralmente elevados.
Estas características apontam para níveis energéticos substancialmente inferiores aos dos
outros sectores, e para forte deficiência, principalmente no sector ocidental, no abastecimento
de elementos terrígenos das fracções areia e cascalho.
Segundo Moita (1986), o padrão de distribuição da cobertura sedimentar (fig. II.4) é
fortemente marcado pelo canhão de Portimão.
Fig II.4 – Depósitos sedimentares da plataforma algarvia (Moita, 1986). 1 – lodos da vertente superior; 2 – lodos da plataforma média; 3 – areias e formações arenosas da plataforma exterior e do bordo; 4 – areias da plataforma média; 5 – areias costeiras; 6 – prodeltas dos rios Arade e Guadiana.
Os minerais argilosos mais abundantes na fracção fina dos sedimentos são a ilite, a
montmorilonite e os interstratificados. A ilite é mais abundante a menores profundidades e na
parte ocidental da plataforma, comportamento oposto ao da montmorilonite e dos
interstratificados. A clorite e a caulinite são pouco abundantes. Os minerais não argilosos
mais importantes são o quartzo e a calcite.
23
III. ENQUADRAMENTO E CARACTERIZAÇÃO REGIONAIS
1. Introdução
A génese e evolução morfostrutural da margem portuguesa derivam da individualização
da miniplaca ibérica e da génese de duas bacias sedimentares, a lusitânica, a ocidente, e a
algarvia, a sul. No final do Carbónico e no Pérmico inferior, o soco da Pangea foi sujeito a
intensa fracturação. Essa fracturação conduziu, no Triásico, à prefiguração dos continentes
maiores. O jogo posterior de diversos acidentes individualizou a miniplaca ibérica, pela
abertura do Atlântico, que se processou de sul para norte. Com esta abertura relaciona-se o
fecho da Mesogeia e a abertura do Golfo de Cádis, a sul, com a formação da bacia sedimentar
algarvia, e, a par do alargamento do Atlântico, a abertura do Golfo da Gasconha, com a génese
da bacia sedimentar lusitânica.
Entre o Triásico e o Cretácico superior, a margem continental evolui em distensão, para
posteriormente, desde o Cretácico terminal, ser sujeita a regime geral de compressão,
relacionada com a aproximação da miniplaca ibérica ora da africana, ora da europeia (apesar
de alguns períodos de distensão). A figura III.1 esquematiza a alternância de períodos
compressivos e distensivos a que esta margem foi sujeita.
A plataforma continental que se encontra inserida nesta margem estende-se entre os
paralelos 36º49' e 41º52' N e entre os meridianos 7º24' e 10º11' W. É uma plataforma longa
(cerca de 550 km de comprimento) e estreita, variando a sua largura entre menos de 5 km
(frente ao cabo Espichel) e mais de 60 km (no paralelo 39º N), chegando mesmo a atingir cerca
de 80 km (frente a Vila Nova de Milfontes onde, no entanto, o limite externo da plataforma é
mal definido). A profundidade a que se situa o bordo da plataforma é também muito variável,
oscilando entre cerca de 120 m (p. ex., nas imediações do cabo Raso) e mais de 400 m (no
paralelo 39º N) ou mesmo 1000 m (a sul de Sines, onde os conceitos clássicos de plataforma
continental e bordo da plataforma perdem significado).
Com uma área de 28 000 km², correspondente a cerca de um terço da superfície de
Portugal continental, a plataforma continental portuguesa apresenta pendores que variam entre
0,3 e 1,1‰ (Monteiro, 1971). Comunica através de barrancos, vales e canhões submarinos
com as planícies abissais Ibérica, do Tejo e da Ferradura. São várias as montanhas submarinas
presentes nesta área, quer mais afastadas da plataforma (Galiza, Tore e Ashton, incluídas no
alinhamento Tore-Madeira; Ormonde e Gettysburg, formando o banco de Gorringe e incluídas
no alinhamento setentrional do conjunto da Ferradura; Josefina, na intersecção dos dois
alinhamentos), quer mais próximas (Vigo, Vasco da Gama, Porto), quer com ela directamente
relacionadas (Descobridores, Príncipes de Avis, Camões).
24
Figura III.1 – Evolução da margem continental portuguesa (Pereira, 1991).
25
Esta plataforma pode ser dividida em sectores com diferentes características fisiográficas,
geológicas, oceanográficas, climáticas e hidrográficas, correspondendo presumivelmente a
outras tantas províncias sedimentológicas. Os sectores considerados por Dias (1987) foram:
A – do paralelo da foz do rio Minho até ao canhão submarino da Nazaré
B – do canhão submarino da Nazaré até ao cabo Raso
C – do cabo Raso ao canhão submarino de Setúbal
D – do canhão submarino de Setúbal ao cabo de S. Vicente
E – do cabo de S. Vicente até ao meridiano da foz do rio Guadiana
Antes de caracterizarmos, com algum detalhe, os sectores coniderados no presente
trabalho é conveniente enquadrá-los na unidade fisiográfica a que pertencem, procedendo a
uma caracterização sumária da globalidade da plataforma continental (quadro III.I).
2. Batimetria e morfologia
2.1. Generalidades
Comparando a largura da plataforma continental portuguesa e a profundidade a que se
situa o bordo da mesma com os valores determinados para o conjunto das plataformas
continentais do Mundo (Shepard, 1973) verifica-se que a plataforma estudada é estreita (a
largura média mundial é de 75 km) e que o seu bordo se situa, em geral, a profundidade maior
que a média mundial (que é de 130 m).
A plataforma continental portuguesa apresenta, na generalidade, relevo regular e suave.
Quatro grandes acidentes marcam, de forma profunda, a margem continental na qual esta
plataforma se encontra inserida: os canhões submarinos da Nazaré, de Lisboa, de Setúbal e de
São Vicente. Todavia, definem-se ainda outros canhões submarinos, embora bastante menos
espectaculares, como é o caso dos do Porto, de Aveiro e de Portimão.
De maneira geral, as batimétricas são grosseiramente paralelas à costa. Por vezes, formam
formas complexas (por exemplo, no sector entre o canhão da Nazaré e o cabo Raso), podendo
o seu traçado ser profundamente condicionado pelos deltas submarinos dos rios e por canhões
sumarinos (caso do sector entre o cabo Raso e o canhão de Setúbal).
A diversidade de perfis batimétricos na plataforma encontra-se ilustrada na fig. III.2.
2.2. Plataforma norte
Apresenta pendor regular e suave, dispondo-se as batimétricas, de um modo geral, grosso
modo uniformemente espaçadas e paralelamente à costa (fig. III.3). Apresenta largura média
de 35 km até à Póvoa de Varzim, valor que aumenta progressivamente para sul, atingindo 60
km frente ao cabo Mondego. O seu bordo é definido por uma ruptura de pendor bem marcada
à profundidade aproximada de 160 m (Musellec, 1974).
Quadro III.I – Características dos sectores da plataforma continental portuguesa considerados por Dias (1987).
Sector Sector A Sector B Sector C Sector D Sector E
Localização a norte do canhão da Nazaré do canhão da Nazaré ao cabo Raso
do cabo Raso ao canhão de Setúbal
entre o canhão de Setúbal e o cabo de S. Vicente
plataforma algarvia
Comprimento meridiano 250 km 95 km 50 km 140 km 150 km Largura da plataforma 35 km – 60 km 15 km – 70 km 5 km – 30 km 20 km - 90 km 8 km - 30 km Profundidade do bordo 130 m – 190 m 170 m – 400 m 120 m – 170m 180 m - 1 000 m 110 m – 150 m
Principais características batimétricas
batimetria simples e suave, com batimétricas paralelas à costa
batimétricas formando figuras complexas
profundamente condicionada pelos deltas submarinos dos rios
e pelos canhões submarinos
batiméticas de um modo geral paralelas à costa
as batimétricas revelam grande simplicidade do relevo
Canhões submarinos (e profundidade a que se
definem)
canhão do Porto (130 m) canhão de Aveiro (130 m) canhão da Nazaré (50m)
canhão da Nazaré (50 m) canhão de Cascais (150 m) canhão de Lisboa (40 m) canhão de Setúbal (50 m)
canhão de S. Vicente (300 m) canhão de Lagos (800 m)
canhão de Portimão (100 m) canhão de Faro (120 m)
Planícies abissais Planície abissal Ibérica Planície abissal Ibérica Planície abissal do Tejo
Planície abissal do Tejo Planície abissal do Tejo Planície abissal da Ferradura
Planaltos marginais
Montanhas submarinas na plataforma – Montanha de Camões –
Mont. dos Príncipes de Avis Mont. dos Descobridores -
Montanhas submarinas próximas da plataforma
Montanha de Vigo Montanha de Vasco da Gama
Montanha do Porto Montanha de Tore – Montanha do Gorringe (a SW) -
Área emersa drenda 131 100 km² 2 000 km² 89 500 km² 2 650 km² 69 800 km² Precipitação anual média
(e valores extemos) 1 295 mm
(<500 mm – >3 000 mm) 870 mm
(<500 mm – > 800 mm) 866 mm
(<500 mm – >2 400 mm) 726 mm
(<500 mm - >800 mm) 730 mm
(<500 mm - >1200mm)
Rios importantes Minho, Lima, Cávado, Ave, Douro, Vouga, Mondego e Liz
– Tejo e Sado Mira Guadiana
Litologias principais
granitos, gnaisses, xistos, grauvaques, rochas carbonatadas
e quartzitos
rochas carbonatadas e eruptivas do maciço de Sintre
formações xisto – grauváquicas, arcoses, rochas eruptivas e
rochas carbonatadas
formações xisto-grauváquicas e rochas eruptivas (principalmente
sieníticas)
rochas carbonatadas, formações xisto-grauváquicas, arenitos e
rochas eruptivas Comprimento do litoral 275 km 120 km 100 km 165 km 180 km
Orientação predominante da costa
NNE – SSW SSE – NNW
NE – SW NNE – SSW
Variada (grosseiramente N – S e W – E)
NNE - SSW NE - SW variada (grosseiramente E - W)
Lagunas principais Aveiro e Mira Óbidos Albufeira Melides, Santo André "Ria" Formosa e Alvor % praias 70% 10% 50% 30% 55%
Área coberta por dunas 770 km² 75 km² 90 km² 70 km² 30 km² Precipitação anual na
faixa litoral <700 mm – >1 400 mm < 500 mm – >700 mm < 500 mm – > 700 mm) <500 mm - >600 mm <400 mm - >500m
Quadro III.I – Características dos sectores da plataforma continental portuguesa considerados por Dias (1987).
26
27
A
Distância à costa (km)
Pro
fun
did
ad
e (
m)
0
50
100
150
2000 10 20 30 40
B
Distância à costa (km)
Pro
fund
idad
e (m
)
0
50
100
150
2000 20 40 60
C
Distância à costa (km)
Pro
fund
idad
e (m
)
0
50
100
150
2000 10 20 30 40 50 60
D
Distância à costa (km)
Pro
fund
idad
e (m
)
0
50
100
150
2000 10 20 30
E
Distância à costa (km)
Pro
fun
did
ad
e (
m)
0
50
100
150
2000 10 20 30
F
Distância à costa (km)
Pro
fund
idad
e (m
)
0
50
100
150
2000 10
G
Distância à costa (km)
Pro
fund
idad
e (m
)
0
50
100
150
2000 10 20 30
H
Distância à costa (km)
Pro
fund
idad
e (m
)
0
50
100
150
2000 10
I
Distância à costa (km)
Pro
fund
idad
e (m
)
0
50
100
150
2000 10 20 30
-100000.00 0.00 100000.00
A
B
C
D
E
F
GH
I Figura III.2 – Perfis batimétricos da plataforma continental.
28
55000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
Foss
o do
Pon
tal d
a G
aleg
a
Bei
ral d
e V
iana
Bei
ral d
e
Cam
inha
Pontal da GalegaP
onta
l da
Car
tola
Mor
race
iros
Caminha
Espinho
Esmoriz
Ria deAveiro
F. Foz
Póvoa de Varzim
Pedra de S. Lumedio
Apúlia
Figura III.3 – Batimetria da plataforma norte, segundo Vanney & Mougenot (1981). Espaçamento das batimétricas de 10 m até aos 200 m de profundidade e de 200 m abaixo do referido valor.
O relevo da plataforma interna é profundamente condicionado por afloramentos rochosos
do soco precâmbrico e paleozóico, os quais dão origem a um traçado conturbado e rendilhado
das batimétricas, donde ressaltam as correspondentes a pequenas elevações pontiagudas nas
imediações de Viana do Castelo. De uma forma geral, a largura desta zona submersa de
afloramentos diminui de norte para sul, atingindo a largura máxima de 10 km frente ao rio
Lima, e mínima na parte sul deste troço da plataforma, onde praticamente não existem
afloramentos submersos contínuos de rochas ante-mesozóicas. Na plataforma média e externa
o relevo é em geral simples e suave, com excepção da parte central deste mesmo troço onde,
pelos 110 m de profundidade, se define uma elevação que se desenvolve para sudeste, ao
longo de 50 km, o Beiral de Viana, cujo ponto menos profundo, a Pedra de S. Lumedio, se
localiza ao largo de Apúlia, a 88 m de profundidade.
29
O bordo da plataforma e a vertente continental superior apresentam-se ravinados. A
vertente continental, especialmente abarrancada a norte do canhão submarino do Porto,
prolonga-se com inclinações fortes até fundos da ordem dos 3 000 m, onde se define a
depressão de Valle-Inclan que a separa das elevações das montanhas submarinas de Vigo e de
Vasco da Gama. Os canhões do Porto e de Aveiro, que drenam para a Planície Abissal Ibérica
através da depressão atrás referida e do vale submarino de D. Carlos, apenas se individualizam
a mais de 30 km da costa e a cerca de 130 m de profundidade.
2.3. Plataforma sudoeste
Forma superfície de inclinação suave, de contorno pouco sinuoso e com fraca
diferenciação de formas, dispondo-se as batimétricas grosseiramente subparalelas à costa,
exceptuando o sector a sul da Bordeira (fig. III.4). A sul do canhão de Setúbal, a plataforma,
com menos de 25 km de largura, aparece deslocada de 40 km para oriente em relação à região
a norte deste canhão, encontrando-se o bordo reduzido a simples ressalto, localizado entre os
160 e os 180 m de profundidade. Mais para sul, torna-se difícil delimitar a plataforma
continental, uma vez que não se detecta uma ruptura de pendor bem marcada. Com efeito, a
margem continental decompõe-se numa série de superfícies de inclinação suave e tão pouco
desniveladas entre si que formam um plano suavemente inclinado até fundos de mais de 1000
m (Vanney & Mougenot, 1981). Esta morfologia peculiar deve-se a um vasto manto
sedimentar neogénico (Baldy, 1977) que atinge, por vezes, 300 m de espessura e fossiliza uma
morfologia acidentada condicionada por uma série de blocos basculados.
De um modo geral, a morfologia deste sector é controlada por acidentes tectónicos, por
afloramentos rochosos do substrato e por estruturas de acumulação sedimentar. Os acidentes
tectónicos são constituídos por falhas de direcção geral NE-SW a NNE-SSW. Os pontos
salientes da plataforma correspondem a zonas de afloramento de rochas mesozóicas e
cenozóicas. É o caso das Montanhas dos Descobridores e dos Príncipes de Avis, constituídas
por formações datadas, respectivamente, do Mesozóico (Mougenot et al., 1979) e do Eocénico
superior (Oliveira, 1984). De acordo com Vanney & Mougenot (1981), a grande extensão dos
terrenos neogénicos e quaternários coincide com os grandes planaltos e superfícies de
progradação, pouco acidentados, ao largo da costa alentejana.
No limite meridional desta plataforma define-se, a 300 m de profundidade, o canhão de S.
Vicente, que constitui um vale aberto ao longo de um «graben» e parcialmente coberto de
sedimentos na sua parte oriental (Oliveira, 1984). A sua orientação geral é NNE-SSW até
cerca dos 1500 m de profundidade, rodando depois para NE-SW.
A drenagem de toda esta região efectua-se para a Planície Abissal do Tejo, à excepção da
que é efectuada pelo canhão de S. Vicente, que drena para a Planície Abissal da Ferradura.
30
100000.00 140000.00
20000.00
40000.00
60000.00
80000.00
100000.00
120000.00
140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
M. Descobridores
L. de Sto. André
Odeceixe
Zambujeira
Cabo de
S. Vicente
Figura III.4 – Batimetria da plataforma sudoeste, segundo Vanney & Mougenot (1981). Espaçamento das batimétricas de 10 m até aos 140 m de profundidade, de 20 m entre os 160 e os 200 m de profundidade e de 100 m abaixo do referido valor.
2.4. Plataforma algarvia
Este sector (fig. III.5) caracteriza-se pela sua pouca largura (7 a 28 km), nitidez do bordo
que se encontra a profundidades relativamente pequenas (110 a 150 m) e simplicidade de
formas (Vanney & Mougenot, 1981). Com um pendor médio aproximado de 20‰ na parte
mais estreita (frente ao cabo de Santa Maria), a plataforma alarga-se progressivamente para
este e oeste, atingindo pendores de cerca de 5‰ frente ao rio Guadiana e a Albufeira. A
suavidade da sua fisiografia encontra-se relacionada com a continuidade lateral existente entre
a superfície de abrasão que caracteriza a plataforma interna e a superfície não deposicional (ou
31
de agradação) que limita superiormente a série progradante da plataforma externa (Mougenot,
1989).
Em profundidade e adjacente à plataforma continental, existe uma série de planaltos
marginais (planaltos submarinos de Sagres, de Lagos, de Portimão e de Faro), com 10 a 40
km de largura, que constituem uma série de degraus a cerca de 700 m-800 m de profundidade
e que se encontram separados entre si pelas cabeceiras dos canhões submarinos de Lagos,
Portimão e Faro. Os planaltos submarinos de Portimão e de Faro (os mais orientais)
encontram-se separados da vertente continental pela fossa de Álvares Cabral. O planalto de
Faro prolonga-se para sul pelo planalto de Bartolomeu Dias, que, por sua vez, se liga ao banco
de Guadalquivir (Vanney & Mougenot, 1981). Estes planaltos são de natureza estrutural e/ou
formados por contornitos, consoante se situam, respectivamente, a oeste ou a este do canhão de
Portimão (Faugères et al., 1985a, 1985c; Moita, 1986).
120000 140000 160000 180000 200000 220000 240000 260000
-25000.00
-5000.00
15000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Lagos
Por
timão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 40'
C. Por
timão
Cb. Sta. Maria
P. da Piedade
Armação de Pera O
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Qua
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Figura III.5 – Batimetria da plataforma algarvia, segundo Vanney & Mougenot (1981). Espaçamento das batimétricas de 10 m até aos 100 m de profundidade, de 20 m entre os 120 e os 200 m e de 100 m abaixo do referido valor.
O canhão submarino de Lagos, com orientação geral NE-SW, apenas se define pelos 800
m de profundidade. O canhão de Portimão provoca pequena incisão na plataforma, com cerca
de 8 km de comprimento, individualizando-se abaixo dos 100m de profundidade. O seu
traçado é ligeiramente ziguezagueante, orientando-se alternadamente para NNE-SSW e para
NNW-SSE. O canhão submarino de Faro é bastante mal definido. Provoca ligeira reentrância
na plataforma com menos de 3 km de comprimento.
3. Estrutura e litologia
3.1. Generalidades
A plataforma continental portuguesa apresenta, no geral, estrutrura relativamente simples
que corresponde a um monoclinal. As litologias aflorantes são bastante diversificadas,
32
correspondendo ao soco ante-mesozóico, ao prolongamento sumerso dos maciços eruptivos de
Sintra e Sines, e a formações sedimentares de idade variada (Boillot et al., 1978).
O soco ante-mesozóico apenas aflora com caracter contínuo na plataforma interna a norte
do paralelo de Espinho e entre Sines e a Bordeira.
No que respeita às formações sedimentares, grande parte da plataforma a norte do canhão
da Nazaré é ocupada por formações pós-cretácicas, cortadas por falhas de direcções
predominantes NNW-SSE a NNE-SSW e localmente afectada por fenómenos diapíricos. Entre
o canhão da Nazaré e o cabo Raso predominam formações do Jurássico e do Mesozóico
indiferenciado, cortadas por numerosa falhas de direcção NW-SE (a mais frequente) e NE-SW.
A plataforma a sul do cabo Raso é dominada por formações miocénicas, neogénicas e
plistocénicas, cortadas por falhas de direcções predominantes NE-SW e NW-SE, ocorrendo
ainda formações jurássicas e do mesozóico indiferenciado nas imediações da serra da Arrábida
e do canhão de S. Vicente
3.2. Plataforma norte
Este sector apresenta estrutura relativamente simples, essencialmente constituída por
formações cretácicas e cenozóicas (fig. III.6), que definem um monoclinal pouco inclinado
(cerca de 3º) para SW (Musellec, 1974). O soco precâmbrico e paleozóico aflora junto a terra,
com largura que não excede 10 km ao largo de Viana do Castelo (Vanney & Mougenot,
1981). Na plataforma média afloram formações sedimentares atribuídas em bloco ao intervalo
temporal Eocénico superior-Plistocénico, ocorrendo formações cretácicas na plataforma
externa. No bordo da plataforma e na vertente continental superior existem afloramentos de
rochas datadas como miocénicas e plistocénicas (Boillot et al., 1978). O contacto entre o soco
e as formações sedimentares mais recentes faz-se por falha que apresenta evidências de
movimentação inversa (Rodrigues & Ribeiro, 1992/3/4) e que constitui o prolongamento
provável em domínio marinho da fractura Porto-Tomar, cuja direcção, em terra, varia entre
SSE-NNW e N-S (Lefort et al., 1981; Cabral & Ribeiro, 1989a; Rodrigues et al., 1990). O
contacto das formações do conjunto Eocénico-Plistocénico com o Cretácico parece também
fazer-se por falha. Estas fracturas constituem um fosso estrutural que se prolonga até à latitude
de Mira, designado por Fosso do Pontal da Galega (Ribeiro et al., 1988). De acordo com dados
obtidos com recurso a observações com o ROV (Remote Operated Vehicle), esta estrutura
poderá corresponder a um graben compressivo, pois que as falhas que a definem apresentam
comportamento com componente inversa (Rodrigues et al., 1992).
3.3. Plataforma sudoeste
Esta plataforma apresenta estrutura relativamente simples, essencialmente constituída por
formações mesozóicas e cenozóicas (fig. III.6), que definem um monoclinal pouco
inclinado
33
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45' 7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Afloramento rochoso
Eocénico superior- Plistocénico
Plio-plis-tocénico
Miocénico
Neogénico ePlistocénico
Eocénico eOligocénico
Complexo hipovulcânico do Cretácico superior
CretácicoJurássico superior
Mesozóicoindiferenciado
Paleozóico superior da zona sul portuguesa
Soco hercínicoprecâmbrico e paleozóico
Manifestação diapírica
Falha
Figura III.6 – Geologia dos sectores estudados (segundo Boillot et al., 1978).
34
(cerca de 4º) para oeste (Baldy, 1977).
As formações magmáticas incluem-se na área imersa do maciço de Sines e correspondem
a tufos brechóides amostrados na plataforma continental (Oliveira, 1984).
As formações sedimentares encontram-se separadas por discordâncias importantes. O soco
hercínico, representado por rochas detríticas pertencentes aos flyschs do Culm, foi identificado
na plataforma interna, com uma largura que não excede os 15 km e que é extremamente
reduzida a sul de Pontal (Baldy, 1977). O Mesozóico aflora, principalmente, a sul da Ponta da
Arrifana e a oeste do canhão de S.Vicente; no entanto, foi detectado localmente ao largo de
Vila Nova de Milfontes, abaixo dos 200 m de profundidade, constituindo pequenos
afloramentos rochosos associados ao movimento de valhas. Discordantemente sobre as
formações rochosas, quer do soco hercínico, quer do Mesozóico e preenchendo pequenas
bacias, provocadas pelo abatimento dos blocos basculados, encontram-se instaladas as
formações detríticas do Neogénico e do Quaternário. O Neogénico, que é afectado por
numerosas falhas de direcção geral NE-SW a NNE-SSW, aflora em grande parte da plataforma
média e externa e da vertente continental, encontrando-se, geralmente, ausente a sul da Ponta
da Arrifana. As formações neogénicas mais antigas (que datam do Miocénico inferior) afloram
essencialmente a NW do cabo de S. Vicente e encontram-se localmente deformadas por dobras
de grande raio de curvatura.
A tectónica tardi-hercínica imprimiu as principais características estruturais a esta
plataforma, sendo responsável por falhas de direcção geral NE-SW a NNE-SSW, com
movimento essencialmente do tipo desligamento sinistrógiro. Estas falhas originaram-se
durante o Estefaniano (Boillot et al., 1975), tendo a sua posterior reactivação durante o
segundo episódio de "rifting" associado com a abertura do Atlântico Norte (Mougenot et al.,
1979) originado uma sucessão de blocos basculados para oeste. As depressões então formadas
foram posteriormente preenchidas por formações detríticas. Uma falha tardi-hercínica bastante
importante é a falha de S. Vicente, com direccão geral NE-SW, que constitui o prolongamento
na plataforma da falha de Odemira e que controla a localização do canhão submarino de
S.Vicente.
3.4. Plataforma algarvia
Esta plataforma, localmente afectada por falhas e por diapiros, é essencialmente
constituída por formações progradantes neogénicas e quaternárias (fig. III.6). A sul do cabo de
S. Vicente, a plataforma é constituída por elevações tabulares, separadas por falhas de direcção
NNE-SSW, onde afloram rochas mesozóicas. Para leste, até ao meridiano da Quarteira, existe
uma grande superfície de aplanação, que trunca a série neogénica, orlada por uma superfície de
progradação. O limite interno da superfície de progradação inflecte para terra a leste do canhão
de Portimão e esta vai ocupar grande parte da plataforma. Para leste do meridiano de Quarteira
o prisma de progradação ocupa toda a plataforma.
35
À medida que nos afastamos do cabo de S. Vicente para leste, os depósito pós-mesozóicos
tornam-se mais espessos e a influências das falhas parece diminuir, pelo menos à superfície.
No entanto, estas falhas condicionam alguns vales submarinos (por vezes preenchidos por
sedimentos) e diapiros que rejogaram recentemente, situados a sul de Portimão e a este de
Faro.
4. Características hidrográfico-climáticas da zona drenada
4.1. Generalidades
A distribuição de altitudes no território português evidencia um nítido contraste entre o
norte mais montanhoso e o sul mais aplanado, e é responsável pela existência de um acentuado
contaste entre os rios setentrionais, dotados de algumas queda e instalados em vales profundos,
e os meridionais, que têm perfis mais regularizados. O caudal dos rios encontra-se em estreita
relação com o regime pluviométrico, sendo muito baixos no Verão e mais caudalosos no
Inverno e mesmo na Primavera, mas apresentando uma grande irregularidade intra-anual e
inter-anual, sobretudo acentuada no sul. As barragens construídas nas bacias hidrográficas de
diversos rios contibuem para a regularização dos caudais dos mesmos.
Algunas características dos principais rios que afluem ao litoral português constam do
quadro III.II e das fig. III.7 e III.8.
Quadro III.II – Algumas características dos principais rios que afluem ao litoral português (Dias, 1987).
Sector Compri-
Mento ( km) Área da bacia hi- drográfica ( km²)
Precipitação anual na bacia (mm)
Litologias predominantes na bacia hidrográfica
Minho A 300 17 081 1 623 rochas granitóides e formações xisto-grauváquicas
Lima A 110 2 480 2 100 rochas granitóides e formações xisto-grauváquicas
Cávado A 135 1 589 2 212 rochas granitóides e formações xisto-grauváquicas
Ave A 90 1 390 1 800 rochas granitóides e formações xisto-grauváquicas
Douro A 937 97 682 1 098 rochas granitóides e formações xisto-grauváquicas
Vouga A 140 3 635 1 350 rochas granitóides e carbonatadas e formações xisto-grauváquicas
Mondego A 227 6 644 1 233 granitos, formações xisto-grauvá-quicas, rochas carbonatadas e arenitos
Liz A 50 915 996 rochas carbonatadas e arenitos
Tejo C 1 010 81 600 931 Formações xisto – grauváquicas,
arcoses, rochas carbonatadas, granitos e quartzitos
Sado C 175 7 696 679 Rochas eruptivas, formaçõe xisto-grauváquicas, arcoses e arenitos
Mira D 150 1 566 667 Formações xisto-grauváquicas
Guadiana E 870 66 960 598 Formações xisto-grauváquicas e rochas eruptivas e carbonatadas
36
Figura III.7 – Área abrangida pelas bacias hidrográficas que desaguam no litoral português. 1 - Área cuja drenagem não é interrompida por barragens. 2 - Área afectada por barragens para aproveitamentos hidroelécticos ou hidroagrícolas. M-Minho; L-Lima; C-Cávado; A-Ave; D-Douro; V-Vouga; Mo-Mondego; T-Tejo; S-Sado; G- Guadiana.
0 5x10 1010
0 50km
R. G
uadi
ana
R. Mira
Nazaré
Lisboa
Sines
S.Vicente
Aveiro
9
Viana
Porto
R. G
uadi
ana
R. Minho
R. Lima
R. Cávado
R. AveR. Douro (16,8)
R. Vouga
R. Mondego
R. Lis
R. Tejo (15,4)
R. Sado
Figura III.8 – Caudais integrais das principais bacias hidrográficas portuguesas (Fiúza, 1984).
37
As condições meteorológicas são dominadas pelo sistema de altas pressões dos Açores e,
em menor escala, pelo núcleo de baixas pressões da Islândia (Fiúza el al., 1982). Este
condicionamento produz tempo seco e estável no Verão, e chuvoso e instável no Inverno. São
duas as tonalidades fundamentais do clima português: a atlântica, que se faz sentir mais a
norte, e a mediterrânea, que caracteriza a parte sul. Excluindo as áreas montanhosas, as
temperaturas médias anuais não ultrapassam, em geral, 17-18ºC na parte meridional, nem
descem aquém de 13-14ºC na parte setentrional. Pelo contrário, as precipitações variam muito,
aproximando-se de 1 500 mm no noroeste e de 300 mm no sul. No conjunto, as temperaturas
médias aumentam de norte para sul, enquanto que as precipitações diminuem no mesmo
sentido.
O regime de ventos, detalhadamente analisado em Instituto Hidrográfico (1990), é
significativamente diferente na costa ocidental e na costa sul (fig. III.9). Na costa ocidental o
rumo mais frequente é N ou NW. Na costa sul, o vento dominante é oriundo de N a ocidente
de
Lagos, e de SW a oriente desta localidade. Em ambos os casos, os ventos mais fortes são
geralmente de SW associados a depressões muito cavadas.
VIANA DO CASTELO
NE
SESW
NW
0
10
20
FIGUEIRA DA FOZ
NE
SESW
NW
0
15
30
SINES
NE
SESW
NW
0
15
30
SAGRES
NE
SESW
NW
0
20
40
FARO
NE
SESW
NW
0
10
20
Frequência (%)
Velocidade média(km/h)
Figura III.9 – Frequência e velocidade média do vento em diversos locais do litoral (segundoInstituto Hidrográfico, 1990).
A distribuição da intensidade do vento ao longo do ano apresenta marcada sazonalidade.
38
4.2. Plataforma norte
A área drenada para este troço da plataforma é constituída principalmente por granitos, na
maioria hercínicos, e metamorfitos precâmbricos e paleozóicos. Esta área é muito extensa
(cerca de 130 000 km²), ocupando em território português mais de 36 000 km². Os principais
rios que afluem a este sector são o Minho e o Douro, cujas bacias hidrográficas correspondem,
respectivamente, a cerca de 13% e de 75 % da área referida (Loureiro et al., 1986). As áreas
das bacias hidrográficas dos rios Lima, Cávado, Ave, Vouga e Mondego são bastante menos
extensas.
O relevo é particularmente acidentado. Entre as serras mais importantes, incluem-se as de
Arga (520 m), Peneda (1 415 m), Gerez (1 507 m), Barroso (1 078 m), Cabreira (1 261 m),
Bornes (1 200 m), Padrela (1 146 m), Mogadouro (993 m), Marão (1 415 m), Montemuro (1
382 m), Leomil (1 008 m), Arada (1 116 m), Caramulo (1 071 m), Buçaco (549 m) e Estrela (1
991 m), que se encontram profundamente recortadas pelos vales da rede hidrográfica que as
definiu.
A proximidade do nível de base explica que os rios que afluem a este sector apresentem
perfis jovens, dissecando o relevo com os seus vales encaixados. Todavia, na foz, encontram-
se em fase activa de assoreamento. O traçado dos rios principais (Minho, Âncora, Lima,
Cávado, Ave e Douro) teria sido condicionado por fracturas que jogaram até muito
recentemente ao longo de antigas descontinuidades do soco, definindo um estilo tectónico a
que Machado (1935) deu o nome de "teclas de piano".
O rio mais importante que aflui a esta plataforma é o Douro, primeiro em área de bacia
hidrográfica (97 300 km²) e terceiro em comprimento (927 km) da Península Ibérica. Rio
sujeito a cheias, apresenta caudais muito irregulares que, no troço terminal, chegam a atingir
17 000 m³/s no Inverno, descendo por vezes a menos de 100 m³/s no Verão (Loureiro et al.,
1986). A regularização dos caudais dos rios que drenam para a plataforma estudada é
efectuada pelas barragens existentes na região.
O Douro é o menos irregular dos grandes rios portugueses. Mesmo assim, em Fevereiro
tem um caudal médio 10 vezes superior ao de Agosto, e a relação entre os anos extremos foi de
9, no período de 38 anos em que se fizeram na Régua medições regulares (1 500 m³/s em
1969/70 e 165 m³/s em 1932/33). Porém, 26 dos 38 anos não se afastaram muito da média,
com valores de escoamento compreendidos entre 300 e 800 m³/s.
São as enormes cheias que fazem do Douro um rio temível. Ocorrem com irregularidade,
podendo passar mais de 10 anos sem nenhuma se manifestar, antes de se sucederem diversas
cheias desatrosas. A maior conhecida data de Dezembro de 1739 com um caudal de ponta
avaliado em 19 000 m³/s no Porto (Quadro III.III). A este propósito, é de referir a existência de
um edifício na zona da Ribeira do Porto no qual se encontram assinalados os níveis atingidos
por algumas cheias.
39
Quadro III.III – Caudais (m³/s) de cheias importantes ocorridas no Douro nos séculos XVIII a XX, segundo Feio et al. (1950) e Loureiro et al. (1986).
Ano 1727 1739 1788 1823 1843 1850 1855 1860 1887 Caudal 14 000 19 000 15 500 15 600 13 000 13 900 12 500 15 100 13 500
Ano 1888 1909 1910 1948 1962 1966 1969 1978 1979 Caudal 11 800 16 700 13 700 9 620 15 700 12 500 8 450 11 600 11 000
A rapidez de propagação das cheias do Douro é muito grande: menos de 20 horas entre a
fronteira e o mar. O que as torna temíveis é a altura que as águas atingem nos troços mais
estrangulados do curso (20 a 25 m na Régua e 10 a 12 m no Porto). Actualmente, no entanto,
já não ocorrem grandes cheias, nomeadamente após a construção da barragem de Crestuma –
Lever.
O clima da região caracteriza-se pela passagem de sucessivas depressões a que se
associam superfícies frontais responsáveis por variações térmicas (ocultas nas médias) e
mudança no rumo dos ventos; o arranjo regional do clima apresenta forte gradiente W-E. As
precipitações, abundantes e prolongadas, são em geral provocadas pelas massas de ar tropical
húmido que, mesmo no Inverno, não deixam arrefecer excessivamente o tempo (Daveau et al.,
1977, 1985). As temperaturas anuais médias são inferiores a 15 oC (Loureiro et al., 1986). A
pluviosidade média anual ultrapassa 1 300 mm, atingindo, pontualmente, 3 000 mm na bacia
do Cávado (Daveau et al., 1977).
Os ventos predominantes são os dos quadrantes W no Inverno e N e NW no Verão.
4.3. Plataforma sudoeste
O relevo da área drenada para este sector caracteriza-se pela grande uniformidade de
planuras extensas (peneplanície), terrenos suavemente ondulados que descem gradualmente de
300 m em Nisa para 200 m na área de Beja. Estas planuras, talhadas indiferentemente em
formações geológicas muito diferentes (granitóides, xistos, etc.), terminam no sul pelas serras
algarvias de Monchique e do Caldeirão. Deste relevo monótono emergem, dispersas e
afastadas, algumas serras que raramente ultrapassam 700 m de altitude.
O clima é quente e seco, com chuvas sobretudo no Inverno. O Verão é bastante
prolongado e seco, em especial nos meses de Julho e Agosto, quando se faz sentir com mais
intensidade a acção do anticiclone dos Açores. Neste período, as temperaturas são
frequentemente elevadas, com valores máximos por vezes superiores a 40 ºC, não sendo raras
grandes amplitudes térmicas diárias. As amplitudes térmicas anuais crescem do litoral para o
interior. A faixa litoral apresenta ainda humidade relativamente elevada durante o período do
estio.
40
O único rio importante que drena para este sector é o Mira, que possui cerca de 150 km de
comprimento. A bacia hidrográfica deste rio, dominada por formações xisto-grauváquicas do
Culm, possui uma área aproximada de 1 570 km², sendo a pluviosidade média anual da ordem
dos 670 mm (Loureiro et al., 1986).
4.4. Plataforma algarvia
O relevo do Algarve é caracterizado por elevações alinhadas grosseiramente W-E, cuja
altitude decresce gradualmente do interior para o mar. Distinguem-se três grandes unidades: a
serra (constituída pelas serras de Monchique e do Caldeirão, com altitudes máximas,
respectivamente, de 902 m e 598 m); o barrocal (conjunto de formações calcárias dispostas a
altitudes escalonadas entre 250 m e 480 m); e o litoral (de forma mais ou menos aplanada),
que sobe para o interior até ao contacto com o barrocal.
O clima é do tipo quente e seco, sendo condicionado pelo desenvolvimento longitudinal
da região e pela presença das massas montanhosas a norte. Se, por um lado, o Algarve se
encontra amplamente aberto às influências moderadoras do oceano, a serra isola-o, impedindo
a entrada dos ventos frios de norte e a progressão dos ciclones subpolares que invadem o país
durante o Inverno e são portadores de chuvas. As temperaturas médias em Janeiro rondam os
12 oC, sendo as amplitudes térmicas anuais fracas. De toda a faixa litoral portuguesa, é a que
apresenta feição mediterrânea mais marcada. A oriente de Quarteira, o clima é tipicamente
mediterrâneo. Para ocidente, o clima, embora de características mediterrâneas, apresenta feição
mais atlântica (Daveau et al., 1977, 1985; Alcoforado et al., 1982).
O rio Guadiana, que forma fronteira a oriente, é o único rio importante existente na região,
com um comprimento de 870 km e uma área da bacia hidrográfica de 66 500 km² (Loureiro et
al., 1986), exibindo uma acentuada irregularidade intra e interanual nos seus caudais. A bacia
hidrográfica deste rio é dominada por formações xisto-grauváquicas, rochas eruptivas e rochas
carbonatadas. Para além deste rio, a drenagem é efectuada por algumas ribeiras (Odeceixe,
Bensafrim, Odelouca, Arade, Alte, Algibre, etc.) cuja expressão a nível regional é diminuta.
Os alinhamentos seguidos pela maioria das ribeiras estão orientados por fracturas, que
determinam, frequentemente, mudanças bruscas na direcção dessas ribeiras. A pluviosidade é
pequena, registando-se valores de altura média de chuva anual (721 mm) bastante inferiores à
média no País (1 010 mm).
Nos 38 anos em que se efectuaram medições do caudal no Pulo do Lobo, o escoamento
médio do Guadiana foi 5 200x106 m³/ano, variando os valores entre 395x106 m³/ano (1948/49)
e 13 900x106 m³/ano (1963/64). Os anos mais recentes registam escoamentos menos
abundantes, o que é exemplificado pelos valores correspondentes a 1980/81 (252x106 m³) e a
1981/82 (203x106 m³). Estes valores são, como seria de esperar, largamente ultrapassados nos
períodos de cheias (quadro III.IV)
41
Quadro III.IV - Caudais (m³/s) de cheias importantes ocorridas no Guadiana nos séculos XIX e XX, segundo Ministério do Ambiente (1996).
Ano 1876 1947 1979 1996 Caudal 11 000 9 650 3 836 3 273
5. Litoral
5.1. Generalidades
O litoral português, geralmente pouco recortado, estende-se ao longo de cerca de 850 km,
encontrando-se, de modo geral, em fase de recuo. Podem distinguir-se 3 grandes tipos: as
arribas altas, com mais de 50 m de comando, as costas com arribas médias ou baixas, e os
litorais baixos, geralmente arenosos. Estes tipos de costa alternam de maneira bastante
irregular e, à primeira vista, ao acaso. Os grandes troços rectilíneos, que predominam, podem
ser tanto arribas como costas baixas. Aos cabos que avançam para o mar correspondem quer
arribas altas (cabos da Roca, Espichel e de S. Vicente) quer baixas (cabos Carvoeiro, Raso e de
Sines) quer, até, uma restinga arenosa (cabo de Sta. Maria). Para além das arribas e das praias,
existem diversos sistemas lagunares, dos quais os mais desenvolvidos são as lagunas costeiras
impropria e habitualmente designadas por Rias de Aveiro 1, de Alvor e Formosa, e as lagoas de
Albufeira, Óbidos e de Sto. André.
5.2. Plataforma norte
A costa a norte do paralelo 41ºN (mais ou menos a latitude de Espinho), com orientação
geral NNW-SSE é, em geral, baixa e rochosa. As praias, por vezes cascalhentas, são pouco
extensas e interrompidas por afloramentos rochosos. Próximo de Caminha define-se uma zona
de acumulação bem desenvolvida, correspondente ao Pinhal do Camarido, a qual, segundo
Carvalho (1988), se formou devido à refracção da ondulação em torno da pequena Ínsua de
Caminha.
A costa a sul do paralelo 41ºN, com orientação geral NNE-SSW, é essencialmente
arenosa. A irregularidade maior desta costa monótona é constituída pelo cabo Mondego, onde
surgem arribas vivas e escolhos talhados no Jurássico. A existência desta proeminência
rochosa determinou a linearidade e direcção da costa entre Espinho e Figueira da Foz. Neste
litoral é de destacar a Barrinha de Esmoriz e a laguna de Aveiro.
1 A laguna de Aveiro é, porventura, a entidade geológica do litoral que maior número de designações conheceu. Daveau (1988) revê a evolução da nomenculatura desde o início do século até à actualidade, revelando-se particularmente crítica em relação às designações haff delta e half delta.
42
A Barrinha de Esmoriz, referenciada na documentação histórica desde 1897, representa o
que resta da antiga lagoa de Ovil (Alves et al., 1988/89). A sua profundidade é pequena e,
segundo Oliveira (1977), apresenta-se excessivamente povoada por vegetação aquática.
Na laguna de Aveiro desaguam vários ribeiros e rios, dos quais o principal é o Vouga.
Está separada do mar por um cordão arenoso de largura variável, comunicando com o oceano
através de barra artificial. Esta laguna possui contornos muito irregulares, com elevado número
de canais e esteiros de pequena profundidade. Esta laguna desenvolve-se segundo duas
direcções perpendiculares: uma, paralela à linha de costa, numa extensão de 55 km; e outra,
perpendicular ao litoral, com um comprimento de cerca de 15 km.
A laguna de Aveiro tem sofrido um assoreamento progressivo, devido fundamentalmente
à perda de competência das águas fluviais, ao fornecimento eólico de areias do cordão litoral e
das dunas, à ineficiência das correntes de maré no transporte de sedimentos para o exterior e à
entrada de materiais provenientes do litoral e da plataforma.
Toda esta costa, ao contrário da localizada a norte do Porto, é de formação recente.
Efectivamente, no século X, apenas existia uma restinga a sul de Espinho, situando-se a foz do
rio Vouga 20 km para o interior do litoral actual. Com a progressão rápida desta restinga para
sul, verificou-se isolamento e assoreamento progressivo da foz dos rios que desaguam nesta
costa (Girão, 1941; Martins, 1947). Segundo Abecasis (1955), a laguna de Aveiro estava já
constituída no século XII, localizando-se a barra a norte da Torreira. Três séculos mais tarde
essa barra atingiu a posição de S. Jacinto. No século XVI localizava-se aproximadamente onde
actualmente se situa a barra artificial. A barra atingiu as alturas de Mira em meados do século
XVIII (Cunha, 1930; Neves, 1935), completando-se assim a formação deste cordão arenoso e
da laguna como estádio final de uma evolução que se teria iniciado sete séculos antes. As
relíquias desta evolução são visíveis ainda nalguns pontos, sendo a lagoa de Mira disso um
bom exemplo.
Na extremidade meridional deste sector, o estuário do Mondego constitui vasta zona
deposicional que se encontra dividido em dois braços principais, separados pela ilha da
Murraceira.
Dias et al. (1994) referem que a posição da embocadura do Mondego era, na primeira
metade do século XIX, divagante, encontrando-se associada à existência de restingas que
atingiam, por vezes, comprimentos superiores a 1 100 m e taxas de crescimento de várias
centenas de metros por ano.
Embora de origem recente, como se disse atrás, esta costa encontra-se presentemente em
fase de recuo generalizado, o que é confirmado pelas frequentes destruições que aqui têm sido
observadas.
43
Na área da Mata do Camarido registaram-se, nalguns pontos, recuos de 200 m entre 1949
e 1974, a que correspondem taxas médias de recuo de 8 m/ano 2(Ferreira et al., 1989).
A arriba de Ofir, talhada em areias de dunas fósseis, sofreu, a partir de 1982, acentuada
acção erosiva pelas águas pluviais conduzidas pelas caleiras do Hotel de Ofir que, rebentadas,
provocaram abarrancamentos que chegaram a atingir as fundações do mesmo. Para proteger
este hotel e as torres de apartamentos próximas foram construídos um enrocamento e um
conjunto de esporões, que induziram um processo de erosão acelerada a sul (Carvalho et al.,
1986; Granja, 1990).
Os efeitos erosivos em Espinho não são recentes, havendo registos de estragos causados
pelo mar desde, pelo menos, o século passado. Entre 1885 e 1910 a linha de costa recuou 225
m (9 m/ano), tendo o centro da vila sido destruído e submerso pelas águas do mar. Entre 1947
e 1958 registou-se erosão severa a sul de Espinho, correspondendo a uma taxa média de recuo
da linha de costa de 8 m/ano (Oliveira et al., 1982).
No Furadoro, os registos de erosão são já bastante antigos. Segundo Oliveira et al. (1982),
a linha de costa terá recuado cerca de 300 a 400 m entre o final do séc. XVIII e 1930.
Bettencourt & Ângelo (1992) analisaram a evolução recente de diferentes sectores da
faixa costeira Espinho-Nazaré. As taxas médias de recuo dos referidos sectores no período
1958- 1985 variam entre 0,7 m/ano (sector Lavos-Leirosa) e 3,2 m/ano (sector Espinho-
Cortegaça). Foram, pontualmente, detectados recuos de 6,7 m/ano (sector praia de S. Jacinto-
praia da Vagueira).
Ferreira (1993) analisou o recuo actual da linha de costa entre Aveiro e o Canto do Marco
entre 1947 e 1990, referindo recuos médios da ordem de 2,1 m/ano no período 1980-1990. A
evolução das taxas médias de recuo da linha de costa tem sido bastante irregular e
extremamente afectada pelas intervenções antópicas.
Junto a Costa Nova do Prado, um pouco a sul de Aveiro, registaram-se recuos pontuais
máximos da ordem de 16 m/ano no período 1947-1954 (Ângelo, 1991) e de 10 m/ano no
período 1958-73 (Oliveira et al., 1982). Ferreira (1993) refere também recuos máximos da
mesma ordem de grandeza para o sector Costa Nova do Prado-Vagueira, no período 1958-70.
Posteriormente aos períodos indicados, as taxas de recuo diminuiram fortemente.
Pelo contrário, o recuo da linha de costa no sector a sul da Vagueira, que era praticamente
inexistente no período 1947-58, tem aumentado de forma gradual. Durante o período 1980-90,
a linha de costa recuou a uma taxa média de 2,3 m/ano, tendo-se, pontualmente, registado
valores da ordem de 8 m/ano (Ferreira, 1993).
2 Na análise dos valores das taxas médias de variação da linha de costa deve-se ter em atenção que os mesmos dependem de multiplos factores, entre os quais se incluem o período analisado, o método de análise, a escala utilizada e a extensão e variabilidade do troço costeiro a que respeitam (Dias et al., 1994)
44
5.3. Plataforma sudoeste
A norte de Sines, o litoral é constituído por arribas com praia contínua subjacente
talhadas na cobertura cenozóica pouco consolidada, cuja actividade se encontra dependente
das condições de agitação do mar e das características das praias adjacentes. Neste litoral,
encontram-se dois sistemas lagunares, as lagoas de Melides e de Santo André, na enseada de
Setúbal (Costa da Galé-Sines). A interrupção da comunicação destas lagoas com o mar deve-se
certamente à conjugação de quatro factores: transporte litoral intenso, fraco caudal dos cursos
de água que aí afluem, grande carga sólida transportada pelos cursos de água nos períodos
mais pluviosos, e elevação do nível médio do mar. O fecho destas lagoas é relativamente
recente (Boléo, 1943; Martins, 1947). Estas lagoas comunicavam ainda directamente com o
mar no século XVI (Wienecke, 1971; Moreira-Lopes, 1979).
O litoral a sul de Sines é, na maior parte, escarpado. É constituído por arribas vivas
talhadas no soco e nas formações mesozóicas bem consolidadas e, frequentemente, nas dunas
consolidadas. Apresenta direcção N-S até à foz da ribeira de Odeceixe, dispondo-se com
orientação geral NNE-SSW a sul deste curso de água. Na foz do Mira e nas dos poucos rios e
ribeiras que afluem a esta região da plataforma desenvolvem-se areais que constituem as
únicas praias deste troço do litoral (p. ex.: Vila Nova de Milfontes, Zambujeira e Odeceixe).
O cabo de Sines é consequência da presença de rochas mais resistentes do maciço anelar
sub-vulcânico existente nesta área. Ao penetrar no mar, o maciço prolonga-se pela plataforma
por alguns quilómetros (Pacheco, 1962; Boillot et al., 1978).
Devido à ondulação dominante de NW, existe uma deriva litoral para sul. No entanto,
admite-se que, imediatamente a sul do cabo de Sines, a refracção da ondulação dominante
origine uma corrente que determine transporte para norte ou, pelo menos, mantenha os
sedimentos em equilíbrio nesta zona (Moita, 1971). O porto de Sines constitui um obstáculo à
deriva longilitoral. O molhe de protecção, que assenta em fundos de 35 a 48 m, possui cerca de
200 m de largura na base (Daveau et al., 1978). Não existem estudos pormenorizados que
permitam avaliar o impacte desta obra nos sedimentos da plataforma continental adjacente.
5.4. Plataforma algarvia
O litoral algarvio é caracterizado, a ocidente, pela predominância de arribas constituídas
maioritariamente em rochas carbonatadas, e a oriente, pela existência de extensos cordões
arenosos.
As arribas que se estendem desde o cabo de S. Vicente até perto da Ponta da Piedade são
talhadas predominantemente em formações carbonatadas mesozóicas. As irregularidades deste
sector da costa são atribuíveis a fracturação e a variações litológicas, a ocidente da praia da
Figueira, ou à presença de rochas eruptivas a oriente desta praia.
Para oriente da Ponta da Piedade e até às proximidades dos Olhos de Água, as arribas
desenvolvem-se em rochas carbonatadas e detríticas de idade miocénica, nomeadamente
45
calcários, calcarenitos, siltitos e arenitos, estando sujeitas a importante condicionamento pelo
paleo-relevo cársico. Este tipo de relevo é responsável pela existência frequente de escolhos e
leixões, os quais são mais abundantes quando a costa está protegida da agitação marítima
predominante (Dias, 1988).
Entre os Olhos de Água e a Quinta do Lago dessenvolve-se sistemas de arribas talhadas
em arenitos argilosos vermelhos atribuídos ao Miocénico e/ou pós-Miocénico. A litologia
dominante é constituída por arenitos e siltitos mal consolidados, por vezes com camadas
cascalhentas. Como estes tipos litológicos são facilmente desagregáveis, os processos de
erosão continental, actuando sobre eles, provocam intenso abarrancamento. Parte importante
da areia de praia existente no sopé das arribas provém da erosão destas formações (Dias,
1988).
De um modo geral, as arribas do litoral algarvio são activas, sendo a erosão marinha, na
base, muito superior à erosão sub-aérea. As taxas de recuo das arribas são bastante maiores a
oriente que a ocidente, devido principalmente à litologia em que estão talhadas (Godard, 1967;
Dias, 1984, 1988; Marques, 1991).
As praias existentes no litoral talhado nas formações mesozóicas são pequenas,
encontrando-se geralmente relacionadas com a foz de pequenas linhas de água. Localizam-se
preferencialmente entre saliências da costa, beneficiando da dissipação da energia das vagas
incidentes. O litoral das formações miocénicas apresenta pequenas praias encastradas
frequentemente condicionadas pelo modelado cársico actualmente em fase de exumação
marinha. Na baía de Lagos estendem-se longos areais relacionados com a foz do Bensafrim e
do sistema Alvor-Odiáxere. A progressão de restingas arenosas a partir da Meia Praia, a
ocidente, e da zona da Ponta João de Arens, a oriente, anastomosou as fozes do Alvor e do
Odiáxere, formando ambiente barreira medianamente desenvolvido e muito assoreado. Mais
para oriente, desenvolveram-se areais relacionados com a foz das ribeiras principais, como em
Armação de Pera e Albufeira. Como o transporte litoral predominante é de oeste para este,
estes depósitos de areias localizam-se preferecialmente a oriente da foz, com direcção NW-SE,
perpendicularmente à direcção da agitação marítima dominante (Dias, 1984).
A oriente da Quinta do Lago o litoral é do tipo arenoso, estendendo-se até à foz do
Guadiana. Podemos considerar dois sectores distintos: o sistema de ilhas barreira de Faro-
Olhão (Ria Formosa) e o litoral arenoso que se lhe situa a oriente.
O sistema de ilhas barreira de Faro-Olhão , que tem vindo a ser intensivamente estudado
desde os anos 80 (p.ex.: Dias, 1984, 1986, 1988; Granja, 1984; Granja et al., 1984;
Bettencourt, 1985, 1994; Teixeira et al., 1988, 1989; Andrade, 1989, 1990; Andrade et al.,
1989a; Ciavola et al., 1995, 1996, 1997a, 1997b, 1998), é essencialmente constituído pelas
penínsulas do Ancão e de Cacela e pelas ilhas da Barreta, da Culatra, da Armona, de Tavira e
de Cabanas, desenvolvendo-se em forma de triângulo escaleno cujo vértice exterior constitui o
cabo de Santa Maria (fig. III.10). De acordo com Monteiro et al. (1984) e Pilkey et al. (1989),
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a origem e evolução deste sistema está possivelmente relacionada com a subida, pós-Würm, do
nível do mar.
O sistema de ilhas barreira é extraordinariamente dinâmico. As barras são, geralmente,
muito instáveis. A maior parte das barras migra, com o tempo, desde uma posição preferencial,
a ocidente, até uma posição limite, a oriente, posições essas que parecem ser específicas de
cada barra. Concomitantemente com esta migração, e com ela directamente relacionados,
verificam-se processos de destruição da parte oriental e reconstrução da parte ocidental das
ilhas entre as quais se definem as barras (Weinholtz, 1964, 1978a; Granja, 1984). As taxas de
migração destas barras e as de crescimento da parte oriental e de destruição da parte ocidental
das ilhas são frequentemente espectaculares, chegando a atingir valores da ordem de 70m/ano
ou até superiores a 100 m/ano (Bettencourt, 1985; Esaguy, 1985; Dias, 1988).
Para oriente do sistema de ilhas barreira a praia é contínua, formando larga enseada
assimétrica, extremada a oriente pelo banco de O'Bril, na foz do rio Guadiana. A acção
conjugada do vento e da ondulação de SW, dominantes, fez com que os bancos de poente
formados pela acumulação de areia a oeste da embocadura deste rio (Weinholtz, 1978b) se
unissem a terra formando o banco de O'Bril e engrossando cada vez mais a praia, desde a
Ponta da Areia até para além de Monte Gordo.
De um modo geral, o litoral algarvio encontra-se em fase de recuo, não só na parte das
arribas, como também na zona das ilhas barreira.
Figura II.10 – Sistema de ilhas barreira de Faro-Olhão (Dias, 1988).
A evolução das arribas talhadas nas areias plio-plistocénicas da região de Quarteira,
(Forte Novo, Trafal e Vale do Lobo) tem sido analisada por diversos autores (p. ex: Guillemot,
1974; Dias, 1984, 1988; Granja, 1984; Bettencourt, 1985; Andrade et al., 1989b; Andrade,
1990; Marques, 1991; Dias & Neal, 1992; Correia et al., 1994, 1995; Pereira et al., 1997). As
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taxas de recuo médias determinadas para este sector durante o período 1958-69 são da ordem
de 0,5 m/ano. A construção do campo de esporões de Quarteira e do molhe de Vilamoura no
início da década de 70 foi responsável por um acréscimo deste valores. Em Trafal e Forte
Novo registaram-se recuos médios superiores a 1,5 m/ano no período 1976-83 e a 3 m/ano no
período 1983-91. Em Vale do Lobo, o acréscimo das taxas de recuo foi substancialmente
menor, registando-se valores médios de 0,7 m/ano no período 1976-83 e de 1,1 m/ano emtre
1983 e 1991.
De acordo com Pereira et al. (1997), o recuo médio registado neste sector entre Outubro
de 1995 e Janeiro de 1997 variou entre 3,7 m (em Vale do Lobo) e 8,5 m (em Forte Novo).
Estes valores confirmam que a erosão continua muito activa em todo este sector, estando
possívelmente, segundo os mesmos autores, a amplificar-se na parte oriental.
Na praia de Faro, na zona do sistema de ilhas barreira, a linha de baixa mar recuou cerca
de 1m/ano entre 1945 e 1964 (Weinholtz, 1978a). Todavia, localmente, verifica-se acreção
nalguns depósitos arenosos, geralmente relacionada com intervenções de origem humana. É o
que se passa no caso da ilha da Barreta, em que a face oceânica se deslocou, desde 1942, mais
de 300m para o mar em consequência da construção e prolongamento do esporão de protecção
à barra de Faro (Dias, 1987). Outro exemplo de acreção induzida antropicamente é constituído
pela intensa acumulação de areias junto ao dique poente de canalização da corrente, no troço
terminal do estuário o Guadiana.
6. Neotectónica
A existência de estruturas tectónicas actualmente activas é, tal como a constituição
geológica e estrutura antigas, extremamente importante para o estudo da evolução recente da
plataforma, uma vez que a acção da tectónica activa se repercutiu certamente no padrão
sedimentológico e nas características geomorfológicas da platafoma continental.
A actividade neotectónica da margem continental portuguesa é consequência da sua
localização no contexto da tectónica de placas (fig. II.11), na proximidade da fronteira de
placas Açores-Gibraltar. Algumas evidências (nomeadamente, a variação da intensidade e da
trajectória do campo de tensões quaternário e a idade da crosta oceânica no contacto com o
continente) favorecem um modelo segundo esta margem se encontra num estádio transitório
entre passiva e activa, com tendência para aumento da actividade tectónica com o tempo,
encontrando-se a zona de subducção incipiente localizada na base da vertente continental e em
nucleação de sul para norte (Ribeiro & Cabral, 1987; Cabral & Ribeiro, 1989a; Cabral, 1995).
Neste contexto, é de referir a importância do segmento meridional da margem oeste ibérica,
cuja ruptura terá produzido o sismo de Lisboa de 1755 (Ribeiro, 1994).
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Figura III.11 – Enquadramento geodinâmico da margem continental (Ribeiro, 1994).
Este enquadramento é responsável por uma actividade tectónica importante, que se
manifesta pela presença de deformações recentes (neotectónicas) e por uma sismicidade
significativa ao longo da fronteira das placas eurasiática e africana, cujos epicentros se
localizam na zona de subducção intraoceânica situada imediatamente a sul do Banco de
Gorringe (Ribeiro et al., 1979), e da margem ocidental, fornecendo um cenário de importante
potencial sismogénico. As vibrações induzidas pelos sismos e pelas ondas oceânicas por eles
eventualmente geradas influenciam os sedimentos de fundo, ao provocar modificações de
grande amplitude nas características granulométricas e no padrão sedimentar da cobertura não
consolidada da plataforma.
A análise da carta de epicentros de sismos históricos (fig. III.12) revela também a
existência de sismicidade intra-placas. As falhas com actividade sísmica correspondem, na
margem continental, a grandes acidentes tardi-hercínicos onde se instalaram canhões
submarinos, que se prolongam em domínio oceânico pelas direcções transformantes ligadas à
abertura do Atlântico (Ribeiro et al., 1979).
Os movimentos verticais, nomeadamente os devidos a fenómenos de compensação
isostática induzida pela transgressão flandriana, foram certamente importantes. Com efeito, as
plataformas continentais são submetidas, no decurso de período transgressivo de grande
amplitude, a aumento de carga considerável, a qual se traduz em desiquilíbrios isostáticos e
consequentes movimentos compensatórios. No que respeita à plataforma continental potuguesa
setentrional, este assunto encontra-se referido com algum pormenor em Dias (1987) e, embora
com menor relevância, em Rodrigues & Dias (1989) e Rodrigues et al. (1990, 1991).
São vários os acidentes reconhecidos em terra, cujo prolongamento para a plataforma foi
estabelecido através de gravimetria, de magnetometria e de reflexão sísmica. É o caso, por
exemplo, da zona de fractura Porto-Tomar (Lefort et al., 1991), que na plataforma continental
apresenta evidências de movimentação inversa (Cabral & Ribeiro, 1989b).
1 – Fronteira de placas transformante e fallhas de desligamento 2 – rotura do sismo de 1/11/1775 3 – trajectórias de tensão compressiva máxima horizontal 4 – Fronteira de placas convergente e falhas inversas Eu – placa euroasiática Af – placa africana Go – banco de Gorringe
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Figura III.12 – Distribuição de epicentros de sismos históricos e instrumentais. A dimensão do símbolo é proporcional à magnitude (Cabral, 1995).
7. Súmula
1. Os sectores da plataforma continental portuguesa estudados apresentam diferentes
características geológicas, morfológicas, hidrográfico-climáticas e oceanográficas.
2. A norte do cabo Mondego, a existência de diversos rios, a alta pluviosidade na região
emersa adjacente e o acidentado do relevo permitem pressupor uma plataforma continental
bem abastecida em partículas terrígenas provenientes do continente. Contudo, o estado actual
de assoreamento dos estuários permite deduzir qur este abastecimento se atenuou
recentemente. A sul do paralelo 41º N, o padrão de distribuição sedimentar não é,
possivelmente, complexo, em relação com a regularidade e suavidade do relevo da plataforma.
3. A plataforma ocidental a sul do canhão de Setúbal é limitada a norte por este acidente
morfológico, que se define a cerca dos 50 m de profundidade. Nestas circunstâncias, é
possível que se verifique passagem de sedimentos grosseiros entre as cabeceiras do canhão e a
costa, provenientes da região localizada imediatamente a norte. É possível que, transportados
em suspensão, o silte e a argila passem sobre o canhão, sofrendo ainda (principalmente os
depositados na sua margem esquerda) eventual ressuspensão periódica, devido a fenómenos de
"upwelling" costeiro. A inexistência de rios importantes, o acidentado e a constituição
litológica da parte emersa permite supor região deficitária no abastecimento de terrígenos. A
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erosão das arribas e do fundo apenas poderá fornecer quantidade diminuta de material
essencialmente fino. A ocorrência de "upwelling" permite ainda deduzir que o conteúdo em
partículas biogénicas é importante.
4. A inexistência de rios importantes, além do Guadiana, que afluam à plataforma algarvia e o
tipo e constituição do relevo emerso permitem supor que esta plataforma é bastante deficitária
em terrígenos grosseiros (areia ecascalho).
5. O conjunto dos elementos anteriormente referidos permite deduzir que o abastecimento de
terrígenos para a plataforma é, de modo geral, pequeno relativamente à areia e ao cascalho. No
entanto, grandes quantidades de sedimentos transportados em suspensão continuam a ser para
aí carreados.
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IV. PROCESSOS DE FORNECIMENTO E DISTRIBUIÇÃO
1. Introdução O padrão de distribuição da cobertura sedimentar não consolidada das plataformas continentais é condicionado pela natureza e magnitude dos processos responsáveis pelo fornecimento e distribuição de partículas. É de salientar que o modo de actuação de tais processos conduz a que, frequentemente, estes se comportem, em simultâneo, como agentes fornecedores e distribuidores de partículas. Os processos modernos que operam na plataforma e vertente continentais estudadas são variados e, particularmente no que concerne aos de distribuição, mal conhecidos. Os dados que possibilitam a avaliação da importância dos processos responsáveis pela remobilização e redistribuição de partículas são escassos ou mesmo inexistentes. Além dos processos de distribuição a seguir mencionados, outros são possivelmente importantes. É o caso, por exemplo, da circulação termohalina e das ondas infra-gravíticas. A configuração destes processos sofreu modificações importantes, que são razoavelmente conhecidas, desde o último máximo glaciário. No presente capítulo é apresentada uma resenha dos conhecimentos disponíveis sobre as referidas modificações.
2. Processos de fornecimento 2.1. Contribuição fluvial O principal processo de fornecimento de partículas para o depositário encontra-se associado aos rios e ribeiras que afluem à plataforma continental e respectivos estuários. A maior parte deste material é debitado para a plataforma quando o jacto de maré ou de cheia rompe a barreira energética litoral (Allen, 1970), transportando grandes quantidades de partículas em suspensão. As condições mais propícias para transferência do material para a plataforma ocorrem quando se verifica coincidência entre a ponta de cheia e marés vivas em condições de pressão atmosférica elevada e ausência de ventos (ou com ventos de terra para o mar). Este conjunto de condições é bastante raro, até porque o período de cheias coincide com a estação invernal. No entanto, a transferência de materiais é elevada mesmo em condições menos propícias, como se comprova pela turbidez das águas na adjacência das desembocaduras dos rios. A avaliação mais rigorosa do débito sedimentar dos rios e ribeiras resulta, obviamente, de medições experimentais que possibilitem o conhecimento das relações existentes entre volumetria sólida e escoamento fluvial. Todavia, as campanhas experimentais devem, dada a grande variabilidade do regime hidráulico dos rios, prolongar-se por períodos de diversos anos,
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implicando investimento avultado, raramente disponível. O único estudo sistemático conhecido em Portugal desenvolveu-se em três secções do rio Tejo (Henriques & Cunha, 1982). Contudo, apesar de se ter prolongado por 8 anos, este estudo não conseguiu contemplar a totalidade do espectro de débitos característicos daquele rio. As dificuldades de financiamento de estudos experimentais que permitam obter estimativas de débito sólido fluvial conduzem freqentemente à aplicação de métodos desenvolvidos em climas não mediterrânicos. Não existem dados que permitam, com fiabilidade suficiente, saber qual a quantidade de sedimentos que são fornecidos actualmente às regiões analisadas. Com o objectivo de quantificar, de algum modo, esse processo de fornecimento, aplicou-se o método de Langbein & Schumm (1958), que permite calcular o presumível volume anual de sedimentos debitados por cada rio. Este método tem base empírica e foi desenvolvido com dados colhidos nos Estados Unidos da América. A sua aplicação a outras regiões pode ser, portanto, questionável. Por outro lado, é um modelo simplista, não comtemplando uma longa lista de parâmetros que influenciam, em menor ou maior grau, a carga sedimentar transportada pelos rios. Os factores correctivos respectivos são difíceis de determinar, até porque, com frequência, são interdependentes. Entre os parâmetros não explicitamente contemplados podem referir-se, por exemplo, a não homogeneidade da bacia, os tipos litológicos dominantes, a percentagem de área agricultada, o tipo de relevo, a construção de barragens e a desflorestação acidental ou intencional. Não obstante as suas limitações, este método tem sido intensivamente utilizado, visto que permite avaliar a ordem de grandeza da quantidade de sedimentos debitados pelos rios. Os presumíveis valores, expressos em 10³ m³/ano, da totalidade do material transportado (Sed. T.), junto ao fundo (T.F.) e em suspensão (T.S.), constam do quadro IV.I. Quadro IV.I - Estimativas do material presumivelmente transportado na totalidade (Sed. T.), junto ao fundo (T.F.) e em suspensão (T.S.) pelos principais rios que drenam para os sectores estudados, em regime natural.
Rios Sed. T. (x103 m3/ano)
T.F. (x103 m3/ano)
T.S. (x103 m3/ano)
Minho 1 734,4 185,2 1 549,2 Lima 126,8 13,0 113,8
Cávado 163,7 16,8 146,9 Ave 169,8 16,6 153,2
Douro 11 243,8 1 646,2 9 597,6 Vouga 374,5 42,2 332,3
Mondego 1 396,4 230,8 1 165,6 Mira 284,5 30,2 254,3
Guadiana 7 196,1 763,7 6 432,4 Ribeiras do
Algarve 1 036,2 110,0 926,2
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A análise destes valores indica que os rios Douro e Guadiana são potencialmente os principais fornecedores de partículas para os sectores estudados. As partículas debitadas por estes rios são principalmente transportadas em suspensão para o seio da plataforma. O material mais grosseiro que consegue libertar-se do sistema estuarino por transporte junto ao fundo fica na dependência do regime litoral. É provável que os estuários dos rios que afluem à plataforma funcionem simultaneamente como fornecedores de partículas finas e receptores de partículas mais grosseiras provenientes, quer do sistema fluvial localizado a montante, quer do sistema litoral localizado a juzante, tal como é sugerido por Swift (1976a) para as condições presentes. Os materiais provenientes destas zonas estuarinas são certamente constituídos essencialmente por areias médias e, principalmente, areias finas e muito finas, siltes e argilas. Oliveira (1994), com base na aplicação de um método desenvolvido por Bevis & Dias (1986) e que permite decompor um curva granulométrica nas diversas populações gaussianas que a constituem, concluiu que as partículas actualmente exportadas pelo rios que afluem ao litoral português a norte de Espinho apresentam dimensões correspondentes às do silte e da argila. A análise de amostragem colhida nas bacias hidrográficas dos rios Minho, Cávado, Lima, Ave e Douro permite concluir que os estuários destes rios parecem funcionar como "armadilhas" das palhetas de mica (Magalhães, 1993). A exportação dos materiais finos dos estuários para a plataforma processa-se geralmente através do desenvolvimento de plumas túrbidas superficiais e de fundo, cujas dimensões e características são directamente relacionáveis com a importância dos sistemas fluviais associados, e que apresentam uma variabilidade espacial e temporal cujo conhecimento se encontra ainda numa fase embrionária (Oliveira, 1994; Garcia et al., 1995). No entanto, detecta-se por vezes a existência de uma camada única com valores praticamente homogéneos de turbidez ao longo de toda a coluna de água. De maneira geral, a pluma superficial apresenta uma área mais extensa do que a de fundo, sendo esta a que apresenta os valores mais significativos de turbidez. No Inverno, as águas da plataforma interna são, como seria de esperar, mais frias e menos salinas do que no Verão, reflectindo a influência directa do escoamento dos cursos de água que afluem ao litoral, o que se encontra também relacionado com os maiores valores de turbidez que se verificam nesta altura do ano. A distribuição da concentração da matéria em suspensão faz ressaltar a existência duma nítida variabilidade sazonal e espacial. No Inverno, a concentração à superfície atinge valores superiores a 5 mg/l perto da desembocadura dos rios, descendo para valores inferiores a 2 mg/l na plataforma média. A concentração no fundo varia entre 2 a 15 mg/l na plataforma interna e entre 2 a 4 mg/l na plataforma média. No Verão, a concentração à superfície é mais baixa, com valores geralmente inferiores a 1 mg/l na plataforma interna e média, e valores compreendidos
54
entre 0,93 e 2,4 mg/l perto da desembocadura dos rios. Perto do fundo, a concentração na desembocadura dos rios atinge valores superiores a 4 mg/l. O cortejo dos minerais argilosos detectados nas plumas túrbidas associadas com os rios Minho e Douro é bastante semelhante no Verão e no Inverno, sendo dominado por ilite, clorite, caulinite, montmorilonite e interstratificados. O quartzo, a moscovite, os feldspatos e a gibsite são os pricipais minerais não argilosos identificados. Estes cortejos estão relacionados com um acarreio continental formado por uma mistura de materiais procedentes dos solos e perfis de alteração com origem na meteorização de rochas graníticas e xisto-grauváquicas, que constituem a litologia dominante das bacias hidrográficas drenadas. Nos sedimentos do estuário do Lima foram identificados ilite, interestratificados ilite-vermiculite, gibsite e caulinite, além de vestígios de feldspatos e quartzo (Alves & Alves, 1993). Os numerosos jazigos de caulino existentes na região são uma fonte importante de caulinite e quartzo, além de ilite, gibsite e montmorilonite (Lapa, 1969). As rias galegas são, aparentemente, uma fonte importante de materiais para estas plumas túrbidas. Efectamente, os minerais argilosos nelas predominantes nas rias da Galiza são os minerais cauliníticos, acompanhados por micas, interestratificados e gibsite (Vasquez & Anta, 1988). A análise do quadro IV.I indica que o sector norte é caracterizado por forte abastecimento fluvial. Este forte abastecimento encontra-se relacionado, entre outros factores, com a grande área das bacias para aí drenantes (superior a 120 000 km²), com a elevada pluviosidade média (superior a 1 000 mm/ano e ultrapassando 2 000 mm/ano nalgumas bacias hidrográficas), com o perfil relativamente jovem da maior parte dos rios que aí afluem e com as litologias dominantes nessas bacias (em que avultam rochas granitóides e formações xisto-grauváquicas). Estas características contrastam fortemente com as do sector sudoeste, cuja área drenante é de apenas 2 600 km², em que a pluviosidade média é bastante inferior a 1 000 mm/ano, em que o pendor médio dos pequenos rios existentes é muito moderado, e em que as litologias dominantes são essencialmente constituídas por rochas xisto-grauváquicas. O sector sul contrasta também fortemente com o sector norte, visto que a área drenante é de 70 600 km², a pluviosidade média é bastante inferior a 1 000 mm/ano, o pendor médio dos pequenos rios aí existentes é pequeno, e as litologias dominantes são essencialmente constituídas por rochas carbonatadas e xisto-grauváquicas. Estas características localizam o sector sul numa posição intermédia entre os outros no que se refere aos factores mencionados.
2.1.1. Correntes de cheia Estas correntes encontram-se simultaneamente associadas aos processos de fornecimento e de distribuição das partículas pelo depositário. Efectivamente, a maioria das partículas terrígenas que alimentam o depositário liberta-se do meio estuarino no decurso de grandes cheias, cujas correntes contribuem, também, para a sua dispersão pelo depositário.
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As ocasiões de maiores cheias verificam-se, via de regra, nos períodos invernais e encontram-se, frequentemente, associadas a temporais que induzem ventos fortes e grande agitação marítima. O depositário encontra-se sujeito a um período invernal em que se verifica grande fornecimento e intensa redistribuição e a um período estival, no qual é mínimo o fornecimento de partículas terrígenas e a redistribuição é pequena. No entanto, esta ciclicidade anual não é homogénea. De facto, nalguns anos as cheias atingem de forma catastrófica os rios (sendo muito importantes as consequências na plataforma), enquanto que noutros quase não ocorrem cheias. Nos anos caracterizados por períodos invernais rigorosos, a acção destas correntes repercute-se, provavelmente, de modo significativo na produtividade de certas espécies biológicas. Neste contexto, refira-se que o decréscimo da abundância da ameijoa branca (Spisula solida L.), detectado em Março de 1996 em bancos localizados entre a foz do Douro e Mira, se encontra provavelmente relacionado com as prolongadas cheias do Inverno anterior (Sobral, 1996). Estas correntes são provavelmente as grandes responsáveis pelo fornecimento dos materiais finos que ocorrem nos sectores estudados. Desempenham ainda um papel importante na constituição dos depósitos litorais e dos depósitos finos detectados na plataforma média. Porém, o fornecimento destes materiais tem sofrido uma apreciável diminuição (Dias, 1990).
2.1.2. Influências antrópicas no fornecimento por via fluvial A precipitação que ocorre na área cuja drenagem se efectua para a plataforma provoca aumento dos caudais dos rios e da sua competência transportadora, o que induz grande transporte de carga sedimentar. No entanto, actualmente, devido à existência de numerosas barragens, o caudal destes rios encontra-se mais regularizado, sendo menos frequentes as grandes cheias, menores os caudais médios de Inverno e maiores os de Verão, o que, certamente, tem repercussões profundas ao nível do transporte sedimentar. Por outro lado, o efeito de retenção dos sedimentos pelas barragens repercute-se ainda nos quantitativos sedimentares debitados pelos rios para a plataforma. A construção de barragens induz diminuição drástica da área das bacias hidrográficas que efectuam a drenagem directamente para a plataforma. Quando se constrói uma barragem, a bacia hidrográfica fica dividida em duas: uma, a montante, que se pode considerar endorreica; outra, a jusante, que continua a ser exorreica. Como estes aproveitamentos são, em geral, construídos no sector superior dos rios, em que o respectivo perfil se encontra ainda muito afastado do de equilíbrio, as suas albufeiras acabam por se converter em áreas de deposição correspondentes aos troços dos rios com maior capacidade erosiva e transportadora. Contudo, da sua construção não resulta a imediata redução da carga sólida que aflui ao litoral, uma vez que a concomitante alteração do regime hidráulico tende a remobilizar os sedimentos fluviais acumulados a jusante da obra, retardando o deficit sedimentar na foz.
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O decréscimo da quantidade dos materiais que chegam ao litoral deve ter sido enorme após a construção das barragens. Efectivamente, as medições do assoreamento em albufeiras portuguesas permitiram verificar que os limites da erosão específica nas áreas para elas drenadas estão compreendidos entre 23 e 760 m³/km²/ano (Rocha & Ferreira, 1980), valores que constituem um indicador da deficiência do abastecimento do litoral e da plataforma que se tem registado nos últimos anos. Por outro lado, a simples análise da redução da área que é directamente drenada para o mar devido à construção de barragens, a qual é superior a 85% (Ferreira et al., 1989), permite deduzir que a diminuição dos volumes sedimentares transportados por via fluvial é extremamente significativa. Considerando que as descargas das barragens, nomeadamente no decurso das cheias, não conseguem remobilizar de forma significativa as partículas arenosas (depositadas preferencialmente na parte montante das albufeiras), pode concluir-se que estes aproveitamentos hidroeléctricos e hidroagrícolas são responsáveis pela retenção de mais de 80% dos volumes de areias que eram transportados antes da sua construção (Dias, 1990). A título meramente exemplificativo, refira-se o caso do rio Douro, principal abastecedor sedimentar da costa norte portuguesa, cuja bacia hidrográfica está afectada por mais de 70 barragens (com uma capacidade de armazenamento superior a 9 000x106 m³), que interrompem quase por completo o trânsito fluvial de areias e regularizam os caudais hídricos deste rio, tendo algumas delas (p. ex.: Crestuma-Lever) sido construídas já no estuário e bastante perto da foz. Em consequência destas e de outras intervenções, o rio Douro, que em regime natural debitaria cerca de 1,8x106 m³/ano de carga sólida transportada junto ao fundo, teve esse valor reduzido para cerca de 0,25x106 m³/ano (Oliveira et al., 1982). Cumulativamente, as extracções de inertes e as dragagens portuárias têm sido, no troço inferior deste rio, incluindo o estuário, bastante intensivas, atingindo valores da ordem de 1,5x106 m³/ano no início da década de 80. As estimativas da quantidade de material transportado por via fluvial após a construção das barragens construídas nas bacias hidrográficas que drenam para os sectores estudados constam do Quadro IV.II. A análise deste quadro sugere que, de facto, as barragens são responsáveis por uma drástica diminuição no abastecimento de partículas ao litoral e que o sector no qual se verificou maior decréscimo nos quantitativos sedimentares debitados para o litoral foi certamente a plataforma norte. A regularização dos caudais dos rios, efectuada principalmente pelas barragens, influencia também, de forma profunda, a alimentação do litoral. Com efeito, é nos períodos das grandes cheias que a maior parte dos materiais é transferida das zonas estuarinas para a plataforma continental e para o litoral. A redução da probabilidade da ocorrência de cheias provoca a diminuição da probabilidade do litoral ser suficientemente abastecido.
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A regularização dos cursos de água constitui também, embora em menor escala, importante factor na abastecimento de partículas ao litoral. A este respeito, cite-se, entre muitos outros exemplos, o caso da ribeira de Quarteira (Andrade, 1990). Quadro IV.II - Estimativa do material presumivelmente transportado na totalidade (Sed. T.), junto ao fundo (T.F.) e em suspensão (T.S.) pelos principais rios que drenam para os sectores estudados, após a construção de barragens.
Rios Sed. T. (x103 m3/ano)
T.F. (x103 m3/ano)
T.S. (x103 m3/ano)
Minho 284,6 30,4 254,2 Lima 119,5 12,3 107,2
Cávado 81,9 8,4 73,5 Ave 140,9 12,6 128,3
Douro 2 248,7 329,2 1 919,5 Vouga 351,4 39,6 311,8
Mondego 483,3 79,9 403,4 Mira 155,1 16,5 138,6
Guadiana 2 074,6 220,2 1 854,4 Ribeiras do
Algarve 394,8 41,9 352,9
2.2. Erosão do litoral Na transição do séc XIX para o séc. XX o comportamento regressivo do litoral foi subitamente interrompido, quando o nível tecnológico humano se revelou capaz de intervir em grande escala, modificando as características ambientais. O incremento do efeito de estufa (e consequente subida do nível relativo do mar, que apresenta actualmente tendência para acelerar), a construção de grandes barragens e de portos com grandes molhes de protecção, as explorações de inertes fluviais e nas zonas vestibulares dos rios, as dragagens intensivas nas zonas portuárias e respectivos canais de acesso, entre outras acções, induzem presentemente no litoral um comportamento transgressivo. Indícios vários apontam para o facto dos estuários actuais funcionarem mais como zonas colectoras de sedimentos do que como exportadoras de materiais arenosos para a plataforma. A deficiência sedimentar assim criada é, em parte, compensada pela erosão do litoral. Parte dos sedimentos provenientes deste processo depositam-se na praia submarina e na plataforma continental (p. ex.: Andrade, 1990; Bettencourt & Ângelo, 1992). Algumas das estruturas implantadas no litoral desde os anos 50 favorecem um desvio dos trânsitos sedimentares do litoral para o largo, o que terá provocado um aumento muito significativo dos sedimentos depositados na plataforma. A importância da erosão das arribas como processo de fornecimento de partículas para o depositário encontra-se relacionada com a maior ou menor extensão relativa que apresentam e
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com o estado de consolidação e/ou fracturação das rochas em que normalmente se encontram talhadas. Como seria lógico pressupôr, este processo é bastante importante no caso de arribas talhadas em formação fracamente consolidadas, apresentando reduzida importância no caso contrário.
2.3. Movimentos de massa A maior parte do material debitado actualmente para a plataforma acaba possivelmente por se acumular na proximidade do bordo da plataforma, constituindo sequências progradantes bem evidentes nalguns perfis de reflexão sísmica, como os reproduzidos em Vanney & Mougenot (1981) e Mougenot (1985, 1989). As sequências progradantes evidenciadas em tais perfis apresentam, por vezes, espessura e comprimento elevados, indicando a grande intensidade e/ou continuidade temporal destes fenómenos progradativos. Tais acumulações são ocasionalmente sujeitas a movimentações gravíticas, em consequência das quais ocorrem deslizamentos e correntes turbidíticas, responsáveis pela transferência para maiores profundidades A actividade sísmica favorece a ocorrência de movimentos de massa. Efectivamente, as acelerações horizontais do substrato rochoso associadas são responsáveis por um aumento das condições de instabilidade. É suficiente uma aceleração correspondente a 2% do valor da aceleração da gravidade para desencadear movimentos de massa no eixo do canhão submarino do Porto, tornando-se a área envolvente instável no caso da ocorrência de sismos de magnitude 3,5 a cerca de 20 km de distância ou de magnitude 6,5 a uma distância de 100 km (Rodrigues et al., 1994). Este último caso corresponde ao sismo de 63 a.C., cuja magnitude histórica foi superior a 6,5 (de acordo com Martins & Mendes Victor, 1990) e cujo epicentro se localizou 100 km a oeste das cabeceiras do referido canhão. A ocorrência frequente de áreas de progradação e o enquadramento sismo-tectónico permitem supor que os resultados obtidos por Rodrigues et al. (1994) podem ser estendidos à totalidade da plataforma continental portuguesa.
2.4. Outros processos de fornecimento O fornecimento por transporte eólico e a erosão de afloramentos de rochas submersas fornecem, de igual modo, partículas para o depositário. Porém, a sua contribuição não é, seguramente, significativa à escala global do depositário. O regime de vento na costa é determinado pela sobreposição à circulação atmosférica de larga escala do efeito de brisas locais geradas pelo desigual aquecimento e arrefecimento da terra e do oceano. Na costa ocidental, os ventos predominantes são os de noroeste e norte. Os ventos a que correspondem geralmente velocidades médias mais elevadas são os de S, SW e NW. Os ventos
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de terra são mais fracos (Quadro IV.III). Estas condições são adversas à transferência de materiais para a plataforma. O sector ocidental do litoral algarvio encontra-se sujeito a ventos predominantemente de norte. A importância destes ventos diminui para nascente, desaparecendo praticamente a este de Faro. No sotavento, sector no qual o Levante é importante, predominam os ventos de sudoeste. Estas condições, combinadas com a geologia da região costeira, também não são favoráveis à exportação de materiais para a plataforma. Quadro IV.III – Frequência (%) e velocidade média anual (km/h) das direcções do vento que atingiu a costa ocidental no período 1951-1980 (segundo Instituto Hidrográfico, 1990).
Ventos N NE E SE S SW W NW
Frequência 26,1 7,8 9,7 6,7 9,3 10,0 9,8 15,8
Velocidade 15,8 12,0 11,8 13,2 17,2 16,8 14,7 16,7
Os sistemas lagunares costeiros constituem, certamente, uma fonte supletiva de material para a plataforma continental adjacente, principalmente de partículas da dimensão dos siltes e das argilas. No entanto, esta contribuição deve também ser pouco significativa, à semelhança do que parece suceder no caso da Ria de Aveiro (Dias et al., 1984; Teixeira, 1994). O material exportado é dominada por ilite e quartzo, que são os minerais predominantes na fracção fina dos sedimentos superficiais destes corpos lagunares. Tal é o caso da Ria de Aveiro (Gomes, 1988), da Ria de Alvor (Cabral et al., 1989) e da Ria Formosa (Andrade, 1990). Pelo contrário, os processos biogénicos e autigénicos constituem fornecedores significativos de partículas à escala global do depositário. As quantidades de bioclastos pertencentes à classe "M" de partículas, presentes, sobretudo, na plataforma externa, mas também em certas regiões da plataforma média e do bordo da plataforma, comprovam que os processos biogénicos são importantes. A distribuição e abundância relativa da glaucónia e de partículas com estados de glauconitização variável permite supor que os processos autigénicos podem, nalgumas zonas, ser importantes.
3. Processos de distribuição 3.1. Estratificação de massas de água A localização de Portugal na adjacência do giro anticiclónico subtropical e na costa oriental de um grande oceano determina a climatologia e a hidrologia, ainda não completamente conhecidas, da zona oceânica sob sua dependência. As características termohalinas e de oxigenação permitem considerar a existência de diversos tipos de massas de água, resumidamente descritas em Fatela (1995).
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Como consequência da referida localização, a costa portuguesa é banhada por correntes superficiais dirigidas para sul (Corrente de Portugal) que correspondem ao fluxo lento e difuso para sul da Corrente do Atlântico Norte. Sob esta camada superficial e de forte variabilidade sazonal (Fiúza, 1984), localiza-se, entre as profundidades aproximadas de 100 m e 500 m, a Água Central Oriental do Atlântico Norte (Fiúza, 1982). Esta massa de água, que se desloca para sul, caracteriza-se por valores de temperatura entre 8 e 18º C e de salinidade entre 35,2 e 36,7 ‰. Entre os 500 e os 1500 m de profundidade, faz-se sentir a influência da Veia de Água Mediterrânea, que provém principalmente de níveis profundos do mar de Alboran (Reid, 1979). No seu início sofre intensa mistura vertical e lateral com a Água Atlântica, o que conduz à diminuição de salinidade até atingir o nível de equilíbrio. O fluxo subsequente, sob forma de nível intermédio constituído por duas veias principais escalonadas entre 500 e 1 300 m de profundidade, é caracterizado por temperatura e salinidade relativamente elevadas, que podem atingir 13,7 ºC e 37,4‰, respectivamente (Madelain, 1976; Âmbar & Howe, 1979a; Âmbar, 1982). Progredindo para norte desde o estreito de Gibraltar, esta corrente é desviada para oeste pelo obstáculo constituído pela vertente continental do Algarve. É então sujeita a frequentes efeitos de canalização, tendo sido aí detectadas velocidades superiores a 10 cm/s, velocidades essas que chegam a atingir 50 cm/s na fossa de Diogo Cão (Madelain, 1967, 1970; Lacombe, 1970; Âmbar & Howe, 1979b; Âmbar, 1982). Esta corrente, responsável pela formação de contornitos no Algarve (Mougenot & Vanney, 1982; Faugères et al., 1984b), flui para oeste, passando entre o banco de Gorringe e o cabo de S. Vicente. Na região do cabo de S. Vicente, esta massa de água inflecte parcialmente para norte, contornando a vertente continental, fluindo a restante parte para oeste e sudoeste como resultado da combinação de processos advectivos e difusivos. A circulação é afectada pelos acidentes da batimetria (canhões e montes submarinos) gerando-se vórtices e meandros associados à dinâmica da vorticidade do escoamento (Âmbar et al, 1984; Haynes & Barton, 1990). A influência da veia de água mediterrânea foi detectada a norte da margem continental portuguesa, tendo Lacombe (1970) registado velocidades da ordem dos 2 cm/s na depressão de Valle-Inclan. Entre os 1500 e os 4000 m de profundidade detecta-se a presença da Água Profunda do Atlântico Norte, que se desloca para sul. Esta massa de água caracteriza-se por baixas temperaturas (entre 1,5 e 4º C) e por elevados teores em oxigénio dissolvido (5 a 6,5 ml/l) e de salinidade (34,8 a 35º C). A camada superior é influenciada pelo fluxo mais profundo da Veia de Água Mediterrânea. A profundidades superiores a 4000 m desenvolve-se a Água Antártida de Fundo, que se desloca lentamente para norte. Esta masa de água caracteriza-se por elevados teores em sílica (cerca de 44 µmol/kg) e em fosfatos (1,4 µmol/kg). Esta estratificação é bem evidenciada pelo estudo de foraminíferos bentónicos do Atlântico oriental, realizado em sondagens feitas entre 31º e 55º N e entre 2º e 35º W. Seguno Caralp
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(1987), a influência da Água Mediterrânea manifesta-se até ao largo da Galiza, evidenciada pela associação do cortejo de Uvigerina ao de Cibicides, típico das águas bem oxigenadas da Água Profunda do Atlântico Norte. A 4000 m de profundidade, a presença de Nutallides umbonifera marca o topo da Água Antártida de Fundo.
3.2. "Upwelling" costeiro A migração do anticiclone dos Açores para a região central do Atlântico e o enfraquecimento do núcleo da Islândia proporcionam o estabelecimento de um regime de ventos predominantemente do norte, cuja intensidade e persistência são favoráveis à ocorrência do "upwelling" costeiro. Este fenómeno é responsável pelo aparecimento, à superfície, de águas frias e carregadas de nutrientes, provenientes de profundidades entre 60 e 120 m (Fiúza, 1982). Na plataforma continental portuguesa, as águas que ascendem à superfície possuem características termohalinas correspondentes à Água Central Oriental do Atlântico Norte (Fiúza, 1984). O "upwelling" costeiro, reconhecido desde os trabalhos de Ramalho & Dentinho (1928) e de Bôto (1945), afecta as centenas de metros superiores da coluna de água da margem continental e a sua máxima intensidade verifica-se nos meses de Verão, ao largo do litoral a norte do cabo de S. Vicente. Contudo, poderá dar-se um aparecimento esporádico de "upwelling" em Dezembro e Janeiro ao longo da costa ocidental, embora com menor intensidade do que no Verão (Fiúza et al., 1982). A circulação média mensal durante a ocorrência do "upwelling" caracteriza-se por uma estrutura que engloba uma corrente superficial para sul e uma corrente sub-superficial para norte, cujo núcleo se situa aos 280 m de profundidade (Vitorino, 1989). Na plataforma média, a corrente é dirigida para sul a todos os níveis de observação (Vitorino, 1989). A costa sul algarvia apenas é directamente afectada pelo "upwelling" quando se encontra sob influência de ventos provenientes de oeste e noroeste, que são, normalmente, raros no Verão. Contudo, quando a costa ocidental se encontra sob a acção de ventos de norte, as águas subsuperficiais que emergem à superfície contornam o cabo de S. Vicente, deslizando para leste ao longo do bordo da plataforma, aproximando-se ocasionalmente da costa e atingindo o cabo de Sta. Maria (Fiúza, 1983). Esta situação complica-se frequentemente, através da progressão para oeste de uma língua de água quente entre o litoral e as águas frias, atingindo o cabo de S. Vicente e derivando para norte, ao longo da costa sul alentejana (Ferreira, 1984). O impacto deste fenómeno no registo sedimentar tem sido avaliado através do recurso a ténicas de análise multivariada (Monteiro et al., 1982; Dias, 1987), dos conteúdos em diatomáceas, em nanoplâcton, em glaucónia, em carbono orgânico e em foraminíferos (p. ex.: Abrantes, 1983/85, 1988, 1991a, 1991b; Monteiro et al., 1983), do conteúdo em 14C das conchas de molucos (Soares, 1989, 1993a, 1993b) e do registo da ocorrência de espécies polares de foraminíferos (Thiede, 1977; Ubaldo & Otero, 1978).
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3.3. Ondas internas As massas de água presentes na plataforma continental e na vertente continental superior podem encontrar-se completamente misturadas ou, pelo contrário, apresentar uma forte estratificação por densidades, em resposta a variações climáticas e sazonais e à existência de correntes que tendam a promover a mistura vertical. A referida estratificação pode desencadear o desenvolvimento de ondas internas na interface entre massas de água de densidades diferentes ou na zona de contínua variação vertical de densidade. As ondas internas podem ocorrer na plataforma continental e na vertente com um largo espectro de amplitudes e períodos; contudo, os mecanismos de geração destas ondas não são ainda completamente conhecidos. Existem diversos indícios de que as ondas internas podem induzir transporte sedimentar na plataforma e na vertente. Contudo, a sua capacidade como agentes de transporte é, provavelmente, reduzida, a não ser que haja aumento das velocidades junto ao fundo ou “rebentação” das ondas induzidas pela interacção com a batimetria. Cacchione & Southard (1974) desenvolveram um critério de movimentação sedimentar induzida pelas ondas internas, cuja aplicação prevê pelo menos a movimentação incipiente das partículas sedimentares presentes na plataforma continental portuguesa. É improvável que as velocidades junto ao fundo produzidas apenas por amplificação sejam suficientes para desencadear transporte sedimentar substancial. Contudo, sob certas condições, as ondas internas podem rebentar, provocando assim um acréscimo das referidas velocidades. A rebentação das ondas internas foi estudada experimentalmente por Cacchione & Wunsch (1974) e por Southard & Cacchione (1972). As referidas experiências sugerem que o processo de movimentação de partículas activado pelas ondas internas é complexo e envolve diversos mecanismos, entre os quais se referem os seguintes: 1. A rebentação das ondas internas é responsável pela existência de uma banda de movimentação sedimentar cuja largura é pelo menos uma ordem de magnitude superior à amplitude da onda: 2. Início abrupto de movimentação sedimentar no local de rebentação e gradual decréscimo de intensidade a maiores profundidades; 3. Movimento de sedimento predominantemente descendente, excepto nas proximidades do ponto de rebentação, permitindo deposição numa banda estreita imediatamente a montante do ponto de rebentação e erosão numa banda larga a menores profundidades; 4. Geração de marcas de ondulação ou dunas de areia na banda larga de transporte sedimentar para maiores profundidades, as quais migram igualmente nesse sentido; 5. Resuspensão de sedimentos finos.
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3.4. Agitação marítima De Março a Agosto, o anticiclone dos Açores move-se ao longo do meridiano 38ºW desde 27ºN até 33ºN. De Novembro a Fevereiro, desloca-se em direcção a este e atinge 23ºN em Janeiro, como consequência do aumento relativo das altas pressões de Inverno localizadas na Europa e em África. Tal situação provoca ventos fracos de Oeste no Inverno, e ventos relativamente fortes de norte e noroeste no Verão. Consequentemente, a vaga gerada localmente por tais ventos será determinada pelas características (intensidade e direcção) destes. A frequência da agitação dos quadrantes N e NW aumenta de 32% em Fevereiro até 53% em Agosto, sendo a dos quadrantes de S e SW de 16% em Fevereiro e de 6% em Agosto.
3.4.1. Agitação modal Segundo Carvalho & Barceló (1966), que se basearam em observações visuais com teololito efectuadas na Figueira da Foz durante 6 anos, a agitação marítima que atinge a costa ocidental tem período predominantemente compreendido entre 6 e 18 segundos, sendo os períodos mais frequentes os que oscilam entre 9 e 11 segundos. A agitação ao largo tem as direcções mais frequentes compreendidas entre W10ºN e W20ºN (cerca de 100 dias/ano), verificando-se ondas com direcções entre W e S apenas cerca de 75 dias/ano. Em qualquer época do ano podem aparecer ondas ao largo com direcções entre N e NW, enquanto que a agitação proveniente de outras direcções ocorre com maior frequência nos meses de Inverno, sendo praticamente inexistente entre Junho e Setembro. O escalão de alturas significativas mais frequentes é o de 1 a 2 m (45% das ocorrências totais). Estas condições geram correntes longilitorais, cuja resultante anual é, com raras excepções, para sul. O regime de agitação marítima foi ainda analisado por Pires & Pessanha (1986), segundo os quais a agitação mais frequente que atinge a costa a norte do cabo Mondego, de direcção W20ºN, se caracteriza por período de 8 s e altura de 2 m. Por outro lado, a agitação que mais frequentemente atinge a costa alentejana, proveniente do quadrante NW, caracteriza-se por período de 7 s e altura de 1,6 m. No Algarve, a direcção dominante da agitação junto à costa é de SW. Segundo Pires & Pessanha (1986), a agitação maritima apresenta anualmente períodos médios entre 4 e 6 s (média de 4,8 s) e alturas significativas entre 0,5 e 1,5 m (média de 0,93 m). As maiores percentagens de períodos observados são da ordem dos 12 s, ao quais estão associadas alturas significativas que não ultrapassam os 2 m. No Inverno, a costa fica sujeita a ondas cujo período pode ultrapassar os 15 s (Gomes et al., 1971). A obtenção, de forma sistemática, de registos com ondógrafo iniciou-se em 1973 em Sines e foi grandemente incrementada a partir de 1987, devido ao início, neste ano, da execução formal do projecto PO-WAVES, resultante da cooperação entre o Instituto Hidrográfico e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
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3.4.2. Temporais As tempestades que assolam a costa portuguesa (nomeadamente as de SW) podem ter efeitos catastróficos, principalmente quando se fazem sentir em períodos de marés vivas cheias, como sucedeu, por exemplo, com os temporais de Janeiro de 1937 (Pereira, 1937) e de Fevereiro/Março de 1978 (Daveau et al., 1978) que provocaram estragos importantes em vários pontos da costa. No decurso dos temporais de 1937 o quebra-mar do porto de Sines cedeu em diversos locais (num comprimento total de 650 m) sob o ataque de ondas com altura significativa que chegou a atingir 8,5 m (Feio & Almeida, 1978). O estudo dos temporais e a sua caracterização estatística têm sido objecto de diversos trabalhos nas últimas décadas, com particular incidência nos últimos 10 anos. Os primeiros resultados fidedignos são os de Carvalho & Barceló (1966), que assinalaram ondas com alturas significativas máximas da ordem dos 11 m. Segundo estes autores, a violência dos temporais dimuinui à medida que se progride para sul ao longo da costa oeste, ao mesmo tempo que a resultante roda de WNW, no norte de Portugal, a NW, no troço a sul de Sines. Em consequência das actividades desenvolvidas no âmbito do projecto PO-WAVES, dispõe-se actualmente de um extenso conjunto de dados observacionais de qualidade sobre temporais na costa portuguesa. Os resultados obtidos encontram-se sumarizados em Costa (1992/3/4) e são, sucintamente, os que se referem a seguir. Na costa oeste, os temporais são mais frequentes e mais severos à medida que se caminha para norte. Na sua maior parte, são provenientes de NW e de WNW e apresentam alturas significativas inferiores a 6 m, valor que, em casos extremos, pode ser superior a 8 m. Na costa sul, os temporais são, na sua maioria, oriundos de SW e SE, sendo as alturas significativas mais frequentes inferiores a 5 m, valor que, pontualmente, pode ultapassar os 6 m. Alguns temporais de WNW ou NW que ocorrem na costa oeste fazem-se sentir na costa sul como provenientes de SW. Os temporais de SE apenas se fazem sentir na costa sul. Apesar do volumoso conjunto de dados existente, permanecem incertezas consideráveis na caracterização estatística dos temporais. Por exemplo, para a altura significativa com 50 anos de período de retorno, para o largo de Sines, alguns autores apresentam estimativas de 14 m a 15,8 m ou mesmo de 18,6 m a 22 m, enquanto que para outros essa altura seria apenas de 10 a 14 m.
3.4.3. Potencial de remobilização Tal como se verifica em muitas outras plataformas continentais, o movimento oscilatório horizontal da água adjacente ao fundo, causado pela passagem de ondas superficiais, é, provavelmente, o factor mais importante na remobilização de partículas. Em diversas plataformas, constatou-se que este processo pode induzir a remobilização e o transporte de
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partículas até profundidades próximas do bordo da plataforma. É de salientar que a remobilização de partículas não implica, forçosamente, uma resultante de transporte efectivo não nulo. As partículas podem ser remobilizadas pela passagem de ondas superficiais, sendo eventualmente sujeitas apenas a um movimento de vai-e-vem em torno de uma posição intermédia, sendo nula a resultante do transporte. Na determinação do potencial de remobilização utilizou-se um modelo (Taborda et al., 1991) baseado na formulação de Komar & Miller (1973, 1975). Apesar das suas limitações (considerar apenas a acção das ondas, desprezando a presença de correntes sobrepostas, e a existência de fundo planar e horizontal homogéneo constituído por partículas não coesivas), esta formulação tem sido aplicado com sucesso na estimativa de condições sob as quais o sedimento de fundo é remobilizado (p. ex.: Dias, 1987; Magalhães, 1993; Taborda, 1993) Este modelo foi aplicado aos troços da plataforma estudados usando vários regimes de agitação marítima. O quadro IV.IV expressa as alturas e os períodos utilizados para definir as condições de agitação normal (Pires & Pessanha, 1986) e de tempestade (Costa, 1992/3/4). O resultado da aplicação do referido modelo encontra-se representado nas figs. IV.1 (correspondente à agitação modal registada em cada sector) e IV.2 (respeitante a condições de agitação que, para cada sector, podem ser consideradas de temporal). Quadro IV.IV – Alturas e períodos utilizados na estimação do potencial de remobilização induzidas pela agitação modal (Pires & Pessanha, 1986) e de tempestade (Costa, 1992/3/4).
Sector Agitação modal Agitação de tempestade H (m) T (s) H (m) T (s) plataforma norte 2 8 8 12 plataforma sudoeste 1,8 7 6 10 plataforma algarvia 0,93 4,8 2 6
Nas referidas figuras encontram-se representadas, na escala Ø, para além das médias granulométricas dos sedimentos, as isolinhas do diâmetro máximo remobilizado. Para o mesmo diâmetro granulométrico, o potencial de remobilização é máximo na plataforma norte, em relação com as condições mais energéticas aí prevalecentes e para a qual os resultados expressos nas figs. IV.1 e IV.2 são idênticos aos obtidos por Dias (1987) através da utilização do programa LEMP (Limiar de Entrada em Movimento das Partículas). As partículas dos depósitos litorais e dos depósitos finos existentes na plataforma média são postas em movimento generalizado sob a accção da agitação marítima mais frequente. Sob condições que se podem considerar de temporal, a grande maioria das partículas da totalidade da plataforma e vertente continental é remobilizada.
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000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
0
2
0
4
2
4
2
4
H=2 mT=8 s
100000 120000 140000
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C. S
. Vice
nte
50100
150
0
0
2
4
4
2
H=1,8 mT=7 s
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45' 7º 40'8º 40'
50
150
100
0
0 24
4
H=0,93 mT=4,8 s
Rocha (φ)Isolinha de remobilização
Figura IV.1 – Isolinhas do diâmetro máximo remobilizado pela agitação marítima mais frequente em cada sector.
67
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
-1
-2
-2
-1
0
4
0
1
1
3
2
50100
150
-2
-2
H=8 mT=12 s
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C. S
. Vice
nte
50100
150
3
4
2
1
-2 4
0
3
H=6 mT=10 s
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45' 7º 40'8º 40'
50
150
100
4
-2
-2-2
04 2
2
H=2 mT=6 s
Rocha (φ)Isolinha de remobilização
Figura IV.2 – Isolinhas do diâmetro máximo remobilizado por temporais não excepcionais
68
A análise das figuras indica ainda que o silte e a areia fina e muito fina são frequentemente remobilizados, com uma frequência que é menor a maiores profundidades. Todavia, mesmo no bordo da plataforma, estes materiais são remobilizados esporadicamente ao longo do ano. As fracções mais grosseiras da areia são remobilizadas com certa frequência nos depósitos existentes na plataforma interna e média, enquanto que a maiores profundidades apenas excepcionalmente o são. As fracções mais finas do cascalho da plataforma média apenas são remobilizados em condições excepcionais. Foram também ensaiadas outras situações, nomeadamente as que correspondem a condições de agitação marítima ocorrentes durante tempestades de grande intensidade. Nas referidas situações ocorre remobilização da grande maioria ou mesmo da totalidade das partículas, como seria de esperar.
3.5. Tsunamis Devido ao seu enquadramento neotectónico, o litoral português tem sido afectado por sismos geradores de tsunamis que causaram grandes destruições ao longo da costa portuguesa. Os relatos históricos mais antigos referem tsunamis ocorridos nos anos 60 a.C. e 382 d.C. gerados por sismos cujos epicentros se situam, presumivelmente, no mar a sudoeste do cabo de S. Vicente, na região do banco de Gorringe. Vários outros eventos são conhecidos atavés de relatos históricos, sendo de ressaltar o de 1531 (gerado por um sismo associado a actividade da falha do vale do Tejo e que causou grandes inundações em Lisboa) e o de 1 de Novembro de 1755 (cujos efeitos devastadores, especialmente a sul de Lisboa e na costa algarvia, são bem conhecidos). Este último sismo teve uma magnitude estimada de 8.5 m (Cabral, 1995). Neste século é de registar a ocorrência de pequenos tsunamis relacionados com os sismos de 28.2.69 e de 26.5.75. É conhecido o efeito potencialmente devastador dos tsunamis sobre as zonas costeiras. Porém, não existem estudos que permitam avaliar o seu impacto na sedimentação da plataforma continental portuguesa, o qual deriva essencialmente da elevada quantidade de energia libertada bruscamente num único evento de curta duração. No entanto, é de presumir que estes eventos apresentem um importante potencial na formação de tsunamitos e no desenvolvimento e manutenção de canhões submarinos. A magnitude da sua acção depende, entre outros factores, do potencial sismogénico da plataforma, da largura da mesma e da quantidade de sedimentos que para aí são debitados. Dawson et al. (1995) e Silva et al. (1996), ao analisarem o registo sedimentar na área costeira de Boca do Rio (perto de Lagos), detectaram um depósito presumivelmente associada ao tsunami de 1755. Os referidos autores identificaram um total de quatro unidades sedimentares, designadas por A (a superior) a D. As unidades A e C correspondem a argila siltosa; a unidade B corresponde a um depósito arenoso (areia grosseira com blocos de grandes dimensões, na base,
69
que transita para areia fina siltosa, no topo), que contém numerosos bivalves e gastrópodes, e cuja base assenta em descontormidade sobre a unidade C; a unidade D corresponde a areia fina a média com abundantes fragmentos de conchas. De acordo com Dawson et al. (1995) e Silva et al. (1996), as características da unidade B (cuja idade foi datada por termoluminescência em 260±60 anos) correspondem a uma alteração drástica no padrão de deposição costeiro. Efectivamente, elas sugerem a existência de correntes erosivas de elevada intensidade e de um episódio de inundação marinha altamente energético e de grande amplitude, responsável pelo transporte de material a partir da plataforma interna.
3.6. Marés A plataforma continental portuguesa integra-se no sistema anfidrómico do Atlântico Norte e localiza-se em zona de transição de meso-marés para macro-marés. As marés são do tipo semi-diurno regular, propagando-se de sul para norte na costa ocidental e de oeste para este na costa sul. A amplitude das marés na costa portuguesa varia desde pouco mais de 1 m nas marés mortas até mais de 4 m nas marés vivas (Instituto Hidrográfico, 1990). As correntes de maré possuem importância mais evidente junto à costa e nos estuários e lagunas e constituem-se, principalmente no período de marés vivas, como processos importantes de fornecimento e distribuição de partículas. As marés constituem factor amplificador ou moderador da capacidade de fornecimento e distribuição de partículas pelas cheias. A situação mais favorável ocorre quando se verifica coincidência do pico de cheia com maré viva vazia. As correntes induzidas pelas marés não estão ainda suficientemente estudadas de modo a que se possam construir modelos preditivos do tipo e quantidade de sedimentos por elas remobilizados. Estas correntes dependem, entre outros factores, dos efeitos da rotação da Terra, das características das ondas de maré que atinge a plataforma, das características da batimetria e da configuração da costa. A sua modelação é ainda complicada pelo facto de a elas se sobreporem, geralmente, outras correntes, oscilatórias ou unidireccionais. Por esta razão, os resultados obtidos com os modelos preditivos existentes subestimam, em geral, os dados refentes à medição de transporte de sedimentos (Pattiaratchi & Collins, 1984, 1985). O estudo das marés e correntes de maré no Golfo do Panamá conduziu Fleming (1938) ao estabelecimento da seguinte relação:
um = 2 π a d / (T h)
em que um é a velocidade máxima da corrente de maré à distância d da costa e à profundidade h, sendo a a amplitude da maré e T o período. Para a mesma região, o factor 2 π a / T pode ser considerado constante, sendo, em consequência, um directamente proporcional à razão d / h. Esta razão é, frequentemente, máxima junto ao bordo da plataforma (Fleming, 1938; Fleming & Revelle, 1939; Kuenen, 1939), sendo assim de esperar que aí ocorram as maiores velocidades.
70
A relação referida é válida quando a propagação da maré é normal à costa. As marés, em Portugal, integram-se no sistema anfidrómico do Atlântico Norte, propagando-se de sul para norte. Por este facto, ela não é rigorosamente aplicável a Portugal. No entanto, pode ser utilizada como primeira aproximação, embora pouco rigorosa, ao comportamento das correntes de maré na plataforma continental portuguesa (Dias, 1987). Com base na relação estabelecida por Fleming (1938), foram estimadas as velocidades máximas das correntes de maré em diferentes perfis da plataforma. De acordo com os resultados obtidos, as velocidades máximas registam-se, geralmente, no bordo da plataforma, embora possam também ocorrer na plataforma externa. Os valores mais elevados observam-se na plataforma norte, na qual se encontram compreendidos entre 10 e 20 cm/s. A influência das marés nos sedimentos junto à costa é óbvia. Porém, a análise dos valores obtidos faz supor que a sua zona de influência seja muito mais dilatada, estendendo-se possivelmente até à plataforma externa. Efectivamente, a análise dos valores obtidos faz supor que mesmo na plataforma externa, as correntes de maré, embora não tenham competência para as remobilizar, são susceptíveis de transportar as partículas sedimentares previamente postas em movimento por acção de outras correntes. Na plataforma norte, os sedimentos da plataforma externa são, a sul do paralelo 41ºN, geralmente constituídos por areias (cuja média granulométrica varia entre 1 Ø e 3 Ø), com pequeno conteúdo silto-argilloso. A velocidade a partir da qual as partículas de quartzo daquelas dimensões são postas em movimento generalizado situa-se, provavelmente, entre 20 e 40 cm/s (Southard et al., 1971; Young & Mann, 1985), superiores às acima referidas. Por outro lado, correntes com velocidades análogas às calculadas são, segundo Young & Mann (1985), capazes de remobilizar carapaças de foraminíferos com as dimensões das existentes na plataforma externa. As velocidades determinadas seriam amplamente suficientes para remobilizar o silte. É ainda de referir que, de acordo com Dias (1987), o depósito silto-argiloso das cabeceiras do canhão submarino do Porto e o contraste granulométrico entre os sedimentos da parte norte e da parte sul das zonas adjacentes às cabeceiras dos canhões do Porto e de Aveiro se coadunam bem com ondas de maré provenientes de SW, pois estas incidiriam quase perpendicularmente no sector setentrional e seriam difractadas no troço meridional. Segundo o mesmo autor, é provável que, neste caso, se verifique o efeito cumulativo das marés e da agitação de longo período oriunda do quadrante SW. Como a cobertura sedimentar da plataforma a sul do canhão de Setúbal é significativamente mais bioclástica que a do sector anterior, é de esperar que estes sedimentos sejam remobilizados por correntes de maré que apresentem velocidades inferiores a 20 cm/s. Os sedimentos da plataforma sudoeste são essecialmente arenosos, com diminuto conteúdo em material silto-argiloso. A fracção areia apresenta um significativo teor em carapaças de
71
foraminíferos. A sul de Sines, os diâmetros predominantes nesta fracção encontram-se compreendidos entre 2 Ø e 4 Ø. De acordo com os autores anteriormente citados, correntes com velocidades compreendidas entre 5 e 10 cm/s são capazes de remobilizar carapaças de foraminíferos com aquelas dimensões. As estimativas das velocidades máximas de correntes de maré registas em diversos perfis efectuados neste sector são, na plataforma externa, frequentemente superiores ao menor dos referidos valores. Tal sugere que estas correntes apresentam competência para remobilizar as carapaças de foraminíferos presentes na areia dos sedimentos ocorrentes na plataforma externa. Na plataforma externa algarvia, as estimativas obtidas encontram-se geralmente compreendidas entre 5 e 10 cm/s, registando-se, por vezes, velocidades superiores a este último valor. O conteúdo em materiais silto-argilosos e a média granulométrica e a composição da fracção areia dos sedimentos da plataforma externa permite supor que os mesmos são significativamente remobilizados por correntes de maré existentes a tais profundidades.
3.7. Sobrelevação do mar de origem meteorológica A sobrelevação do nível do mar de origem meteorológica ("storm surge") constitui um fenómeno ainda mal conhecido em Portugal. O primeiro trabalho que quantifica o "storm surge" que atinge o litoral português é o de Morais & Abecasis (1978), no qual os autores relatam a ocorrência de uma sobrelevação com 53 cm, durante um temporal que afectou o porto de Leixões. Foi apenas na presente década que se iniciou a caracterização deste fenómeno em Portugal. Os trabalhos efectuados permitiram detectar níveis de "storm surge" superiores a 40 cm nas estações maregráficas de Viana do Castelo, Aveiro, Cascais, Lisboa, Tróia, Sines e Lagos (Gama et al., 1994a), os quais podem, pontualmente, atingir 110 cm (Gama et al., 1994a) ou mesmo 117 cm (Taborda & Dias, 1992a). Segundo Taborda & Dias (1992a) e Gama et al. (1995), a sobrelevação encontra-se fortemente correlacionada com a pressão atmosférica e com a intensidade do vento. Ainda de acordo com os referidos autores, as condições oceanográficas não constituem condicionantes importantes deste fenómeno. Foram ainda determinados os períodos de retorno de níveis extremos em Portugal continental (Gama et al., 1994b). Para períodos de retorno de 10 anos, os valores de sobrelevação nas estações maregráficas de Viana do Castelo, Cascais e Lagos correspondem respectivamente, a 54 cm, 28 cm e 41 cm acima do nível máximo atingido pela maré prevista. Sob condições de tempestade, este fenómeno pode induzir mudança de composição nos sedimentos litorais (Winkelmolen & Veenstra, 1980), desenvolvendo-se ainda correntes de fuga e correntes residuais junto ao fundo tendentes a compensar o excesso de água acumulada (Halliwell, 1974; Friedman & Sanders, 1978). Estas correntes promovem a remobilização de partículas e transporte para maiores profundidades (Middleton & Southard, 1984).
72
3.8. Deriva litoral Junto à costa, faz-se sentir a acção de correntes longitorais que induzem transporte sedimentar com resultante, de um modo geral, para sul na costa ocidental (Oliveira et al., 1982; Taborda, 1993) e para oriente na costa meridional (Granja et al., 1984; Andrade, 1990; Bettencourt, 1994). Registam-se, por vezes, algumas inversões na resultante da deriva, principalmente nas zonas que se encontram na dependência das desembocaduras dos principais rios (Dias, 1987). A estimação da resultante anual da deriva litoral tem sido efectuada através da utilização de comparações cartográficas (p. ex.: Ferreira, 1993; Teixeira, 1994) e aproximações matemáticas (p. ex.: Granja et al., 1984; Dias, 1987; Quevauviller, 1987; Andrade, 1990; Taborda, 1993). O quadro IV.V resume várias estimativas obtidas por diversos autores. Quadro IV.V – Estimativas de diversos autores para a resultante anual da deriva litoral.
Sector costeiro Autor Aproximação Deriva (×105m3/ano) Espinho – cabo Mondego Abecasis (1955) cartográfica 2,0 Espinho – cabo Mondego Abecasis et al. (1968) matemática 35,0 Espinho – cabo Mondego Carvalho (1971) matemática 15,5 Espinho – cabo Mondego Castanho et al. (1974) matemática 10,0 Espinho – cabo Mondego Oliveira et al. (1982) matemática 20,0 Espinho – cabo Mondego Ferreira (1993) cartográfica 15,0 Espinho – cabo Mondego Taborda (1993) matemática 23,0 Espinho – cabo Mondego Teixeira (1994) cartográfica 18,0
Sines – Comporta Quevauviller (1987) matemática 4,4 Quarteira – Vale do Lobo Granja et al. (1984) matemática 2,4 Quarteira – Vale do Lobo D.G.P., 1988 in
Correia et al., 1997 matemática 0,4
Quarteira – Vale do Lobo D.G.P., 1989 in Correia et al., 1997
matemática 1,3
Quarteira – Vale do Lobo Andrade, 1990 matemática 0,1 – 0,3 Praia de Faro Andrade, 1990 matemática 1,2
cabo Sta. Maria Andrade, 1990 matemática 0,9 Culatra Andrade, 1990 matemática 1,7 Tavira Andrade, 1990 matemática 1,8
Quarteira – Vale do Lobo Vale do Lobo, 1990 in Correia et al., 1997
matemática 1,3
Quarteira – Vale do Lobo D.G.P.N.T.M., 1993 in Correia et al., 1997
matemática 1,2
Quarteira – Vale do Lobo Correia et al., 1997 cartográfica >0,5 Quarteira – Vale do Lobo Bettencourt, 1994 matemática 0,2 – 0,4 ilha da Barreta (sector W) Bettencourt, 1994 matemática 0,2
península do Ancão Bettencourt, 1994 matemática 0,2 ilha da Barreta (sector E) Bettencourt, 1994 matemática 1,3 ilha da Culatra (sector W) Bettencourt, 1994 matemática 1,5 ilha da Culatra (sector E) Bettencourt, 1994 matemática 0,7
ilha da Armona Bettencourt, 1994 matemática 0,8 ilha de Tavira Bettencourt, 1994 matemática 1,5
península de Cacela Bettencourt, 1994 matemática 1,6 Quarteira – Vale do Lobo D.G.P.N.T.M., 1995 in
Correia et al., 1997 matemática 0,3 – 0,5
73
A este respeito, é de salientar que as estimativas obtidas por diferentes autores através da mesma formulação matemática nem sempre são concordantes, resultando esta falta de convergência da utilização de valores diferentes para a agitação marítima ao largo, para a batimetria, para a orientação da linha da costa e para a forma de efectuar a refracção da onda (Correia et al., 1997). Por outro lado, a utilização de traçadores, de entre os quais se destacam os luminóferos, tem-se revelado de extrema utilidade na obtenção de medições que permitam calibrar as aproximações matemáticas utilizadas (p. ex.: Abecasis et al., 1962; Dias et al., 1992b; Taborda, 1993; Taborda et al., 1994; Ciavola et al., 1996, 1997a). A maioria dos estudos cujos resultados constam do quadro IV.V tem um carácter pontual e utiliza formulações matemáticas distintas e intervalos temporais diferentes, o que dificulta a comparação directa de magnitudes da deriva. Assim, no presente trabalho ensaiou-se uma aproximação que pretende evidenciar a magnitude relativa da deriva litoral nos sectores estudados, através de gráficos em que a mesma é expressa em função da altura da onda e do ângulo de ataque ao largo (fig. IV.3). Nos cálculos efectuados foram apenas considerados estes dois parâmetros, uma vez que a deriva litoral não é significativamente influenciada pelo período da onda (Taborda, 1993).
0 10 20 30 40 50 60 70 80ÂNGULO DE ATAQUE
0
1
2
3
4
ALTU
RA D
A O
NDA
(m)
ABC
D E
a)
0 10 20 30 40 50 60 70 80ÂNGULO DE ATAQUE
2
4
6
8
10
ALTU
RA D
A O
NDA
(m)
B AC
D E
b)
Figura IV.3 – Isolinhas de deriva litoral potencial, em m³/ano, induzida por: a) agitação
-100000.00 0.00 100000.00
A
B
C
D E
74
normal; b) agitação marítima de tempestade. Os gráficos da fig. IV.3 correspondem a condições de agitação marítima que podem ser consideradas normais e de tempestade, de acordo com os valores expressos em Costa (1992/3/4). Nestes gráficos foram implantados cinco pontos, correspondentes a outros tantos locais dos sectores litorais estudados. No caso das plataformas norte e algarvia, seleccionaram-se dois locais por sector, aos quais corresponde a mesma altura da onda e diferentes ângulos de ataque. Para facilitar a comparação entre os diferentes sectores, optou-se por representar a totalidade dos pontos num único gráfico. O cálculo dos valores da deriva foi efectuado atavés da utilização de um programa desenvolvido pelo autor, que entra em consideração com os efeitos induzidos pela refracção da onda (lei de Snell) 1. A análise destes gráficos indica que a deriva litoral é máxima na plataforma norte, na qual as estimativas publicadas por diversos autores (p. ex.: Abecasis, 1955; Abecasis et al., 1968; Dias, 1987; Taborda, 1993; Teixeira, 1994) oscilam entre 0,2 e 3,5x106 m³/ano , encontrando-se os valores mais frequentemente referidos compreendidos entre 1,0 e 2,0x106 m³/ano. Os resultados expressos neste gráfico estão de acordo com os obtidos por Dias (1987), segundo o qual a deriva é mais intensa no sector setentrional do que no meridional. Na plataforma sudoeste, este transporte é significativamente mais reduzido, sendo a derviva litoral efectiva apenas significativa a norte de Sines. De facto, o sector mais setentrional encontra-se protegido da agitação marítima dominante, enquanto que as pouco numerosas praias existentes no sector meridional correspondem, geralmente, a praias encastradas, em pequenas enseadas, frequentemente associadas a ribeiras. A norte de Sines, a costa apresenta desenho côncavo relativamente ao continente e pode ser caracterizada por intermédio de uma espiral logarítmica, o que, aparentemente, se encontra relacionado com a estabilidade deste litoral (Quevauviller, 1987). De entre os sectores estudados, a deriva litoral é mínima na plataforma algarvia, uma vez que a agitação marítima aqui prevalecente é bastante menos energética que nas plataformas norte e sudoeste. O litoral algarvio é caracterizado, a oriente, pela predominância de arribas talhadas maioritariamente em rochas carbonatadas, e, a ocidente, pela presença de extensos cordões arenosos. Por esta razão, a deriva litoral efectiva apenas se faz sentir, de modo sistemático, a oriente da Quinta do Lago. A análise da fig. IV.3 sugere que a deriva litoral é mais intensa a ocidente do cabo de Sta. Maria do que a oriente do mesmo.
1 É de salientar que os valores expressos nos gráficos não são directamente comparáveis com os referidos na bibliografia, uma vez que se referem apenas a uma única condição de agitação.
75
3.9. Correntes 3.9.1. Correntes na plataforma Observações efectuadas com o recurso a correntómetros de registo magnético contínuo têm revelado que a corrente na plataforma continental ocidental é, em grande parte do tempo, de nítida componente de deriva para sul com intensidades que não ultrapassam normalmente os 30 cm/s. Quando se verificam condições de vento forte dos quadrantes S e SW, esta corrente responde quase imediatamente, dirigindo-se para norte e podendo atingir velocidade da ordem dos 40 cm/s (Instituto Hidrográfico, 1990). As correntes sobre a plataforma algarvia são em geral fracas, predominando as correntes de deriva sobre as de maré, que apenas conseguem impôr as suas características perante uma quase total ausência de vento. Esta corrente de deriva tende a adaptar-se ao perfil da costa, correndo paralelamente a esta, num ou noutro sentido durante dias seguidos, pelo menos cerca da batimétrica dos 30 m. A sua intensidade apenas atinge valores da ordem dos 50 cm/s em casos extremos, apresentando-se normalmente inferior a 25 cm/s. Para tentar caracterizar e comparar os regimes correntométricos dos três sectores estudados, foram analisados registos obtidos pelo Instituto Hidrográfico ao largo de Leixões (a 30 m de profundidade), de Sines (a 98 m de profundidade) e de Vila Real de Sto. António (a 4 m de profundidade). As estações seleccionadas foram aquelas para as quais a duração temporal mínima dos registos de que se dispunha era um ano, compreendendo as condições de Verão e de Inverno marítimos (segundo a caracterização de Pita & Santos, 1987). Os dados foram obtidos em 1983/84 (no caso de Leixões e Sines) e 1989/90 (no caso de Vila Real de Sto. António). A análise dos registos correntométricos estudados permitiu obter os resultados que constam do quadro IV.VI 2. Na plataforma interna ao largo de Leixões, o padrão de circulação transversal foi idêntico no nível mais superficial e junto ao fundo, encontrando-se dirigido para o largo e para a costa, respectivamente. A componente longitudinal da corrente dirigia-se, junto à superfície e perto do fundo, para sul no Verão e para norte no Inverno. Na plataforma externa ao largo de Sines, as condições de Verão e de Inverno marítimos encontravam-se associadas a padrões de circulação transversal e longitudinal idênticos nos níveis mais superficial e intermédio. Perto da superfície, estas componentes dirigiam-se para o largo e para sul, respectivamente. A um nível intermédio, dirigiam-se para a costa e para sul, respectivamente. Junto ao fundo, a componente transversal dirigia-se para o largo no Verão e
2 A qualidade destes registos é discutida em Taborda (1999), segundo o qual os mesmos se encontram contaminados pela velocidade orbital, cuja importância varia inversamente com a profundidade.
76
para a costa no Inverno. A circulação transversal caracterizava-se por um escoamento para norte no Verão e para sul no Inverno. Ao largo de Vila Real de Sto. António, o escoamento longitudinal realizava-se para este no Verão e no Inverno, enquanto que a circulação transversal se processava para a costa no Verão e para o largo no Inverno. Quadro IV.VI – Valores médios dos azimutes, das celeridades e das componentes este-oeste (u) e norte-sul (v) de correntes obtidas nos sectores estudados. Os valores positivos representam componentes dirigidas para este (componente u) e para norte (componente v). Para cada parâmetro, o primeiro valor refere-se à situação de Verão e o segundo diz respeito à situação de Inverno.
Estações Nível de observação
Azimute Médio
Celeridade (cm/s)
Componente este-oeste
(cm/s)
Componente norte-sul
(cm/s) Leixões (30m) 6,5m 187º / 336º 14,9 / 8,6 -0,4 / -1,1 -3,1 / 2,5
28,5m 95º / 149º 10,7 / 14,1 1,2 / 0,6 -0,1 /-1,0 6m 204º / 186º 16,4 / 19,9 -3,4 / -1,0 -7,4 / -9,0
Sines (98m) 53m 122º / 148º 8,9 / 8,4 3,3 / 1,9 -2,1 / -3,1 96,5m 319º / 98º 7,9 / 11,1 -0,6 / 2,8 0,7 / -0,4
V. Real de Sto. António (4m) 4m 138º / 33º 46 / 51,8 2,4 / 1,4 -2,7 / 2,1
3.9.2. Correntes na vertente Na costa NW de Portugal, observações obtidas sobre a vertente continental indicam escoamento para o pólo entre os 200 e os 750 m de profundidade, com velocidades de cerca de 3 cm/s, no período de Julho a Janeiro (Âmbar, 1982) No seu estudo do padrão de circulação associado ao regime de “upwelling”, Vitorino (1987) analisou registos de correntes obtidas na vertente superior ao largo do Porto. Segundo este autor, o padrão de circulação transversal caracterizou-se por escoamento dirigido para a costa aos níveis intermédios e escoamento fraco aos restantes níveis. O padrão de circulação longitudinal caracterizou-se por uma corrente superficial para o equador e uma corrente subsuperficial dirigida para o pólo, quando o vento era predominantemente de norte. Na situação de ventos predominantes de sul, a componente longitudinal encontrou-se dirigida para norte a todos os níveis. Haynes & Barton (1990) detectaram a existência, no Outono e no Inverno, duma corrente dirigida para norte na vertente continental a norte do cabo de S. Vicente, que se encontra associada à intrusão quente e salgada da Água Central Oriental do Atlântico Norte.
77
3.9.3. Correntes induzidas por diferenciais de pressão As correntes geradas pelo vento ou por diferenças na pressão atmosférica durante episódios de tempestade apresentam, certamente, marcada sazonalidade. Se as massas de água existentes na plataforma continental se encontrarem misturadas, as correntes geradas pelo vento podem propagar-se até ao fundo. A intensidade das correntes de fundo assim geradas deveria ser semelhante na plataforma externa e nas proximidades do bordo da plataforma. Contudo, Galt (1971) constatou que a migração das ondas devidas a variações na pressão atmosféricas sob condições de tempestade pode ser responsável pela geração de correntes de fundo que se concentram no bordo da plataforma. Os resultados obtidos por este autor através da integração numérica de equações simplificadas para um oceano a duas camadas indicam a existência de uma corrente ao longo da coluna de água paralelamente à topografia, cujo sentido se inverte à medida que a tempestade se dissipa. As velocidas experimentais atingidas foram da ordem de 10 cm/s, diminuindo simultaneamente para a plataforma e para a vertente. Estas correntes são originadas pelo efeito da onda induzida pela pressão atmosférica na extensão e contracção da coluna de água. Embora não existam observações que apoiem o referido modelo, este tipo de correntes constitui certamente um importante factor adicional, que se sobrepõe às movimentações provocadas pela maré e pelas ondas, na dispersão e resuspensão de sedimentos finos e no aumento da magnitude do transporte de sedimentos grosseiros sob a forma de carga de fundo.
3.10. A Oscilação do Atlântico Norte Como se referiu anteriormente, a circulação atmosférica média no Atlântico Norte caracteriza-se pela existência de um centro de altas pressões, o anticiclone dos Açores, e de um centro de baixas pressões, a depressão da Islândia. Tem sido constatado que a um anticiclone dos Açores forte (pressão atmosférica acima da média) corresponde geralmente uma depressão da Islândia cavada (pressão abaixo da média), e vice-versa. A oscilação entre estas duas foi designada por Oscilação do Atlântico Norte, geralmente referida pela sigla NAO (do inglês "North Atlantic Oscilation"). A NAO pode ser quantificada através de índices simples (fig. IV.4) obtidos a partir da diferença entre a pressão atmosférica em Ponta Delgada (Açores) e Stykkisholmur (Islândia) ou entre Lisboa e Stykkisholmur (Hurrel,1995). A valores positivos da NAO estão associados ventos de Oeste superiores à média nas latitudes de 40o a 60o de latitude Norte, aumento de advecção de ar polar frio na Gronelândia e advecção de ar mais quente que o usual no Norte da Europa. O índice da NAO está correlacionado com uma fracção significativa da variabilidade climática no Atlântico Norte o que se reflecte, entre outros factores, na temperatura do ar
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(Hurrel, 1996), na temperatura da água do mar e na quantidade de precipitação (Hurrel, 1995). Assim sendo, este índice repercute-se nos ecossistemas marinhos, designadamente no que se refere à produção de zooplancton e à abundância de determinadas espécies de peixe, como as sardinhas (Pires et al., 1998).
-6
-4
-2
0
2
4
6
1864 1885 1906 1927 1948 1969 1990
Figura IV.4 – Índice NAO de Inverno, de 1864 a 1997, e tendência linear (Pires et al., 1998).
3.11. Variações seculares do nível do mar As elevações do nível do mar afectam o fornecimento sedimentar para a plataforma. Com efeito, os estuários respondem à subida do nível do mar reduzindo as exportações de materiais para a plataforma, de modo a adaptarem-se ao novo nível de base (Swift, 1976b). Convertem-se assim, preferencialmente, em locais de recepção e deposição de sedimentos, em vez de fornecedores, como se verifica em períodos de abaixamento do nível do mar. A elevação secular do nível médio do mar, deduzida da análise de séries maregráficas suficientemente extensas, tem sido constatada por inúmeros estudos. Em geral, e descontando os efeitos isostáticos, essa elevação tem sido essencialmente atribuída à expansão térmica dos oceanos (p. ex.: Dias & Taborda, 1988). Os estudos realizados sobre a variação do nível médio do mar em relação ao continente, tendo por base os dados das estações maregráficas de Cascais e Lagos, indicam taxas de elevação, ao longo do presente século, de 1,3±0,1 mm/ano e 1,5±0,2mm/ano, respectivamente (Dias & Taborda, 1988; Taborda & Dias, 1988). Estes estudos permitiram concluir que a subida do nível do mar é predominantemente eustática, isto é, maioritariamente influenciada pelas variações do nível global, com um sinal muito forte atribuído à expansão térmica dos oceanos. O modelo de Bruun (1962) permite quantificar o volume de areia e cascalho retido na zona litoral em virtude da subida do nível do mar. Os resultados da aplicação do referido modelo aos sectores estudados e os parâmetros em que a mesma se baseia (variação do nível relativo do mar, extensão do litoral arenoso e distância à costa correspondente à profundidade de fecho do perfil de praia) encontram-se expressos no Quadro IV.VII, que permite avaliar o decréscimo do volume de sedimento debitado para o litoral em virtude da subida do nível médio do mar.
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Quadro IV.VII – Volumes sedimentares (VS) associados à subida do nível relativo do mar (NM) nos sectores estudados. Figuram ainda, para cada região, a extensão das praias (EP) e a distância à costa (DC) correspondente à profundidade de fecho do perfil de praia (PF).
VS (m³/ano) NM (m/ano) EP (m) DC (m) PF (m)
Plataforma norte 5,4x105 120x103 3x103 17 Plataforma sudoeste
4,6×104 1,5x10-3 49x103 6x102 13
Plataforma algarvia 1,1x105 100x103 7x102 6
4. Resultado da actuação dos paleo-processos O padrão de distribuição dos sedimentos nas plataformas continentais é fundamentalmente condicionado pela dinâmica sedimentar actual e pela existência de depósitos sedimentares constituídos em períodos em que a configuração dos processos de fornecimento e distribuição de partículas era substancialmente diferente da actual. A configuração destes paleo-processos sofreu modificações importantes, que são razoavelmente conhecidas, desde o último máximo glaciário. Tais modificações foram discutidas por Dias (1987) a partir do estabelecimento de uma curva de variação do nível do mar na plataforma continental portuguesa a norte do canhão submarino da Nazaré. Os resultados publicados em diversos trabalhos (p. ex.: Moita, 1986; Monteiro & Moita, 1971; Monteiro et al., 1982; Quevauviller, 1987; Magalhães & Dias, 1992; Abrantes et al., 1994; Cascalho et al., 1994) sugerem a aplicabilidade da curva de variação do nível do mar proposta por Dias (1985, 1987) para a região norte de Portugal à totalidade da plataforma continental (Dias et al, 1997). Como é evidente, as modificações do nível relativo do mar, da localização da frente polar (fig. IV.5) e do padrão de circulação oceânica repercutem-se nas características dos processos que determinam o fornecimento e distribuição de partículas. Nestas circunstâncias, interessa conhecer os traços mais marcantes da evolução desde o último máximo glaciário, que ocorreu há cerca de 18 ka 3 (Caralp et al., 1984) e desde o qual se verificou um aquecimento climático gradual que atingiu o máximo há cerca de 16 ka no hemisfério setentrional (Olausson, 1985). No decorrer da referida evolução, o período durante o qual a maior parte da água foi introduzida nos oceanos em resultado da deglaciação parece ter ocorrido entre 13 e 9 ka B.P. 4 (Olausson, 1985).
4.1. No máximo glaciário No máximo glaciário, o litoral situar-se-ia provavelmente a cerca de 140 m (fig. IV.6)
3 ka designa milhares de anos. 4 Before Present.
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abaixo do nível actual do mar (Dias, 1985; Quevauviller & Moita, 1986; Pereira, 1991). A frente polar, correspondente à fronteira entre as águas polares e as águas sub-polares, localizar-se-ia à latitude aproximada da plataforma portuguesa (McIntyre et al., 1976; Ruddiman & McIntyre, 1976, 1981; Alvinerie et al., 1978; Duplessy et al., 1981; Bard et al., 1987; Fatela, 1995). A cronologia dos principais períodos da evolução desde o último máximo glaciário, bem como das fases de Ruddiman & McIntyre (1981) encontra-se esquemativamente representada na fig. IV.7.
Figura IV.5 – Variação da posição da frente polar nos últimos 18 ka (Ruddiman & McIntyre, 1981). Na plataforma norte portuguesa a temperatura das águas junto ao litoral era inferior a 4º C no Inverno, registando-se gradiente térmico E-W de intensidade bastante superior à do gradiente latitudinal. De facto, apenas a 200 km ao largo as temperaturas seriam da ordem dos 14º C (Thiede, 1977; Molina-Cruz & Thiede, 1978).
Figura IV.6 – Curva de variação do nível do mar na plataforma continental portuguesa setentrional (adaptado de Dias, 1987). Mais para sul, a temperatura das águas superficiais ao largo de Sines era bastante superior (Fatela et al., 1994), devido ao acentuado gradiente térmico induzido pela presença da corrente do Golfo, que então se restringia ao seu ramo meridional (Mörner, 1996).
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Figura IV.7 – Cronologia dos principais períodos da evolução desde o último máximo glaciário e das fases de Ruddiman & McIntyre (1981). A distribuição das paleotanatocenoses de foraminíferos planctónicos "polares" sugere a existência, nesta altura, de uma corrente costeira de águas polares frias, dirigida de norte para sul, ao longo da margem portuguesa (Molina-Cruz & Thiede, 1978). É provável que icebergs passassem frente a Portugal em estado de fusão acelerada (Guillien, 1962), o que parece ser comprovado pela presença, em testemunhos verticais de sedimentos profundos, de elementos com indícios de terem sido aprisionados pelo gelo e libertados à medida que este fundia (p. ex.: Kudrass & Thiede, 1970; Fatela, 1995; Lebreiro et al., 1996; Mörner, 1996). Os principais relevos do norte português ostentavam, nas partes mais elevadas, espessas acumulações de gelo (p. ex.: Daveau, 1980, 1986; Coudé et al., 1983; Coudé-Gaussen, 1978). Também junto ao litoral, indícios sedimentológicos e geomorfológicos vários permitem deduzir manifestações de frio, com congelação relativamente frequente (p. ex.: Carvalho, 1983; Daveau, 1973, 1986; Raynal, 1985). A velocidade de rotação da Terra era provavelmente superior à actual (Mörner, 1993), em consequência do baixo nível marinho. Este acréscimo conduzia certamente a um “upwelling” mais intenso que o actual (Rognon, 1980; Abrantes, 1991; Mörner, 1996). As bacias drenantes tinham, então, áreas bastante maiores do que as actuais, devido ao baixo nível marinho que expunha quase por completo a plataforma continental. A estação chuvosa seria mais longa do que a actual, ocorrendo as maiores precipitações no Outono e Inverno (Daveau, 1980). A erosão fluvio-glaciária, a fusão primaveril dos gelos e a forte pluviosidade conferiam aos rios fortes caudais hídricos, com grandes cheias frequentes. A grande intensidade destes caudais proporcionaria um forte abastecimento ao litoral (Dias, 1987), de que existem múltiplas evidências sedimentológicas e geomorfológicas na plataforma continental (p.ex.: Dias & Nittrouer, 1984; Magalhães & Dias, 1992; Abrantes et al., 1994; Cascalho et al., 1994). Devido a este intenso afluxo de água doce, as águas costeiras eram frequentemente pouco salinas. Na plataforma norte, a maior parte dos rios actuais eram então afluentes de um único
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rio principal que fluia para norte (Dias, 1987), cujo traçado era provavelmente condicionado por uma falha actualmente identificada na plataforma (Rodrigues et al., 1991, 1992, 1995b), e que desaguava num golfo pronunciado. As águas eram aí marcadamente hipossalinas, o que tem vindo a ser atestado por análises microfaunísticas. Nascimento & Silva (1989) noticiaram a presença, entre os 160 e os 230 m de profundidade, de paleotanatocenoses de ostracodos que actualmente vivem a latitudes superiores a 60º, sendo várias das espécies encontradas típicas da zona infralitoral costeira e de águas hipossalinas. Atendendo ao número de rios, regime de escoamento e características das áreas drenadas, a plataforma norte (tal como sucede actualmente) bastante melhor abastecida que os restantes sectores estudados. Os ventos e a agitação marítima dominantes provinham, provavelmente, de oeste no litoral ocidental (Pujol, 1980) e de sudoeste no litoral meridional. Nas regiões ocidentais, a deriva teria resultante N-S nos sectores imediatamente a norte dos canhões submarinos, verificando-se o inverso a sul dos mesmos. Na plataforma algarvia, as correntes longilitorais dirigir-se-iam para este nas regiões a ocidente dos canhões, ocorrendo o inverso a oriente dos mesmos. Assim, as zonas dos canhões submarinos constituiriam regiões de divergência da ondulação, onde é possível que se tenham constituído cordões arenosos, do tipo barreira. Devido à cota a que se localizava o nível médio do mar (-140 m), quase não existia plataforma continental (em certos casos, inexistente), e grande parte dos rios debitavam a maior parte dos seus caudais sólidos para o bordo da plataforma ou quase directamente para a vertente continental, principalmente nas épocas de cheia. O forte pendor do fundo marinho e a refracção muito limitada a que a onda de maior comprimento de onda era sujeita conjugavam-se para tornar o litoral muito energético, tornando fácil a transferência de partículas para maiores profundidades (Dias, 1987).
4.2. No final do Glaciário e início da deglaciação A fusão dos gelos das calotes glaciárias iniciou-se provavelmente há cerca de 18 ka (Ruddiman & McIntyre, 1981). Das zonas glaciadas foi libertada grande quantidade de água, que foi redistribuída pelos oceanos. A consequente transferência de pressões implica movimentos de reajustamento isostático, de tipo e intensidade variáveis segundo as regiões. É de esperar que os diferentes sectores da plataforma tenham reagido de forma diferencial à progressiva elevação do nível médio do mar. Todavia, o actual nível de conhecimentos sobre a evolução da plataforma não tem ainda, pormenor suficiente para detectar, com segurança, estes comportamentos diferenciais. A subida do nível do mar associada a esta fusão provocou uma desaceleração da velocidade angular da Terra. Ao mesmo tempo desenvolveu-se o ramo setentrional da corrente do Golfo, forçando a migração da frente polar para norte (Mörner, 1995, 1996). As temperaturas mais baixas verificadas ao largo da península Ibérica ter-se-iam registado
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neste período e não no máximo glaciário (Mörner, 1996). Embora fora dos sectores estudados, Lebreiro et al. (1994) identificaram depósitos grosseiros presumivelmente transportados pelo gelo na região da montanha submarina de Tore, datados de aproximadamente 12 a 15 ka B.P. . Segundo estes autores, a presença de tais depósitos encontra-se relacionada com o transporte de material proveniente da região do estreito de Hudson por acção do ramo meridional da corrente do Golfo. É provável que neste período (fase II de Ruddiman & McIntyre, 1981) o nível do mar tenha começado a subir a ritmo moderado até atingir profundidades (em referência ao zero actual) da ordem dos 100 m há cerca de 16 ka, tendo então estabilizado ou descido lentamente. Este estacionamento do nível do mar permitiu o desenvolvimento de plataformas de abrasão marinha, de cordões litorais e de arribas, que têm vindo a ser reconhecidas quer através de análises geomorfológicas (p. ex.: Musellec, 1974; Dias, 1985, 1987), quer por interpretação de perfis de reflexão sísmica ligeira e de sonar de pesquisa lateral (p. ex.: Musellec, 1974; Rodrigues & Dias, 1989; Rodrigues et al., 1991), quer por observação directa com veículos de operação remota (p. ex.: Dias et al., 1991, 1992a). Os condicionalismos climáticos e oceanográficos não eram, presumivelmente, muito diferentes dos existentes no decurso do máximo glaciário (Dias,1987). Sob estas condições, a deriva litoral efectiva era, ainda, provavelmente pequena. No entanto, os fenómenos de refracção e difracção ganhavam maior amplitude. Os depósitos grosseiros, com características relíquia, identificados por diversos autores na plataforma externa (p. ex.: Dias, 1987; Magalhães & Dias, 1992) ou no bordo da plataforma (p. ex.: Quevauviller & Moita, 1986) teriam sido fundamentalmente constituídos neste período. Os canhões submarinos que se definem na margem continental (Porto, Aveiro, S. Vicente, Portimão e Faro) eram, certamente, veículos privilegiados para a transferência de materiais sedimentares para maiores profundidades. Os cores colhidos ao longo da margem portuguesa durante o cruzeiro Faegas IV (Faugères et al., 1984a) revelam, nesta fase, taxas de acumulação nulas ou muito pequenas na vertente continental superior situada entre canhões submarinos. A maiores profundidades, tais taxas são significativas, atingindo valores superiores a 1,1 cm/ka. Os cores são constituídos por vasas silto-argilosas, reconhecendo-se, também, níveis turbidíticos e de debris-flow com elementos de argila compacta, o que parece confirmar a existência de frequentes episódios turbidíticos e de movimentações gravíticas desencadeados provavelmente por temporais (Dias, 1987). As taxas de acumulação registadas em cores obtidos no decurso deste cruzeiro sugerem ainda acentuado desvio das correntes de turbidez, provavelmente devido à força de Coriolis (Dias, 1987).
4.3. Durante a deglaciação Entre 13 e 11 ka B.P. verificaram-se profundas alterações no clima e na circulação atlânticos. Com efeito, a corrente do Golfo penetrou até ao mar de Barrents (Polyak &
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Mikhailov, 1996), o que provocou o desaparecimento rápido dos gelos no mar ao largo da Europa ocidental (Ruddiman & McIntyre, 1973). Tal modificação provocou rápida subida latitudinal da circulação ciclónica (Rognon, 1976, 1980) e recuo da frente polar para o NW do Atlantico (Ruddiman & McIntyre, 1981; Mörner, 1995, 1996). Este período de aquecimento climático corresponde à fase IIIa de Ruddiman & McIntyre (1981) e aos estádios de Bölling-Alleröd na terminologia clássica do norte da Europa. A temperatura das águas seria semelhante à actual ou mesmo ligeiramente mais quente (Duplessy et al., 1981). A flora acompanhou esta melhoria climática gradual. Dados referentes ao golfo da Biscaia mas que provavelmente se podem extrapolar para o território português, indicam que a vegetação predominantemente herbácea foi substituida por vegetação de porte arbóreo (Menendez-Amor & Florschutz, 1963; Duplessy et al., 1981). Efectivamente, dados polínicos referentes ao noroeste alentejano sugerem a existência de extensas áreas ocupadas por pinhal bravo (Mateus & Queiroz, 1993). O nível do mar terá subido muito rapidamente até aos -40 m. Os estuários dos rios tornaram-se local de deposição de grande quantidade de sedimentos, transportados pelas redes de drenagem continental e pela deriva litoral. A plataforma continental constituiria um meio de sedimentação autóctone desenvolvendo-se extensas áreas pantanosas e lagunares, atravessadas por canais que transportavam preferencialmente as fracções mais finas dos sedimentos (Dias, 1987). Devido à rápida migração da linha de costa em direcção ao continente e ao tipo de sedimentação, os traços morfológicos e sedimentológicos deixados na plataforma continental são pouco evidentes.
4.4. Durante o Dryas recente A seguir ao período de melhoria climática atrás referido verificou-se há cerca de 11 ka grande deterioração do clima, provocada pela alteração do padrão de circulação oceânica, nomeadamente pela penetração meridional de água polar e pela intensificação da corrente de Humboldt (Mörner, 1993, 1996). As características de interglacial quente foram rapidamente substituidas por condições glaciais bem marcadas (Duplessy et al., 1981). Verifica-se um arrefecimento generalizado das águas do Atlântico Norte, e a frente polar desce rapidamente, instalando-se à latitude da Galiza (Ruddiman et al., 1977; Ruddiman & McIntyre, 1973, 1981), tendo-se também verificado o desaparecimento do ramo setentrional da corrente do Golfo. A corrente fria do Labrador registou também um enfraquecimento, o que motivou um aquecimento na região do estreito de Hudson (Mörner, 1993). A temperatura das águas na região norte da plataforma portuguesa dificilmente atingiria os 10º C (Dias, 1987). O tipo de vegetação dominante é sujeito a grandes modificações. Por exemplo, no litoral da Galiza há indicações de que a um clima litoral moderado, correspondente à fase anterior, se seguiu uma crise climática seca e fria, com desaparição brusca da maior parte da vegetação
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arbórea (Nonn, 1966). Em consequência desta alteração climática, o nível médio do mar terá descido para cotas da ordem dos -60 m, onde se manteve cerca de 1 ka. Devido ao aumento da competência dos rios, os depósitos que se haviam formado nos sistemas estuarinos quando o nível do mar se encontrava nos -40 m foram erodidos e o material transportado para a plataforma. A sedimentação torna-se alóctone (Dias, 1987). Esta fase (correspondente à fase IIIb de Ruddiman & McIntyre, 1981) encontra-se bem marcada na plataforma portuguesa, quer através de multiplos elementos morfológicos, quer por extensos depósitos sedimentares de materiais bastante grosseiros e essencialmente terrígenos. Efectivamente, os materiais depositados nas zonas estuarinas no decurso da fase anterior foram, em grande parte, transferidos para a plataforma continental durante esta fase devido à maior competencia dos rios e ao abaixamento rápido do nivel do mar. Parte substancial das partículas grosseiras destes depósitos exibe rolamento elevado e pátinas avermelhadas, desenvolvidos no decurso de exposição subaérea. Sob as condições climáticas dominantes desde o máximo glaciário ter-se-ia desenvolvido um deserto litoral, a julgar pelos depósitos de vertente que testemunham um clima frio até ao nível actual do mar (Daveau, 1980, 1986), por vestígios de solifluxão heterométrica e outros indícios sedimentológicos no litoral minhoto (Carvalho, 1964, 1983; Carvalho et al., 1982) e por acumulações eólicas consolidadas principalmente no litoral do Alentejo e Algarve ocidental (Pereira, 1987, 1990). Teria sido neste ambiente de deserto litoral que as partículas sedimentares atrás referidas adquiriram as pátinas avermelhadas que ainda hoje exibem. Grande parte dos carbonatos teria então sido dissolvida (o que se coaduna com a escassez de clastos de moluscos nestes depósitos), sendo provável que ocorressem fenómenos de consolidação de areias utilizando esse carbonato como cimento. Parte dos fragmentos de arenito com cimento carbonatado que frequentemente se encontram em amostras colhidas na plataforma continental a profundidades compatíveis teria aqui a sua origem. Os traços morfológicos (designadamente plataformas de abrasão marinha, arribas e cordões litorais, submersas a profundidades entre 40 e 60 m) são muito abundantes e estão bastante bem conservados. Na plataforma setentrional, têm vindo recentemente a ser estudados visualmente com o auxílio de veículos de operação remota (p. ex.: Dias et al., 1991, 1992a). O desenvolvimento apresentado pelas plataformas de abrasão e pelas arribas só é explicável através de reocupações sucessivas pelo mar. Os terraços situados à cota -40 m na morfologia actual da plataforma continental correspondem possivelmente ao nível marinho mais elevado e os situados aos -60 m ao nível mais baixo (Rodrigues & Dias, 1989). Estas formas ter-se-iam mantido sem degradação apreciável devido á elevação muito rápida do nível do mar que se verificou após o Dryas recente.
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4.5. Durante o Holocénico Embora o Holocénico represente somente, do ponto de vista temporal, 1/60 do Quaternário, ocorreram durante este período de tempo importantes modificações ambientais, responsáveis por significativas alterações na paisagem. Simultaneamente, ocorreu uma importante evolução na sociedade humana, marcada pela transição entre o Paleolítico superior e o Mesolítico, acompanhada pelo progressivo incremento da evolução tecnológica. Há cerca de 10 ka ocorreu uma drástica modificação climática, registando-se aquecimento generalizado e marcada transgressão. Este período corresponde às fases IIIc e IV de Ruddiman & McIntyre (1981). Na fase IIIc a frente polar teria migrado para NW. No final da fase IV o regime de circulação oceânica era já essencialmente o mesmo que conhecemos actualmente. Segundo Mateus & Queiroz (1993), o período entre 10 e 8 ka B.P. caracterizou-se por clima relativamente húmido, sendo a vegetação predominante o pinheiro, cuja importância viria a diminuir posteriormente. Entre 6 e 5 ka B.P. a temperatura média do ar nas regiões de latitudes médias e elevadas teria sido cerca de 5º C acima da actual (Peixoto, 1987). Por tal facto, este período é, por vezes, designado por Óptimo Climático. Na plataforma continental portuguesa o nível do mar terá, possivelmente, subido rapidamente a uma velocidade superior a 2 cm/ano (Dias, 1987). Sob este regime fortemente transgressivo é compreensível que os vestígios deixados na plataforma sejam mínimos. Por outro lado, os processos costeiros associados a esta rápida migração da linha de costa não teriam conseguido destruir por completo as formas sedimentares litorais da fase anterior. A elevação do nível do mar parece não ter sido constante. De facto, algumas sondagens efectuadas próximo do litoral actual, nomeadamente nas zonas vestibulares dos rios, evidenciam por vezes oscilações ocorridas no decurso da referida elevação geral. É o caso dos depósitos da foz do Leça, descritos por Galopim de Carvalho & Ribeiro (1962). Os traços deixados pela migração da linha de costa têm vindo, recentemente, a ser investigados por inspecção visual através de mergulho com escafandro autónomo (Erlides, 1992; Pereira & Regnauld, 1994). O nível do mar teria atingido a cota actual entre 2,5 e 5 ka B.P. (Dias, 1987; Moreira & Psuty, 1993; Pereira & Soares, 1994). Embora certos autores (p. ex.: Granja, 1990) sugiram que o nível do mar teria estado a cota superior à actual, não foram ainda encontradas evidências seguras de tal facto. Pelo contrário, indícios vários apontam para a possibilidade do nível do mar ter estado ligeiramente abaixo do actual (fig. IV.8) há cerca de 2 ka (Baixo Nível Romano), na Idade Média (Baixo Nível Medievo) e ainda mais recentemente (Pequena Idade do Gelo). No decurso da fase de estabilização do nível médio do mar, o litoral entrou progressivamente em equilíbrio, tendo-se constituído os depósitos litorais detectados nas
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regiões estudadas. Quando o mar atingiu a cota actual a configuração do litoral era bastante diferente da que hoje conhecemos, caracterizando-se pela predominância de costa rochosa, por estuários amplos e por uma linha de costa muito recortada. A exportação significativa de materiais a partir dos estuários apenas começou mais tarde, dependendo da histérese da sedimentação estuarina de cada um. Iniciou-se então um período de activa rectificação da linha de costa com erosão das partes salientes e intensa acumulação nas partes reentrantes. A evolução climática no decurso deste período não se encontra ainda bem estabelecida. É geralmente aceite que o actual período climático, denominado frequentemente sub-atlântico, se iniciou há cerca de 2,5 ka.
Figura IV. 8 – Variação do nível do mar nos últimos 2,5 ka na costa atlântica francesa (Ters, 1976). Pelo contrário, são relativamente bem conhecidas as tendências climáticas gerais verificadas a partir de 1 200 a.C. O período entre 1 200 a.C. e o início da nossa era parece ter sido do tipo sub-húmido (Mateus & Queiroz, 1991), tendo provavelmente sido mais seco e quente desde essa altura e até ao ano 400 (Chaline, 1985). Entre os anos 400 e 1 000, há evidências de um clima seco e frio (Chaline, 1985), com um máximo nos séculos IX e X (Jones, 1990). No período compreendido entre 650 e 850 registaram-se alterações nalguns parâmetros climáticos (Soares, 1989, 1993a, 1993b) em relação com variações na intensidade do “upwelling”.
4.6. Durante o período histórico a partir do século XI Na Europa transpirenaica iniciou-se cerca do ano mil um episódio climático quente cujo máximo se verificou no século XII e que se prolongou até ao século XIV (Tullot, 1986). Este período, conhecido por "Pequeno Óptimo Climático", caracteriza-se por relativa aridez (Chaline, 1985; Ladurie, 1967) e por um aquecimento geral, com Primaveras quentes e Invernos amenos. A temperatura média no Verão era, provavelmente, 2º C acima da actual (Peixoto, 1987).
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No século XIV deu-se a rotura deste episódio medieval mais quente. Até ao século XVI passa-se por uma fase de transição para um período caracterizado por um arrefecimento generalizado (Machado, 1988) conhecido por "Pequena Idade do Gelo" (Tullot, 1986). Segundo alguns autores, este período teria terminado no final do século XIX, sendo geralmente reconhecido que os séculos XVI e XVII foram os mais inclementes. Na península Ibérica esta transição climática parece ter sido mais brusca do que no resto da Europa e mais drástica na parte atlântica que na mediterrânica (Tullot, 1986). Os séculos XVI e XVII foram caracterizados por congelação frequente dos rios e por grandes cheias em quase todas as bacias hidrográficas (Tullot, 1986). No entanto, os episódios frios foram interrompidos por algumas fases de franca recuperação térmica. De facto, o estudo de minerais de argila amostrados em sondagens efectuadas na laguna de Aveiro permitiu reconhecer 4 ciclos climáticos nos últimos 500 anos, alternando períodos quentes e húmidos com outros frios e secos (Gomes et al., 1994). A evolução histórica do litoral português tem vindo a ser estudada por exploração de mapas históricos, de documentação escrita, da toponímia, de dados arqueológicos, etc. Neste contexto, é relevante referir os trabalhos de Girão (1941), Boléo (1943), Martins (1947), Castelo-Branco (1957) e Weinholtz (1978b), entre muitos outros. A análise dos mapas antigos, nomeadamente os de Petrus Visconti (de 1318), de Álvares Seco (de 1560 e 1561), de Abraão Ortelius (de 1570), de Lucas Jan Waghenaur (de 1583), de João Teixeira (de 1648) e de Teixeira Albernaz (de 1662), permite constatar que a configuração do litoral português era significativamente diferente da actual. É possível verificar que a maioria das lagoas se encontrava ainda aberta para o mar, que o assoreamento dos estuários era reduzido e que as restingas arenosas que se desenvolveram na foz dos rios pareciam encontrar-se em fase de constituição. Alguns exemplos ilustram de forma bastante eloquente o que se afirmou. Junto à foz do Minho a acumulação arenosa de Camarido-Moledo parece ser muito pequena ou quase inexistente. Os mapas de Álvares Seco representam ainda sete ilhas no interior da laguna de Aveiro, que já não figuram nos portulanos de Abraão Ortelius. O estuário do rio Guadiana apresenta uma grande extensão nos portulanos de Petrus Visconti e de Lucas Jan Waghenaur. A configuração do sistema de ilhas barreira da Ria Formosa sofreu profundas transformações desde o século XVI. As lagoas de Melides e de Sto. André encontram-se representadas como estuários abertos para o mar até 1811. A referida evolução foi provavelmente condicionada pelas pequenas oscilações climáticas históricas, sucedendo-se os períodos de transgressão deposicional e regressão erosiva. É provável que as variações no abastecimento sedimentar tenham sido determinantes. É também possível que o nível marinho tenha descido ligeiramente nos períodos de maior abastecimento sedimentar.
89
Desconhece-se quando se iniciou o intenso abastecimento sedimentar ao litoral responsável pelas grandes acumulações arenosas actualmente existentes. Vários indícios sugerem que um dos primeiros períodos de grande abastecimento tenha ocorrido por volta de século X. Entre eles, referem-se: a) As taxas de acumulação registadas no depósito lodoso existente na plataforma continental média e externa ao largo do Porto parecem ter sido muito elevadas neste período (Drago, 1995; Drago et al., 1995); b) O assoreamento da lagoa de Ovil parece ter-se verificado nesta altura (Alves et al., 1988/89); c) A análise de mapas históricos (a qual deve ser efectuada com precaução devido às incorreções que frequentemente apresentam, na sua maior parte derivadas das técnicas cartográficas ao tempo disponíveis) indica que, no século X, existia já a sul de Espinho uma restinga arenosa (Girão, 1941; Martins, 1947), cuja evolução posterior viria a fechar um grande golfo, dando origem à laguna de Aveiro. O período entre os séculos XI e XV parece ter correspondido a um enfraquecimento do abastecimento sedimentar ao litoral, sendo possivel que se tenha verificado simultaneamente ligeira elevação do nível marinho (Dias, 1990). É possível que o abastecimento sedimentar se tenha intensificado na parte final deste período, presumivelmente devido à significativa expansão da agricultura, com arroteamento de terras de mato e destruição do coberto vegetal. O último grande período construtivo do litoral português parece ter-se verificado entre os séculos XVI e XIX, durante o qual os impactes das actividades antrópicas na sedimentogénese começaram a ser evidentes. É possível que o presumível abaixamento relativo do nível do mar tenha desempenhado um papel importante neste forte abastecimento sedimentar.
4.7. O seculo XX Actualmente decorre uma fase de características marcadamente transgressivas, devido a forte deficiência de abastecimento sedimentar em consequência das actividades humanas nas bacias hidrográficas drenantes, nas zonas estuarinas e no próprio litoral (Dias, 1990), e da elevação secular do nível do mar (Taborda & Dias, 1988, 1992a). As estimativas apresentadas por diversos autores (Andrade, 1990; Ferreira et al., 1990; Teixeira, 1990; Ferreira, 1993) sugerem que, por si só, as actividades antrópicas são responsáveis por cerca de 90% do recuo da linha de costa no litoral português. As consequências destas actividades foram já parcialmente referidas a propósito das restrições ao fornecimento por via fluvial, sendo a situação aí descrita agravada pelas intervenções efectuadas no litoral. É o caso das dragagens, da extracção de inertes e dos molhes dos portos. As dragagens e a extracção de inertes são responsáveis pela subtracção de enormes quantidades de sedimentos ao litoral. Alguns exemplos são bastante reveladores dos enormes volumes sedimentares envolvidos. No período 1973-76 os quantitativos, cuja extracção no
90
litoral foi autorizada pela Direcção-Geral de Portos, rondaram os 6×105 m³/ano (Paixão, 1980/81). Na costa a norte de Aveiro (S. Jacinto) extraíram-se, só em 1980, 4×105 m³ de areias (Oliveira et al., 1982). Na parte externa do porto de Leixões o volume de sedimentos dragados atingia já, há mais de duas décadas, cerca de 1,5×105 m³/ano (Abecasis et al., 1962). Os molhes dos portos induzem acumulação de enormes quantidades de areias a barlamar e, por interromperem a deriva litoral, grandes recuos da linha de costa a sotamar. Foi o que sucedeu após a construção dos molhes do porto de Aveiro, nos anos de 1949/50, tendo Abecassis et al. (1962) estimado em 8x105 m³/ano o volume de areias acumuladas a norte do molhe norte. Pelo contrário, a sul destes molhes registaram-se recuos médios anuais de 8 m (Oliveira et al., 1982), com valores locais superiores a 10 m/ano, tendo-se obviado o problema com a construção de um enrocamento longilitoral contínuo associado a um campo de esporões. Todavia, a sul destas estruturas, a intensificação da erosão costeira é extraordinariamente preocupante. Embora com menor amplitude, o recuo amplificado da linha de costa a sotamar dos molhes de entrada dos portos é uma constante, designadamente na Figueira da Foz (p. ex.: Abecasis et al., 1970; Duarte & Reis, 1992) e em Quarteira (p.ex.: Bettencourt, 1985; Dias & Neal, 1992; Correia, 1996). Simultaneamente, as taxas de assoreamento dos corpos lagunares e estuarinos têm vindo a aumentar ao longo deste século (Dias et al., 1997). Na zona montante do estuário do Tejo, por exemplo, as taxas de sedimentação duplicaram da primeira para a segunda metade deste século, tendo passado de 0,8 cm/ano no período 1928/64 para 1,7 cm/ano no período 1964/86 (Freire & Andrade, 1993). Mesmo no estuário do Sado, bastante mais modesto do que o do Tejo (em termos de bacia hidrográfica e de caudais), a acumulação de materiais pelíticos na plataforma de preiamar do estuário atingiu, em média, a espessura de 2 mm/ano na década de 80 (Moreira, 1992).
5. Súmula 1. Embora não se conheça com rigor a configuração moderna dos processos de fornecimento e de distribuição de partículas no depositário estudado, é possível deduzir os traços gerais dos processos mais marcantes. 2. Os principais processos de fornecimento de partículas para as plataformas analisadas encontram-se associados à contribuição fluvial e, em menor grau, à erosão litoral. 3 A construção de albufeiras de armazenamento nos principais rios portugueses é certamente responsável pelo decréscimo da contribuição fluvial actual para os sedimentos da plataforma, ao provocar a diminuição das pontas máximas de cheia e simultaneamente a do efeito de transporte associado a tais eventos. 4. O factor mais importante na remobilização de partículas é, provalmente, a agitação marítima.
91
Os climas de agitação (quer a modal, quer a de tempestade), prevalecentes nos sectores analisados induzem distintos potenciais de remobilização e diferentes intensidades de deriva litoral. 5. Alguns dos mecanismos operantes na plataforma actuam simultaneamente como processos de fornecimento e de distribuição de partículas. É o caso, por exemplo, das correntes de cheia, das correntes de maré (cuja velocidade se encontra fortemente dependente da batimetria) e das correntes de "upwelling". 6. Os movimentos de massa podem ser importantes na transferência de partículas do bordo da plataforma para maiores profundidades. 7. As variações do nível do mar possuem óbvias consequências na zona costeira e, simultaneamente, afectam o fornecimento sedimentar para a plataforma. A este respeito, são de considerar os efeitos associados à variação secular do nível médio do mar, ao "storm surge" e aos tsunamis. O estudo dos fenómenos físicos que induzem variações do nível do mar encontra-se ainda, em Portugal, em fase relativamente incipiente. Em consequência, existe uma grande deficiência na compreensão das respostas induzidas pelas referidas variações na sedimentação ocorrente na plataforma continental portuguesa. 8. É também possível deduzir a configuração, desde o último máximo glaciário, de alguns dos processos que determinam o fornecimento e a distribuição de partículas.
92
V. CARACTERÍSTICAS DA COBERTURA SEDIMENTAR
1. Introdução
As características fisiográficas e geológicas, tanto da parte submersa como da faixa litoral,
bem como as características oceanográficas e climatológicas dos sectores estudados reflectem-
se, certamente, nas respectivas coberturas sedimentares. No presente capítulo pretende-se
avaliar as repercussões das referidas características ao nível sedimentológico, o que permite
contrastar os principais processos de fornecimento e distribuição de partículas, realçar as
especificidades próprias de cada sector e deduzir os mecanismos de dinâmica sedimentar mais
importantes.
2. Comparação entre as características médias dos sedimentos
Para averiguar em que medida os sedimentos dos sectores da plataforma abrangidos pelo
presente trabalho apresentam ou não diferenças significativas foram realizados testes de Mann-
Whitney envolvendo características texturais, composicionais e granulométricas das amostras
estudadas dispostas em fiadas perpendiculares ao litoral.
Os testes estatísticos não paramétricos realizados devem ser usados nos casos em que não
sejam, presumivelmente, válidos os pressupostos necessários para a utilização de testes
paramétricos (i.e., populações com distribuição normal e homogeneidade das variâncias), os
quais são mais frequentemente empregues. O único pressuposto necessário para a realização do
teste de Mann-Whitney é que os valores da variável a comparar sejam continuamente
distribuídos. Na prática, sabe-se que não existem inconvenientes se este pressuposto não se
verificar (Chao, 1974). Neste teste, a hipótese Hº de que as médias dos dois grupos de valores
são iguais é testada contra a hipótese H¹ de que essas médias são significativamente diferentes.
Na análise dos resultados obtidos deve ter-se em consideração que "estes testes podem
demonstrar o que as coisas não são, mas não podem estipular o que são" (Davis, 1986).
Os resultados obtidos com os testes efectuados constam dos quadros V.I e V.II nos quais,
para cada variável, se apresenta a probabilidade P de os grupos de amostras consideradas não
apresentarem diferenças significativas. A probabilidade de haver diferenças significativas
aumenta com o decréscimo do valor de P. Com base nas indicações de Folk (1968), podemos
dizer que as diferenças são insignificantes para P>0,2. Se P se encontra compreendido entre 0,2
e 0,05, as diferenças poderão ser reais, embora os dados utilizados sejam insuficientes para ter
qualquer garantia de tal facto. Se P<0,05 as diferenças podem ser consideradas reais.
A análise dos quadros V.I e V.II permite verificar quais as variáveis que não apresentam
diferenças significativas nos sedimentos dos sectores estudados e quais as que apresentam
valores significativamente diferentes. A título meramente exemplificativo, consideremos os
93
Quadro V.I – Resultados da aplicação do teste de Mann-Whitney aos sedimentos dos sectores estudados. A itálico encontram-se representadas os grupos de amostras que parecem apresentar maiores semelhanças.
Plataforma Norte -
Sudoeste Norte -
Algarvia Sudoeste -Algarvia
Variável P P P Cascalho 0,01 0,00 0,00 Areia 0,03 0,00 0,00 Silte 0,35 0,00 0,00 Argila 0,00 0,00 0,00 Frequência -1 a 0 Ø 0,33 0,00 0,00 Frequência 0 a 1 Ø 0,07 0,00 0,00 Frequência 1 a 2 Ø 0,00 0,00 0,00 Frequência 2 a 3 Ø 0,00 0,16 0,00 Frequência 3 a 4 Ø 0,38 0,04 0,08 Média areia 0,08 0,00 0,01 Calibragem areia 0,00 0,00 0,00 Assimetria areia 0,03 0,00 0,07 Angulosidade areia 0,00 0,00 0,00 Cascalho terrígeno 0,33 0,76 0,29 Quartzo -1 a 0 Ø 0,71 0,74 0,60 Micas -1 a 0 Ø 0,00 0,00 0,53 Agregados -1 a 0 Ø 0,00 0,00 0,60 Outros terrígenos -1 a 0 Ø 0,16 0,00 0,16 Moluscos -1 a 0 Ø 0,00 0,00 0,00 For. planc. -1 a 0 Ø 0,05 0,44 0,23 For. bent. -1 a 0 Ø 0,75 0,27 0,09 Equinodermes -1 a 0 Ø 0,68 0,99 0,81 Outros biog. -1 a 0 Ø 0,00 0,00 0,23 Glaucónia -1 a 0 Ø 0,02 0,11 0,00 Não identif. -1 a 0 Ø 0,00 0,00 0,33 Quartzo 0 a 1 Ø 0,53 0,26 0,15 Micas 0 a 1 Ø 0,00 0,00 0,23 Agreg. 0 a 1 Ø 0,00 0,00 0,78 Outros terr. 0 a 1 Ø 0,01 0,14 0,23 Moluscos 0 a 1 Ø 0,00 0,00 0,00 For. planc. 0 a 1 Ø 0,48 0,00 0,00 For. bent. 0 a 1 Ø 0,00 0,06 0,02 Equinodermes 0 a 1 Ø 0,34 0,28 0,73 Outros biog. 0 a 1 Ø 0,00 0,00 0,01 Glaucónia 0 a 1 Ø 0,00 0,05 0,00 Não identif. 0 a 1 Ø 0,00 0,00 0,00 Quartzo 1 a 2 Ø 0,00 0,84 0,00 Micas 1 a 2 Ø 0,00 0,00 0,23 Agregados 1 a 2 Ø 0,00 0,00 0,05 Outros terr. 1 a 2 Ø 0,00 0,00 0,07 Moluscos 1 a 2 Ø 0,00 0,00 0,00 For. planc. 1 a 2 Ø 0,00 0,01 0,00 For. bent. 1 a 2 Ø 0,00 0,96 0,00 Equinodermes 1 a 2 Ø 0,59 0,42 0,17
94
Quadro V.II – Resultados da aplicação do teste de Mann-Whitney aos sedimentos dos sectores estudados. A itálico encontram-se representadas os grupos de amostras que parecem apresentar maiores semelhanças.
Plataforma Norte -
Sudoeste Norte -
Algarvia Sudoeste - Algarvia
Variável P P P Outros biog. 1 a 2 Ø 0,03 0,01 0,98 Glaucónia 1 a 2 Ø 0,00 0,00 0,00 Outras partículas 1 a 2 Ø 0,00 0,00 0,10 Quartzo 2 a 3 Ø 0,00 0,00 0,87 Micas 2 a 3 Ø 0,00 0,00 0,63 Agregados 2 a 3 Ø 0,00 0,00 0,02 Outros terrígenos 2 a 3 Ø 0,00 0,00 0,66 Moluscos 2 a 3 Ø 0,00 0,00 0,00 For. planc. 2 a 3 Ø 0,00 0,98 0,00 For. bent. 2 a 3 Ø 0,00 0,00 0,01 Equinodermes 2 a 3 Ø 0,49 0,00 0,01 Outros biog. 2 a 3 Ø 0,15 0,00 0,06 Glaucónia 2 a 3 Ø 0,00 0,00 0,00 Outras partículas 2 a 3 Ø 0,00 0,00 0,70 Quartzo 3 a 4 Ø 0,00 0,00 0,07 Micas 3 a 4 Ø 0,00 0,00 0,16 Agregados 3 a 4 Ø 0,00 0,00 0,20 Outros terrígenos 3 a 4 Ø 0,00 0,00 0,85 Moluscos 3 a 4 Ø 0,00 0,00 0,00 For. planc. 3 a 4 Ø 0,00 0,10 0,00 For. bent. 3 a 4 Ø 0,00 0,00 0,00 Equinodermes 3 a 4 Ø 0,25 0,00 0,05 Outros biogénicos 3 a 4 Ø 0,66 0,02 0,01 Glaucónia 3 a 4 Ø 0,00 0,00 0,00 Outras partículas 3 a 4 Ø 0,00 0,00 0,14 Quartzo areia 0,00 0,00 0,07 Micas areia 0,00 0,00 0,58 Agregados areia 0,00 0,00 0,23 Outros terrígenos areia 0,00 0,00 0,96 Moluscos areia 0,00 0,00 0,00 For. planc. areia 0,00 0,71 0,00 For. bent. areia 0,00 0,00 0,00 Equinodermes areia 0,77 0,05 0,03 Outros biog. areia 0,00 0,00 0,12 Glaucónia areia 0,00 0,00 0,00 Outras partículas areia 0,00 0,00 0,20
resultados dos testes entre o grupo de amostras representativas das plataformas norte e
sudoeste. A probabilidade destes depósitos não apresentarem diferenças significativas é
extremamente reduzida (P<0,01) no que se refere, entre outros, ao conteúdo de argila, à
frequência das fracções 1 a 2 Ø e 2 a 3 Ø e às percentagens de micas e de moluscos nas
diferentes fracções da areia. Por outro lado, a probabilidade de que não haja diferenças
95
significativas é muito elevada (P>0,5) no que respeita, por exemplo, ao conteúdo em quartzo
nas fracções areia muito grosseira (-1 a 0 Ø) e grosseira (0 a 1 Ø). Aliás, a fracção -1 a 0 Ø
parece ser a que regista maior probabilidade de não apresentar diferenças significativas nos
dois grupos de amostras considerados.
Aparentemente, os sedimentos que parecem apresentar maiores diferenças são os das
plataformas norte e algarvia. Com efeito, a probabilidade de não existirem diferenças
significativas é inferior a 0,01 em 57 das variáveis consideradas. Por outro lado, os sedimentos
que parecem apresentar maiores semelhanças são os das plataformas sudoeste e algarvia. De
facto, a probabilidade de não existirem diferenças significativas é superior a 0,5 em 14 das
variáveis consideradas. Estes resultados concordam com a análise, anteriormente efectuada, dos
processos de fornecimento e de distribuição, de acordo com a qual se verifica um acentuado
contraste entre o sector norte e os restantes.
3. Padrão genérico de distribuição dos sedimentos
3.1. Método utilizado
Para identificar e interpretar o padrão genérico de distribuição dos sedimentos recorreu-se
à aplicação de técnicas de análise multivariada utilizando como dados os obtidos para
diferentes variáveis relativas às análises textural e da fracção grosseira. Com base nos
resultados desta análise, tentou-se ainda detectar diferenças significativas entre os sectores
estudados.
Na prossecução dos objectivos expressos foi utilizado o método das K-médias (McQueen,
1967; Hartigan, 1975). À semelhança dos restantes métodos de análise classificatória não
hierárquica, o objectivo desta técnica é realizar uma partição da amostragem em grupos de
modo a que amostras incluídas no mesmo grupo sejam semelhantes entre si e que amostras
incluídas em grupos diferentes sejam mais dissemelhantes entre si que as pertencentes ao
mesmo grupo. A discordância entre os dados das N amostras envolvidas na análise e a partição
realizada P(N,K) em K grupos é medida pelo erro e[P(N,K)]. Não é prático utilizar o elevado
número de partições possíveis para reduzir este erro. Para obstar a este inconveniente, aceita-se
a partição quando o erro e[P(N,K)] não se reduz substancialmente com nova partição.
A análise foi efectuada sobre dados correspondentes a 21 variáveis não locacionais,
acrescidas da profundidade.
3.2. Resultados
Este método conduziu ao estabelecimento de 8 grupos de amostras (K=8), cujas
características médias se encontram expressas no quadro V.III. Para melhor percepção das
características específicas de cada grupo, representaram-se graficamente (figs. V.1 e V.2) as
médias obtidas para algumas variáveis. Apesar de não ser totalmente correcto comparar o
96
somatório de valores médios, a utilização de somatórios deste tipo reveste-se de uma grande
utilidade para ilustrar os contrastes existentes entre os diferentes grupos.
GRUPOS
%
%
%
%
%
%
1 2 3 4 5 6 7 8
Argila
Silte
Areia 3 a 4 ø
Areia 2 a 3 ø
Areia 1 a 2 ø
Areia 0 a 1 ø
Areia -1 a 0 ø
Cascalho
Figura V.1 – Textura dos grupos de amostras afins.
O grupo 1 representa areias finas e muito finas com teores médios de materiais lodosos
aproximadamente iguais a 13%. O cascalho, quando existe, é fundamentalmente constituído
por bioclastos. A areia é dominada pela componente carbonatada, a qual é fundamentalmente
constituída por carapaças de foraminíferos. A glaucónia ocorre na areia em quantidades
significativas.
Os sedimentos incluídos no grupo 2 são areias finas e muito finas, com um significativo
conteúdo em materiais silto-argilosos. Os diâmetros superiores a 2 Ø constituem, em média,
75% do sedimento. As partículas de quartzo e as carapaças de foraminíferos constituem as
classes composicionais predominantes na areia (correspondendo, cada uma, a cerca de 30% do
total de partículas). É neste grupo que a percentagem média de glaucónia na areia atinge os
valores mais elevados.
O grupo 3 corresponde a sedimentos arenosos com importante componente silto-argilosa.
O cascalho e a areia são dominados pela componente biogénica. Pontualmente, a glaucónia
representa cerca de 45% das partículas existentes na areia.
Os sedimentos do grupo 4 são areias mal calibradas, com significativos conteúdos médios
em materiais lodosos e em cascalho. O cascalho e a areia são essencialmente constituídos por
partículas de origem biogénica. A fauna de onde derivaram os bioclastos da areia parece ser a
mais diversificada de todos os grupos.
97
Quadro V.III – Características médias das variáveis consideradas para a partição da amostragem em grupos. Para cada variável indica-se a média, o desvio padrão e o domínio de variação.
Variável Gr. 1 Gr. 2 Gr. 3 Gr. 4 Gr. 5 Gr. 6 Gr. 7 Gr. 8 Cascalho 4; 7
0-39 2; 4 0-17
5; 7 0-39
8; 10 0-48
4; 9 0-49
2; 6 0-41
6; 10 0-53
38; 22 0-89
Areia 83; 17 7-100
78; 18 31-99
78; 19 12-100
71; 23 4-100
58; 26 2-99
89; 15 15-100
79; 23 16-100
55; 20 4-95
Silte 9; 11 0-58
13; 12 0-43
11; 12 0-49
12; 13 0-53
30; 24 0-86
6; 8 0-45
8; 13 0-50
5; 12 0-55
Argila 5; 6 0-35
6; 8 0-24)
6; 9 0-45
9; 11 0-47
8; 9 0-44
3; 7 0-48
6; 10 0-40
3; 7 0-42
Terrígenos no cascalho
1; 4 0-30
0; 1 0-8
2; 4 0-16
2; 4 0-22
0; 1 0-10
0; 1 0-8
2; 5 0-34
34; 23 0-86
Fracção -1 a 0 Ø 8; 13 0-65
7; 13 0-52
13; 19 0-83
14; 16 0-64
7; 12 0-62
5; 12 0-56
12; 15 0-70
47; 24 0-90
Fracção 0 a 1 Ø 13; 15 0-71
10; 15 0-55
16; 17 0-75
21; 18 0-86
11; 14 0-50
7; 12 0-48
23; 20 0-76
27; 15 0-70
Fracção 1 a 2 Ø 19; 13 0-52
12; 12 0-65
17; 14 1-74
21; 16 1-77
13; 13 0-55
12; 13 0-65
28; 19 0-76
13; 10 0-52
Fracção 2 a 3 Ø 31; 18 0-93
29; 21 0-78
27; 20 0-80
24; 20 0-79
20; 17 0-66
49; 26 0-95
22; 21 0-77
6; 9 0-39
Fracção 3 a 4 Ø 28; 22 0-86
42; 30 0-93
28; 26 0-87
19; 21 0-83
48; 33 0-99
27; 23 0-94
15; 20 0-79
7; 20 0-87
Quartzo na areia 27; 25 0-93
32; 21 1-94
32; 28 0-97
30; 29 0-93
25; 21 0-81
53; 25 0-93
45; 34 0-92
65; 29 0-93
Micas na areia 1; 2 0-16
2; 4 0-17
1; 3 0-25
0; 1 0-4
16; 19 0-74
8; 12 0-57
1; 4 0-30
1;1 0-9
Agregados na areia
2; 3 0-22
1; 2 0-14
1; 1 0-7
2; 5 0-42
3; 8 0-45
3; 4 0-22
3; 5 0-23
9; 7 0-31
Outros terrígenos na areia
2; 3 0-21
3; 4 0-17
2; 3 0-21
2; 4 0-32
6; 7 0-36
7; 7 0-36
2; 3 0-21
2; 7 0-42
Moluscos na areia 20; 16 1-78
18; 17 0-69
23; 20 1-86
31; 21 1-81
26; 24 0-85
12; 14 0-78
26; 24 1-83
14; 17 0-70
Foraminíferos planctónicos na areia
13; 9 0-34
13; 9 0-34
10; 9 0-36
7; 8 0-33
6; 8 0-36
3; 6 0-28
4; 7 0-29
2; 6 0-31
Foraminíferos bentónicos na areia
24; 17 0-87
18; 13 0-49
21; 18 0-77
19; 19 0-80
11; 12 0-56
7; 11 0-52
10; 14 0-62
5; 13 0-57
Equinodermes na areia
1; 1 0-6
1; 1 0-7
1; 1 0-4
1; 1 0-9
1; 1 0-8
1; 1 0-6
1; 1 0-4
0; 1 0-3
Outros biogénicos na areia
4; 5 0-50
5; 8 0-40
4; 7 0-40
4; 6 0-53
4; 4 0-28
2; 4 0-26
3; 7 0-49
1; 2 0-10
Glaucónia na areia 5; 10 0-55
6; 9 0-32
5; 9 0-46
4; 9 0-44
1; 3 0-18
3; 8 0-45
3; 10 0-56
1; 5 0-39
Outras partículas na areia
1; 1 0-14
0; 1 0-7
0; 1 0-4
0; 1 0-4
1; 1 0-9
1; 1 0-5
0; 0 0-2
0; 0 0-1
Número de amostras 195 49 83 153 105 132 101 85
O grupo 5 representa areias bastante lodosas. A fracção silto-argilosa constitui, em média,
cerca de 40% do sedimento. O cascalho é dominado pela componente biogénica. Os conteúdos
médios das partículas terrígenas e biogénicas existentes na areia são idênticos. As percentagens
média e máxima de micas na areia apresentam os valores mais elevados neste grupo.
O grupo 6 corresponde a areias finas e muito finas. As partículas de quartzo são as mais
abundantes na areia, cuja componente bioclástica é dominada por clastos de moluscos e que
apresenta ainda um elevado conteúdo de outros terrígenos (além do quartzo e das micas).
98
Os sedimentos incluídos no grupo 7 corresponden a areias mal calibradas. Os conteúdos
em cascalho e em materiais silto-argilos são, por vezes, elevados, chegando a representar mais
de 50% do sedimento. O cascalho é dominado por partículas de origem biogénica. As partículas
de quartzo constituem a classe composicional mais abundante na areia. É neste grupo que se
registam as mais elevadas percentagens de glaucónia.
% TERRÍGENOS
0
20
40
60
80
1 2 3 4 5 6 7 8
% BIOGÉNICOS
0
25
50
75
1 2 3 4 5 6 7 8 % QUARTZO
0
25
50
75
1 2 3 4 5 6 7 8
% MOLUSCOS
0
15
30
45
1 2 3 4 5 6 7 8 % MICAS
0
4
8
12
16
1 2 3 4 5 6 7 8
% FORAMINÍFEROS
0
10
20
30
40
1 2 3 4 5 6 7 8 % GLAUCÓNIA
0
2
4
6
8
1 2 3 4 5 6 7 8 GRUPOS
Figura V.2 – Composição da areia dos grupos de amostras afins.
O grupo 8 representa areias cascalhentas e cascalhos arenosos. Os diâmetros inferiores a 1
Ø correspondem, em média, a cerca de 80% do sedimento. O cascalho é predominantemente
terrígeno, tal como a areia.
99
3.3. Distribuição espacial
A aparente simplicidade do padrão de distribuição destes grupos de amostras (fig. V.3)
sugere controlo batimétrico na plataforma e aponta para algumas diferenças significativas nos
sectores considerados. Efectivamente, o grupo 1 ocorre na plataforma externa e bordo da
plaforma, os grupos 2 e 3 na vertente continental superior, o grupo 5 na plataforma média e na
externa, os grupos 6 e 7 na plataforma interna e na média e o grupo 8 na plataforma média.
Os sedimentos incluídos nos grupos 1, 2 e 3 são os mais glauconíticos de todos, o que
permite pressupôr taxas de acumulação pequenas ou mesmo negativas (Müller, 1967) e que a
maioria destes sedimentos são do tipo relíquia. Todavia, a glaucónia presente nestes sedimentos
pode encontrar-se em acumulação actual, sendo proveniente de outros depósitos.
O grupo 4 representa sedimentos granulometricamente mistos, com quantidades
apreciáveis de cascalho e de finos e em que nenhuma das fracções texturais da areia predomina
de modo evidente sobre as outras. Na plataforma continental aberta ao Atlântico, a distribuição
deste grupo parece encontrar-se relacionada com afloramentos rochosos presentes na
plataforma externa. Pelo contrário, este grupo encontra-se bem representado em toda a
plataforma algarvia, em especial no sector ocidental.
O grupo 6, que representa areia fina (2 Ø a 3 Ø) denuncia importante abastecimento em
partículas terrígenas. As suas características indicam deficiência no abastecimento de materiais
de dimensão inferior a 1 Ø, o que está provavelmente de acordo com o tipo de materiais
detríticos presentemente debitados pelos rios. Actualmente, os estuários e os deltas de vazante
do rios funcionam como filtros à passagem de materiais. Efectivamente, nos deltas de vazante
dos rios depositam-se partículas grosseiras, possivelmente maiores que a dimensão
correspondente ao limiar efectivo de entrada em suspensäo, que parece ser de cerca de 2 Ø
(Bagnold, 1966).
A pequena quantidade de materiais finos (<63 µm) pode ser explicada pela energia do
meio onde os sedimentos deste grupo se encontram. Embora estejam possivelmente
relacionados com um bom abastecimento silto-argiloso proveniente das desembocaduras dos
rios, o material existente nestes sedimentos corresponde provavelmente apenas a fracção
depositada transitoriamente. O facto deste grupo apresentar elevados conteúdos em micas e em
"outros terrígenos" (além do quartzo e micas) tende a confirmar a hipótese anterior e a
modernidade destes sedimentos. Provavelmente encontram-se em equilíbrio dinâmico,
acabando a parte que é remobilizada e transportada para maiores profundidades por ser
depositada em meio cuja energia seja consentânea com as características hidrodinâmicas das
partículas destes sedimentos.
Os sedimentos do grupo 5 apresentam algumas analogias com os anteriores, embora os
conteúdos em micas e em materiais silto-argilosos sejam significativamente mais elevados. Este
grupo encontra-se quase exclusivamente representado a norte de Espinho e no Algarve.
100
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
Sines
100000.00 140000.00
2
4
6
8
1
1
1
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
Grupo 1
Grupo 3
Grupo 4
Grupo 6
Grupo 7
Grupo 2 Grupo 5 Grupo 8
Figura V.3 – Distribuição dos grupos de amostras afins.
101
A norte do paralelo de Espinho, os sedimentos do grupo 5 encontram-se provavelmente,
relacionados com a descarga dos rios que afluem a esta plataforma. A sua adjacência aos
sedimentos do grupo 6 indica que a energia do meio onde se encontram é já compatível com a
deposição, possivelmente temporária, e eventualmente sazonal, de quantidades apreciáveis de
micas e de material silto-argiloso proveniente das desembocaduras dos rios.
A distribuição dos sedimentos do grupo 5 na plataforma continental algarvia encontra-se
possivelmente relacionada com a acção conjugada de diversos processos que serão referidos
quando se analisar a distribuição da fracção silto-argilosa. Constata-se a existência de um
acentuado contraste com as outras regiões, denunciando menores níveis energéticos e dinâmica
sedimentar bastante diferente.
Os sedimentos terrígenos do grupo 8 ocupam uma área significativa no sector norte e
apresentam pequena expressão na plataforma sudoeste. Este tipo de distribuição confirma o
bom abastecimento em terrígenos do sector norte, ao contrário do que sucede na plataforma
sudoeste, que é deficitária neste tipo de materiais.
Os sedimentos do grupo 8 presentes na plataforma algarvia poderão estar associados com a
erosão passada e actual de formações mio-pliocénicas pouco consolidadas que, apesar de serem
muito silto-argilosas, apresentam frequentemente elevados conteúdos em materiais grosseiros
(areia e cascalho), e que formam arribas activas a oriente dos Olhos de Água.
Este grupo encontra-se quase exclusivamente representado nos sectores virados a oeste,
tendo expressão nuito reduzida na plataforma algarvia. Este facto atesta o caractér energético
dos sectores abertos ao Atlântico e a menor energia da plataforma virada para o golfo de Cádis.
4. Características texturais
4.1. Tipos de sedimentos
A distribuição dos tipos de sedimentos, de acordo com o esquema classificativo proposto
por Shepard (1954), revela que a classe textural dominante é a areia (fig. V.4). Todavia, todas
as restantes classes (com excepção da argila e da argila arenosa) se encontram representadas.
A vertente continental superior dos sectores norte e sudoeste é igualmente dominada pelo
tipo textural areia, ao contrário do que sucede geralmente a nível mundial, em que predominam
os sedimentos lodosos (Bouma, 1979). Tal facto parece indicar que estas regiões são mais
energéticas do que a generalidade das vertentes mundiais.
A maior ou menor diversidade textural dos sectores estudados encontra-se relacionada,
entre outros aspectos, com o abastecimento fluvial e os nível energéticos de cada um.
Para além da areia, as classes texturais presentes na plataforma norte são areia siltosa
(sobretudo na plataforma média setentrional e na vertente continental superior), silte arenoso
(em zonas restritas da plataforma interna e média), silte (na região setentrional da plataforma
102
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Argila
Areia+Cascalho
Silte
Rocha
Figura V. 4 – Distribuição dos tipos texturais dos sedimentos, segundo a classificação de Shepard (1954).
103
média), areia-silte-argila (pontualmente na vertente continental superior) e silte argiloso (em
áreas restritas nas imediações de afloramentos rochosos, à profundidade aproximada de 100 m,
e na vertente continental superior).
É bastante evidente a existência de um contraste latitudinal na distribuição da areia siltosa.
Efectivamente, esta classe ocorre com bastante frequência a norte do paralelo 41ºN, sendo, pelo
contrário, praticamente inexistente a sul do mesmo. A desigual distribuição latitudinal da areia
siltosa na plataforma média encontra-se certamente relacionada com as desembocaduras dos
rios que drenam para este sector. A sul de 41ºN, a ausência desta classe textural na plataforma
adjacente ao Vouga parece reflectir a menor densidade da rede hidrográfica e o funcionamento
da laguna como retentor de partículas finas.
O desenvolvimento apresentado pelos depósitos silto-argilosos que ocorrem nas
imediações das cabeceiras do canhão submarino do Porto e na plaforma média ao largo do rio
Minho sugere fornecimento abundante em materiais deste tipo, assim como níveis energéticos
compatíveis com a sua deposição.
A plataforma sudoeste é o sector que apresenta menor diversidade de tipos texturais,
sendo, tal como a anterior, dominada por areia. Os outros tipos detectados são areia siltosa (na
plataforma média, em relação aparente com afloramentos rochosos, e na vertente continental
superior), silte arenoso (na região central da vertente continental superior), areia-silte-argila e
silte argiloso (os dois últimos nas proximidades do canhão de S. Vicente).
Dos sectores estudados, é a plataforma algarvia que apresenta maior diversidade textural.
No entanto, é mais uma vez o tipo textural areia que se encontra mais bem representado,
sobretudo na plataforma interna e na plataforma média e externa ocidentais. Ocorrem ainda
areia siltosa (principalmente na plataforma média e externa), silte arenoso (na plataforma
média), silte (numa área restrita da plataforma média), silte argiloso (que se distribui
essencialmente desde a plataforma média à vertente continental superior), areia-silte-argila
(frequente desde a plataforma média à vertente superior) e argila siltosa (na plataforma média
oriental).
Em relação com as desembocaduras dos rios Arade e Guadiana ocorrem manchas de silte
argiloso que correspondem, provavelmente, aos prodeltas destes rios, os quais foram
identificados por Moita (1986).
A distribuição dos tipos texturais neste sector denuncia menores níveis energéticos e
dinâmica sedimentar bastante diferente dos restantes.
4.2. Distribuição do cascalho
A distribuição do cascalho (fig. V.5) parece relcionar-se com as paleo-desembocaduras dos
rios mais importantes, com os respectivos deltas de vazante e com paleolitorais. Verifica-se
tendência geral para esta fracção ocorrer em duas faixas grosseiramente paralelas à costa, as
quais são, por vezes, bastante mal definidas.
104
Na plataforma norte, esta fracção distribui-se segundo o padrão já detectado por Dias et
al. (1980/81), verificando-se tendência geral para a mesma se dispôr em duas bandas
grosseiramente paralelas à costa: uma, mais larga e mais bem definida, onde o cascalho é
frequentemente abundante ou mesmo dominante (correspondendo, por vezes, a mais de 80%
da totalidade da amostra), ocorre, no geral, entre os 30 e os 90 m de profundidade; outra, mais
mal definida, onde o cascalho raramente atinge atinge percentagens superiores a 25% da
amostra, localiza-se na plataforma externa. Na vertente continental superior aparece,
ocasionalmente, em quantidades significativas.
Na plataforma externa a norte do paralelo 41º N, esta fracção ocorre em ligação aparente
com os afloramentos rochosos aí existentes. A área enriquecida em cascalho que ocorre na
vizinhança do Beiral de Viana poderá corresponder a um delta de vazante de um importante
curso de água, que constituía, segundo Rodrigues & Dias (1989), local de confluência dos
paleo-rios Minho, Ave, Lima, Cávado e Âncora até há cerca de 16 ka.
A desigual abundância de cascalho na plataforma externa adjacente aos canhões
submarinos do Porto e de Aveiro reflecte provavelmente as diferentes litologias existentes
nestas regiões.
Na plataforma sudoeste, esta fracção encontra-se sobretudo representada a norte de Sines
e nas proximidades das cabeceiras do canhão submarino de S. Vicente, onde corresponde
frequentemente a 5 a 20% do sedimento. A norte de Sines, o cascalho dispõe-se em duas
bandas grosseiramente paralelas à costa: uma, mais larga e que se estende desde a plataforma
interna até à profundidade aproximada de 100 m; outra, que se distribui por uma área mais
restrita, localiza-se na proximidade do bordo da plataforma. É, por vezes, abundante nas
proximidades dos afloramentos rochosos, chegando a representar cerca de 25% da totalidade do
sedimento. Na vertente continental superior meridional aparece, ocasionalmente, em
quantidades significativas.
Na região setentrional da plataforma sudoeste, a sua distribuição parece relacionar-se
com paleolitorais, já anteriormente detectados por Quevauviller & Moita (1986). Ao largo do
Mira, a distribuição do cascalho permite deduzir a existência, já sugerida por Dias (1987) e
Pereira (1991), de possíveis deltas de vazante deste rio. O enriquecimento em cascalho nas
proximidades do canhão de S. Vicente encontra-se possivelmente relacionado com os
afloramentos rochosos aí existentes.
O padrão de distribuição do cascalho na plataforma algarvia é substancialmente diferente
do detectado nos outros sectores. Efectivamente, esta fracção encontra-se sistematicamente
representada na generalidade da plataforma, embora seja mais abundante a profundidades
inferiores a 50 m e ocorra, por vezes, em quantidades vestigiais. O cascalho existente na
plataforma interna encontra-se provavelmente relacionado com depósitos grosseiros
acastanhados ou avermelhados que ocorrem de forma generalizada em toda a orla algarvia.
Estes depósitos, que têm sido considerados plio-plistocénicos, apresentam
105
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
5 % a 25 %
< 1 %
25 % a 50 %
1 % a 5 %
> 50 %
Figura V.5 – Distribuição da fracção cascalho.
106
significativa fracção argilosa, evoluindo para crostas ferruginosas carregadas de pisólitos
arredondados (Oliveira, 1984).
4.3. Distribuição da areia
A cobertura sedimentar dos sectores estudados é predominantemente constituída por areia
(fig. V.6). A área onde esta fracção corresponde a mais de 80% da totalidade do sedimento
ocupa uma grande extensão.
As áreas em que esta fracção é deficitária nos sedimentos da plataforma norte coincidem,
como seria de esperar, com os depósitos lodosos da plataforma média e externa e com
sedimentos ricos em cascalho existentes na plataforma média e na plataforma externa.
A distribuição desta fracção na plataforma sudoeste é mais homogénea que nas restantes,
em relação com a menor diversidade textural dos sedimentos deste sector. As áreas nas quais a
fracção areia é menos abundante localizam-se, essencialmente, na vertente continental superior.
A plataforma algarvia é o sector no qual é maior a área em que predominam as outras
fracções dos sedimentos. Tal facto deve-se, essencialmente, ao conteúdo destes sedimentos em
siltes e argilas.
4.4. Distribuição da fracção fina (silte+argila)
É evidente a ligação entre algumas zonas silto-argilosas e as desembocaduras dos rios, com
especial acuidade para os rios que afluem à região a norte de Espinho e à plataforma algarvia
(fig. V.7). A presença de sedimentos silto-argilosos na plataforma adjacente a rios importantes
é vulgar quando o fornecimento e concentração de partículas finas supera a tendência natural
para a sua remoção e dispersão (Friedman & Sanders, 1978).
A cobertura sedimentar dos sectores estudados caracteriza-se, de modo geral, pela
ocorrência de sedimentos que se vão tornando progressivamente mais ricos em silte e argila a
maiores profundidades.
O aumento percentual da fracção silto-argilosa que, de maneira geral, se verifica abaixo
dos 80-100 m de profundidade encontra-se certamente relacionado com a diminuição dos níveis
energéticos actuantes junto ao fundo. O bordo da plataforma e a vertente continental superior
de muitas regiões são zonas de sedimentação activa (Southard & Stanley, 1976). Contudo, a
estabilidade de tais depósitos poderá ser apenas temporária. De facto, as condições específicas
do bordo da plataforma (entre outras, ondas de Kelvin, ondas internas, correntes de "upwelling"
e vórtices oceânicos), cujas consequências podem ser amplificadas pela intensidade das
correntes de maré, podem provocar a ressuspensão destes materiais, facilitando o seu transporte
para a vertente continental e para a planície abissal ou deslocando-os novamente para a
plataforma externa. As diminutas percentagens registadas em determinados locais da vertente
continental superior encontram-se possivelmente relacionadas com a eventual existência de
zonas de turbulência, que geram correntes susceptíveis de manter os sedimentos
107
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
50 % a 80 %
< 20 %
> 80 %
20 % a 50 %
Figura V.6 – Distribuição da fracção areia.
108
em suspensão e/ou promover a sua frequente ressuspensão.
A “mud line” (para além da qual não ocorre um aumento significativo no conteúdo na
fracção lodosa) definida por Stanley & Wear (1978) deverá localizar-se a cerca de 500 m de
profundidade nos sectores norte (Magalhães, 1993) e sudoeste, e a menores profundidades na
plataforma algarvia. Este contraste batimétrico na localização da “mud line” relaciona-se com
diferentes níveis energéticos e de fornecimento sedimentar (Stanley et al., 1983).
A distribuição da fracção fina reflecte, em larga medida, a do silte, pois que os valores do
silte são, por via de regra, bastante mais elevados que os da argila. A carência em partículas das
dimensões granulométricas da argila permite concluir que o abastecimento da plataforma em
argila é inferior ao fornecimento de silte e/ou que os níveis energéticos junto ao fundo
possibilitam a deposição de silte mas inibem a deposição generalizada da fracção argilosa.
De uma maneira geral, a fracção silto-argilosa não é abundante na plataforma norte. A
percentagem média de silte nos sedimentos é 10%, enquanto que a de argila é de 3%. A
plataforma média a norte do paralelo 41º N e a vertente continental superior são as zonas mais
ricas em materiais finos.
O padrão de distribuição desta fracção caracteriza-se pela existência de contraste
latitudinal evidente. A norte do paralelo 41º N, esta fraccão encontra-se presente na plataforma
interna e média, não existindo indícios evidentes de controlo batimétrico. Para sul desta
latitude, esta fracção apresenta tendência para se encontrar ausente ou ocorrer em quantidades
vestigiais acima dos 80 m de profundidade. Tal facto encontra-se possivelmente relacionado
com a densidade e importância dos principais rios a norte (Minho, Lima, Douro, Cávado, Ave e
Douro) e a sul do referido paralelo (Vouga e Mondego).
A norte do paralelo de Espinho, as percentagens de silte e de argila na plataforma interna
são superiores às indicadas por Dias (1987) para a totalidade da plataforma portuguesa a norte
do canhão da Nazaré, invertendo-se esta situação na plataforma externa, o que traduz a elevada
energia dos processos oceanográficos nesta região e o bom abastecimento fluvial.
A sul do paralelo 41ºN, a ausência ou escassez de finos na plataforma interna adjacente a
Aveiro reflecte a eficiência da laguna como retentora de sedimentos, e a acção dos processos de
distribuição.
É de ressaltar a existência de duas zonas particularmente ricas em sedimentos finos
(silte+argila), anteriormente detectadas na distribuição dos tipos texturais: frente à foz do rio
Minho, a profundidades ligeiramente superiores a 100 m, e nas proximidades das cabeceiras
do canhão submarino do Porto. Em ambas as zonas as percentagens de silte e argila excedem
frequentemente o valor de 90%, com especial incidência no depósito meridional.
Na plataforma sudoeste, esta fracção corresponde, geralmente, a menos de 25% dos
sedimentos. O conteúdo em finos apenas é superior a este valor na vertente continental superior
setentrional, ao largo de Odeceixe e nas imediações do canhão de S. Vicente.
Embora o impacte das correntes ligadas à Veia de Água Mediterrânea seja especialmente
109
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
5 % a 10 %
> 50 %
< 1 %
10 % a 25 %
1 % a 5 %
25 % a 50 %
Figura V.7 – Distribuição da fracção silto-argilosa.
110
importante a profundidades compreendidas entre os 500 m e os 1 200 m (Âmbar, 1982;
Faugères et al., 1985b), as variações no conteúdos em finos que se detectam na vertente
continental superior reflectem possivelmente, entre outros factores, a acção destas correntes,
que poderão promover a erosão de material silto-argiloso. Na região meridional, a acção destas
correntes é certamente amplificada pela de correntes ascencionais e descensionais no canhão de
S. Vicente. Também neste troço da plataforma, esta fracção é dominada por silte, encontrando-
se a argila presente em quantidades diminutas. Os teores médios de silte e de argila são,
respectivamente, 7% e 2%.
A plataforma algarvia é o sector que apresenta conteúdos em silte e argila mais
elevados. Os teores médios destas fracções texturais são, respectivamente, 17% e 13%. A
presença de elevadas percentagens deste tipo de materiais encontra-se possivelmente
relacionada com a acção conjugada de diversos processos, entre os quais se destacam:
exportação de materiais pelo Guadiana e rios localizados mais a oriente; ressuspensão e
transporte devido a fenómenos de "upwelling" (que, embora ocasional, se manifesta pela
penetração de uma cunha de água fria proveniente do sector sudoeste); erosão de arribas mal
consolidadas com elevados conteúdos silto-argilosos; remobilização de siltes e argilas
depositados no último período glaciário; importação de materiais lodosos da margem oeste que
aqui se podem depositar devido a perda de energia tranportadora. Estas elevadas percentagens
reflectem ainda, provavelmente, a constituição geológica das bacias hidrográficas dos cursos de
água que afluem ao litoral.
É possível detectar manchas enriquecidas em materiais silto-argilosos em relação com os
prodeltas dos rios Arade e Guadiana, os quais foram anteriormente detectados por Moita
(1986).
Na vertente continental superior, as variações no conteúdo em finos poderão reflectir a
acção da Veia de Água Mediterrânea, parecendo evidente a associação entre depósitos silto-
argilosos e o canhão de Portimão.
5. Características granulométricas
5.1. Média granulométrica dos sedimentos
A fracção 2-3 Ø constitui o "fundo" do qual sobressaem manchas mais grosseiras (mais
frequentes) e mais finas, detectadas anteriormente nos mapas de distribuição das fracções
texturais (fig. V.8)
As manchas mais grosseiras são, em parte, coincidentes com áreas ricas em cascalho. As
zonas caracterizadas por médias inferiores a 2 Ø localizam-se, em geral, até cerca dos 80-100 m
de profundidade. A maiores profundidades existem outras áreas em que os sedimentos
apresentam também médias grosseiras, não evidenciando, contudo, continuidade espacial tão
bem definida como nas zonas anteriores.
111
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
1 a0
4 a3 > 4
2 a1
< -1 0 a-1
3 a2
Figura V.8 – Distribuição da média granulométrica dos sedimentos.
112
As manchas mais finas, pelo contrário, correspondem, frequentemente, a áreas
enriquecidas em siltes e argilas.
5.2. Granulometria do cascalho
Quando o cascalho é pouco abundante (inferior a 10%) nas amostras estudadas, a fracção -
1 a -2 Ø é, quase exclusivamente, a única presente. A média granulométrica do cascalho
reflecte geralmente a abundância desta fracção textural no sedimento. Efectivamente, parece
existir tendência para que o cascalho seja tanto mais grosseiro quanto mais abundante ele é na
amostra.
5.3. Granulometria da areia
5.3.1. Média
O tipo de areia dominante nos sectores estudados é a areia fina, como se constata
analisando a fig. V.9, que representa a distribuição da média granulométrica da areia. Em parte,
os diâmetros granulométricos correspondentes estão provavelmente de acordo com os produtos
debitados pelos rios e/ou com a maior parte da contribuição bioclástica da plataforma
(exoesqueletos de microfauna)
Este parâmetro corrobora, em grande parte, as ilações anteriormente expendidas. De um
modo geral, as manchas de areias médias (1 a 2 Ø), grosseiras (0 a 1 Ø) e muito grosseiras (-1 a
0 Ø) coincidem com zonas ricas em cascalho. Encontram-se geralmente expressas por médias
que contrastam com os valores das que as circundam e apresentam disposição grosseiramente
paralela à costa, estando provavelmente relacionadas com paleolitorais e/ou com os deltas de
vazante dos principais rios que afluem ao litoral. As manchas de areia fina (2 a 3 Ø) e muito
fina (3 a 4 Ø) são geralmente coincidentes com áreas enriquecidas em finos.
As manchas localizadas no bordo da plataforma encontram-se possivelmente relacionadas,
pelo menos em grande parte, com condições específicas da dinâmica sedimentar prevalecentes
nesta área.
Na região média e na externa da plataforma norte ocorrem manchas de areias médias a
muito grosseiras. A mancha menos profunda é caracterizado por diâmetros compreendidos
entre -1 e 1 Ø. Na mancha externa, mais profunda e mal definida, os valores da média variam
entre 0 e 2 Ø.
Próximo do litoral ocorrem areias finas e, na dependência da desembocadura dos rios,
areias médias e grosseiras, possivelmente relacionadas com os deltas de vazante associados aos
rios principais, bem como com a influência da deriva litoral. Provavelmente, a forma destes
deltas de vazante é possivelmente diferente consoante as estações do ano, devido a diferentes
condições de agitação marítima e de fornecimento fluvial. A plataforma interna adjacente a
Aveiro é dominada por areias finas, que correspondem, certamente, ao prisma litoral
113
constituído por areias da deriva litoral e da erosão das dunas e, também, ao delta de vazante da
barra de Aveiro.
Existe um nítido contraste latitudinal na distribuição das areias muito finas na plataforma
média e externa, sugerindo que os diâmetros entre 3 e 4 Ø se encontram provavelmente
relacionados com o acarreio de materiais destas dimensões actualmente provenientes dos rios,
bem como com a sua importação a partir da plataforma galega (o que é corroborado pela
informação cartográfica expressa em Garcia et al., 1998), e também com a remobilização
provocada pela ondulação mais frequente.
Na plataforma sudoeste predomina a areia fina. Detectam-se ainda algumas manchas de
areias médias e grosseiras. Os depósitos grosseiros da zona setentrional correspondem aos que
foram identificados por Quevauviller & Moita (1986) a norte de Sines. Ao largo do Mira, os
depósitos grosseiros poderão estar relacionados com dois possíveis paleolitorais, cuja
existência foi sugerida por Dias (1987) e Pereira (1991).
As areias médias e grosseiras presentes na região central da plataforma média indicam
provavelmente um paleolitoral existente a profundidades semelhantes às do que foi detectado a
50-60 m na área Tróia-Sines (Quevauviller & Moita, 1986). Encontram-se ainda possivelmente
relacionadas com os principais cursos de água existentes na região.
Nas proximidades das cabeceiras do canhão de S. Vicente detectam-se areias médias e
grosseiras, que se podem atribuir à presença de sedimentos que testemunham um antigo
ambiente de sedimentação e que não teriam sido cobertos por sedimentos posteriores. A acção
conjugada da Veia de Água Mediterrânea e de correntes ascencionais e descensionais no
canhão pode inibir a deposição de material fino, mais recente, e possivelmente promover a
erosão de material silto-argiloso (Cascalho et al., 1994).
A plataforma agarvia é dominada por areias médias e finas. Foram detectadas areias
grosseiras a oriente de Lagos, a profundidades que, no geral, não ultrapassam os 50 m. Esta
faixa de areia grosseira existente na plataforma média é interrompida por areias médias frente
ao cabo de Sta. Maria. A menor largura da plataforma nesta zona provoca provavelmente uma
mais facil remobilização e uma consequente maior mistura de partículas. Nestas circunstâncias,
o afluxo de areias médias provenientes do do sistema de ilhas-barreira seria responsável, nesta
zona, pela obliteração da referida faixa.
5.3.2. Calibragem
No seu conjunto, as areias moderadamente calibradas (valores de desvio padrão entre 0,5
e 1) e mal calibradas (valores superiores a 1) são predominantes na cobertura sedimentar dos
sectores estudados (fig. V.10).
Os sedimentos da plataforma norte são de modo geral, melhor calibrados do que os dos
restantes sectores, o que, em parte, se encontra relacionado com o clima de agitação marítima
aqui prevalecente.
114
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha 0 a-1 1 a0
2 a1 3 a2 4 a3
Figura V.9 – Distribuição da média da areia.
115
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
> 1
< 0,5 0,5 a 1
Figura V.10 – Distribuição da calibragem da areia.
116
As areias mal calibradas localizam-se, preferencialmente, na plataforma externa, bordo da
plataforma e vertente continental superior. Esta deficiente calibragem aponta para com níveis
energéticos baixos, insuficientes para calibrar o tipo de areias que aí se encontram, e/ou com
sedimentação activa do tipo misto (terrígena e biogénica) e/ou proveniências distintas do
material sedimentar em deposição 1.
Existe um contraste latitudinal evidente na distribuição deste parâmetro granulométrico. A
norte do paralelo 41ºN, a distribuição dos valores de calibragem da areia parece reflectir a
descarga dos rios que afluem a esta região, apresentando a distribuição das areias mal
calibradas um carácter ubíquo. A sul deste paralelo, verifica-se tendência para este tipo de
areias se encontrar ausente da plataforma interna e para que a zona litoral apresente sedimentos
bem calibrados, em relação com a apetência calibradora induzida pelo elevado nível energético
do meio.
Na plataforma sudoeste predominam as areias medianamente a mal calibradas. A área
central deste sector apresenta uma maior homogeneidade na distribuição deste parâmetro do
que as restantes. A inexistência de um bordo da plataforma nítido nesta área contribui
possivelmente para uma maior eficácia na actuação dos processos de distribuição como agentes
responsáveis pela mistura dos materiais sedimentados.
A areia da cobertura sedimentar da plataforma algarvia apresenta calibragem moderada e
má, o que se pode relacionar com níveis energéticos inferiores aos dos outros sectores
estudados.
5.3.3. Calibragem relativa
A distribuição regional dos valores da calibragem relativa encontra-se expressa no mapa
da fig. V.11.
O aspecto geral é substancialmente diferente do mapa respeitante à calibragem calculada
com base no desvio padrão. De facto, é significativamente superior a área coberta por areias
que, de acordo com este parâmetro, se podem classificar como bem calibradas (valores
inferiores a 2).
Todavia, algumas explanações efectuadas na discussão da distribuição regional da
calibragem são aqui aplicáveis. É o caso, por exemplo, da distribuição das areias mal calibradas
(calibragem relativa superior a 4), que se localizam, preferencialmente, a profundidades
superiores a 100 m nas plataformas norte e sudoeste, e a 50 m na plataforma algarvia.
Detectam-se também sedimentos com valores de calibragem relativa muito baixos
(inferiores à unidade). De acordo com Seibold (1963) e Dias (1987), um dos casos em que este
1 É de salientar que, na plataforma externa, bordo da plataforma e vertente continental superior adjacentes ao canhão de Aveiro, este parâmetro é fortemente influenciado pelos elevados conteúdos de forminíferos existentes na fracção arenosa (ver fig. V.27)
117
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
2 a 4
< 1
> 4
1 a 2
Figura V.11 – Distribuição da calibragem relativa da areia.
118
coeficiente apresenta valores inferiores a um é o dos sedimentos residuais, derivando tal facto
da remobilização do sedimento e remoção das fracções mais finas.
5.3.4. Assimetria
O padrão de distribuição da assimetria da areia encontra-se representado na fig. V.12.
Na plataforma norte verifica-se que, junto ao litoral, na plataforma externa e no bordo da
plataforma as areias são enriquecidas em partículas mais grosseiras (<0). Junto ao litoral, tal
facto poderá traduzir: introdução de materiais deste tipo, provenientes dos rios e da erosão
litoral; transporte de partículas a partir de depósitos adjacentes, mais profundos e mais
grosseiros, provocado pelas condições oceanográficas; extracção preferencial, pela ondulação,
das partículas finas. Na plataforma externa esta assimetria poderá ser explicada pela integração
de partículas de origem biogénica, mais grosseiras. A dinâmica sedimentar actuante no bordo
da plataforma e na vertente continental induz, possivelmente, a ressuspensão de partículas
finas, o que, conjuntamente com os processos atrás referidos, originará a ocorrência, nestas
zonas, de valores negativos de assimetria.
Este parâmetro revela enriquecimento em partículas mais finas (>0) principalmente na
plataforma média, cuja fracção arenosa é constuída por areias médias e grosseiras. A deposição,
neste local, de partículas mais finas, provenientes dos rios ou dos depósitos litorais, explica
satisfatoriamente os valores positivos de assimetria.
Existe um contraste latitudinal na distribuição da assimetria da areia, em especial na
plataforma média e externa. Este parâmetro revela enriquecimento em partículas mais finas a
sul do paralelo de Espinho, parecendo a assimetria positiva da areia resultar da redeposição de
partículas mais finas provenientes da região setentrional.
Junto ao bordo meridional da parte superior do canhão submarino do Porto a fracção areia
é positivamente assimétrica. A maior quantidade de partículas mais finas, responsável por esta
assimetria, poderá derivar da deposição de materiais transportados de maiores profundidades
devido a correntes ascensionais e/ou a deposição dos materiais remobilizados no bordo da
plataforma. O contraste entre a assimetria positiva junto ao bordo meridional e a assimetria
negativa junto ao bordo setentrional pode encontrar-se relacionado, entre outros factores, com a
disposição geral da batimetria.
O enriquecimento em partículas finas que se detecta na adjacência ao canhão de Aveiro
apresenta um maior desenvolvimento junto ao bordo meridional desta entidade morfológica.
Tal facto encontra-se possivelmente relacionado com a maior eficácia dos mecanismos
anteriormente referidos, com a maior largura da plataforma e/ou com a litologia dos
afloramentos rochosos existentes nesta região.
Na plataforma sudoeste, a assimetria revela enriquecimento em partículas mais finas
principalmente na plataforma média e externa a norte do paralelo da foz do Mira e a sul da
119
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha < 0 > 0
Figura V.12 – Distribuição da assimetria da areia.
120
Bordeira. À semelhança do anteriormente observado na distribuição dos valores da calibragem
da areia, a área central dese sector apresenta uma maior homogeneidade na distribuição deste
parâmetro do que as restantes, o que se encontra possivelmente relacionado com a inexistência
de bordo da plataforma.
A ausência de bordo bem marcado na plataforma a sul de Sines contribui possivelmente
para uma maior eficácia na actuação dos processos de distribuição como agentes responsáveis
pela mistura dos materiais sedimentados.
Nas imediações do canhão submarino de S. Vicente este parâmetro exibe comportamento
similar ao detectado para a região adjacente ao canhão do Porto. É de presumir que tal
comportamento possa ser explicado de maneira análoga.
O padrão de distribuição deste parâmetro na plataforma algarvia é substancialmente
diferente. Efectivamente, a tendência dominante é para valores positivos junto à costa e
negativos a maior profundidade. A zona entre Sagres e Lagos constitui importante excepção a
este padrão genérico, o que aponta para a inexistência, nesta zona, de fontes sedimentares.
5.3.5. Variações com a profundidade
Muitas das características dos sedimentos encontram-se bem evidenciadas nos diagramas
das figs. V.13 e V.14, que representam a variação com a profundidade da abundância média
das classes texturais e de alguns parâmetros granulométricos da areia.
PLATAFORMA NORTE
Profundidade (m)
0%
25%
50%
75%
100%
20 80 140 200 260
PLATAFORMA SUDOESTE
Profundidade (m)
0%
25%
50%
75%
100%
20 80 140 200 260
PLATAFORMA ALGARVIA
Profundidade (m)
0%
25%
50%
75%
100%
20 80 140 200 260
Argila
Silte
Areia
Cascalho
Figura V.13 – Distribuição percentual média das classes texturais dos sedimentos por classes de profundidade.
121
Os diagramas da fig. V.13 evidenciam a maior abundância de cascalho na plataforma norte
e a frequência com que esta classe textural ocorre na plataforma algarvia. É também visível o
enriquecimento em silte e em argila na plataforma externa, embora a generalidade dos
sedimentos da plataforma algarvia exibam apreciável conteúdo em material destas dimensões
granulométricas.
Os diagramas da fig. V.14 referem-se a parâmetros granulométricos da areia. Também aqui
são visíveis diferenças no padrão de distribuição destes parâmetros nos sedimentos das
plataformas ocidentais e da algarvia, em especial no que se refere à média e à assimetria da
areia. Contudo, em qualquer dos sectores, a distribuição da média granulométrica da areia por
classes de profundidade apresenta comportamento análogo ao do cascalho. É também evidente,
no diagrama referente à variação da assimetria com a profundidade, o enriquecimento em
partículas grosseiras dos sedimentos litorais dos sectores ocidentais. Pelo contrário, os
sedimentos litorais da plataforma algarvia são enriquecidos em partículas finas.
Plataforma norte Plataforma sudoeste Plataforma algarvia
Assimetria
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
Assimetria
-1,2
-0,6
0
0,6
Assimetria
-1,3
-0,8
-0,3
0,2
Calibragem
0
0,25
0,5
0,75
1
Calibragem
0
0,4
0,8
1,2
Calibragem
0
0,25
0,5
0,75
1
Média
Profundidade (m)
0
1
2
3
20 80 140 200 260
Média
Profundidade (m)
0
1
2
3
20 80 140 200 260
Média
Profundidade (m)
0
1
2
3
20 80 140 200 260
Figura V.14 – Distribuição da variação de alguns parâmetros granulométricos da areia por classes de profundidade.
6. Características composicionais
6.1. Composição do cascalho
De um modo geral, as manchas de cascalho existentes na plataforma média e/ou interna
continuam bem marcadas no mapa da distribuição do cascalho terrígeno na amostra total (fig.
V.15). Na plataforma externa, as percentagens de cascalho terrígeno são muito reduzidas (quase
122
sempre inferiores a 5%), mesmo nos casos em que a fracção cascalho corresponde a mais de
30% do total da amostra. Advém tal facto, como é óbvio, das manchas menos profundas de
cascalho terem composição essencialmente terrígena, enquanto que as mais externas são
predominantemente biogénicas.
A abundância de cascalho terrígeno na plataforma norte confirma o bom abastecimento
deste sector em materiais terrígenos provenientes do continente e os elevados níveis energéticos
aqui existentes.
Contrariando a tendência geral para a ausência ou reduzida representatividade do cascalho
terrígeno na plataforma externa, detecta-se uma área enriquecida em cascalho terrígeno na
vizinhança do Beiral de Viana. Esta área poderá corresponder, de acordo com as
reconstituições paleogeográficos de Dias (1987), Rodrigues e Dias (1989) e de Rodrigues et al.
(1990, 1991), a um paleo-delta de vazante do rio Beiralis.
Os elementos do cascalho da plataforma média e na vizinhança dos Beirais de Viana e de
Caminha, de composição predominantemente terrígena, são essencialmente constituídos por
quartzo e quartzito, por vezes muito bem rolados ou sub-rolados. A tonalidade geral é amarelo-
alaranjada. Ocorrem ainda outros elementos líticos, predominando os de gnaisse e os de
granito. Nas proximidades dos Beirais de Viana e de Caminha encontram-se ainda fragmentos
de calcário.
A fracção cascalhenta de origem biogénica é muito escassa na plataforma média e na
vizinhança do Beiral de Viana. É fundamentalmente constituída por fragmentos de conchas de
moluscos, geralmente perfurados e corroídos, com superfícies normalmente despolidas e
tonalidade geral amarelada. Esporadicamente aparecem também conchas com aspecto recente,
inteiras ou exibindo pequena fracturação.
Os elementos biogénicos do cascalho da plataforma externa são essencialmente derivados
de conchas de moluscos, bastante fracturados e de cor acastanhada ou acinzentada. Poucas são
as conchas inteiras, as quais não evidenciam normalmente índicios de modernidade. Pelo
contrário, quer as conchas inteiras, quer os fragmentos, apresentam-se geralmente bastante
corroídas e perfuradas, exibindo superfícies, por vezes, baças e pulvurentas. Os clastos
terrígenos, pouco frequentes, são quase exclusivamente de quartzo e quartzito.
O cascalho existente na plataforma sudoeste é dominado pela componente biogénica. A
componente terrígena, constituída por quartzo, frequentemente patinado de óxidos de ferro, e
por fragmentos de rochas várias, tais como quartzito, arenito, xisto e "beach-rock", é
praticamente inexistente na plataforma a sul de Sines. Pelo contrário, a norte de Sines
detectam-se duas bandas enriquecidas em cascalho terrígeno grosseiramente paralelas à costa.
Pela sua orientação, estas bandas poderão corresponder a paleolitorais (Quevauviller & Moita,
1986). À semelhança do sector anterior, a mancha enriquecida em cascalho terrígeno que se
detecta na plataforma externa ao largo de Sines poderá encontrar-se relacionada com antigas
redes de drenagem.
123
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
5 % a 10 %
< 1 %
10 % a 50 %
1 % a 5 %
> 50 %
Figura V.15 – Distribuição das percentagens de cascalho terrígeno.
124
Na plataforma agarvia, a fracção cascalho é dominada pela componente biogénica,
encontrando-se o cascalho terrígeno praticamente restringido a manchas existentes na
plataforma interna e média.
A componente terrígena desta fracção é em geral constituída por fragmentos de quartzo
rolado e despolido, não raras vezes patinado com óxidos de ferro, e fragmentos de rocha, tais
como quartzito, arenito e calcário. Encontra-se possivelmente relacionada com a ocorrência
generalizada, na orla algarvia, da "formação vermelha" plio-quaternária, com os principais
cursos de água que afluem à região (Guadiana e ribeiras de Bensafrim, Alvor, Arade, Odiáxere
e Alfanzina, entre outras) e com os escassos afloramentos rochosos existentes na plataforma.
Para além destes factores, a mancha menos profunda refecte provavelmente um paleolitoral
existente na plataforma média e a erosão de formas relíquia deixadas pelo sistema de ilhas-
barreira, na sua migração através da plataforma continental.
6.2. Composição da areia
6.2.1. Características principais
Os diagramas incluídos na fig. V.16 representam a distribuição percentual média das
classes composicionais da areia, a intervalos de 20 m de profundidade, das amostras dispostas
segundo alinhamentos perpendiculares à costa. A análise desta figura permite evidenciar as
principais semelhanças e diferenças entre a composição da fracção arenosa dos sedimentos dos
sectores estudados.
Figura V.16 – Distribuição percentual média das classes composicionais da areia por classes de profundidade.
PLATAFORMA NORTE
profundidade (m)
0%
25%
50%
75%
100%
20 80 140 200 260
PLATAFORMA SUDOESTE
profundidade (m)
0%
25%
50%
75%
100%
20 80 140 200 260
PLATAFORMA ALGARVIA
profundidade (m)
0%
25%
50%
75%
100%
20 80 140 200 260
1Outras partículas
Glaucónia
Outros biogénicos
Foraminíferos
Moluscos
Outros terrígenos
Mica
Quartzo
125
É bem nítida a importância dos materiais provenientes do continente na plataforma norte
até cerca dos 100 m de profundidade, valor a partir do qual predomina a componente biogénica
da areia. De um modo geral, as percentagem de quartzo e de mica decrescem sistematicamente
até cerca dos 100-120 m, aumentando de novo nas proximidades do bordo da plataforma e na
vertente continental superior. Os foraminíferos e a glaucónia apenas se encontram presentes
em quantidades significativas a profundidades superiores a 80-100 m.
A areia dos sedimentos da plataforma sudoeste é dominada pela componente biogénica.
A componente terrígena é constituída quase exclusivamente por quartzo, encontrando-se a mica
restringida à plataforma interna. É neste sector que se verificam as mais elevada percentagens
de glaucónia.
A composição da fracção areia dos sedimentos da plataforma algarvia é
significativamente diferente. A componente terrígena é bastante mais subsidiária do que nos
outros sectores, sendo de realçar as diminutas percentagens de quartzo e a inexistência de mica.
A abundância dos bioclastos de moluscos é máxima neste sector.
A análise compararativa destes diagramas faz ressaltar a importância da litologia do
continente, do abastecimento fluvial, da produtividade biológica e da energia hidrodinâmica,
entre outros aspectos, na composição da fracção arenosa dos sedimentos. Esta análise indica
que, de um modo geral, as componentes terrígena e biogénica são largamente predominantes na
composição da fracção arenosa dos sedimentos, embora a componente autigénica ocorra, por
vezes, em quantidades significativas.
As razões entre os valores percentuais das diferentes componentes da areia conduzem,
frequentemente, a resultados mais significativos que os expressos pelas próprias percentagens.
De facto, a abundância relativa de determinada classe de partículas é fortemente afectada pela
intodução e mistura (diluição) de partículas de outras classes. A determinação de razões entre
os valores percentuais (abundância relativa) dos tipos de partículas que se pretendem investigar
permite obter valores "absolutos", independentes da influência numérica conferida pelas
restantes partículas.
Assim, para melhor averiguar qual a importância e regiões de influência do material
terrígeno e do biogénico, elaboraram-se os mapas da fig. V.17, baseados na relação entre as
frequências de partículas de origem terrígena e as de origem biogénica. Não se entrou em linha
de conta, consequentemente, com a componente autigénica.
São aqui evidentes algumas tendências gerais já detectadas a partir da análise dos
diagramas referentes à distribuição percentual média das classes composicionais da areia. É
aqui bem nítido que a areia exibe características acentuadamente terrígenas na plataforma norte
e entre o canhão de Setúbal e Sines, e biogénicas a sul de Sines. O padrão de distribuição é
grosso modo paralelo à linha de costa, embora tal comportamento nem sempre seja evidente.
A análise do mapa referente à plataforma norte sugere a hipótese da existência de
factores em resultado dos quais se verifica um enriquecimento em materiais terrígenos nas
126
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
1 a 10
< 0,1
> 10
0,1 a 1
Figura V.17 – Distribuição da relação entre as percentagens de partículas terrígenas e biogénicas da areia.
127
zonas onde o bordo da plataforma se apresenta mais abarrancado (como na parte setentrional,
por exemplo), sendo remobilizadas determinadas partículas com origem biogénica, enquanto
partículas terrígenas de volume análogo permaneceriam depositadas devido ao seu maior
diâmetro de sedimentação (Dias, 1987).
Existe um contraste latitudinal na distribuição desta relação na plataforma sudoeste.
Efectivamente, de uma maneira geral, os terrígenos apenas predominam claramente sobre os
biogénicos a norte de Sines. A sul de Sines, esta relação só atinge valores superiores a um na
plataforma interna e em zonas restritas da plataforma média.
A plataforma algarvia é bastante deficitária em terrígenos, em especial no sector
ocidental.
6.2.2. Componente terrígena
A abundância da componente terrígena da areia dos sedimentos decresce, de um modo
geral, desde a zona litoral até à vertente continental superior (fig. V.18).
A areia dos sedimentos da plataforma norte é dominada por esta componente (62% em
média). O mapa de distribuição confirma o bom abastecimento desta plataforma em
materiais terrígenos, fazendo ressaltar a importância da contribuição fluvial actual e,
principalmente, passada, a qual se traduz pela presença de uma grande mancha em que a
percentagem de terrígenos é superior a 75%. A delimitação ocidental da zona em que os
terrígenos representam mais de 90% da totalidade da fracção arenosa sugere claramente, que a
importância dos rios como fornecedores de materiais terrígenos para a plataforma diminui para
norte, devido ao transporte dos produtos arenosos por eles debitados para sul, embora se
verifique, aparentemente, algum aumento dessa contribuição no rio Minho (Magalhães & Dias,
1992).
Nas zonas dos afloramentos rochosos existentes na plataforma externa ocorrem manchas
de areias deficitárias em terrígenos, com percentagens médias inferiores a 25%, o que poderá
estar relacionado com a litologia destas entidades morfostruturais. Junto ao bordo da
plataforma, a abundância em terrígenos volta a aumentar, possivelmente em relação com
características específicas da dinâmica sedimentar desta zona de transição entre a plataforma e
a vertente continental, às quais se faz alusão no capítulo IX..
A areia dos sedimentos da plataforma sudoeste é deficitária na componente terrígena,
sendo a abundância média deste tipo de partículas 36%. A deficiência no abastecimento
sedimentar foi sugerida já há bastante tempo e é certamente responsavel pela dificuldade de
restabelecer os perfis de praia após as tempestades.
Os terrígenos da zona a norte de Sines, que predominam na areia até cerca dos 200 m de
profundidade, encontram-se certamente relacionados com o rio Sado. Visto que o fornecimento
actual de areias terrígenas para esta plataforma é diminuto, elas foram possivelmente debitadas,
pelo menos, em grande parte, em período anterior, provavelmente no decurso do
128
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
50 % a 75 %
< 25 %
75 % a 90 %
25 % a 50 %
> 90 %
Figura V.18 – Distribuição da percentagem da componente terrígena da areia.
129
glaciário e transgressão que se lhe seguiu. É possível que, nessa altura, o Sado desaguasse
no canhão de Setúbal. Esta hipótese permite compreender a existência de areias terrígenas
a sul deste acidente morfológico.
A mancha que se localiza a sul do paralelo de Vila Nova de Milfontes e em que a
percentagem de terrígenos é superior a 25% encontra-se, certamente, relacionada com o rio
Mira.
A plataforma algarvia é deficitária em partículas terrígenas, sendo a abundância média
desta componente 32%. No sector ocidental, as areias com mais de 50% de partículas deste tipo
localizam-se junto à costa, encontrando-se provavelmente relacionadas com o transporte litoral
nas imediações do cabo de S. Vicente, cuja resultante é para sul na costa ocidental e para
oriente na costa sul. O sector oriental desta plataforma é bastante mais rico em terrígenos, que
provêm, pelo menos na sua maior parte, dos produtos debitados pelo Guadiana e outros rios da
zona, da erosão e recuo das arribas pouco consolidadas existentes a oriente dos Olhos de Água,
e da erosão de formas relíquia deixadas por antigos litorais, nomeadamente pelo sistema das
ilhas-barreira, na sua migração através da plataforma continental.
A profundidades superiores a 100 m, detecta-se a existência de uma banda, em que a
percentagem de terrígenos atinge valores mínimos. A interrupção desta banda ao largo da
região das ilhas-barreira encontra-se provavelmente relacionada com fenómenos de menor
"diluição" por outras partículas, com a menor largura da plataforma, com a diferença de
orientação geral relativamente à direcção de propagação da agitação marítima, quer superficial,
quer interna e com uma maior mistura de partículas.
6.2.2.1. Quartzo
O quartzo apresenta comportamento análogo ao da totalidade dos elementos terrígenos
presentes na areia. Assim, a distribuição desta classe composicional (fig. V.19) reflecte, em
larga medida a da componente terrígena da areia.
O mapa de distribuição do quartzo na plataforma norte mostra uma nítida relação com o
fornecimento fluvial. As manchas deficitárias em quartzo, correspondentes a percentagens
inferiores a 25%, na plataforma externa, no bordo da plataforma e na vertente continental estão
certamente relacionadas com o acréscimo da componente bioclástica. A mancha enriquecida
em quartzo, em que este componente apresenta percentagens superiores a 50%, junto ao bordo
setentrional da plataforma encontra-se provavelmente relacionada com especificidades da
dinâmica sedimentar prevalecentes nesta região, como sugere frequentemente Dias (1987),
provavelmente em relação com a zona ligeiramente deprimida entre os Beirais de Viana e de
Caminha.
Neste mapa é evidente a existência dum contraste latitudinal entre os sectores setentrional
e meridional da plataforma externa e vertente. Este contraste encontra-se provavelmente
relacionado com a maior largura e o menor pendor do sector meridional e a diferente orientação
130
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
50 % a 75 %
< 25 %
> 75 %
25 % a 50 %
Figura V.19 – Distribuição da percentagem de quartzo na areia.
131
geral dos dois sectores relativamente à direcção de propagação da agitação marítima, quer
superficial, quer interna.
Os pendores mais acentuados do sector setentrional provocam ainda, segundo Dias (1987),
uma actuação mais eficiente da componente gravítica e das forças tangenciais que se fazem
sentir nas partículas. A dilatância dinâmica dos sedimentos é provavelmente maior neste sector,
o que provoca uma mais fácil remobilização e uma consequente maior mistura de partículas.
As variações na abundância de quartzo na plataforma interna a sul de Espinho encontram-
se possivelmente relacionadas com a desaceleração das correntes longilitorais induzida pela
inflexão da linha de costa nas imediações desta localidade, com o banco externo da laguna de
Aveiro e com a aceleração das referidas correntes nas imediações de Mira.
A plataforma sudoeste é deficitária em partículas de quartzo, cuja abundância média é
33%.
Existe um evidente contraste latitudinal na distribuição desta classe composicional.
Efectivamente, se exceptuarmos a zona litoral, as áreas nas quais esta classe atinge valores
superiores a 50% localizam-se na região a norte de Sines.
O quartzo existente na área setentrional encontra-se certamente relacionado com o rio
Sado, tendo sido possivelmente debitado, pelo menos, em grande parte, no decurso do último
glaciário e da transgressão que se lhe seguiu.
A sul do cabo de Sines, o quartzo encontra-se aparentemente relacionado com o rio Mira, o
qual, no mesmo período, se revestiu certamente de importância bastante superior à actual.
A plataforma algarvia é a região na qual a abundância desta classe composicional é
menor (30% em média). A distribuição de quartzo reflecte o deficiente abastecimento em
particulas deste tipo e a "diluição" por partículas de origem biogénica e autigénica. O sector
ocidental é deficitário em quartzo relativamente ao oriental.
As distribuições percentuais do quartzo nas fracções granulométricas (intervaladas de 1Ø)
da areia encontram-se representadas nas figs. V.20 a V.24. Os padrões de distribuição do
quartzo de dimensão superior a 1 Ø apresentam certas analogias com o do cascalho terrígeno. A
expressão das zonas em que o quartzo é muito abundante (>75%) é progressivamente maior à
medida que a dimensão do quartzo diminui até 2Ø. A distribuição do quartzo fino (2 a 3 Ø)
revela um padrão que se pode considerar de transição entre os referidos e o do quartzo muito
fino (3 a 4 Ø).
Na plataforma norte, as distribuições do quartzo muito grosseiro (-1 a 0 Ø) e grosseiro
(0 a 1 Ø) parecem concordar com o esquema de evolução pós-glaciária proposto por Rodrigues
et al. (1990, 1991). Efectivamente, as zonas de maior abundância do quartzo incluído nestas
fracções granulométricas encontram-se provavelmente relacionadas com os paleo-deltas do
Ave, do Cávado e do Douro no Dryas recente (11 ka a 10 ka B.P.) e com o transporte para sul,
por acção de correntes longilitorais N-S, de materiais provenientes do desmonte de arribas que
então dominariam o litoral.
132
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 30'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
25 % a 50 %
< 10 %
50 % a 75 %
10 % a 25 %
> 75 %
Figura V.20 – Distribuição da percentagem de quartzo na fracção -1 a 0 Ø.
133
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
25 % a 50 %
< 10 %
50 % a 75 %
10 % a 25 %
> 75 %
Figura V.21 – Distribuição da percentagem de quartzo na fracção 0 a 1 Ø.
134
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
25 % a 50 %
< 10 %
50 % a 75 %
10 % a 25 %
> 75 %
Figura V.22 – Distribuição da percentagem de quartzo na fracção 1 a 2 Ø.
135
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
25 % a 50 %
< 10 %
50 % a 75 %
10 % a 25 %
> 75 %
Figura V.23 – Distribuição da percentagem de quartzo na fracção 2 a 3 Ø.
136
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
25 % a 50 %
< 10 %
50 % a 75 %
10 % a 25 %
> 75 %
Figura V.24 – Distribuição da percentagem de quartzo na fracção 3 a 4 Ø.
137
Os valores mais elevados registam-se entre os 40 e os 80 m de profundidade, sendo
possível, muitas vezes, deduzir relações de origem com rios importantes. O sector setentrional
apresenta deficiencia nestes tipos de quartzo, o que se encontra relacionado com a existência de
elevadas percentagens de micas, de agregados, de feldspatos e de minerais pesados. Também a
plataforma externa é deficitária nestes tipos de quartzo quando comparada com a plataforma
média e interna. Estas últimas características são também evidentes nos mapas de distribuição
do quartzo médio (1 a 2 Ø).
Na fracção 3 a 4 Ø, o quartzo raramente atinge percentagens superiores a 75%, o que
aponta para uma menor maturidade das areias desta dimensão. Todavia, revela expressão
significativa praticamente em todo este sector. É de realçar a existência de algumas áreas mais
enriquecidas em quartzo destas dimensões junto do bordo da plataforma e vertente. Tal pode
resultar da actuação dos processos hidrodinâmicos desta zona transicional, bem como do
comportamento diferencial do quartzo e das outras partículas aí presentes perante os níveis
energéticos que sobre elas actuam (Dias, 1987).
A maior parte das considerações expendidas sobre a distribuição de quartzo nas diferentes
fracções da areia dos sedimentos da plataforma norte são aplicáveis aos restantes sectores
estudados. Nestes, contudo, os fenómenos de "diluição" não se devem à presença de outras
partículas terrígenas em quantidades significativas, mas sim à de partículas biogénicas e de
glaucónia.
As distribuições do quartzo muito grosseiro e grosseiro na parte setentrional da
plataforma sudoeste parecem concordar com o esquema de evolução pós-glaciária proposto
por Quevauviller & Moita (1986). Na ausência de estudos detalhados sobre o assunto, é
possível admitir que as zonas de maior abundância destes tipos de quartzo se possam explicar
por mecanismo análogo ao referido para o sector anterior. A sul do paralelo do Mira, a
plataforma sudoeste é claramente deficitária em quartzo destas dimensões, sendo possível que
as áreas enriquecidas nestes materiais se encontrem relacionadas com a acção de correntes
longilitorais divergentes, que transportariam materiais grosseiros para norte e para sul.
Na plataforma algarvia, as partículas de quartzo muito grosseiro e grosseiro são
particularmente frequentes na área adjacente ao sistema de ilhas-barreira da ria Formosa. Nas
imediações do cabo de Sta. Maria, a sua abundância decresce, em possível relação com o
esquema proposto por Pilkey et al. (1989). À semelhança das regiões anteriores, as áreas do
bordo da plataforma nas quais estas partículas são mais abundantes encontra-se possivelmente
relacionadas com correntes longilitorais divergentes que, num período da evolução pós-
glaciária desta plataforma, transportariam material grosseiro para ocidente e para oriente.
6.2.2.2. Micas
As micas (moscovite e biotite) são anormalmente abundantes no sector norte, em especial a
norte do paralelo de Espinho (fig. V.25). A sua percentagem média na fracção arenosa dos
138
sedimentos atinge os 8%, o que corresponde a cerca de 12% da componente terrígena da areia
(12% e 18%, respectivamente, na região setentrional), valor este que, pontualmente, se eleva a
90%. Estes valores são da mesma ordem de grandeza dos observados em plataformas
adjacentes a grandes rios sujeitos a cheias (Pomeranbclum, 1966; Adegoke & Stanley, 1972).
Pelo contrário, a sul do canhão de Setúbal, esta classe composicional encontra-se
praticamente ausente, restringindo-se, geralmente, à zona litoral. A abundância média das
partículas de moscovite e biotite nas plataformas sudoeste e algarvia é inferior a 1%.
Estes minerais são hidraulicamente equivalentes de partículas de dimensões bastante
menores (p. ex: Neihesel, 1965; Doyle et al., 1983; Komar et al. 1984; Burroughs, 1985),
principalmente devido ao hábito em palhetas com que geralmente ocorrem nos sedimentos.
Tal facto tem sido explorado por diversos autores para deduzirem a dinâmica dos sedimentos
finos em várias plataformas (p. ex: Doyle et al., 1968, 1979; Adegoke & Stanley, 1972;
Pomerancblum, 1966; Park & Pilkey, 1981; Dias et al., 1984). Os dados apresentados nestes
trabalhos tendem a confirmar plenamente a utilidade das palhetas de mica da areia na dedução
dos processos de dinâmica sedimentar das partículas de menores dimensões (silte e argila).
Estas partículas podem, como se referiu, constituir indicadores preferenciais dos ambientes
de deposição, tendo diversos autores tentado correlacionar o conteúdo dos sedimentos em
micas e os níveis energéticos que condicionam a formação destes sedimentos (p. ex: Doyle et
al., 1968, 1979; Park & Pilkey, 1981). A ausência de mica em sedimentos recentes indica que
não houve transporte deste mineral para a área de deposição ou que as condições energéticas
provocam a erosão e/ou passagem sem deposição das palhetas de mica. Pelo contrário, a sua
presença indica deposição, não sendo os níveis energéticos suficientemente elevados para
provocar a erosão ou passagem sem deposição destas partículas.
O mapa de distribuição percentual do conteúdo de micas na fracção terrígena da areia na
plataforma norte revela um padrão que não é fundamentalmente diferente do apresentado por
Dias (1987), permitindo constatar a existência de uma ligação directa entre as manchas com
maiores percentagens de micas e as desembocaduras dos rios que, por um lado, drenam regiões
com litologias ricas nestes minerais e, por outro, que têm maiores caudais. Todavia, nem
sempre essa conexão é muito evidente se não se raciocinar em termos de actuação
"concorrencial" entre processos de fornecimento e processos de distribuição.
No sector setentrional, as zonas mais ricas em micas tendem a situar-se a profundidades
superiores a 70 m, o que poderá significar que a magnitude dos processos de distribuição não é
suficiente, a estas profundidades, para remobilizar a maior parte das partículas que aí chegam
provenientes, directa ou indirectamente, dos rios.
A menores profundidades, isto é, mais próximo da costa, verifica-se a existência de áreas
de reduzidas dimensões em que os sedimentos são bastante ricos em micas, que se localizam
em ligação evidente com desembocaduras de rios, as quais alternam com áreas pobres nestes
139
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
5 % a 20 %
< 1 %
20 % a 50 %
1 % a 5 %
> 50 %
Figura V.25 – Distribuição da percentagem de micas na componente terrígena da areia.
140
minerais (apresentando, por vezes, percentagem nula), que se situam entre as fozes dos rios.
Este padrão de distribuição evidencia o intenso fornecimento fluvial destas partículas. Por outro
lado, revela que os processos de distribuição superam, em zonas mais próximas das
desembocaduras dos rios, os de fornecimento, transportando as palhetas destes filossilicatos
para outros locais de deposição, a maiores profundidades. O caso do rio Douro é,
aparentemente, contraditório, pois nas imediações da sua foz as percentagens de micas são, por
via de regra, baixas. Provavelmente, o caudal do rio, conjugado com a actuação da maré e com
a agitação marítima, é suficiente para inibir a deposição significativa destas palhetas.
As elevadas percentagens de micas registadas nos depósitos silto-argiloso situados nas
proximidades do canhão submarino do Porto e frente ao rio Minho (onde estas partículas
correspondem normalmente a mais de 60% das partículas terrígenas da areia, valor que, por
vezes, se eleva a mais de 90%) são, neste contexto, óbvias. Com efeito, estes depósitos são
constituídos por partículas hidraulicamente equivalente às palhetas de mica.
No sector meridional, as micas são muito menos abundantes. Junto à costa, a sua presença
sugere fornecimento por deriva litoral e por transporte advectivo e contribuição de materiais
provenientes do Douro e da erosão de praias e dunas (Abrantes, 1994). Encontra-se ainda, em
parte, possivelmente relacionada com a drenagem de áreas graníticas efectuada pelo rio
Mondego e por parte da sua rede hidrográfica.
O acréscimo percentual de micas na vertente continental superior, à imagem do que se
verifica com a fracção silto-argilosa, traduz os menores níveis energéticos junto ao fundo aí
ocorrentes, os quais propiciam deposição definitiva ou, pelo menos, mais duradoura. De um
modo geral, tal facto revela ainda que a deposição de outras partículas terrígenas da classe
dimensional das areias não é grande, pois que, se tal se verificasse, a percentagem de mica
diminuiria bastante, "diluída" pelas de quartzo e de outros minerais. O comportamento, até
certo ponto, anómalo na região adjacente ao canhão de Aveiro encontra-se possivelmente
relacionado com a interacção da batimetria e dos factores oceanográficos (nomeadamente, a
agitação marítima de longo período e as ondas internas) e com a largura da plataforma.
Na plataforma sudoeste estas palhetas são praticamente inexistentes, à excepção da
plataforma interna adjacente a Sines, em relação com as litologias que constituem o maciço
eruptivo (Cascalho et al., 1994).
6.2.2.3. Grãos poliminerálicos
Esta classe inclui os grãos poliminerálicos identificados aquando das contagens, integrando
fragmentos líticos, agregados silto-argilosos e fragmentos do que aparenta ser "beach-rock".
Os fragmentos líticos derivam da erosão de rochas bem consolidadas. Os mais frequentes
nas amostras são os de granito, os de gneisse, os de xisto, os de arenito e os de calcário. A este
respeito, é relevante referir a possibilidade de alguns grãos incluídos na classe "não
141
identificados" serem efectivamente fragmentos de calcário. De facto, nem sempre é fácil
distinguir, à lupa binocular, os grãos provenientes das rochas calcárias, das partículas roladas
provenientes de conchas fragmentadas. Ocorrem ainda, embora com menor frequência,
fragmentos de outros tipos litológicos, como por exemplo dolomitos.
Os agregados silto-argilosos, que por vezes incluem fragmentos biogénicos, fazem
efervescência com o HCl, perante o qual se desagregam. Estas partículas podem, segundo
Friedman & Sanders (1978), ter origem fecal ou resultar da desidratação devido à exposição
sub-aérea de lodos carbonatados.
O aspecto geral de outra importante sub-classe de grãos poliminerálicos detectados nas
amostras faz lembrar o de algumas "rochas de praia" (beach-rocks) descritas na bibliografia.
Segundo Komar (1976), as "rochas de praia" são constituídas por areias de praia cimentadas
por calcário, formando rochas cujo estado de consolidação varia entre o friável e o bem
consolidado. De acordo com este autor, as "rochas de praia" constituem-se geralmente em
praias de areias carbonatadas, embora se possam também desenvolver em praias com areias
quártzicas e com outras composições.
Os fragmentos de "beach-rock" encontrados nas amostras analisadas são maioritariamente
constituídos por quartzo aglutinado por cimento carbonatado, exibindo em geral bom estado de
consolidação. Verifica-se tendência para enriquecimento progressivo das areias em partículas
deste tipo à medida que se caminha para sul, com incidência máxima na plataforma algarvia.
O tipo de partículas detríticas presentes e o estado de cimentação são compatíveis com
formação a partir de areias de praia, embora não seja de excluir a hipótese de terem
proveniência em dunas consolidadas.
Nas plataformas norte e sudoeste, o padrão de ocorrência das partículas de "beach-rock" é,
aparentemente, aleatório, embora se verifique alguma tendência para aparecerem
preferencialmente em amostras colhidas entre os 40 m-60 m de profundidade e na plataforma
externa, o que, aparentemente, se encontra relacionado com paleolitorais detectados a estas
profundidades.
Na plataforma algarvia, as partículas de "beach-rock" distribuem-se segundo um padrão
substancialmente diferente. Embora a sua frequência seja sempre reduzida, distribuem-se desde
a zona litoral até profundidades da ordem dos 70 m. A maiores profundidades, são muito
menos frequentes.
6.2.2.4. Outros terrígenos
Esta classe composicional inclui os feldspatos e os minerais pesados presentes na fracção
arenosa dos sedimentos.
A plataforma norte é a mais rica nestas partículas. Apesar de não se ter procedido à sua
identificação e contagem sistemática, pode referir-se que os feldspatos ocorrem em maior
número e em grãos de maiores dimensões na parte NE deste sector e que os minerais pesados
142
apresentam tendência para se concentrar, embora a sua percentagem seja sempre escassa, nas
fracções 2 a 3 Ø e 3 a 4 Ø.
Segundo Cascalho & Galopim de Carvalho (1993), a maior frequência de minerais pesados
encontra-se principalmente relacionada com os afloramentos cretácicos de fácies detrítica da
plataforma externa, onde o cortejo mineralógico é dominado por ilmenite, por zircão e por
granadas, e com o soco hercínico polimetamórfico da plataforma interna, onde predominam
zircão, granadas, turmalina e andaluzite.
A ocorrência de ortopiroxena, de clinopiroxena, de horneblenda castanha e de olivina a sul
do canhão submarino do Porto, a profundidades superiores a 100 m (Rodrigues et al., 1995a)
faz supor a existência, nesta região, de um corpo vulcânico máfico.
Segundo Cascalho et al. (1994), os minerais pesados existentes na fracção arenosa dos
sedimentos da plataforma sudoeste correspondem, geralmente a menos de 4% da totalidade
das partículas presentes nesta fracção, sendo o cortejo mineralógico dominado por estaurolite,
por granadas, por horneblenda, por turmalina e por clinopiroxenas. Ainda de acordo com os
citados autores, a distribuição das clinopiroxenas e da horneblenda castanha sugere a existência
de uma célula de circulação na plataforma interna, nas proximidades do cabo de Sines, o que
tinha já sido sugerido por Moita (1971)
Na plataforma algarvia, os minerais pesados são pouco abundantes, encontrando-se
presentes, segundo Moita (1986) em percentagens quase sempre inferiores a 1%. Cascalho &
Galopim de Carvalho (1991) detectaram a presença de turmalina, de andaluzite, de estaurolite,
de ilmenite, de magnetite, de zircão, de augite e de horneblenda castanha, tendo relacionado o
grau de maturidade dos cortejos mineralógicos encontrados com as caractrísticas dos depósitos
sedimentares identificados por Moita (1986).
6.2.3. Componente biogénica
A componente biogénica integra-se na associação "foramol", definida por Lees & Buller
(1972), na qual a ocorrência de foraminíferos e de molusos é ubíqua, a de briozoários e de
equinodermes é importante e a de outros organismos é esporádica.
A distribuição da componente biogénica é praticamente complementar em relação à da
componente terrígena, sendo os desvios devidos à presença de glaucónia.
Esta componente é dominada por moluscos na plataforma interna e na plataforma média,
enquanto que no bordo da plataforma e na vertente continental superior é essencialmente
formada por foraminíferos. Na plataforma externa predominam os clastos de moluscos, umas
vezes, e as carapaças de foraminíferos, outras vezes. No conjunto, estas duas classes
composicionais representam cerca de 90% da componente biogénica.
143
6.2.3.1. Moluscos
O padrão de distribuição dos clastos de moluscos na plataforma continental portuguesa
parece ser, até certo ponto, anómalo. Com efeito, em muitas plataformas, os clastos de
moluscos são mais abundantes na plataforma interna que na externa, o que está de acordo com
a maior parte destes organismos viverem na zona eufótica (Siesser, 1972). Todavia, noutras
plataforma, verifica-se comportamento inverso, o que tem sido interpretado como resultado da
variabilidade natural da existência de moluscos em função dos diferentes ambientes e da
"diluição" dos clastos destes organismos por outras partículas (Muller & Milliman, 1973).
Verifica-se tendência para as áreas enriquecidas nestes clastos se localizarem, de modo
geral, nas imediações de afloramentos rochosos (fig. V.26). Este facto deriva provavelmente de
circunstancialismos de ordem ambiental.
Na plataforma norte, a percentagem média dos clastos de moluscos representa cerca de
35% da componente biogénica.
O padrão de distribuição regional dos clastos de moluscos revela que as áreas de maior
abundância desta classe composicional se situam na plataforma externa e no bordo da
plataforma. O decréscimo relativo desta classe junto do bordo da plataforma e na vertente pode
ser explicado por "diluição" pela componente terrígena, por outros bioclastos e por glaucónia.
Na plataforma sudoeste, esta classe composicional corresponde a 42% da totalidade das
partículas de origem biogénica.
O bordo da plataforma e a vertente continental superior, exceptuando a sua parte
meridional, constituem áreas deficitárias nestas partículas, o que, à semelhança do sector
anterior, pode ser devido a fenómenos de "diluição" por outras partículas, em especial
carapaças de foraminíferos e glaucónia.
Na plataforma algarvia, este clastos constituem, em média, a classe mais abundante da
componente biogénica. A percentagem média desta classe constitui cerca de 59% da referida
componente.
As amostras em que esta classe revela as maiores percentagens localizam-se na zona
ocidental da plataforma, o que parece relacionar-se com o tipo de sedimentos aí ocorrentes.
6.2.3.2. Foraminíferos
O aspecto dos mapas de distribuição das carapaças de foraminíferos é condicionado, entre
outros factores, pelas características hidráulicas destes restos orgânicos que funcionam como
partículas, pelas características físico-químicas das águas, pela existência de "diluição" por
outras partículas e pela ocorrência de fenómenos de "upwelling".
De um modo geral, a abundância relativa das carapaças de foraminíferos aumenta com a
profundidade até à vertente continental (fig. V.27). A maior abundância destes clastos verifica-
se, em geral, abaixo dos 100 m de profundidade. Estas variações devem-se, provavelmente, a
fenómenos de "diluição" e a modificações de produtividade.
144
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
2
4
6
8
1
1
1
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
25 % a 50 %
< 10 %
> 50 %
10 % a 25 %
Figura V.26 – Distribuição da percentagem de clastos de moluscos na areia.
145
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
2
4
6
8
1
1
1
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
30 % a 50 %
< 10 %
> 50 %
10 % a 30 %
Figura V.27 – Distribuição da percentagem de carapaças de foraminíferos na areia.
146
Junto ao bordo da plataforma e na vertente continental superior a percentagem de
foraminíferos aumenta, o que talvez se possa explicar por ressuspensão seguida de deposição
nestas zonas. As maiores percentagens de foraminíferos bentónicos na plataforma externa,
bordo da plataforma e vertente continental superior são ainda certamente devidas a fenómenos
de "upwelling" (Mathieu, 1986), responsáveis pelo transporte a partir de zonas mais profundas
de águas mais frias, ricas em nutrientes e onde prospera o fitoplancton, principal alimento dos
foraminíferos.
A percentagem média de carapaças de foraminíferos na plataforma norte é de 20%. Esta
classe composicional encontra-se praticamente ausente da plataforma interna e média,
certamente devido ao bom abastecimento destas em materiais terrígenos e à energia da agitação
marítima que as atinge e, principalmente, devido ao tipo de sedimentos que aí ocorrem.
Em virtude de a plataforma externa constituir ambiente energeticamente mais calmo que os
anteriores, a que se junta a diminuição do acarreio de terrígenos, esta zona é relativamente rica
em foraminíferos.
Verifica-se a existência de desigual distribuição latitudinal da abundância destes clastos.
Na faixa de maior abundância destas partículas na plataforma externa, as percentagens
observadas são, em geral, bastante menores na zona localizada a norte do canhão do Porto que
na zona situada a sul deste canhão submarino. As amostras em que esta classe composicional
apresenta as maiores percentagens situam-se também na zona meridional, o que pode advir de
circunstancialismos ambientais e/ou de fenómenos de menor "diluição" por outras partículas. É
provável que, neste caso, a relação entre a disposição geral da batimetria e a direcção da
agitação marítima dominante seja factor determinante. A energia disponível para ressuspensão
de partículas finas e muito finas será maior na parte setentrional que na meridional, verificando-
se, segundo Dias (1987), "lavagem" dos sedimentos a norte. A velocidade de sedimentação das
carapaças de foraminíferos (porosas e ocas) confere-lhes comportamento
hidráulico análogo ao das partículas de quartzo de dimensões volumetricamente muito
menores. Serão, consequentemente, ressuspensas e exportadas para fora desta zona,
conjuntamente com outras partículas granulometricamente finas. Este contraste parece também
existir a norte e a sul do canhão de Aveiro
Dos sectores estudados, a plataforma sudoeste é a mais rica em carapaças de
foraminíferos, em relação com a intensidade do "upwelling" que, segundo Fiúza (1983), é
máxima ao largo de Sines, e a diminuta "diluição" por terrígenos. A abundância média de
carapaças de foraminíferos é cerca de 27%.
O padrão genérico de distribuição desta classe composicional não é substancialmente
diferente do detectado no sector norte, embora seja bastante mais regular. A regularidade na
referida distribuição encontra-se possivelmente relacionada com uma menor "diluição" por
outras partículas, nomeadamente de origem terrígena.
147
A percentagem média de carapaças de foraminíferos na plataforma agarvia é de 21%. À
semelhança do comportamento detectado nas restantes regiões da plataforma continental
portuguesa, a plataforma externa, o bordo da plataforma e a vertente continental superior
constituem, geralmente, áreas enriquecidas nestas parículas. Contudo, a área adjacente ao
sistema ao sistema de ilhas-barreira constitui uma excepcão em relação a este padrão genérico.
O relativo empobrecimento nesta classe composicional poderá encontrar-se relacionado com o
efeito combinado da presença do cabo de Sta. Maria e da diminuição da largura da plataforma.
6.2.3.3. Equinodermes
A percentagem média das partículas que foram atribuídas a equinodermes encontra-se
compreendida entre 1% (plataforma norte) e 2% (plataforma algarvia). Estas partículas ocorrem
predominantemente na plataforma externa.
Os equinodermes tendem, no geral, a ser gregários, ocorrendo em grande número em áreas
localizadas, onde as condições lhes são favoráveis. As características da distribuição espacial
das partículas incluídas nesta classe composicional reflectem, provavelmente, este facto, a que
se adicionam fenómenos de "diluição" por outros tipos de partículas. A maior incidência na
plataforma externa pode ainda ser explicada pelo pequeno diâmetro de sedimentação que estas
partículas normalmente possuem, tendendo consequentemente, quando isoladas do organismo,
a serem removidas de zonas com dinâmica mais activa para zonas mais calmas.
6.2.3.4. Outros biogénicos
Na classe composicional “outros biogénicos” foram incluídas as partículas de organismos
não contemplados nas classes anteriormente referidas. Entre o material mais frequente foram
identificados ostracodos, briozoários, espongiários e coraliários.
A abundância média desta classe varia entre 2,7% (plataforma norte) e 4,6% (plataforma
sudoeste). A ocorrência preferencial na plataforma externa encontra-se possivelmente
relacionada com diversos factores, de entre os quais se destacam: as características do substrato
aí existente; a menor "diluição" provocada por outras partículas; factores relacionados com o
comportamento hidráulico destas partículas (muitas vezes ocas e porosas, e com formas muito
afastadas da esférica), que favorece a sua remoção para ambientes com dinâmica mais calma; e,
possivelmente, o aumento de produtividade biológica induzida por fenómenos de “upwelling”.
Alguns dos organismos integrados nesta classe composicional podem eventualmente
fornecer indicações relevantes sobre a dinâmica sedimentar. É o caso dos ostracodos e dos
briozoários.
Por via de regra, os ostracodos são praticamente inexistentes na imediata vizinhança dos
afloramentos rochosos, em possível relação com uma dinâmica mais intensa (eventualmente
turbilhonar), e mais abundantes nas áreas onde os referidos afloramentos podem conferir uma
148
certa protecção a estes organismos relativamente à agitação marítima prevalecente. Este
comportamento tinha sido já detectado na plataforma continental minhota (Silva, 1988).
As maiores frequências de briozoários foram detectadas a profundidades superiores a 100
m, sendo estas partículas praticamente inexistentes junto ao bordo da plataforma. As
observações de Stach (1936), Lagaaij & Gauthier (1965) e Siesser (1972) sobre a relação
existente entre a abundância de partículas provenientes de briozoários e o afluxo de material
sedimentar permitem pressupor a existência de taxas de acumulação baixas na plataforma
externa e ligeiramente mais elevadas no bordo da plataforma.
6.2.4. Glaucónia
A glaucónia ocorre de forma significativa na areia abaixo dos 100 m de profundidadade
(fig. V.28), como já tinha sido detectado por outros autores que estudaram a plataforma
portuguesa (p. ex.: Moita, 1971; Monteiro & Moita, 1971; Dias & Nittrouer, 1984; Dias, 1987;
Magalhães & Dias, 1992; Abrantes et al., 1994). Ocorre sobretudo nas fracções mais finas da
areia, se bem que a sua presença tenha sido ocasionalmente detectada em todas as fracções
granulométricas, como é o caso de amostras provenientes da vertente continental superior. As
fracções com maior percentagem de glaucónia são as de 1 a 2 Ø e de 2 a 3 Ø, à semelhança do
que tem sido observado noutras plataformas (p. ex: Williams et al., 1954; Mero, 1965; McRae,
1972; Lirong et al., 1980). No entanto, as percentagens máximas foram dectadas na fracção 0 a
1 Ø.
Foram observados todos os tipos morfológicos descritos por Triplehorn (1966), sendo mais
frequentes os moldes internos de foraminíferos e os grãos ovalóides e lobados, variando a cor
de verde claro a negro. Embora se verfiquem excepções, na generalidade dos moldes de
foraminíferos a cor da glaucónia é verde azeitona, verde claro e por vezes acastanhada,
enquanto que nos grãos ovalóides e lobados a cor é mais escura, facto já anteriormente
observado (p. ex: Dias et al., 1980/81).
Os mecanismos que conduzem à formação dos grãos de glaucónia não são ainda
completamente conhecidos, existindo diversos modelos para a génese destes grãos (McRae,
1972; Odin & Matter, 1981; Chamley, 1989; Weaver, 1989). No entanto, as interpretações mais
recentes convergem para a teoria da precipitação – dissolução – recristalização proposta por
Odin & Matter (1981). De acordo com estes autores, o processo de glauconitização de um
substrato granular (constituído normalmente por carapaças de foraminíferos, peletos fecais,
bioclastos calcários e siliciosos, e litoclastos) é bastante complexo e pressupõe a existência de
diversas condições favoráveis – taxas de sedimentação baixas, microambiente semi-confinado
com pH levemente alcalino, existência de material orgânico em quantidade suficiente para
garantir condições redutoras e concentração elevada nos componentes químicos pertinentes. A
descrição detalhada dos estádios deste processo encontra-se em Freitas et al. (1993) e Freitas
(1995).
149
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
10 % a 20 %
< 5 %
20 % a 40 %
5 % a 10 %
> 40 %
Figura V.28 – Distribuição da percentagem de glaucónia na areia.
150
A glaucónia da plataforma continental deve, na sua maioria, ser considerada autigénica,
visto se terem observado todos os estádios de transição entre carapaças de foraminíferos com
glauconitização incipiente até moldes internos perfeitos. A plataforma externa, o bordo da
plataforma e a vertente continental superior são locais propícios à formação de glaucónia,
possivelmente em relação com alta produtividade (devida, nomeadamente, à ocorrência de
fenómenos de ”upwelling”) responsável pela existência de grande número de carapaças
de foraminíferos, os quais constituem micro-ambientes geradores da condições propícias à
transformação mineralógica que culmina na glauconite (McRae, 1972). A taxa de acumulação
nas áreas em que a glaucónia se encontra presente em quantidades significativas é
provavelmente pequena ou negativa.
Nalguns locais da plataforma encontram-se grãos esferoidais e ovalados, possivelmente
correspondentes a desgaste de moldes de foraminíferos. Neste caso, a glaucónia pode ser
considerada alogénica, sendo proveniente de locais de glauconitização anterior. Estariam neste
caso em associação com meios agitados (Wermund, 1964), o que acontece, possivelmente, no
bordo da plataforma e na vertente continental superior.
A glaucónia aparece, por vezes, noutros suportes bioclásticos além das carapaças de
foraminíferos, como por exemplo fragmentos perfurados e corroídos de conchas de moluscos.
A tonalidade verde escura correspondente a esta ocorrência é diferente da que se encontra
geralmente na glaucónia que se formou nas carapaças de foraminíferos. Esta diferença parece
estar de acordo com as hipóteses de Ehlman et al. (1963) e Odin & Létolle (1978). Com efeito,
as perfurações das conchas de moluscos constituiriam micro-ambientes menos confinados que
os das carapaças de foraminíferos, estando, portanto, mais sujeitas à actuação da água do mar e
consequente oxidação do ião ferroso.
O conteúdo médio de glaucónia na fracção areia dos sedimentos da plataforma norte é de
2%. Esta região é, assim, deficitária nesta classe composicional em relação às restantes. As
partículas de glaucónia são mais abundantes na plataforma externa, onde chegam pontualmente
a constituir cerca de 80% da fracção da areia.
A plataforma sudoeste apresenta os mais elevados conteúdos médios e máximos em
glaucónia. Esta classe composicional é praticamente inexistente na zona meridional deste
sector. Pelo contrário, a plataforma externa, o bordo da plataforma e a vertente continental
superior são áreas enriquecidas nestas partículas, as quais chegam a representar 90% do total
dos constituintes da fracção da areia.
Segundo Monteiro et al. (1983), o modelo de distibuição da glaucónia nos sedimentos
reflecte o modelo de "upweling" costeiro definido por Fiúza et al. (1982) e Fiúza (1983). Neste
contexto, e atendendo também à "diluição" entre as diversas classes composicionais, não é de
estranhar que a glaucónia seja especialmente abundante na plataforma sudoeste.
A distribuição da glaucónia na plataforma algarvia revela um padrão menos homogéneo
que os anteriores. Embora as maiores percentagens se encontrem abaixo dos 100 m de
151
profundidade, esta classe composicional encontra-se paticamente ausente de grande parte da
plataforma externa, bordo da plataforma e vertente continental superior. A abundância média
destas partículas é cerca de 3%, chegando a representar 67% da fracção 0 a 1 Ø.
6.2.5. Outras partículas
É de assinalar a ocorrência, de certo modo frequente, de carvão e de escória. Parte destes
fragmentos tem proveniência, certamente, na zona emersa, nomeadamente em fogos florestais.
Outra parte, porém, encontra-se geralmente relacionada com a navegação a vapor, tendo
origem, nomeadamente, na limpeza das caldeiras dos navios. Embora geralmente assumam
carácter vestigial, é grande o número de amostras em que estes fragmentos foram detectados.
Na plataforma norte tendem a ocorrer próximo da costa a norte de 41º N, em relação com
os rios que aí desaguam, e na plataforma externa e bordo da plataforma em frente à Figueira da
Foz.
Na plataforma sudoeste foram detectados preferencialmente na plataforma interna e
média frente a Sines, e a profundidades superiores a 150 m.
Na plataforma algarvia estes fragmentos tendem a encontrar-se a profundidades
superiores a 100 m.
7. Características dos sedimentos e processos associados
Os diagramas circulares das figs. V.29 e V.30 permitem contrastar rapidamente as
características texturais e composicionais dos sedimentos superficiais dos sectores estudados e
resumir parte das considerações anteriormente explanadas.
A análise destes diagramas indica que as coberturas sedimentares são predominantemente
arenosas. O cascalho é mais abundante na plataforma interna e a expressão da fracção silto-
argilosa é maior na sub-unidade de profundidade superior a 80m, onde os níveis energéticos
são menores.
Em média, os sedimentos são mais detríticos que bioclásticos, o que revela a forte
influência que a parte emersa exerce na plataforma continental adjacente. A componente
biogénica da areia (constituída por glaucónia) encontra-se geralmente presente em quantidades
pouco significativas.
A abundância de cascalho terrígeno e a reduzida percentagem de finos nos sedimentos da
plataforma norte confirma o bom abastecimento em materiais grosseiros provenientes do
continente e os elevados níveis energéticos existentes neste sector. Este é o sector no qual se
verifica a maior abundância de quartzo, em especial na plataforma interna, e de micas, em
relação com o fornecimento de partículas pelos rios que drenam regiões graníticas. O conteúdo
em biogénicos é diminuto, em especial na plataforma interna, devido a " diluição" pelas
partículas terrígenas.
152
TOTALIDADE PLATAFORMA PLATAFORMADA PLATAFORMA <80 m >80 m
NORTE
SUDOESTE
SUL
Cascalho terrígeno Cascalho biogénico Areia terrígena
Areia biogénica Silte Argila
Figura V.29 – Diagramas representativos da textura das “amostras médias” dos sectores estudados.
A cobertura sedimentar da plataforma sudoeste é fundamentalmente arenosa, em relação
com a remobilização dos finos pela agitação marítima, principalmente na plataforma interna. A
areia é dominada por partículas de origem biogénica, devido ao reduzido fornecimento de
origem fluvial e às litologias drenadas. Na plataforma externa deste sector verificam-se as
maiores percentagens de glaucónia na areia, em relação aparente com diminutas taxas de
acumulação (inferidas da reduzida percentagem de finos aí existentes) e com a abundância de
biogénicos (em especial carapaças de foraminíferos).
153
TOTALIDADE PLATAFORMA PLATAFORMADA PLATAFORMA <80 m >80 m
NORTE
SUDOESTE
SUL
Quartzo Agregados Outros terrígenos
Micas Moluscos Foraminíferos
Outros biogénicos Glaucónia Não identificados
Figura V.30 – Diagramas representativos da composição da fracção areia das “amostras médias” dos sectores estudados.
7. Súmula
1. A comparação das características médias da cobertura sedimentar dos sectores da
plataforma analisados indica que os sedimentos que parecem apresentar maiores diferenças são
os das plataformas norte e algarvia.
154
2. O contraste entre as características da cobertura sedimentar devem-se, entre outros
factores, a diferenças no abastecimento fluvial e no clima de agitação marítima.
3. A aplcação de uma técnica de partição da amostragem em grupos de amostras afins
onduziu ao estabelecimento de 8 grupos com características distintas, cuja distribuição espacial
sugere controlo batimétrico.
4. O teor em glaucónia dos sedimentos dos grupos 1, 2 e 3 permite pressupôr taxas de
acumulação pequenas ou mesmo negativas e que a maioria destes sedimentos são do tipo
relíquia; todavia, a glaucónia pode encontrar-se em acumulação actual, sendo proveniente de
outros depósitos.
Na plataforma norte, os sedimentos do grupo 5 encontram-se provavelmente relacionados
com a descarga dos rios que afluem a esta região. Na plataforma algarvia, estes sedimentos
poderão encontrar-se relacionados com: exportação de materiais pelo Guadiana e rios
localizados mais a oriente; ressuspensão e transporte devido a fenómenos de "upwelling";
erosão de arribas mal consolidadas com elevados conteúdos silto-argilosos; remobilização de
siltes e argilas depositados no último período glaciário; importação de materiais lodosos da
margem oeste.
Os grupos 6, 7 e 8 denunciam importante abastecimento em partículas terrígenas. O teor
em cascalho dos sedimentos do grupo 8 aponta, provavelmente, para uma origem relíquia dos
sedimentos incluídos neste grupo e para elevados níveis energéticos existentes aquando da
deposição dos mesmos.
5. Os sedimentos da cobertura não consolidada são geralmente grosseiros, o que indicia a
presença de elevados níveis energéticos junto ao fundo. O tipo textural mais abundante é a
areia. Todavia, encontram-se representadas todas as restantes classes consideradas no diagrama
classificativo de Shepard (à excepção das classes argila e argila arenosa).
6. À semelhança do que sucede geralmente a nível mundial, a plataforma externa é mais
lodosa, mais bioclástica e menos cascalhenta que a interna.
7. A distribuição do cascalho parece relcionar-se com as paleo-desembocaduras dos rios
mais importantes, com os respectivos deltas de vazante e com paleolitorais. Verifica-se
tendência geral para esta fracção ocorrer em duas faixas grosseiramente paralelas à costa, as
quais são, por vezes, bastante mal definidas.
8. De uma forma geral, os padrões de distribuição do cascalho terrígeno e das fracções
mais grosseiras de quartzo parecem concordar com os esquemas de evolução pós-glaciária que
têm sido propostos.
9. As distribuições da fracção silto-argilosa, dos parâmetros granulométricos, e de algumas
classes composicionais da areia parecem relacionar-se com as características dos materiais
actualmente fornecidos pelos rios e/ou pelas arribas.
155
10. A componente terrígena da areia é dominada por quartzo, enquanto que a componente
carbonatada se integra na associação "foramol" e a componente autigénica é constituída por
glaucónia.
11. A plataforma norte apresenta sedimentos fortemente cascalhentos em que a
componente terrígena apresenta valores significativamente elevados, o que está de acordo com
o bom abastecimento de materiais provenientes do continente que para aí foram e são drenados
pelos numerosos rios que afluem a esta região. O cascalho ocorre principalmente na plataforma
média, em ligação aparente com as paleo-desembocaduras do Ave, do Douro e, em menor
extensão, do Cávado, e na plataforma externa, na qual é menos terrígeno e menos grosseiro, em
ligação aparente com os afloramentos rochosos aí existentes. Junto das cabeceiras do canhão
submarino do Porto é detectável a ocorrência de um depósito silto-argiloso de grande
importância, pelo menos ao nível regional.
A distribuição de alguns parâmetros sedimentológicos sugere importação de materiais da
região localizada imediatamente a norte. O desenvolvimento de trabalhos conjuntos com
investigadores que estudem a plataforma galega permitirá o estudo global da plataforma
galaico-minhota, podendo clarificar vários dos problemas relacionados com a proveniência dos
materiais sedimentares.
Existe, nalguns dos mapas analisados, acentuado contraste entre a plataforma externa
localizada a norte e a sul do canhão submarino do Porto. A hipótese de diferenças de níveis
energéticos actuantes junto ao fundo e resultantes da interação dos factores oceanográficos com
a batimetria permite justificar tal facto.
Constata-se ainda a existência de contraste latitudinal evidente, cujo ponto de inflexão se
situa à latitude aproximada de 41ºN. Tal facto encontra-se possivelmente relacionado com
diversos factores frequentemente inter-dependentes, como sejam: tipo de desembocadura dos
rios principais; orientação geral da costa, da batimetria e do bordo da plataforma; ondulação
dominante; intensidade da deriva litoral; presença de afloramentos de rochas consolidadas; e
estado de abarrancamento do bordo da plataforma.
No que se refere à areia, esta região apresenta características de sedimentação
predominantemente terrígena até cerca dos 100 m de profundidade, bem como no bordo da
plataforma. Abaixo desta profundidade predomina, em geral, a componente biogénica, a qual é
dominada por clastos de moluscos e carapaças de foraminíferos.
12. A plataforma sudoeste é dominada pela classe textural areia. A escassa diversidade
textural destes sedimentos encontra-se provavelmente relacionada com a inexistência actual de
rios importantes e com a regularidade de pendor e exposição à ondulação da plataforma.
O padrão de distribuição dos sedimentos é significativamente diferente a norte e a sul de
Sines. O facto de o bordo da plataforma apenas ser evidente na região setentrional permite
explicar esta diferença de comportamento. A inexistência de bordo nítido a sul de Sines
contribui possivelmente para uma maior mistura de partículas.
156
A Veia de Água Mediterrânea e as correntes eventualmente associadas ao canhão de S.
Vicente parecem desempenhar papel significativo na distribuição de alguns parâmetros
sedimentológicos.
A areia é dominada pela componente biogénica. É neste sector que ocorrem as mais
elevadas percentagens de glaucónia.
13. A plataforma algarvia é a que apresenta maior diversidade de classes texturais, sendo o
cascalho e a areia predominantemente bioclásticos. Apresenta contraste marcado com as
regiões viradas a oeste. Os conteúdos em materiais silto-argilosos são geralmente elevados.
Estas características apontam para níveis energéticos substancialmente inferiores aos das outras
regiões, e para forte deficiência, principalmente no sector ocidental, no abastecimento de
elementos terrígenos das fracções areia e cascalho.
A fracção areia é dominada pela componente biogénica. É nesta região que os fragmentos
de "beach-rock" são mais abundantes.
Existe contraste longitudinal na distribuição de alguns parâmetros sedimentológicos. Tal
facto encontra-se possivelmente relacionado com diversos factores, de entre os quais se podem
citar: presença de sistema de ilhas-barreira; diferenças de níveis energéticos actuantes junto ao
fundo; orientação geral da costa, da batimetria e do bordo da plataforma; ondulação dominante;
intensidade da deriva litoral; estado de abarrancamento do bordo da plataforma.
157
VI. TIPOS DE PARTÍCULAS SEDIMENTARES
1. Introdução
Nos finais do século passado, Sorby (1880 in Dias, 1987) reconhecia já a importância da
distinção entre partículas sedimentares e depósito sedimentar. O trabalho então desenvolvido,
realizado numa altura em que a sedimentologia se encontrava na infância e era praticamente
nulo o conhecimento das plataformas continentais, teve, porém, poucos continuadores.
As partículas constituintes de um depósito sedimentar podem ter, fundamentalmente, quatro
origens (Emery, 1952): detrítica, residual, biogénica e autigénica. No entanto, estas
classificações são de difícil aplicação devido às histórias complexas e aos diversos ciclos de
deposição a que as partículas sedimentares são sujeitas (Emery, 1968). Aliás, já Pettijohn
(1957) reconhecia a necessidade de distinção entre materiais do primeiro ciclo e
"multicíclicos". Os critérios identificativos de multiciclicidade variam, entre outros factores,
com a mineralogia e a origem das partículas, com a sua história sedimentar e com as
características físicas e químicas dos ambientes envolvidos.
As partículas individuais de quartzo, de bioclastos de moluscos, de carapaças de
foraminíferos e de glaucónia revelam diversos graus de maturidade sedimentar. À semelhança
de anteriores autores (p.ex.: Dias et al., 1980/81; Dias, 1983/85, 1987; Magalhães et al., 1989,
1993; Magalhães, 1993), tentaremos identificar partículas «modernas» (pertencentes à classe
designada por "M", as quais não revelam indícios de ter sido submetidas a mais de um ciclo
sedimentar) e partículas «relíquia» (pertencentes à classe "R", apresentando indícios de ter sido
submetidas a mais de um ciclo sedimentar). A tipologia das partículas sedimentares de cada
classe composicional é, no essencial, a considerada em Dias (1987), Magalhães (1993) e
Abrantes (1994).
No depositário analisado encontram-se, fundamentalmente, três tipos de partículas,
independentemente da sua composição: 1) partículas detríticas (sendo a palavra "detrito" aqui
empregue na verdadeira acepção do termo) em equilíbrio com o ambiente hidrodinâmico em
que se encontram; 2) partículas detríticas que não se encontram em equilíbrio com o meio,
podendo ser consideradas partículas residuais; e 3) partículas não detríticas, tais como exo- ou
endosqueletos de organismos vivos e partículas autigénicas em formação e crescimento.
As partículas residuais tendem a ser sobrepostas por outras partículas ou a entrar em
equilíbrio com o ambiente hidrodinâmico. As partículas não detríticas do tipo 3), as quais se
incluem, obviamente na classe "M" de partículas, acabam, após um período mais ou menos
longo, por passar para o domínio das partículas detríticas. Os sedimentos analisados podem,
assim, ser considerados essencialmente conjuntos de partículas detríticas, acabando as
partículas incluídas no depositário por se comportar como detritos.
158
2. Grãos de quartzo
2.1. Observações à lupa binocular
A observação à lupa binocular permitiu agrupar estes grãos nos seguintes tipos principais:
1. grãos de superfícies geralmente bastante límpidas e brilhantes, geralmente angulosos a
sub-angulosos;
2. grãos com aspecto "sujo" e cor alaranjada a avermelhada, de superfícies não brilhantes
geralmente rolados e sub-rolados;
3. grãos com aspecto semelhante aos anteriores, mas de cor esverdeada;
4. grãos avermelhados, por vezes brilhantes, geralmente sub-rolados a sub-angulosos;
5. grãos com superfícies baças, geralmente esbranquiçadas e aspecto rolado.
Os tipos 1 e 2 são claramente dominantes, sendo os outros acessórios ou mesmo vestigiais.
Os grãos do tipo 1 exibem forma irregular, frequentemente com contornos pontiagudos,
embora muitas vezes possam ser considerados sub-rolados. Os grãos sub-rolados apresentam,
frequentemente, arestas e vértices que exibem angulosidade e sub-angulosidade. Tal facto é,
provavelmente, consequência de fracturação mais ou menos recente. Estes grãos não exibem,
geralmente, pátinas. Observam-se, por vezes, vestígios de picotados pouco intenso ou outros
tipos de cicatrizes.
Este tipo de grãos ocorre em todas as fracções granulométricas observadas, embora seja
especialmente abundante nas fracções mais finas (>2 Ø). A sua maior frequência verifica-se na
plataforma interna, em certas zonas do bordo da plataforma e da plataforma externa, e na
vertente continental, em especial nas áreas nas quais foram identificados depósitos areno-
lodosos, areno-siltosos e lodosos. As menores frequências registam-se na plataforma média e,
por vezes, no bordo da plataforma. Estes grãos apresntam características de modernidade
(classe "M" de partículas).
Os grãos de quartzo do tipo 2 são especialmente abundantes nos depósitos areno-
cascalhentos da plataforma média e do bordo da plataforma, embora se encontrem, com
frequências muito variáveis, na maioria das amostras estudadas. As fracções granulométricas
preferenciais deste tipo de grãos são as mais grosseiras (<1 Ø). Verifica-se tendência para que
as percentagens relativas de quartzo deste tipo decresçam na proporção inversa da dimensão
granulométrica das fracções, comportamento análogo ao já detectado por James & Stanley
(1968) e por Dias (1987), entre outros. A pigmentação amarelada, alaranjada ou avermelhada é
geralmente atribuída à presença de óxidos e/ou hidróxidos de ferro, como por exemplo
limonite e hematite (Walker, 1967; Friedman & Sanders, 1978; Dias & Nittrouer, 1984). A
coloração observada apresenta alta variabilidade, quer de grão para grão, quer inclusivamente
no mesmo grão. De entre os sectores estudados, estes grãos são mais abundantes na plataforma
norte e no sector setentrional da plataforma sudoeste.
159
Os principais factores na constituição da pigmentação por hematite são, segundo Walker
(1967), os seguintes: presença de minerais com ferro; condições pós-deposicionais que
favoreçam a alteração destes minerais; condições de Eh e pH do ambiente intersticial que
favoreçam a formação de óxidos ferrosos; ausência de posteriores condições redutoras; tempo
suficiente para a alteração dos minerais com ferro, formação de limonite e subsequente
conversão em hematite; possivelmente, temperaturas superiores a 35o C.
As condições de formação das pátinas de ferro oxidado podem verificar-se em vários
ambientes, como os desertos e, presumivelmente, segundo Dias (1987), as praias e os campos
dunares litorais. Todavia, a presença de grãos com estas características não é necessariamente,
segundo Nordstrom & Margolis (1972), indicador de exposição sub-aérea, visto que pátinas
análogas se podem desenvolver, possivelmente, em meio sub-aquoso. As observações de Judd
et al. (1970) indicam que o transporte não é, possivelmente, processo eficaz na remoção destas
pátinas. Houten (1968) refere a possibilidade de rehidratação para limonite.
As superfícies destes grãos, que se apresentam rolados a sub-rolados e, mais raramente,
subangulosos, nunca são brilhantes e apenas esporadicamente são nitidamente baços. Observa-
se normalmente a existência de "picotado" e de muitas "cicatrizes".
A conjugação das várias características morfoscópias observadas permite concluir que
estes grãos foram sujeitos a mais de um ciclo de deposição (Dias, 1980/81), sendo portanto
incluídos na classe "R" de partículas. Segundo Dias (1987), estes grãos têm provavelmente
diferentes origens. Parte pode ter adquirido a pátina em antigos depósitos sedimentares
continentais, posteriormente sujeitos a erosão, tendo o quartzo sido transportado e depositado
em zonas litorais actualmente submersas. Outra parte pode corresponder a quartzo não
patinado ocorrente em antigos depósitos litorais, posteriormente continentalizados e
submetidos a exposição sub-aérea, no decurso de período de abaixamento do nível relativo do
mar, durante o qual adquiriu a pátina amarelo-alaranjada. Nesse período, os grãos já patinados
teriam sido sujeitos a intensificação dessa pátina. Com a posterior subida do nível do mar até
ao nível actual, estes sedimentos teriam sido submersos, encontrando-se actualmente em fase
de dispersão mais ou menos intensa pelas condições actuais.
Os grãos de quartzo do tipo 3 apresentam muitas analogias com o tipo anterior, excepto na
coloração, que é esverdeada, e na sua raridade. Ocorrem principalmente nas fracções 0 a 1 Ø e
1 a 2 Ø, sendo a maior parte encontrada na plataforma externa e no bordo da plataforma,
embora se detectem também, esporadicamente, na plataforma média. À semelhança do
comportamente detectado no tipo anteriormente descrito, estes grãos são mais abundantes na
plataforma norte e no sector setentrional da plataforma sudoeste. A coloração esverdeada é
provavelmente devida à deposição de uma fina película de glaucónia. De facto, embora as
carapaças de foraminíferos constituam o suporte mais comum para a ocorrência de glaucónia,
os grãos de quatzo desempenham, por vezes, este papel (Bentor & Kastner, 1965; Odin &
Matter, 1981). Tal poderá suceder, por exemplo, na plataforma externa do sector sudoeste.
160
Porém, a glaucónia poderá não se ter formado no grão, mas, pelo contrário, ter-se aí
“depositado” pelo facto de estar em contacto com grãos de glaucónia.
Os grãos de quartzo do tipo 4 são detectáveis na plataforma média e na plataforma
externa. São extremamente raros na plataforma norte. Pelo contrário, nas plataformas sudoeste
e algarvia aparecem com alguma frequência, por vezes em percentagens que se podem
considerar elevadas. Na bibliografia consultada não se encontraram referências a este tipo de
grãos de quartzo.
Os grãos de quartzo do tipo 5 ocorrem sobretudo em amostras colhidas a profundidades
inferiores a 50 m. O aspecto baço e esbranquiçado destes grãos é devido a picotado intenso.
São frequentemente visíveis marcas de choque e o que aparentam ser marcas de corrosão. Os
elevados estados de rolamento e esfericidade e o picotado destes grãos sugerem evolução
eólica (Cailleux, 1943). A presença deste tipo de grãos pode ser explicada por transporte eólico
a partir de dunas existentes no litoral. Apesar destes grãos serem certamente policíclicos,
encontram-se presentemente a ser fornecidos à plataforma. Por essa razão, englobam-se na
classe "M" de partículas.
2.2. Análise exoscópica
Esta metodologia consiste na observação ao microscópio electrónico de varrimento (SEM)
do estado da superfície dos grãos de quartzo. O exame simultâneo das marcas de acções
mecânicas e químicas, bem como das relações existentes entre estas marcas e o micro-relevo
dos grãos (arestas, faces planas e depressões) tem sido utilizado por diversos autores (p. ex.:
Georgiev & Stoffers, 1980; Azevedo, 1982; Pereira & Alves, 1993) na identificação das
condições dinâmicas e químicas a que os sedimentos estiveram sujeitos no decurso da sua
evolução, permitindo assim reconstituir a sua história. No que se refere a grãos provenientes da
plataforma continental portuguesa, este tipo de análise apenas foi utilizada no estudos dos
sedimentos da plataforma interna adjacente à Ria Formosa (Bettencourt, 1989, 1994;
Bettencourt et al., 1989). As fotografias apresentadas no presente trabalho foram obtidas no
Centro de Microscopia Electrónica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (com
um aparelho JEOL–T220) e no Centro de Metalurgia e Ciência dos Materiais da Universidade
do Porto (com um aparelho JEOL JSM–35 C) 1.
As acções mecânicas exercem uma influência fundamental na evolução do grão, visto
destruírem a rede cristalina do quartzo, formando-se à sua superfície uma zona muito
desorganizada de sílica amorfa. Esta desorganização da parte superficial do grão vai facilitar os
fenómenos de dissolução, desencadeados por acções químicas, em especial nas partes mais
salientes do grão, conduzindo a um arredondamento progressivo dos grãos. A parte interna dos
grãos não é afectada por este fenómeno, visto ser constituída por sílica bem cristalizada.
1 Fotografias obtidas por Octávio Chaveiro e pelo Eng. Carlos Sá.
161
As narcas de choque (que correspondem a fracturas conchoidais, cúpulas de choque,
crescentes de choque, Vs de choque, marcas de fricção ou marcas de esmagamento) permitem
identificar o ambiente no qual se exerceram as acções mecânicas que lhes deram origem, bem
como deduzir o nível energético do mesmo. Estas marcas encontram-se sempre localizadas nas
arestas e faces planas dos grãos, nunca se observando nas depressões dos mesmos.
As marcas de acções químicas podem, pelo contrário, encontrar-se em qualquer parte da
superfície do grão, permitindo precisar o tipo de evolução aquática e detectar eventuais
episódios de imobilização dos grãos.
Existem dois tipos de marcas de acções químicas, consoante se encontrem relacionadas
com depósitos resultantes da precipitação de sílica (glóbulos, escamas convexas, películas
siliciosa e flores de sílica) ou com fenómenos de dissolução (decapagem, descamação, redes de
dissolução anastomosadas e figuras de dissolução geométrica), relacionados com a retoma dos
grãos em ambientes subsaturados em sílica amorfa. As películas siliciosas podem ser
unicamente constituídas por Si ou incluir uma proporção importante de elementos variados
(nomeadamente Fe e Al no caso dos quartzos pedogenéticos, e Cl, Mg e K no caso dos grãos
que evoluíram na parte superior das praias).
As marcas observadas são típicas dos ambientes sedimentares em que os grãos evoluíram,
sendo visível a maior ou menor modificação das características herdadas das evoluções
anteriores, que vão sendo substituídas por novas, relacionadas com o episódio evolutivo mais
recente.
As características dos grãos analisados permitem supôr que estes sofreram evoluções
complexas. No entanto, são facilmente identificaveis as que são devidas ao ambiente marinho,
subsaturado em relação à sílica amorfa e às suas formas cristalinas, em que os grãos se
encontram. De facto, a superfície do quartzo apresenta sempre um polimento frequentemente
elevado (fig. VI.1), que reflecte a progressiva decapagem da zona superficial amorfisada. Por
vezes, é já visível uma rede de dissolução anastomosada (fig. VI.2) que se acentua com o
progressivo ataque do grão e resulta da dissolução da parte melhor cristalizada ou da menos
desorganizada da zona de transição. Muitas das características observáveis nos grãos
dependem, em certa medida, da profundidade a que os mesmos se encontram. Por exemplo, as
redes de dissolução anastomosada são características de profundidades superiores a 30 m,
enquanto as marcas de choque com gradiente de polimento (fig. VI.3) surgem a menor
profundidade (Le Ribault, 1977).
Os grãos exibem frequentes marcas de choque, muitas vezes polidas, o que testemunha, na
maior parte dos casos, episódios de eolização mais ou menos energética anteriores ao seu
transporte para a plataforma continental.
Para além das características comuns à totalidade dos grãos, existem outras mais
especificamente relacionadas com os tipos anteriormente considerados.
162
Figura VI.1 – Grão de quartzo com polimento tipicamente marinho.
Figura VI.2 – Rede de dissolução anastomosada num grão de quartzo.
163
Figura VI.3 – Grão de quartzo que apresenta marcas de choque com gradiente de polimento.
Os grãos dos tipos 1 (hialinos, brilhantes e com angulosidade elevada) e 4 (vermelho vivo,
frequentemente brilhantes) conservam ainda uma influência bem marcada do ambiente fluvial
em que evoluíram antes de serem transportados para a plataforma, evidenciada pelo tipo de
polimento (fig. VI.4), pela presença de Vs de choque com gradiente de polimento e pela
presença de depósitos em toda a superfície dos grãos (fig. VI.5).
Os grãos dos tipos 2 e 3 (não brilhantes, com pátina acastanhada ou esverdeada, rolamento
elevado e aspecto geral de “sujo”) apresentam como característica marcante a presença de
depósitos siliciosos nas depressões, enquanto que as partes mais salientes são dominados por
figuras de dissolução que começam a atacar as marcas de choque (fig. VI.6), o que reflecte a
herança bem marcada de um episódio evolutivo em ambiente intertidal. Por vezes, são
observáveis numerosos cocolitoforídeos nestas depressões (fig. VI.7).
As características dos grãos do tipo 5 (rolamento elevado, superfícies baças e aspecto
esbranquiçado) indiciam frequentes trocas sedimentares entre dunas e a plataforma continental.
De facto, existem numerosas marcas de choque, muitas vezes polidas, sendo tal polimento
claramente anterior a uma geração mais recente de marcas de choque, visto que estas
apresentam frequentemente contornos bastante angulosos (fig. VI.8). A menor ou maior
densidade de crescentes e cúpulas de choque permite avaliar a energia relativa dos episódios
eólicos que os produziram.
164
Figura VI.4 – Grão marinho de quartzo que apresenta ainda polimento fluvial.
Figura VI.5 – Grão de quartzo com depósitos em toda a superfície.
165
Figura VI.6 – Grão de quartzo com depósitos nas depressões e figuras de dissolução nas partes mas salientes.
Figura VI.7 – Depressão de grão de quartzo com numerosos cocolitoforídeos.
166
2.3. Análise química
Tentou-se averiguar a existência de eventuais relações entre os referidos tipos de grãos de
quartzo e a variação da composição química dos mesmos. Como se sabe, a estrutura cristalina
do quartzo e a inexistência de fenómenos de substituição não permitem a existência de
quantidades apreciáveis de outros elementos para além do silício na composição deste mineral.
Neste contexto, as pátinas, caso correspondessem a uma deposição de uma película de ferro
sobre a superfície do grão, seriam facilmente identificáveis.
Figura VI.8 – Grão de quartzo baço e com numerosas marcas de choque, algumas das quais apresentam contornos bastante angulosos.
As análises químicas de grãos de quartzo 2 (que se saiba, as primeiras efectuadas sobre
grãos provenientes da plataforma continental) previamente seleccionados por observação à
lupa binocular foram efectuadas na Universidade de Glamorgan (País de Gales), sendo a sua
localização fornecida na fig, VI.9. Com tal objectivo, os grãos foram envolvidos em resina
epóxica, após o que se obtiveram as correspondentes superfícies polidas. Procedeu-se em
seguida à análise química elementar dos grãos com o auxílio do microscópio electrónico de
varrimento (SEM) na sua parte mais externa, no seu centro e aproximadamente a meia
2 Análises efectuadas pelo Dr. Guto Roberts.
167
distância entre o centro e a periferia. As análises efectuadas possibilitaram a detecção dos
elementos de número atómico superior ao do néon (10).
3027
182124
221
25
10
8
9
3
2
16
28
29
1914
1317 23
2026
1112 7
45 15
6
Figura VI. 9 – Localização dos grãos de quartzo submetidos a análise química.
Os resultados obtidos constam do quadro VI.I, no qual os elementos presentes em
quantidades vestigiais se encontram assinalados com um asterisco (*).
A análise deste quadro sugere que a maioria dos grãos analisados possuem inclusões que
não tinham sido identificadas por observação à lupa binocular. Na fotografia da fig. VI.10,
obtida com electrões retro-difundidos, são observáveis inclusões de aluminossilicatos, titânio e
ferro. Nesta perspectiva, os resultados obtidos confirmam a ocorrência frequente de inclusões
nas rochas eruptivas e metamórficas (p. ex.: Oliveira, 1969; Teixeira & Gonçalves, 1980;
Pereira, 1992; Moreira, 1994) que são drenadas para os sectores da plataforma estudados. Por
exemplo, a existência de quantidades apreciáveis de potássio encontra-se, aparentemente,
relacionada com a existência de feldspato potássico e/ou moscovite.
Estes resultados podem constituir um indicador da proveniência de determinados grãos. O
estanho e o titânio, por exemplo, apenas foram detectados em grãos provenientes da plataforma
norte, o que reflecte a drenagem de rochas da zona centro-ibérica. Contudo, estudos
aprofundados sobre esta problemática deverão também incluir métodos petrográficos
tradicionais (que permitem identificar, entre outros aspectos, o tipo de extinção do quartzo e a
eventual existência de intercrescimentos mirmequíticos entre este mineral e os feldspatos) e de
catodoluminescência.
168
Quadro VI.I – Composição dos grãos de quartzo analisados, identificados com a numeração da fig. VI.9.
Sector Tipo de
grão Nº do grão
Centro Meio Superfície
Norte 1 1 Si, Sn* – Si, Sn* Norte 1 2 Si, K, Al – Si, K, Al, Ti* Norte 2 3 Si, Sn*, S* Si, Fe, Si, Al, Fe, K Norte 1 4 Si, Sn*, Fe* Si, Sn*, Fe* Si, Sn*, Fe* Norte 1 5 Si, Sn* – Si, Sn* Norte 1 6 Si, Sn* – Si, Sn* Norte 1 7 Si, Al, Fe, K Si, Sn* Si, Al, Fe, K, Ti*
Norte 1 8 Si, Sn*, Fe* Si, Fe* Si, Sn*, Fe* Norte 2 9 Si, Sn* Si, Sn*, Fe* Si, Fe, Ca*, Cu* Norte 1 10 Si – Si Norte 1 11 Si Si Si Norte 3 12 Si, Fe*, Sn*, Ca* – Si, Fe*
Sudoeste 3 13 Si, K, Fe, Al* Si, K, Al Si, K, Al, Fe* Sudoeste 4 14 Si – Si
Norte 1 15 Ca, S, Si, Al, Fe, K*, Ti*
– Ca, S, Si, Al, Fe, K*, Ti*
Norte 3 16 Si Si Si, Fe* Sudoeste 1 17 Si – Si
Sul 1 18 Si – Si, Ca*, Fe* Sudoeste 4 19 Si – Si Sudoeste 2 20 Si, Al* Si, Al* Si, Al, Fe*
Sul 2 21 Si Si, Fe* Si, Fe Norte 3 22 Si, Sn* Si, Sn* Si, Sn*, K*, Fe, Ca*
Sudoeste 3 23 Si Si, Al* Si, K*, Fe, Al*, Ca* Sul 3 24 Si Si, K* Si, K, Mg*, Fe, Al
Norte 4 25 Si, Sn* Si, Sn* Si, Sn* Sudoeste 4 26 Si Si Si
Sul 4 27 Si Si Si Norte 5 28 Si, Sn*, Ti* Si, Sn*, Ti* Si, Sn*,Ti*
Sudoeste 5 29 Si Si Si Sul 5 30 Si Si Si
A análise do quadro VI.I sugere ainda a existência de dois grupos de grãos de quartzo,
correspondentes a composições químicas idênticas na totalidade dos mesmos (grupo 1) ou
significativamente diferentes do centro para a periferia (grupo 2). Os grãos deste último grupo
apresentam uma composição mais diversificada que os do primeiro, sugerindo que os dois
grupos de grãos evoluíram em condições ambientais diferentes e/ou que a evolução dos grãos
do segundo grupo terá sido mais prolongada.
A semelhança de composição entre a periferia e a parte central dos grãos dos tipos 1, 4 e 5
sugere que os episódios mais marcantes da sua evolução se processaram em ambientes
subsaturados em sílica e que não permitiram a incorporação de elementos adicionais durante a
169
sua permanência na plataforma. Por outro lado, a composição dos grãos dos tipos 2 e 3
apresenta alguma concordância com os resultados referidos por Le Ribault (1977) quanto aos
grãos que evoluem em ambientes intertidais.
Figura VI.10 – Inclusões de aluminossilicatos, titânio e ferro num grão de quartzo.
No que se refere à zona mais superficial dos grãos, estes resultados apresentam algumas
semelhanças com os referidos por Cekhomskij (1960 in Le Ribault, 1977), autor que publicou
os resultados de diversas análises químicas de películas de grãos de quartzo provenientes de
diversos ambientes, segundo os quais os elementos mais abundantes são o silício, o alumínio e
o ferro férrico.
As análises químicas dos grãos dos tipos 2 e 3 confirmam o que se referiu a propósito das
observações efectuadas à lupa binocular. De facto, as pátinas alaranjadas e avermelhadas dos
grãos do tipo 2 são, à semelhança do que é referido na bibliografia a que se teve acesso,
devidas à deposição de uma película de ferro, que na maioria dos casos se restringe à porção
mais superficial dos grãos.
3. Clastos de moluscos
Atendendo a que os processos biodegradativos, de abrasão física e de dissolução actuam
rapidamente nos clastos de moluscos, e como estas partículas se encontram presentes, em
maior ou menor abundância, em todos os sedimentos das plataformas, estes materiais, tal como
170
foi reconhecido, entre outros, por Pilkey et al. (1969) e Dias (1987), constituem meio de
análise privilegiado para reconstituir a história sedimentológica recente destas zonas. Os
carbonatos das conchas e o quartzo apresentam características físico-químicas até certo ponto
contrastantes. Por consequência, o estudo de cada um destes constituintes permite obter
resultados complementares. A título de exemplo, o rolamento do material carbonatado tem,
devido a este tipo de material apresentar dureza bastante inferior à do quartzo, maior
capacidade de reflectir a história recente da abrasão a que a partícula foi sujeita.
O principal agente físico responsável pela fragmentação das conchas é, segundo Pilkey et
al. (1969), a energia associada às ondas. Sendo assim, a fragmentação generalizada estaria
provavelmente restrita às praias. Porém, observou-se a existência de fracturação, em maior ou
menor grau, na quase totalidade do material examinado, à semelhança do que tinha sido já
constatado por Dias (1987), por Magalhães (1993) e por Abrantes (1994). No entanto, não é de
excluir que a fracturação que se observa na maior parte das amostras analisadas possa também
ser, em parte, consequência da agitação provocada pela peneiração das amostras.
O processo de tratamento laboratorial das amostras pode ainda afectar a cor dos clastos de
moluscos (Pilkey et al., 1979), que foi factor importante no estabelecimento da tipologia dos
mesmos.
A observação destes clastos à lupa binocuar permite considerar os seguintes tipos
principais:
1. conchas, quer inteiras quer fragmentadas, frequentemente com a camada nacarada interior
nitidamente visivel, podendo-se distinguir os pormenores de ornamentação das conchas;
2. fragmentos de conchas corroídos, de tonalidade acastanhada, que apresentam geralmente
aspecto "polido", muitas vezes muito perfurados por organismos e mesmo com vestígios
de tubos ou exo-esqueletos de outros animais;
3. fragmentos de conchas sub-rolados a subangulosos, de aspecto frequentemente
pulvurento, geralmente esbranquiçados ou acinzentados;
4. fragmentos de conchas de cor escura, por vezes quase negra, com estado de rolamento
variável;
5. fragmentos com pontuações de glaucónia, geralmente sub-rolados a subangulosos, de cor
acastanhada ou esverdeada.
As conchas e fragmentos do tipo 1 apresentam características de "modernidade",
constituindo provavelmente partículas presentemente a serem integradas no sedimento, o que
as permite englobar na classe "M" de partículas. A frequência máxima deste tipo de grãos
observa-se na plataforma interna, na vertente continental e em certas zonas da plataforma
externa e do bordo da plataforma. As menores frequências registam-se na plataforma média e,
por vezes, no bordo da plataforma.
Os fragmentos de clastos de moluscos do tipo 2, predominantes na plataforma média e,
pontualmente, no bordo da plataforma, são frequentemente referidos na bibliografia científica
171
(p. ex.: Maiklem, 1968; Pilkey et al., 1969) e considerados como partículas retomadas de ciclo
deposicional anterior, e, por consequência, relíquia.
A cor castanha é, segundo Maiklem (1968), provavelmente devida a uma pátina de ferro
oxidado, reflectindo este tipo de conchas a possível existência de um ambiente oxidante do
tipo praia (Pilkey et al., 1969).
Os fragmentos do tipo 3 encontra-se predominanantemente na plataforma externa, em
amostras que exibem altas percentagens de clastos de moluscos. O aspecto das suas superfícies
permite admitir que se trata de conchas antigas, sujeitas a longa evolução em meios de pequena
ou nula turbulência, sendo assim possível integrá-las na classe "R" de partículas.
O tipo 4 de clastos escuros é frequentemente descrito na bibliografia em associação, tal
como nos sectores estudados, com sedimentos finos, ricos em matéria orgânica e com ambiente
redutor (p. ex.: Maiklem, 1968; Pilkey et al., 1979). A cor negra resulta provavelmente da
integração das conchas em sedimentos finos com condições redutoras (Pilkey et al., 1969).
Os fragmentos do tipo 5, com pontuações de glaucónia, ocorrem especialmente na
plataforma externa e junto ao bordo da plataforma, em zonas onde a glaucónia se encontra
presente em quantidades consideráveis. Devido às características genéticas da glaucónia, estes
fragmentos foram integrados na classe "R" de partículas.
4. Carapaças de foraminíferos
As câmaras internas das carapaças de foraminíferos constituem microambientes capazes
de preservar matéria orgânica mesmo na zona superficial oxidante (Maiklem, 1967). Quando
as referidas carapaças são soterradas abaixo da superfície, esses minúsculos centros de
concentração de matéria orgânica actuam, em presença de bactérias sulfato-redutoras
(anaeróbias), como núcleos favoráveis à precipitação de sulfureto de ferro.
A análise à lupa binocular permitiu identificar os seguintes tipos:
1. carapaças inteiras ou fragmentadas, com os pormenores de ornamentação bastante
visíveis;
2. carapaças cobertas por pátinas de coloração acastanhada;
3. carapaças com o interior preenchido por material silto-argiloso de cor acastanhada;
4. carapaças preenchidas por material carbonatado;
5. carapaças preenchidas por compostos férricos;
6. carapaças com pontuações de glaucónia;
7. moldes internos de foraminíferos.
As partículas do tipo 1 encontram-se presentes na plataforma externa, em certas regiões
do bordo da plataforma e na vertente. Estas carapaças estão presentemente a ser integradas nos
sedimentos, incluindo-se consequentemente na classe "M" de partículas. Devido às suas
características de forma, composição e estrutura, as carapaças de foraminíferos apresentam
velocidades de sedimentação menores que as partículas de quartzo volumetricamente idênticas,
172
sendo portanto remobilizadas e transportadas por correntes menos energéticas que as
necessárias para movimentar partículas de quartzo de dimensões análogas.
As pátinas existentes nos grãos do tipo 2 podem ser explicadas por um modelo que
considere a existência de baixas taxas de sedimentação e de um ambiente oxidante contínuo
(Magalhães et al., 1991c). O ferro responsável pelas pátinas seria fornecido a partir dos
continentes, provavelmente como resultado da alteração de minerais com elevadas quantidades
de ferro, segundo esquema análogo ao proposto por Walker (1967).
As partículas acastanhadas do tipo 3 foram consideradas "não actuais" por Dias (1987).
Este autor considera que não existem indícios seguros que permitam decidir se se trata de
partículas retomadas de anterior ciclo de deposição ou de partículas presentes há mais tempo
no actual ciclo de deposição.
As partículas do tipo 4 são claramente antigas. Foram identificadas na plataforma externa
e no bordo da plataforma setentrionais em relação com os afloramentos rochosos aí presentes.
A identificação de alguns destes foraminíferos 3 revelou que correspondem a fósseis de
espécies características do Paleogénico. Não é possível incluí-las na classe "M" ou "R" de
partículas, visto derivarem da erosão dos afloramentos aludidos.
Os depósitos em que os grãos do tipo 5 se encontram presentes formaram-se em condições
substancialmente diferentes das actuais (Dias, 1987). Por um lado, os fenómenos de
"upwelling" que atingiam a plataforma, provavelmente mais intensos que os actuais, eram
certamente responsáveis por uma elevada produtividade orgânica. Por outro lado, a largura da
plataforma era inferior à actual e o fluxo de cheia dos rios transportava grandes quantidades de
material. A conjugação destes dois factores (elevada produtividade orgânica e elevada taxa de
sedimentação) seria responsável pelo rápido soterramento das partículas sedimentares, e
consequente envolvimento em ambientes redutores. Nestas circunstâncias, o ferro (proveniente
eventualmente de pátinas anteriormente existentes e/ou de minerais ferromagnesianos) seria,
de acordo com Magalhães et al. (1991c), mobilizado em profundidade e migraria, ao longo do
gradiente geoquímico, até ao ambiente oxidante da superfície, segundo modelo análogo ao de
Lynn & Bonatti (1965). Contudo, mesmo neste ambiente oxidante da interface sedimento-
água, o interior das carapaças de foraminíferos constitui um meio semi-confinado, o qual se
traduz pela ocorrência de um microambiente redutor. No interior dessas carapaças
precipitariam assim, sob estas condições, sulfuretos de ferro, conjuntamente com eventual
deposição de argila. A existência de condições oxidantes à superfície explica possivelmente o
facto de frequentemente ocorrerem pátinas, geralmente pouco desenvolvidas, nas carapaças de
foraminíferos que apresentam preenchimentos. É relevante referir que o conjunto das reacções
químicas que, nestas condições, têm lugar no interior das carapaças de foraminíferos é muito
complexo, envolvendo eventualmente, entre outros processos, trocas iónicas com os
carbonatos que constituem as carapaças e com o meio externo (água do mar), sendo as
3 Identificação efectuada pelo Prof. M. Magalhães Ramalho.
173
reacções que se dão provavelmente influenciadas por intensa actividade bacteriana verificada
no interior das carapaças.
Alguns destes preenchimentos foram sujeitos a análise por difractometria de raios X,
utilizando um difractómetro Philips PM8000, com radiação k de 1,5542 Å, proveniente de
uma ampola de cobre e gerada a 30 mA e 40 KV 4. A referida análise permitiu identificar
glauconite e apatite, o que parece indicar a existência de relações entre a ocorrência de ferro
nas referidas carapaças e fenómenos de glauconitização e de fosfatização (Magalhães et al.,
1991c).
As partículas glauconitizadas do tipo 6 foram incluídas na classe "R" de partículas.
Segundo Dias (1987), as diferenças no estado de glauconitização podem estar relacionadas
com a idade das partículas ou com diferenças nas condições de glauconitização.
Os moldes do tipo 7 constituem transição emtre as carapaças de foraminíferos e os grãos
de glaucónia.
5. Glaucónia
5.1. Observações à lupa binocular
Foram identificados os seguintes tipos:
1. bioclastos, na sua maioria carapaças de foraminíferos, com pontuações de glaucónia;
2. carapaças de foraminíferos glauconitizadas, em que a glaucónia ocupa a maior parte da
partícula;
3. moldes internos de foraminíferos;
4. grãos lobados ou mamilados, com aspecto rolado e, geralmente, de cor escura;
5. grãos esferoidais ou ovalóides, de cor escura,vezes quase negra;
6. grãos compósitos, contituídos por partículas de glaucónia e minerais terrígenos
(integrando também, pontualmente, bioclastos), agregados por matriz glauconítica.
Não existe consenso sobre a origem da glaucónia presente actualmente nos sedimentos das
plataformas continentais. Segundo alguns autores (Logvinenko, 1982), a glaucónia é
fundamentalmente detrítica. Outros autores (Odin & Matter, 1981; Bornhold & Giresse, 1985)
consideram ser a glaucónia essencialmente autigénica, podendo mesmo encontrar-se
actualmente em fase activa de formação. Como se afirmou em capítulo antrior, a maior parte
da glaucónia encontrada nos sedimentos dos sectores estudados é, presumivelmente,
autigénica.
De acordo com Odin & Létolle (1978), são necessários mil a dois mil anos para se
desenvolverem minerais do tipo esmectite, enquanto para se constituir a glauconite é
necessário período de tempo muito mais dilatado. Nestas circunstâncias, a quase totalidade das
partículas de glaucónia deveria, possivelmente, ser integrada na classe "R" de partículas. No
4 Difractogramas efectuados por Hélder Borges.
174
entanto, a classificação que considera partículas modernas e relíquia deve neste caso ser
encarada de forma diferente, partindo do pressuposto que existe uma evolução desde o micro-
ambiente de formação até à partícula rolada de glaucónia, passando por partícula
glauconitizada e por molde interno. O facto de o meio físico-químico envolvente poder
eventualmente acelerar ou moderar este processo evolutivo implica que os dados referentes à
glaucónia devam ser interpretados de forma disjuntiva, considerando a possibilidade de uma
dada partícula estar há mais ou menos tempo presente no depositário ou de se encontrar sujeita
a processos mais ou menos marcantes.
A glaucónia do tipo 1, que ocorre sob a forma de pontuações de bioclastos, é integrável na
classe "M" de partículas.
As carapaças glauconitizadas do tipo 2 são presumivelmente mais antigas que as
precedentes, podendo ainda ser provenientes de meio mais favorável à ocorrência da
glauconitização.
Os moldes do tipo 3 constituem provavelmente estádio mais evoluído e mais antigo que o
precedente.
Segundo Dias (1987), os grãos lobados ou mamilados do tipo 4 podem corresponder a
estado de rolamento menor que os grãos esferoidais e ovalóides, a morfologias originais, a
agregação de partículas roladas de glaucónia e/ou a fracturação incipiente no decurso do
transporte e dissolução ou desgaste nessas zonas do grão. Ainda de acordo com este autor, a
observação à lupa binocular de grãos deste tipo não permite privilegiar qualquer destas
hipóteses. Não é de excluir que este tipo de grãos esteja relacionado simultaneamente com
mais de uma das hipóteses expendidas por Dias (1987), ou que processos diferentes tenham
conduzido a morfologias idênticas.
Os grãos esferoidais e ovalóides do tipo 5 podem resultar da remobilização e abrasão de
partículas pré-existentes (Triplehorn, 1966; Odin & Matter, 1981; Bornhold & Giresse, 1985).
Estas partículas seriam assim mais antigas no depositário ou, alternativamente, teriam estado
sujeitas a processos mais energéticos.
Os grãos compósitos do tipo 6 podem, segundo Dias (1987), corresponder a um estádio
final da evolução dos tipos anteriores ou podem estar associados a ambientes energéticos e
fisico-químicos específicos.
5.2. Análise química
Como foi anteriormente referido, o modelo evolutivo mais frequentemente aceite para
tentar explicar a génese dos grãos de glaucónia é o que corresponde à teoria da precipitação-
dissolução-recristalização, proposta por Odin & Matter (1981) e esquematicamente
representada na fig. VI. 11.
De acordo com este modelo, o conteúdo em K2O constitui um excelente indicador do grau
de evolução da glaucónia; de igual modo, à medida que o processo de glauconitização
175
progride, a variação das quantidades relativas de ferro e alumínio e potássio são responsáveis
pela modificação de cor dos grãos desde o verde claro ao escuro, até quase preto (McRae,
1972; Weaver, 1989).
Figura VI.11 – Estádios de glauconitização de um substrato granular, segundo Odin & Matter (1981).
Alguns grãos de glaucónia foram sujeitos a análise química por microssonda electrónica
(equipamento JEOL Superprobe 733, do Centro de Geologia da Universidade de Lisboa) 5. Os
resultados encontram-se no quadro VI.II. Observa-se uma nítida variação dos teores de K2O
entre 2,2% e 8,6%, indicando diferentes graus de evolução. De acordo com estes resultados
parecem existir dois grupos distintos de grãos quanto à composição química:
– o primeiro, correspondente a glaucónia menos evolucionada (estádios 1 e 2 de Odin &
Matter, 1981), exibe baixos teores de K2O (entre 2,2% e 4,6 %) e elevados teores de ferro total
(entre 54,5% e 33,8%). Estes últimos são muito elevados quando comparados com os referidos
na bibliografia, o que pode estar relacionado com: 1) a existência de grande disponibilidade
deste elemento na plataforma; 2) condições redox específicas; 3) condicionantes
hidrodinâmicas (nomeadamente energia do meio e tempo de residência da água no local); ou 4)
tipo de sedimento envolvente. Independentemente das causas, a presença destas percentagens
de ferro confirma, tal como foi referido por outros autores (e.g.: Odin & Matter, 1981;
Bornhold & Giresse, 1985), incorporação inicial rápida do ferro, acompanhada de uma
presença ainda pouco significativa do potássio. O MgO está presente em percentagens que
variam entre 2,6% e 3,1%, as quais parecem aumentar com o incremento do teor em K2O; a
sílica ocorre em teores relativamente baixos, entre 15,6 % e 34,9%;
5 Análises efectuadas pelo Prof. Fernando Barriga.
176
– o segundo grupo de grãos, correspondente a glaucónia evolucionada (estádios 3 e 4 de
Odin & Matter, 1981), tem teores elevados de K2O (7,3% a 8,6%) e teores de ferro total mais
baixos e relativamente homogéneos (entre 21,9% e 27,5%). O MgO encontra-se presente em
percentagens que oscilam entre 4,0% e 4,8%, valores mais elevados que os do grupo anterior;
de igual modo, os teores em sílica deste grupo são mais elevados e mais homogéneos que os do
grupo anterior (43,7% a 49,9%).
Quadro VI.II – Análise química de grãos de glaucónia da plataforma continental (Magalhães et al., 1991c).
% 1 2 3 4 5 6 7 8
SiO2 15,6 25,4 34,9 27,2 9,9 46,7 49,1 43,7 TiO2 0,0 0,1 0,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Al2O3 4,1 4,5 9,0 4,9 3,8 6,9 2,9 6,6 Cr2O3 0,0 0,1 0,2 0,1 0,0 0,1 0,0 0,1
FeO + Fe2O3 54,5 41,6 33,8 42,1 22,8 21,9 24,3 27,5 MnO 0,1 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 MgO 2,6 2,7 2,9 3,1 4,8 4,2 4,4 4,0 CaO 0,2 2,3 0,5 0,3 0,2 0,3 0,0 0,3 Na2O 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,1 K2O 2,2 3,9 4,6 4,4 8,4 7,4 8,6 7,3
TOTAL 79,2 80,7 86,4 82,5 89,9 87,5 89,3 89,6
Diversos autores encontraram uma relação de proporcionalidade inversa entre os teores de
Fe total e de Al2O3. Porém, tal não se verifica nas amostras analisadas, cujas percentagens de
Al2O3 variam entre 2,9% e 9%. Todos os outros óxidos presentes, ocorrem em percentagens
muito pequenas, no geral inferiores a 0,5%.
6. Tipos de partículas e implicações deposicionais
6.1. Grãos de quartzo
Amostras em que o quartzo "R" se encontra ausente, sendo as partículas presentes
classificáveis como modernas, denunciam prováveis zonas de deposição actual activa. Nas
zonas em que o quartzo presente pertence maioritariamente à classe "R", pode inferir-se que as
condições energéticas inibem a deposição de partículas modernas de diâmetro equivalente
inferior ao das partículas que constituem o depósito e/ou que as condições de circulação não
permitem o transporte de partículas de quartzo de diâmetro equivalente susceptível de
deposição.
Por vezes, as fracções mais grosseiras da areia são dominantes e constituídas
essencialmente por quartzo "R", enquanto que as fracções mais finas da areia são muito
177
reduzidas e constituídas por quartzo "M". Tal facto indica provavelmente ausência de
transporte actual, para estas zonas, de partículas de diâmetro equivalente inferior a 2 Ø.
6.2. Bioclastos de moluscos
A existência, num depósito, de quantidade apreciável de bioclastos da classe "R" poderá
indicar taxas de sedimentação muito pequenas, insuficientes para cobrir os sedimentos mais
antigos e/ou níveis energéticos suficientemente fortes para transportar estas patículas maturas,
com indícios de ter sido submetidas a mais de um ciclo sedimentar.
Os bioclastos "R" podem ser encarados como partículas detríticas e, consequentemente, os
critérios interpretativos utilizáveis são análogos aos referidos para o quarto. Os bioclastos "M"
devem, porém, ser analisados com precaução, visto ser difícil afirmar quando é que uma
determinada concha ou fragmento imaturo de concha foi transportada e depositada com o
restante sedimento.
6.3. Carapaças de foraminíferos
Segundo Cloud (1955), a glauconitização das carapaças de foraminíferos verifica-se
geralmente do interior para o exterior e preenche progressivamente as cavidades da concha. O
consequente aumento do diâmetro equivalente dessas partículas permite compreender a
existência de locais caracterizados por elevada percentagem de carapaças glauconitizadas e
pela quase ausência de carapaças imaturas de iguais dimensões, visto a diferença dos diâmetros
equivalentes favorecer ressuspensão e transporte selectivos.
6.4. Glaucónia
A existência de processos actuais de glauconitização parece ser confirmada, como vimos
em capítulo anterior, pela ocorrência de diversos estádios de transição entre carapaças de
foraminíferos com pequenas pontuações de glaucónia e moldes internos constituídos por
glaucónia. Os locais onde, presumivelmente, estes processos operam caracterizam-se por
níveis energéticos baixos, associados a inexistente ou diminuta deposição de partículas. Sendo
assim, a ausência de deposição é possivelmente devida sobretudo à existência de pequena
quantidade de partículas susceptíveis de deposição. A ausência de deposição pode ainda ser
favorecida pela actuação de processos específicos do bordo da plataforma e da vertente
continental superior.
A glaucónia que ocorre sob a forma de grãos esferoidais e ovalóides pode também ser
considerada alogénica, tendo origem em locais de glauconitização anterior. Este assunto será
abordado com mais pormenor quando se discutirem os mecanismos actuantes no bordo da
plataforma.
178
7. Súmula
1) A observação à lupa binocular de partículas de quartzo, de bioclastos de moluscos, de
carapaças de foraminíferos e de grãos de glaucónia permitiu considerar duas grandes classes:
"M" (partículas recentemente chegadas ao depositário) e "R" (relíquia").
2) As informações obtidas possibilitam a dedução de características relevantes da
dinâmica sedimentar actual e passada da plataforma continental e da vertente superior,
relativas, entre outros, à localização de paleolitorais e à existência de áreas deposicionais e não
deposicionais.
179
VII. DEPÓSITOS SEDIMENTARES
1. Introdução
A análise das principais características da cobertura sedimentar, efectuada no capítulo
anterior, permitiu constatar a existência de depósitos com características sedimentológicas
distintas. No presente capítulo efectuar-se-á a delimitação e caracterização gerais destes
depósitos. A referida delimitação é efectuada através de uma abordagem "regional", visto ser
este o tipo de aproximação que permite comparar mais facilmente os diferentes tipos de
depósitos identificados. Pelo contrário, a abordagem "local" utilizada por Magalhães & Dias
(1992) e por Abrantes et al. (1994) apenas se justifica quando se pretende caracterizar, com
elevado grau de pormenorização, os depósitos sedimentares presentes numa determinada área.
Serão ainda utilizados os critérios definidos por Emery (1952, 1968), McManus (1975) e
Dias (1987) para identificar sedimentos "relíquia", depositados durante períodos em que o nível
do mar se encontrava mais baixo que o actual e que não se encontram em equilíbrio com as
condições ambientais actuais.
2. Depósitos sedimentares da plataforma
A caracterização sumária e delimitação geral dos depósitos sedimentares foi efectuada com
base nas características sedimentológicas referidas no capítulo anterior. É de salientar que o
objectivo deste trabalho não é proceder à delimitação exacta dos depósitos nem efectuar uma
cartografia sedimentológica de precisão, mas apenas identificar o padrão geral de distribuição da
cobertura sedimentar não consolidada da plataforma e da vertente continental superior. Os
esquemas classificativos agora propostos são inspirados em trabalhos anteriores (p. ex.: Dias et
al., 1980/81; Magalhães & Dias, 1992; Abrantes et al., 1994).
A delimitação dos depósitos sedimentares é difícil devido ao facto de se basear em
observações descontínuas, à variabilidade de características que os mesmos apresentam e à
transição gradual de uns depósitos para outros. Acresce ainda a eventual obliteração parcial ou
total das características relíquia devida à actuação dos factores da dinâmica sedimentar actual,
responsáveis, por exemplo, pela introdução de partículas mais finas. Tal obliteração é
obviamente responsável pela transformação dos depósitos. As alterações nas características dos
depósitos não implicam necessariamente o desaparecimento dos mesmos, o que apenas se
verificaria com a sua erosão.
A caracterização de cada um dos depósitos identificados foi, como se referiu, feita com
base na análise das principais características da cobertura sedimentar, de que são exemplo as
que se referem à granulometria da areia. A este respeito, é de salientar as diferenças existentes
180
quando se comparam os dados reportados em trabalhos anteriores mencionados em capítulo
introdutório (nos quais a granulometria desta fracção foi efectuada pelo método da
sedimentação) com os divulgados no presente trabalho (no qual se utilizou a peneiração). Estes
métodos conduzem, por vezes, a resultados significativamente diferentes (Dias, 1978, 1987;
Magalhães, 1993).
As características médias dos depósitos identificados encontram-se representadas nas figs.
VII.2, 3, 5, 7 e 8. Os diagramas incluídos nestas figuras baseiam-se nos publicados por Shepard
(1973) e referem-se à percentagem média das fracções granulométricas da areia, intervaladas de
1 Ø, à composição média destas fracções e à composição total média das amostras incluídas nos
depósitos. A sua análise permite visualizar rapidamente os pontos de afinidade e de
convergência entre os depósitos.
2.1. Plataforma norte
A distribuição dos depósitos identificados na cobertura sedimentar deste sector encontra-se
representada na fig. VII.1.
A – Depósitos litorais (DL)
Situam-se, como o nome indica, junto ao litoral, prolongando-se até cerca dos 50 m de
profundidade. São constituídos essencialmente por areia, encontrando-se as outras classes
texturais, quando existentes, presentes em quantidades muito reduzidas. As areias destes
depósitos são geralmente finas a muito finas, bem a medianamente calibradas, apresentando
assimetria negativa.
A areia apresenta composição predominantemente terrígena (geralmente mais de 90%),
sendo a classe composicional mais abundante a do quartzo, embora a mica possa ocorrer em
quantidades significativas, especialmente nas áreas em que os granitos e as rochas metamórficas
(gnaisses e micaxistos) caracterizam a geologia da região costeira e a da plataforma. É de
assinalar a presença esporádica de feldspatos, por vezes integrados em grãos líticos. A
componente biogénica da areia, muito reduzida, é essencialmente constituída por conchas de
moluscos, quer inteiras, quer fragmentadas.
É possível distinguir depósitos litorais setentrionais (um pouco mais lodosos, com areia
mais fina, mais micáceos e feldspáticos) e meridionais (cujas características contrastam com as
daqueles). Os depósitos setentrionais parecem ser, com base nas suas características, mais
imaturos que os meridionais.
As partículas que constituem estes depósitos arenosos são essencialmente da classe "M",
embora sejam detectáveis pequenas quantidades de partículas "R".
A maior parte das partículas da classe "M" é fornecida pelos rios que afluem à plataforma e
pela erosão de arribas, embora existam pequenas contribuições de outros processos, tais como
transporte eólico e erosão de afloramentos rochosos. As partículas da classe "R" são
181
000 00 105000 00 155000 00
0.0020000.0040000.0060000.00 0 30km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
Rocha
Depósitos litorais
Depósitos areno-cascalhentos da plataforma média
Depósitos arenososda plataforma média
Depósitos arenosos da plataforma externa
Depósitos areno-cascalhentos da plataforma externa
Depósitos lodosos davertente continental superior
Depósitos arenosos do bordo da plataforma e vertente continental superior
Depósitos lodosos da plataforma média e externa
Depósitos areno-siltosos da plataforma média
Figura VII. – Depósitos identificados na cobertura sedimentar da plataforma norte.
182
transportadas a partir dos depósitos areno-cascalhentos existentes na plataforma média,
principalmente em períodos de bom tempo.
A resultante dos processos condicionantes destes depósitos pode ser traduzida, em certa
medida, pelo modelo de Bruun. No período de tempestades verifica-se aumento temporário do
nível relativo do mar, comportando-se o litoral como transgressivo, com a consequente
exportação de areias para maiores profundidades. Em período de calmaria a situação é análoga à
de abaixamento do nível relativo do mar, comportando-se o litoral como regressivo, com a
consequente importação de materiais da zona mais próxima. As marés, entre outros factores,
actuam, consoante a situação, como elemento moderador ou amplificador. O domínio de
actuação dos diversos processos referidos define a extensão dos depósitos litorais.
O maior ângulo de ataque da ondulação dominante induz deriva litoral mais intensa no
sector setentrional, sendo as areias rapidamente transportadas para o sector meridional. As
areias mais finas e os siltes debitados continuamente pelos rios que afluem à plataforma
asseguram, provavelmente, a manutenção destes depósitos.
No sector meridional, a incidência da ondulação mais frequente é quase perpendicular à
costa, o que tem como consequência uma menor velocidade no transporte litoral das partículas.
A maior largura e o consequente menor pendor deste sector induz uma maior capacidade de
remobilização das partículas menos grosseiras dos depósitos areno-cascalhentos da plataforma
média, que seriam transportadas para menores profundidades sob condições de bom tempo.
Estes depósitos são, assim, explicáveis pelos processos de fornecimento e distribuição
actuais. A abundância relativa das partículas "R" permite classificar estes depósitos modernos
como neotéricos quase puros, no sector setentrional, e neotéricos com ligeira tendência
anfotérica, no sector meridional.
B – Depósitos areno-cascalhentos da plataforma média (DACPM)
Apresentam o seu maior desenvolvimento a sul do paralelo 41ºN. A sua característica mais
marcante é o elevado teor em cascalho, de origem essencialmente terrígena, avultando na sua
composição fragmentos rolados e sub-rolados de quartzo, quartzito, granito e gnaisse. O
cascalho terrígeno corresponde frequentemente a mais de 25% da amostra, não sendo raras as
amstras em que este valor excede os 50%. A fracção fina encontra-se, geralmente, ausente. A
areia destes depósitos, rica em quartzo, é grosseira ou muito grosseira, moderadamente bem
calibrada, apresentando assimetria geralmente positiva.
As partículas integradas nestes depósitos são essencialmente da classe "R", sendo ainda
detectável a presença de pequenas quantidades de partículas "M". As partículas de dimensão
superior a 1 Ø são essencialmente da classe "R". As partículas de dimensão granulométrica
inferior são essencialmente da classe "M". No entanto, estas fracções (areia fina e muito fina,
silte e argila) são, por via de regra, reduzidas. A areia média é claramente anfotérica. Os
processos modernos de fornecimento e distribuição de partículas são inadequados para explicar
183
a génese destes depósitos. As características por eles exibidas estão mais de acordo com
processos e depósitos litorais imputáveis a períodos de rápido abaixamento do nível relativo do
mar, que terão ocorrido há cerca de 10 a 11 ka.
Parte substancial das partículas "M" dos depósitos areno-cascalhentos da plataforma média
é, muito provavelmente, transportada a partir dos depósitos arenosos litorais. Outra parte tem
origem directamente nos estuários. A contribuição dos processos biogénicos e dos processos
eólicos é certamente pequena.
A observação dos resultados da actuação da agitação marítima permite também explicar a
deficiência destes depósitos em partículas finas, pois que estas, sendo frequentemente
remobilizadas, são sujeitas apenas a deposição temporária nestas zonas.
Os depósitos areno-cascalhentos correspondem a sedimentos palimpsestos, por vezes quase
relíquia, passando a anfotéricos na zona de adjacência com os depósitos litorais. É possível que
parte destes depósitos (quando estes são constituídos essencialmente por areias grosseiras e
muito grosseiras, com pouco cascalho fino) possam ser classificados como sedimentos
protéricos.
As fracções mais grosseiras destes depósitos são essencialmente relíquia. A fracção entre 1
e 2 Ø é anfotérica. As fracções mais finas são neotéricas.
C – Depósitos arenosos da plataforma média (DAPM)
São fundamentalmente constituídos por areia, encontrando-se o cascalho geralmente
presente em quantidades vestigiais. A areia destes depósitos é geralmente fina, moderadamente
calibrada e negativamente assimétrica. Esta fracção é dominada pela componente terrígena, a
qual é rica em quartzo e contém, por vezes, quantidades significativas de micas.
A génese destes depositos pode ser explicada pela actuação dos processos modernos de
fornecimento e distribuição de partículas. As partículas que os integram são essencialmente da
classe "M", embora exibam quantidades variáveis de partículas "R". A ocorrência e abundância
das partículas "R" presentes nestes depósitos permite clssificá-los como sedimentos neotéricos
e, na ajacência aos depósitos areno-cascalhentos da plataforma média, anfotéricos.
D – Depósitos areno-siltosos da plataforma média (DASPM)
Localizados entre os 50 e os 100 m de profundidade, apresentam apreciável conteúdo em
silte (30%, em média). O cascalho encontra-se geralmente ausente. As areias destes depósitos
são predominantemente finas e muito finas, moderada a mal calibradas e negativamente
assimétricas. A fracção arenosa, essencialmente terrígena, é dominada por quartzo e mica.
Estes depósitos encontram-se, provavelmente, relacionados com a descarga dos rios que
afluem à zona litoral. As suas características e enquadramento indicam que a energia do meio
onde se encontram é já compatível com a deposição, possivelmente temporária, e
184
eventualmente sazonal, de quantidades apreciáveis de micas e de material silto-argiloso
proveniente das desembocaduras dos rios.
Tal como os depósitos arenosos litorais, são explicáveis pelos processos de fornecimento e
distribuição actuais. São sedimentos neotéricos com ligeira tendência anfotérica.
DL DACPM DAPM
Q u a r tz o n a a re ia M ic a n a a re ia O u tro s te r r íg e n o s n a
a re iaM o lu s c o s n a a re ia
F o ra m in í f e ro s n aa re ia
O u tro s b io g é n ic o sn a a re ia
G la u c ó n ia n a a re ia O u t ra s p a r t íc u la s n aa re ia
C a s c a lh o b io g é n ic o C a s c a lh o te r r íg e n o S i l te A rg i la
Figura VII.2 - Características médias de depósitos identificados na plataforma norte. DL - Depósitos litorais; DACPM - Depósitos areno-cascalhentos da plataforma média; DAPM - Depósitos arenosos da plataforma média.
E – Depósitos lodosos da plataforma média e externa (DLPME)
Ocorrem frente à foz do Minho, a profundidades ligeiramente superiores a 100 m, e nas
proximidades das cabeceiras do canhão submarino do Porto. A fracção silto-argilosa
corresponde, em média, a cerca de 70% da globalidade do sedimento. A areia destes depósitos é
predominantemente fina e muito fina e bem a moderadamente bem calibrada, apresentando
assimetria geralmente positiva.
A fracção cascalho, quando existe, é dominada por elementos biogénicos. A areia, de
composição predominantemente terrígena, caracteriza-se por elevada percentagem de micas, as
185
quais correspondem, em média, a cerca de 30% do total de partículas presentes nesta fracção.
Estes depósitos são actualmente activos (em parte, possivelmente, devido à "indução de
acumulação" exercida pelas forças coesivas dos sedimentos aí existentes), como é comprovado
pelas taxas de acumulação actuais, que são significativamente positivas (Quadro VII.I).
Carvalho & Ramos (1990), Drago (1995) e Drago et al. (1999) determinaram taxas de
acumulação em diversos testemunhos verticais de sedimentos ("cores") colhidos no depósito das
proximidades das cabeceiras do canhão do Porto, cujos valores se encontram compreendidos
entre 0,2 e 0,73 g·cm-²·ano
-¹(cerca de 1,7 e 5,8 mm·ano-¹, respectivamente). No que respeita ao
depósito frente ao rio Minho, os valores obtidos por Carvalho e Ramos (1990) e Drago et al.
(1999) variam entre 0,13 e 0,21 g·cm-²·ano
-¹ (correspondentes à acumulação de,
respectivamente, 1 e 1,7 mm·ano-¹).
Quadro VII.I – Taxas de acumulação determinadas nos depósitos lodosos ao largo do Minho (DM) e nas proximidades das cabeceiras do canhão submarino do Porto (DCP).
Depósito Autor Taxa de acumulação médiaDM Carvalho & Ramos (1990) 0,1 cm/ano DM Drago et al. (1999) 0, 15 cm/ano DM Drago et al. (1999) 0,17 cm/ano DCP Carvalho & Ramos (1990) 0,16 cm/ano DCP Carvalho & Ramos (1990) 0,55 cm/ano DCP Drago (1995) 0,57 cm/ano DCP Drago et al. (1999) 0,17 cm/ano DCP Drago et al. (1999) 0,58 cm/ano DCP Drago et al. (1999) 0,35 cm/ano DCP Drago et al. (1999) 0,17 cm/ano
O facto destes depósitos apresentarem, actualmente, taxas de acumulação significativas,
conjugado com o diminuto grau de alteração das micas presentes nas amostras aí recolhidas,
tende a confirmar que se encontram presentemente a ser alimentados com materiais
provenientes principalmente dos rios Douro e Minho. Não é, todavia, de excluir a hipótese de
existir alguma contribuição proveniente do canhão submarino do Porto através de eventuais
correntes ascensionais.
O depósito meridional é o que apresenta maior desenvolvimento e importância a nível
regional, tendo sido caracterizado, entre outros autores, por Dias (1987), Magalhães & Dias
(1992), Drago et al. (1994), Drago (1995) e Magalhães et al. (1995). A hipótese de o rio Douro
constituir a principal fonte de alimentação deste depósito é apoiada pela composição do
186
mesmo, quer no que respeita à presença de clorite na fracção silto-argiloso (Drago, 1995), quer
nos teores de diversos elementos metálicos (Araújo et al., 1994; Magalhães et al., 1995). Dias
(1987) refere resultados (homogeneidade textural e pouca bioturbação observada, pelo menos,
até aos 3 m de espessura, em sedimentos colhidos com colhedor Kastenlot, e perfis sísmicos que
revelam espessura apreciável deste nível superficial) que sugerem taxas de acumulação
positivas. Os valores das taxas de acumulação anteriormente referidos e a datação pelo
radiocarbono (1400±70 BP) da parte terminal de um "core" obtido nesta área (Dias et al., 1993)
indicam uma origem recente para este depósito. Em consequência, os níveis energéticos que aí
se fazem sentir deverão ser baixos, de modo a possibilitarem a acumulação actual de materiais
silto-argilosos. Este depósito encontra-se possivelmente relacionado com abundante
forrnecimento fluvial, com a abundância de materiais finos susceptíveis de deposição, com a
existência de condições hidrodinâmicas favoráveis e com um ambiente morfo-estrutural peculiar
existente na plataforma externa (Drago, 1995). Parece também relacionar-se com a morfologia
das vertentes da parte superior do canhão e com o ângulo que o bordo da plataforma apresenta à
ondulação dominante de longo período (Dias, 1987). Por outro lado, a eventual existência de
correntes ascencionais ao longo do canhão pode também constituir factor inibidor e/ou
moderador do transporte das partículas finas para maiores profundidades, facilitando a
deposição destes materiais neste depósito.
O depósito de menores dimensões tem, aparentemente, uma forte dependência dos produtos
directamente exportados pelo rio Minho e prolonga-se para norte, apresentando um maior
desenvolvimento na plataforma galega (Garcia et al., 1998), na qual se encontra em relação
directa com as rias de Vigo, Arosa e Pontevedra (López-Jamar et al., 1992).
F – Depósitos arenosos da plataforma externa (DAPE)
Trata-se de areias finas, moderadamente calibradas e assimetria negativa. As fracções
lodosas (essencialmente o silte) encontram-se presentes em quantidades, por vezes, apreciáveis,
atingindo localmente mais de 20% da amostra. A fracção cascalho, quando presente, é
maioritariamente de origem biogénica, tal como a areia.
A mica encontra-se normalmente ausente ou, quando presente, corresponde a percentagens
diminutas. A glaucónia encontra-se sistematicamente presente nas amostras, embora em
percentagens geralmente inferiores a 5% do total de partículas arenosas.
Existem diferenças assinaláveis entre os depósitos situados a norte e a sul do canhão do
Porto. No sector norte, as características destes depósitos apresentam maior variabilidade. A
areia contém mais quartzo, mais clastos de moluscos, menos carapaças de foraminíferos e
menos glaucónia do que os depósitos situados no sector meridional.
Segundo Dias (1987), estas diferenças podem estar relacionadas com a disposição geral da
batimetria, com a existência do canhão submarino do Porto, com as características fisiográficas
da plataforma e do bordo e com o estado de abarrancamento da vertente continental.
187
As fracções mais grosseiras destes depósitos são constituídas quase exclusivamente por
partículas "R". Quanto mais finas são as fracções granulométricas, maior a abundância de
partículas "M". A areia muito fina é composta quase exclusivamente por partículas "M".
As considerações explanadas por Dias (1987) sobre a origem destes depósitos permitem
concluir que eles correspondem a sedimentos protéricos a anfotéricos. As fracções mais
grosseiras são essencialmente relíquia, enquanto que a areia média é anfotérica e as fracções
mais finas são anfotéricas com tendência neotérica mais ou menos acentuada.
DASPM DLPME DAPE
Q u a r tz o n a a re ia M ic a n a a re ia O u tro s te r r íg e n o s n a
a re iaM o lu s c o s n a a re ia
F o ra m in í f e ro s n aa re ia
O u tro s b io g é n ic o sn a a re ia
G la u c ó n ia n a a re ia O u t ra s p a r t íc u la s n aa re ia
C a s c a lh o b io g é n ic o C a s c a lh o te r r íg e n o S i l te A rg i la
Figura VII.3 – Características médias de depósitos identificados na plataforma norte. DASPM - Depósitos areno-siltosos da plataforma média; DLPME - Depósitos lodosos da plataforma média e externa; DAPE - Depósitos arenosos da plataforma externa.
G – Depósitos areno-cascalhentos da plataforma externa (DACPE)
Apresentam maior desenvolvimento a norte do paralelo da foz do Cávado e a sul do Pontal
da Cartola. Estes depósitos apresentam algumas afinidades com os existentes na plataforma
média. Caracterizam-se pelo elevado conteúdo médio em cascalho, o qual é de origem
essencialmente terrígena, embora as partículas biogénicas se encontram presentes em
quantidades significativas. A fracção silto-argilosa é geralmente pouco abundante. A fracção
areia, na qual prediminam os bioclastos de moluscos e as carapaças de foraminíferos, é grosseira
188
ou muito grosseira, moderadamente a mal calibrada e apresenta assimetria positiva.
As partículas integradas nestes depósitos são essencialmente da classe "R", sendo ainda
detectável a presença de pequenas quantidades de partículas "M". As partículas de dimensão
superior a 1 Ø são essencialmente da classe "R". As partículas de dimensão granulométrica
inferior são essencialmente da classe "M". No entanto, estas fracções (areia fina e muito fina,
silte e argila) são, por via de regra, reduzidas. A areia média é claramente anfotérica.
DACPE DABPVCS DLVCS
Q u a r tz o n a a re ia M ic a n a a re ia O u tro s te r r íg e n o s n a
a re iaM o lu s c o s n a a re ia
F o ra m in í f e ro s n aa re ia
O u tro s b io g é n ic o sn a a re ia
G la u c ó n ia n a a re ia O u t ra s p a r t íc u la s n aa re ia
C a s c a lh o b io g é n ic o C a s c a lh o te r r íg e n o S i l te A rg i la
Figura VII.4 – Características médias de depósitos identificados na plataforma norte. DACPE - Depósitos areno-cascalhentos da plataforma externa; DABPVCS - Depósitos arenosos do bordo da plataforma e vertente continental superior; DLVCS - Depósitos lodosos da vertente continental superior.
Os processos modernos de fornecimento e distribuição de partículas são inadequados para
explicar a génese destes depósitos. As características por eles exibidas estão mais de acordo
com processos e depósitos litorais imputáveis a períodos de rápido abaixamento do nível
relativo do mar, que terão ocorrido há cerca de 15 a 14 ka.
Se bem que não permitam explicar a sua génese, os processos modernos de distribuição de
partículas permitem pressupôr que estes depósitos estão actualmente a ser retrabalhados. A
189
remobilização das partículas verifica-se fundamentalmente sob a influência de ondulação de
longo período. No entanto, verifica-se que ondas menos energéticas poderão remobilizar as
carapaças de foraminíferos, que constituem parte substancial dos bioclastos da areia.
Os depósitos areno-cascalhentos correspondem a sedimentos palimpsestos, por vezes quase
relíquia. É possível que parte destes depósitos (quando são constituídos essencialmente por
areias grosseiras e muito grosseiras, com pouco cascalho fino) possam ser classificados como
sedimentos protéricos.
As fracções mais grosseiras destes depósitos são essencialmente relíquia. A fracção entre 1
e 2 Ø é anfotérica. As fracções mais finas são neotéricas.
H – Depósitos arenosos do bordo da plataforma e vertente continental superior
(DABPVCS)
Exibem reduzidos conteúdos em cascalho e em finos. A areia, geralmente fina e muito fina,
apresenta calibragem e assimetria variáveis. O cascalho é, em geral, de natureza biogénica. A
areia é dominada pela componente biogénica, a qual é essencialmente constituída por bioclastos
de moluscos e carapaças de foraminíferos. A glaucónia encontra-se presente na areia em
quantidades, pontualmente, significativas.
É possível, à semelhança de Dias (1987), distinguir dois tipos de depósitos. Nuns, a maioria
das partículas pertence à classe "M", existindo quantidades importantes de quartzo brilhante e
anguloso. Noutros, a maioria das partículas é da classe "R", sendo de assinalar a presença de
glaucónia, de carapaças de foraminíferos glauconitizadas e moldes internos de foraminíferos.
Estes depósitos possuem aparentemente duas origens distintas. Os depósitos
glauconitizados são, presumivelmente, depósitos relíquia sujeitos a erosão ou, pelo menos, a
taxas de acumulação muito pequenas ou nulas. A ocorrência de glaucónia e de carapaças de
foraminíferos que apresentam diferentes estádios de glauconitização apoiam tal dedução
(Muller, 1967; McRae, 1972).
Outros depósitos aparentam ser progradantes, o que sugere acumulação activa de partículas.
A existência de áreas progradantes parece, aliás, ser comprovada, pela análise de perfis de
relexão sísmica (Vanney & Mougenot, 1981; Mougenot, 1985, 1989). As sequências
progradantes evidenciadas em tais perfis apresentam, por vezes, espessura e comprimento
elevados, indicando a grande intensidade e/ou continuidade temporal destes fenómenos
progradativos.
Para estes depósitos, as taxas de acumulação variam entre 0,05 e 0,13 g·cm-²·ano
-¹
(correspondentes à acumulação de, respectivamente, 0,4 e 1,0 mm·ano-¹), de acordo com os
dados fornecidos por Carvalho e Ramos (1990).
A presença de quartzo fino brilhante e anguloso pode ser explicada através de modelo
análogo ao estabelecido por Castaing et al. (1981) para a plataforma da Aquitânia. Segundo este
modelo, as partículas de areia fina que se libertam do sistema litoral, maioritariamente
190
constituídas por quartzo, são, durante condições de temporal, "rapidamente" transportadas até ao
bordo da plataforma, sendo aqui retidas em suspensão ou com frequentes episódios de
resuspensão.
As características observadas indicam que os depósitos relíquia constituem sedimentos
palimpsestos e que os depósitos modernos são sedimentos neotéricos com maior ou menor
tendência anfotérica. O carácter das fracções varia de palimpsesto, quas relíquia, nas fracções
mais grosseiras, a neotéricos com maior ou menor tendência anfotérica, nas fracções mais finas
da areia.
I – Depósitos lodosos da vertente continental superior (DLVCS)
Estes depósitos localizam-se a profundidades superiores a 300 m. O conteúdo em finos é
elevado. A areia, geralmente fina e muito fina, exibe assimetria negativa e calibragem variável.
O cascalho apresenta composição predominantemente biogénica. A mica ocorre na areia em
quantidades significativas. A glaucónia corresponde, por vezes, a cerca de 20% da fracção
arenosa.
As considerações explanadas sobre os depósitos arenosos do bordo da plataforma e da
vertente continental superior que foram considerados modernos são possivelmente extensíveis
aos depósitos lodosos da vertente continental superior, a que acresce o facto de as condições
energéticas existentes serem propícias a uma deposição estável e duradoura. Por outro lado, as
acumulações de materiais que constituem aqueles depósitos são ocasionalmente sujeitas a
movimentações gravíticas que desempenharão, assim, um papel importante na constituição
destes depósitos.
As taxas de acumulação determinadas para estes depósitos são significativamente positivas.
De facto, Carvalho & Ramos (1990) referem valores da ordem de 0,22 g·cm-²·ano
-¹
(correspondentes à acumulação de 1,8 mm·ano-¹).
Estes depósitos correspondem, na sua maioria, a sedimentos neotéricos com ligeira tendência
anfotérica. As fracções mais grosseiras que constituem estes depósitos são palimpsésticas, quase
relíquia. As fracções mais finas são quase exclusivamente neotéricas. A areia média é
anfotérica.
2.2. Plataforma sudoeste
A distribuição dos depósitos identificados na cobertura sedimentar deste sector encontra-se
representada na fig. VII.5.
191
50100
150
100000.00 140000.00
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
0.0010000.0020000.0030000.000 20km
Ponta daArrifana
9º 15' 8º 50'
C.
S. V
icen
te
C. Setúbal
38º 00'
37º 30'
Sines
Rocha
Depósitos litorais
Depósitos areno-cascalhentos da plataforma média
Depósitos arenosos daplataforma média e externa
Depósitos lodosos davertente continental superior
Depósitos arenosos do bordo da plataforma e vertente continental superior
Depósitos areno-cascalhentos do bordo da plataforma
Figura VII.5 – Depósitos identificados na cobertura sedimentar da plataforma sudoeste.
192
DL DACPM DAPME
Q u a r tz o n a a re ia M ic a n a a re ia O u tro s te r r íg e n o s n a
a re iaM o lu s c o s n a a re ia
F o ra m in í f e ro s n aa re ia
O u tro s b io g é n ic o sn a a re ia
G la u c ó n ia n a a re ia O u t ra s p a r t íc u la s n aa re ia
C a s c a lh o b io g é n ic o C a s c a lh o te r r íg e n o S i l te A rg i la
Figura VII.6 – Características médias de depósitos identificados na plataforma sudoeste. DL - Depósitos litorais; DACPM - Depósitos areno-cascalhentos da plataforma média; DAPME - Depósitos arenosos da plataforma média e externa.
A – Depósitos litorais (DL)
Situam-se, como o nome indica, junto ao litoral, prolongando-se até cerca dos 50 m de
profundidade. São constituídos essencialmente por areia, encontrando-se as outras fracções
texturais, quando existentes, presentes em quantidades muito reduzidas. As areias destes
depósitos são geralmente médias a muito finas e medianamente calibradas, apresentando
assimetria negativa.
A areia apresenta composição predominantemente terrígena (geralmente mais de 70%),
sendo a classe composicional mais abundante a do quartzo. A componente biogénica da areia é
essencialmente constituída por conchas de moluscos, quer inteiras, quer fragmentadas.
É possível distinguir depósitos litorais setentrionais (nos quais as fracções areia e cascalho
são mais ricas em partículas terrígenas) e meridionais (cujas características contrastam com as
daqueles).
À semelhança dos seus equivalentes na plataforma norte, podem ser explicados pelos
processos de fornecimento e distribuição actuais, sendo os materiais que os constituem
provenientes da erosão das arribas, dos cursos de água que desaguam no litoral e de trocas
193
sedimentares entre a praia e a plataforma interna. A abundância relativa das partículas "R"
permite classificar estes depósitos modernos como neotéricos com ligeira tendência anfotérica.
B – Depósitos areno-cascalhentos da plataforma média (DACPM)
Apresentam o seu maior desenvolvimento a norte de Sines. A sua característica mais
marcante é o elevado teor em cascalho, no qual a abundância de partículas de origem biogénica
e de origem terrígena é idêntica. A fracção fina encontra-se, geralmente, ausente. A areia destes
depósitos, rica em quartzo e moluscos, é grosseira ou muito grosseira, apesentando calibragem
variável e assimetria positiva.
À semelhança dos seus equivalentes na plataforma norte, correspondem a sedimentos
palimpsestos, por vezes quase relíquia, passando a anfotéricos na zona de adjacência com os
depósitos litorais.
C – Depósitos arenosos da plataforma média e externa (DAPME)
São fundamentalmente constituídos por areia, encontrando-se as restantes classes texturais
presentes em quantidades reduzidas. A areia destes depósitos é geralmente fina e muito fina,
apresentando calibragem e assimetria variáveis. Esta fracção é dominada pela componente
biogénica, na qual a classe composicional "outros biogénicos" se encontra, por vezes, presente
em quantidades significativas.
É possível distinguir depósitos setentrionais (enriquecidos em quartzo e menos ricos em
carapaças de foraminíferos) e meridionais (cujas características contrastam com as daqueles).
Estes depósitos correspondem a sedimentos anfotéricos a protéricos, passando a neotéricos
na zona de adjacência aos depósitos litorais.
D – Depósitos areno-cascalhentos do bordo da plataforma (DACBP)
À semelhança dos existentes na plataforma média, apresentam maior desenvolvimento a
norte de Sines. A abundância de partículas biogénicas e terrígenas no cascalho é sensivelmente
idêntica. Estes sedimentos apresentam diminuto conteúdo em finos. A areia, geralmente
grosseira e muito grosseira, é mal calibrada e positivamente assimétrica. A fracção arenosa é
dominada pela componente biogénica, se bem que o quartzo se encontre presente em
quantidades significativas.
As características destes depósitos não podem ser explicadas pelos processos modernos de
fornecimento e distribuição de partículas, encontrando-se mais de acordo com processos e
depósitos litorais imputáveis a períodos de rápido abaixamento do nível relativo do mar, que
terão ocorrido há cerca de 15 a 14 ka. À semelhança dos seus equivalentes que, no sector norte,
se detectam na plataforma externa, correspondem a sedimentos palimpsestos, por vezes quase
relíquia. É possível que parte destes depósitos (quando são constituídos essencialmente por
areias grosseiras e muito grosseiras, com pouco cascalho fino) possam ser classificados como
194
sedimentos protéricos.
As fracções mais grosseiras destes depósitos são essencialmente relíquia. A fracção entre 1
e 2 Ø é anfotérica. As fracções mais finas são neotéricas.
DACBP DABPVCS DLVCS
Q u a r tz o n a a re ia M ic a n a a re ia O u tro s te r r íg e n o s n a
a re iaM o lu s c o s n a a re ia
F o ra m in í f e ro s n aa re ia
O u tro s b io g é n ic o sn a a re ia
G la u c ó n ia n a a re ia O u t ra s p a r t íc u la s n aa re ia
C a s c a lh o b io g é n ic o C a s c a lh o te r r íg e n o S i l te A rg i la
Figura VII.7 – Características médias de depósitos identificados na plataforma sudoeste. DACBP - Depósitos areno-cascalhentos do bordo da plataforma; DABPVCS - Depósitos arenosos do bordo da plataforma e vertente continental superior; DLVCS - Depósitos lodosos da vertente continental superior.
E – Depósitos arenosos do bordo da plataforma e da vertente continental superior
(DABPVCS)
Constituem uma extensa faixa localizada a profundidades geralmente superiores a 150 m.
Trata-se de areias finas e muito finas. O cascalho é praticamente inexistente e a fracção silto-
argilosa é poco abundante.
A classe composicional dominante na areia é constituída pelas carapaças de foraminíferos.
Localmente, no entanto, a glaucónia pode representar mais de metade das partículas incluídas na
fracção arenosa dos sedimentos.
É possível distinguir depósitos setentrionais (enriquecidos em quartzo e menos ricos em
195
carapaças de foraminíferos) e meridionais (cujas características contrastam com as daqueles).
As considerações expendidas sobre os depósitos análogos identificados na plataforma norte
podem ser aplicadas neste sector.
As características observadas indicam que os depósitos relíquia (aparentemente sujeitos a
erosão e formados maioritariamente por partículas “R”) constituem sedimentos palimpsestos e
que os depósitos modernos (aparentemente progradantes e em que a maioria das partículas
pertence à classe “M”) são sedimentos neotéricos com maior ou menor tendência anfotérica. O
carácter das fracções varia de palimpsesto, quas relíquia, nas fracções mais grosseiras, a
neotéricos com maior ou menor tendência anfotérica, nas fracções mais finas da areia.
F - Depósitos lodosos da vertente continental superior (DLVCS)
Localizam-se a profundidades superiores a 300 m. O conteúdo em finos é elevado. A areia,
geralmente fina e muito fina, exibe assimetria negativa e calibragem variável. O cascalho e a
areia apresentam composição predominantemente biogénica. A glaucónia ocorre na areia em
quantidades significativas, correspondendo, por vezes, a cerca de 40% do total de partículas
presentes nesta fracção.
Tal como os seus equivalentes na plataforma norte, estes depósitos correspondem, na sua
maioria, a sedimentos neotéricos com ligeira tendência anfotérica. As fracções mais grosseiras
que constituem estes depósitos são palimpsésticas, quase relíquia. As fracções mais finas são
quase exclusivamente neotéricas. A areia média é anfotérica.
2.3 Plataforma algarvia
A fig. VII.8 esquematiza a distribuição dos depósitos identificados neste sector.
A – Depósitos litorais (DL)
Prolongam-se até cerca dos 20 m de profundidade. São constituídos essencialmente por
areia, encontrando-se as outras classes texturais, quando existentes, presentes em quantidades
muito reduzidas. As areias destes depósitos são geralmente médias e finas, apresentando
calibragem e assimetria variáveis.
A areia apresenta composição predominantemente terrígena (geralmente mais de 70%),
sendo a classe composicional mais abundante a do quartzo. A componente biogénica da areia é
essencialmente constituída por conchas de moluscos, quer inteiras, quer fragmentadas. O
cascalho, quando existe, é predominantemente de origem biogénica.
Tal como os seus equivalentes nos outros sectores estudados, estes depósitos modernos
correspondem a sedimentos neotéricos com ligeira tendência anfotérica.
196
50
150
100
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
7º 40'C. P
ortimão
8º 48'36º 45'
Sagre
s
37º 10' LagosPortimão
Faro
Guadiana
Rocha
Depósitos litorais
Depósitos areno-cascalhentos da plataforma média
Depósitos arenososda plataforma média
Depósitos areno-lodosos daplataforma média e externa
Depósitos arenosos da plataforma externa
Depósitos lodosos davertente continental superior
Depósitos arenosos do bordo da plataforma
Depósitos lodosos daplataforma média e externa
Figura VII.8 – Depósitos identificados na cobertura sedimentar da plataforma algarvia.
B – Depósitos areno-cascalhentos da plataforma média (DACPM)
Distribuem-se por uma faixa praticamente contínua existente na plataforma média.
Caracterizam-se por elevado teor em cascalho, o qual é predominantemente de origem terrígena.
A fracção fina encontra-se, geralmente, ausente. A areia, rica em quartzo e moluscos, é grosseira
ou muito grosseira, apesentando calibragem variável e assimetria positiva.
Estes depósitos, cujas características não podem ser explicadas pelos processos modernos
de fornecimento e distribuição de partículas, correspondem a sedimentos palimpsestos, quase
relíquia, que passam a anfotéricos na zona de adjacência aos depósitos litorais.
C – Depósitos arenosos da plataforma média (DAPM)
Ocorrem apenas a oeste de Faro. São fundamentalmente constituídos por areia,
encontrando-se o cascalho geralmente representado em quantidades vestigiais. A areia destes
depósitos é geralmente média e fina, mal calibrada e exibe assimetria variável. O cascalho é
predominantemente de origem biogénica, tal como a areia.
As partículas que integram estes depósitos modernos são essencialmente da classe "M",
embora exibam quantidades variáveis de partículas "R". A ocorrência e abundância das
partículas "R" presentes nestes depósitos permite clssificá-los como sedimentos neotéricos e, na
ajacência aos depósitos areno-cascalhentos da plataforma média, anfotéricos.
197
DL DACPM DAPM
Quartzo na areia Mica na areia Outros terrígenos naareia
Moluscos na areia
Foraminíferos naareia
Outros biogénicosna areia
Glaucónia na areia Outras partículas naareia
Cascalho biogénico Cascalho terrígeno Silte Argila
Figura VII.9 – Características médias de depósitos identificados na plataforma algarvia. DL - Depósitos litorais; DACPM - Depósitos areno-cascalhentos da plataforma média; DAPM - Depósitos arenosos da plataforma média.
D – Depósitos areno-lodosos da plataforma média e externa (DALPME)
Correspondem a areias bastante lodosas que ocorrem a oriente do canhão de Portimão. A
fracção cascalho, quando existente, exibe composição fundamentalmente biogénica. A areia
destes sedimentos é geralmente fina e muito fina, mal calibrada e negativamente assimétrica,
sendo predominantemente constituída por bioclastos de moluscos e carapaças de foraminíferos.
Estes depósitos modernos são explicáveis pelos processos de fornecimento e distribuição
actuais, correspondendo a sedimentos neotéricos com ligeira tendência anfotérica.
E – Depósitos lodosos da plataforma média e externa (DLPME)
Encontram-se representados a oriente do canhão de Portimão. A fracção cascalho, quando
existe, é predominantemente de origem biogénica. A areia, fina e muito fina, apresenta
198
calibragem moderada e assimetria negativa. A fracção arenosa é dominada pela componente
biogénica, se bem que o quartzo se encontre presente em quantidades significativas.
São sedimentos neotéricos quase puros.
DALPME DLPME DAPE
Q u a r tz o n a a re ia M ic a n a a re ia O u tro s te r r íg e n o s n aa re ia
M o lu s c o s n a a re ia
F o ra m in í f e ro s n aa re ia
O u t ro s b io g é n ic o sn a a re ia
G la u c ó n ia n a a re ia O u tra s p a r t íc u la s n aa re ia
C a s c a lh o b io g é n ic o C a s c a lh o te r r íg e n o S il te A rg i la
Figura VII.10 – Características médias de depósitos identificados na plataforma algarvia. DALPME - Depósitos areno-lodosos da plataforma média e externa; DLPME - Depósitos lodosos da plataforma média e externa; DAPE - Depósitos arenosos da plataforma externa.
F – Depósitos arenosos da plataforma externa (DAPE)
Encontram-se representados a ocidente do canhão de Portimão. Por vezes, a fracção silto-
argilosa encontra-se presente em quantidades significativas, correspondendo, pontualmente, a
cerca de 20% do sedimento. A fracção areia é média e fina, exibindo calibragem e assimetria
variáveis. A fracção cascalho é maioritariamente de origem biogénica, tal como a areia.
As fracções mais grosseiras destes depósitos são constituídas quase exclusivamente por
partículas "R". Quanto mais finas são as fracções granulométricas, maior a abundância de
partículas "M". A areia muito fina é composta quase exclusivamente por partículas "M".
Correspondem a sedimentos protéricos a anfotéricos. As fracções mais grosseiras são
essencialmente relíquia, enquanto que a areia média é anfotérica e as fracções mais finas são
199
anfotéricas com tendência neotérica mais ou menos acentuada.
G – Depósitos arenosos do bordo da plataforma (DABP)
Trata-se de materiais constituídos essencialmente por areia, encontrando-se as restantes
fracções texturais presentes em quantidades significativas. O cascalho é dominado pela
componente biogénica. A fracção arenosa é mal calibrada e apresenta assimetria variável, sendo
predominantemente constituída por bioclastos de moluscos.
DABP DLVCS
Q u a r tz o n a a re ia M ic a n a a re ia O u tro s te r r íg e n o s n a
a re iaM o lu s c o s n a a re ia
F o ra m in í f e ro s n aa re ia
O u tro s b io g é n ic o sn a a re ia
G la u c ó n ia n a a re ia O u t ra s p a r t íc u la s n aa re ia
C a s c a lh o b io g é n ic o C a s c a lh o te r r íg e n o S i l te A rg i la
Figura VII.11 – Características médias de depósitos identificados na plataforma algarvia. DABP - Depósitos arenosos do bordo da plataforma; DLVCS - Depósitos lodosos da vertente continental superior.
As características destes depósitos indicam que constituem sedimentos palimpsestos,
quando são formados maioritariamente por partículas “R”, e neotéricos com maior ou menor
tendência neotérica, quando a maioria das partículas pertence à classe “M”. O carácter das
fracções varia de palimpsesto, quase relíquia, nas fracções mais grosseiras, a neotéricos com
maior ou menor tendência anfotérica, nas fracções mais finas da areia.
200
H – Depósitos lodosos da vertente continental superior (DLVCS)
Localizam-se a profundidades superiores a 150 m. O conteúdo em finos é elevado. A areia,
geralmente fina e muito fina, exibe assimetria negativa e calibragem variável. O cascalho,
quando existente, exibe composição predominantemente biogénica. A areia é também dominada
pelas partículas bioclásticas, em especial carapaças de foraminíferos.
Tal como os seus equivalentes nos outros sectores estudados, correspondem, na sua
maioria, a sedimentos neotéricos com ligeira tendência anfotérica. As fracções mais grosseiras
que constituem estes depósitos são palimpsésticas, quase relíquia. As fracções mais finas são
quase exclusivamente neotéricas. A areia média é anfotérica.
3. Comparação entre os depósitos sedimentares
As principais características dos diferentes tipos de depósitos identificados encontram-se
sintetizadas nos quadros VII.II e VII.III.
Quadro VII.II – Comparação entre algumas caracteristicas dos depósitos das plataformas norte (A), sudoeste (B) e algarvia (C).
Depósitos Sector
A B C
diminuta % de cascalho e finos diminuta % de cascalho e finos diminuta % de cascalho e finos
areia fina e muito fina areia fina e muito fina areia média e fina
calibragem moderada calibragem moderada calibragem variável
litorais assimetria negativa assimetria negativa assimetria variavél
areia terrígena, rica em quartzo areia terrígena, rica em quartzo areia terrígena, rica em quartzo
mica por vezes significativa mica praticamente inexistente mica praticamente inexistente
moluscos dominam biogénicos moluscos dominam biogénicos moluscos dominam biogénicos
elevada % de cascalho terrígeno elevada % de cascalho terrígeno elevada % de cascalho terrígeno
finos inexistentes finos inexistentes finos inexistentes
areno-cascalhentos areia grosseira e muito grosseira areia grosseira e muito grosseira areia grosseia e muito grosseira
da plataforma média calibragem moderada calibragem variável calibragem variável
assimetria positiva assimetria positiva assimetria positiva
areia rica em quartzo areia rica em quatzo e moluscos areia rica em quartzo e moluscos
reduzido teor de cascalho reduzido teor de cascalho reduzido teor de cascalho
reduzido teor de finos reduzido teor de finos finos por vezes significativos
arenosos areia fina areia fina e muito fina areia média e fina
da plataforma média calibragem moderada calibragem variavél calibragem má
(e externa, em B) assimetria negativa assimetria variável assimetria variável
areia rica em quartzo areia biogénica areia biogénica
micas por vezes importantes micas inexistentes micas inexistentes
Quadro VII.II – Comparação entre algumas caracteristicas dos depósitos das plataformas norte (A), sudoeste (B) e algarvia (C).
201
Depósitos Sector
A B C
areno-siltosos da elevado conteúdo em silte - elevado conteúdo em silte e argila
plataforma média cascalho geralmente ausente - cascalho geralmente ausente
(A) ou areno- areias finas e muito finas - areias finas e muito finas
lodosos da plataforma calbragem variável - calibragem má
média e externa assimetria negativa - assimetria negativa
(C) areia rica em quartzo e micas - areia biogénica
cascalho biogénico reduzido teor em cascalho cascalho biogénico
arenosos finos por vezes significativos reduzido teor de finos finos por vezes significativos
da plataforma areias finas areia fina e muito fina areia média e fina
externa (e média, calbragem moderada calibragem variavél calibragem variável
em B) assimetria negativa assimetria variável assimetria variável
areia biogénica areia biogénica areia biogénica
cascalho biogénico - cascalho biogénico
lodosos elevado teor em finos - elevado teor em finos
da plataforma areias fina e muito fina - areia fina e muito fina
média e calibragem boa e moderada - calibragem moderada
externa assimetria positiva - Assimetria negativa
areia terrígena, rica em micas - areia biogénica
elevado teor em cascalho elevado teor em cascalho -
areno-cascalhentos cascalho terrígeno e biogénico cascalho terrígeno e biogénico -
da plataforma finos pouco abundantes finos pouco abundantes -
externa (A) ou areia grosseira e muito grosseira areia grosseira e muito grosseira -
do bordo da calibragem moderada a má calibragem moderada a má -
plataforma (B) assimetria positiva assimetria positiva -
areia biogénica areia biogénica -
reduzido teor em cascalho cascalho inexistente Cascalho significativo
reduzido teor em finos finos pouco abundantes finos significativos
arenosos do areia fina e muito fina areia fina e muito fina areia grosseira a fina
bordo da calibragem variável calibragem moderada e má Calibragem má
plataforma assimetria variável assimetria variável Assimetria variável
areia biogénica areia biogénica Areia biogénica
glaucónia por vezes significativa glaucónia por vezes significativa glaucónia por vezes significativa
elevado teor em finos elevado teor em finos Elevado teor em finos
cascalho biogénico cascalho biogénico Cascalho biogénico
lodosos areia muito e muito fina areia muito e muito fina areia muito e muito fina
da vertente calibragem variável calibragem variável Calibragem variável
continental assimetria negativa assimetria negativa Assimetria negativa
superior areia biogénica areia biogénica Areia biogénica
mica significativa mica inexistente Mica inexistente
glaucónia por vezes significativa glaucónia por vezes significativa glaucónia não significativa
A análise dos referidos quadros e a comparação dos diagramas ilustrativos das
características médias dos depósitos cartografados permite confirmar que os processos de
distribuição responsáveis pela constituição de cada um dos diferentes tipos são idênticos nos
três sectores estudados, não obstante actuarem com intensidades diferentes. Como exemplo do
que se afirmou, as diferenças no teor em materiais de dimensão inferior a 63 µm entre os
202
depósitos cartografados nos dois troços da plataforma ocidental e os seus equivalentes
identificados no Algarve deverão encontrar-se relacionadas com a diferença de níveis
energéticos actuantes junto ao fundo. Por outro lado, as diferenças entre depósitos análogos
identificados nos referidos sectores (no teor em micas, por exemplo) deverão, no essencial, ser
imputáveis à actuação dos processos responsáveis pelo fornecimento de partículas ao
depositário.
4. Súmula
1. A integração das características granulométricas e composicionais das amostras
permitiu identificar diversos depósitos sedimentares.
Foram identificados depósitos areno-cascalhentos na plataforma média (nos três sectores
estudados), na plataforma externa (na plataforma norte) e no bordo da plataforma (na plataforma
sudoeste). Os depósitos arenosos distribuem-se desde a zona litoral até à vertente continental
superior. Na plataforma norte detectou-se a existência de depósitos areno-siltosos. Na
plataforma média e externa e na vertente continental superior dos três sectores estudados foram
cartografados depósitos lodosos.
2. Os depósitos lodosos, areno-lodosos e areno-siltosos correspondem a sedimentos
neotéricos com ligeira tendência anfotérica. Os depósitos arenosos correspondem a sedimentos
que variam desde neotéricos (na plataforma interna e em parte da média) a palimpsestos (em
parte do bordo da plataforma e da vertente continental superior). Os depósitos areno-
cascalhentos são sedimentos anfotéricos a palimpsestos.
3. As fracções granulométricas mais grosseiras têm características palimpsésticas, chegando
a ser relíquias ou protéricas; a fracção intermédia é anfotérica; as fracções mais finas da areia
são geralmente neotéricas, embora com tendência anfotérica variável; as fracções silte e argila
são, provavelmente, neotéricas.
203
VIII. VARIAÇÕES DO NÍVEL DO MAR
1. Introdução
O padrão de distribuição dos sedimentos na plataforma continental portuguesa é
fundamentalmente condicionado pela dinâmica sedimentar actual e pela existência de
depósitos sedimentares constituídos em períodos em que a configuração dos processos de
fornecimento e distribuição de partículas era substancialmente diferente da actual.
No decurso da elevação do nível do mar que constituiu a transgressão flandriana, toda a
plataforma continental emersa aquando do último glaciário esteve, num momento ou noutro,
associada a litorais. Contudo, nem todos os paleolitorais deixaram, aparentemente, vestígios
evidentes na plataforma continental, pois tal depende, entre outros factores, das taxas de
variação do nível médio do mar, das razões de elevação ou subsidência dos continentes, das
litologias, do fornecimento sedimentar e da pré-existência de formas litorais.
Importa, assim, conjugar elementos de diversa natureza que constituam indícios com
elevada probabilidade de se encontrarem associados a paleolitorais. Torna-se, de igual modo,
relevante para o mesmo objectivo analisar brevemente o significado das diferentes curvas de
variação do nível do mar que têm sido propostas.
2. Variações do nível do mar
A uma escala global, o nível médio do mar depende essencialmente de três factores (Titus,
1986): a) do volume total de água presente nas bacias oceânicas; b) das temperaturas da água a
diferentes profundidades; e c) da forma das bacias oceânicas. Qualquer variação de um destes
factores é responsável por uma correspondente modificação do referido nível.
Os processos responsáveis pela modificação dos factores que influenciam o nível médio
do mar têm sido amplamente discutidos na bibliografia (p. ex.: Fairbridge, 1961; Mörner,
1976, 1980; Clark et al., 1978; Abreu, 1980; Peltier, 1980; Chappel et al., 1982; Barnett,
1983; Gornitz & Lebedeff, 1987; Sahagian, 1988; Douglas, 1991; Wagner & Cheney, 1992).
Entre os processos mais importantes podem referir-se os glacio-eustáticos (variações do
volume de água no oceano determinadas por mudanças climáticas e, consequentemente, do
volume das calotes glaciárias e dos glaciares de montanha), os glacio-isostáticos (ajustamentos
litosféricos causados por variações das massas glaciárias), os tectono-eustáticos (variações
associadas a movimentos verticais e horizontais da litosfera), os hidro-isostáticos
(ajustamentos litosféricos devidos a variações da espessura da coluna de água), os sedimento-
eustáticos (variações do nível do mar causadas por modificações da capacidade das bacias
oceânicas devidas à acumulação de sedimentos) e os geoido-eustáticos (variações do nível do
204
mar geodésico provocadas por deformações no relevo do geoide devidas a variações
gravitacionais e rotacionais).
A complexidade da problemática referente às variações, ao longo do tempo, do nível do
mar numa plataforma continental é ainda ampliada pelo facto dos processos envolvidos se
interinfluenciarem. Por exemplo, o glacio-eustatismo provoca respostas glacio-isostáticas a
nível mega-regional, e respostas hidro-isostáticas e geoido-eustáticas a nível global, as quais
podem infuenciar os processos sedimento-eustáticos e tectono-eustáticos. Além disso,
verificam-se, frequentemente, efeitos de ressonância, o que torna mais complicada a análise do
problema na sua totalidade. Por exemplo, um aquecimento climático generalizado induz fusão
de gelos nas áreas glaciadas, o que provoca diminuição do albedo da Terra, que conduz a
maior absorção da radiação solar e ao correspondente aquecimento climático. O aquecimento
global da atmosfera terreste pode, por seu turno, conduzir à expansão térmica das camadas
superiores dos oceanos e à fusão dos glaciares (Hansen et al., 1981; Wigley & Raper, 1987) e
à elevação do nível médio do mar.
A origem das modificações climático-eustáticas profundas que ocorreram no Quaternário
encontra-se relacionada com a periodicidade de determinados fenómenos astronómicos. Tais
flutuações são regidas por variações na órbita e inclinação do eixo da Terra. Estas incluem
presentemente os seguintes ciclos principais (Miall, 1996):
1 – Variações na excentricidade orbital, de acordo com as quais a forma da órbita da Terra
passa de circular a elíptica alternadamente em períodos de 2 035 400, 412 800, 128 200, 99
500, 94 900 e 54 000 anos. Os períodos mais importantes situam-se entre 413 000 e 100 000
anos;
2 – Modificações de cerca de 3º na obliquidade da elíptica, variando a inclinação do eixo da
Terra entre 21,5º e 24,5º com uma periodicidade de 41 000 anos, em períodos menores de 53
600 e 39 700 anos;
3 – Precessão dos equinócios, em consequência da rotação da órbita terrestre com um período
maior de 23 700 anos, afectando os momentos de periélio (posição da Terra mais próxima do
Sol numa órbita elíptica), que varia com um período de 19 000 – 21 000 anos.
Aproximadamente a cada 10 500 anos a posição inverte-se, regressando à posição inicial ao
completar o ciclo maior
A acção conjugada destes fenómenos pode afectar a quantidade de radiação recebida pela
superfície terrestre e provocar flutuações climáticas significativas que desencadeiam
importantes oscilações glacio-eustáticas. Geralmente considera-se que estas modificações
ocorrem segundo um padrão de ciclicidade de 100 000, 43 000 e 19 000 anos. Estes ciclos
modelam-se entre si durante o Quaternário, sendo possível estimar as seguintes ciclicidades,
recorrendo a estudos isotópicos:
1 – Ciclos de excentricidade de 100 000 anos;
2 – Ciclos de precessão de 20 000 anos;
205
3 – Ciclos de obliquidade de aproximadamente 40 000 anos;
4 – Eventos de Heinrich de 10 000 a 15 000 anos;
5 – Oscilações de Dansgaar-Oesgher de 1 000 anos.
O estudo de sequências deposicionais dos últimos 24 000 anos (Hernández-Molina et al.,
1994) permitiu ainda deteminar a existência de outros ciclos de periodicidade inferior ao ciclo
de precessão de 20 000 anos definido por Milankovich:
1 – Ciclos P de 4 500 anos;
2 – Ciclos h de 2 200 a 960 anos;
3 – Ciclos c de 700 a 500 anos.
Segundo Hernández-Molina et al. (1994), a interacção deste ciclos é responsável pela
evolução altimétrica do nível do mar, controlando assim a ocorrência de transgressões e
regressões.
Embora existam diversas tentativas para estabelecimento de curvas de variação eustática
abrangendo as últimas duas dezenas de milhar de anos, é extraordinariamente difícil
determinar com rigor tais variações. Com efeito, para quantificar variações absolutas do nível
do mar, é necessário dispor-se de um ponto de referência fixo. Como não existem áreas litorais
verdadeiramente estáveis, não é possível encontrar pontos de referência absolutos, e, por
consequência, é impossível estabelecer curvas que traduzam verdadeiramente as variações
eustáticas.
Como é sabido, os continentes estão sujeitos a movimentos isostáticos e a outros
movimentos tectónicos, cuja intensidade varia no tempo e de local para local. Assim, as curvas
de variação do nível do mar apenas reflectem as variações relativas do mar em relação ao
continente na região para a qual foram determinadas, não podendo ser aplicadas directamente a
outros locais. Porém, apesar destas curvas serem específicas das áreas para as quais foram
determinadas, é de esperar, devido à zonação geográfica do Globo, que exista um
comportamento análogo na resposta à deglaciação flandriana.
De entre as diversas tentativas de modelação das variações do nível do mar provocadas
pela deglaciação, a que, aparentemente, revela melhor concordância com as curvas de variação
do nível do mar referentes a diferentes áreas é a correspondente ao modelo reológico de Clark
(Clark et al., 1978; Clark, 1980; Lingle & Clark, 1985; Colman et al., 1994). Os resultados
obtidos com a aplicação deste modelo indicam que existe uma zonação (fig. VIII.1), em que
cada zona apresenta curvas de variação do nível do mar comparáveis. Esta semelhança de
comportamento encontra-se claramente evidenciada na fig. VIII.2, que representa curvas de
variação do nível do mar propostas para diversas regiões que, à semelhança da plataforma
continental portuguesa, se localizam na zona III do modelo de Clark.
As curvas de variação do nível do mar pretendem expressar, em termos de tempo e de
profundidade actual, a evolução altimétrica dos paleolitorais. Para o seu estabelecimento é
necessário dispor de materiais de génese litoral e que não tenham sido deslocados após a sua
206
formação, de métodos de datação suficientemente precisos, e de número suficientemente
elevado de datações.
Figura VIII.1 – Distribuição espacial das zonas do modelo de Clark et al. (1978).
Alguns aspectos relacionados com a idade e a profundidade dos materiais que servem de
base ao estabelecimento de curvas de variação do nível relativo do mar são analisados com
algum pormenor em Dias (1987). Desta análise pode, resumidamente, concluir-se o seguinte:
a) embora a datação de conchas seja um dos métodos mais utilizados, é bastante falível, visto
obrigar à escolha de espécies cujo habitat corresponda apenas à zona entre-marés e por ser
frequentemente difícil averiguar se uma concha sofreu transporte para profundidades diferentes
daquelas em que se desenvolveu;
b) a validade do método de datação por 14 C (o mais divulgado para materiais do Quaternário
recente) depende dos pressupostos básicos em que se baseia a sua utilização. É ainda de referir
a possível ocorrência de contaminação laboratorial ou in situ, de absorção preferencial de um
tipo específico de isótopo de carbono, e da existência de deseqilíbrios entre a relação 14C/12C
do ambiente em que o material datado se constituiu e da atmosfera;
c) os problemas relacionados com o material sobre o qual incidem as datações e com o método
de datação conduzem que as curvas de variação do nível do mar sejam bastante questionáveis,
uma vez que tanto as profundidades como as idades utilizadas no seu estabelecimento estão
muitas vezes afectadas por indeterminações fortes. Contudo, tal não significa que tais curvas
não sejam válidas e úteis, mas apenas que a sua análise deva ser feita com alguma precaução,
dado o seu carácter interpretativo e não factual. Na análise de tais curvas deve ainda ter-se em
atenção o número e distribuição dos pontos (bem como as respectivas medidas de
indeterminação) a partir dos quais são traçadas.
3. Transgressões e regressões
O comportamento transgressivo ou regressivo é função directa de dois parâmetros
fundamentais: a variação do nível do mar e a quantidade de sedimentos fornecidos ao litoral. A
modelação conceptual da evolução do litoral, tendo como base a variação destes parâmetros,
207
tem sido objecto de numerosos trabalhos (p. ex.: Curray, 1964, 1969; Swift, 1976a; Swift &
Thorne, 1991).
Figura VIII.2 – Curvas de variação do nível do mar propostas para o Golfo do México e para a costa atlântica francesa, curvas teóricas previstas por modelação numérica para estas regiões e curva eustática.
De um modo geral, a rápida elevação do nível do mar provoca migração rápida da linha de
costa em direcção ao continente (transgressão), não tendo o litoral, normalmente, tempo para
entrar em equilíbrio com as condições ambientais. Em resposta à subida do nível do mar, os
estuários reduzem as exportações de materiais para a plataforma, de modo a adaptarem-se ao
novo nível de base. Convertem-se assim, preferencialmente, em locais de recepção e
deposição de sedimentos (nomeadamente de materiais provenientes da deriva litoral e dos
rios). Em consequência, a plataforma continental apresenta um regime de sedimentação
predominantemente autóctone. Contudo, se a taxa de acumulação litoral for superior à de
subida do nível marinho, a linha de costa tende a migrar em sentido inverso.
208
Pelo contrário, a diminuição rápida do nível do mar traduz-se, geralmente, em migração
da linha de costa no sentido do oceano (regressão). À semelhança do caso anterior, o litoral
não tem, normalmente, oportunidade de entrar em equilíbrio. Nestes períodos rapidamente
regressivos verifica-se débito importante de carga sólida para a plataforma e deposição de
materiais grosseiros nas zonas litorais. A plataforma é, por consequência, lugar de
sedimentação predominantemente alóctone. Estes depósitos mais grosseiros tendem a
constituir acidentes morfológicos que têm probabilidade de subsistir se a este período
regressivo se suceder transgressão rápida. Se tal acontecer, estes depósitos vão-se localizando
progessiva mas rapidamente em meios energéticos mais baixos, verificando-se apenas
pequenas modificações nos sedimentos. É de notar que pode existir transgressão em períodos
de abaixmento do nível do mar, quando, por exemplo, a erosão litoral se processa a ritmo
superior ao do referido abaixamento.
A estabilização ou variação lenta do nivel do mar pode traduzir-se em comportamento
regressivo ou transgressivo, dependendo da quantidade de sedimentos debitados para o litoral.
Neste último caso, a possibilidade da costa entrar em equilíbrio é maior e as formas de
acumulação litoral têm condições para apresentar maior desenvolvimento. Se, após
constituição destas formas, ocorrer elevação rápida do nível do mar, existe elevada
probabilidade da morfologia litoral não ser completamente obliterada, permanecendo na
plataforma como relíquia desses paleolitorais.
4. Curvas de variações do nível do mar em Portugal
A primeira (e única, até ao momento) proposta de variação do nível do mar em Portugal,
abrangendo os últimos 18 ka, foi publicada por Dias (1985, 1987). Foram essencialmente
utilizados dados referentes aos corpos sedimentares e aos elementos morfológicos
reconhecidos na plataforma, bem como as suas relações genéticas e de idade relativa, tendo o
modelo assim concebido sido parcialmente confirmado por algumas datações de 14C.
Esta curva foi estabelecida para a plataforma norte de Portugal (fig. IV.6). No entanto,
trabalhos incindindo sobre outros sectores da plataforma portuguesa (p. ex.: Moita, 1971,
1986; Monteiro & Moita, 1971; Monteiro et al., 1982; Quevauviller & Moita, 1986;
Quevauviller, 1987) permitiram confirmar, em princípio, a aplicabilidade desta curva à
totalidade da plataforma (Dias et al., 1997).
No entanto, os dados referentes às variações holocénicas do nível do mar publicados por
Granja (1990), Moreira & Psuty (1993), Bettencourt (1994), Alves (1996) e Granja & De
Groot (1996), entre outros autores, dão indicações contraditórias sobre a estabilização do nível
do mar a cotas próximas da actual.
A análise destas últimas variações deve ser efectuada com precaução. Efectivamente, num
ambiente em que a amplitude da maré se aproxima dos 4 m, em que a onda significativa dos
temporais com período de retorno de 5 anos é, no Cabo da Roca, superior a 9 m (Pires &
209
Pessanha, 1986), e em que a sobreelevação de índole meteorológica pode atingir, anualmente,
valores próximos, ou mesmo superiores, a 1 m (Taborda & Dias, 1992a; Gama, 1996),
verifica-se que, mesmo actualmente, os indicadores do nível médio do mar se encontram
dispersos por um espectro de cotas cuja variação é, pelo menos, de 4m. Como não há razões
objectivas para considerar que estas características ambientais sofreram, no decurso do
Holocénico, modificações radicais, há que atribuir, em princípio, a cada vestígio de nível
marinho detectado, uma margem de imprecisão de, pelo menos, 2 a 4 m (principalmente
quando há contrastes litológicos ou outras superfícies nítidas de fraqueza estrutural). A este
propósito refere-se, por exemplo, que as cotas das plataformas de abrasão marinha podem
localizar-se mais de 3 m em torno do nível médio do mar, e que a parte superior dos sapais no
interior dos estuários e das lagumas pode estar localizada alguns metros acima da cota média
do nível da água. Se, supletivamente, se tiver em atenção a influência inegável da neotectónica,
verifica-se que muitas das discussões em torno dos níveis marinhos holocénicos perdem
consistência, principalmente quando essas discussões têm por base uma hipotética precisão
métrica ou inferior, e quando se não tem em atenção os aspectos relacionados com regressões
do tipo deposicional e transgressões do tipo erosivo (em que o nível do mar se mantém
estacionário ou em subida lenta).
Ao contrário da metodologia utilizada por Dias (1985, 1987) para a plataforma
setentrional, Bettencourt (1994) utilizou exclusivamente datações por 14C para propor uma
curva para o sotavento algarvio (fig. VIII.3). As datações foram realizadas sobre clastos de
lamelibrânquios (p. ex.: Spisula salida, Cerastoderma edule, Abra alba e Loripes lacteus) e de
gastrópodes (p. ex.: Bittium reticulatum, Turritela communis e Nassarius reticulatus)
provenientes de sondagens efectuadas no interior da ria Formosa.
Figura VIII.3 – Curva de variação do nível do mar no sotavento algarvio (Bettencourt, 1994).
210
A variabilidade vertical das datações e, consequentemente, da curva deve-se, segundo o
próprio autor, à diversidade de habitats dos organismos que foram utilizados nas datações. De
facto, embora algumas das espécies utilizadas sejam comuns ou frequentes na Ria Formosa,
foram também identificadas em biocenoses no substrato móvel da plataforma continental
algarvia, a profundidades que podem atingir os 40 m (Marques, 1987). Este facto realça a
necessidade, já anteriormente referida, de extremo cuidado na análise destas curvas.
O grau de incerteza inerente a curvas de variação do nível do mar baseadas em datações
por 14C salienta a necessidade de se dispor de um número significativamente elevado de
amostras de modo a aumentar a confiança nos resultados obtidos.
Esta metodologia foi também utilizada por Moreira & Psuty (1993) no estudo sobre a
sedimentação holocénica no estuário do Sado. As datações foram efectuadas a partir do
carbono da fracção orgânica e/ou dos carbonatos orgânicos provenientes de conchas e seus
fragmentos, tendo sido datadas 4 amostras. Estes autores concluíram que a transgressão
holocénica estacionou há cerca de 2 300 anos.
Granja & de Groot (1996) publicaram resultados de datações radiocronológicas de
materiais colhidos no litoral de Cortegaça (a sul de Espinho). Contudo, estes resultados apenas
foram utilizados para salientar a importância da neotectónica.
5. Indícios sedimentológicos
Foram anteriormente analisados alguns indícios sedimentológicos que se encontram,
presumivelmente, associados a paleolitorais, e que são constituídos por depósitos areno-
cascalhentos, nomeadamente por aqueles que exibem uma quantidade significativa de
partículas "relíquia". Existem, porém, outras evidências sedimentológicas da existência de
paleolitorais, as quais se referem, nomeadamente, à granulometria dos sedimentos e à sua
composição.
Junto à costa verifica-se actualmente tendência para a deposição preferencial de areias
médias. A maior distância da costa (e a maior profundidade), regista-se a ocorrência de uma
transição para uma faixa de material mais fino, correspondente a um depósito progradante, o
qual é claramente identificável nos perfis de reflexão sísmica e que se sobrepõe a areias
relíquia, mais grosseiras.
Não é conhecida a taxa de deposição destas areias mais finas. Parece, porém lícito, supôr
que este depósito progradante apenas se forma em períodos durante os quais o nível do mar se
manteve estacionário. Assim, a presença de tais depósitos deverá constituir um critério a
considerar na identifição de períodos de estabilização do nível marinho.
Este critério de identificação baseia-se nos seguintes pressupostos: a) uma elevação
posterior ao período durante o qual o nível marinho se manteve estacionário apenas provoca a
erosão parcial do depósito anteriormente formado, o qual não foi totalmente obliterado pela
sedimentação associada a tal elevação; b) a tendência atrás referida e que se verifica
211
actualmente ocorreu durante a totalidade do período de evolução pós-glaciária da plataforma; e
c) não se registou variação significativa do tipo de abastecimento do litoral ao longo do tempo.
No entanto, a deposição actual de sedimentos mais finos provoca, certamente, um "ruído
de fundo" que deve ser eliminado. Nesse sentido, optou-se por não utilizar a totalidade das
médias granulométricas das areias, mas apenas as mais grosseiras. Por esta razão, nos
diagramas das figs. VIII.4 e 5 não foram incluídas a totalidade das médias existentes em cada
intervalo de profundidade, mas apenas os 10% mais grosseiros.
A evolução pós-glaciária da plataforma foi expressa, como se disse atrás, por Dias (1985)
através de uma curva de variação do nível do mar (fig. IV.6). A comparação de diagramas que
representem a variação da média granulométrica da areia com a profundidade, para diferentes
sectores da plataforma, permite, em princípio, verificar se a curva proposta por aquele autor
para a plataforma norte de Portugal é exclusiva desta região ou, pelo contrário, é aplicável a
outras regiões da plataforma continental ou mesmo à totalidade da mesma.
A análise destes diagramas deve ser feita com precaução. Efectivamente, devemos ter em
atenção a densidade de amostragem, a representatividade dos pontos utilizados na construção
dos mesmos e a amplitude das classes de amostragem. Não obstante, a sua utilização revela-se,
como se referiu, bastante útil na detecção de profundidades aproximadas da ocorrência de
vestígios de paleolitorais.
A análise da fig. VIII.4 indica uma relativa uniformidade de comportamento nos
diferentes sectores estudados no que respeita às profundidades a que se encontram associadas
as médias granulométricas mais grosseiras (quadro VIII.I).
Quadro VIII.I – Profundidades aproximadas a que se detectam indícios granulométricos de paleolitorais com base na variação da média da areia.
Sector da plataforma Profundidades
Globalidade dos sectores estudados 60 90 120 140
Plataforma norte 60 90 120 140
Plataforma sudoeste 70 100 120 140
Plataforma algarvia 30 70 90 120 150
Os gráficos incluídos nesta figura são compatíveis com uma elevação do nível do mar
mais lenta até profundidades actuais da ordem dos 90 m e mais rápida em período subsequente.
A existência de diferenças significativas nos sectores estudados permite considerar a
divisão dos mesmos em sub-sectores. Os diagramas da fig. VIII.5 permitem averiguar se o
comportamento atrás referido se mantém quando se consideram estes sub-sectores.
GLOBALIDADE DOS SECTORES
-0,5
0
0,5
1
1,5
30 60 90 120 150 prof (m)
PLATAFORMA NORTE
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
30 60 90 120 150
prof (m) PLATAFORMA SUDOESTE
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
30 60 90 120 150
prof (m)
PLATAFORMA ALGARVIA
0
0,5
1
1,5
2
30 60 90 120 150
prof (m)
Figura VIII.5 – Variação da média granulométrica da areia com a profundidade.
212
a
-0,5
0,5
1,5
2,5
30 60 90 120 150 prof (m)
b
-0,5
0,5
1,5
2,5
30 60 90 120 150
prof(m)
c
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
30 60 90 120 150
prof (m)
d
-0,5
0,5
1,5
2,5
30 60 90 120 150
prof (m)
e
0
0,5
1
1,5
2
30 60 90 120 150
prof (m)
f
0
1
2
3
30 60 90 120 150
prof (m)
Figura VIII.6 – Variação da média granulométrica da areia com a profundidade em diferentes sectores da plataforma: a - a norte de Espinho; b - entre Espinho e o cabo Mondego; c - entre o canhão de Setúbal e Sines; d - entre Sines e o cabo de S. Vicente; e - Algarve ocidental; f - Algarve oriental.
213
214
Para a construção destes diagramas, a plataforma norte foi dividida em dois sectores,
separados pelo paralelo de Espinho, correspondendo a diferenças na densidade de drenagem,
na largura e orientação da plataforma e no estado de abarrancamento do bordo da mesma.
A
subdivisão da plataforma sudoeste foi efectuada atendendo ao grau de definição do bordo da
plataforma. Foram ainda considerados dois sectores na plataforma algarvia, em função da
largura da mesma e do tipo de litoral (arenoso ou em arriba). A análise desta figura evidencia
um comportamento análogo ao anteriormente referido (quadro VIII.II)
Quadro VIII.II – Profundidades aproximadas a que se detectam indícios granulométricos de paleolitorais em diferentes sectores da plataforma, com base na variação da média da areia.
Sector da plataforma Profundidades
A norte de Espinho 20 60 90 130
Entre Espinho e o cabo Mondego 30 60 90 120 140
Entre o canhão de Setúbal e Sines 50 100 130 150
Entre Sines e o cabo de S. Vicente 30 60 80 130 140
Plataforma algarvia ocidental 30 60 90 120 150
Plataforma algarvia oriental 30 70 100 120 150
O critério utilizado na identifição de períodos de estabilização do nível marinho encontra-
se bem marcado no sector entre Espinho e o cabo Mondego. Este sector (caracterizado, entre
outros aspectos, pela ausência de afloramentos rochosos na plataforma interna, pelo
fornecimento apreciável de sedimentos não consolidados e por significativos níveis energéticos
actuantes junto ao fundo) é, aparentemente, aquele em que a aplicação da metodologia descrita
conduz a melhores resultados.
Refira-se que o aspecto geral dos diagramas incluídos na fig. VIII.5 pode também
encontrar-se relacionado com diferenças nos processos de fornecimento e com a existência de
"patamares" energéticos, os quais determinam, em última análise, as taxas relativas de erosão e
acumulação prevalecentes numa determinada área.
A análise conjunta das figs. VIII.4 e VIII.5 sugere que os indícios granulométricos da
existência de paleolitorais na plataforma continental portuguesa são detectados a
profundidades
semelhantes nos sectores estudados, independentemente das características específicas de cada
um. Tal facto sugere que a curva estabelecida por Dias (1985, 1987) para a variação do nível
do mar na plataforma setentional portuguesa (e, consequentemente, o esquema de evolução
pós-glaciária proposto pelo mesmo autor em 1987) é aplicável, nos seus traços gerais, às
plataformas alentejana e algarvia.
215
A composição da areia é também, de igual modo, susceptível de fornecer indicações
relevantes sobre a localização de paleolitorais.
Foram identificados alguns bioclastos de coraliários e de briozoários 1 da classe "R"
(relíquia) presentes em sedimentos ocorrentes na plataforma média e na plataforma externa a
sul de Sines. Os organismos identificados (Sertella e Myriapora, entre outros) correspondem,
provavelmente, a fauna existente a profundidades que não ultrapassariam os 30 m. Nestas
circunstâncias, os referidos organismos testemunhariam paleolitorais existentes na plataforma
média e na externa.
Os fragmentos do que aparenta ser "beach-rock" (fig. VIII.6) podem, de igual modo,
constituir indícios da presença de antigos litorais. Como foi referido em capítulo anterior, o
tipo de partículas e o seu estado de cimentação são compatíveis com formação a partir de
areias de praia, embora não seja de excluir a hipótese de terem proveniência em dunas
consolidadas. Neste último caso, corresponderiam a antigos sistemas praia-duna consolidados.
É possível que parte destes fragmentos testemunhem um antigo litoral, que se teria
constituído quando o nível do mar se encontrava a cotas compreendidas entre os actuais –40 m
e -60 m. Alguns destes fragmentos encontram-se, aparentemente, em relação espacial com
acumulações arenosas eólicas identificadas por Pereira (1987) no litoral do Alentejo e do
Algarve.
6. Traços morfológicos
A zona litoral é a mais energética da plataforma continental. É, portanto, aquela em que as
modificações morfológicas são, provavelmente, maiores. Em princípio, a maior probabilidade
de conservação das formas costeiras ocorre quando se verificou inflexão do comportamento do
nível do mar, sendo a tendência de descida ou de estabilidade substituída pela de elevação
rápida, sem emersão posterior. Com efeito, neste caso, o nível relativo do mar manteve-se mais
tempo à mesma cota, possibilitando a geração de formas mais bem definidas, as quais, devido
à submersão rápida e consequente diminuição dos níveis energéticos aí ocorrentes, tiveram
maior probabilidade de não serem destruídas. A não emersão posterior garante que os níveis
energéticos se mantiveram provavelmente baixos, e, consequentemente, não destrutivos dessas
formas originadas em ambientes de alta energia.
A morfologia litoral é caracterizada pela existência de formas de erosão e de acumulação.
São, assim, traços dessas formas que se devem pesquisar na plataforma no sentido de poder
deduzir a localização de paleolitorais.
Os traços morfológicos detectáveis na plataforma continental correspondem
genericamente a rupturas de pendor, terraços, arribas e cordões litorais. Os autores que os
analisaram (p. ex.: Gierloff-Emden et al., 1970; Musellec, 1974; Baldy, 1977; Dias, 1987;
Rodrigues et al., 1991;
1 Identificação efectuada pelo saudoso Prof. Luís Saldanha.
216
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
2
4
6
8
1
1
1
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha "Beach rock" detectada
Figura VIII.6 – Áreas na quais foi detectada a presença de possível "beach rock".
217
Roque, 1998) atribuíram à maioria destes traços uma génese relacionada com a migração da
linha de costa nos últimos 18 ka. É de assinalar que os elementos cartografados por Rodrigues
& Dias (1989) são os únicos que foram detectados na base da cobertura sedimentar.
As arribas, os terraços e os cordões litorais formaram-se em períodos em que o nível
relativo do mar permaneceu estacionário durante tempo suficiente para permitir a modelação
por erosão (nos dois primeiros casos) ou por acumulação (no caso dos cordões litorais).
Os terraços podem ter géneses diversas e encontrar-se relacionados com: a) superfícies
estruturais; b) abrasão marinha; c) troços inferiores, aplanados, das praias submarinas. Outros
encontram-se, provavelmente, relacionados com dois ou mais destes factores.
As rupturas de pendor, intersecções de dois planos que correspondem a superfícies de
declive diferente, têm origem provavelmente relacionada com a interpenetração de perfis de
praia correspondentes a diferentes níveis relativos do mar (Froidefond, 1982; Dias, 1987).
As profundidades a que os diferentes autores identificaram os referidos acidentes
morfológicos são, em metros, as que constam do quadro VIII.III.
Quadro VIII.III – Elementos morfológicos identificados nos sectores estudados.
Traço morfológico Autor Profundidade Terraços Gierloff-Emden et al. (1970) 7,16,20,67,82,97-101,111-118,127,145 Terraços Musellec (1974) 40,65,80,90-100,140 Terraços Baldy (1977) 45,65,90-97,111-125 Terraços Dias (1987) 30,40-45,60-65,100-105,120 Terraços Rodrigues & Dias (1989) 90,100
Rupturas de pendor Quevauviller (1986a) 50-70,100,160 Rupturas de pendor Dias (1987) 30-40, 50-90,90-115,125-145 Rupturas de pendor Rodrigues & Dias (1989) 90,100,110,130,140 Rupturas de pendor Roque (1998) 10
Cordões litorais Vanney & Mougenot (1981) 15-20,35-40,60-70,80-85,90-120,140-150Cordões litorais Dias (1987) 45,75,110,130
Arribas Rodrigues & Dias (1989) 60-70,100,125,140,170 Arribas Dias (1987) 100
Estes acidentes morfológicos distribuem-se preferencialmente entre os 60 e os 70 m e
entre os 90 e os 110 m de profundidade (fig. VIII.7). De uma maneira geral, esta distribuição
concorda com a curva de variação do nível do mar proposta para a plataforma continental
portuguesa setentrional e com as profundidades a que foram detectados indícios
granulométicos de paleolitorais.
218
Profundidade (m)
Núm
ero
de tr
aços
mor
foló
gico
s
0
2
4
6
8
10
15 35 55 75 95 115 135 155 175
Figura VIII.7 – Distribuição dos traços morfológicos por classes de profundidade.
Os traços morfológicos submersos a profundidades entre 40 e 60 m são muito abundantes
e encontram-se bastante bem conservados. Nos últimos anos, têm vindo a ser observados
através do recurso a veículos de operação remota (p. ex.: Rodrigues et al., 1995b). Estas
formas ter-se-iam mantido sem degradação apreciável devido à elevação muito rápida do nível
do mar que se verificou após o Dryas recente (Dias et al., 1997).
7. Mapa de pendores
A cartografia dos pendores da plataforma continental fornece informações
complementares das que foram anteriormente referidas. Com efeito, os traços morfológicos
mencionados foram identificados através do estudo de perfis batimétricos e da análise expedita
dos correspondentes registos de reflexão sísmica. A informação obtida a partir da análise dos
registos ecográficos é bastante precisa, dispõe-se ao longo de linhas, considerando-se que
determinado acidente apresenta continuidade quando é identificável, em perfis sucessivos, em
posição análoga. Os mapas de pendores apresentados no presente trabalho foram construídos
com base nas cartas batimétricas cuja reprodução reduzida se encontra em Vanney &
Mougenot (1981) e que se baseiam numa equidistância de 10 m. Contudo, permitem,
contrariamente ao que se verifica com os perfis ecográficos, efectuar uma análise espacial.
Nos mapas incluídos na fig. VIII.8 consideraram-se zonas caracterizadas por pendores
extremamente fracos (<0,3%), muito fracos (0,3 a 0,5%), fracos (0,5 a 1%), médios (1 a 3%),
fortes (3 a 5%) e muito fortes (>5%).
Nas áreas nas quais a plataforma é definida por bordo bem marcado, os maiores pendores
verificam-se, como seria de esperar, no bordo da plataforma e na vertente continental superior.
219
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.000 25km
LagosPortimão
Faro
Rio Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 40'
50
150
100
0,3 % a 0,5 % < 0,3 % 0,5 % a 1 %
1 % a 3 % 3 % a 5 % > 5 %
Figura VIII.8 – Esboço de mapa de pendores dos sectores estudados.
220
É visível a existência de zonas diversas rupturas de pendor, algumas das quais têm sido
interpretadas como representando evidências de paleolitorais (p. ex.: Quevauviller, 1986a,
1986b, 1987; Quevauviller & Moita, 1986; Dias, 1987; Abrantes, 1994; Drago, 1995).
Os pendores mais fracos verificam-se, de modo geral, na plataforma norte. Efectivamente,
este sector caracteriza-se por valores maioritariamente inferiores a 0,3%. Pelo contrário, a sul
do canhão de Setúbal predominam os valores superiores a 0,5%.
Nas plataformas norte e sudoeste, a generalidade dos pendores dispõe-se em alinhamentos
grosseiramente paralelos à costa. Tal não se verifica na plataforma algarvia.
A análise da fig. VIII.8 parece indicar a existência de dois domínios diferentes no que
respeita à distribuição de declives na plataforma norte.
O domínio norte caracteriza-se pela ocorrência de dois alinhamentos paralelos à costa,
com valores muito heterogéneos. A menores profundidades, os declives distribuem-se de
maneira razoavelmente uniforme, enquanto que no alinhamento mais profundo os pendores
mais elevados se encontram concentrados na região dos afloramentos rochosos do Beiral de
Viana e sua continuação para sul. Entre estes alinhamentos existe uma zona alongada,
subparalela aos mesmos, que exibe declives extremamente fracos (< 0,3 %).
Neste domínio, a plataforma interna e a área a oriente dos afloramentos rochosos
existentes na plataforma externa caracterizam-se por pendores elevados. Pelo contrário, os
declives mais fracos localizam-se na plataforma média, principalmente entre os 60 e os 90 m
de profundidade, à semelhança do que sucede geralmente a nível mundial (Shepard, 1973).
O donmínio sul apresenta uma maior homogeneidade de declives. Os pendores mais
fracos localizam-se na plataforma média e na vizinhança dos afloramentos rochosos da
plataforma externa.
A distribuição de declives na plataforma sudoeste apresenta marcado contraste a norte e
a sul de Sines. Na região setentrional, os declives são mais heterogéneos, detectando-se valores
inferiores a 0,3 % a profundidades inferiores a 115 m. Na região meridional, em que,
frequentemente, o bordo da plataforma não se apresenta bem definido, os declives são mais
homogéneos. A maior parte desta região meridional é dominada por declives compreendidos
entre 0,5 e 1%, sendo praticamente inexistentes os pendores inferiores a 0,3%. Em ambas as
regiões, contudo, a plataforma interna é caracterizada por declives médios a fortes.
A distribuição de declives na plataforma algarvia é bastante irregular. Grande parte da
plataforma interna e média é dominada por pendores fracos. Os declives inferiores a 0,3%
corresondem a retalhos detectados às profundidades aproximadas de 50 e 100 m.
As profundidades às quais se detectam rupturas de declive são análogas às indicadas nos
quadros VIII.I a VIII.III.
221
8. Comportamento face à transgressão flandriana
Os dados sedimentológicos e morfológicos apresentados no presente trabalho sugerem que
a curva de variação do nível relativo do mar proposta por Dias (1985, 1987) para a plataforma
continental portuguesa a norte do canhão da Nazaré é, pelo menos parcialmente e nos seus
traços gerais, aplicável à totalidade da mesma. Acresce que, embora os dados publicados por
Granja (1990), Granja & Carvalho (1992) e Granja & de Groot (1996) permitam chamar a
atenção para a importância da neotectónica na costa norte portuguesa, não existem indícios
inequívocos que permitam supôr uma evolução altimétrica dos paleolitorais substancialmente
diferente nos sectores estudados, contrariamente à diferenciação detectada entre as costas
atlântica e mediterrânica espanholas (Hernandez-Molina, 1994a; Zazo et al., 1996). Assim,
representou-se nas figuras VIII.9, VIII.10 e VIII.11 a possível configuração dos paleolitorais
nos sectores estudados em diferentes etapas da transgressão flandriana.
Os mesmos dados sugerem, no entanto, que os sectores estudados tenham tido um
comportamento diferencial face à transgressão holocénica.
Entre outros aspectos, a morfologia e a relativa homogeneidade sedimentológica da
plataforma sudoeste (pelo menos quando comparada com as restantes) permitem supôr ser esta a
que reagiu de maneira mais uniforme ao aumento da pressão hidrostática gerada pela
transgressão e aos desequilíbrios isostáticos daí resultantes.
Pelo contrário, a plataforma norte é, aparentemente, a que mais rapidamente reagiu aos
reajustamentos isostáticos compensatórios das variações eustáticas relativamente bruscas, em
relação com a sua localização e a tectónica aí ocorrente.
A plataforma algarvia apresenta, presumivelmente, um comportamento intermédio no que
se refere a esta problemática.
Os canhões submarinos que se definem na margem continental permitem considerar a
existência de 3 sectores na plataforma norte (a norte do canhão do Porto, entre os canhões do
Porto e de Aveiro, e a sul deste último) e de dois sectores na plataforma algarvia (a ocidente e a
oriente do canhão de Portimão). Pelo contrário, a plataforma sudoeste corresponde, a este
respeito, a um único bloco, que, presumivelmente, terá reagido de forma relativamente
homogénea às solicitações a que foi submetido.
No que respeita à plataforma norte, o sector localizado a norte do canhão do Porto
encontra-se profundamente afectado pela falha do Beiral de Viana e pela continuação da
fractura Porto-Tomar e das falhas que, em terra, condicionam o curso dos rios Minho, Lima e
Cávado. É de admitir que a plataforma localizada a ocidente da Porto-Tomar tenha respondido
de forma mais rápida que a que se situa a oriente e que os restantes sectores. De igual modo, a
estrutura caracterizada por sistemas de falhas transversais à plataforma, permitiu que cada um
dos blocos por eles delimitado respondesse de forma diferencial às solicitações de origem hidro-
isostática. Algumas anomalias de profundidade, de depósitos sedimentares e de acidentes
morfológicos podem ser explicadas por este facto. O comportamento deste sector não pode ser
18 ka
16 ka
11 ka
10 ka
8 ka
bordo da plataforma litoral e rede hidrográfica actuais paleo-litoral e rede hidrográfica associada
Figura VIII.9 – Possível configuração de paleo-litorais na plataforma norte.
222
18 ka 16 ka 11 ka 10 ka 8 ka
bordo da plataforma litoral e rede hidrográfica actuais paleo-litoral e rede hidrográfica associada Figura VIII.10 – Possível configuração de paleo-litorais na plataforma sudoeste.
223
224
18 ka
16 ka
11 ka
10 ka
8 ka
bordo da plataforma litoral e rede hidrográfica actuais
paleo-litoral e rede hidrográfica associada
Figura VIII.11 – Possível configuração de paleo-litorais na plataforma algarvia.
225
desligado do posicionamento geográfico face às variações na localização da frente polar e do
afundamento das rias galegas.
O sector localizado entre os canhões submarinos do Porto e de Aveiro praticamente não é
afectado por acidentes transversais, reagindo, aparentemente, como um único bloco, pelo que o
equilíbrio isostático se teria estabelecido de uma forma mais lenta e progressiva.
A plataforma norte a sul do canhão de Aveiro encontra-se sujeita a tectónica do tipo
diapírico. É possível que as fracturas relacionadas com o diapirismo tenham sido reactivadas
face ao aumento de carga provocado pela elevação do nível do mar, respondendo de forma
diferencial às solicitações a que estavam sujeitas e induzindo maior complexidade no padrão
de distribuição dos sedimentos.
No que se refere à plataforma algarvia, o sector ocidental encontra-se profundamente
afectado pela continuação para sul das falhas de Portimão e Albufeira, as quais passam na
plataforma com orientação N-S e NE-SW, respectivamente, a que acresce ser caracterizada por
numerosos sistemas de falhas que praticamente a cortam transversalmente. É, assim, lícito
supôr que este sector tenha respondido de forma mais rápida que o que se lhe situa a oriente.
O sector oriental parece encontrar-se bastante menos compartimento, pelo que as respostas
às consequências da transgressão holocénica seriam menos rápidas. Em consequência, este
sector reagiu, aparentemente, como um único bloco, levando a um mais lento e progressivo
estabelecimento estabelecimento do equilíbrio isostático.
Todavia, este sector encontra-se sujeito a tectónica do tipo diapírico. À
semelhança da hipótese anteriormente formulada para a plataforma norte a sul do canhão de
Aveiro, é possível que o aumento de carga aassociado à elevação do nível do mar tenha
reactivado as fracturas relacionadas com o diapirismo, as quais, ao responder de forma
diferencial às solicitações a que estavam sujeitas, terão induzindo maior complexidade no
padrão de distribuição dos sedimentos.
9. Datações por 14C
As datações por 14C foram efectuadas no laboratório de datação pelo radiocarbono
instalado no Departamento de Química do Instituto Tecnológico e Nuclear 2. O método
utilizado pode considerar-se clássico, encontrando-se detalhadamente descrito em Soares
(1989) e consistindo, resumidamente, em: a) pré-tratamento das amostras, destinado a eliminar
qualquer contaminação; b) "queima" da amostra, a baixa pressão em ambiente oxigenado,
através da qual o carbono é libertado sob a forma de óxido e dióxido de carbono; c) produção
de carboneto de lítio a partir do CO2 obtido; d) obtenção do acetileno por reacção do
carboneto de lítio com a água; e) trimerização do acetileno para benzina, através da utilização
de um catalizador de crómio; f) detecção, por cintilação líquida, das actividades da amostra, de
2 Datações efectuadas pelo Eng. Monge Soares.
226
um "branco" (benzina "morta", isto é, sem 14 C, como forma de quantificar o "fundo") e de
uma amostra de referência (amostra padrão); g) cálculo da actividade da amostra por
comparação das actividades determinadas.
Como não se dispunha de material em que se tivesse garantias de que a génese foi litoral,
optou-se por datar material constituído por bioclastos da classe "R" (relíquia") das fracções
granulométricas entre –2 Ø e 0 Ø, o qual foi extraído das amostras por escolha à lupa
binocular.
Os resultados obtidos, referentes a datações de material proveniente da plataforma
continental algarvia, encontram-se representados na figs. VIII.12 e VIII.13.
Não obstante a sua coerência, as datações incluídas no presente trabalho apresentam, tal
como as anteriores, um grau de incerteza que é difícil de quantificar. As incertezas que podem
afectar os resultados apresentados foram discutidas anteriormente, encontrando-se certamente
relacionadas com: a utilização de espécies não litorais; a remobilização dos bioclastos para
maiores profundidades; a mistura, numa mesma amostra, de organismos de diferentes idades; e
eventuais acções antrópicas.
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
±5590 110
±4590 100
±3620 150±6370 250
±1590 90 ±2110 100±7050 60 ±2520 80
±2400 70±7320 100
a
a
bc
a - Datação não considerada válida com base no valor do C
b - Datação de bioclastos de moluscos
c - Datação de algas e corais
13
Figura VIII.12 – Datações (média e erro padrão) de material carbonatado proveniente da plataforma algarvia.
Como foi anteriormente referido, estas datações não permitem reconstituir a evolução do
nível do mar desde o último máximo glaciário, o que se deve, entre outros factores, à utilização
de conchas amostradas em sedimentos superficiais e ao desconhecimento da profundidade a
que as espécies utilizadas viveram. A datação de níveis de turfa e de conchas presentes em
testemunhos de sondagem realizadas em regiões costeiras constitui auxiliar precioso para a
prossecução de tal objectivo.
227
-80
-70
-60
-50
-40
-30
-20
-10
0
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000
IDADE (anos BP)C
OT
A (
m)
Figura VIII.13 – Relação entre a profundidade e as datações (média e erro padrão) de material carbonatado proveniente da plataforma algarvia.
Tal como é referido por Dias et al. (1997), desconhece-se, com precisão, quando é que o
nível do mar chegou à cota actual. Contudo, é possível supor que as datações de materiais que
constituem indicadores do nível do mar permitam esclarecer esta problemática. As datações a
que se teve acesso encontram-se representadas no gráfico da fig. VIII.14, para cuja elaboração
se excluíram as de materiais provenientes de estações arqueológicas ou de organismos vivos,
bem assim como as de materiais de que se desconhece a cota de colheita.
Entre outros, foram utilizados dados incluídos em trabalhos referentes a:
a) uma micro-arriba existente na praia de Alvor-Torralta (Pereira et al., 1994);
b) uma armadilha de pesca descoberta na praia de Silvade, Espinho (Alves et al., 1988/89);
c) arenitos dunares e de praia provenientes do litoral de Armação de Pera (Pereira & Soares,
1994);
d) sondagens realizadas na laguna de Albufeira (Freitas, 1995; Queiroz, 1989);
e) sondagens realizadas na plataforma de preia-mar da Gâmbia, estuário do Sado (Moreira &
Psuty, 1993);
f) um depósito proveniente de Boca do Rio e associado ao tsunami de 1755 (Dawson et al.,
1995);
g) sondagens realizadas no interior da ria Formosa (Bettencourt, 1994);
h) sapais existentes no litoral algarvio (Dias, 1987; Dias & Neal, 1992).
A análise deste gráfico permite extrair as seguintes conclusões principais:
1ª) a curva da fig. VIII.3, que representa a possível variação do nível do mar no sotavento
algarvio proposta por Bettencourt com base em datações de bioclastos provenientes de
228
sondagens efectuadas na Ria Formosa, não considera a colmatação e a compactação
sedimentares;
2ª) o nível do mar parece ter-se aproximado da cota actual há cerca de 6 ka, contrariamente ao
defendido por diversos autores (p. ex.: Dias, 1987; Moreira & Psuty, 1993; Bettencourt,
1994), não se tendo registado variações significativas posteriores;
3ª) não existem indícios evidentes de níveis do mar superiores ao actual, cuja existência é
defendida, entre outros autores, por Granja (1990), Alves (1996) e Granja & De Groot
(1996).
-25
-20
-15
-10
-5
0
5
10
0 2000 4000 6000 8000
IDADE (anos BP)
CO
TA
(m
) Litoral norteEstuário SadoLaguna AlbufeiraLitoral algarvioRia Formosa
Figura VIII.14 – Relação entre a profundidade e as datações obtidas em diferentes áreas do litoral português, no estuário do Sado e em sistemas lagunares portugueses.
10. Súmula
1. O modelo reológico proposto por Clark para simular as variações do nível do mar associadas
à deglaciação revela uma concordância bastante elevada com diversas curvas experimentais
que pretendem traduzir as referidas variações em diferentes áreas.
2. A granulometria e a composição dos sedimentos superficiais dos sectores estudados, bem
como os traços morfologicos e a cartografia de pendores aí ocorrentes, sugerem que, para
profundidades superiores aos actuais 30 m, a curva de variação do nível relativo do mar
proposta para a plataforma continental setentrional é igualmente aplicável à região a sul do
canhão submarino de Setúbal. Contudo, as datações disponíveis na bibliografia, bem como
algumas outras inéditas, sugerem que o nível do mar se aproximou da presente cota há cerca de
6 ka.
229
IX. BALANÇO SEDIMENTAR
1. Introdução
A realização de um balanço sedimentar consiste na aplicação da equação da continuidade
dos fluxos sólidos movimentados na plataforma continental, permitindo avaliar a magnitude
das transferências sedimentares que aí se verificam.
A referida quantificação é dificultada, entre outros factores, pela diminuição do grau de
conhecimento e compreensão dos processos e mecanismos envolvidos à medida que nos
afastamos da zona litoral em direcção a profundidades crescentes.
Para a estimativa do balanço sedimentar é necessário proceder à avaliação das
contribuições (créditos) e perdas (débitos) sedimentares que caracterizam a plataforma
estudada e à identificação de fronteiras através das quais se processam tais transferências.
Com as presentes estimativas pretende-se, de algum modo, quantificar a magnitude dos
processos responsáveis pela transferência de materiais sedimentares, os quais foram
anteriormente discutidos e integrados em modelos conceptuais de dinâmica sedimentar da
plataforma propostos por Dias (1987), Magalhães (1993) e Abrantes (1994). Neste contexto,
torna-se necessário proceder à simplificação dos referidos modelos devido à complexidade que
os mesmos apresentam. Tal deve-se a que as condições que determinam a dinâmica sedimentar
desta zona, que é limitada por duas "barreiras energéticas" (uma situada junto ao litoral e outra
junto ao bordo da plataforma, que condicionam a quantidade e tipo de partículas que afluem ou
saem da plataforma), são extraordinariamente complexas e apresentam variabilidade muito
elevada, dependendo de factores intrínsecos e factores extrínsecos, os quais são
detalhadamente discutidos em Taborda & Dias (1992b). Acresce que as partículas envolvidas
neste processo apresentam géneses e origens muito variadas, e idades muito diferentes. Por
outro lado, as variações do nível do mar no Quaternário condicionam de modo determinante o
padrão sedimentológico.
A referida simplificação reflecte-se, obviamente, nos balanços sedimentares apresentados.
De facto, na elaboração dos mesmos apenas são explicitamente considerados o continente
emerso, a zona litoral, a plataforma continental sensu strictu e profundidades superiores à
mesma. As modificações induzidas pela subida actual do nível relativo do mar e pela
actividade antrópica, que foram já analisadas com algum detalhe a propósito dos processos de
fornecimento e de distribuição de partículas, são brevemente discutidas na parte final do
presente capítulo.
Embora de forma tentativa, esta quantificação surge na sequência lógica da intensificação
do estudo da plataforma continental portuguesa, em especial do sector setentrional da mesma,
a qual conduziu à publicação, nos últimos anos, de numerosos trabalhos. Embora os estudos
230
quantitativos sejam ainda em número relativamente escasso, a sua síntese e integração permite
já esboçar algumas conclusões e interpretações relevantes.
Para além destas estimativas, que consideram a plataforma como um sistema fechado, é
ainda apresentado de forma esquemática o provável trajecto das partículas sedimentares
“modernas” na plataforma.
2. A complexidade dos mecanismos envolvidos
Apesar das simplificações referidas anteriormente, é relevante analisar brevemente as
principais características da dinâmica sedimentar actual.
A região emersa
As caractererísticas do continente emerso adjacente à plataforma e vertente continentais
proporcionam sedimentação predominantemente terrígena na região norte, associada a forte
contribuição fluvial.
A eficiência deste sistema de fornecimento de partículas é condicionada pelas mudanças
de sentido e da velocidade de variação do nível relativo do mar. Tais variações, resultantes de
um conjunto complexo de fenómenos, podem ser de curta duração, e cíclicas (ex.: marés) ou
acíclicas (p. ex.: variações devidas a tempestades), ou de longa duração. A longo prazo, a
resultante actual de tais variações é, na plataforma continental portuguesa, tal como em grande
parte do globo, no sentido de elevação do nível do mar. Este é, provavelmente, um dos
factores que inibe o fornecimento actual de partículas grosseiras para a plataforma.
A maior parte do material debitado por via fluvial para a plataforma é transferido durante
os períodos de cheia, que, por via de regra, coincidem com a estação invernal. Em virtude de
tal facto, o conjunto de condições mais propícias para a referida transferência, correspondentes
à coincidência entre a ponta de cheia e marés vivas vazias em condições de pressão
atmosférica elevada, agitação marítima calma, e ausência de ventos (ou com ventos de terra
para o mar) é bastante raro. No entanto, mesmo em condições menos propícias, a transferência
de materiais finos é elevada, como é comprovado, por exemplo, pela turbidez das águas na
adjacência das embocaduras dos rios mais importantes.
Embora menos eficazes, os ciclos de maré constituem, também, processos de transferência
importantes, principalmente nos períodos de marés vivas. A sua importância intrínseca é difícil
de avaliar porque a sua acção é amplificada pelo caudal hídrico dos rios. No entanto, a
amplitude que apresentam, e a sua ciclicidade e actuação constante ao longo do ano, permitem
supor que são responsáveis pela transferência de quantidades importantes de materiais finos.
Por vezes, a erosão das arribas constitui, em função da extensão que ocupam e do estado
de consolidação dos materiais em que estão talhadas, uma importante fonte de sedimentos
para o sistema litoral. Este proceso de fornecimento encontra-se relacionado com o nível
atingido pelo mar na base das arribas e com os mecanismos de erosão subaérea.
231
A zona litoral
As areias que se libertam dos estuários acabam, após tempo de permanência mais ou
menos prolongado nos deltas de vazante dos rios e nas células de circulação a eles associados,
por entrar no sistema geral da deriva litoral. As partículas menores, transportadas em
suspensão, são debitadas para o largo.
A zona litoral da plataforma continental portuguesa encontra-se sujeita à acção de
correntes longilitorais, em consequência das quais as partículas grosseiras que a atingem são
tendencialmente transportadas para sul, no litoral ocidental, e para oriente, no litoral
meridional. Localmente, ocorrem inversões no sentido geral da deriva, causadas, entre outros
factores, pela refracção das ondas nas irregularidades do fundo, assim como pelas ondas de
SW na costa ocidental e pelo levante na costa sul.
Dado que na zona litoral existe um gradiente energético, com as maiores energias
concentradas junto à faixa de rebentação, as partículas mais grosseiras tendem a concentrar-se
aqui, enquanto que as partículas mais finas, que conseguem ser mantidas em suspensão em
condições de menor energia, se deslocam preferencialmente mais para o largo (Taborda, 1999).
Contudo, existe uma certa mistura dimensional nos depósitos, com fronteiras, frequentemente,
mal definidas, uma vez que as referidas condições energéticas apresentam grandes variações
espaciais e temporais.
As areias incluídas no ambiente litoral encontram-se num sistema fechado limitado pela
praia emersa e pela barreira energética litoral, ao qual dificilmente se conseguem subtrair. O
percurso seguido por estas partículas é tortuoso, com avanços e recuos na direcção geral de
transporte, afastamentos e aproximações da parte emersa e deposições e remobilizações,
devido às condições atmosféricas, batimétricas e de agitação marítima. Porém, no decurso
desta movimentação generalizada e descontínua, parte da areias pode entrar e ficar retida nos
estuários, subtraindo-se assim, pelo menos temporariamente, à circulação na plataforma. Outra
parte é remobilizada eolicamente aquando dos períodos de deposição na praia emersa,
acabando por se integrar nos campos dunares litorais.
Esta carga sólida litoral é frequentemente alimentada por partículas provenientes da
plataforma interna adjacente, em especial sob condições de agitação marítima de bom tempo.
Em períodos de mau tempo no mar, o sistema litoral transforma-se em sistema de perda de
areia (Swift, 1976a), parte da qual é depositada temporariamente a maiores profundidades. Em
tais períodos verifica-se frequentemente erosão dos sistemas dunares.
Este mecanismo de transferência de areias é esquematicamente descrito pelo modelo de
Bruun para as variações do nível do mar, visto que existe uma migração do perfil de equilíbrio
da praia em direcção a terra.
As areias que não foram transferidas para o interior da plataforma nem subtraídas à
circulação litoral continuam a ser transportadas para sul no litoral ocidental e para oriente no
litoral meridional, sendo, possivelmente, transferidas para maiores profundidades, através dos
232
canhões submarinos.
A plataforma interna
Os estuários asociados aos rios condicionam fortemente o tipo de sedimentação
ocorrente na plataforma interna. Efectivamente, as partículas que se subtraem à influência
estuarina são, nas condições presentes, granulometricamente finas, sugerindo que a quantidade
relativa de areia grosseira e cascalho que actualmente sai desses estuários é bastante diminuta.
A este respeito, é de referir que a tendência de assoreamento dos corpos estuarinos se
verificava já no século X, embora tenha vindo a ser amplificada em virtude do impacto das
actividades humanas nas bacias hidrográficas.
Na foz dos rios desenvolvem-se bancos arenosos com a convexidade virada para a
plataforma em resultado da actuação de diversos processos, dos quais o mais importante é a
expansão do fluxo de descarga fluvial, de que resulta deposição de areias nos referidos bancos.
A topografia destes bancos provoca convergência das correntes de fundo dirigidas do
mar para terra nos períodos de máximo transporte sedimentar e o desvio das correntes
longilitorais para maiores profundidades. Como o período de maior débito dos estuários
coincide, em grande parte, com a época de agitação marítima mais energética, os materiais que
constituem estes bancos acabam por se dispersar por uma área maior, de topografia mais
suave. Nas presentes condições, a geometria geral das formas dos deltas de vazante (devida à
acção conjugada do fluxo de descarga fluvial, das marés, da agitação marítima e da deriva
litoral, bem como das suas magnitudes relativas ao longo do tempo e do espaço) tenderia
teoricamente a apresentar assimetria para sul (no litoral ocidental) ou oriente (no litoral
meridional) das desembocaduras. A análise das cartas batimétricas revela que, de facto, tal se
verifica (Dias, 1987).
Sob condições de bom tempo e agitação de longo período, as partículas mais grosseiras
movimentam-se em direcção ao litoral, acabando eventualmente por ser integradas no sistema
de deriva litoral, enquanto que as partículas finas se deslocam para maiores profundidades
A plataforma média
Nesta região da plataforma ocorrem, frequentemente, depósitos relíquia cascalhentos, que
correspondem a sedimentação predominantemente autóctone.
Sob condições de temporal, ocorre remobilização generalizada dos depósitos, deslocando-
se as partículas grosseiras em direcção ao litoral, enquanto que as partículas mais finas são
transportadas para maiores profundidades. Nestas circunstâncias, verifica-se apenas deposição
temporária de areias finas, as quais são removidas aquando dos temporais.
Como é óbvio, a quantidade de materiais chegados à plataforma média, bem como a
regularidade da ocorrência de temporais, determina a maior ou menor presença de areia fina
nestes depósitos. Localmente, eventuais irregularidades da topografia podem amplificar ou
233
moderar as percentagens de partículas finas.
Os depósitos grosseiros existentes nesta região não se encontram em equilíbrio com os
actuais processos de fornecimento e de distribuição de partículas. Contudo, estes processos
possuem competência para actuar em maior ou menor grau sobre os referidos depósitos,
modificando-os no sentido de equilíbrio progressivo com as condições actuais.
A contribuição biogénica para estes depósitos grosseiros é pouco significativa, o que é
comprovado pelas percentagens relativas diminutas de bioclastos “M”.
A plataforma externa
A plataforma externa constitui, na generalidade, ambiente energeticamente mais calmo
que a plataforma média. Não se conhecem, com fiabilidade, características das correntes junto
ao fundo que aí actuam. As condições mais frequentes da agitação marítima que atinge a
plataforma continental portuguesa não são suficientes para induzir movimentação regular e
generalizada de silte e areia junto ao fundo. Todavia, o silte e a areia mais fina podem ser
remobilizados sob influência de ondas de longo período, o que justificaria a geralmente
reduzida expressão da fracção siltosa nas plataformas norte e sudoeste
As areias finas que constituem os depósitos desta zona apresentam uma importante
componente biogénica. Parte destas partículas derivou de organismos bentónicos e, com
frequência, exibem dimensões tais que dificilmente seriam transportadas para outros locais.
Outra parte tem origem em organismos planctónicos e depositou-se de acordo com as suas
características hidrodinâmicas, podendo ter tido proveniência noutros locais da plataforma.
Aparentemente, a actividade biológica tem aqui maior intensidade relativa do que nas
zonas anteriormente referidas. As características dos depósitos presentes na plataforma externa
são ainda influenciadas por um conjunto de factores, frequentemente inter-dependentes. São de
referir, entre outros, os seguintes: a topografia de fundo, a morfologia do bordo da plataforma,
a orientação desta relativamente à agitação marítima incidente, e a actuação possível de outros
factores oceanográficos, tais como ondas internas, gradientes térmicos e haloclínicos, e
vórtices oceânicos. Estes factores provocam fortes heterogeneidades nesta zona, determinando,
por exemplo, áreas de não deposição e áreas de concentração de certos tipos de partículas.
Na generalidade, o clima hidráulico aqui prevalecente é ainda suficientemente intenso
para inibir a deposição de grande quantidade de partículas, o que é comprovado pela não
completa obliteração das características relíquia dos depósitos e pela presença constante da
glaucónia.
O bordo da plataforma
O bordo da plataforma constitui fronteira entre a plataforma e a vertente continentais,
revelando-se, em termos de transporte sedimentar, descontinuidade quase tão importante como
a linha de costa (Southard & Stanley, 1976).
234
Apesar de os processos operantes junto ao bordo da plataforma serem mal conhecidos‚ é
possível ter uma ideia da sua magnitude e forma de actuação (p. ex.: Csanady, 1973; Smith,
1978; Smith & Sandstrom, 1986; New & Pingree, 1990; Biscaye et al., 1994; Gawarkiewicz et
al., 1996; Brunner & Biscaye, 1997; Heathershaw et al., 1998; Xing & Davis, 1998; Yanagi et
al., 1998; McClimans et al., 1999; Pérenne & Pichon, 1999; Small et al., 1999).
Alguns dos processos que determinam a dinâmica específica desta zona são seguramente
as ondas internas, as correntes de maré, as correntes induzidas por diferenças de pressão
atmosférica, as correntes de upwelling, os vórtices oceânicos e as ondas de Kelvin. As
profundidades moderadas a que a plataforma continental se desenvolve, e a sua consequente
reduzida capacidade térmica em relação ao oceano, constituem, também, factor importante no
desenvolvimento de processos específicos desta zona. Acresce, ainda, que o caudal dos rios,
principalmente nas estações mais pluviosas, contribui para ampliar o contraste de temperatura,
salinidade e densidade entre as massas hídricas da plataforma e da bacia oceânica. No que se
refere a estes aspectos, a região a norte de 41º N é a que reúne condições para apresentar
contrastes maiores. A actuação conjunta destes processos é, provavelmente, responsável pela
criação de zonas de turbulência onde ocorrem correntes que mantêm os sedimentos finos em
suspensão ou provocam a sua ressuspensão frequente.
É possível que a resultante dos processos actuantes nesta zona funcione como "válvula", à
semelhança das "válvulas" referidas por Swift (1976b). Entre as partículas que aqui se formam
e chegam, algumas são transferidas para a vertente continental. As características e
intensidade desses processos regulam, provavelmnente, o saldo entre as partículas que aqui
chegam e as que saem, o qual é, provavelmente, negativo nos depósitos relíquia e positivo nos
depósitos modernos. É possível que estes saldos estejam, de algum modo, relacionados com a
orientação geral das batimétricas relativamente à direcção de incidência das vagas de longo
período, à direcção de propagação da maré e ao estado de abarrancamento do bordo da
plataforma e da vertente continental superior.
Os depósitos do bordo da plataforma possuem aparentemente duas origens distintas. Os
depósitos glauconitizados são, presumivelmente, depósitos relíquia sujeitos a erosão ou pelo
menos a taxas de acumulação muito pequenas ou nulas. A presença de glaucónia e de
carapaças de foraminíferos que apresentam diferentes estádios de glauconitização apoiam tal
dedução (Müller, 1967; McRae, 1972). Outros depósitos aparentam ser progradantes, o que
tende a ser confirmado pelos perfis de reflexão sísmica (p. ex.: Vanney & Mougenot, 1981;
Mougenot, 1989), sugerindo acumulação activa de partículas.
As partículas finas que chegam ao bordo da plataforma são capturadas pelos processos
hidrodinâmicos referidos, sendo sujeitas a sucessivas deposições e remobilizações, acabando
por se acumular em áreas cujos parâmetros energéticos sejam consentâneos com a deposição
"permanente" de tais partículas. Como resultado da actuação destes processos, verifica-se
selecção preferencial de partículas de acordo com os respectivos diâmetros equivalentes, o que
235
determina tendência para concentração de partículas afins (glaucónia, quartzo fino brilhante e
anguloso e carapaças de foraminíferos com ou sem glaucónia).
A presença de quartzo fino (ou de partículas hidraulicamente equivalentes) brilhante e
anguloso pode ser explicada através de modelo análogo ao estabelecido por Castaing et al.
(1981) para a plataforma da Aquitânia. Segundo este modelo, as partículas de areia fina que
se libertam do sistema litoral são, durante condições de temporal, "rapidamente" transportadas
até ao bordo da plataforma, sendo aqui retidas em suspensão ou com frequentes episódios de
ressuspensão.
A vertente continental
A maior parte do material debitado actualmente para o interior da plataforma acaba
possivelmente por se acumular próximo do bordo, constituindo sequências progradantes. Tais
acumulações são ocasionalmente sujeitas a movimentações gravíticas (translaccionais e/ou
rotacionais), em consequência das quais ocorrem deslizamentos e correntes turbidíticas,
responsáveis pela transferência para maiores profundidades de materiais acumulados junto ao
bordo da plataforma.
Os canhões submarinos embutidos na margem continental, bem assim como os barrancos
que cortam o bordo da plataforma, constituem vias da drenagem de materiais da plataforma
para a vertente e rampa continentais. A sua eficácia depende, entre outros factores, da distância
do litoral a que se definem as suas cabeceiras e da área da plataforma que directamente
influenciam.
Os materiais mais finos que chegam ao bordo da plataforma integram-se nos depósitos
que aí se vão constituindo ou são postos em suspensão (ou permanecem neste estado) pelos
factores oceanográficos que aí actuam com maior intensidade. Eventualmente acabam por
progredir na direcção da bacia oceânica, originando "lentes" extensas definidas pela
localização da haloclina ou da termoclina, e por entrar em regime de sedimentação,
constituindo a deposição ubíqua que se verifica na vertente e rampa continentais, e mesmo na
planície abissal.
O trajecto das partículas sedimentares
As características anteriormente resumidas permitem representar o provável percurso
seguido pelas partículas sedimentares “modernas” (fig. IX.1). Os correspondentes esquemas,
que consideram explicitamente o percurso das partículas grosseiras e mais finas, ilustram
graficamente o modelo descrito e complementam-no.
3. Ensaios de balanço sedimentar
As figs. IX.2 a IX.4 representam esquematicamente ensaios de balanço sedimentar para
cada um dos três sectores estudados.
236
55000 80000 105000 130000 155000
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000 120000 140000
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000 00 160000 00 200000 00 240000 00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
grosseiros finos
Figura IX.1 – Provável percurso seguido pelas partículas sedimentares “modernas” nos sectores estudados.
237
Em cada balanço foram considerados o continente emerso, a zona litoral, a plataforma
continental e profundidades superiores à mesma, que nos respectivos esquemas são designados
por continente, litoral, plataforma, e vertente e bordo, respectivamente.
Estes esquemas referem-se à situação presumivelmente existente antes do séc. XX,
período em que a influência antrópica na retenção sedimentar era negligenciável e a carga
sólida debitada pelos rios era significativamente superior à actual.
Os prováveis sentidos de transporte encontra-se assinalados por meio de setas. No interior
dos círculos, quadrados e losângulos indicam-se estimativas, em m3/ano, de caudais que
respeitam a sedimentos grosseiros e a sedimentos finos.
Os balanços sedimentares apresentados incluem ainda estimativas dos quantitativos de
partículas terrígenas, biogénicas e autigénicas da fracção arenosa dos sedimentos (TER, BIO e
AUT, respectivamente). Foram, para tal, utilizados os valores percentuais de ocorrência de
partículas “modernas” (quadro IX.I).
Quadro IX.I – Percentagens relativas mínimas e máximas de partículas "modernas" da fracção areia dos sedimentos superficiais.
Plataforma norte Plataforma sudoeste Plataforma algarvia
Contribuição Mínima Máxima Mínima Máxima Mínima Máxima Terrígena 62 65 38 41 31 35 Biogénica 30 36 51 57 59 65 Autigénica 3 4 5 8 4 6
3.1. Plataforma norte
Para o sector norte (fig. IX.2), as fronteiras norte e sul consideradas correspondem aos
paralelos, respectivamente, da foz de Minho e do cabo Mondego.
Nas condições para as quais o esquema simplificado de balanço sedimentar foi elaborado,
ou seja, antes do presente século, a contribuição fluvial era francamente dominante e
excedentária, correspondendo ao principal processo de fornecimento de partículas oriundas do
continente emerso para a zona litoral.
O presumível volume anual de sedimentos transportados por via fluvial foi estimado pelo
método de Langbein & Schumm (1958). De acordo com as estimativas obtidas, os rios
transportam cerca de 2,2×106 m³/ano de sedimentos grosseiros e de 13x106 m³/ano de
sedimentos finos. Estas estimativas correspondem a volumes presumivelmente debitados na
ausência de barragens (ver cap. IV).
Pelo contrário, o fornecimento por transporte eólico não pode ser considerado como
fornecedor significativo de partículas à escala global do depositário. Não são conhecidas
238
estimativas do volume de material transportado pelo vento. No entanto, o referido volume é,
presumivelmente, pouco significativo em relação ao material envolvido na deriva litoral.
Efectivamente, os ventos dominante sopram do mar para terra, induzindo, assim, condições
adversas à transferência de materiais para a plataforma, o que, aliás, é confirmado pelo
comportamento das dunas litorais activas.
2,2x10RIOS
? - - VENTO
-? -
2x10
DERIVA LITORAL
AUT
1X10 1x10
?11x10
>0 -
Plataforma a sul
Plataforma a norte
4 5
PLATAFORMA CONTINENTAL LITORAL BORDO EVERTENTE CONTINENTE
?
BIO
?
6
6
6
6
13x10
? -
2x105 6
1,8x10
TER FINOS
Figura IX.2 – Ensaio de balanço sedimentar para a plataforma norte. Os lonsângulos, os quadrados e os círculos referem-se, respectivamente, às “entradas”, às “saídas” e à acumulação de material. Nos casos em que existem duas estimativas para o mesmo processo, a superior refere-se a partículas grosseiras e a inferior a partículas finas. Os símbolos ? e – correspondem a quantitativos, respectivamente, deconhecidos e diminutos. TER, BIO e AUT dizem respeito às componentes terrígena, biogénica e autigénica da areia. Estimativas em m³/ano.
O material movimentado no litoral corresponde ao oriundo de norte (plataforma galega),
àquele resultante da erosão da zona costeira, ao que é transportado para sul por deriva litoral e
ainda ao exportado para a plataforma.
Não se conhecem estimativas da magnitude da contribuição da região a norte do rio
Minho para o litoral em estudo. O referido contributo é, presumivelmente, diminuto, em
especial no respeitante a sedimentos grosseiros.
É, de igual modo, lícito supôr que o volume de material resultante da erosão do litoral seja
239
pouco significativo em condições naturais.
Por acção das correntes longilitorais, as partículas grosseiras que atingem esta zona litoral
são tendencialmente transportadas para sul e, consequentemente, são subtraídos a este sistema.
Os quantitativos envolvidos neste processo são da ordem de 2×106 m³/ano.
O volume de materiais exportados da zona litoral para a plataforma continental é de difícil
quantificação, devido às incertezas associadas à complexidade envolvida no respectivo
processo de transferência. Os quantitativos envolvidos são, seguramente, importantes
(Bettencourt & Ângelo, 1992) e podem, nas condições para as quais os esquemas de balanço
foram elaborados, ser estimados em cerca de 2×105 m³/ano de sedimentos grosseiros e de
13×106 m³/ano de sedimentos finos.
Não se conhece a quantidade de material que transita na plataforma continental através das
suas fronteiras norte e sul.
O material grosseiro depositado na plataforma é constituído pelas componentes terrígena,
biogénica e autigénica. Se admitirmos, com base nos dados anteriores, que o volume de
sedimentos actualmente exportados para a plataforma é de 2×105 m³/ano e é constituído na sua
quase totalidade por partículas de origem terrígena, podemos estimar o volume
correspondente a cada uma das componentes. A análise do quadro IX.I indica que as
respectivas percentagens médias são, por esta ordem, 63,5%, 33% e 3,5%. Assim, os materiais
de origem biogénica e autigénica deverão corresponder, respectivamente, a 1×105 m³/ano e
1×104 m³/ano.
A quantidade de siltes e argilas "definitivamente" acumulados na plataforma é igualmente
difícil de estimar. Esta tentativa de quantificação parte do pressuposto de que os sedimentos
finos apenas se depositam na plataforma com carácter definitivo nos depósitos lodosos
existentes ao largo do rio Minho e nas cabeceiras do canhão submarino do Porto. Na restante
plataforma, os sedimentos silto-argilosos são possivelmente sujeitos a frequentes episódios de
ressuspensão, os quais serão responsáveis por sucessivas deposições temporáriais de materiais
destas granulometrias.
A referida estimativa envolve a utilização dos valores de taxas de acumulação
determinados por Carvalho & Ramos (1990), Drago (1995) e Drago et al. (1999) e que
constam do quadro VII.I. Entrou-se ainda em consideração com as áreas ocupadas pelos
depósitos lodosos, que correspondem a cerca de 30 km² para o depósito ao largo do rio Minho
(Magalhães et al., 1992) e de 504 km² no caso do depósito das proximidades das cabeceiras do
canhão submarino do Porto (Drago, 1995).
Os processos que conduziram à deposição do material silto-argiloso presente nestes
depósitos encontram-se fortemente dependentes de uma multiplicidade de factores, entre os
quais se incluem a ocorrência de tempestades, a energia hidrodinâmica do meio, a largura e a
topografia da plataforma e a existência de locais propícios à sedimentação. Refira-se, a título
exemplificativo, que na vertente continental superior adjacente ao canhão submarino do Porto
240
não se detecta acumulação apreciável de finos, provavelmente devido à batimetria da região ou
a correntes que se desenvolvem no canhão (Carvalho & Ramos, 1990).
A média das taxas de acumulação determinadas por Carvalho & Ramos (1990) e Drago et
al. (1999) em amostras colhidas no depósito localizado ao largo do rio Minho é de 0,13
cm/ano (Quadro VII.I). O volume de material silto-argiloso depositado neste depósito é, assim,
aproximadamente 4×104 m³/ano.
Por outro lado, a média das taxas de acumulação determinadas por Carvalho & Ramos
(1990), Drago (1995) e Drago et al. (1999) em amostras colhidas no depósito das cabeceiras
do canhão do Porto é aproximadamente 0,36 cm/ano (Quadro VII.I), o que permite estimar um
volume de sedimentos finos de 1,8×106 m³/ano.
O material fino anualmente acumulado nestes depósitos é cerca de 1,8×106 m³. Tal
estimativa parece indicar que apenas 14% dos sedimentos finos que afluem à plataforma se
depositam nesta área, sendo os restantes 86% transferidos para maiores profundidades.
3.2. Plataforma sudoeste
As fronteiras norte e sul consideradas para este sector (fig. IX.3) são, respectivamente, o
canhão de Setúbal e o paralelo do cabo de S. Vicente.
Os mecanismos prevalecentes são, presumivelmente, distintos a norte e a sul de Sines. A
norte do paralelo de Sines, os conhecimentos actualmente disponíveis acerca do litoral
sugerem que a erosão das arribas que aqui se desenvolvem e a acção das correntes de deriva
litoral são os principais mecanismos responsáveis pela transferência do material sedimentar
para a plataforma. A sul do mesmo paralelo, o rio Mira parece ser o principal agente de
exportação de partículas sedimentares para o seio da plataforma.
A utilização do método de Langbein & Schumm (1958) permite estimar que este rio
transporta anualmente cerca de 3×104 m³ de sedimentos grosseiros e 2,5×105 m³ de sedimentos
finos (ver cap. IV). Porém, a litologia predominante na bacia hidrográfica deste rio (formações
xisto-grauváquicas, sienitos e gnaisses) permite supôr que apenas 20% da totalidade do
material sedimentar potencialmente transportado sob a forma de carga de fundo é exportado
para a plataforma.
Parte importante do material em trânsito na zona litoral provém certamente do recuo das
arribas talhadas em formações plio-quaternárias que ocupam uma extensão significativa deste
troço costeiro, em particular a norte de Sines. A sul de Sines, a quantificação do material
proveniente do recuo das arribas é significativamente mais difícil, uma vez que as dunas
consolidadas repousam sobre formações xisto-grauváquicas. Segundo Boléo-Tomé (1994), o
recuo médio destas arribas, que a norte de Sines ocupam uma extensão aproximada de 13 km e
possuem uma altura média de 18 m, cifra-se em cerca de 0,23 m/ano. Admitindo uma
porosidade média de 35% (Therzaghi & Peck, 1967) e uma percentagem média de material de
dimensão superior a 63 µm de 75%, as contribuições em materiais grosseiros e finos
241
associadas a este recuo podem ser estimadas em cerca de 3×104 m³/ano e 1×104 m³/ano,
aproximadamente.
6x10RIOS
? - - VENTO
-? -
-
DERIVA LITORAL
AUT
5,9x10 4,9x10
?2,3x10
Plataforma a sul
Plataforma a norte
3 4
PLATAFORMA CONTINENTAL LITORAL BORDO EVERTENTE CONTINENTE
?
BIO
?
5
3
52,5x10
-
3,6x104 4
3,7x10
TER FINOS
3x10
1x10
4
4
Figura IX.3 – Ensaio de balanço sedimentar para a plataforma sudoeste. Os lonsângulos, os quadrados e os círculos referem-se, respectivamente, às “entradas”, às “saídas” e à acumulação de material. Nos casos em que existem duas estimativas para o mesmo processo, a superior refere-se a partículas grosseiras e a inferior a partículas finas. Os símbolos ? e – correspondem a quantitativos, respectivamente, deconhecidos e diminutos. TER, BIO e AUT dizem respeito às componentes terrígena, biogénica e autigénica da areia. Estimativas em m³/ano.
A orientação da costa face à ondulação que mais frequentemente a atinge permite aceitar que o
volume de materiais que transitam, junto ao litoral, para norte desta região é reduzido. De igual
modo, o volume de sedimentos que transitam pela fronteira sul do sistema, por deriva litoral, é
provavelmente reduzido.
Nas condições para as quais os balanços sedimentares foram elaborados, os materiais
grosseiros exportados da zona litoral para a plataforma correspondem a cerca de 3,6×104
m³/ano.
Os materiais grosseiros actualmente exportados da zona litoral para a plataforma
continental adjacente são, na sua totalidade, constituídos por partículas terrígenas. As
242
componentes terrígena, biogénica e autigénica representam, em média, 39,5%, 54% e 6,5%,
respectivamente, das partículas "modernas" dos sedimentos grosseiros existentes na plataforma
(quadro IX.I). Assim, o material de origem biogénica e autigénica deverá corresponder,
respectivamente, a 4,9×104 m³/ano e 5,9×10³ m³/ano.
Tal como sucede no sector norte, os siltes e argilas que se acumulam nesta plataforma
deverão corresponder, presumivelmente, a cerca de 14% do total de sedimentos lodosos que
afluem à mesma. Este valor equivale a 3,7×104 m³/ano, sendo os restantes 2,3×105 m³/ano
transferidos para maiores profundidades.
3.3. Plataforma algarvia
No caso da plataforma algarvia (fig. IX.4), foram consideradas como fronteiras ocidental e
oriental os meridianos do cabo de S. Vicente e da foz do Guadiana, respectivamente.
A erosão das arribas e a descarga do Guadiana e das ribeiras algarvias constituem os
principais processos de fornecimento de partículas para a plataforma continental.
Os cursos de água que afluem a este litoral são responsaveis pelo transporte anual de
cerca de 8,7×105 m³ de sedimentos grosseiros e de 7,4×106 m³ de sedimentos finos (ver cap.
IV). Contudo, a litologia das bacias higrográficas e as correntes longilitorais que se fazem
sentir neste troço costeiro inibem a exportação da totalidade deste material para a plataforma
continental adjacente.
As litologias predominantes na bacia hidrográfica do Guadiana (formações xisto-
grauváquicas e, só muito acessoriamente, rochas eruptivas) apenas permitem uma diminuta
contribuição arenosa proveniente deste rio. Estas areias depositam-se na plataforma interna
adjacente, onde são sujeitas à acção das correntes de deriva litoral, que se dirigem para oriente
(Mèlieres, 1974).
Parte importante das bacias hidrográficas da maioria das ribeiras algarvias encontra-se
instaladas em terrenos francamente carsificados, com importante capacidade de infiltração e de
escoamento subterrâneo. Acresce que a porção terminal destas ribeiras se caracteriza pela
elevada extensão ocupada por planícies costeiras, que constituem armadilhas sedimentares que
dificultam a ejecção da carga arenosa transportada e pela intensa deflexão da orientação do
canal de escoamento quando este intersecta a faixa costeira, em consequência da actividade da
deriva litoral. É ainda relevante referir a acção retentora dos sistemas lagunares impropria mas
habitualmente designados por ria de Alvôr e da ria Formosa.
243
1,7x10RIOS
? - - VENTO
-? -
1,1x10
DERIVA LITORAL
AUT
3,8x10 4,7x10
?6,4x10
Plataforma a este
Plataforma a oeste
3 4
PLATAFORMA CONTINENTAL LITORAL BORDO EVERTENTE CONTINENTE
?
BIO
?
6
4
67,4x10
? -
2,7x104 6
1x10
TER FINOS
1,2x10
3x10
5
4
5
Figura IX.4 – Ensaio de balanço sedimentar para a plataforma algarvia. Os lonsângulos, os quadrados e os círculos referem-se, respectivamente, às “entradas”, às “saídas” e à acumulação de material. Nos casos em que existem duas estimativas para o mesmo processo, a superior refere-se a partículas grosseiras e a inferior a partículas finas. Os símbolos ? e – correspondem a quantitativos, respectivamente, deconhecidos e diminutos. TER, BIO e AUT dizem respeito às componentes terrígena, biogénica e autigénica da areia. Estimativas em m³/ano.
Nessas circunstâncias, é lícito supôr que o volume de sedimentos grosseiros exportados
para a plataforma continental pelos cursos de água que drenam esta região não seja superior a
20% da estimativa correspondente ao material trasnsportado pelas ribeiras algarvias, não
ultrapassando 1,7×104 m³/ano.
A erosão das arribas é reponsável pelo fornecimento anual de cerca de 1,2×105 m³ de
areias e cascalhos, de acordo com Andrade et al. (1989b), Andrade (1990) e Marques (1991), e
cerca de 3×104 m³/ano de material silto-argiloso, de acordo com os dados disponíveis em
Marques (1997) e Correia et al. (1997). Cerca de 1,1×105 m³ de areias e cascalhos são
anualmente subtraídos ao trânsito litoral, por acção das correntes longilitorais que se fazem
sentir na região costeira (Andrade, 1990).
No conjunto, a erosão das arribas e a descarga fluvial deverão fornecer cerca de 7,5×106
m³/ano de materiais silto-argilosos para plataforma continental.
244
Não entrando em consideração com os efeitos associados à elevação do nível do mar, os
materiais grosseiros exportados da zona litoral para a plataforma correspondem a cerca de
2,7×104 m³/ano.
As estimativas do volume de partículas de origem terrígena, biogénica e autigénica
presentes na fracção grosseira dos sedimentos acumulados na plataforma socorrem-se de
reciocínio análogo ao expendido para as regiões anteriores. Se admitirmos, com base nos
dados anteriores, que o volume de sedimentos exportados para a plataforma é de 2,5×104
m³/ano e é constituído na sua quase totalidade por partículas de origem terrígena, podemos
estimar o volume correspondente a cada uma das componentes. A análise do quadro X.I
indica que as percentagens médias de ocorrência das mesmas são, por esta ordem, 33%, 62% e
5%. Assim, o material de origem biogénica e autigénica corresponde, respectivamente, a
4,7×104 m³/ano e 3,8×103 m³/ano.
À semelhança do raciocínio expendido no caso da plataforma norte, a tentativa de
quantificação do material silto-argiloso que se acumula na plataforma parte do pressuposto de
que os sedimentos finos apenas se depositam na plataforma com carácter definitivo nos
depósitos lodosos cartografados na plataforma média e na plataforma externa, os quais
possuem uma área aproximada de 400 km². Na ausência de medições deste parâmetro, é lícito
supor que as taxas de acumulações médias sejam semelhanças às obtidas por diversos autores
para os depósitos lodosos da plataforma norte. Nestas circunstâncias, permaneceriam assim
acumulados cerca de 1x106 m³/ano de sedimentos lodosos, sendo 6,4×106 m³/ano transferidos
para maiores profundidades. Tal estimativa parece indicar que apenas 14% dos sedimentos
finos que afluem à plataforma se depositam nesta área, sendo os restantes 86% transferidos
para maiores profundidades.
4. Importância relativa de alguns processos e contribuições
A importância relativa dos rios como fornecedores de partículas para a plataforma, da
deriva litoral e das componentes terrígena, biogénica e autigénica da fracção grosseira dos
sedimentos presentes na plataforma pode ser facilmente avaliada se as estimativas
correspondentes forem apresentadas como caudais por unidade de área.
Os referidos valores, em m³/ano/km², figuram no quadro IX.II. Para a elaboração deste
quadro, as plataformas norte e algarvia, nas quais o limite oriental corresponde a uma ruptura
de pendor bem marcada, foram definidas por bordo situado às profundidades de 160 m e 120
m, repectivamente. A plataforma sudoeste foi definida por bordo situado à profundidade média
de 180 m. Apesar de ter sido anteriormente referida a inexistência de bordo evidente e nítido a
sul de Sines, a realização de perfis batimétricos nesta região permite constatar a existência de
uma ruptura de pendor a estas profundidades, embora por vezes bastante suave.
A análise deste quadro permite avaliar a importância relativa de diferentes processos e
contribuições nos sectores estudados.
245
A importância dos rios como fornecedores de partículas terrígenas para a plataforma é
máxima no sector a norte de Espinho, o que se encontra relacionado, entre outros factores, com
a densidade da rede de drenagem e com as litologias predominantes nas bacias hidrográficas.
Quadro IX.II – Caudais sedimentares (em m³/ano/km²) correspondentes a diferentes processos e contribuições.
Plataforma Rios Deriva Terrígenos Biogénicos Autigénicos Norte 349,2 317,5 31,7 16,5 1,8
Sudoeste 2,1 Error! Bookmark
not defined.0
8 17,2 2,1
Algarve 5,25 34,9 8,7 14,9 1,3
A importância da deriva litoral é também máxima na plataforma norte, cujo litoral se
encontra submetido à ondulação mais energética que atinge a costa portuguesa.
As mais elevadas contribuições, por unidade de área, em partículas biogénicas e
autigénicas verificam-se na região norte e na plataforma alentejana. No que se refere às
partículas biogénicas, tal facto encontra-se possivelmente relacionado, pelo menos em parte,
com a existência frequente de afloramentos rochosos nestes sectores, em que as características
oceanográficas dominantes são semelhantes. Por outro lado, as informações disponíveis sobre
o “upwelling” sugerem que a intensidade deste fenómeno é semelhante nas duas regiões e
superior em ambas à que se verifica no Algarve.
5. As modificações actuais nos balanços sedimentares
Os balanços anteriores permitem ressaltar a importância dos processos de fornecimento de
partículas ao litoral. Neste contexto, quaisquer alterações na magnitude de tais processos
repercutir-se-ão, certamente, de modo profundo nas estimativas apresentadas.
Desde o início do século, a actividade antrópica e a elevação do nível do mar têm sido
responsáveis por importante decréscimo na alimentação do litoral. Estes factores inibidores do
fornecimento actual de partículas grosseiras foram pomenorizadamente analisados em capítulo
anterior, enquadradas no âmbito mais geral dos processos de fornecimento e de distribuição de
partículas. No entanto, é relevante referir aqui, embora de maneira sucinta, algumas das
consequências da sua actuação.
Em parte, este decréscimo encontra-se associado à construção de barragens, as quais
determinam diminuição drástica da área das bacias hidrográficas que efectuam a drenagem
directa para a plataforma e reduzem a probabilidade da ocorrência de cheias.
Também as dragagens efectuadas no litoral com o objectivo de criar ou manter canais de
acesso aos portos e a construção de obras de engenharia costeira são, frequentemente,
246
prejudiciais para a manutenção do equilíbrio costeiro.
As acividades antrópicas são geramente consideradas responsáveis por cerca de 90% do
recuo da linha de costa do litoral português (p. ex.: Andrade, 1990; Ferreira et al, 1990b;
Ferreira, 1993), sendo o restante atribuível à elevação secular do nível médio do mar em
relação ao continente, a qual é da ordem de 1,5 mm/ano (King, 1975; Dias & Taborda, 1988;
Taborda & Dias, 1988).
Em consequência, verificam-se profundas alterações dos balanços sedimentares
apresentados anteriormente. Na plataforma norte, por exemplo, a contribuição fluvial é,
actualmente, pouco significativa (ver cap. IV da presente dissertação), encontrando-se a
principal contribuição associada à erosão de corpos dunares.
6. Súmula
1. Os conhecimentos existentes sobre a dinâmica sedimentar prevalecente nos sectores
estudados permitem a elaboração de balanços sedimentares simplificados.
2. Nestes balanços apenas se consideraram explicitamente o continente emerso, a zona litoral,
a plataforma continental sensu strictu e profundidades superiores à mesma. Foram ainda
brevemente analisadas as modificações induzidas pela subida actual do nível relativo do mar e
pela actividade antrópica, anteriormente discutidas em detalhe.
3. A análise dos referidos balanços permite comparar a importância de alguns processos e
mecanismos operantes ao nível da dinâmica sedimentar, os quais se podem relacionar com os
condicionalismos específicos de cada sector.
247
X. RECURSOS MINERAIS
1. Interesse da exploração
Como as plataformas continentais constituem o prolongamento, sob o oceano, dos
continentes emersos, têm potencialmente todos os recursos destes, acrescidos de muitos dos
que são inerentes ao meio marinho. O reconhecimento geral das potencialidades económicas
do leito do mar (tais como hidrocarbonetos, carvão, areias, cascalhos, diamantes, depósitos de
minerais metálicos do tipo “placer”, nódulos poliminerálicos e salmouras metalíferas) data do
final da década de 60. Em consequência de tal reconhecimento, registou-se um aumento de
interesse pela plataforma continental portuguesa, tendo-se verificado a outorga de licenças
para a realização de reflexão sísmica na mesma por companhias petrolíferas (1969) e a
concessão de áreas para pesquisa de petróleo em Portugal (1973).
A identificação dos recursos minerais do fundo do mar encontra-se intimamente
relacionada com as necessidades dos consumidores, pelo que é fundamental avaliar o grau de
certeza dos conhecimentos disponíveis sobre a sua natureza e existência e sobre a viabilidade
económica da sua extracção e venda. Neste contexto, a classificação de um determinado
depósito como recurso ou reserva (McKelvey, 1968) depende do avanço da prospecção, do
progresso da tecnologia e da conjuntura económica (fig. X.1)
CONHECIDO NÃO DESCOBERTO
RESERVAS
PROVADO PROVÁVEL POSSÍVEL
EXPL
OR
ÁVEL
PA
RA-
MAR
GIN
AL
RECURSOS
S
UB-
MAR
GIN
AL
Figura X.1 – Classificação das reservas e recursos minerais do fundo do mar (segundo McKelvey, 1968).
Segundo a classificação da fig. X.1, as reservas exploráveis correpondem a depósitos
que podem ser extraídos e vendidos com lucro tendo em conta as condições económicas e
248
tecnológicas locais. Recursos paramarginais são aqueles que poderiam ser economicamente
explorados a preços 1,5 vezes os actuais ou com avanço equivalente da tecnologia. Recursos
submarginais são os que poderão ser explorados a preços maiores que 1,5 vezes os actuais,
com uma utilização previsível de valor prospectivo. É natural que, à medida que os jazigos
tradicionais se vão esgotando e que a legislação de protecção do ambiente se vá tornando
mais rigorosa, os depósitos sub e paramarginais sejam objecto de exploração crescente.
Vistas neste enquadramento, as reservas presentemente exploráveis de muitos materiais
são relativamente pequenas comparadas com os recursos que podem ser encontrados pela
prospecção ou que se tornarão exploráveis em resultado do progresso da tecnologia ou
alteração das condições económicas. Isto é particularmente válido para os recursos do solo e
subsolo marinhos, dos quais apenas uma pequena parte foi prospectada, além do que a maior
parte não é ainda economica ou tecnicamente explorável.
Muitos materiais são já correntemente explorados a partir de depósitos submarinos,
embora, num cômputo global, ainda constituam uma percentagem ínfima dos extraídos em
terra. É o caso do petróleo, do carvão, dos inertes, das conchas calcárias, da cassiterite, da
magnetite, dos diamantes, do ouro, da ilmenite, do zircão, da monazite, da columbite, da
glaucónia, da fosforite, do sal e do enxofre. Têm sido também exploradas fontes de água doce
submersas. Em Portugal, a possibilidade de exploração das potencialidades da plataforma
continental encontra-se já consagrada legalmente, através do decreto-lei 90/90, de 16 de
Março de 1990. Contudo, são praticamente inexistentes os trabalhos publicados por
investigadores portugueses sobre a exploração de materiais a partir de depósitos submarinos.
As areias e os cascalhos constituem, além do petróleo, os materiais mais intensamente
explorados a partir de jazigos submarinos. O aumento de procura nos países mais
desenvolvidos, provocado pelo forte crescimento industrial e urbano, a progressiva
diminuição das reservas no continente, os conflitos de utilização dos terrenos susceptíveis de
instalação rentável de areeiros, os impactes ambientais negativos frequentemente associados a
estas explorações, o aumento dos conhecimentos sobre a cobertura sedimentar das
plataformas continentais e o acréscimo de eficácia das técnicas de dragagem tem levado a
que a exploração de cascalhos e areias das plataformas continentais se tenha vindo
progressivamente a generalizar a um número crescente de países.
Embora as explorações de inertes submarinos constituam actualmente prática corrente em
quase todos os países industrializados (p. ex.: Japão, Reino Unido, Dinamarca, Estados
Unidos, França, Holanda, Bélgica e Noruega), o peso que estas produções apresentam na
totalidade do consumo é, ainda, pequeno (Augris & Cressard, 1984). Todavia, estas
explorações têm forte tendência a aumentar, quer em número, quer em volumes extraídos.
A exploração de inertes provenientes de jazigos submarinos deverá ser precedida de
cuidadosos estudos de impacte ambiental, o qual se relaciona, essencialmente, com:
a) a eventual interrupção de ciclos sedimentares actualmente activos;
249
b) o conteúdo dos depósitos em materiais finos, que são ressuspensos no decurso da
exploração, aumentando a turbidez das águas. Essa turbidez provoca, entre outros, a
redução na penetração da luz, o que pode desencadear efeitos secundários na fauna,
nomeadamente na que se encontra associada a algas cujo crescimento fica, assim,
afectado (Shelton, 1973);
c) a destruição das comunidades bentónicas e ictiológicas (Ottman, 1985; Cressard,
1989);
d) perturbações nas correntes de fundo;
e) a criação de zonas «acidentadas», que podem constituir um obstáculo à pesca por
arrasto;
f) a destruição dos ambientes nos quais as larvas vivem e realizam as suas
metamorfoses (Messieh et al., 1991);
g) nalguns casos, o eventual aumento da produtividade biológica (Shelton, 1973;
Cressard, 1989).
No entanto, as explorações de jazigos submarinos podem também, eventualmente,
induzir impactes positivos. Aponta-se a título meramente exemplificativo, o caso de
explorações submarinos na Noruega, onde a exploração de cascalhos no Báltico conduziu a
um melhoramento e a um acréscimo substancial das populações piscícolas (Hill, 1974).
O conhecimento dos tipos de impacte ambiental provocado pela exploração de inertes,
em virtude da sua complexidade, implica uma análise cuidada que exige a utilização de
estudos de carácter multidisciplinar.
2. Hidrocarbonetos
Os hidrocarbonetos são os recursos economicamente mais importantes das margens
continentais. As sondagens efectuadas na margem continental portuguesa têm-se revelado
infrutíferas. No entanto, a prospecção efectuada não foi exaustiva, pelo que não é de excluir a
possibilidade da existência de recursos petrolíferos ainda desconhecidos nesta margem.
A análise de alguns perfis sísmicos obtidos na região entre os cabos Raso e Espichel
permitiu identificar gás (provavelmente metano) nos sedimentos da plataforma continental
(Rodrigues et al., 1993). Nesta área foi detectado um depósito enriquecido em matéria
orgânica (Gaspar & Monteiro, 1977), cuja decomposição, possivelmente, origina o gás
detectado nos perfis analisados.
3. Depósitos de areias e cascalhos
O primeiro trabalho sobre inertes submarinos em Portugal é o de Dias et al. (1980), para
o qual foi utilizada uma amostragem que apenas viabilizou um reconhecimento muito
genérico dos principais depósitos de areias e cascalho existentes na globalidade da plataforma
250
continental. O reconhecimento mais pormenorizado de um desses depósitos, localizado a SW
de Peniche, aparece um ano mais tarde (Dias et al., 1981). Todavia, estes estudos tiveram
como base uma malha de amostragem inadequada para estudos de pormenor.
Foi apenas uma década após estes trabalhos precursores que o tema voltou a ser objecto
de publicação, tendo Magalhães et al. (1991b) procedido à delimitação de depósitos de inertes
susceptíveis de eventual exploração económica e efectuado uma primeira estimativa de
reservas, baseados numa malha de amostragem de sedimentos superficiais bastante densa (1
milha quadrada) e em vários milhares de quilómetros de reflexão sísmica ligeira e de sonar de
pesquisa lateral. O potencial de remobilização pela agitação marítima das partículas que
constituem estes depósitos foi averiguado por Magalhães et al. (1991a).
À semelhança dos anteriores trabalhos que visaram a delimitação superficial de depósitos
de inertes submarinos, adoptou-se no presente estudo a classificação textural proposta por
Nickless (1973), que compreende 13 classes e se baseia em diagrama triangular cujos polos
são cascalho, areia e finos. Neste sistema classificativo (fig. X.2), o primeiro índice que se
toma em consideração é o teor em finos. Se o referido teor for superior a 40%, o sedimento é
considerado como não potencialmente exoplorável. Para percentagens inferiores a 40%, o
sedimento é classificado segundo a razão areia:cascalho. O valor desta razão permite definir
quatro grupos de classes: areia (>19:1), areia cascalhenta (19:1 a 3:1), cascalho arenoso (3:1
a 1:1) e cascalho (<1:1). Cada um destes grupos compreende, por sua vez, três termos
diferenciados pelas designações muito lodoso (entre 20 e 40% de finos), lodoso (entre 10 e
20% de finos) ou sem designação especial, se o conteúdo em finos for inferior a 10%.
FINOS
CASCALHOAREIA
XII IX VI III
XI VIII V
X
II
IIVVII
NÃO EXPLORAVEL (XII)
40%
20%
10%
I - cascalhoII - cascalho lodosoIII - cascalho muito lodosoIV - cascalho arenosoV - cascalho arenoso lodosoVI - cascalho arenoso muito lodosoVII - areia cascalhentaVIII - areia cascalhenta lodosaIX - areia cascalhenta muito lodosaX - areiaXI - areia lodosaXII - areia muito lodosaXIII - lodos
Figura X.2 – Diagrama ilustrativo das categorias usadas na classificação de Nickless.
Os sedimentos com melhores características para eventual exploração de inertes são
aqueles cujo conteúdo em finos é inferior a 10%, o que corresponde às classes I, IV, VII e X
de Nickless.
251
O mapa da fig. X.3 representa a distribuição dos depósitos enquadráveis nas diferentes
classes de Nickless. A análise deste mapa indica que nos sectores estudados existem bons
depósitos potencialmente exploráveis, especialmente no sector norte.
Na delimitação de depósitos de areias e cascalhos foram utilizados diversos factores
restritivos:
1. conteúdo em biogénicos pequeno (para garantir boa qualidade do material
explorado). Devido às características da cobertura de cada um dos sectores
estudados, restringiu-se esse conteúdo a 10% nas plataformas norte e sudoeste, e a
20% na algarvia;
2. conteúdo em finos inferior a 10% (para evitar fortes impactes ambientais);
3. profundidade superior a 15 m (para evitar impactes negativos no litoral);
4. profundidade inferior a 75 m (limite de exploração previsível no futuro próximo);
5. calibragem inferior a 1 (para grantir uma relativa homogeneidade granulométrica dos
sedimentos);
6. média granulométrica superior a 2 Ø (para aumentar a probalilidade do material
explorado não ser significativamente remobilizado);
7. conteúdo em quartzo superior a 75% (para garantir boa qualidade do material
explorado).
Os depósitos de inertes assim delimitados encontram-se representados na fig. X.4. A área
correspondente é sigificativamente diferente nos sectores estudados, sendo de
aproximadamente 1 500 km² na plataforma norte, 75 km² na sudoeste e 40 km² na algarvia
(fig. X.5).
As características médias dos depósitos identificados encontram-se expressas no quadro
X.I, sendo de ressaltar os baixos conteúdos em partículas silto-argilosas e em biogénicos.
Quadro X.I – Características dos depósitos de inertes. Os valores fora de parêntesis indicam a média e os valores dentro de parêntesis referem-se ao domínio de variação.
Sector Nº de pontos amostrados
Cascalho Areia Silte Argila Finos Biogénicos
Norte 59 26 (0-74) 74 (25-100) 0 (0-1) 0 (0-0) 0 (0-2) 4 (1-9) Sudoeste 11 14 (3-9) 86 (71-97) 0 (0-0) 0 (0-0) 0 (0-0) 5 (1-8)
Sul 6 10 (0-25) 88 (67-100) 2 (0-6) 1 (0-3) 3 (0-9) 15 (6-19)
Os estudos existentes sobre a distribuição das isopacas em áreas que abrangem os
sectores estudados indicam que a espessura dos depósitos de inertes existentes nos três
sectores é aproximadamente igual a 3 m. Podemos assim estimar o volume correspondente a
estes depósitos, assumindo que os mesmos são verticalmente homogéneos (quadro X.II).
252
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000 00 160000 00 200000 00 240000 00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha
Areia Cascalho
Finos
Figura X.3 – Distribuição dos grupos texturais de Nickless (1973).
253
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
100000.00 140000.00
38º 00'
37º 30'
9º 15' 8º 50'
0.0010000.0020000.0030000.0040000.000 20km
Sines
V. N. Milfontes
Cabo Sardão
Ponta daArrifana
C. Setúbal
C.
S. V
icen
te
50100
150
120000.00 160000.00 200000.00 240000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
LagosPortimão
Faro
Guadiana
37º 10'
36º 45'7º 40'8º 48'
50
150
100
Sagre
s
C. Portim
ão
Rocha Inertes
Figura X.4 – Distribuição dos depósitos de inertes.
254
NORTE SUDOESTE SUL
Área (km²) 800
1600
Figura X.5 – Áreas ocupadas pelos depósitos de inertes nos sectores estudados.
Quadro X.II – Volume dos depósitos de inertes identificados nos sectores estudados.
Sector Volume (km³) Norte 4,6
Sudoeste 0,3 Sul 0,1
A área ocupada pelos depósitos de inertes na plataforma norte e as características dos
mesmos justificam que, para este sector, se considerem em separado depósitos cascalhentos e
depósitos arenosos (fig. X.6).
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
a
000.00 105000.00 155000.00
0.0020000.0040000.0060000.0080000.000 20km
Viana
Porto
Aveiro
Cabo Mondego
C. Porto
C. Aveiro
50100
150
41º 30'
40º 30'
8º 40'9º 50'
b
Figura X.6 – Distribuição dos depósitos cascalhentos (a) e arenosos (b) na plataforma norte.
255
Os depósitos cascalhentos ocupam uma área de 900 km² e os arenosos de 500 km². As
respectivas características constam do quadro X.III.
Quadro X.III – Características dos depósitos cascalhentos e arenosos da plataforma norte. Os valores fora de parêntesis indicam a média e os valores dentro de parêntesis referem-se ao domínio de variação.
Depósitos Nº de pontos amostrados
Cascalho Areia Silte Argila Finos Biogénicos
Cascalhentos 32 42 (26-74) 58 (25-74) 0 (0-1) 0 (0-0) 0 (0-7) 5 (1-9) Arenosos 27 8 (0-24) 92 (74-100) 0 (0-1) 0 (0-0) 0 (0-1) 4 (1-7)
Os depósitos de inertes identificados são constituídos por materiais cujas características
granulométricas e composicionais deixam antever a possibilidade de uma ampla gama de
utilizações. A extensa área ocupada por estes depósitos e os elevados conteúdos em cascalhos
e/ou areias, associados às pequenas percentagens de materiais silto-argilosos e de partículas
de origem biogénica, e às profundidades médias a que ocorrem, ampliam as possibilidades da
sua futura exploração. A existência de diversas instalações portuárias (Porto, Leixões, Vila do
Conde, Viana do Castelo, Setúbal, etc) e, em especial no que se refere à plataforma norte, de
vários rios importantes nas proximidades destes depósitos, bem como a sua adjacência a
diversos pólos consumidores importantes (cidades e zonas industriais), aumentam a
viabilidade económica da sua exploração e impõem-nos como alternativa válida às
explorações tradicionais.
4. Outros recursos
Ocorrências de fosforite e glauconite foram descritas em Gaspar (1982) e Monteiro et al.
(1983).
As concentrações de minerais pesados que se conhecem no continente emerso sugerem a
possibilidade da ocorrência de «placers» na plataforma adjacente, pelo que se revestem de
especial importâncias as reconstituições paleogeográficas em diversos períodos desde o
último máximo glaciário. A linha de investigação relacionada com o estudo dos minerais
pesados encontra-se actualmente a ser desenvolvida por João Cascalho, no âmbito do já
referido Grupo DISEPLA.
A ocorrência de sal gema foi reconhecida na plataforma continental portuguesa, mas dada
a existência de jazigos em terra, a dificuldade de exploração e o seu baixo valor económico, o
seu aproveitamento a partir de jazigos submarinos é uma possibilidade longíqua.
256
Um aspecto ainda não investigado é a ocorrência de fontes de água doce submersas.
Dado que existem aquíferos abertos, karsts e olhos de água, é possível a existência de
nascentes de água doce no mar.
5. Súmula
1. Os recursos minerais da plataforma continental portuguesa que apresentam maior
viabilidade de exploração são as areias e os cascalhos. A extensa área que estes depósitos
ocupam, em especial no sector norte, as suas características e as profundidades médias a que
se encontram impõem-nos como alternativa válida às explorações tradicionais. A viabilidade
económica da sua exploração é ainda aumentada pela existência de diversas instalações
portuárias e de vários rios importantes nas proximidades destes depósitos, bem como a sua
adjacência a diversos pólos consumidores importantes (cidades e zonas industriais).
2. As sondagens de prospecção petrolífera até agora efectuadas na margem continental
portuguesa não indicaram a presença de petróleo. No entanto, a análise de perfis sísmicos
obtidos na região entre os cabos Raso e Espichel permitiu identificar outros hidrocarbonetos
(provavelmente metano) nos sedimentos da plataforma continental.
3. De entre os restantes recursos, é de assinalar a ocorrência de glauconite, fosforite e sal
gema.
257
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho efectuado versou sobre a cobertura sedimentar de três sectores da margem
continental portuguesa, localizados a norte do Cabo Mondego, entre o canhão submarino de
Setúbal e o Cabo de S. Vicente, e entre o Cabo de S. Vicente e a foz do rio Guadiana,
abreviadamente designados por plataformas norte, sudoeste e algarvia, respectivamente. A
selecção destes sectores, que apresentam diferentes características geológicas, morfológicas,
hidrográfico-climáticas e oceanográficas, teve por base as características contrastantes dos
mecanismos de fornecimento e de distribuição de partículas.
O estudo da granulometria e da composição dos sedimentos e das características
morfoscópicas das partículas que os constituem permitiu detectar algumas características
comuns aos sedimentos provenientes dos três sectores, bem como algumas específicas de
cada um.
Os sedimentos da cobertura não consolidada da plataforma e vertente são geralmente
grosseiros, o que indicia a presença de elevados níveis energéticos junto ao fundo. O tipo
textural mais abundante é a areia. Todavia, encontram-se representadas todas as restantes
classes consideradas no diagrama classificativo de Shepard (à excepção das classes argila e
argila arenosa).
A plataforma externa é mais lodosa, mais bioclástica e menos cascalhenta que a interna,
à semelhança do que sucede geralmente a nível mundial.
A distribuição do cascalho parece relcionar-se com as paleo-desembocaduras dos rios
mais importantes, com os respectivos deltas de vazante e com paleo-litorais. Verifica-se
tendência geral para esta fracção ocorrer em duas faixas grosseiramente paralelas à costa, por
vezes, bastante mal definidas.
De uma forma geral, os padrões de distribuição do cascalho terrígeno e das fracções
mais grosseiras de quartzo parecem concordar com os esquemas de evolução pós-glaciária
que têm sido propostos.
As distribuições da fracção silto-argilosa e das características granulométricas e
composicionais da areia parecem relacionar-se, entre outros factores, com os materiais
actualmente fornecidos pelos rios e/ou pelas arribas.
A componente terrígena da areia é dominada por quartzo, enquanto que a componente
carbonatada, predominantemente constituída por bioclastos de moluscos e carapaças de
foraminíferos, se integra na associação "foramol" e a componente autigénica é constituída
por glaucónia.
A plataforma norte apresenta sedimentos fortemente cascalhentos em que a componente
terrígena apresenta valores significativamente elevados, o que está de acordo com o bom
abastecimento de materiais provenientes do continente que para aí foram e são drenados pelos
258
numerosos rios que afluem a este litoral. O intenso abastecimento fluvial, que se atenuou
recentemente, é certamente responsável pela existência de um depósito silto-argiloso de
grande importância (pelo menos ao nível regional) junto das cabeceiras do canhão submarino
do Porto. O cascalho ocorre principalmente na plataforma média, em ligação aparente com as
paleo-desembocaduras do Ave, do Douro e, em menor extensão, do Cávado, e na plataforma
externa, na qual é menos terrígeno e menos grosseiro, em ligação aparente com os
afloramentos rochosos aí existentes.
Os mapas apresentados sugerem importação de materiais da região localizada
imediatamente a norte. O desenvolvimento de trabalhos conjuntos com investigadores que
estudem a plataforma galega permitirá o estudo global da plataforma galaico-minhota,
podendo clarificar vários dos problemas relacionados com a proveniência dos materiais
sedimentares.
Existe acentuado contraste entre a plataforma externa localizada a norte e a sul do canhão
submarino do Porto. A hipótese de diferenças de níveis energéticos actuantes junto ao fundo e
resultantes da interação dos factores oceanográficos com a batimetria permite justificar tal
facto.
Constata-se ainda a existência de contraste latitudinal evidente, cujo ponto de inflexão se
situa à latitude aproximada de 41ºN. Este comportamento encontra-se possivelmente
relacionado com diversos factores frequentemente interdependentes, como sejam: tipo de
desembocadura dos rios principais; orientação geral da costa, da batimetria e do bordo da
plataforma; ondulação dominante; intensidade da deriva litoral; presença de afloramentos de
rochas consolidadas; e estado de abarrancamento do bordo da plataforma.
No que se refere à fracção areia, este sector apresenta características de sedimentação
predominantemente terrígena até cerca dos 100 m de profundidade, bem como no bordo da
plataforma. Abaixo desta profundidade predomina, em geral, a componente biogénica, a qual
é dominada por clastos de moluscos e carapaças de foraminíferos.
A plataforma sudoeste é dominada pela classe textural areia. A escassa diversidade
textural destes sedimentos encontra-se provavelmente relacionada com a inexistência actual
de rios importantes e com a regularidade de pendor e exposição à ondulação da plataforma.
O padrão de distribuição dos sedimentos é significativamente diferente a norte e a sul de
Sines. O facto de o bordo da plataforma apenas ser evidente na região setentrional permite
explicar esta diferença de comportamento. A inexistência de bordo nítido a sul de Sines
contribui possivelmente para uma maior mistura de partículas.
A Veia de Água Mediterrânea e as correntes eventualmente associadas ao canhão de S.
Vicente parecem desempenhar papel significativo na distribuição das características dos
sedimentos.
A areia é dominada pela componente biogénica. É neste sector que ocorrem as mais
elevadas percentagens de glaucónia, em possível relação com a intensidade do "upwelling"
259
que aqui se verifica e com a diminuta “diluição” por partículas de origem terrígena.
A plataforma algarvia é a que apresenta maior diversidade de classes texturais, sendo o
cascalho e a areia predominantemente bioclásticos. Apresenta contraste marcado com os
sectores a oeste. Os conteúdos em materiais silto-argilosos são geralmente elevados. Estas
características apontam para níveis energéticos substancialmente inferiores aos dos outros
sectores, e para forte deficiência, principalmente no sector ocidental, no abastecimento de
elementos terrígenos das fracções areia e cascalho. Tal deficiência encontra-se relacionada
com a inexistência de rios importantes, além do Guadiana, que afluam a este sector e com o
tipo e constituição do relevo. É neste sector que os fragmentos de "beach-rock" são mais
abundantes.
Existe contraste longitudinal na distribuição das carcterísticas sedimentológicas. Tal facto
encontra-se possivelmente relacionado com diversos factores, de entre os quais se podem
citar: presença de sistema de ilhas-barreira; diferenças de níveis energéticos actuantes junto ao
fundo; orientação geral da costa, da batimetria e do bordo da plataforma; ondulação
dominante; intensidade da deriva litoral; estado de abarrancamento do bordo da plataforma.
A identificação das principais carcterísticas morfoscópicas das partículas de quartzo, de
bioclastos de moluscos, de carapaças de foraminíferos e de grãos de glaucónia permitiu
estender aos restantes sectores estudados as duas grandes classes consideradas por Dias
(1987) na plataforma setentrional: "M" (partículas recentemente chegadas ao depositário) e
"R" ("relíquia"). Além da análise à lupa binocular, foram também efectuadas análises
químicas e exoscópicas dos grãos de quartzo. As informações assim obtidas possibilitam a
dedução de características relevantes da dinâmica sedimentar actual e passada da plataforma
continental e da vertente superior, relativas, entre outros, à localização de paleo-litorais e à
existência de áreas deposicionais e não deposicionais. Tal análise possibilitou a aplicação de
um esquema classificativo dos sedimentos relíquia e modernos aos depósitos identificados na
cobertura sedimentar, bem como às fracções granulométricas que os constituem.
A integração das características granulométricas e composicionais das amostras
estudadas identificar diversos depósitos sedimentares.
Foram identificados depósitos areno-cascalhentos na plataforma média (nos três sectores
estudados), na plataforma externa (no sector norte) e no bordo da plataforma (no sector
sudoeste). Os depósitos arenosos distribuem-se desde a zona litoral até à vertente continental
superior. A norte do cabo Mondego detectou-se a existência de depósitos areno-siltosos. Na
plataforma média e externa e na vertente continental superior dos três sectores foram
cartografados depósitos lodosos.
Os depósitos areno-cascalhentos correspondem a sedimentos que se terão constituído
durante períodos de abaixamento do nível relativo do mar que interromperam a transgressão
260
generalizada ocorrida durante a última deglaciação, parecendo encontrar-se mais bem
definidos na plataforma média do que a maiores profundidades. Estes últimos são,
presumivelmente, mais antigos, sendo lógico supor que tenham sofrido maiores modificações.
De uma maneira geral, os depósitos identificados podem ser modernos ou relíquia. Os
depósitos modernos, em fase activa de formação, correspondem, de acordo as partículas que
os constituem, a sedimentos neotéricos (partículas modernas), a sedimentos protéricos
(partículas antigas) ou a sedimentos anfotéricos (constituídos por ambos os tipos de
partículas). Os depósitos relíquia, constituídos no passado, são classificados como sedimentos
palimpsestos (se contiverem partículas modernas e relíquia) ou como sedimentos relíquia (se
não se encontarem contaminados por partículas recentes).
Os depósitos lodosos, areno-lodosos e areno-siltosos correspondem a sedimentos
neotéricos com ligeira tendência anfotérica. Os depósitos arenosos correspondem a
sedimentos que variam desde neotéricos (na plataforma interna e em parte da média) a
palimpsestos (em parte do bordo da plataforma e da vertente continental superior). Os
depósitos areno-cascalhentos são sedimentos anfotéricos a palimpsestos.
Este esquema classificativo pode ser igualmente aplicado às fracções granulométricas que
constituem os sedimentos. As mais grosseiras têm características palimpsésticas, chegando a
ser relíquias ou protéricas; a fracção intermédia é anfotérica; as fracções mais finas da areia
são geralmente neotéricas, embora com tendência anfotérica variável; as fracções silte e argila
são, provavelmente, neotéricas.
A elevação do nível do mar que constitui a transgressão flandriana é um dos principais
mecanismos que condicionam o padrão de distribuição dos sedimentos não consolidados. A
granulometria e a composição dos sedimentos superficiais dos sectores estudados, bem como
os traços morfologicos detectados e a cartografia de pendores, sugerem que a curva de
variação do nível relativo do mar anteriormente proposta para a plataforma continental
setentrional é, nos seus traços gerais, igualmente aplicável à região a sul do canhão submarino
de Setúbal. A utilização de tal pressuposto permitiu apresentar presumíveis configurações de
paleo-litorais em diversos estádios da evolução pós-glaciária. Contudo, as datações a que se
teve acesso parece indicarem que o nível do mar atingiu a sua cota actual há
aproximadamente 6 ka.
Os estudos efectuados permitiram ainda elaborar balanços sedimentares simplificados ,
em que apenas foram explicitamente considerados o continente emerso, a zona litoral, a
plataforma continental sensu strictu e profundidades superiores à mesma, não tendo sido
contempladas as modificações induzidas pela subida actual do nível relativo do mar e pela
actividade antrópica. A análise destes balanços permite comparar a importância de alguns
processos e mecanismos operantes ao nível da dinâmica sedimentar, os quais se podem
261
relacionar com os condicionalismos específicos de cada sector. Foram também apresentados
esquemas que pretendem representar o presumível trajecto das partículas sedimentares.
Os recursos minerais da plataforma continental portuguesa que apresentam maior
viabilidade de exploração são as areias e os cascalhos. A extensa área que estes depósitos
ocupam, em especial no sector norte, as suas características e as profundidades médias a que
se encontram impõem-nos como alternativa válida às explorações tradicionais. A viabilidade
económica da sua exploração é ainda aumentada pela existência de diversas instalações
portuárias e de vários rios importantes nas proximidades destes depósitos, bem como a sua
adjacência a diversos pólos consumidores importantes (cidades e zonas industriais).
De entre os diversos factores que condicionam a dinâmica sedimentar, a subida do nível
médio do mar e a retenção de partículas grosseiras, nomeadamente nos estuários e nas
albufeiras das barragens, são responsáveis por um progressivo enriquecimento em partículas
silto-argilosas da cobertura da plataforma continental. Este enriquecimento provocará
essencialmente impactes ambientais a nível biológico e ecológico. Entre outros, são de referir:
a) a eventual interrupção de ciclos sedimentares actualmente activos;
b) o aumento de turbidez das águas. Essa turbidez provoca, entre outros, a redução na
penetração da luz, o que pode desencadear efeitos secundários na fauna,
nomeadamente na que se encontra associada a algas cujo crescimento fica, assim,
afectado;
c) a destruição das comunidades bentónicas e ictiológicas;
d) perturbações nas correntes de fundo;
e) a criação de zonas «acidentadas», que podem constituir um obstáculo à pesca por
arrasto;
f) a destruição dos ambientes em que as larvas vivem e realizam as suas metamorfoses;
g) nalguns casos, o eventual aumento da produtividade biológica;
h) a maior facilidade de actuação de determinados agentes poluidores, nomeadamente
metais pesados.
Para o acréscimo da compreensão dos mecanismos envolvidos num processo altamente
complexo como é a dinâmica sedimentar torna-se imprescindível efectuar o "cruzamento" de
informações e a calibração das conclusões provenientes de estudos análogos ao apresentado e
de outros de índole diversa, relacionados com avaliação de recursos minerais metálicos e não
metálicos, variações do nível do mar, micro-fauna, geoquímica, argilas, processos costeiros e
reflexão sísmica, entre outros aspectos. É também necessário que os dados de base colhidos
na plataforma continental estudada sejam amplamente divulgados pela comunidade científica,
o que, infelizmente, nem sempre acontece.
262
Nos últimos anos têm vindo a ser implementados diversos projectos de investigação
que versam sobre diversos aspectos relacionados com o estudo da margem continental
portuguesa. As informações obtidas contribuirão certamente para uma correcta gestão da ZEE
portuguesa, cuja área é cerca de 3,5 vezes superior à área emersa do País.
Estes projectos apresentam importantes componentes de formação, de cooperação
interinstitucional e de colaboração internacional. Em consequência, principalmente, da
execução dos mesmos, pode afirmar-se, sem grande margem para erro, que o número de
investigadores dedicados às geociências marinhas quadruplicou no decurso do quinquénio
1988-1992. No entanto, apesar da dinâmica de investigação associada a estes projectos ter
propiciado a criação de um grupo de investigação jovem e dinâmico e, simultaneamente,
suscitado uma cooperação internacional que é de assinalar, as perspectivas futuras não se
revelam muito promissoras.
Por um lado, as recentes restrições ao financiamento de projectos em geociências
marinhas constituem um importante factor inibitório, ao induzirem o decréscimo de
actividades de investigação.
Por outro lado, a comunidade portuguesa de geociências marinhas apresenta ainda uma
reduzida expressão numérica, encontrando-se distante de atingir a necessária dimensão crítica,
pelo que se torna imprescindível a continuação do apoio e estínulo à formação de jovens
investigadores.
A expressão das geociências marinhas nos laboratórios estatais é extremamente reduzida,
encontrando-se a única Divisão de Geologia Marinha existente em tais instituições sediada no
Instituto Geológico e Mineiro. A Divisão similar até há algum tempo existente no Instituto
Hidrográfico foi recentemente extinta, tendo os geólogos marinhos a ela adstritos sido
distribuídos pelas de Oceanografia e de Química e Poluição. Não existe qualquer geólogo
marinho nos restantes laboratórios do Estado. A importância de que se revestem as
geociências marinhas em Portugal e as necessidades extremas que se verificam neste campo
torna imprescindível e urgente a integração de investigadores qualificados nos quadros destas
instituições. Os restantes organismos estatais encontram-se numa situação ainda mais
problemática, já que não existe neles qualquer geólogo marinho.
O reduzido número de investigadores portugueses de geociências marnhas nas
instituições estatais num país com a vocação marítima que tradicionalmente se associa a
Portugal, a qual teve uma das expressões máximas na epopeia dos Descobrimentos, com
acidentes geológicos submarinos extremamente interessantes (entre os quais se podem citar
planícies abissais, montanhas submarinas, pontos triplos e chaminés hidrotermais), com
elevado potencial em recursos minerais e com uma das maiores ZEE's europeias, é, no
mínimo, surpreendente.
No entanto, existem actualmente alguns indícios de que este panorama sombrio seja, num
futuro próximo, substancialmente modificado. Esperemos que tais indícios se concretizem.
263
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I
GLOSSÁRIO
ACUMULAÇÃO – Conjunto de processos que provocam o crescimento de um depósito.
ALTURA DA ONDA – Distância vertical entre o ponto mais alto da crista da onda e o ponto
mais baixo da cava da mesma.
ALTURA SIGNIFICATIVA DA ONDA – Altura média do terço das ondas com maior altura
registadas no período de observação.
AMPLITUDE DA MARÉ – Distância vertical entre o nível das marés altas e o das marés
baixas imediatamente seguintes ou precedentes.
ÁREA DE SEDIMENTAÇÃO – Área na qual ocorrem diversos processos sedimentológicos,
desde a erosão à acumulação, delimitada fisiograficamente por condições de fronteira
dinâmico-ambientais.
AREIA – No presente trabalho, designa as partículas (ou a fracção textural correspondente)
cujas dimensões se encontram compreendidas entre –1 Ø e 4 Ø.
ARGILA – Termo que, no presente trabalho, é normalmente utilizado para referir a fracção
textural cujas partículas possuem diâmetros inferiores a 9 Ø.
ASSIMETRIA – Medida que traduz o desvio de uma curva de distribuição em relação à
simetria de uma curva normal.
BORDO DA PLATAFORMA – Linha ao longo da qual se verifica um nítido aumento de
declive no limite exterior da plataforma continental.
CALIBRAGEM – Selecção das partículas durante o transporte, em função dos seus
diâmetros, densidades e formas. O parâmetro granulométrico que a exprime é o desvio
padrão, que mede a dispersão dos diâmetros granulométricos em torno da média.
CALIBRAGEM ELEMENTAR – Conceito introduzido por Walger (1962) para se referir à
calibragem óptima atingível pelo material com dada dimensão granulométrica.
II
CALIBRAGEM RELATIVA – Coeficiente de calibragem que é independente da média
granulométrica.
CANHÃO SUBMARINO – Depressão relativamente estreita, profunda e de flancos
escarpados, cujo talvegue apresenta geralmente um declive contínuo, e cujas vertentes
possuem um declive superior a 45º. Normalmente tem forma de vale fluvial, cortando em
geral transversalmente a plataforma e a vertente continentais.
CASCALHO – Termo que, no presente trabalho, designa todo o material (ou a respectiva
fracção granulométrica) de dimensões superiores a 2 mm, independentemente da origem.
CICLO DE DEPOSIÇÃO – Termo que engloba a erosão, o transporte e a acumulação das
partículas sedimentares sob determinadas condições ambientais.
CIRCULAÇÃO TERMOHALINA – Circulação induzida por variações de temperatura e de
concentração salina das águas.
CONFIGURAÇÃO DE PROCESSOS – Conjunto das características (tipo, intensidade de
actuação, etc.) de um conjunto de processos cujos resultados finais são convergentes.
CONTORNITO – Sedimento depositado sob a influência de correntes de contorno.
CORRENTE DE CONTORNO – Corrente de águas geralmente densas e frias que flui na
adjacência de vertente submarina (frequentemente da vertente continental).
DEPOSIÇÃO – Processo ou conjunto de processos conducente à integração de uma partícula
num depósito.
DEPOSITÁRIO – Termo que designa "o lugar onde algo se deposita". Corresponde à parte
superficial, sedimentologicamente activa, de uma área de deposição.
DEPÓSITO MODERNO – Depósito sedimentar em fase activa de formação.
DEPÓSITO RELÍQUIA – Depósito sedimentar constituído quando a configuração dos
processos de distribuição era substancialmente diferente da actual.
DERIVA LITORAL – Esta designação aplica-se às movimentações de materiais sedimentares
paralelas ao litoral e próximas deste.
III
DILATÂNCIA DINÂMICA – Aumento de volume de um corpo, constituído por partículas
não consolidadas, provocado pela movimentação e afastamento das partículas entre si, devido
à componente tangencial da força de gravidade exceder as forças de fricção. Quando a
dilatância dinâmica excede um valor crítico, as partículas iniciam movimento generalizado.
EQUIVALÊNCIA HIDRÁULICA – Segundo Rubey (1933), corresponde à deposição de
partículas com a mesma velocidade de sedimentação, i.e., a mesma velocidade de queda no
seio de um fluido quando as forças de impulsão e de atrito a que se encontam sujeitas igualam
a força de gravidade.
EROSÃO – Processo ou conjunto de processos que provoca a "diminuição" de um depósito.
ESCALA Ø – Escala logarítmica frequentemente utilizada no estabelecimento das classes
granulométricas dos sedimentos, através da relação
Ø = –log 2 d/d0 , em que d é o diâmetro da partícula em mm e d0 tem o valor de 1
mm.
Apresentam-se alguns exemplos de correspondências entre as escalas Ø e milimétrica:
Cascalho Areia Silte Argila
-5 Ø – 32 mm 0 Ø – 1 mm 5 Ø – 31 µm 10 Ø – 0,98 µm
-4 Ø – 16 mm 1 Ø – 0,5 mm 6 Ø – 15,6 µm 11 Ø – 0,49 µm
-3 Ø – 8 mm 2 Ø – 0,25 mm 7 Ø – 7,8 µm 12 Ø – 0,24 µm
-2 Ø – 4 mm 3 Ø – 0,125 8 Ø – 3,9 µm 13 Ø – 0,12 µm
-1 Ø – 2 mm 4 Ø – 0, 0625 mm 9 Ø – 2 µm 14 Ø –0,06 µm
FRACÇÃO FINA – Termo genérico que se aplica às partículas de dimensão inferior a 4 Ø.
FRACÇÃO GROSSEIRA – Termo genérico que se aplica às partículas de dimensão superior
a 4 Ø.
FRENTE POLAR – Fronteira entre as águas polares, caracterizadas pela associação mono-
específica de Neogloboquadrina pachyderma sinistrógira, e as águas subpolares em que se
desenvolve maior diversidade de foraminíferos planctónicos.
GLAUCÓNIA - À semelhança de Freitas et al. (1993), utiliza-se este termo
preferencialmente à designação "glauconite" para evitar eventuais conotações mineralógicas.
Refere qualquer partícula terrosa, em geral mais ou menos arredondada, de cor verde, cuja
tonalidade pode variar de clara a escura, quase negra.
IV
KRIGAGEM – Procedimento geostatístico que consiste na procura do melhor estimador
linear do valor de uma variável regionalizada num dado espaço (ponto, área ou volume), a
partir da informação disponível, referente aos valores assumidos pela variável cuja
distribuição espacial se pretende estimar e aos parâmetros do variograma correspondente. A
comparação entre diversos métodos de estimação permite concluir ser este o que geralmente
produz melhores estimativas. Este método apresenta ainda as vantagens de considerar a
anisotropia espacial dos dados e quantificar os erros associados às estimativas obtidas,
fornecendo um adequado modelo conceptual para o traçado automático de isolinhas por
computador. Este método de estimação foi proposto por D.G. Kridge, um engenheiro de
minas sul-africano e daí a sua designação.
MARGEM CONTINENTAL – Zona que separa o continente emerso de uma planície abissal
ou dos grandes fundos oceânicos e geralmente constituída pela plataforma, pela vertente e
pela rampa continentais.
MÉDIA – Medida do diâmetro médio de um distribuição, correspondente ao ponto que divide
a área sob uma curva de distribuição em duas partes iguais.
MONTANHA SUBMARINA – Relevo isolado de grandes dimensões, de forma geralmente
cónica.
"MUD LINE" – Designação proposta por Stanley & Wear (1978) para se referir à linha
imaginária a partir da qual não ocorre um aumento significativo no conteúdo em silte e argila.
ONDAS DE KELVIN – Ondas aprisionadas por uma parede vertical e em que a componente
transversal da velocidade de propagação das partículas é nula.
ONDAS GRAVÍTICAS – Ondas cujo período se encontra compreendido ente 30 s e 5 min.
ONDAS INTERNAS – Ondas que se propagam ao longo da interface entre duas massas de
água com densidades diferentes.
PICNOCLINA – Zona, num corpo de água estratificado, em que a densidade varia
rapidamente com a profundidade.
V
PLATAFORMA CONTINENTAL – Zona adjacente a um continente que se estende desde o
nível das marés baixas até uma profundidade à qual existe habitualmente um nítido aumento
de declive em relação às grandes profundidades oceânicas.
PLANÍCIE ABISSAL – Extensa região dos grandes fundos oceânicos, plana e horizontal ou
pouco inclinada.
PROCESSOS DE DISTRIBUIÇÃO – Conjunto de processos que são responsáveis pela
distribuição e acumulação de partículas no inerior do depositário, de modo a formar depósitos
sedimentares. Se a sua configuração é análoga à actual, conduzem à formação de depósitos
modernos. Caso contrário, os depósitos resultantes da actuação destes processos são
considerados relíquia.
PROCESSOS DE FORNECIMENTO – Conjunto de processos que são responsáveis pelo
abastecimento de partículas ao depositário. São considerados modernos, se a sua
configuração, no momento em que a partícula chegou ao depositário, era análoga à actual, e
relíquia, no caso contrário.
PROVÍNCIA FISIOGRÁFICA – Região identificável por um conjunto de características
fisiográficas semelhantes, em contraste marcado com as das regiões vizinhas.
RAMPA CONTINENTAL – Superfície de fraco pendor que se eleva desde as profundidades
oceânicas até ao sopé da vertente continental.
RECIFE – Rochas que emergem à superfície do mar ou se situam a pequena profundidade e
que podem representar um perigo para a navegação de superfície.
REGRESSÃO – Translacção do litoral em direcção ao mar, correspondendo a um aumento da
área emersa na zona sujeita a regressão.
REMOBILIZAÇÃO – Processo que conduz à entrada em movimento (e eventual remoção) de
uma partícula integrada num depósito.
SEDIMENTO – Termo utilizado no presente trabalho na acepção de McManus (1975),
designando, quer o conjunto de partículas sedimentares, quer o depósito sedimentar que as
inclui.
VI
SEDIMENTO ANFOTÉRICO – Termo proposto por McManus (1975) para designar um
depósito moderno constituído por partículas que estão actualmente a ser fornecidas ao
depositário e por outras que o foram antes dos processos adquirirem configuração análoga à
actual.
SEDIMENTO EM EQUILÍBRIO – Na acepção de Curray (1965) é o que está presentemente
a ser fornecido e transportado para a área de sedimentação.
SEDIMENTO MODERNO – Designação empregue por Curray (1965) como sinónimo de
sedimento em equilíbrio.
SEDIMENTO NEOTÉRICO – Conceito introduzido por McManus (1975) para se referir a
um depósito moderno constituído por partículas que estão presentemente a ser fornecidas ao
depositário.
SEDIMENTO PALIMPSESTO – Conceito proposto por Swift et al. (1971) para designar um
sedimento relíquia posteriormente retrabalhado e que apresenta características de dois
ambientes sedimentares, um mais antigo e um mais moderno. Na terminologia de McManus
(1975), corresponde a um depósito relíquia que contêm partículas modernas e relíquia.
SEDIMENTO PROTÉRICO – Termo proposto por McManus (1975) para designar um
depósito moderno constituído por partículas fornecidas ao depositário no passado.
SEDIMENTO EM PSEUDO-EQUILÍBRIO – Designação introduzida por Curray (1973,
1975), correspondendo a um sedimento relíquia de tal modo transformado e modificado pelos
processos ambientais actuais que ficou em equilíbrio com estes processos, embora os
depósitos possam não ser constituídos por material depositado actualmente.
SEDIMENTO RELÍQUIA – É um sedimento que não se encontra em equilíbrio com as
condições ambientais actuais. Todavia, o significado desta designação varia segundo os
diferentes autores que a empregam. Na acepção de Emery (1952, 1968) é um vestígio de
ambiente anterior, diferente do actual. Na terminologia de McManus (1975), corresponde a
um depósito relíquia não contaminado por partículas recentes. Belderson et al. (1971)
propõem o abandono desta designação, argumentando que a mesma não põe em evidência o
aspecto dinâmico da sedimentação recente nas plataformas continentais.
SILTE – No presente trabalho, designa as partículas (ou a fracção textural correspondente)
cujas dimensões se encontram compreendidas entre 4 Ø e 9 Ø.
VII
SISTEMA ANFIDRÓMICO – Sistema que abrange uma região centrada no ponto
anfidrómico (onde a amplitude de maré é igual a zero) e em que a amplitude de maré vai
sendo progressivamente maior à medida que se afasta desse ponto.
TERRAÇO – Superfície relativamente plana e horizontal ou fracamente inclinada, por vezes
longa e estreita, limitada de ambos os lados por declives maiores.
TRANSGRESSÃO – Translacção do litoral em direcção a terra.
"UPWELLING" – Processo pelo qual as águas oceânicas superficiais são dirigidas para o
largo, devido a mecanismos atmosféricos e oceânicos, sendo substituída por águas mais
profundas, mais frias e ricas em nutrientes. À semelhança de Dias (1987), utiliza-se este termo
preferencialmente às designações "afloramento costeiro" e "ressurgência costeira", porque as
palvras "afloramento" e "ressurgência" têm significado preciso em geologia, diferente do
associado a "upwelling".
VARIÁVEL REGIONALIZADA – Variável cujos valores dependem fortemente da
localização das amostras (latitude, longitude e profundidade). O seu comportamento
caracteriza-se pela coexistência de uma componente aleatória, relacionada com a
irregularidade do fenómeno que se pretende analisar, e de uma componente estruturada, que
traduz a correlação existente entre os diversos locais onde a variável foi amostrada. Como
exemplos deste tipo de variáveis, são de referir as relativas às caracteísticas texturais e
composicionais dos sedimentos.
VARIOGRAMA – Gráfico que representa os valores da variância de uma variável
regionalizada em função da distância entre os pontos amostrados. É uma medida do grau de
continuidade espacial da variável a que respeita. Pode ser experimental, quando diz respeito à
amostragem de que se dispôe, ou pode ser ajustado a um modelo teórico.
VERTENTE CONTINENTAL – Declive limitado pelo bordo da plataforma e o início da
rampa continental, ou pelo ponto que marca uma diminuição geral do declive.