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OSCAR NIEMEYER A VIDA É UM SOPRO Roteiro de Fabiano Maciel 1

Oscar Niemeyer - A Vida Eh Um Sopro - Roteiro

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OSCAR NIEMEYER

A VIDA É UM SOPRO

Roteiro de Fabiano Maciel

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SEQUÊNCIA 00 LETTERINGS E LOGOMARCASSobre fundo preto entram os letterings e logomarcas:

projeto realizado através das leis:

LEI ROUANETLEI DO AUDIOVISUALLEI MENDONÇA

patrocínio cultural:ACCENTURE

BNDESPETROBRAS

PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO

uma produção:SANTA CLARA

em parceria com:FUNDAÇÃO OSCAR NIEMEYER

SEQUÊNCIA 01 O SONHO DE CABRAL

OSCAR NIEMEYER OFF

Uma vez eu tive um sonho, eu sonhei que o Rio de Janeiro não tinha sidoocupado. Que a cidade tinha crescido mais junto aos morros entrandopelo interior.

Então que eu tinha chegado na janela e tinha visto o mesmo panoramaque o Cabral viu quando chegou, não é?

A natureza fantástica, aquilo tudo, os pássaros, os bichos. E a cidaderecuada olhando isso de longe. 

Seria um paraíso assim guardado no tempo né?

Por isso é que um dia o Sartre disse: quem sabe que o mundo não seriamelhor sem os homens.

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SEQUÊNCIA 02 ABERTURA

lettering sobre fundo preto:

A VIDA É UM SOPRO

lettering sobre fundo preto:

documentário de Fabiano Maciel e Sacha.

SEQUÊNCIA 03 EU GOSTAVA DE DESENHAROSCAR NIEMEYER ON

Eu gostava de desenhar.

Eu lembro quando eu era menino, eu começava a desenhar com o dedoassim no ar e minha mãe perguntava: “O que que você tá fazendo?”

Eu dizia: Tô desenhando.

De modo que foi o desenho que me levou pra arquitetura.

SEQUÊNCIA 04 TEXTO EXPLICATIVO - QUANDO SURGE A IDÉIA

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Um momento importante da arquitetura é quando surge a idéia.

Eu por exemplo,trabalho de uma maneira muito particular.

Quando eu tenho uma idéia, começo a estudar um problema, primeiroeu verifico quais são as condições locais, a possibilidade econômica.

Depois eu começo a desenhar. E quando chego a uma idéia, a umasolução que me agrada, eu passo a escrever, a redigir um textoexplicativo.

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Porque se nesse texto eu não encontro argumentos, eu volto praprancheta.

Uma vez lá em Brasília era noite alta e nós fomos ver a estrutura doAlvorada que estava pronta.

E quando chegamos lá de noite, nós ficamos espantados, como erabonita. Parecia uma escultura, uma coisa que não tinha nenhumafinalidade senão da própria beleza.

Eu disse pra eles: olha, esse é o momento em que nasce a arquitetura. Éa forma nova, diferente , que deve criar surpresas, essa é a arquitetura.

SEQUÊNCIA 05 TEM QUE HAVER FANTASIA

Entram os seguintes letterings sobre as imagens: -Palácio do Itamaraty Brasília 1962-Capela do Alvorada Brasília 1958-Teatro Nacional Brasília 1959-OCA São Paulo 1951-Congresso Nacional Brasília 1958-Memorial JK Brasília 1980-Palácio da Justiça Brasília 1962

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

O importante pra nós em todos os sentidos é a liberdade.

 Tem que haver fantasia, tem que haver uma solução diferente. Isso éque é importante na arquitetura.

O que vai ficar da arquitetura, o que ficou, não foram as pequenascasas, muito bem tratadas...

Foram as catedrais, foram as "voutes", foram os grandes balanços, né?

Beleza é importante. Você vê as pirâmides... uma coisa sem menorsentido, mas são tão bonitas, são tão monumentais que a gente esquecea razão das pirâmides e se admira, né?

Se você ficar preocupado só com a função, fica uma merda.

SEQUÊNCIA 06 O ARQUITETO TEM QUE SABER DESENHAR

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OSCAR NIEMEYER ON/OFF

É comum você ver um desenho de criança colorido, podia ser um painelde tão bonito. Porque é criativo, coisa espontânea.

Depois que ela aprende, não consegue mais fazer.

Eu acho que o arquiteto tem que saber desenhar, fazer um desenhofigurativo, desembaraçar a mão pra trabalhar.

SEQUÊNCIA 07 FODIDO NÃO TEM VEZ

Depoimento do Oscar.

OSCAR NIEMEYER ONQuando me pedem um prédio público por exemplo, como eu fiz agora, 3em Brasília, eu procuro fazer bonito, diferente, que crie surpresa.

Porque eu sei que os mais pobres não vão usufruir nada. Mas elespodem parar, ter um momento assim de prazer, de surpresa, ver umacoisa nova.

É o lado assim que a arquitetura pode ser útil. O resto quando ela tiverum programa humano, social , aí ela vai cumprir seu destino.

Por enquanto só usa arquitetura quem tem dinheiro. Os outros estãofudidos aí nas favelas.

Aqui...meu lema é esse aí. Viu o homenzinho lá em cima? Esse negóciovermelho...“Fodido não tem vez”, tá escrito ali.

SEQUÊNCIA 08 INFÂNCIA EM LARANJEIRAS - FAMÍLIA CATÓLICA

OSCAR NIEMEYER ON / OFF

Eu morava em Laranjeiras na rua Passos Manoel. Foi uma infânciatranquila.Eu estudei no Colégio Barnabita.

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Depois teve um período assim de muita euforia, mocidade, CaféLammas, Fluminense... Nós parecíamos que estávamos na vida para sedivertir, que era um passeio.

Depois casei, vieram os compromissos, a minha vida não tem nada de

especial. É um ser humano assim insignificante,que atravessa a vidaque é um sopro, né ?

Eu era de família católica e meu avô, que era ministro do Supremo Tribunal e a regalia que ele tinha era missa em casa. Ele era honesto.

Ele foi ministro muitos anos e isso é uma coisa que pesou muito emmim.

Quando ele morreu ele deixou a casa em que nós morávamos, apenas

aquilo.

SEQUÊNCIA 09 PRIMEIRA CASA PROJETADA E OBRA DO BERÇO

Lettering: Obra do Berço Rio de Janeiro 1937

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

A primeira casa que eu fiz, meu primeiro projeto, eu era estudante. Fizpra um médico que era meu parente, fiz de graça.

O sujeito riu muito. Achou impagável a casa. Era uma casa moderna,direitinha.

De modo que você ainda tem que agradar um sujeito que às vezes éimpossível agradar.

 A Obra do Berço foi o meu primeiro projeto. Uma diretora da Obra do

Berço era minha parenta, eu tava saindo da escola ela me pediu oprojeto.

Eu me lembro que até isso marcou um pouco a minha posição naarquitetura. Eu fiz uma proteção com brise-soleil com umas caixas queas verticais eram inclinadas.

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Eu fui pra Europa quando voltei o prédio estava pronto, mas elesacharam que era engano, que deviam ser normais a fachada. E o solentrava no prédio.

Eu me lembro que eu fiz o projeto de graça e ainda paguei a fachada

nova com aqueles elementos verticais.É um fato sem importância mas que mostra que eu era idealista, que euqueria fazer arquitetura, que eu me sentia responsável pelo que eu faziacom relação a arquitetura brasileira.

SEQUÊNCIA 10 "A CIDADE DO RIO DE JANEIRO" DE HUMBERTOMAURO

Lettering: "A cidade do Rio de Janeiro" de Humberto Mauro,

1949.NARRADOR ORIGINAL DO FILME EM OFF

"A cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil. Fundada em 1565, junto aoPão de Açúcar, desenvolveu-se a margem da Baía de Guanabara.

Contando hoje com cerca de 2 milhões de habitantes, possui todos osrequisitos de uma cidade moderna.

Onde se erguia o histórico Morro do Castelo, núcleo inicial da cidade,

demolido a 20 anos, estende-se hoje a nova zona central do Rio de  Janeiro, a Esplanada do Castelo, em ruas modernas e construçõesnovas."

SEQUÊNCIA 11 LUCIO COSTA

OSCAR NIEMEYER ON

Eu aprendi na vida, aprendi no escritório do Lucio Costa...

Naquele período, quando a gente estava no meio do curso a idéia, apreocupação era sempre trabalhar numa firma construtora.

Eu que tava até desempregado, tava casado e com poucaspossibilidades de dinheiro, eu preferi ir trabalhar com o Lucio de graça.

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Porque eu queria fazer uma boa arquitetura. E foi lá que eu aprendi.

SEQUÊNCIA 12 LUCIO COSTA NA UNB

Lettering: Lucio Costa na Universidade de Brasília 1992.

LÚCIO COSTA ON/OFF

Eu não admitia fazer nada que não estivesse em dia com a renovação.De modo que passei uns cinco anos de quase miséria.

Porque eu era procurado por ter uma clientela que queria casas deestilo, renascimento, estilo inglês, estilo francês, que era a minhaclientela anterior.

Até uma senhora uma vez me disse: eu encomendei a você umacarruagem e você quer me impingir um automóvel?

SEQUÊNCIA 13 PAVILHÃO DO BRASIL EM NOVA IORQUE

Letterings:-Nova Iorque 1939-Pavilhão do Brasil na Feira Internacional de Nova Iorque projetode Lucio Costa e Oscar Niemeyer 1939. 

OSCAR NIEMEYER OFF

Eu me lembro que uma vez, quando ele venceu o concurso do Pavilhãodo Brasil em Nova Iorque, ele gostou do meu projeto.

Então me convidou pra ir com ele. E fomos.

Fiquei lá um ano e tal, fizemos o projeto.

SEQUÊNCIA 14 ARQUITETURA MODERNA x ARQUITETURA NEO-

COLONIAL

Lettering: Entrevista para o documentário “O Risco” de GeraldoMotta Filho 2003

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OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Naquele tempo, havia duas tendências na arquitetura no Brasil: Umatendência era fazer uma arquitetura moderna, utilizando a técnica emsua plenitude, sem nenhuma reserva.

A outra era procurar uma solução intermediária. Não tinha o menorsentido.

Era fazer um prédio que colocava como enfeite uma janelinha colonial,uma coisinha, fazer uma arquitetura intermediária.

Gilberto Freyre, que não entendia nada de arquitetura, às vezes semanifestava…arquitetura mais brasileira. Isso era uma babaquice total.

SEQUÊNCIA 15 HOTEL DE OURO PRETOLetterings:-Ouro Preto Minas Gerais-Grande Hotel Ouro Preto 1939

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

De modo que quando surgiu a idéia do hotel de Ouro Preto, o Leão fezum estudo dando uma idéia da arquitetura antiga, as mesmas janelas,modernas, mas com influências.

E aí o Rodrigo Mello Franco e o Lucio acharam que não, que tinha queser uma coisa que criasse o contraste.

E foi o que eu fiz. Eu fiz o hotel usando os elementos, mas modernos,não tinha nada com isso.

A técnica de defender os monumentos não é copiar, é fazer o contraste.

  Todo mundo gosta da arquitetura colonial. Mas a gente sabeperfeitamente que ela é mais portuguesa que brasileira.

Eu quando vou a Europa e passo por uma cidade antiga eu me sintomelhor. Passar por Portugal naquelas velhas aldeias portuguesas que agente parece estar no Brasil né ?

Eu me lembro que na Europa, às vezes eles diziam:O passado arquitetônico de vocês é pobre, é mais português do quebrasileiro.

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E eu dizia: isso é muito bom para nós, porque vocês vivem circulandoentre monumentos, e nós estamos livres pra fazer hoje o passado deamanhã.

SEQUÊNCIA 16 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO - DISCURSOCAPANEMA

Lettering:Rio de Janeiro 1937.

NARRADOR ORIGINAL DO FILME OFF

Instituto Nacional do Cinema Educativo, documentando a cerimônia dolançamento da pedra fundamental do futuro edifício do Ministério daEducação e Saúde.

CAPANEMA ON

O acontecimento é propício. Em primeiro lugar, porque se vai plantar nabela cidade, um grande monumento arquitetônico, cujo projeto seestudou com consciência, pertinácia, minúcia e esmero.

Porque com a ereção deste edifício daremos o passo final no esforço quevem de longe, de organização do ministério, que tem a seu cargosolução de tantos sérios problemas do Brasil.

SEQUÊNCIA 17 MINISTÉRIO - GABINETE CAPANEMA

Letterings:-Gustavo Capanema e Rodrigo Melo Franco-Ítalo Campofiorito arquiteto-Carlos Drummond de Andrade e Gustavo Capanema

OSCAR NIEMEYER ON

O período de Capanema foi como a Semana de Arte Moderna de SãoPaulo.Porque ele cuidou do nosso patrimônio histórico. Ele chamou o Rodrigoque foi uma pessoa fantástica, passou a vida cuidando do nossopatrimônio artístico, de Minas, desses estados todos.E cuidou da cultura, fez o Ministério da Educação.

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ÍTALO CAMPOFIORITO ON/OFF

É uma época de ministros jovens e chefes de gabinete geniais.Nós temos Rodrigo no gabinete da educação, que é trocado por

Capanema, e troca o chefe de gabinete, tira Rodrigo e bota CarlosDrummond de Andrade. Uma época privilegiada.

Nós nunca vamos conhecer chefes de gabinete como estes: Os ministrossabiam escrever e os chefes de gabinete eram revolucionários.

SEQUÊNCIA 18 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Letterings:

-Ministério da Educação e Saúde Rio de Janeiro 1936.- Projeto de Oscar Niemeyer, Afonso Reidy,Jorge Moreira, CarlosLeão, Lucio Costa e Ernani Vasconcellos, segundo risco originalde Le Corbusier

Depoimento do Oscar no seu escritório.

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

O importante foi o projeto do Le Corbusier para o Ministério daEducação.

Porque ele mostrou pro povo, pros governantes o que era a arquiteturacontemporânea.

A razão dos pilotis, do brise-soleil, da fachada de vidro, tudo isso.

SEQUÊNCIA 19 HISTÓRIA DO PROJETO, CHEGADA DE LECORBUSIER

ÍTALO CAMPOFIORITO ON/OFF

O projeto do Ministério, o Capanema é convencido provavelmente porCarlos Drummond de Andrade, e então ele chama Lucio Costa pra fazero projeto.

E o Lucio Costa, que é que faz? Chama outros concorrentes modernos.

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Nenhum deles sabia direito como fazer aquele Ministério realmentemoderno. Todos eles estavam convencidos da modernidade mas nãotinham a linguagem.

SEQUÊNCIA 20 CHEGADA DE CORBUSIER - HISTÓRIA DA CARTA

letterings:-Projeto de Jorge Moreira para o prédio do Ministério-Le Corbusier-Desenhos de Le Corbusier.-Primeiro projeto de Le Corbusier

ÍTALO CAMPOFIORITO OFF / ON

E o Lucio insiste na vinda de Le Corbiusier. Ele ficou aqui 15 a 20 dias,não mais do que isto. É muito pouco. Neste período em que ele esteve

aqui, nem Cristo em província nenhuma de Jerusalém fez tanto milagre,porque mudou a arquitetura brasileira, criou o prédio mais importantedo mundo, e o Oscar virou um gênio, que não era, tanto que o Lucio nãosabia.

OSCAR NIEMEYER ON “O RISCO”

O Corbusier chegou com aquela desenvoltura de chefe, viu o projeto queo Lucio tinha feito, preferiu fazer um outro, apresentou uma solução, oLucio aceitou. Nessa ocasião o Lucio me botou pra trabalhar com ele,pra ajudar ele no desenho.

ÍTALO CAMPOFIORITO ON/OFF

O Corbusier mudou o projeto, e fez baixo longo, com o gabinete doministro olhando pro Pão de Açúcar.

Não era possível, porque a pressa do Capanema era tão grande e exigiuque ele, o Corbusier, abandonasse o que ele queria, porque aquele outroera num terreno da prefeitura e esse era do Ministério.

Na véspera de embarcar, Le Corbusier fez um croqui do prédio no

terreno atual. Fez com má vontade e ainda disse na carta que assimnão ia ficar bom, que ia ficar prejudicado o projeto. E vai embora. Aequipe coordenada pelo Lucio trabalha, um ano e pouco e nesse meiotempo acontece a história do papel.

OSCAR NIEMEYER ON / OFF

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Eu achava que o primeiro era melhor. E um dia não sei porque eu fiz umcroqui utilizando o primeiro.Peguei o primeiro projeto, atravessei no terreno, fiz a rua passar porbaixo, abri. E o Leão gostou.Quando o Lucio chegou, o Leão disse: olha o Oscar fez um projeto aí que

eu acho que tá bom.Ele pediu pra ver e eu, que não tinha a menor preocupação, nempensava em poder influir, tinha jogado pela janela. E ele mandoubuscar.

Aí foi a primeira coisa que me impressionou no Lúcio, assim, decorreção, de generosidade. Ele viu achou bom e disse: vamos fazer esse.

SEQUÊNCIA 21 MINISTÉRIO - CONCLUSÃO

Lettering:-Oscar Niemeyer e Le Corbusier

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Agora a nossa arquitetura é muito diferente do Corbusier. Nóscaminhamos para uma arquitetura mais de acordo com o nosso clima,mais leve, mais vazada, vencendo o espaço.

E demos a ele a contribuição que ele nos deu. Nós tivemos influênciadele, mas nos últimos trabalhos ele também teve influência da nossa

arquitetura.

Não sou eu que digo, quem diz isso é o Ozoenfant, que foi sócio dele, eque num livro de memórias a gente pode ler: Le Corbusier que durantemuitos anos, proclamou as virtudes do ângulo reto, passou de ummomento para o outro pensando diferente, seguindo uma arquiteturaque vinha de fora com muito talento.

SEQUÊNCIA 22 FERREIRA GULLAR - PRÉDIO DA ONU

Lettering:

-Ferreira Gullar poeta

FERREIRA GULLAR ON /OFF

E não há dúvida alguma de que a arquitetura do Oscar, ela nasce daarquitetura do Le Corbusier nos seus elementos básicos.

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Porque ninguém inventa nada de nada, de zero. Não existe isso. Acultura é herança e transformação.

O que é extraordinário é que ele aprende a lição do Le Corbusier e emseguida, ele já faz uma coisa que é a negação dos dados fundamentais

daquela arquitetura.E todo mundo conhece o caso do prédio da ONU, que na verdade quemganhou o concurso do prédio da ONU foi ele, não foi Le Corbusier. Asede do ONU em Nova Iorque, foi o Oscar que ganhou. O prédio, oprojeto é do Oscar.

Isso não quer dizer nada, não diminui o Le Corbusier. Isso mostra otalento criativo do Oscar, que não foi com projeto pra lá, que fez nohotel, porque o presidente da comissão que ia julgar os projetos falou:você tem que apresentar um projeto. Nós não vamos aceitar que você

venha pra cá e não apresente um projeto. Aí ele foi pro hotel e bolou oprojeto.

SEQUÊNCIA 23 PRÉDIO DA ONU

Lettering:-Sede da ONU em Nova Iorque 1947.

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

O edifício da ONU, eles escolheram o meu projeto. No livro que eupubliquei tem uma fotografia de todos me abraçando. Era um projeto assim: o projeto do Corbusier tinha um bloco aqui, alto eo prédio era aqui, e dividia o terreno em dois.

No meu projeto, eu botei o bloco aqui, separei os Conselhos da GrandeAssembléia, botei os Conselhos aqui e botei a Grande Assembléia aqui.

Eu quis criar a praça das Nações Unidas.

O meu projeto foi o escolhido, mas o Le Corbusier no dia seguinte meprocurou e me pediu pra botar esse prédio aqui. Acabava com a praça.Mas eu senti que ele gostaria de fazer o projeto dele. E ele era o mestre.Eu disse: “Está bem”. Não me arrependo.

Então, o projeto dele era o 23, o meu era o 32 e nós apresentamos oprojeto 23-32. Quer dizer, é isso que tá lá construído. Houve depois

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pequenas modificações, mas se você olhar a planta, o projeto que eu fizcom a modificação do Corbusier é a solução adotada.

SEQUÊNCIA 24 LE CORBUSIER

LE CORBUSIER ON

Pela primeira vez, desde um período histórico, estamos reunidos em umprojeto cuja realizaçãonos permitirá apresentar ao mundo uma solução arquitetônica clara eotimista.Temos idades diferentes. Os jovens do ateliê de desenho, seusmestres contramestres, formam uma conjunção única e excepcional.

SEQUÊNCIA 25 PROJETO DA ONU 

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Mas eu olho pra trás e acho que foi bom, eu era jovem, fui generoso. Tempos depois, eu almocei com ele no apartamento dele e ele ficou meolhando e disse: Você é generoso.

Eu pensei: “esse cara tá se lembrando daquela manhã, que eu concordei

em mudar a posição do bloco.

SEQUÊNCIA 26 PAMPULHA - O COMEÇO

Letterings:-Iate Clube da Pampulha Belo Horizonte 1940-Cassino da Pampulha Belo Horizonte 1940-Casa de Baile Belo Horizonte 1940

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Quando eu fui fazer Pampulha, eu fui falar com o JK. E ele me disse queia fazer um bairro novo em Belo Horizonte. Um bairro com uma igreja,com um cassino, um clube e um restaurante.

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Quando acabou a conversa ele me disse: olha, eu preciso do projeto doCassino pra amanhã. Mas eu era jovem, né? Eu tava começando,praticamente era o meu primeiro trabalho.

Eu tinha que atender. Fui pro hotel e fiz, trabalhei a noite inteira e no dia

seguinte compareci. E ele compreendeu que comigo ele podia correr,não é? E por isso fomos juntos... Pampulha foi o início de Brasília.

SEQUÊNCIA 27 PAMPULHA - IGREJA

Lettering:-Igreja São Francisco de Assis Belo Horizonte 1940.

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

E em Pampulha minha idéia já era fazer uma arquitetura diferente.Naquele tempo a arquitetura era muito… não compreendia nemrepresentava bem o concreto armado.

Ela era rígida como se fosse feita com estrutura metálica. E o concreto,ao contrário sugeria um novo campo de experiências e invenções.

Eu então procurei introduzir a curva na arquitetura.Nós queríamos impora curva que é a solução natural do concreto.

Quando você tem um espaço grande assim, a solução natural é a curvanão é a linha reta. Então eu cobri a igreja de curvas.

E a arquitetura se fez diferente. Se fez mais ligada ao nosso país, maisleve, mais vazada, mais próxima das velhas igrejas de Minas Gerais.

SEQUÊNCIA 28 PAMPULHA - CASA DO BAILE

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

A Casa do Baile, que era uma construção, eu fiz a marquise em curvatambém. Então eu fiz com que a arquitetura se fizesse mais plástica,uma novidade, uma invenção como dizia Le Corbusier.

Então essa arquitetura diferente criou uma série de dúvidas ediscussões não é? Mas em pouco tempo eles tinham compreendido queo concreto armado era o material da época e nele nos devíamos deter.

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Foi no tempo em que um francês muito inteligente, que trabalhou com oCorbusier disse que "Il faut fair chanter les points d'apui".

Quer dizer: é preciso fazer cantar os pontos de apoio. E eu dei maisênfase às estruturas.

SEQUÊNCIA 29 PAMPULHA - FILME AMERICANO

NARRADOR AMERICANO OFF

Em torno da Lagoa da Pampulha, a alguns minutos de carro, do centroda cidade, um novo bairro residencial está sendo construído, no estilotradicional "mineiro".

Conforme o planejado. O Iate Clube já está funcionando, com sua

magnífica piscina.

Do outro lado da Lagoa, no Cassino da Pampulha, os mineiros podem jantar, dançar e assistir a shows. Se preferirem, podem ir a um bailemais popular, jantar e dançar no pavilhão aberto.

SEQUÊNCIA 30 ÍTALO CAMPOFIORITO FALA DA PAMPULHA

ÍTALO CAMPOFIORITO ON/OFF

O Cassino tem um "que" de Corbusier, a igreja é completamentebrasileira e um pouco barroca e a coisa mais importante do mundo é opequeno baile popular.

Porque o Oscar achou de botar no programa do Juscelino, um cassino épra rico, a igreja é igreja e não iam aceitar por muitos anos, o clube erapra burguesia.

Então ele quis fazer um baile, uma ilhazinha, ficou parecendo umaserpentina que você joga no ar,que faz assim... então ficou brasileiro,

carnaval, povo, barroco, e esse diabo desse prédiozinho é quetransformou a imagem da arquitetura brasileira no mundo, eu acho. Opequeninho.

SEQUÊNCIA 31 CHICO BUARQUE – “ A MÚSICA DO TOM É A CASADO OSCAR”

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Lettering:-Chico Buarque compositor

CHICO BUARQUE ON

A Casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados daIguatemi, havia o ante-projeto, presente do próprio. Havia apromessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar.

Cresci cheio de impaciência, porque me pai, embora fosse dono doMuseu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir acasa do Oscar.

Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguases, projeto do Oscar.

Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco. Decidi-me a ser

Oscar eu mesmo.

Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim.

Quando a minha música sai boa penso que parece música de Tom Jobim.

Música do Tom na minha cabeça é casa do Oscar.

SEQUÊNCIA 32 POEMA DA CURVA

letterings:-Escola Milton Campos Belo Horizonte 1954-Parlamento Latino-Americano São Paulo 1991-Anexo Supremo Tribunal Brasília 1998-Ponte Asa Sul Brasília 1967-Terminal Hidroviário Niterói 2004

OSCAR NIEMEYER OFF

Não é o ângulo reto que me atrai,

Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo o homem.

O que me atrai é a curva livre e sensual.

A curva que encontro no curso sinuoso dos nossos rios,

nas nuvens do céu,

no corpo da mulher preferida.

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De curvas é feito todo o universo,

O universo curvo de Einstein.

SEQUÊNCIA 33 CANSADO DE FALAR DE ARQUITETURA - O

IMPORTANTE É PROTESTARLettering:-Edifício Niemeyer Belo Horizonte 1954.

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

A minha arquitetura não é uma solução pra arquitetura, é a minhaarquitetura.

Assim como na pintura a gente tá de acordo de que não existe a pintura

antiga e moderna, existe a boa e a má pintura. Na arquitetura é amesma coisa. O ideal é cada um procurar o seu caminho e fazer o quegosta.

Eu confesso a você que eu tô um pouco cansado de falar de arquitetura.Porque as coisas se repetem, a conversa é a mesma, as perguntas sãoas mesmas.

Mais importante do que a arquitetura é estar pronto pra protestar e ir narua, isso que é importante, é o sujeito se sentir bem, sentir que não éum merda, que ele tá ali pra ser útil...

O sujeito tem que pensar na política, a política é importante, é própriavida, pensar na miséria, procurar colaborar e quando ele sentir que acoisa tá ruim demais e a esperança fugiu do coração dos homens, aí é arevolução.

SEQUÊNCIA 34 PRÊMIO LENIN – FILME ARQUIVO 31

NARRADOR ORIGINAL OFF

O arquiteto Oscar Niemeyer recebe em solenidade o prêmio Lênin dapaz, que lhe foi conferido pelo governo soviético. O embaixador daRússia fez a entrega do prêmio enaltecendo a obra de Niemeyer e oartista recebe as insígnias das mãos de uma representante russa comohomenagem a cultura de nosso país.

SEQUÊNCIA 35 ENTRADA PRO PARTIDO COMUNISTA

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Lettering:-Luis Carlos Prestes e Oscar Niemeyer

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Eu entrei pro partido em 45. Quando o pessoal saiu da prisão, o Prestesfoi lá pro meu escritório, alguns companheiros, ajeitei uns quinze lá nomeu escritório, fiquei ouvindo aquela conversa, aquela luta, aqueleentusiasmo, aquela abnegação pela idéia. Emprestei a casa ao Prestes,ele criou lá o Comitê Metropolitano. E foi indo.

SEQUÊNCIA 36 ARQUITETURA SOVIÉTICA

Lettering:

-Bulgária anos 70OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Eu me lembro que quando eu fui a Moscou, há muitos anos atrás, notempo do stalinismo e um professor me perguntou: “Dr. Niemeyer osenhor o que que acha da arquitetura soviética”?

Eu disse: olha, estou com vocês, problema político, de paz, essa coisatoda, mas não encontro resposta pra isso, acho muito ruim.

“Então o senhor apresente suas críticas”.

Eu disse: não vim aqui pra criticar, mas se vocês perguntam: as colunasaqui são próximas demais, são gordas demais pro espaço que asseparam, a circulação é ruim, a ventilação é ruim.

De modo que a gente nesse contato com a esquerda a gente tinha queser fraternal, mas dizer a verdade.

SEQUÊNCIA 37 BIENAL E DEPOIMENTO DE EDUARDO GALEANO

Letterings:-Marquise do Parque Ibirapuera São Paulo 1951-Pavilhão da Bienal São Paulo 1951-Montevidéu Uruguai-Eduardo Galeano escritor

EDUARDO GALEANO ON

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É sabido que Oscar Niemeyer odeia o capitalismo e odeia o ângulo reto.Contra o ângulo reto, que ofende o espaço, ele tem feito umaarquitetura leve como as nuvens, livre, sensual, que é muito parecidacom a paisagem das montanhas do Rio de Janeiro, são montanhas queparecem corpos de mulheres deitadas, desenhadas por Deus no dia em

que Deus achou que era Niemeyer.SEQUÊNCIA 38 CASA DAS CANOAS

Lettering:-Casa das Canoas Rio de Janeiro 1952

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Depois eu fiz essa casa. Aí, eu procurei um terreno que tivesse vista, euqueria uma casa simples, pequena, que se adaptasse bem na natureza.

Eu fiz a casa como eu queria, simples como a minha maneira de viver. Eela tá bem integrada no terreno. Eu não mexi no terreno.Fiz os quartosembaixo. Em cima tem a sala, a cozinha.

Um amigo meu, me deu umas mudas de plantas e foram crescendoassim como coisa da natureza, sem muito controle, não é?

Quando a casa tava pronta, um dia o Gropius apareceu aqui. E eumostrei a casa. E quando ele saiu, ele me disse: “A casa é bonita, masnão é multiplicável”. Eu achei graça, uma besteira tão grande na bocade um sujeito tão ilustre, não é?

Porque não tinha nada a ser multiplicado. O terreno é diferente. A casafoi feita pro terreno, se adapta ao terreno, como ela pode sermultiplicada?

Mas eu achei graça, porque besteira sempre se disse. Não é só de hojenão. Não fomos nós que inventamos a bobagem, não é? Ela sempreexistiu.

SEQUÊNCIA 39 BAUHAUS

OSCAR NIEMEYER ON

Bauhaus foi o paraíso da mediocridade, como dizia o Le Corbusier. Osujeito aprendia a desenhar um aparelho qualquer, de jantar, qualquer

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coisa, e aquilo se estabelecia com uma série de regras que eles eramobrigados a seguir.

E a arquitetura não é nada disso, a arquitetura é invenção. Pelo contatoque eu tive com o Corbusier o mais importante foi o dia que ele me

disse: olha arquitetura é invenção.Isso depois eu compreendi lendo em diversos livros, quando eu li o...opoeta francês o... não me lembro o nome agora, ele dizia que ainvenção, o espanto é a característica principal da obra de arte. Demodo que na minha arquitetura, o que eu faço, a preocupação inicial éque seja diferente, é que o povo pare surpreso de ver uma coisa nova…

...Baudelaire.

SEQUÊNCIA 40 ARTES PLÁSTICASLetterings:-Hospital da Lagoa Rio de Janeiro 1952-Banco Boavista Rio de Janeiro 1946.-Painel de Paulo Werneck -Teatro Nacional Brasília trabalho de Athos Bulcão-Azulejos de Portinari Pampulha 1940-Interior do Itamaraty Brasília 1962 Trabalho de Athos Bulcão-Azulejos de Athos Bulcão-Capela Nossa Senhora de Fátima Brasília 1958

FERREIRA GULLAR ON/OFF

Uma das definições básicas da nova arquitetura, do começo do século20 é exatamente a exclusão das outras artes.

A parede, o painel, o interior de um prédio ele é belo em si mesmo nasua proporção e na sua funcionalidade. Não precisa botar nada ali.

E nisso, o Oscar vem e bota azulejo, e bota mural. Então inclui o artista,

o pintor, o escultor, o que é uma rebeldia dele também. 

OSCAR NIEMEYER ON

No meu trabalho eu sempre convoquei os artistas, os pintores, osescultores. Mesmo no meu primeiro trabalho de Pampulha eu fiz isso. Aarquitetura não pode ser vista como uma coisa isolada. Porque quando oarquiteto faz um projeto, quando ele está traçando uma parede, ele está

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 já imaginando se ela vai ser uma pintura, uma caiação, uma parede depedra, se deve ser uma escultura, né? O artista não vem depois pracolocar o quadro onde ele quer.

SEQUÊNCIA 41 ESQUECIMENTO

Oscar fala.OSCAR NIEMEYER ON

É lógico que há influências. Houve influência até na literatura. Tem osujeito que escreveu o... o..a influência do.... Vou desistir de falar hoje.Esquecer o Camões, porra.

Oscar e Ítalo Campofiorito conversam no MAC.

OSCAR ON

Eu tô esquecendo os nomes...

ÍTALO CAMPOFIORITO ONAh, mas isso é normal

OSCAR ONMas eu tô esquecendo até o nome do sujeito que tá ao meu lado.

Outro dia falando com eles eu não me lembrava do Mies van der Rohe.

ÍTALO CAMPOFIORITO ONAí não pode

OSCAR ONUma vez eu tava fazendo noite de autógrafo, chegou um engenheiro que

foi prefeito do Rio.Não me lembro o nome dele.

ÍTALO CAMPOFIORITO ONPassos...

OSCAR ONNão, da nossa idade, do nosso tempo.

ÍTALO CAMPOFIORITO ON Tamoio.

OSCAR ONNão. E ele veio com o livro e eu disse: esqueci seu nome. Ele ficou puto.Ele disse, fulano de tal.

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SEQUÊNCIA 42 BRASÍLIA - ARQUIVO JEAN MANZON

NARRADOR ORIGINAL OFF 

O Homem brasileiro não mais arranha as praias como os caranguejos.

Brasília, um pólo magnético em Goiás, é afinal a resposta a essa práticade dois séculos. É já uma cidade provisória de dez mil habitantes,construída por iniciativa particular, com inversões superiores aquinhentos milhões de Cruzeiros, estende-se ao lado das grandes obrasdo governo.

 SEQUÊNCIA 43 OSCAR FALA SOBRE O COMEÇO DE BRASÍLIA

OSCAR NIEMEYER ON

O Juscelino passou por aqui, me chamou, descemos juntos pra cidade eele me disse: “Olha, eu quero fazer uma capital. Uma capital diferente.Não quero uma capital provinciana, quero uma coisa bonita, que mostrea importância do país.”

E foi bom, começamos a trabalhar.

Eu achei Brasília longe demais, mas depois eu me acostumei com aidéia.Que a determinação de Juscelino era tanta que nós passamos aachar que tudo ia correr bem.

E Brasília foi assim uma aventura, cheia de problemas e desencontros,desconforto... a gente mal alojado. Mas havia determinação do JK, e acoisa prosseguiu.

SEQUÊNCIA 44 CARLOS HEITOR CONY FALA SOBRE BRASÍLIA

lettering:-Carlos Heitor Cony escritor

CARLOS HEITOR CONY ON/OFF

 Juscelino muitas vezes terminava o expediente dele aqui no Catete, aquido lado, terminava às seis horas, tomava o avião aqui no SantosDumont, chegava por volta da meia noite em Brasília, fazia asinspeções de obras, seis horas da manhã voltava, as dez horas damanhã estava no Catete outra vez.

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Foi um período muito difícil. Brasília não era bem vinda. A imprensanacional inteira, não só São Paulo como a do Rio eram contras. O Rio de Janeiro vai acabar...vai esvaziar o Rio de Janeiro. Vamos para Brasília!Era uma ameaça.

“ Não vou para Brasília, nem eu nem minha família, embora vivendocheio grana, não quero deixar Copacabana “.

Porque para incentivar a ida à Brasília, não só dos funcionários mas deoutras pessoas, para ocupar o espaço de Brasília, havia as dobradinhas:funcionário que ia para Brasília ganhava em dobro, então o Billy Blancosaiu com essa “.. Mesmo que seja para viver cheio de grana quero serpobre sem deixar Copacabana...”

SEQUÊNCIA 45 EDÍFICIO DO IAPI

NARRADOR ORIGINAL OFFEm um dos edifícios do IAPI já está pronto um apartamento piloto comtodos os requisitos do conforto moderno. Como este serão todos osdemais em construção.

SEQUÊNCIA 46 COMEÇO DE BRASÍLIA - HELICÓPTERO

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Às vezes eu ia de avião, DC-3. Podia parar em qualquer lugar. Aí levava

três horas.

Me lembro que um dia eu tava almoçando com ele durante as obras, nãoé? Ele me disse: “olha, quando acabar o almoço, você vai viajar comigode helicóptero para ver as obras, senão eu mando te encanar.” Esaímos. Eu peguei o helicóptero com ele, corremos a cidade e eu fiqueimuito tranquilo.

Porque diziam que o o helicóptero quando tem qualquer problema, eledesce naturalmente com aquela hélice de controle. Mas depois que eucheguei em terra, o piloto conversando comigo disse:

“ah, o outro é muito mais seguro, esse cai mesmo se for preciso.

SEQUÊNCIA 47 LEVEI OS AMIGOS QUE ESTAVAM NA MERDA

OSCAR NIEMEYER ON

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Eu me lembro que quando eu fui pra lá, eu... eu levei quinze arquitetos,mas levei um médico, levei um engenheiro, levei dois jornalistas, leveicinco amigos meus que estavam na merda e precisavam trabalhar e queeu senti que era a oportunidade de ajudá-los. Eu queria é que aconversa em Brasília fosse mais variada , que não falasse só de

arquitetura, que e a vida ficasse mais fácil, mais divertida.A gente se divertia, a gente saía em grupo, não levava a coisa a sério. Agente tinha coisa pra contar, a turma era alegre, divertida...

Porque eu acho que a vida é assim. A gente tem que separar as coisas.A vida é chorar e rir a vida inteira. Aproveitar os momentos detranqüilidade e brincar um pouco.

Depois, os outros é agüentar. A vida é um sopro né?

SEQUÊNCIA 48 A SOCIEDADE IRIA MELHORAR - NELSON PEREIRADOS SANTOS

Lettering: Nelson Pereira dos Santos cineasta.

OSCAR NIEMEYER OFF

Eu me lembro a gente trabalhando lá, freqüentando as boates no meiodaqueles operários, tudo vestido igual. A gente tinha até a impressãoque a sociedade ia melhorar, que os homens seriam mais iguais né? 

NELSON PEREIRA DOS SANTOS ON

Se o brasileiro fosse capaz de construir a nova capital, e uma capitalcom características especiais, originais, pela obra de Oscar Niemeyer eLucio Costa, com um pensamento estético, um pensamento urbanísticocompletamente diferente, moderno, renovador...

Poxa então podemos fazer tudo que for preciso para que o Brasil mude.Mudar a capital para Brasília, significava mudar o Brasil.

OSCAR NIEMEYER ÁUDIO OFF

Mas não, quando inaugurou a cidade, vieram os políticos, vieram oshomens de negócios, era a mesma merda, a diferença de classes, aimposição do dinheiro, dos negócios, tudo que até hoje anda por aí . E ofinal com JK, o desejo dele, como ele dizia, era levar o progresso prointerior e isso foi feito.

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SEQUÊNCIA 49 INAUGURAÇÃO DE BRASÍLIA

Lettering:O Candango da Belacap de Roberto Farias 1961

"alegria de candangoé ver Brasília inaugurada

presidente no alvoradasorrindo pra candangada

eu sou felizno meio da candangaria

me esbaldome acabo

noite e dia"

SEQUÊNCIA 50 BRASÍLIA - ARQUITETURA E ESTRUTURAS

Letterings:-Ministérios Brasília 1958-Congresso Nacional Brasília 1958

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Eu procurei dar à arquitetura, às estruturas maior relevo. Eu valorizei otrabalho do engenheiro.

E lá em Brasília quando uma estrutura se concluía, a arquitetura tavapresente. Quer dizer, a arquitetura e a estrutura como uma coisa quenascem juntas e juntas devem se enriquecer.

Quando o Congresso ficou pronto, a estrutura, a arquitetura já estava

lá.Os pequenos detalhes ficaram para plano secundário.

É um projeto que eu gosto muito. É muito simples. Ele realça o que épreciso realçar, onde o trabalho é mais importante, quer dizer a câmarae o senado. Eu quis fazer o teto no nível das avenidas.

E é fácil explicar: eu queria que quando a pessoa chegasse, visse aPraça dos Três Poderes da qual o Congresso faz parte. 

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SEQUÊNCIAS 51/52 BRASÍLIA- PRAÇA DOS 3 PODERES-TANGENTE DA CÂMARA/unidade na arquitetura

Letterings:-Praça dos Três Poderes 1958.- Palácio do Planalto Brasília 1958- Supremo Tribunal Federal Brasília 1958.

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Porque é comum, quando você quer realçar a arquitetura numa praça édeixar a praça limpa, sem nada. Então você olha e vê os diversosedifícios, você vê a relação que tem um com o outro, você sente aimportância da praça.

E no Brasil às vezes é o lado medíocre das pessoas, ficam reclamando:“mas por que a Praça Três Poderes não tem vegetação?” “por que tantosol?” E a gente tem que explicar isso, que é tão intuitivo… porque ali éuma praça cívica, é diferente, tem que valorizar a arquitetura....

Imagina você na Praça de São Marcos se enchêssemos ela de árvores? Oque acontecia? Tinha mais sombra, mas tinha desaparecido. uma coisade arte.  Tudo tem que dar uma explicação. Mediocridade ativa é uma merda!

E discutimos muito apesar do tempo curto. Eu me lembro que um dia oCardoso, que era poeta, um sujeito muito inteligente, me telefonou:-Oscar: encontrei a tangente que vai permitir que a cúpula da Câmarapareça apenas tocando o chão.

Então eu procurei fazer os palácios como que apenas tocando o chão. Ascolunas finas.

No Palácio do Planalto, por exemplo, eu fiz as colunas assim. E como euqueria que as pessoas passando entre elas e o prédio se sentissem

protegidas, eu fiz as colunas sempre assim.

O outro prédio, eu fiz as colunas parecidas. Um pouco mais baixas. Aquisão 3 metros, aqui é um metro só. Então elas ficaram assim.

Eu me lembro a incompreensão das coisas... uma vez uma jornalista deSão Paulo perguntou:

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Dr. Niemeyer, o senhor que fala sempre em arquitetura diferente, porque o senhor fez essas colunas parecidas com aquelas? Eu disse: sevocê conhecesse o que é unidade, você não fazia essa pergunta.

Antigamente nas cidades havia uma relação. Você vai em Paris as

alturas são as mesmas, as janelas gradeadas são as mesmas, isso é oque se chama unidade. Unidade na arquitetura é quando os elementosque compõem um conjunto se ligam plasticamente.

SEQUÊNCIA 53 BRASÍLIA - COLUNAS E CATEDRAL

Lettering:-Palácio da Alvorada Brasília 1957- Catedral Brasília 1958

OSCAR NIEMEYER ON / OFFO Alvorada. Eu procurei uma coluna diferente. Eu não queria um peitoril,que a pessoa ficasse aqui grudada no peitoril, eu queria que as colunasfossem seguindo num ritmo diferente. De modo que a pessoa tava ouem cima ou embaixo da coluna. E a coluna funcionou bem. Eu encontroessa coluna em muito lugar, encontrei na Grécia.

Um dia eu saía numa praia e quando eu cheguei assim na areia, eu tavatomando banho de mar, vi um prédio com as colunas do Alvorada.Difundiu bem a arquitetura brasileira, né?

Depois vieram os outros prédios. Por exemplo, a Catedral. Eu não queriauma catedral como as antigas catedrais.Eu queria uma catedral queexprimisse o concreto. E mesmo não sendo católico eu me preocupeique quando a pessoa estivesse na nave visse o espaço infinito.

Quer dizer, eu procurei uma ligação que para os católicos é importante,a ligação da nave, da terra com o céu.

Eu me lembro que veio um representante do Papa e se espantou: queidéia boa! E depois botamos os vitrais que são muito bonitos, mas

sempre deixando um espaço para que a vista pudesse subir.

SEQUÊNCIA 54 BRASÍLIA - MARECHAL LOTT

Lettering:-Quartel General do Exército, Brasília 1968.

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OSCAR NIEMEYER ON

A primeira vez que eu fui à Brasília de avião e a gente foi com osmilitares, eu sentei ao lado do Marechal Lott e no caminho ele meperguntou: Niemeyer, o nosso edifício vai ser clássico, né? Eu até disse

sorrindo pra ele: o senhor numa guerra o que vai querer? Arma antigaou moderna?

SEQUÊNCIA 55 DEPOIMENTO ERIC HOBSBAWN

Letterings:-Eric Hobsbawm historiador- Cenário de Oscar para a peça Orfeu do Carnaval 1956-Oscar, Vinícius de Moraes, Lila Bôscoli e Tom Jobim 1956

ERIC HOBSBAWN ON/OFFAcho que Niemeyer pertence a uma geração extramamente importanteno Brasil. Que até certo ponto reconstruiu tanto em sua própria mente,quanto em benefício público a idéia do que o Brasil poderia ser, o novoBrasil.

Esta geração que é extraodinariamente interessante, teve grandesinfluências na literatura, na não-ficção e na criação de uma imagem nahistória do Brasil. Que também começa a ter influência na música e naarquitetura.

 Todas essas coisas se interligavam. Tom Jobim, por exemplo, começoucomo arquiteto e desistiu para se tornar músico. De certa forma, aimagem que as pessoas fazem do que seu novo país poderia ser, o Brasildo futuro, é a imagem criada pela geração da década de 30.

SEQUÊNCIA 56 CHICO BUARQUE

CHICO BUARQUE ON/OFF

A gente se freqüentava, os músicos, os cineastas, o pessoal de teatro.

Era tudo uma patota só. Frenquentava os mesmos lugares.E aarquitetura estava nisso também. E você vê, o Vinícius chamou o Oscarpara fazer o cenário do Orfeu.O Vinicius com o Tom estiveram emBrasília, compuseram a Sinfonia de Brasília. Tava tudo junto, a musica, apoesia e a literatura.Tudo estava acontecendo na mesma época.

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SEQUÊNCIA 57 BRASÍLIA - CINE JORNAL JEAN MANZON - LUCIOCOSTA

Letterings:-Lucio Costa.

ÁUDIO FILME JEAN MANZON OFF

Os arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Ao primeiro coube projetare orientar as obras de urbanismo. Ao segundo, as obras de arquitetura.Os dois técnicos e artistas, justamente admirados em todo o mundo,compõem com linhas, volumes e espaços a sinfonia de Brasília. 

LUCIO COSTA ON

Brasília nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar e dele

toma posse. Ou seja, o próprio sinal da cruz.

SEQUÊNCIA 58 BRASÍLIA - PLANO PILOTO

OSCAR NIEMEYER OFF

A cidade de Brasília é baseada na carta de Atenas. O mesmo sistema deáreas isoladas: trabalho, habitação ... que apresenta vantagens edesvantagens. Mas o Lúcio fez a coisa com tanto sentimento assim... Ele

conseguiu uma coisa muito difícil: é manter na parte habitacional umaarquitetura mais simples, mais acolhedora, mas criou a partemonumental como uma capital exige, com aquele eixo.

SEQUÊNCIA 59 BYE BYE BRASIL

Lettering:-Bye, Bye Brasil de Cacá Diegues 1979.

ÁUDIO ORIGINAL DO FILME

 Um milhão de habitantes. Mais de um milhão de habitantes. Cabe maisalguém? Não cabe.

E, no entanto, continua a chegar gente como vocês, do Brasil inteiro. E é justo. O futuro está aqui, no Planalto Central.

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Agora nós da assistência social, nós cuidamos, nós orientamos vocês.Nós abrigamos toda a família. Bem, não dá pra ser aqui no centro dacidade...

 

SEQUÊNCIA 60 BRASÍLIA DEVIA PARAR DE CRESCER

Lettering:-Catetinho 1956

OSCAR NIEMEYER ON

Brasília devia parar. Brasília chegou a um ponto assim de densidadedemográfica que não devia se acrescentar mais nada.

Em Brasília não devia fazer mais nenhum bloco de apartamentos. E apressão imobiliária, eles querem aumentar gabarito e vai ser o caos.Sefizerem esses prédios maiores, se criarem novos pontos de habitação,ela vai entrar nessa degradação de Rio e São Paulo. As ruas entupidasde gente, o povo aflito sem poder se movimentar, o desemprego.

As cidades não deviam crescer espontaneamente, sem controle.Elasdeviam parar e se multiplicar. Isso é que é o ponto de vista certo dourbanismo.E Brasília está nesse ponto. Ela devia parar.

Ela devia ter um cinturão verde em volta. E depois, outras cidades que

  já estão crescendo, iam se formando em volta dela, todas com essaidéia de que a coisa não deve crescer indefinidamente, que é o mal dagrande cidade.

SEQUÊNCIA 61 CERIMÔNIA NO ITAMARATY - GOLPE

CINEJORNAL OFF

Ao Palácio dos Arcos em Brasília, obra monumental de Niemeyer,chegam convidados para uma festa brilhante. Em mesas ornamentadas

por Burle Marx, mais de mil convidados cercam dona Yolanda Costa eSilva, presidente da LBA, que patrocina o desfile de moda do costureirofrancês Pierre Cardin. Cardin obteve o êxito esperado e afirmou àimprensa que não deseja ser costureiro apenas das elites, mas criarpara o povo e até para os homens. E Brasília, nesta noite encantadora,transforma-se também em capital da moda.

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SEQUÊNCIA 62 EXÍLIO

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Chegou num tempo em que eu tinha que optar. Tinha vindo a revolução,eles começaram a me sacanear. Eles queriam que eu pedisse demissão.Eu sabia que eu não podia mais trabalhar, eles não tiveram coragem deme demitir. E eu resolvi ir embora.

E foi um favor que eles me fizeram. Eles queriam me calar, mas com aminha saída, eles me permitiram mostrar no exterior a minhaarquitetura. 

SEQUÊNCIA 63 ARGÉLIA - CHEGADA

Letterings:-Argel Argélia-Universidade de Ciências Argel Argélia, 1968.

OSCAR NIEMEYER OFF

Fui trabalhar na Argélia. E fui muito feliz, porque eu senti que em todomundo há solidariedade. O homem é bom em geral. Quando eu chegueina Argélia, o Boumedienne era o presidente e ele estava naquela euforiada vitória, da revolução, não é? Então, ele me disse: “olha, você vai ser

o meu consultor de arquitetura.” E trabalhei lá, fiz um estudo pra Argel,fiz a Universidade de Constantine.

SEQUÊNCIA 64 ARGÉLIA - COSTANTINE

Letterings:-Constantine, Argélia- Universidade Constantine Argélia 1969

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Constantine, por exemplo, era uma universidade. Tinha vinte e trêsprédios e eu propus sete. Tinha o terreno, eu fiz o prédio de classes, eufiz o prédio de ciência, eu fiz a biblioteca, eu fiz o auditório, eu fiz orestaurante e eu fiz o prédio da administração que era um prédio alto,não é? Então eu transformei uma universidade de vinte e dois edifíciosem seis. E funciona muito bem. Os espaços ficaram mais generosos. Euprocurei fazer a coisa bem radical.

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Esse prédio, por exemplo, é um prédio comprido, ele tem trezentosmetros e as colunas são afastadas de cinqüenta em cinqüenta metros.Então essa parede aqui tem que ser mais forte pra agüentar esses vãos,não é? Eu me lembro que o escritório francês quando examinou o

projeto disse: “tá ótimo, mas essa parede que tá em cima das colunasvai ter 1 metro e 50” e o engenheiro nosso fez com 30 centímetros.

SEQUÊNCIA 65 ARGÉLIA - BRUNO CONTARINI

Lettering:-Bruno Contarini, engenheiro

BRUNO CONTARINI ON/OFF

Os franceses tinham falado que era inexequível a obra, a palavra corretafoi essa: inexequível. Aí eu peguei o projeto, fiz um estudo eapresentamos uma solução para aquele inexequível entre aspas.

E os franceses em reunião disseram: "Isso aí nós fazemos."Aí os argelinos: "Como é que vocês fazem? Vocês falam que éinexequível, de repente chega um brasileiro aqui, apresenta umasolução e vocês falam que fazem?"Moral da história: o argelino falou:"Quem vai fazer é o brasileiro."

OSCAR NIEMEYER OFF

De modo que nós corremos a Europa mostrando que o Brasil sabe, quenós não somos índios, que a América Latina tem que se impor, que nóssabemos das coisas.

SEQUÊNCIA 66 ARGÉLIA - MESQUITA

Lettering:-Mesquita de Argel projeto não realizado 1969

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Com o tempo, trabalhando, a gente vai criando uma série deprincipiozinhos próprios, que a gente obedece. E a gente pensa semprediferente dos outros. De modo que o trabalho é pessoal. O sujeito sentae chega a uma solução. Às vezes, nem precisa pensar muito.

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Eu me lembro que eu tinha que fazer a mesquita lá na Argélia e eu tavana cama já pra dormir pensando na mesquita. Comecei a imaginar, amesquita podia ser uma forma circular e fui pensando. Levantei edesenhei. E foi isso, foi feita assim quase dormindo, não é?

SEQUÊNCIA 67 PARTIDO COMUNISTA FRANCÊS

Letterings:-Paris França-Sede do Partido Comunista Paris França 1965

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Depois nós fomos pra Paris. Prédio do partido, por exemplo. Eu fiz umprédio em curva. Mas eu queria estar pronto a responder qualquer

pergunta. Então aqui pra não parecer o espaço vazio, aqui são osacessos. Tinha o auditório, uma grande cúpula.

Eu não queria que a cúpula ocupasse mais o terreno. Então, o prédio éassim, o terreno tá aqui, e eu fiz a cúpula embaixo, aparecendo só umaparte dela.

Então eu explicava pra eles uma coisa que eles estavam esquecendo umpouco: que é importante essa relação de volumes - espaços livres naarquitetura, que é fundamental.

SEQUÊNCIA 68 LE HAVRE

Lettering:-Espaço Oscar Niemeyer Le Havre França 1972

OSCAR NIEMEYER ON

O Havre é engraçado que é uma praça muito grande. Uma praça de

quatrocentos por quatrocentos e eu cheguei e disse: “olha eu querorebaixar a praça”.

Eles disseram: “rebaixar a praça?” Complicado né? Mas eu expliquei:“eu quero que a pessoa de cima veja a praça, eu quero proteger a praçados ventos”. E eles compreenderam e o serviço foi feito. Então na praçaeu criei uma série de edifícios: é um teatro, um edifício cultural.

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E como são prédios que podem ser fechados, quase cegos, ficou umaarquitetura diferente, assim mais escultural. E eu queria era não criaruma competição com a arquitetura da cidade que é simples, mas éimportante.

SEQUÊNCIA 69 MONDADORI - HUMANITÉ

Letterings:-Editora Mondadori Milão Itália 1968- Jornal L´Humanité Paris França 1987

OSCAR NIEMEYER ON

Depois eu fui pra Itália, trabalhei com George Mondadori, outra figura…Ele queria fazer um prédio bonito, diferente.

Ele fez um palácio, não é? É um palácio e os arcos são diferentes. Naarquitetura, quando a gente faz um arco, não é só o arco que éimportante. É o espaço interno do arco.De modo que, é feito o Rilke quedizia: “quando você vê um arvoredo, o importante não são apenas asárvores, mas o espaço entre as árvores."

Então eu fiz aqueles arcos com espaços diferentes. Com um vão de 15, ooutro de 9, o outro de 6mts e aí por diante. Era uma coisa assim, umpouco musical, não é? Eu me lembro que um engenheiro italiano medisse: “não se pode fazer tudo com 8 metros?” eu disse: não. 

Esse negócio da razão é inimiga da imaginação, isso é fantástico. Agente não quer uma arquitetura certinha, que funciona bem. Funcionarbem toda arquitetura tem que funcionar. Quando eu fiz a sede deMondadori, é um palácio... Ele quis fazer um prédio no centro de Milão,ele veio me procurar. Se a sede não funcionasse bem ele não vinha.Quando eu fiz a sede do partido, passaram-se dez anos, resolveramfazer o jornal Humanité, eles vieram me pedir. Você acha que sefuncionasse mal eles me queriam? Ninguém é cretino né?

SEQUÊNCIA 70 POEMA DO EXÍLIO

OSCAR NIEMEYER ON

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Um dia eu tava no exterior, chateado longe de tudo. Pensava no Brasil,nos amigos, na família. Tava tão revoltado que eu fiz um verso pregueina parede, assim:

Estou longe de tudo

De tudo que eu gostoDessa terra tão lindaQue me viu nascer.

Um dia eu me queimoMeto o pé na estrada

É aí no Brasil que eu quero viver.

Cada um no seu canto

Cada um no seu teto

A brincar com os amigosVendo o tempo correr.

Quero olhar as estrelasQuero sentir a vida

É aí no Brasil que eu quero viver.

Estou puto da vida

Essa gripe não passa

De ouvir tanta besteiraNão me posso conter.

Um dia eu me queimoLargo e isso tudoÉ aí no Brasil que eu quero viver.

Isso aqui não me serveNão me serve de nada

A decisão tá tomadaNinguém vai me deter.

Que se foda o trabalhoEsse mundo de merda

É aí no Brasil

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Que eu quero viver.

SEQUÊNCIA 71 LAPA CASA DA FUNDAÇÃO

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

 Tinha uma casa na rua Conde de Lage que tinha uma porção de quartos.Durante muito tempo, a casa foi o meu escritório. Mas com o tempo acoisa mudou, aquilo virou uma zona de mulher, não é? E a casa virouum puteiro, como tinha que ser.

Eu me lembro que quando eu era garoto eu andava por ali também.Achava bom aquele mulherio desenvolto, andando pelas ruas, quasenuas. O bar da esquina, o sujeito tocando o violão... a gente ficava ali

tomando um chope.

Meu escritório foi sempre assim, um escritório de muita boemia, masque não prejudicava o trabalho. A gente era jovem.

Às vezes até a gente fechava o escritório e fazia feito uma Semana deArte Moderna lá. Brincava um pouco.

SEQUÊNCIA 72 RIO ANTIGO - BARRA

Lettering:Barra da Tijuca Rio de Janeiro

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

O Rio foi muito sacrificado. A natureza é que é rebelde, aceita tudo nãoé? Porque se tivessem feito a Barra em vez de aumentar o centro dacidade, deixar o Rio antigo...

O Rio antigo, não é passadismo não, o Rio antigo era melhor, a gente iapra lá, passeava, Rua do Ouvidor, Gonçalves Dias. Tinha o bonde, você

ia sentado no bonde lendo jornal. Tinha a Lapa, você ia lá brincar umpouco. Era diferente, mas era mais humano... E o centro era agradável.

Eu tenho vergonha de ir à Barra. A sacanagem é que o poder imobiliárioinfluenciou. Então os prédios são cheios de varanda que ninguém vai navaranda quase porque venta muito.

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Mas pra vender tinha que ter varanda. Então os prédios são horríveis,quadradões enormes, uns contra os outros.

É Miami. Subúrbio de Miami. Puseram até uma Estátua da Liberdade.Quer dizer, a gente chega na Barra e ainda vê essa ligação, essa

pressão dos americanos contra a gente.Esse Bush é um bom filho da puta. Disse que podia trocar metade da

dívida brasileira pela Amazônia. E a gente escuta isso e ninguémprotesta.

SEQUÊNCIA 73 PROTESTOS - SEM -TERRA

Letterings:- manisfestação dos sem-terra em brasília 1997.

OSCAR NIEMEYER OFF

O que hoje nos entusiasma no Brasil é o movimento dos sem-terra e dossem-teto, lutando, correndo pelas estradas defendendo uma terra quehá muito tempo lhes devia pertencer.

SEQUÊNCIA 74 MONUMENTOS DE PROTESTO

Letterings- Monumento aos Operários, Volta Redonda, 1989

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Você sabe eu fiz alguns monumentos, todos de protesto né?

Primeiro foi pro “Tortura nunca mais”. Eu fiz um monumento, com afigura humana presa aqui. Depois eu fiz o monumento para os trêsoperários assassinados pelos militares em Volta Redonda.

Fizemos o monumento, no dia da inauguração eles foram lá eexplodiram. Voltei lá, refizemos o monumento, deixamos as cicatrizes,

os operários ficaram lá três dias tomando conta e ele tá lá.

SEQUÊNCIA 75 VISTO NOS EUA

OSCAR NIEMEYER ON

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Fui convidado pra fazer um trabalho grande nos Estados Unidos. Entãoeu fui no consulado e a mulher me disse: “olha, tem visto não”.-“Por quê? É pessoal?”-“’É pessoal”.Eu virei e disse: “olha sabe que eu tô contente. Porque se depois de

vinte anos você me nega o visto, é sinal de que eu não mudei.SEQUÊNCIA 76 JOSÉ SARAMAGO

Lettering:- José Saramago escritor.

 JOSÉ SARAMAGO ON/OFF

 Trata-se de ser fiel a princípios, e não a táticas, estratégias de política,conquista de poder, não tem nada que ver com isso. Trata-se de

princípios e não podemos renunciar a eles.

Oscar Niemeyer não renunciou e eu não o felicíto.Não felicíto o Oscarpor não ter renunciado. Não lhe agradeço porque simplesmente é umaexpressão de sua própria humanidade.

Eu creio que é uma pessoa que está em paz consigo mesmo. E estar empaz consigo mesmo não é fácil. Porque vivemos num mundo decontradições, de tensões.

No fundo vivemos num temporal. E manter o rumo no meio deste

temporal, com ventos que sopram de todos os lados, isso o Oscarconseguiu.

SEQUÊNCIA 77 O OTIMISMO É RIDÍCULO

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Eu acho o otimismo uma coisa ridícula, uma coisa que não leva a nada.Nós não queremos o nilismo as queremos uma vida realista, dentro doque existe. É duro, mas é o que existe.

Basta lembrar o Sartre, que era o mais pessimista. Dizia que toda aexistência é um fracasso. Mas lutou a favor de Cuba, se interessava, eraum grande escritor, gostava da vida.

Nos dizia, lá em Paris, que ele tinha dinheiro no bolso só pra dar deesmola. Então, é isso, é a vida.

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SEQUÊNCIA 78 SARTRE NO BRASIL

Letterings: Sartre em São Paulo 1960.

SARTRE ON

-Crê segundo círculos em todo o mundo, que Fidel Castro teriadesvirtuado a finalidade da revolução cubana?

-O Jean Paul Sartre fará uma conferência coletiva hoje para ostelespectadores...ele está muito fatigado.

sartre fala em francês

-Jean Paul Sartre acha que a revolução cubana segue naturalmente orumo que deveria seguir e somente esse rumo é que deve ser dado. E

tudo que Fidel Castro está fazendo é exatamente correto.

-Salve a Revolução Cubana!

-Palavras de Jean Paul Sartre, ao chegar a São Paulo, no aeroporto deCongonhas, sendo saudado por membros da intelectualidadebandeirante e ainda por membros da nova geração.

SEQUÊNCIA 79 CRIOULINHO

OSCAR NIEMEYER ON

Uma vez, uma das vezes que eu fui depor, eles me perguntaram: “Dr.Niemeyer ...” me puseram numa sala escura, uma sala fechada, ummaterial absorvente, eu fiquei respondendo as perguntas, um criolinhobatendo à máquina, e num certo momento ele me perguntou: “Mas, Dr.Niemeyer, afinal, o que que vocês querem?”

“Eu penso em mudar a sociedade.” Então, ele disse: “escreve aí, mudara sociedade”. E o criolinho, que devia querer ter uma vida melhor virou-se pra mim e disse: “vai ser difícil, hein!”

SEQUÊNCIA 80 SAMBÓDROMO - CIEPS

Letterings:-Passarela do Samba Rio de Janeiro 1983- Centro Integrado de Educação Pública Rio de Janeiro 1984

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OSCAR NIEMEYER ON/OFF

O espetáculo do sambódromo é bonito, é formidável. E as mulheres sãobonitas, dançam, rebolam... ótimo.

Você sabe que aquela obra tinha coisas boas. Por exemplo, o Darcy fezembaixo das arquibancadas, ele fez as escolas.Quando teve aqui o JackLang, Ministro da Cultura da França, e ele viu as escolas debaixo dasarquibancada, ele disse: escola embaixo da arquibancada? Nunca viisso, que idéia. Ele ficou entusiasmado. E isso foi criticado.

Aí eu tive que trabalhar com a pré-fabricação, os acabamentos sãomuito simples, também de muita corrida não é? Um projeto que leva oensino pelo estado inteiro, precisa ser muito calhorda pra criticar.

SEQUÊNCIA 81 REUNIÃO DE SOCIEDADE ESCULTURAS DO LEME

Lettering:-Esculturas na praia do Leme Rio de Janeiro 2000

OSCAR NIEMEYER ON

Eu não vou a lugar nenhum, mas fui numa reunião aí de sociedade. Esentei lá, daqui a pouco a sala se encheu de gente.

Então aquele pessoal todo elegante, mulheres bonitas, cheias de jóias,todo mundo fazendo uma onda danada na sala, falar alto, cada umquerendo se mostrar mais que o outro... Achei uma merda e fui embora.Deixei um bilhete pro meu amigo.

 Tem que haver momentos de prazer, de alegria. Mas essa burguesiabrasileira é muito ignorante. Essa tendência de ver a vida só pelo ladoalegre, mesmo no carnaval. Eles estão cagando pro pessoal da favela,

mas quando eles vêm pra rua, vêm para dar alegria à burguesia.

SEQUÊNCIA 82 MÁRIO SOARES

Lettering:- Mário Soares ex-presidente de Portugal

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MÁRIO SOARES ON/OFF

Sempre que vou ao Brasil e passo pelo Rio de Janeiro, é certo que vou  jantar com o Aparecido de Oliveira e com o Oscar Niemeyer numrestaurante ali perto de Copacabana.

Numa das últimas vezes que eu fui há alguns anos, eu fui ao outro ladodo Rio, em Niterói. E o prefeito de Niterói disse-me uma coisaextraordinária: Foi o Oscar Niemeyer que escolheu o sítio onde ia plantaresse museu e disse: "Eu quero que o museu fique aqui." O prefeito ficouhesitante: "mas acha bem que é este sítio?"

"Não, é aqui, não se discute mais, é aqui."

Foram todos para uma churrascaria e no próprio papel que estava emcima da mesa, ele tirou a caneta e fez ali um desenho rápido que é o

museu que está lá. Que é essa obra-prima que todo mundo conhececomo MAC. Ele fez aquilo assim: quatro traços

SEQUÊNCIA 83 MAC

Lettering:

- Museu de Arte Contemporânea, Niterói, 1991

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Aí eu fiz o museu de Niterói. Era um lugar bonito, o prefeito queria umacoisa espetacular. Era um morro, não é? Assim avançando, um terrenoassim. Então, por incrível que pareça, é um projeto simples, porque oprédio seria aqui, o mar tava aqui, ele ia avançar n’água, ele devia seruma coisa mais leve, pra não perturbar a natureza né?

Então eu fiz o museu assim. E o Pão-de-Açúcar, a natureza toda por

baixo do museu.

Agora, é um museu bem pensado, ele é circular. Mas eu deixei umavaranda em volta dele. Em volta é um espetáculo magnífico não é? Demodo que daqui o sujeito tá vendo a vista e o museu é aqui.

E o museu teve sucesso porque nesse museu eu queria evitar que osujeito visse o quadro preso no painel. O sujeito aqui e vendo o quadro

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aqui.Eu queria voltar ao museu antigo, que o quadro é na parede, dámais importância à pintura não é? De modo que não tem painéis soltosno museu.

É a própria parede que se desenvolve de modo que a pintura e a

escultura possam ser utilizadas numa maneira inteligente.Depois eu fiz uma rampa, uma rampa que é feito um passeio naarquitetura. A rampa vem assim, vem assim e volta.

SEQUÊNCIA 84 INFLUÊNCIAS

Letterings:-Centro Cultural Banco do Brasil Brasília 1986- Edifício COPAN São Paulo 1951

FERREIRA GULLAR ONO Oscar que é um homem militante, engajado a sua vida inteira na lutapela igualdade social, pela transformação da sociedade, no entanto elecomo arquiteto, quando ele faz a sua arquitetura, o que ele quer dar aspessoas é beleza, a alegria da forma bela, é isso que ele quer dar aspessoas. Porque ele sabe da importância que é a beleza e a maravilha.Ele não diz: "Eu quero que as pessoas se espantem"

ITALO CAMPOFIORITO ON/OFF

 Todo mundo vê a estátua da liberdade e diz: "Nova Iorque", mas elanão é bonita por isso. A Torre Eiffel é bonita, mas você diz Paris, sãoformas emblemáticas. O Cristo Redentor é o Rio, mas não é uma obra-prima de escultura, mas o Oscar consegue fazer uma obra-prima quetem, que adquire, que adere à ela essa força emblemática que temcertas formas. De modo que você identifica a cidade, o país, a alma, omomento, a história com a forma dele.

E eu digo o seguinte: quando a novela da Globo, no tempo que eu vianovela, quando é um capítulo que passa no Rio, é o Cristo, quando é pramostrar que agora o capítulo é em São Paulo, o helicóptero sobrevoa oCOPAN. É o Oscar que tem essa capacidade filha da puta de criar umaforma, e aquela forma se transforma em emblema do lugar.

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SEQUÊNCIA 85 GENÉTICA

Lettering:-Residência Leonel Miranda Rio de Janeiro 1952

OSCAR NIEMEYER ON Todos temos dentro de nós um ser oculto, que nos leva pra um lado oupra outro. O meu é esse: ele gosta das coisas, ele gosta de mulher,gosta de se divertir, gosta de chorar, se preocupa com a vida. É umsujeito complicado, não é?

E nós não somos responsáveis em parte pelas nossas qualidades edefeitos. O sujeito nasce branco, preto, amarelao, azul, rico, pobre,inteligente. Então a gente tem que aceitar as pessoas como elas são. Demodo que quando eu vejo uma pessoa, eu sempre digo: é feito uma

casa, uma casa que a gente pode pintar, consertar o telhado, asparedes, mas se o projeto for ruim, fica sempre a deficiência. 

SEQUÊNCIA 86 MEDO DE FICAR SOZINHO - CAMINHO NIEMEYER

Lettering:-Caminho Niemeyer Niterói 2000 em construção

OSCAR NIEMEYER OFF

Eu fico muito aflito de ficar sozinho. Eu quero estar ocupado, eu escrevo,eu desenho...eu vou fazendo qualquer coisa. Eu não sei ficar parado. Esou curioso, quero saber das coisas, é importante. Tudo se entrelaçahoje.

SEQUÊNCIA 87 VELHO PESSIMISTA - MUSEU DE CURITIBALettering:- Museu Oscar Niemeyer Curitiba 2002.

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

Eu sou pessoalmente pessimista. Eu tô na linha dos velhos pessimistas.Eu acho que a vida é um minuto. O ser humano completamentedesprezado, nasce e morre. Então o sujeito tem que olhar pro céu esentir que é pequenino, que tem ser modesto, que nada é importante. Avida é um sopro, um minuto. Então não há razão pra esse ódio todo.

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Eu acho que tudo vai desaparecer. O tempo cósmico é muito curto. Meperguntaram outro dia: “o senhor não tem prazer em saber que maistarde o sujeito vai passar e ver o trabalho que você fez”? Ah, mais tardeo sujeito vai desaparecer também. É a evolução da natureza. Tudonasce e acaba. O tempo que isso vai perdurar é relativo.

Eu sou otimista que o mundo pode melhorar, mas o ser humano não.Acho que a gente tem que se adaptar ao mundo em que a gente vive. Érir e chorar o tempo todo.

SEQUÊNCIA 88 BOM MESMO É MULHER

OSCAR NIEMEYER ON/OFF

O resto é lutar para o mundo ser melhor, a preocupação de umaigualdade, a vida se fazer mais decente para todos. Esse é que deve ser

o pensamento de uma pessoa normal. Agora, diante da vida, você olhapro céu e fica espantado. É um universo fantástico que nos humilha e agente não pode usufruir nada.

A gente fica espantado é com a força da inteligência do ser humano, quenasceu feito um animal qualquer, e hoje pensa, daqui a pouco estáandando pelas estrelas, conversando com os outros seres humanos queestão por essas galáxias aí. Mas no fim, a resposta de tudo isso é isso:nasceu, morreu: fudeu-se.

O diretor pergunta para Oscar:

FABIANO OFFO que dá prazer ao sr hoje?

OSCAR NIEMEYER ONO importante é mulher né?

O resto é brincadeira.Acabou a entrevista. Não é isso? Não acham?

ENTRA CARTELA COM FRASENo final de 2006, aos 99 anos de idade, Oscar Niemeyer casou-se pela

segunda vez.

FIM